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Biografia de Júlio Prestes

ano III – no 13 – julho/agosto de 2017

A Revolta de 1924
e o parlamento
paulista
E ainda: Documentos do
Senado Paulista sobre a Revolta
Editorial
Bombardeamentos aéreos atingindo bairros dos documentos produzidos pelo Senado estadual
como Mooca e Brás, trincheiras abertas na Avenida a respeito da Revolta.
Paulista, mais de 500 mortos e quase cinco mil Júlio Prestes é o personagem desta edição da
feridos, boa parte deles civis. Esse cenário de coluna Compromisso com a Memória. Presidente
guerra foi vivido por São Paulo durante os dias da República eleito, não chegando a assumir devido
do movimento que ficou conhecido como Revolta à Revolução de 1930, Júlio Prestes foi deputado
de 1924, na qual militares exigiam a deposição do estadual paulista entre 1909 e 1923. Combateu
presidente da República, entre outras demandas. na Revolta de 1924 ao lado de Washington Luís e
A seção Na Tribuna desta edição traz discursos Ataliba Leonel contra os revoltosos.
no Congresso estadual paulista logo após o fim Por fim, na seção Livros do Acervo
da rebelião. Em destaque, Histórico, trazemos a resenha de Recanto do Sertão
o discurso do presidente Paulista, obra que relata os conflitos da ocupação
da Câmara dos Deputados, populacional da região do Paranapanema desde
Antônio Lobo, que havia o século XIX. Assim como outros tantos, o livro
sido preso pelos revoltosos. está à disposição para consulta física no Acervo
Na coluna Documento em Histórico da Assembleia Legislativa.
Foco, transcrevemos alguns Boa leitura!

Expediente
Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo Textos
Presidente: Cauê Macris Mônica Cristina Araujo Lima Horta; Dainis Karepovs;
1o Secretário: Luiz Fernando T. Ferreira Maurícia Figueira; Silmara de Oliveira Lauar;
2o Secretário: Estevam Galvão Thalita Ruotolo Gouveia
Colaboradores
Françoise Evelyne Aron; José Cavalli Júnior; Roseli Bittar;
Secretário Geral Parlamentar Thaís Santos Pereira
Rodrigo Del Nero Transcrição de documento
Secretário Geral de Administração Maurícia Figueira
Joel José Pinto de Oliveira Revisão
Airton Paschoa
Estagiários
Departamento de Documentação e Informação Lorena Jade; Luara Allegretti; Matheus Matos
Daniel Ranieri Costa
Divisão de Acervo Histórico Imagem da capa
Mônica Cristina Araujo Lima Horta Incêndio dos armazéns Narareth Teixeira e Cia. na Mooca
Coordenação editorial in 1924, o Diário da Revolução: os 23 dias que abalaram
Maurícia Figueira São Paulo

Telefones: (11) 3886-6308/6309


E-mail: acervo@al.sp.gov.br
Projeto gráfico, diagramação e impressão Site: www.al.sp.gov.br/acervo-historico
Jair Pires de Borba Junior (Gráfica da Alesp) Tiragem: 250 exemplares

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Compromisso com a memória
Júlio Prestes
Em Compromisso com a Memória Partido Republicano Paulista (PRP), considerado
abordamos a trajetória política de Júlio Prestes de o principal partido da Primeira República.
Albuquerque, deputado paulista que exerceu cinco Em sua atuação como parlamentar estadual,
mandatos parlamentares: os quatro primeiros, de propõe ou emenda projetos de lei acerca da divisão
1909 a 1923, no Congresso Legislativo de São física de propriedades rurais, seguridade social e
Paulo, e o último, de 1924 a 1927, no Congresso aumento de vencimentos dos funcionários públicos
Nacional, pelo Partido Republicano Paulista e, especialmente, de 1912 a 1918, da Estrada de
(PRP), a agremiação política mais influente da Ferro Sorocabana, na época administrada pela Brazil
Primeira República. Em 1927 foi eleito presidente Railway Company. Denuncia o descumprimento
do Estado de São Paulo. de várias cláusulas contratuais por parte dessa
companhia privada, até que consegue a rescisão
A TRAJETÓRIA POLÍTICA contratual amigável entre as partes e a retomada da
Júlio Prestes de Albuquerque nasceu dia 15 de ferrovia pelo Estado de São Paulo. Propõe a criação
março de 1882, em Itapetininga, interior de São dos tribunais rurais em resposta aos conflitos entre
Paulo. Vive sua infância em meio a uma sociedade
monocultora, escravocrata e monárquica, em
clima de ruptura rumo ao modelo republicano,
costurado pelas elites de então.
Na adolescência, começa a publicar poemas
em jornais do Interior. Escreverá poesia até os
últimos anos de sua vida. Júlio Prestes redige ainda
memórias esparsas, esboços de ficção e textos de
não ficção, sobretudo discursos políticos.
Aos 24 anos de idade casa-se com D. Alice
Vieira, com quem virá a ter três filhos: Marialice,
Fernando e Irene.
Júlio perde a mãe aos 19 anos de idade, mas tem
o pai a seu lado até 1937, quando este veio a falecer
(DEBES, 1982). Fernando Prestes de Albuquerque,
seu progenitor, fazendeiro, advogado e republicano
de primeira hora, governou São Paulo de 1898 a
1900 e foi vice-presidente, de 1908 a 1912, e de
1924 a 1927.
Após tornar-se bacharel pela Faculdade de
Direito de São Paulo em 1906, monta escritório,
dedicando-se com exclusividade à advocacia até
1909, quando passa também a exercer a atividade
parlamentar.
Júlio Prestes cumpriu cinco mandatos
parlamentares: os primeiros, de 1909 a 1923, no
Congresso Legislativo de São Paulo, e o último, de
1924 a 1927, no Congresso Nacional, ambos pelo

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fazendeiros e colonos, principalmente imigrantes pelo PRP, justamente o ano da Revolta de 1924,
italianos. É parte ativa na tribuna do plenário e em também conhecida como Revolta dos Tenentes.
comissões permanentes da Casa, chegando a líder Esse movimento chega a tomar a capital paulista
do governo na gestão de Washington Luís, o então entre os dias 5 e 28 de julho, e Júlio toma parte
presidente do Estado de São Paulo de 1924 a 1927 contra ele, ao lado das forças governistas.
(DEBES, 1982). Com a morte do presidente de São Paulo Carlos
Na Câmara dos Deputados de São Paulo, foi Campos em 1927, seu pai, Fernando Prestes,
membro das Comissões de Comércio, Indústria então vice-presidente, recusou-se a assumir
e Obras Públicas (1910-1914), de Justiça, o cargo. Com isso, abriu-se a oportunidade de
Constituição e de Poderes (1915- 1918) e de nova disputa eleitoral, para a qual a candidatura
Fazenda e Contas (1919-1923). de Júlio Prestes foi indicada, por unanimidade,
Em 1924, Júlio Prestes é eleito deputado federal pelos delegados do PRP.
A trajetória política ascendente de
Júlio Prestes culmina em sua indicação,
candidatura e eleição à presidência
da República em 1930. Apoiado
por Washington Luís, seu nome é
oficializado por uma convenção do
PRP em setembro de 1929, junto com
o de Vital Soares (presidente do Estado
da Bahia), como seu vice-presidente
(DEBES, 1982).
Ocorre que, se essa indicação
garantia, por um lado, a continuidade
da política econômico-financeira do
governo, do outro, rompia o esquema
de revezamento entre São Paulo e
Minas no governo federal, conhecida
como “política do café com leite”.
Dentro dos próprios republicanos
surge seu opositor — o então
presidente do Rio Grande do Sul,
Getúlio Vargas, com João Pessoa
(presidente da Paraíba) como seu
vice-presidente. Dessa dissidência,
capitaneada pelo presidente de Minas
Gerais, Antônio Carlos Ribeiro de
Andrada, surge a Aliança Liberal
em junho de 1929, com o apoio de
diversos partidos, entre eles o Partido
Democrático de São Paulo e o Partido
Republicano Mineiro.
Júlio Prestes renunciou ao cargo
de presidente do Estado de São Paulo
em 1929 para concorrer à presidência;

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porém, só deixaria o mandato, oficialmente, exílio político, que vai durar quase quatro anos.
quando foi declarado presidente eleito do Brasil, Com esses episódios, encerra-se o período
em maio de 1930, sendo sucedido pelo vice- histórico conhecido como República Velha.
governador Heitor Teixeira Penteado. As tensões entre paulistas e varguistas chegam
A fraude ocorrida durante o pleito de 1o de ao auge com a Revolução de 1932, que vai de julho
março revoltou a oposição, causando protestos a outubro, com a capitulação de São Paulo.
que se espalharam pelo País. Júlio Prestes absteve-se da vida pública,
Antes de sua posse, Júlio Prestes, em 21 de maio, retornando ao cenário político somente em 1945,
parte em viagem de navio aos Estados Unidos com a fundação da União Democrática Nacional
como presidente (UDN). Falece em São
da República eleito. Paulo em 9 de fevereiro
Lá, ele se encontra Na Câmara dos Deputados de de 1946.
com o presidente Em 1951, é dado o
norte-americano
São Paulo, foi membro das nome de Júlio Prestes
Herbert Hoover, com Comissões de Comércio, a um prédio da Estrada
autoridades locais e Indústria e Obras Públicas (1910- de Ferro Sorocabana,
com empresários. Esse na região central de
episódio lhe rende a
1914), de Justiça, Constituição São Paulo, atualmente
capa da revista Time de e de Poderes (1915- 1918) e de ocupado pela Secretaria
23 de junho de 1930. Fazenda e Contas (1919-1923) estadual de Cultura e
Na França, na pela Sala São Paulo.
Inglaterra, na Espanha
e em Portugal é recebido pelos chefes de governo JÚLIO PRESTES EM PLENÁRIO NO
e/ou de Estado da época. Quando aporta no LEGISLATIVO PAULISTA
Brasil, já encontra os ânimos exaltados, pois João Na qualidade de relator, Júlio Prestes defende a
Pessoa acabara de ser assassinado. aprovação de projeto de lei de autoria da Comissão
O inconformismo dos partidários de Vargas com de Justiça, alterando dispositivo legal que conferia
o resultado das eleições e dos demais opositores às câmaras a competência para decretar a prisão
com as regras eleitorais vigentes provoca a intensa e impor multas aos infratores das posturas, leis e
articulação entre políticos e militares que resulta regulamentos municipais.
na revolução de outubro de 30. Os governos
dos Estados vão sendo tomados um a um pelos O SR. JÚLIO PRESTES – PRP – Sr.
rebeldes até que, em 24 de outubro, Washington presidente, passo às mãos de V. Exa. um projeto
Luís é finalmente deposto na capital federal da de lei subscrito pelos membros da Comissão
época, o Rio de Janeiro (DEBES, 1982). de Justiça, modificando algumas disposições
Logo após assumir a chefia do Governo da Lei no 1.038, de 19 de dezembro de 1906,
Provisório da República, Getúlio Vargas, por e dando outras providências relativamente à
meio da edição do Decreto n 19.398, de 11 de
o
infração de posturas municipais.
novembro, suspende a Constituição federal, Pela lei citada, tinham as câmaras municipais
dissolve o Congresso Nacional, as assembleias a faculdade de impor multas e decretar a
estaduais, as câmaras municipais, e transfere prisão dos infratores das suas posturas, leis e
atribuições legislativas para o Poder Executivo. regulamentos, podendo decretar a prisão até
Júlio Prestes, que acompanha os acontecimentos o prazo de cinco dias e impor multas até o
na capital paulista, abriga-se no consulado inglês, máximo de 50$000. Pelo projeto, fica abolida
de onde parte para Paris, iniciando o período de a pena de prisão que era facultada às câmaras,

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elevando-se a multa, pelas infrações cometidas, E, quando todas essas coisas estão em jogo,
a 100$000. quando entra em jogo a nossa própria existência,
O projeto estabelece ainda outras providências a marcha dos acontecimentos não detém a marcha
sobre o processo executivo a seguir, dos nossos trabalhos na gloriosa caminhada da
determinando a competência dos juízes. civilização. Pelo contrário, demonstrando que não
(...) somos um povo messiânico, que na contemplação
[85a Sessão Ordinária, 20 de dezembro de 1915] dos fatos ficasse a procurar um homem a quem
entregar os seus destinos, marchamos à frente, e, de
A respeito dos acontecimentos sucedidos no plena harmonia com os outros poderes do Estado,
decorrer de 1917, discursou Júlio Prestes: estimulado ao cumprimento de seus deveres,
pode hoje o Congresso Legislativo de S. Paulo, ao
O SR. JÚLIO PRESTES – PRP – Sr. presidente, encerrar o ano de 1917, dizer que foi este o mais
céleres escoam-se na ampulheta do tempo os fértil e fecundo de quantos até hoje decorreram.
últimos instantes deste ano, e, de tão preocupados A reforma do serviço sanitário, a remodelação da
que estivemos, parece que nem nos foi dada a instrução pública, a reforma judiciária e outros
oportunidade de refletirmos ou de nos extasiarmos projetos já convertidos em lei ou ainda em
na majestosa marcha dos acontecimentos andamento, atestam que o Congresso Legislativo,
desenrolados no decorrer de 1917. bem compreendendo a sua missão, trabalhou
“Estamos em guerra! Estamos em guerra!” para o aparelhamento, para o aperfeiçoamento e
Este foi o grito que o jovem e já consagrado para o engrandecimento do Estado de São Paulo,
estadista, que com tanta superioridade dirige fazendo-se digno do povo que representa.
nossos destinos, saudou o Congresso da (...)
Mocidade de São Paulo, despertando na [91a Sessão Ordinária, 29 de dezembro de 1917]
memória da nossa população a parcela da
responsabilidade que lhe cabe. E, fique desde Em dezembro de 1919, Júlio Prestes fez um
logo assinalado, não foi um grito de terror pronunciamento favorável à incorporação da Estrada
que voasse por toda a parte, de boca em boca, de Ferro Sorocabana ao patrimônio do Estado:
levantando o espanto e contagiando o medo,
senão um toque de alerta e um grito de reunir, O SR. JÚLIO PRESTES – PRP – Sr. presidente,
para que cada paulista soubesse, na sua esfera eram tantas, tão insistentes e tão graves as queixas
de ação, cumprir o seu dever. e as reclamações que se acumulavam contra os
Operou-se este ano, em nosso país, um movimento serviços da Sorocabana que, na qualidade de
muito mais intenso, muito mais brilhante e muito representante da zona por ela percorrida, eu me
mais digno de nota do que aquele outro, tão julguei no dever de denunciá-las desta tribuna,
honroso e tão nobre, que há um século atrás tinha lembrando e propondo a rescisão do contrato
por fim operar a nossa emancipação política. de arrendamento, como único meio, como único
Somente agora, sr. presidente, com o movimento remédio capaz de minorar os males que afligiam
de nacionalização que se observa por toda parte, essa grande região paulista. Não precisarei
com a mobilização de todas as nossas forças vivas, recordar o que foi essa campanha.
com a cooperação do Brasil ao lado dos aliados, Iniciei-a dirigindo um apelo ao honrado
em concerto com as grandes nações da Terra, sr. Secretário da Agricultura, que, como
para a defesa da justiça, do direito e da civilização, representante do 4o distrito, por longo anos,
é que passamos a constituir verdadeiramente uma abrilhantara esta mesma tribuna, pedindo a
nacionalidade digna da estima e do respeito que S. Exa., que pusesse em ação toda a energia e
nos devem as sociedades internacionais. todas as luzes do seu formoso talento, para que,

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durante a sua gestão na pasta da Agricultura, administração do Estado, essa estrada será
resolvesse este problema e deixasse, pelo o que deveria de há muito ter sido – uma
menos, em ordem, prestando os serviços a que verdadeira empresa de transportes, um modelo
fora destinada essa estrada que era nossa, que de administração, coroando a iniciativa e os
representava o esforço e a iniciativa de paulistas, ingentes esforços dos paulistas!
e que estava nas mãos dos arrendatários, [70a Sessão Ordinária, 4 de dezembro de 1919]
servindo de um instrumento de aviltamento
para o nosso país. Em razão da Revolta dos 18 do Forte de
(...) Copacabana, Júlio Prestes apresentou proposição
Passando, durante a em solidariedade ao
presente legislatura, presidente da República,
a fazer parte da O inconformismo dos Epitácio Pessoa.
Comissão da Fazenda, partidários de Vargas com o
coube-me a honra O SR. JÚLIO PRESTES
de relatar o parecer resultado das eleições e dos – PRP – Sr. presidente,
e o projeto que V. demais opositores com as regras ao iniciarmos hoje os
Exa. acaba de pôr em
eleitorais vigentes provoca trabalhos desta legislatura,
discussão. ainda sob forte impressão
(...) a intensa articulação entre que há poucos dias
O SR. JOÃO políticos e militares que resulta vibrou em nossa alma de
MARTINS – PRP – patriotas e de republicanos,
A felicidade do Estado
na revolução de outubro de 30 desejamos que os nossos
foi a falência da Brazil anais acolham e registrem a
Railway, da qual fazia parte a Sorocabana. manifestação de apoio e de solidariedade com que
O SR. JÚLIO PRESTES – PRP – os paulistas assistiram o sr. presidente da República
Perfeitamente. Foi uma das causas que na repulsa à sedição que se levantou contra o poder
concorreram para que eles aceitassem a constituído, visando, com a subversão da ordem, o
rescisão. aniquilamento do regime.
(...) Outro não poderia ter sido o enérgico e patriótico
Pelas demonstrações que acabei de fazer, verifica- procedimento do preclaro estadista a quem a
se ainda que os serviços e a renda da Sorocabana, nação entregou a guarda da sua Constituição,
em poucos meses, sob a administração assim como, em tão grave emergência de nossa
competente e honesta do dr. José de Góes Artigas, vida de povo livre, outra não poderia ter sido a
correspondem exatamente à nossa previsão. atitude de todos os patriotas que têm o coração
Assim, pois, acentuando a confiança dos paulistas votado, num culto sincero, à grandeza do Brasil
no governo do Estado, que, pela sua ação enérgica e da República.
e eficaz, soube, cumprindo desassombradamente Depois de um século da nossa emancipação
o seu dever, corresponder ao nosso apelo e à nossa política, depois de 33 anos de regime
expectativa, eu venho, sr. presidente, dizer que a republicano, em pleno gozo das garantias
vitória alcançada nesta campanha pertence ao que as instituições implantadas pelos nossos
Estado de São Paulo, que os triunfos registrados maiores nos asseguram, assistimos ao desfilar
no seu evoluir foram os triunfos naturais da da demagogia retardatária, cujos chefes,
justiça que a causa encerrava. divorciados do ideal coletivo que anima os
(...) grandes interesses nacionais, preparavam,
E, por isto, estou certo de que, sob a pondo em prática os mais ignóbeis processos

Acervo Histórico 7
políticos, o retrocesso e a queda da República Representante lídima e intérprete fiel dos
federativa, sob cuja ramada florescem as nossas sentimentos dos paulistas, a Câmara dos
liberdades e se mostram sazonados os frutos Deputados, aprovando a moção que vou
ótimos do nosso trabalho, do nosso progresso ter a honra de enviar à Mesa, de apoio e de
e da nossa civilização. solidariedade ao sr. presidente da República,
(...) terá refletido, mais uma vez, o pensamento do
A capital da República, que repousava tranquila seu povo, prestigiando a ação do presidente
sob a guarda dos soldados que a Nação armara de S. Paulo e engrandecendo o Brasil e a
para a sua defesa e para a defesa de suas República.
instituições, despertava ensanguentada por obra Vai à Mesa, é lida e posta em discussão a
daqueles que, servindo-se de farda — para a seguinte
vergonha da farda “Moção
— e da força — A Câmara dos Deputados
para a desonra da O Congresso Legislativo, do Estado de S. Paulo,
força — repelidos intérprete fiel do povo
pela vontade livre da
bem compreendendo a que legitimamente
nação, tentavam ainda sua missão, trabalhou para representa, afirma sua
criminosamente a o aparelhamento, para o plena solidariedade com o
escalada do poder. governo da República e,
Felizmente, o aperfeiçoamento e para o confiada na sua orientação
sr. presidente da engrandecimento do Estado de de segurança e firmeza
República, o sr. dr.
São Paulo, fazendo-se digno do para a manutenção da
Epitácio Pessoa, com República federativa,
o patriotismo e com povo que representa aplaude a atitude patriótica
a coragem cívica e digna do Exmo. sr. dr.
que o destacaram na Epitácio Pessoa, na repulsa
suprema magistratura da Nação, contando com e na condenação dos elementos sediciosos que
as forças fiéis do Exército e da Marinha, que, procuraram criminosamente, na perturbação
mais uma vez, puseram à prova a sua lealdade, a da ordem, o aniquilamento das instituições
sua abnegação, o seu patriotismo, a sua disciplina garantidas pela Constituição de 24 de fevereiro.
e a sua bravura, defendeu a legalidade, manteve Sala das sessões, 17 de julho de 1922 – Júlio
ilesa a sua autoridade de chefe de Estado, Prestes”
restaurou a ordem e assegurou a continuidade (...)
da República. Ninguém mais pedindo a palavra, é encerrada
(...) a discussão da moção, que é posta a votos e
Está mais uma vez triunfante a vontade unanimamente aprovada.
consciente e definida da Nação. [2a Sessão Ordinária, 17 de julho de 1922]
Os paulistas, tendo à frente de seus
gloriosos destinos o patriotismo e a energia Fontes Bibliográficas
inquebrantável do seu presidente, o Exmo. DEBES, Célio. Júlio Prestes e a Primeira República.
sr. dr. Washington Luís, levantaram-se, com São Paulo: Imprensa Oficial; Arquivo do Estado,
um só corpo, movidos por uma só vontade, 1982.
e acorreram, vibrantes de entusiasmo, com ARQUIVO do Estado. Catálogo Júlio Prestes,
a mais decidida solidariedade, em defesa da O Último Presidente da República Velha. São Paulo:
legalidade e da República. Apesp, 2016.

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Na Tribuna
1924: A Revolta dos Tenentes em São Paulo
Na edição do ano passado, de junho/julho de adoção do voto secreto e a instauração do ensino
2016, edição de no 7, transcrevemos discursos público obrigatório.
parlamentares de 1935 concernentes à Revolução O levante tenentista, transcorrido em cena
Constitucionalista de 1932. política complexa, foi motivado pelo agravamento
Entre 5 e 28 de julho de 1924, por 23 dias, São de problemas sociais, pela crise econômica,
Paulo esteve ocupada por uma rebelião militar que pelo autoritarismo dos governos no período da
causou o maior conflito bélico já visto na cidade. República Velha e pela concentração do poder
Este levante ficou conhecido como Revolta Paulista político. Outra causa de descontentamento entre
de 1924, mas também foi chamado de Revolução os militares era a indisposição entre o presidente
Esquecida, Revolução do Isidoro e de Segundo Artur Bernardes (1922-1926) e o Exército após o
5 de Julho. A última denominação faz referência “episódio das cartas falsas”. No mês de outubro
à Revolta dos 18 do Forte de Copacabana, de 1921, foram publicadas na imprensa carioca
ocorrida em 5 de julho de 1922, pois ambos os cartas atribuídas a Artur Bernardes em que
movimentos são considerados revoltas tenentistas, este fazia comentários desrespeitosos sobre os
protagonizados por militares descontentes com os militares. Bernardes negou a autoria das cartas,
rumos políticos do País. mas o episódio acirrou os ânimos e abriu caminho
Em 1924, a revolta foi comandada pelo general para as revoltas tenentistas de 1922 e 1924.
reformado Isidoro Dias Lopes e contou com a Na madrugada do dia 5 de julho de 1924,
participação de vários tenentes, dentre os quais mesmo dia em que, havia dois anos, acontecera
Joaquim do Nascimento Fernandes Távora, Juarez a chamada Revolta dos 18 do Forte, iniciou-se
Távora, Miguel Costa, Eduardo Gomes, Índio do a sublevação desta camada média dos militares
Brasil e João Cabanas. Entre as reivindicações que, com contingente reduzido, planejavam
dos militares constavam maior independência a tomada rápida da cidade de São Paulo com o
do Legislativo e do Judiciário, limitações para o
Poder Executivo, o fim do voto de cabresto, a Tropas responsáveis por conter os revoltosos

Acervo Histórico 9
As imagens deste artigo foram retiradas do livro 1924, o Diário da Revolução:
os 23 dias que abalaram São Paulo, de Duarte Pacheco Pereira. 2010. Imprensa
Oficial e Fundação Energia e Saneamento.

apoio da Força Pública paulista. Após esta etapa, lançamento de uma carga de canhões em direção
pretendiam marchar para o Rio de Janeiro, então ao centro da cidade.
capital federal, e depor Artur Bernardes. Apesar da ofensiva legalista, guarnições de
Os revoltosos tomaram quartéis, estações de diversas cidades próximas aderiram ao movimento,
trem e edifícios públicos. Quatro dias depois, com tomadas de prefeituras. Alguns setores do
era instalado um governo provisório, que se operariado organizado e camadas da população
manteria até 28 de julho. Os primeiros focos do também decidiram apoiar os revolucionários,
ataque foram o quartel do 4o Batalhão da Força além de comerciários e industriais, receosos com
Pública da Luz e o Palácio dos Campos Elísios, a diminuição do poderio industrial paulista. O
sede do Executivo estadual e residência oficial governo federal respondeu bombardeando a
do governador. Apesar de ter havido resistência cidade com aviões de combate, especialmente os
e confronto, o presidente do Estado de São bairros da Mooca, Ipiranga, Belenzinho, Brás e
Paulo, Carlos de Campos, foi obrigado a fugir e o Centro, regiões tradicionalmente operárias, que
governo estadual estabeleceu-se provisoriamente sofreram bombardeio por vários dias, tendo casas
no bairro da Penha, em Guaiaúna, região leste de e fábricas reduzidas a escombros e um número
São Paulo, sob a guarda do Exército. alto de mortos e feridos.
Os tenentes precisaram enfrentar, além de Foram destruídos, pelos bombardeios e granadas,
tropas das forças armadas legalistas vindas de o Liceu Coração de Jesus, que serviu de refúgio para
diversos estados da federação, as polícias estaduais a população desabrigada, a Igreja Nossa Senhora da
de Minas Gerais, Espírito Santo, Rio Grande do Glória, no Lavapés, ocupada pelos rebeldes, além
Sul e Rio de Janeiro, que enviaram contingentes. das instalações das Indústrias Reunidas Francisco
Nos combates ocorridos nas ruas da capital, foram Matarazzo, do Armazém Matarazzo e da tipografia
abertas cerca de trezentas trincheiras em diversos Oficina Duprat. O saldo dos 23 dias de revolta foi
bairros (Avenida Paulista, no Brás, no Belenzinho, de 503 mortos e 4.846 feridos, na maioria civis. O
na Vila Mariana, em Perdizes, no Ipiranga) e número de desabrigados passou de 20 mil.
utilizadas granadas, tiros de morteiro e fuzilaria. O Sem poderio militar equivalente ao das tropas
presidente do Estado, Carlos de Campos, seguindo legalistas do governo federal, três semanas após
ordens do presidente da República, autorizou o iniciada, 3,5 mil rebeldes ficaram acuados e se

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Da esquerda para direita: (1) tanque de guerra das tropas legalistas;
(2) carro de assalto dos revoltosos; (3) soldado rebelde manejando uma
metralhadora pesada no bairro do Cambuci

retiraram para Bauru, no interior do Estado, na presidente Antônio Álvares Lobo e seu filho
madrugada de 28 de julho. O próximo passo, Pelágio Lobo foram detidos pelos rebeldes
planejado por Isidoro Dias Lopes e Juarez Távora, quando retornavam de Campinas), os deputados
foi um ataque à cidade de Três Lagoas, no atual manifestaram seu repúdio e descontentamento
Mato Grosso do Sul, onde o exército legalista se em relação ao levante tenentista.
concentrava. Os insurgentes foram derrotados,
sendo que um terço das tropas morreu ou foi O SR. PRESIDENTE – ANTÔNIO LOBO
capturada. Parte dos sobreviventes da rebelião – PRP – (...) Devo declarar à Câmara a razão
tenentista, vencidos, se juntaram aos oficiais por que somente hoje me acho à testa da Mesa
gaúchos da Coluna Prestes (1925-1927), em Foz desta corporação. Vim para S. Paulo no dia 5 de
do Iguaçu, no Paraná. julho último e, ao desembarcar na estação, fui
Em contraste com o movimento constitu- preso e conduzido ao Quartel da Luz, saindo
cionalista de 1932, este conflito de grandes daquele quartel às 19h30 do mesmo dia. No
proporções, ocorrido em 1924 (não à toa dia subsequente, 6 de julho, dia em que deveria
chamado de Revolução Esquecida), nunca ganhou dar-se a primeira sessão preparatória, tive
grande destaque entre as datas comemorativas ou informações oficiais do que ocorria na cidade.
homenagens no calendário oficial do Estado. A Procurando comunicar-me com o diretor
pouca importância conferida ao movimento está da Secretaria da Câmara dos Deputados, o
relacionada ao fato de não haver sido protagonizado honrado coronel Brazílio Ramos, soube por ele
pela elite política paulista. do desdobramento das forças que vinham do
O lado vitorioso, responsável pela narrativa Brás para a cidade e da quase impossibilidade,
oficial, caracterizou o movimento tenentista – e portanto, de se atravessar aquelas zonas, sem
suas ambições para os rumos da Nação – como perigo de vida.
ditatoriais, desordeiros, criminosos e militaristas. À vista da explicação que me era feita e dos fatos
É esta a percepção que os parlamentares de que eram trazidos ao meu conhecimento, de fonte
São Paulo tiveram da rebelião. Logo após o oficial, autorizei o honrado diretor da Secretaria
restabelecimento da ordem e reaberta a sessão a não abrir o edifício da Câmara, a fim de não
legislativa da Câmara (com atraso, pois o expor a vida não apenas dos empregados, como

Acervo Histórico 11
dos nobres colegas da Câmara dos Deputados. (...) Eis por que, de ânimo sombrio e coração
Posteriormente, vencida a revolta e proclamado enlutado, mas em têmpera firme, preciso
o domínio da lei, por necessidade de interesse imperiosamente falar-vos de traição, crime,
público, demorei a aqui vir, o que, aliás, desgraça e castigo.
também foi determinado, tendo em vista as Por demais notória é a ignominiosa aventura
conveniências do Estado. armada que o contubérnio de inqualificáveis
Hoje, nesta sessão preparatória, julguei ambições e cobiças traiçoeiramente lançou
dever comunicar e esclarecer esses fatos aos sobre São Paulo, adrede escolhido para teatro de
nobres colegas que se acham presentes, para lúgubres façanhas, visto ser, ao mesmo tempo,
conhecimento deles e conhecimento do próprio grande centro de força social e política e metrópole
Estado que temos a honra de representar. de vultosas riquezas — abrigo e escala, portanto,
(...) Faremos nossas sessões preparatórias, de para o duplo objetivo dos assaltantes...
acordo com o regimento, esclarecendo ainda (...) E o crime se perpetrou, pelo canhão e pela
que a demora por parte da Mesa foi motivada metralha, contra cidades pacíficas,
pelo desejo de dar tempo ao governo de reunir laboriosas, cultas e inermes, ceifando
os elementos com que deve expor ao Estado os vidas, destruindo propriedades,
acontecimentos que se desenrolaram do dia 5 ao desorganizando o trabalho, espalhando
dia 27 de julho próximo passado. o terror e a anarquia, visando derrubar
[1a Sessão Preparatória, 4 de agosto de 1924] instituições fundamentais em vigor, a lei,
o direito, a justiça, a ordem, o princípio
O presidente do Estado, Carlos de Campos, da autoridade, a honra e o crédito do
esteve presente no Congresso Legislativo de São Estado e da Nação.
Paulo em 12 de agosto para ler Mensagem na (...) Iniciou-se a triste aventura de
qual detalhava os principais acontecimentos: a corrupção, violência, lágrimas e
ocupação da cidade em 5 de julho, os bombardeios, vilipêndio, com a tomada do Quartel
a transferência do Executivo estadual para da Luz, em alta hora da noite, por força
Guaiaúna, os reforços recebidos pelos legalistas e militar vinda do quartel de Santana, em
a perseguição dos rebeldes pelo interior do Estado conveniência com a Cavalaria de Polícia,
de São Paulo. A narrativa do governador enfatiza previamente revoltada por alguns dos
a solidariedade e prontidão de todas as unidades oficiais e insubmissos rebeldes do
federadas para com São Paulo e o presidente Exército. Ato contínuo – roubadas armas
da República, reforçando a suposta baixeza e e munições – por constrangimento,
desrespeito dos insurgentes. Entretanto, não embustes ou promessas, foram, muitos
menciona os bombardeios aéreos que a capital dos infantes da Força Pública, agregados
paulista sofreu. aos inssuretos e remetidos para o ataque
aos Campos Elísios (habitado pelo
O SR. PRESIDENTE – ANTÔNIO LOBO presidente do Estado e sua família), da
– PRP – Declaro aberta a 3a Sessão Ordinária Secretaria de Justiça e Polícia Central
da 12a Legislatura do Congresso Legislativo do e da residência do comandante das
Estado de São Paulo. forças estaduais, então surpreendido e
O sr. presidente do Estado procede à leitura da aprisionado.
seguinte (...) Ainda bem que o mal não é
“Mensagem1 irreparrável, dentro das nossas decididas
energias e incalculáveis possibilidades.
  Parte dessa mensagem do presidente do Estado está transcrita na seção
Que a Justiça inexorável pronuncie o
1

Documento em Foco.

12
seu veredito de expurgo social e político; e os primeiro passo, e decisivo, da vitória final. Foi
paulistas saberão reintegrar-se no curso normal nas primeiras horas do dia 5 do mês findo, e o
da sua operosidade e da sua grandeza. sr. presidente do Estado viu-se, no remanso do
O governo tem absoluta segurança de haver seu lar, no seio da sua família, onde repousava
cumprido o seu dever de resistência ao traiçoeiro dos cuidados do governo e dos trabalhos do dia,
atentado, até sua jugulação; bem como de o cercados pelos assaltantes, com metralhadoras
poder cumprir em todos os reclamos e injunções nos portões da frente e fundos do edifício,
da legalidade restabelecida.” salteadores que pretendiam apoderar-se do
O SR. DINO BUENO – PRP – A Mensagem governo da República. Mas o sr. presidente não
refere-se, como o Congresso acaba de ouvir, aos perdeu a calma e a serenidade do seu espírito.
fatos dolorosos que, durante 23 dias, pesaram sobre Conhecia o seu dever, e sabia cumpri-lo. Tomou
a nossa capital, sobre o estado e sua população. todas as providências necessárias. Reuniu a
(...) A resistência dos Campos Elísios foi o sua Casa Civil e a sua Casa Militar e, rodeado
de alguns amigos, e amparado pela pequena
guarda do palácio, enfrentou, com coragem, o
assalto, preparou a resistência, resistiu e afastou
os assaltantes.
(...) E foi então que S. Exa. resolveu transportar-
se para Guaiaúna, onde se achava o comando das
forças legais, e, ao lado dessas forças, e com elas,
colaborar na salvação do Estado e da República.
Em Guaiaúna, senhores, foi admirável o trabalho
do sr. presidente do Estado, extraordinária sua
coragem e a sua confiança, grande a sua energia,
sempre sustentada na compreensão exata do seu
dever e suas responsabilidades. Todos admiravam
a coragem com que S. Exa. afrontava os riscos
e conjurava as dificuldades, sempre cheio de
confiança na justiça de sua causa e no resultado
pleno de sua ação, conjugada com a ação das
forças armadas. Foi no desdobramento desta ação
que o sr. presidente do Estado teve a oportunidade
de proferir a célebre frase, que já é histórica, e na
história pátria ficará na forma lapidar em que foi
formulada: “São Paulo prefere ver arrasada a sua
capital antes que destruída a legalidade no Brasil”.
(...) Proveniente da revolta, dela ou por ela, nos vieram
as manifestações de todos os estados da União, e do
Distrito Federal. Todos eles, já pelos seus governos,
já pelos seus representantes no Congresso federal,
já pelas suas populações, trouxeram-nos a sua
inteira solidariedade, condenando o levante militar
que nos assaltou, levantando batalhões patrióticos,

Liceu Coração de Jesus, atingido pela primeira granada revoltosa

Acervo Histórico 13
e alguns deles chegaram mesmo a vir ao campo da depredação e de saque, praticados pela horda
luta, a combater o movimento, em defesa de São cruel, a mando de brasileiros desclassificados,
Paulo e da pátria. tiveram, felizmente, e com presteza, a repulsa e a
[Sessão Solene de instalação, 12 de agosto de condenação de toda a nossa pátria, pelos órgãos
1924] mais representativos da opinião nacional.
(...) Esperamos, entretanto, que a ação severa da
Além disso, o governador de São Paulo solicitou Justiça se faça sentir, sem desfalecimentos, na
ao Congresso estadual medidas legislativas a fim punição dos ousados criminosos, a estas horas
de apressar a recuperação da cidade e exaltar os extraviados e perseguidos nos confins de São
vitoriosos. Durante toda a metade final do ano de Paulo pela tropa e por civis, cujo patriotismo e
1924, o Congresso esteve pautado pela rebelião, benemerência nunca serão assaz exaltados.
ora subsidiando medidas de iniciativa legislativa, [1a Sessão Ordinária, 13 de agosto de 1924]
ora apreciando mensagens do governador estadual,
com a versão oficial dos acontecimentos. O SR. HILÁRIO FREIRE – PRP – (...)
As medidas mais importantes tomadas pelo Não é, pois, necessário aqui recordarmos as
Congresso Legislativo paulista, entretanto, sensações de pasmo, de indignação e de horror,
consistiram na liberação de créditos para a que sobrepairaram a São Paulo, quando, por esse
reconstrução da infraestrutura danificada e o hediondo golpe de surpresa e de covardia, viu as
auxílio das sociedades filantrópicas que prestavam entranhas de sua capital cortadas pela metralha
serviços às vítimas da rebelião, como o Projeto de da rebeldia, e dos seus escombros surdir a cabeça
lei no 7, de 1924, transcrito na coluna Documento gotejante da insurreição, ensanguentada pelas
em Foco deste Informativo. próprias vilezas e pelos próprios crimes, nesse
A seguir, mais trechos em que parlamentares se atentado incomparável, que é o mais revoltante
manifestam sobre os episódios ocorridos entre 5 e e monstruoso da nossa história.
28 de julho de 1924. E tanto maior e mais severa deve ser nossa
condenação quanto é certo ser esta a segunda
O SR. PRESIDENTE – ANTÔNIO LOBO vez que, dentro do triênio de nossa legislatura,
– PRP – (...) Os atos de barbárie, de rapina, de esta Câmara encontra pela frente o sicarismo
militarista e se sente com rubor nas faces diante
de brasileiros degenerados, que desonram a
farda e a espada por eles recebidas nas fileiras
do Exército nacional.
Felizmente, porém, sr. presidente, ainda
nesta crise não faltaram ao Brasil seus gênios
tutelares, nem as evocações dos grandes
estadistas. (...) O País encontra estatura e
heroísmo no presidente Artur Bernardes e
no presidente Carlos de Campos, postos na
suprema magistratura da Nação e de São Paulo,
ambos com o mesmo caráter de diamante,
indestrutível por entre os desmoronamentos
dos frágeis compatriotas, e com a mesma
resistência imperturbável de dois titãs da
unidade nacional e da legalidade civil.
Trincheira dos revoltosos na Rua Conselheiro Crispiniano [4a Sessão Ordinária, 20 de agosto de 1924]

14
Documento em foco
Documentação do Senado estadual acerca da
Revolta de 1924
Neste ano, a coluna Documento em
Foco transcreve documentos elaborados pelo
Senado de São Paulo2.1Na presente edição,
destacamos alguns dos registros do Congresso
Legislativo do Estado de São Paulo a respeito
da Revolta de 1924, abordada na coluna Na
Tribuna. Ao contrário da Revolução de 1932,
em que os revoltosos foram considerados
heróis pela historiografia paulista, os de 1924
foram tratados como “grupo de aventureiros”,
“falsos brasileiros e falsos paulistas”, portando
“mentirosas reivindicações”, como podemos
ver nos documentos transcritos.
Iniciamos com a indicação do Senado de
São Paulo enviada ao presidente do Estado
e ao presidente da República. De autoria do
senador Fontes Júnior, a indicação acusa
a prisão do senador Rodolpho Miranda e
do presidente da Câmara dos Deputados,
Antônio Lobo, pelos revoltosos.
Em seguida, trazemos a resposta do
presidente da Câmara, Antônio Lobo, à
indicação do Senado.
Dentre a documentação gerada pelo Congresso
Legislativo do Estado de São Paulo acerca da
Revolta de 1924, figura o Projeto de lei no 7, de
1924, em que se autoriza o Executivo a auxiliar
financeiramente as vítimas da Revolta.
Por fim, reproduzimos trechos da longa
mensagem do então governador – à época
chamado de presidente de estado – ao Congresso
Legislativo dias depois de finda a Revolta, na qual
se faz um histórico dos acontecimentos durante os
23 dias de rebelião.
A íntegra da mensagem pode ser consultada
no link: http://www.al.sp.gov.br/repositorioAH/
Acervo/Alesp/Republica/S_260/1208_1924.pdf

2
  Entre 1891 e 1930 o Poder Legislativo estadual era bicameral, composto por Câmara
dos Deputados e Senado. Documento 1 – Indicação no 3, de 1924

Acervo Histórico 15
(20/24) do ilustre senador sr. Fontes Júnior a propósito
da minha prisão a 5 de julho levada a efeito pelos
Documento 2 revoltosos.
S. Paulo, 29 de agosto de 1924 Iguais agradecimentos devo ao autor daquela
Exmo. Sr. Senador Cândido Motta, digno 1o indicação que me é particularmente sensível pelos
Secretário do Senado nobres intuitos que a ditaram.
Peço a V. Exa. queira ter a bondade de transmitir Com alto apreço e estima, subscrevo-me com
ao Senado os meus cordiais agradecimentos pelo os protestos de minha elevada consideração.
voto que proferiu aprovando a patriótica indicação Antonio Alvares Lobo

16
Documento 3 – Projeto no 7, de 1924 atingiram vítimas pobres da recente e negregada
A Comissão de Fazenda e Contas, conhecendo revolta, bem como a auxiliar as instituições
da mensagem do sr. presidente do Estado, datada que tão relevantes serviços prestaram naquele
de 23 do mês passado, solicitando do Congresso doloroso período de nossa vida, reconhecendo
a decretação de uma lei especial que aparelhe o que é indeclinável dever do Estado associar-se
Governo a secundar o movimento de filantropia a tão nobre, oportuno e benéfico movimento
em que se agitam vários e valiosos elementos da opinião, e reconhecendo, por outro lado, a
sociais da nossa capital e do interior, visando insuficiência de verba de socorros públicos para
concorrer para atenuação dos sofrimentos que tão elevados fins, vem submeter à aprovação da

Acervo Histórico 17
Câmara dos srs. Deputados o seguinte projeto: hospitais de caridade e instituições congêneres que
O Congresso Legislativo do Estado de São humanitariamente deram acolhida e tratamento
Paulo decreta: aos doentes e feridos;
Art. 1o – Para atenuar os sofrimentos e danos b) a concorrer para a reconstrução de templos
resultantes da recente revolta iniciada a 5 de julho religiosos;
próximo findo, fica o Governo autorizado: c) a abrir à Secretaria do Interior os créditos
a) a auxiliar peculiarmente as vítimas pobres e os especiais que forem necessários para acorrer às

18
despesas de que trata este artigo. Art. 3o – Revogam-se as disposições em
Parágrafo único – As despesas a que se refere contrário.
a presente lei serão processadas de acordo com Sala das Sessões, 3 de setembro de 1924 –
o art. 15, da Lei no 1.961, de 29 de dezembro de Azevedo Junior, presidente e relator, Hilario
1923. Freire, Marrey Júnior, Dias Bueno, Theophilo de
Art. 2o – Esta lei entrará em vigor na data de Andrade.
sua publicação.

Acervo Histórico 19
Documento 4 – Trecho da mensagem apresentada ao Congresso Legislativo, em 12 de agosto de 1924, pelo dr. Carlos de Campos, presidente do Estado de São Paulo

20
LIVROS DO ACERVO
Resenha do livro sobre a região do Paranapanema
Há pouco mais de um século um jornal da DESCONHECIDOS” (p. 3). Ao iniciar desse
cidade de São Paulo noticiava uma emboscada modo Recanto do Sertão Paulista, em sua segunda
no então distrito e hoje município de Platina, edição, Nogueira Cobra chamava a atenção do leitor
que naquela época pertencia à cidade de Campos para a imensa aventura que foi o povoamento dessa
Novos do Paranapanema, hoje Campos Novos região de São Paulo. Ela teve um forte impacto com
Paulista. A matéria informava que na manhã um lavrador de nome José Theodoro de Souza,
do dia 10 de agosto de 1912 “cinco indivíduos que saiu de Pouso Alegre, em Minas Gerais, em
disfarçados, com o rosto pintado de preto” direção àquela região pouco depois da metade do
atiraram contra o advogado Amador Nogueira século XIX. Ali chegando naquele período, aquele
Cobra, “senda a vítima atingida por dois projéteis homem, embora não possuísse educação formal,
no tórax e um no braço direito”. De acordo
com o alvo do atentado, que identificou
seus agressores, a razão da cilada explicava-
se pelo “fato de estar movendo uma
execução contra os herdeiros do coronel
Sanches e dividindo terras, ocupadas pelos
mesmos, sem os devidos títulos” (Em
Campos Novos. O Estado de S. Paulo. São
Paulo, 20/8/1912, p. 7).
O jovem advogado, formado na turma
de 1907 da Faculdade de Direito de São
Paulo, havia chegado àquela região em 1909
e ali permaneceu mais algum tempo depois
do atentado antes de retornar a São Paulo.
De sua estadia na região do Paranapanema
Nogueira Cobra reuniu um imenso e
precioso material que subsidiou seu livro
Em um Recanto do Sertão Paulista, publicado
em primeira edição em 1923. Para ali
havia se deslocado em missão profissional
envolvendo disputa de terras e onde quase
pagou com a vida por seu empenho pela
causa, mas o seu interesse pela questão fez
com que ele buscasse compreender como
aquela região havia se transformado em
uma terra quase sem lei.
“Estava para findar o século dezenove
e na carta geográfica do Estado de S.
Paulo, por sobre largo trato do território
ali figurado — entre o rio Tietê, ao norte,
Paraná, a oeste, e Paranapanema, ao sul,
via-se ainda esta legenda: TERRENOS Capa da 1a edição de Em um recanto do sertão paulista, 1923

Acervo Histórico 21
alegara posse tinha “cerca de 60
quilômetros de testa por cerca de
150 de fundo” (p. 24).
Logo a seguir José Theodoro
de Souza não só trouxe a família
como fez vir um grupo de
amigos para iniciar a ocupação
e o povoamento das terras das
quais alegara posse, fixando-
se mais em Rio Turvo, distrito
de Botucatu. José Theodoro ali
viveu até 1875, quando faleceu
com mais de 70 anos de idade.
Com o passar do tempo novos
lotes de terras do Paranapanema
foram sendo distribuídos, como
aqueles dados aos integrantes
do 11o Batalhão de Voluntários
da Pátria, formado por soldados
de Minas Gerais em 1865. Além
disso, nessa época repercutia cada
vez com maior intensidade a fama
do longínquo Paranapanema e
para lá se dirigiam muitas famílias
de povoadores, em especial as
que procediam de Minas Gerais
(p. 44).
Mas, à medida que o processo
de ocupação das terras foi
Amador Nogueira Cobra evoluindo, passou a se defrontar
com questões que o levaram ao quadro que
era dotado de perspicácia para aproveitar-se das Nogueira Cobra conheceu, passando, antes, por
oportunidades dadas pela recém-aprovada Lei no um dramático problema. Trata-se da questão dos
601, de 18/9/1850, a chamada Lei de Terras, que indígenas. A este respeito a Divisão de Acervo
legalizava as apropriações de propriedades. Pela Lei Histórico da Assembleia Legislativa do Estado
de Terras, a todos aqueles que possuíssem terras de São Paulo preserva entre seus documentos um
devolutas até 1850 foi permitido declará-las por mapa de 1886 da então Província de São Paulo
escrito nos livros de paróquias (já que, é sempre confeccionado pelos editores A. L. Garraux e que
bom lembrar, naquele tempo o catolicismo era a compunha uma luxuosa “Carteira dos Viajantes
religião oficial do Império do Brasil). Valendo- na Província de S. Paulo”. Nesta carta geográfica,
se do círculo de amizades que constituiu quando justamente sobre a região do Paranapanema
de sua chegada àquela região, José Theodoro de possuída por José Theodoro de Souza, pode-se ler
Souza declarou, em 31 de maio de 1856, perante com grande destaque: “Sertão pouco conhecido e
o vigário de Botucatu, que realizara sua posse ocupado pelos indígenas”. As três tribos principais
daquelas terras em 1847. A imensa área da qual que habitavam o vale do Paranapanema eram os

22
coroados, os caiuás e os xavantes. Nos momentos várias páginas a narrar os massacres ocorridos e
iniciais da ocupação de José Theodoro, havia uma os métodos empregados nas “dadas”, às vezes
postura de mútua cautela, já que, dada a amplidão valendo-se estas até do ingênuo apoio de frades
dos espaços, aparentemente havia respeito pelos capuchinhos. Nogueira Cobra caracteriza a mais
limites territoriais. Ao menos é o que se pode comum forma pela qual se davam as “dadas”,
perceber através do relato de Nogueira Cobra: as quais usualmente ocorriam após os índios
realizarem algum festejo em seu aldeamento e
O indígena da floresta raramente sai para que nos permitimos transcrever:
o campo a fim de
acometer o inimigo: É alta madrugada. Dentro
espera que entre e o vai dos ranchos todos
seguindo até ao instante
Os sitiantes penetram nas dormem. O chefe distribui
do ataque, quando se habitações e encontrando- seus homens em redor:
deixa ver a descoberto. se com as índias, a umas manda preparar as armas,
Por isso mesmo os e espera até que haja luz.
primeiros povoadores aprisionam, a outras matam, Ao raiar do dia grita: upa!
procuraram, geral- bem como aos indiozinhos, aos upa! upa! algumas vezes.
mente, assentar os
quais – conta-se – chegavam Os que estão dentro
núcleos que fundavam despertam, saem em
no interior, ou nos a levantar do chão ou da cama, grupos e à medida que se
campos ou na orla atirá-los para o ar e espetá-los apresentam, vão caindo,
destes com a mata, de feridos mortalmente a
modo a ficarem menos
em ponta de faca; outras vezes tiros.
expostos às investidas tomá-los pelos pés e dar com Em seguida, os sitiantes
daqueles vizinhos cujas as suas cabecinhas nos paus, penetram nas habitações
manhas conheciam e encontrando-se com as
(p. 17-18).
partindo-as índias, a umas aprisionam,
a outras matam, bem
Mas, à medida que como aos indiozinhos, aos
o número de povoadores ávidos por terras quais – conta-se – chegavam a levantar do chão
fez com que eles invadissem as florestas e, ou da cama, atirá-los para o ar e espetá-los em
portanto, tomassem as terras indígenas, a cautela ponta de faca; outras vezes tomá-los pelos pés e
desapareceu e os confrontos tomaram maior dar com as suas cabecinhas nos paus, partindo-
volume. Nogueira Cobra afirma que se organizou as. Às índias grávidas rasgavam-lhes o ventre e
a partir de então a luta contra os índios através de depois de finda a carnificina, amontoavam os
expedições que levaram o nome de “dadas”: “A cadáveres sobre os quais lançavam fogo, bem
fase mais cruenta desta inaugurou-se depois que como aos ranchos. A estes, variando de tática,
os sertanejos viram que se assim não procedessem de quando em vez, nem sempre punham fogo,
melhor seria arranjar as malas e ir-se embora para deixavam-nos em pé e deitavam substâncias
Minas, abandonando lugares onde só os bárbaros venenosas nos utensílios de cozinha e nos
poderiam viver” (p. 136). Nas “dadas” teve alimentos ali guardados, para que fosse vitimado
destaque a figura do coronel Francisco Sanches no comer algum que porventura sobrevivesse.
de Figueiredo (cujos herdeiros realizaram a Feito isso, retiravam-se com os prisioneiros,
emboscada de 1912 contra Nogueira Cobra!). geralmente só mulheres e um ou outro rapazinho
O autor de Recanto do Sertão Paulista dedicou que o chefe conduzia para a fazenda na situação

Acervo Histórico 23
de semiescravizados. frequente, nas caixas velhas e mesmo novas,
Assim foi por longos anos (p. 142-143). penetrar o bicho e esconder-se ali.
E do fato de estarem juntos – inseto e documento
Dessa forma os índios praticamente acabaram e bem ocultos – aparecendo um quando o outro
extintos na região do Paranapanema. igualmente se mostrou foi que se originou a
A esta tragédia somou-se outra questão denominação, à primeira vista sem fundamento.
para a qual o autor chama a atenção e que deu Afirmam outros, porém, que o apelido veio da
ao Paranapanema o seu semelhança que existe
aspecto desolador: “O entre os falsificadores,
Paranapanema, com o nome a sua obra e os tais
de seus dominadores, tornou- O Paranapanema, com o animaizinhos, espertos,
se lugar tenebroso, onde a nome de seus dominadores, que escapam com incrível
vida se ia num abrir e fechar rapidez das mãos que os
de olhos” (p. 175-176).
tornou-se lugar tenebroso, prenderam; tentando-se,
Nogueira Cobra afirma onde a vida se ia num abrir e de novo, apanhá-los, outra
que nos anos de 1880 fechar de olhos vez fogem, dando saltos e
“apareciam no Parana- tantas mais quantas forem
panema indivíduos não as tentativas, até que
mais da índole dos primeiros que chegavam, desanimam o seu perseguidor. [...]
mas homens afeitos ao crime, autores de várias Nós nos inclinamos, entretanto, a aceitar a
falcatruas, vadios que passavam a vida inteira primeira versão como sendo razoável e mais
pescando, caçando e mentindo” (p. 97). E porque sertanejos sabidos também para aquela
com o apoio de tabeliães e pessoas influentes se inclinaram [...] (p. 104-106).
criaram uma indústria de falsificação de títulos
de propriedade que buscavam forjar a máxima Logo em seguida, com a constituição da
perfeição e esses instrumentos de aquisição de República, o domínio das terras devolutas
propriedade receberam o apelido de “grilos” e os passou da União aos estados e logo depois
seus autores eram chamados de “grileiros”: diversas leis estaduais de São Paulo regularam a
questão, mas para Nogueira Cobra elas abriram
O leitor, por certo, há de querer saber que campo aos “grileiros”: “Afastando-se o Estado,
semelhança existe entre o inseto, que nos espontaneamente, o campo ficou, mais que
incomoda tanto com o ruído estrídulo que nunca, francamente aberto aos portadores de
sabemos, e uma escritura de compra e venda por títulos falsos. Agora que não tinham receio de
instrumento particular falsificada. ver o poder público pela frente, baralharam, e de
Explica-se por dois modos. modo assustador, as posses que a lei legitimara,
Dizem os homens do sertão que o autor de de uma só vez” (p. 195). Isto fez com que, de
uma dessas falcatruas desejando, certa vez, certo modo, a violência ganhasse legitimidade
mostrar a seus amigos a escritura que trazia no Paranapanema.
bem guardada no fundo da caixa, conduziu- Tal situação perdurou por muitas décadas,
os ao interior da casa. Abrindo o velho traste, chegando praticamente até nossos dias.
dentro do qual se encontrava o documento, A compreensão da situação fundiária no
ao afastar de cima deste as roupas e outros Paranapanema tem na leitura do livro de Nogueira
objetos, nas mãos lhe salta e vem a ele, Cobra até hoje uma leitura que muito nos auxilia
ligeirinho, de par com a escritura, o grilo na compreensão da história daquele recanto do
que junto com a mesma se achava. É mui sertão paulista.

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