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REPUBLICA DE ANGOLA. TRIBUNAL SUPREMO 1° SECCAO DA CAMARA CRIMINAL PROCESSO N.° 02/19 ACORDAO * ACORDAM EM CONFERENCIA, EM NOME DO POVO: I-RELATORIO Mediante Querela do Ministério Publico, a Primeira Secgio da Camara Criminal do Tribunal Supremo, julgou os réus Augusto da Silva Tomas, solteiro, de 61 anos de idade, natural de Cabinda, onde nasceu, aos 6 de Outubro de 1957, filho de Inocéncio Tomas e de Mariana da Silva, residente em Luanda, Condominio Atlantico Sul, Avenida Brasil, casa n°3, melhor identificado a (fls 1279 e 1800); Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga, casada, de 47 anos de idade, nascida aos 26 de Dezembro de 1970, em Luanda, filha de Leonidio Ferreira de Ceita e de Beatriz Gustavo Pereira de Ceita, residente em Luanda, municipio de Luanda, distrito urbano da Ingombota, rua Karl Marx n° 57, 5° andar, apartamento C, melhor identificado a (fls. 589); Rui Manuel Moita, solteiro, de 55 anos de idade, nascido aos 13 de Novembro de 1962, no Cuanza-Sul - Gabela, filho de Dinis Carlos Ferreira Moita e de Margarida de Almeida, residente em Luanda, municipio de Belas, Talatona, rua do Centro de Convengées do Talatona, Condominio Brisa, casa n° A0O1, melhor identificado a (fls. 543); Manuel Anténio Paulo, casado, de 68 anos de idade, nascido aos 23 de Outubro de 1949, no Zaire-Soyo, filho de José Paulo Baka e de Casimira Nzinga, residente em Luanda, Distrito Urbano da Samba, tua Universidade Imetro, melhor identificado a (fls 421) e Eurico Alexandre Pereira da Silva, casado, de 39 anos de idade, nascido aos 25 de Novembro de 1979, em Cabinda, filho de Noé Anténio da Silva e de Maria Rosa Pereira, residente em Luanda, municipio de Belas, Bairro Lar do Patriota, rua 90, casa 859. Porquanto, constam fortes indicios nos autos de que: © réu Augusto da Silva Tomis, a data dos factos, 2008 a 2017, era Ministro dos Transportes da Republica de Angola, entidade que superintendia 0 Conselho Nacional de Carregadores (CNC) que, no periodo compreendido entre Novembro de 2008 a Agosto de 2015, foi dirigido pelo préfugo Agostinho Francisco Itembo, Director-Geral e pelos réus Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga, Directora-Geral Adjunta para Administraco ¢ Finangas e Rui Manuel Moita, Director Geral Adjunto para a Area Técnica. Em 2015, o profugo Agostinho Francisco Manuel Itembo foi substituido, na direcg4o, pelo réu Manuel Anténio Paulo, tendo com os outros réus permanecido até ao ano de 2018. O CNC é um organismo do Estado com a fungdo de controlo das operagdes de comércio e transporte maritimo internacionais, competindo-lhe a certificagao da mobilidade de cargas e 0 controlo de frete de, ¢, para Angola, bem como, a gestio da Rede Nacional de Plataformas Logisticas (vide Regulamento e Estatuto Organico, aprovados pelo Decreto n° 67 /89, de 11 de Dezembro, Decreto Presidencial n° 6/11, de 6 de Janeiro Decreto Presidencial n° 330/14 de 30 de Dezembro). © CNC foi criado em 1978, por Despacho n° 16/78 de 1 de Agosto, como drgao consultivo, posteriormente por Decreto n° 67/89, de 11 de Dezembro, transformado em érgtio de apoio técnico do Govermo, presidido pelo Ministro dos Transportes. Em 2011, foi erigido a Instituto Publico, sob tutela e superintendéncia do Ministério dos Transportes, conservando esta natureza até a presente data, tal como consta dos Decretos Presidenciais n.°s 6/11, de 6 de Janeiro € 330/14, de 30 de Dezembro. Apesar do estatuto do CNC estabelecer que tem autonomia administrativa e financeira, 0 mesmo nao obtém lucros, mas sim, receitas e, como tal, toda ¢ qualquer receita por si gerada deve ser recolhida para a Conta Unica do Tesouro, sem quaisquer dedugdes. Por isso, enquanto érgiio de apoio técnico do Governo, era dbvio que as receitas deviam ser sempre depositadas para a Conta Unica do Tesouro, nao sendo diferente enquanto instituto publico, sob pena de responsabilizagao disciplinar, civil e criminal dos seus autores, por actos 2 financeiros desconformes, vide Lei n.° 9/97, de 17 de Outubro e Lei 15/10, de 14 de Julho, (Lei do Orgamento Geral do Estado - anterior ¢ a actual) e Decreto lei n° 9/03, de 28 de Outubro e Decreto Legislativo Presidencial n° 2/13, de 25 de Junho sobre as regras de organizago e funcionamento dos Institutos Publicos. Assim, para evitar a realizagtio de gastos nfo previstos, as despesas receitas do CNC, sempre constaram do Orgamento Geral do Estado, e, por isso, a direcg%io do CNC, s6 podia gastar o que estava previsto €, no mais, independentemente do que viesse a arrecadar com a sua actividade. A direcgao do CNC, nunca poderia exceder nos gastos, o limite devidamente orgamentado. Porém, ao invés das receitas geradas pelo CNC, serem depositadas na Conta Unica do Tesouro, era dado destino diferente, sendo que os réus, acima referenciados de 2008 a 2017, subtrairam fraudulentamente, para si ou para terceiros, de dinheiros publicos, em Kwanzas e em moeda estrangeira, mormente délares ¢ euros, através do CNC, no valor total de: Augusto da Silva Tomds - Kz. 1.501.173.202.00 (um Biliao, Quinhentos ¢ Um Milhdes, Cento e Setenta e Trés Mil e Duzentos ¢ Dois Kwanzas), USD 40.557.126.00 (Quarenta Milhdes, Quinhentos e Cinquenta e Sete Mil e Cento e Vinte Seis Délares Norte Americanos) e Eur 13.857.804,00 (Treze Milhdes, Oitocentos e Cinquenta e Sete Mil e Oitocentos e Quatro Euros). Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga - Kz. 34.154.893,00 (Trinta e Quatro Milhées, Cento Cinquenta e Quatro Mil e Oitocentos e Noventa e Trés Kwanzas), USD 110.493,00 (Cento e Dez Mil, Quatrocentos e Noventa e Trés Délares Norte Americanos) e Eur 267.500,00 (Duzentos e Sessenta e Sete Mil e Quinhentos Euros). Rui Manuel Moita - Kz. 5.550.000,00 (Cinco Milhdes e Quinhentos e Cinquenta Mil Kwanzas), USD 37.000,00,00 (Trinta e Sete Mil Délares Norte Americanos), EUR. 1.000,00 (Mil Euros). Manuel Anténio Paulo -Kz. 7.215.400,00 (Sete Milhdes, Duzentos ¢ Quinze Mil e Quatrocentos Kwanzas), USD 32.100,00 (Trinta e Dois Mil e Cem Délares Norte Americanos), Eur 8.000,00 (Oito Mil Euros). Responsabilidade solidaria. USD _507.344,00 (Quinhentos ¢ Sete Mil e Trezentos e Quarenta ¢ Quatro Délares Norte Americanos), EUR. 3.444.466,00 (Trés Milhdes Quatrocentos e Quarenta ¢ Quatro Mil ¢ Quatrocentos ¢ Sessenta e Seis Euros), tal como concluiu a Peritagem Contabilistico Financeira, cujo relatério se dé aqui por inteiramente reproduzido para todos efeitos legais, vide (fs. 2879). Seniio, vejamos! ‘Ainda enquanto Orgao de Apoio Técnico ao Governo, no dia 5 de Junho de 2009, sem qualquer autorizagao, 0 profugo Francisco Agostinho Itembo ¢ os réus Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganca e Rui Manuel Moita, criaram um Programa Bolsas de Estudo Internas e Externas tal como consta da Acta n° 01/2009, tendo sido Regulamentado aos 10 de Julho de 2009, pelo profugo enquanto Director Geral do CNC, visando, alegadamente, a elevagdo continua dos niveis de escolaridade e profissional dos funcionérios, vide fls. 32 a 45 do Anexo IX. {As aludidas bolsas de estudo no exterior do pais, eram custeadas pelos agentes certificadores de carga que, posteriormente, deduziam os respectivos valores nos pagamentos ao Estado Angolano, efectuados através do CNC. Todavia, para acobertar esta apropriag&o ilfcita de valores, 0 Director-Geral do CNC, o préfugo Francisco Agostinho Itembo assinou Memorandos de Entendimento com os Agentes Certificadores de Carga, do Brasil, Portugal, China, EUA, Franca e Reino Unido, nos quais apenas estes pareciam ter obrigagdes, vide documentos de fls. 47 a 73, do ‘Anexo IX, documentos de (fis 860 a 942) ¢ (fls. 511) dos autos. Ora, os Agentes Certificadores de Carga, stio sociedades contratadas pelo CNC, para cobrar a todos os participantes no tréfego maritimo angolano de longo curso para Angola, comissdes de participagio no frete nacional, mediante emissdio de certificados de embarque, devendo os valores cobrados em moeda estrangeira serem, todos os meses, transferidos para a conta bancdria do CNC, vide Anexo XXXII ¢ Decreto Executivo Conjunto n° 68/95 de 22 de Dezembro. Porém, apesar do alegado objectivo do Programa de Bolsa de Estudo, ser a elevagdo continua dos niveis de escolaridade ¢ profissional dos funciondrios ¢, ser ainda por via da mencionada Acta e Regulamento permitido a concess4o de Bolsas de Estudos, a estudantes nao quadros do CNC que estivessem a fazer formagio em areas de saber 4 relacionadas com a misséio do CNC, o certo é que os beneficiarios das Bolsas de Estudos, eram escolhidos em fungao dos interesses dos réus e do profugo, bem como, de funcionérios do Ministério dos ‘Transportes, de entre, os seus parentes ¢ amigos. Entretanto, muitos desses cursos nfo atendiam as prioridades do Sector dos transportes, como é 0 caso dos cursos de Fisioterapia, Cultura e Artes, Comunicag&o Social e Gestio Desportiva, vide fls. 854, 2849 dos autos ¢ documentos de (fls 67 a 73 € 75 a 91) do Anexo x. Porém, o total de receita publica subtraida fraudulentamente e destinada A bolsa de estudo, no periodo compreendido entre os anos de 2010 a 2018, consta do mapa de controlo das despesas relativas a bolsa de estudo externa, elaborado pelo CNC, perfazendo um total de USD 2.156.309,93 (Dois Milhées, Cento e Cinquenta e Seis Mil, Trezentos e Nove Délares Norte Americanos e Noventa e Trés Céntimos) e de EUR. 264.582,76 (Duzentos € Sessenta e Quatro Mil, Quinhentos e Oitenta e Dois Euros € Setenta e Seis Céntimos), vide (fls. 111 112) do Anexo XXXVIIL. Qualquer despesa realizada pela direcgaio do CNC, devia ser do conhecimento do réu Augusto da Silva Tomés, enquanto titular do Org&o que 0 tutelava e superintendia, estando nestas despesas incluidos os custos realizados com o Programa de Bolsas de Estudo, porquanto a actividade financeira do CNC, estava e estd sujeita ao controlo exercido pelo Conselho Fiscal. Este conselho é nomeado pelo érgao de tutela do CNC (Ministério dos Transportes), sendo composto, por um presidente indicado pelo Ministro das Finangas e dois vogais indicados pelo Ministro dos Transportes, vide artigos 25° e 10° dos Estatutos Orgdnico do CNC datados de 2011 ¢ 2014 € artigos 21° do Decreto-Lei n° 9/03 e 24° do Decreto Legislativo n° 2/13 ambos sobre o funcionamento dos Institutos Publicos. De entre as competéncias do Conselho Fiscal, consta a incumbéncia de proceder a verificagao regular dos fundos existentes e, fiscalizar a escrituragdo da contabilidade. Porém, para evitar esta verificagtio € controlo, o Ministro dos Transportes, o réu Augusto da Silva Tomés, nunca nomeou 0 Conselho fiscal do CNC. Ademais, o poder de superintendéncia e tutela, impunha ao réu Augusto da Silva Tomas conhecer e fiscalizar a actividade financeira 5 do CNC, tal como consta nos artigos 21° do Decreto -Lei n° 9/03 © 5° do Decteto Legislativo Presidencial n° 2/13, pelo que, ao nao exercer os seus poderes, permitiu que o profugo Francisco Agostinho Itembo ¢ os réus Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga e Rui Manuel Moita, aplicassem em bolsas de estudo dinheiros piblicos, sem que, para tal, esta despesa estivesse inscrita no orgamento do CNC, legalmente aprovado. Alids, segundo a Lei do Orgamento Geral do Estado que determina as regras gerais a serem observadas na sua elaborugao © execugao, todas as receitas pertencentes ao Estado ou Autarquia Local constam integralmente do correspondente orgamento, sem qualquer dedugao e estas devem ser arrecadadas para a Conta Unica do Tesouro, ¢ nao utilizada para outro fim, sobretudo gastar numa actividade que nem sequer se inclui no Ambito das atribuigées do CNC, como € 0 caso, do Programa de Bolsa de Estudo, vide os nimeros | ¢ 5 do art.° 8° e art.° 34° da Lei 15/10. Para além do pagamento das bolsas de estudo com recurso & dinheiros piblicos em posse dos Agentes Certificadores de Carga, 08 réus Augusto da Silva Tomés, Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga, Rui Manuel Moita, Manuel Anténio Paulo ¢ 0 profugo Francisco Agostinho Itembo, em conluio, usaram também dinheiros piiblicos na posse destes mesmos Agentes, para pagar despesas suas ¢ de outros funcionarios seniores do CNC, do Ministério dos Transportes ¢ do Porto de Luanda, relacionadas com deslocagoes, estadia, assisténcia médica e medicamentosa no exterior do pais, Brasil, Portugal e outros, vide (fls. 1304, 1320 a 1326). Com estas despesas, o Estado ficou defraudado em EUR. 3.399.809,73 (Trés Milhées, Trezentos e Noventa ¢ Nove Mil, Oitocentos ¢ Nove Euros e Setenta e Trés Céntimos) e USD 76.674,00 (Setenta ¢ Seis Mil ¢ Seiscentos e Setenta ¢ Quatro Délares Norte Americanos), vide Anexos XV e XV-A ¢ Relatério da Pericia a (fls 2850) dos autos. Os Agentes Certificadores de Carga, tinham uma remuneragio (Comissio do Agente) no exterior do pais, fixada em 10% sobre o valor de cada certificado emitido, estando os mesmos impedidos de cobrar quaisquer quantias relativamente a impressos, tal como, consta nas cléusulas 13° e 14° dos Contratos de Agéncia, juntos a0 Anexo XXXII. ‘No entanto, os Directores do CNC, os réus Isabel Cristina Gustavo Ferreita de Ceita Braganga, Rui Manuel Moita, Manuel Anténio Paulo e 0 profugo Francisco Agostinho Itembo ao longo dos anos, permitiram que alguns Agentes, para além deste valor, cobrassem despesas administrativas, encarecendo o frete e prejudicando assim a economia 6 nacional; vide (fls.1088 a 1090) dos autos e documentos constantes nos Anexos XXXII a XXXVI-C. Sempre na senda de defraudar o Estado angolano, mediante utilizagdo indevida de receitas publicas, desta vez disfarcando adquirir Participagdes sociais em sociedades, os réus Augusto da Silva Tomés, Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga e Rui Manuel Moita e 0 profugo Francisco Agostinho Itembo, procederam do seguinte modo: No ano de 2007, 0 entio Ministro dos Transportes, Brandao ordenou que o CNC desembolsasse a quantia de USD 7.500.000,00 (sete milhées ¢ quinhentos mil Délares Norte Americanos) para adquirir 10% do Capital social da HFA Holding Financeira Angola que, & data do suposto investimento, nfo funcionava, pois nfo havia ainda sido legalmente constituida, nem o Estado tinha regulamentado a actividade para a qual estaria vocacionada, 0 que, veio apenas a ocorrer com a publicagdo do Decreto Legislativo Presidencial n° 06/13, de 10 de Outubro, regulamentado aos 30 de Outubro (Regulamento n° 03/14), vide (ls. 3 a 26) do Anexo XI. Entretanto, por estar a HFA- Holding Financeira Angola impossibilitada de funcionar, em 2011, o réu Augusto da Silva Tomas, enquanto Ministro dos Transportes que tutelava o CNC, mediante proposta dos co-réus, autorizou que os USD 7.500.000,00 (Sete Milhdes e Quinhentos Mil Délares Norte Americanos) fossem destinados 4 compra de (1% das acgdes do Banco de Negécio Intemacional a fim de participar no capital social desta instituigao. Como jé se referenciou, estes valores deviam ser destinados 4 Conta Unica do Tesouro, vide (fls. 3 a 26) do Anexo XI. Em relag&o @ sociedade ASGM, nfo foi diferente. Ou ASGM Automéveis de Angola S.A. é uma sociedade por quotas, cujo objecto social é a montagem de viaturas (SKD) de marca Volkswagen, tendo como accionistas as empresas Suninvest S.A., representada pelo senhor Ismael Diogo da Silva, Acapir LDA, pela senhora Welwitchea dos Santos, bem como, os senhores Anténio de Jesus Castelhano Mauricio, Francisco Raimundo Pinheiro e MBakassy ¢ Filhos LDA. Numa altura em que esta empresa (ASGM) se encontrava débil financeiramente, o réu Augusto da Silva Toms, foi contactado, tendo- se predisposto a__financiar a ASGM. Para o efeito, ordenou que 0 CNC adquirisse participagdes sociais na ASGM, S.A., tendo 0 CNC, em 7 2009, desembolsado o valor de USD 9.600.000,00 (Nove Milhdes e Seiscentos Mil Délares Norte Americanos) para adquirit acgdes correspondentes a 8% do Capital Social, vide fls. 72 a 76 do Anexo XI. O CNG, neste perfodo, era um érgdo de apoio téenico do Governo, presidido pelo Ministro dos Transportes, estando impossibilitado de adquirir participagdes sociais, e, por isso, o profugo Francisco Agostinho Itembo, Director-Geral do CNC, subscreveu 8% do Capital Social da ASGM, adquirido com o dinheiro do CNC, em nome individual. Como se nao bastasse, mais de 80% deste valor que devia retomnar para 0 CNC, foi inscrito na sua contabilidade como custo, tal como, se pode ler na Acta datada de 02 de Dezembro de 2010, subscrita pelos réus, Directores do CNC, 0 seguinte: “Em conformidade com a Acta dos accionistas e 0 capital actual da empresa ASGM, 0 montante correcto que corresponde a participagdo de 8.% do capital social naquela empresa & de USD 720.000,00 (setecentos ¢ vinte mil délares americanos); registado neste caso, uma menos valia de USD 8.880.000,00 (oito milhées oitocentos € oitenta mil délares americanos) que deverdio ser contabilizado como “custo” por se considerar um estimulo & dinamizagdo da actividade produtiva intema das empresas do sector, mas concretamente na fabricagéio e/ou montagem de viaturas ligeiras e pesadas”, (fls. 3 a6) do Anexo XI. Sendo que a diferenga de USD 8.880.000,00 (Oito Milhdes e Oitocentos e Oitenta Mil Délares Norte Americanos) nunca foi devolvida aos cofres do Estado angolano, pois nem sequer foi exigida a sua devolug&o pelo CNC, tendo, antes, a direc¢do deste instituto preferido justificar, como sendo o aparte deste valor, um estimulo 4 dinamizagao da actividade produtiva interna das empresas do sector. Para além do valor acima referido, no dia 30 de Julho de 2012, a ASGM recebeu do CNC, por transferéncia bancéria a quantia de AKZ 8.000.000.00 (Oito Milhdes de Kwanzas) e no dia 05 de Dezembro do ano de 2012, recebeu o valor de USD 80,000.00 (Oitenta Mil Délares Norte Americanos) a titulo de suprimento, sendo certo que no era érgio vocacionado para 0 efeito. Por conseguinte, o montante desembolsado serviu apenas para o réu Augusto da Silva Tomés oferecer dinheiros ptiblicos a uma entidade privada, que nada tem a ver com as atribuigdes do CNC, sem qualquer contrapartida para o Estado (vide fls. 82 ¢ 83 do Anexo XI fis. 426 dos autos). CNG, por orientagaio do Ministro dos Transportes, 0 réu Augusto da Silva Tomiss, através do despacho datado de 23 de Outubro de 2009, também transferiu para a empresa CIMMA, 0 valor correspondente a USD 7.000.000,00 (Sete Milhdes de Délares Norte Americanos), em principio, como participagdo societéria correspondente a quota de 15% do capital social desta empresa (vide fls. fls. 4 do Anexo XXXV e fils. 5 do Anexo XI). ‘A CIMMA - Companhia Industrial de Montagem e Metalomecénicas de Angola, S.A., sociedade anénima, foi constitufda em Margo de 2010, tendo sido outorgada pelos senhores José Paulo Kindanda, Berlito de Jesus Adao Quemba e, pelos profugos, Francisco Agostinho Manuel Itembo e Abel Anténio Cosme, tendo como objecto social, a montagem de autocarros (SKD) da marca KING LONG (chinesa) vide fls. 121 e seguintes do Anexo XI e ({ls. 1655 a 1657) dos autos. As Acgbes adquiridas na CIMMA, foram subscritas em nome individual pelos préfugos Francisco Agostinho Manuel Itembo, a data director do CNC e Abel Ant6nio Cosme, director da Unicargas, pois 0 CNC, era apenas um érgdo de apoio técnico ao Ministério dos Transportes e, por isso, nfo podia adquirir participagdes sociais. Posteriormente, foram transferidas as acgdes, através de procuragGes imrevogaveis, para o CNC ea Unicargas, vide (fls 147, 156 ¢ 157) do Anexo XI e 50 do Anexo XXXIII — Cc. Tal como aconteceu com a ASGM, o CNC pagou para a aquisigo de 15% do Capital Social da CIMMA, 0 valor de USD 7.000.000,00 (Sete Milhdes de Délares Norte Americanos), mas, na verdade, 08 15% do Capital Social da CIMMA S.A. valiam apenas USD 7.500,00 (Sete Mil e Quinhentos Délares Norte Americanos). Os restantes USD 6.992.500,00 (Seis Milhdes, Novecentos e Noventa e Dois Mil e Quinhentos Délares Norte Americanos), nfo foram devolvidos ao CNC e foram considerados suprimentos ao capital, tal como consta da A TA, datada de 2 de Dezembro de 2010 (fis. 5) Anex. Apenas o CNC e a UNICARGAS tealizaram suprimentos, porquanto somente o CNC e a Unicargas realizaram 0 Capital de Investimento na empresa CIMMA, sendo o valor de USD 7.000.000,00 (Sete Milhdes de Délares Norte Americanos) para a primeira e, 0 valor Kz. 286.812.000,00 (Duzentos e Oitenta e Seis Milhées e Oitocentos e Doze Mil Kwanzas) para a segunda, isto em fungo de um despacho do Ministro dos ‘Transportes. Entretanto, apesar de, terem investido mais dinheiro, nao se tornaram accionistas maioritarios, nem sequer podiam, pois era apenas um, Orgio de Apoio Técnico do Governo, vide (fls. 1657) dos autos. Depois da transferéncia dos valores aludidos pelo CNC ¢ pela UNICARGAS , a CIMMA importou 100 (cem) autocarros de marca ¢ modelo KING LONG, dos quais 37 (trinta e sete) autocarros foram enviados por orientagao do réu Augusto da Silva Tomas, para a empresa publica TCUL, 53 (cinquenta e trés) para a empresa SGO e os restantes autocarros entregues a empresa TRANSGOL vide fls. (1657, 1565) dos autos. Ainda no Ambito das alegadas participagées de capital em empresas, em 2008, o empresério José Manuel Rasak, propés ao réu Augusto da Silva Tomés, enquanto Ministro dos Transportes, a implementag&o de uma rede de téxis para apoiar 0 CAN, através da utilizagio de viaturas de marca KIA, que deveriam ser fornecidas pela empresa Impor Africa. Como resposta, o réu Augusto da Silva Toms sugeriu a criagio de uma empresa de raiz na qual, o Ministério dos Transportes, apenas injectaria dinheiro, pois, segundo o mesmo, este érgdo ndo podia constituir empresas privadas de transporte piblico (vide fls. 1953 € 2060 a 2081). Em consequéncia, em Setembro de 2009, foi constituida, pelos senhores FARUK IBRAHIM e ABDUL MAJAD IBRAIMO, SOCIOS da Impor Africa, a empresa AFRITAXI, cujo objecto, era a actividade de rent-a-car, aluguer de viaturas, transporte maritimo, taxi aéreo, agéncias de viagem e turismo, tendo o senhor José Manuel Rasak, participado na criagao da empresa acima aludida, sendo representante da mesma vide (fls. 2073 a 2076) dos autos. Entretanto, um més antes da escritura de constituigao da empresa AFRITAXI, por ordem do réu Augusto da Silva Tomas, em Agosto de 2009, 0 CNC ¢ a UNI CARGAS representados pelos préfugos Francisco Agostinho Itembo e Abel Cosme, respectivamente, transferiram para a AFRITAXI, as quantias de USD 3.000.000,00 (Trés Milhdes de Délares Norte Americanos), a primeira e, AKZ 247.499.964,39 (duzentos ¢ quarenta e sete milhdes, quatrocentos ¢ noventa e nove mil, novecentos e sessenta e quatro kwanzas ¢ trinta e nove céntimos), a segunda, vide (fls. 2077 ¢ 2078) dos autos, A transferéncia dos valores, acabados de citar, nao tornou 0 CNC, nem a Unicargas sécios na empresa AFRITAXI. 10 No entanto, com o aludido montante, a APRITAXI adquiriu junto da Impor Africa 300 (Trezentas) viaturas de marca KIA modelo SPORTAGE, tendo o senhor Faruk Ibrahim acrescido, para 0 efeito, a diferenga, pois as viaturas, no total, ficaram orgadas em USD 9.570.000,00 (Nove Milhdes Quinhentos e Setenta Délares Norte Americanos), vide fls, 1955 e 2061 dos autos. Adquiridas as 300 viaturas, 0 réu Augusto da Silva Tomés orientou no sentido de a gestdo de 150 (Cento e Cinquenta) viaturas Ficar anc cue, do CNC eda‘ Unicargas que deviam ser utilizadas nas provincias de Benguela, Huila e Cabinda, Por isso, a Rent Angola, da qual eram sécios os préfugos Abel Anténio Cosme e Francisco Agostinho Itembo, ria a representante da AFRITAXI nas provincias de Benguela ¢ Huila, tendo sido destinadas, 50 (Cinquenta) viaturas para cada uma destas provincias. Para a provincia de Cabinda também foram enviadas 50 (Cinquenta) viaturas, recepcionadas pelo senhor José Destino Majika (Destin Malie), tido como préximo do réu Augusto da Silva Tomés, vide fls. 2061 ¢ 2062. Apés entrega das referidas viaturas & RENT ANGOLA, esta no deu qualquer contrapartida, nem 4 AFRITAXI e, muito menos, ao CNG, bem como, a UNICARGAS. O mesmo aconteceu, com as viatatas cnviadas a Cabinda, tendo o Estado ficado defraudado no montante referido no articulado 36°, No entanto, este desfalque foi, no CNC, contabilizado Como custo, com a justificagao de que serviu “... como uma das formas de se alavancar a actividade de transporte personalizado, no dmbito do fomento cmpresarial do sector dos transportes piiblicos, especializado ..”, vide (As. 4 do Anexo XI e 2062, 2069 e 2071) dos autos. Daqui, facilmente se verifica que nao existia qualquer vinculo juridico entre 0 CNC ea UNICARGAS com a empresa AFRITAXI que justificasse o desembolso dos valores acima mencionados, pelo que, o investimento do CNC na AFRITAXI, foi um artificio fraudulento utilizado, Para que os réus Augusto da Silva Tomés e, os outros, bem como, o¢ pr6fugos Francisco Agostinho Itembo e Abel Cosme desviassem dinheiro do Estado ¢ financiassem 0 seu préprio negécio ou de terceiros, Tal como foi um artificio fraudulento, a aquisigao das Gutras participagdes sociais pelo CNC, causando os réus ¢ préfugos, a0 a 04 %p » ainda, na qualidade de arrendatéria do seu proprio imével, em representagio do CNC, vide 16 © seguintes do Anexo XXVIIL. Nao foram apenas os Directores do CNC que, sem observarem os procedimentos legais, introduziram as suas empresas Pars prestarem servigo ao CNC. "Assim também procedeu o réu Augusto da Silva Tomas ccom as empresas nas quais tinha interesses, pois assinava as contas bancérias eatas como s6cio, € 0 caso, de entre outras, da Nova Somil, bem come da MHOSA. allés esta recebeu do CNC, em 2009, USD 81.925,00 (Ortentae Um Mile Novecentos e Vinte e Cinco Délares Norte Americanos), nfo tendo sido justificado as razbes da recepyio destes valores, vide (fis. 56, 113 do newo XLVIID, (fl. 213 do Anexo XXXII- M) ¢ (fis. 1279 € 1800) dos autos. ‘Todavia, destaca-se que no processo de contratagio das empresas acima referenciada ¢ nas que serio referenciadas, 0 CNC nao credeseu 0 processo de concurso como prevé a Lei n° 20/10, de 7 de Setembro, substituida pela Lei n° 9/16, de 16 de Junho que estabelece 0 regime juridico relativo a contratagao piblica, sendo para alguns contratos txietvel o concurso publica, tendo em atengao 0 valor do conta. Usando de todas as formas para _obterem fraudulentamente valores monetitios através do CNC, o profugo Francisco ‘Agostinho Itembo € 05 réus Isabel Cristina Gustayo Ferreira de Ceita Braganga, Rui Manuel Moita e Manuel Antonio Paulo, em momentos diferentes, obrigaram os responséveis das empresas que contratassem Cox CNC 2 pagar-lhes 10% a 15% do valor do contrato, vide (fs. 3328, 3331, 3336, 3340, 3345 a 3349, 3350, 3385 ¢ 3404). ‘Assim foi, em 2017, com as empresas Xiang Cun-Bu e Oreanizagbes Polida da Silva, representadas pelo senhor ‘Avelino Paulino da Silva que, depois de solicitar por escrito, foi-lhe enderegada uma cart pela Direcgdio do CNC na qual foi informado que a empresa Xiang Cun-Bu havia sido eccothida para a construgao de uma obra para. o CNC e @ outra empresa Organizagbes Polida da Silva faria a respectiva fiscalizagio, Para o efeito, devia pagar, aos réus, 10% do valor do contrato. ncia de pagamento de cerca de 10%, foi-lhe feita de forma expressa pelos réus Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga, Rui Manvel Moita e Manuel ‘Anténio Paulo, numa reunidio realizada no CNC para a assinatura dos contratos, nos seguintes termos: “oO. senhor tem familia, a sua empresa & uma empresa nova. Nos podemos seleccionar esta empresa, mas nds também temos familia. Nao se preocupd porque nds podemos orronjar-ihe outros contratos. ‘Nao estamos a insinuar nada, mas veja Id 0 que pode fazer’. 4 Por isso, sempre que o CNC efectuasse qualquer Pagamento a estas empresas, 0 senhor Avelino Paulino da Silva dividia o mesmo com os directores do CNC, os réus acima referenciados, numa Proporgao de quase 10”do valor do contrato, (fls. 567 a 570, 596) dos autos. Esta exigéncia de 10”ou 15%, denominada pelos réus de Bratificagdes ou comissdes, era uma prética reiterada dos mesmos, pois jé assim se processou em relago a empresa Real Imobilidtia (empreiteira dos Projectos de construgiio do condominio Felitrans), das empreitadas no Lombe - Malange e no Menongue, desde 2012. As supostas gratificagdes eram transferidas para a conta do réu Eurico Alexandre Pereira da Silva e este distribuia o valor pelos réus Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga, Rui Manuel Moitae pelo profugo Francisco Agostinho Itembo, nos termos orientados Por este, De realgar que a data dos factos o réu Eurico Alexandre Pereira da Silva era Director Adjunto para a Administragdo e Finangas no CNG, (fis.515 € 615 a 619) dos autos. Por conseguinte, no periodo compreendido entre Dezembro de 2012 a Agosto de 2014, o réu Eurico Alexandre Pereira da Silva, recebeu, vide informagio e extracts bane: ios constantes no Anexo XXXIIL-A, para ser distribuido, as seguintes quantias: - Banco BAI: Kz. 21.797.800,00 (Vinte e Um Milhées, Setecentos ¢ Noventa e Sete Mil e Oitocentos Kwanzas) e USD 1.894.888,00 (Um Milhao, Oitocentos e Noventa e Quatro Mil e Oitocentos e Oitenta e Oito Délares Norte Americanos); - Banco Keve: Kz. 21.797.800,00 (Vinte e Um Milhées, Setecentos e Noventa e Sete Mil e Oitocentos Kwanzas) e USD 561.329,00 (Quinhentos ¢ Sessenta e Um Mil e Trezentos e Vinte e Nove Délares Norte Americanos); - Banco BNI: Kz. 30.957.800,00 (Trinta Milhdes, Novecentos e Cinquenta e Sete Mil e Oitocentos Kwanzas); ~ Banco BFA: Kz, 27.797.800,00 (Vinte e Sete Milhdes, Setecentos ¢ Noventa e Sete Mil e Oitocentos Kwanzas); Estes valores, na grande parte das vezes, eram levantados pelo réu Eurico Alexandre Pereira da Silva e entregues ao préfugo Francisco Agostinho Itembo que, por sua vez, os distribuia aos réus Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga e Rui Manuel Moita, tendo cada um, ficado com o valor de USD 118. 400,00 (Cento e Dezoito Mil e Quatrocentos Délares Norte Americanos). Do aludido montante, Eurico Alexandre Pereira da Silva apropriou-se de Kz. 10.000.000,00 (Dez Milhdes de Kwanzas) ¢ USD 325. 000,00 (Trezentos e Vinte e Cinco Mil Délares Norte Americanos), vide (fls. 2 ¢ 3) do Anexo XXXII-A (fls. 615 a 619,815 a 817 © 825 a 828) dos autos, a5 Depois do préfugo Francisco Itembo, ser exonerado do cargo de Director do CNC, a ré Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganca, assumiu o controlo do “negécio das comissbes ou gratificagSes”, tendo decidido que o réu Eurico Alexandre Pereira da Silva, continuasse a receber as mesmas nas suas contas bancérias. Este, por ter sido transferido para o Gabinete de Estudo, Planeamento ¢ Estatistica do Ministério dos Transportes, concertou com aré Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga no sentido de escolherem outra forma de receberem as supostas gratificagdes que ndo fosse por intermédio das suas contas bancétias. Diante deste impasse, o réu Eurico Alexandre Pereira da Silva indicou o senhor Benetti Adelino da Cunha Bumba, seu compadre titular da empresa de construgéo BB Comercial, para receber as supostas pratificagbes, tendo este de imediato, por orientagiio dos réus, sido subcontratado pela empresa AFRO ENG que tinha sido anteriormente contratada pelo CNC para a vedacao da Plataforma Logistica do Lombe. ‘A subcontratagdo da empresa BB comercial, era apenas para efeito de recepgao e distribuicao das alegadas gratificagées e por cada pagamento que o CNC fazia a empresa AFROENG esta depositava 15% na conta da empresa BB Comercial, (fls 1099 a 1103) dos autos. assim que no periodo compreendido entre 2015 a 2017, na conta de Benetti Adelino da Cunha Bumba, foi transferido o valor de USD 585.931,00 (Quinhentos e Oitenta e Cinco Mil e Novecentos e Trinta e Um Délares Norte Americanos) que, posteriormente, como distribuigao, foi transferido para as contas dos réus, tendo Manuel Ant6nio Paulo recebido USD 30.061,00 (Trinta Mil ¢ Sessenta e Um Délares Norte Americanos), Isabel Braganga USD 261.875,00 (Duzentos e Sessenta e Um Mil Oitocentos ¢ Setenta e Cinco Délares Norte Americanos), Rui Moita USD 43.384,00 (Quarenta e Trés Mil, Trezentos e Oitenta e Quatro Délares Norte Americanos), Eurico da Silva USD 195,565,00 (Cento e Noventa e Cinco Mil e Quinhentos e Sessenta ¢ Cinco Délares Norte Americanos) ‘Aos senhores Avelino dos Santos ¢ Jofio Agostinho, ambos funcionérios do CNC, foi-Ihes entregue a quantia de USD 9.287,00 (Nove Mil e Duzentos ¢ Oitenta e Sete Délares Norte Americanos) ¢ USD 25,000,00 (Vinte e Cinco Mil Délares Norte Americanos), respectivamente, vide (fls. 817, 615 € 1099 a 1103) dos autos. ‘Com esse mesmo modus operandi, os réus Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga, Manuel Antonio Paulo ¢ Rui Manuel Moita, receberam das empresas Organizagdes Polida, Clicker Service LDA, Organizagdes Gelvisol, Organizagdes Chana, Xiang Cun Bu os valores monetirios descritos no Relatorio de Peritagem Contabilistico - Financeira, constante a fls. 2839 ¢ seguintes dos autos, que se da aqui por inteiramente reproduzido para todos efeitos legais. Tal como ja se referenciou, a indisciplina financeira que havia no CNC era do conhecimento do Ministro dos Transportes, 0 réu Augusto da Silva Tomas, pois 0 pagamento referente ao afretamento de aeronave para a sua deslocagiio ao interior e exterior do pais era efectuado pelo CNC, cujo oficio de solicitagdio de pagamento era para ali remetido, pela Secretaria -Geral do Ministério dos Transportes, visado pelo proprio Ministro dos Transportes. De salientar que as despesas para afretamento de aeronaves para as delegagdes do Ministro dos Transportes, nao estava prevista no Orgamento do CNC, que era ¢ € diferente do orgamento do Ministério dos Transportes, pois o CNC tem Orgamento préprio. Também ja se esclareceu que para as despesas serem realizadas tém de estar inscritas no orgamento, ter cabimentac&o na programacio financeira, estar adequadamente classificada e satisfazer 0 principio da economia, eficiéncia ¢ eficécia, estando o incumprimento sujeito a sangdes penais, vide Lei n°15/10, Decreto Presidencial n° 6/11 e n° 330/14, Alias, ainda que as despesas para afretamento de aeronaves para as delegagdes do Ministro dos Transportes, o réu Augusto da Silva Tomas, fossem retiradas da dotag&o orgamental do Ministério dos Transportes, violaria sempre os principios acima aludidos, visto que foram afretadas aeronaves para rotas com muita frequéncia de voos de carreira, tais como Luanda/ Cabinda, Luanda /Lisboa, vide Anexo XVIII e XVIII-A. A companhia afretada com frequéncia era a Bestfly - Flight Suport, nao constando nos despachos para o afretamento, a descriminagdo dos integrantes das delegagdes, nem as razdes que levavam a fazer-se recurso a uma via mais dispendiosa cujo pagamento era imputado ao CNC. O certo é que esta instituigdo despendeu, com fretes de aeronaves, somas avultadas no valor de Kz. 68.249.954,00 (Sessenta e Oito Milhdes, Duzentos ¢ Quarenta e Nove Mil e Novecentos e Cinquenta e Quatro Kwanzas), USD 3.057. 896,00 (Trés Milhdes, Cinquenta e Sete Mil € Oitocentos e Noventa e Seis Délares Norte Americanos) e EUR. 278.894,00 (Duzentos e Setenta ¢ Oito Mil e Oitocentos e Noventa e Quatro Euros), Vide Anexo XVIII e XVIII-A e Peritagem Contabilistico - Financeira constante a (fls. 2859) dos autos. © CNC pagou inclusive fretes, por orientagdo do réu Augusto da Silva Tomas, para entidades estranhas ao Ministério dos Transportes, como é 0 caso do Movimento Nacional Espontaneo e do Ministério da Justica, numa verdadeira demonstragdo de que os dinheiros publicos podiam ser gastos como ele, réu, bem entendia, sem obedecer a 7 \ A, qualquer regra ou principio, sem obedecer os limites das despesas das unidades orgamentais, vide Anexo XVII e¢ XVIII-A e Peritagem Contabilistico - Financeira constante a (fis, 2859) dos autos, bem como a Lei n° 15/10, de 14 de Julho (Lei do Orgamento Geral do Estado). Foi nesta senda que 0 CNC, foi obrigado a realizar uma série de despesas & favor do Ministério dos Transportes que também possuia a sua propria dotagéio orgamental, como ¢ o caso de, pagamento de despesas de telefonia, subsidios diversos aos funciondrios, apoio a Area Administrativa do Ministério dos Transportes, pagamento de encargos ¢ despesa de capital, vide Anexo XIII, XII-A a XIII-I, Anexo XVI, XVI-A a XVE-C, Anexo XVII e XVII-A e Anexo XXII e XXII-A, cuja informagdo neles constantes se da aqui por inteiramente reproduzida. Assim, 0 réu Augusto da Silva Tomés, utilizava os dinheiros do CNC, para suportar as despesas do Ministério dos Transportes que se encontravam devidamente cabimentadas ¢ cuja verba tinba sido aprovada, tendo, no periodo de 2014 a 201 7, 0 CNC despendido com 0 Ministério dos Transportes em subsidios funcionais, o montante em Kz. 23.226.937,00 (Vinte e Trés Milhdes, Duzentos e Vinte ¢ Seis Mil ¢ Novecentos ¢ Trinta e Sete Kwanzas) ¢ USD 1.557. 666,00 (Um Milhao, Quinhentos e Cinquenta ¢ Sete Mil e Seiscentos e Sessenta e Seis Délares Norte Americanos), vide Peritagem Contabilistica Financeira, fls. 2858. Para a Area Administrativa do Ministério dos Transportes, o CNC, no mesmo periodo, gastou Kz. 138. 484.743,00 (Cento e Trinta ¢ Oito Milhdes, Quatrocentos e Citenta e Quatro Mil e Setecentos ¢ Quarenta e Trés Kwanzas), USD 1.476.715,00 (Um Milhao, Quatrocentos ¢ Setenta e Seis Mil e Setecentos e Quinze Délares Norte Americanos) e EUR. 293.904,00 (Duzentos e Noventa e Trés Mil e Novecentos ¢ Quatro Euros), fls. 2858. Estas despesas, na. Area Administrativa, consubstanciavam em apetrechamento de instalagdes, pagamento de assisténcia técnica, concepgio e a manutengao da EXPOTRANS, pagamento de factura da ENDE, reparago de viaturas, servigo de limpeza no ISGEST, aquisigaio de cadeiras, pagamento do registo de propriedade das carrinhas de servigo dos érgios do Ministério dos Transportes, compra de Ipad, tratamento de manutengiio das plantas, limpeza de tapetes ¢ cadeirdes do Ministério dos Transportes, reparagao do sistema de bombagem de gua do edificio do Ministério dos Transportes, entre outras, todas elas realizadas por ordem ou autorizagao do réu Augusto da Silva Tomas, vide Anexo XVI, XVI-A a XVI-C. O CNC pagava os subsidios de alimentagéo dos funciondrios do Ministério dos Transportes, que consistia na atribuigao de uma verba para consumo nos supermercados Jumbo ¢ Kero, sendo no primeiro, em délares e, no segundo, em kwanzas, perfazendo um total de 18 USD 5.253.030,00 (Cinco Milhdes, Duzentos e Cinquenta e Trés Mil e Trinta Délares Norte Americanos) e KZ 108.939.800,00 (Cento e Oito Milhdes, Novecentos e Trinta e Nove Mil e Oitocentos Kwanzas), (fls 2858). Sempre no ambito da gesto abusiva do erdrio piblico e, por orientagdo do réu Augusto da Silva Tomés, o CNC pagou também saldrios, ajudas de custos, bem como, compras de bilhetes de passagem para funcionatios do Ministério dos Transportes e para outros érgaos por ele tutelado ou superintendido, como é 0 caso do Instituto Nacional de Caminhos de Ferro - de -Angola, do Instituto Nacional dos Transportes Rodoviarios e do Instituto Superior de Gesto, Logistica e Transporte, no valor total de Kz.250.796.858,00 (Duzentos e Cinquenta Milhes, Setecentos ¢ Noventa e Seis Mil e Oitocentos e Cinquenta e Oito Kwanzas), USD 4.461.024,15 (Quatro Milhdes, Quatrocentos e Sessenta e Um Mil, Vinte Quatro Délares Norte Americanos e Quinze Céntimos) e EUR. 95.900,00 (Noventa e Cinco Mil e Novecentos Euros), vide Anexo XVII e XVII-A e fls. 2860, mapa 10, dos autos. © CNC pagou despesas de capital que eram da ineumbéncia do Ministério dos Transportes ou, outros érgiios dependentes do mesmo, despesas estas, que eram previamente cabimentadas na dotagio orgamental do Ministério ou dos referidos érgios, referentes a despesas com a manutengao geral do edificio sede do Ministério dos Transportes, contrato de assisténcia técnica para o Estudo do novo Aetoporto Internacional de Luanda, cujo pagamento foi efectuado em 2016. Também pagou despesas de capital referentes ao fornecimento e montagem de mobilidrio e artigo e decoragaio na empresa portudria do Porto Amboim, servigos prestados na fiscalizagaio da empreitada de construg&o do edificio dos trés laboratérios do ISGEST em 2017, vide Anexos XIII, XIII-A a XIII-J, cujo conteido se dé por inteiramente reproduzido para todos efeitos legais. Estas despesas de capital realizadas pelo CNC, a favor de outras entidades do sector dos transportes, foram avaliadas em Kz. 891.840.448.00 (Oitocentos e Noventa e Um Milhées, Oitocentos ¢ Quarenta Mil e Quatrocentos e Quarenta e Oito Kwanzas), USD 29.161.819.00 (Vinte ¢ Nove Milhdes, Cento e Sessenta e Um Mil e Oitocentos e Dezanove Délares Norte Americanos) e EUR. 13.189.106.00 (Treze Milhes, Cento e Oitenta e Nove Mil e Cento e Seis Euros), vide (fls. 2860) dos autos. réu Augusto da Silva Tomas mandou ainda, 0 CNC pagar despesas relacionadas com o seu telefone pessoal, tendo o CNC pago também as facturas referentes ao servigo de comunicagao do Ministério dos Transportes, num total de Kz. 47.841.190.00 (quarenta e sete milhdes, oitocentos e quarenta um mil e cento e noventa kwanzas), vide (fls. 2859) dos autos e Anexo XXI. Com a conduta ora descrita cometeram os réus em co- autoria moral e material os seguintes crimes: I- AUGUSTO DA SILVA TOMAS 1 - Um crime de peculato sob forma continuada, p. p. pelo artigo 313°, com referéncia ao artigo 437°, ambos do Cédigo Penal. 2- Um crime de Violagiio das normas de execugiio do plano ¢ orgamento, na forma continuada, previsto © punivel pelo artigo 36° da Lei n® 03/10, de 29 de Marco, Lei da Probidade Piblica. 3- Um crime de Abuso de poder, na forma continuada, previsto punivel pelo artigo 39° da Lei n°03/10, de 29 de Margo, Lei da Probidade Publica. 4- Dois crimes de Participagdio econémica em negécio p. € p. pelo n°l do artigo 40° da Lei n® 3/14, de 10 de Fevereiro, Sobre a Criminalizagdo das Infracedes Subjacentes ao Branqueamento de Capitais. 5- Um crime de Branqueamento de Capitais, p. e p. pelo n° | do artigo 60° da Lei n® 34/11, de 12 de Dezembro, Lei do Combate ao Branqueamento de Capitais e do Financiamento ao Terrorismo; 6-Um crime de Associagao Criminosa p. e p. pelo n°1 do artigo 8° da Lei n® 3/14, de 10 de Fevereiro, Sobre a Criminalizagaio das Infracgdes Subjacentes ao Branqueamento de Capitais. Il- ISABEL CRISTINA GUSTAVO FERREIRA DE CEITA BRAGANCA, RUI MANUEL MOITA e MANUEL ANTONIO PAULO |- Um crime de Peculato, na forma continuada, p. e p. pelo artigo 313°, com referéncia ao artigo 437°, ambos do Cédigo Penal. 2- Um crime de Violagiio das normas de execugio do plano e orcamento, na forma continuada previsto e punivel pelo artigo 36° da Lei n® 03/10, de 29 de Marco, Lei da Probidade Piblica. 3- Um crime de Abuso de poder, na forma continuada, previsto ¢ punivel pelo artigo 39° da Lei n°03/10 de 29 de Margo, Lei da Probidade Piblica. 4- Trés crimes de Participagtio econémica em negécio p. e p. pelo n° I do artigo 40." da Lei n° 3/14 de 10 de Fevereiro, Sobre a Criminalizagéo das Infracgdes Subjacentes ao Branqueamento de Capitais, este apenas para a ré Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganea. 5- Um crime de Recebimento indevido de vantagem, na forma continuada, p. ¢ p. pelo n° 1 do artigo 36° da Lei 3/14 de 10 de Fevereiro, Sobre a Criminalizagdo das Infracgdes Subjacentes ao Branqueamento de Capitais. 20 6- Um crime de Concussao, na forma continuada, p. e p. pelo artigo 314° do Cédigo Penal. 7- Um crime de Branqueamento de Capitais, p. e p. pelo n° | do artigo 60.°da Lei n® 34/11, de 12 de Dezembro, Lei do Combate 20 Branqueamento de Capitais e do Financiamento ao Terrorismo. 8- Um crime de Associaedo Criminosa p. e p. pelo n° 1 do artigo 8° da Lei 3/14, de 10 de Fevereiro, Sobre a Criminalizagtio das Infracedes Subjacentes ao Branqueamento de Capitais. Ifl- EURICO ALEXANDRE PEREIRA DA SILVA 1- Um crime de Recebimento indevido de vantagem, na forma continuada, p. ¢ p. pelo n° 1 do artigo 36° da Lei 3/14 de 10 de Fevereiro, Sobre a Criminalizag’o das Infracedes Subjacentes ao Branqueamento de Capitais. 2-Um crime de Concussio, na forma continuada, p. e p. pelo artigo 314° do Cédigo Penal. 3-Um crime de Associagao Criminosa p. e p. pelo n°l do artigo 8° da Lei 3/14, de 10 de Fevereiro (Sobre a Criminalizacio das Infracg®es Subjacentes ao Branqueamento de Capitais). Introduzido 0 processo em juizo foi elaborado despacho de prontincia que manteve no essencial os factos e crimes imputados pelo Digno Magistrado do M.P., acrescentando os factos que subsumem o elemento subjectivo, nos termos que se transcrevem: Os réus Augusto da Silva Tomds, Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganca, Rui Manuel Moita e Manuel Anténio Paulo, sabiam que todas as receitas arrecadadas pelo CNC, pertenciam ao Estado e nenhuma das despesas pode ser assumida, autorizada e paga sem que esteja inscrita em orgamento a dotagao adequada e nela tenha cabimento; Mais, sabiam que as receitas ptiblicas no podiam ser deduzidas, seja a que titulo fosse, especialmente quando se tratasse de Sinanciamento de actividades que nem sequer se inclui no dmbito das atribuigdes do CNC legalmente estabelecidas; Sabiam estes mesmo réus, que actuaram sempre de forma concertada, que os descritos montantes séio dinheiros piiblicos que se Thes mostravam confiados pela natureza das fungées que exerciam, sendo que lhes ndo era licito, a qualquer titulo, dispor em proveito pessoal, como pretenderam e conseguiram, causando prejuizo ao Estado. De igual modo, estes réus, aproveitando-se das suas qualidades de funcionérios piiblicos, intimidavam alguns prestadores de 21 y # servico contratados pelo CNC, mostrando-thes que tinham poderes para ‘manterem ou revogarem a relagdo contratual, obrigando-os, por isso, a pagarem as denominadas gratificages para celebragdo e manutenedo dos referidos contratos, sempre para obterem vantagens patrimoniais que sabiam serem indevidas. Estes réus ao actuarem do modo acima descrito, agiram sempre com a perfeita consciéncia de que os montantes que foram fazendo seus, dos modos descritos, nao lhe pertenciam e que tinham acesso aos mesmos como decorréncia das fungdes que exerciam enquanto Ministro dos transportes e como Directores dos diversos departamentos. Aproveitando-se assim os réus das fungdes em que se encontravam investidos e dos poderes que possuiam para assim obter beneficios patrimoniais para si, bem como para aceder aos referidos montantes e para destes dispor em seu proveito préprio e de terceiros, dando-thes um uso para o qual ndo estavam autorizados. ‘Agiram ainda com 0 propésito concretizado de converter no sistema bancario os avultados rendimentos pecunidrios obtidos com tal conduta em licitos montantes depositados em conta bancarias, dissimulando perante terceiros, designadamente funciondrios bancdrios e érgaos de policia criminal em caso de investigagdo criminal limitada a actividade bancaria das sociedades em causa, a origem ilicita do dinheiro e por isso legitimando a sua movimentagdo no normal circuito econémico- Jinanceiro, contaminando-o com fundos provenientes de actividade ilicita. Com as condutas descritas de 52 a 60, os réus Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga, Rui Manuel Moita e Manuel Antonio Paulo e Eurico Alexandre Pereira da Silva, usaram do estratagema ‘supra mencionado para conseguir que as descritas empresas Ihes entregassem a percentagem peticionada (10 a 15/ do valor do contrato), estabelecido com a CNC, sendo certo que, se serviram do facto de serem funciondrios desta entidade. Com efeito, as descritas empresas sé depositaram as referidas percentagens nas contas bancdrias tituladas por estes réus, porque se convenceram, atenta as fungdes pelos mesmos exercida e 0 por estes declarado, erradamente, que essas percentagens eram devidas, sendo que, todos abusaram dos seus poderes funcionais, para obterem vantagem patrimonial a que néio tinha direito. Todos os réus e demais individuos, agiram na execucdo de planos delineados entre todos, com o objetivo comum de se apoderarem de dinheiros piiblicos pertencentes ao Estado Angolano. Agiram sempre, voluntéria e conscientemente, bem sabendo que tais condutas eram proibidas e punidas por lei. 2 Neste despacho de prontincia, o Mmo. Juiz referiu ainda que: © presente proceso configura crimes de natureza patrimonial em que se presume ter sido lesado 0 Estado. Assim sendo, importa ter presente a Lei 15/18, de 26 de Dezembro que estabelece as condigdes para o repatriamento coercivo de activos financeiros e perda de bens a favor do Estado, decorrentes de condenac&o em processo penal (artigo 1° da Lei citada). Nao tendo sido possivel a liquidagtio no momento da acusagao, ela poderd ser efectuada até ao 30° dia anterior a data a designar para a realizagdo da primeira audiéncia de discussio e julgamento, sendo deduzida nos préprios autos por apenso. Assim, convido 0 Ministério Publico a proceder a promog&o da perda de bens dos réus, nos termos do artigo 7° da jé mencionada Lei. Deste despacho foi interposto recurso, tendo o Tribunal Supremo mantido a decisaio recorrida quanto aos factos e crimes imputados. Apenas deu razio aos recorrentes na parte final em que convida 0 M.P. a proceder a promogdo da perda de bens dos réus, nos termos da Lei 15/18 de 26 de Dezembro, ordenando como se transcreve: “..Com efeito, apesar de 0 mencionado art.’ 7.° sob a eptgrafe “Promocao da Perda de Bens”, referir expressamente no seu n.° I que “O Ministério Piblico, liquida, na acusacdo, 0 montante apurado como devendo ser perdido a favor do Estado”, estes normativos devem ser interpretados no seu conjunto e néo, como parece ter feito 0 Venerando Juiz de forma isolado. E, logo no art.° 1.° da mencionada Lei, onde se fala do seu objecto pode ler-se: “A presente Lei estabelece as condigdes para 0 repatriamento coercivo de activos financeiros e a perda de bens a favor do Estado, decorrentes de condenagdo em processo penal independentemente de estarem domiciliados ou sediados no estrangeiro ou no territério nacional”. Nao temos, por isso, ditvidas, que sé em caso de condenagdo relevaré a liquidacdo previamente efectuada pelo magistrado do M”. P*. Porém, nao inculca a ideia como pretendem perpassar os recorrentes que o Venerando Juiz jé tinha um pré —juizo condenatério e muito menos que “seja leigo na matéria ou desinteressado”, como refere © recorrente Augusto Tomds, demonstrando sim, desconhecer os 23 principios éticos e deontolégicos que devem presidir ao relacionamento entre os operadores judicidrios. Tratou-se apenas, de dar cumprimento ao mencionado artigo 7.°, apesar de e, com muito respeito que nos merece a opinito do Venerando Juiz, entendemos que se trata de matéria de exclusiva competéncia dos magistrados do M°. P*, enquanto titulares da aceao penal e como representantes do Estado. Assim, nos parece, nao poder 0 Venerando Juiz fazer 0 mencionado convite, dando razdo ao recorrente. Temos, por isso, de concluir pela procedéncia do recurso neste concreto, devenio aquela parte ser eliminada do despacho de proniincia...”. * # * Posteriormente nao ocorreram nulidades, excepgdes ou de questées prévias prejudiciais que obstem ao conhecimento do mérito da causa. Tribunal & competente, as partes so legitimas e 0 processo € 0 préprio. Designado o dia para o julgamento a ele procedeu-se 0 com a observancia de todas as formalidades legais aplicaveis, conforme noticia a acta e os réus defenderam-se pela forma expressa em contestagdes escritas apresentadas em audiéncias pelos seus ilustres mandatdrios, cujo contetido por inteiro reproduzido aqui se dé. Discutida a causa foi elaborado um questionério que depois de lido ¢ resolvidas as reclamagées apresentadas pelos ilustres mandatérios, foram votados os quesitos que o integram, tendo em respostas das mesmas, resultado provada a seguinte matéria factica. QUESTAO PREVIA 1- Alguns mandatdrios voltaram a questionar o facto de alegadamente se ter convertido em matéria de prova, 0 relatério da IGAE em violagdio do principio do contraditério. 2+ Também se insurgiram contra o facto de que finda a instrugdo contraditéria, 0 entéo Venerando Relator, proferir o despacho de pronincia, sem primeiramente ordenar a vista a0 Ministério Péblico. 3- No decurso da audiéncia de julgamento e discusstio da causa, 0s Mandatérios do réu interpuseram recursos que foram admitidos, com efeito meramente 24 devolutivo, a subirem com 0 que hé-de ser interposto da decisdo final, pelo que, nada ha a conhecer. 4- Sublinhe-se ainda que nao foram quesitados os artigos da acusag&o que respeitavam A conceitos e diplomas legais. Na verdade, aquela peca processual deve conter apenas factos ¢ as alusées feitas nos artigos Sustentardo a motivacao da decisio de facto ou enquadramento juridico penal. Em relagao a primeira questo dizer aqui e agora que esta questi, jé foi nas diversas fases processuais alegada e tratada, pelo que, se mostra completamente extemporanea. Mas, sempre se diré que também nés entendemos nao existir qualquer violag&o do princfpio do contraditério, na medida em que, os ora réus, ouvidos em 1.° interrogatério e noutros, sobre os factos constantes da acusagao e que terdo tido origem no referido relatério, sempre disseram o que melhor entenderam para as suas defesa. De resto, toda a prova da acusagdio se encontra sustentada em documentos varios e declaragdes dos declarantes e depoimentos das testemunhas ¢, ndo, como pretendem fazer crer estes réus num relatério emanado da Inspegdio Geral da Administragao do Estado (IGAE). Também, nesta fase de julgamento os factos apurados assentaram sobretudo na descrita prova e também em declaragdes prestadas pelos réus advertides que foram, para o facto de poderem remeter-se a0 siléncio ou dizerem o que melhor entendessem, sem que, estivessem, por isso obrigados a qualquer confissao. J& quanto a segunda questo, dizer que todas situagdes supostamente anémalas que ocorreram durante e apés a instrugdo contraditéria, bem como os demais recursos interlocutérios, foram resolvidos pelo Tribunal “ad quem”, que julgou improcedente o recurso que 08 réus interpuseram ao despacho de prontincia. Alias, € pacifico que todos os recursos interpostos antes do despacho de proniincia, no sobem imediatamente, mas sim, subirao com © recurso que for interposto ao despacho de nao prontincia ou ao despacho de proniincia, conforme o caso. Por outro lado, no decurso da audiéncia, discussiio ¢ julgamento, a ilustre mandataria do réu Augusto da Silva Tomas, também interpés recursos que foram admitidos, com efeito meramente devolutivo, a subirem com o que hé-de ser interposto da decis&o final. Esta mesma Advogada, apresentou intimeros protestos verbais consignados em acta que pelo facto de serem considerados dilatérios, por forga do art? 458° do C.P.P, faremos a respectiva transcrigéio somente depois da sentenga que se publicaré dentro de momentos. 25 Thy Finalmente, importa sublinhar que nfio foram quesitados 08 artigos da acusagdio que respeitavam a conceitos e diplomas legais. ‘Na verdade, aquela pega processual deve conter apenas factos e as alusdes feitas em determinados dos artigos servem para a motivagao da decisio de facto ou enquadramento juridico penal. ‘Alguns dos quesitos adicionais apresentados pelas defesas, foram considerados prejudicados, por serem repetitivos e, no que diz respeito a alteragaio das redacgdes dos quesitos 32°, 59°, 68°, 80°, 81°, 82°, 100°, 101° e 106°, sugeridos pela mandatédria do réu Augusto da Silva Tomés, o Tribunal entendeu que pelo facto de constarem da acusagdo e prontincia, nao poderem softer alteragdes, sob pena de, se estar a violar o principio do acusatério, na medida em que retiravam o alcance e contetido dos mesmos. FUNDAM! CAO DE FACTO FACTOS PROVADOS Com interesse para a decisio da causa resultaram provados os seguintes factos: Tutelado pelo Ministério dos Transportes, 0 CNC é um Instituto Pablico criado para 0 controlo das operagées de comércio transporte maritimos internacionais, competindo-lhe a cettificagdo da mobilidade de cargas ¢ o controlo de frete de, e, para Angola, bem como, a gestio da Rede Nacional de Plataformas Logisticas. © réu Augusto da Silva Tomés foi Ministro dos Transportes, de 2008 & 2017, tendo o mesmo por despacho, nomeado no ano de 2008, para o cargo de Director Geral do CNC (Conselho Nacional de Carregadores), 0 préfugo Agostinho Francisco Itembo, que permaneceu no cargo até 2015. Este réu nomeou ainda no mesmo ano de 2008, os réus Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga e Rui Manuel Moita, respectivamente, para os cargos de Directora-Geral Adjunta para ‘Administracao e Finangas do CNC e Director Geral Adjunto para a Area Técnica do CNC. Acontece que em 2015, o réu Augusto da Silva Tomas, exonerou do cargo 0 préfugo Agostinho Francisco Manuel Itembo, substituindo-o pelo ora ru Manuel Anténio Paulo, mantendo os réus ja acima mencionados nos seus cargos anteriores. Este novo corpo directivo do CNC, liderado pelo réu Manuel Ant6nio Paulo, exerceu fungdes até ao ano de 2018, altura em que toda equipa cessou as suas actividades, incluindo o proprio Ministro, por 26 razGes directa ou indirectamente ligadas aos factos reportados nos presentes autos. No dia 5 de Junho de 2009, os réus Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga, Rui Manuel Moita e 0 profugo Francisco Agostinho Itembo, criaram um Programa de Bolsas de Estudos Internas e Extemnas, custeado pelos Agentes Certificadores de Carga, em relaco as bolsas externas. Referir que os Agentes Certificadores de Carga, sfo sociedades contratadas pelo CNC para a cobranga de comissdes a todos os Participantes no trafego maritimo de longo curso para Angola, mediante emissdo de certificados de embarque, devendo os valores cobrados em moeda estrangeira serem mensalmente transferidos para a conta bancéria do CNC. Estes agentes deduziam os dinheiros referentes aos pagamentos de tais bolsas, dos valores destinados ao pagamento ao Estado Angolano, efectuados através do CNC, tendo o préfugo Francisco Agostinho Itembo, assinado Memorandos de Entendimento com os Agentes Certificadores de Carga do Brasil, Portugal, China, BUA, Franga e Reino Unido, nos quais, apenas estes pareciam ter obrigagdes, tudo como forma de ‘ocultarem os prejuizos que o Estado Angolano vinha sofrendo com tais procedimentos. © Estado Angolano através das receitas pitblicas arrecadadas pelo CNC, softeu prejuizos de Usd 2.156.309.93 (dois milhdes, cento e cinquenta e seis mil, trezentos ¢ nove délares norte-americanos ¢ noventa e trés céntimos) e Eur. 264,582.76 (duzentos e sessenta e quatro mil, quinhentos e oitenta e dois euros ¢ setenta e seis céntimos), para custear as referidas Bolsas de Estudo no perfodo compreendido entre os anos de 2010 a 2018. O réu Augusto da Silva Tomés, na qualidade de Ministro dos Transportes tutela sabia da existéncia do referido programa de bolsas de estudos, porquanto sendo uma despesa de vulto que envolvia pagamentos de contratos com valores extremamente altos, tal expediente segundo a normalidade das coisas era do seu conhecimento, enquanto titular do érgao que tutelava e superintendia o CNC. A actividade financeira do CNC estava ¢ esté sujeita ao controlo exercido pelo Conselho Fiscal, que, nos termos da Lei, é nomeado pelo érgio de tutela do CNC (Ministro dos Transportes), sendo composto, por um presidente indicado pelo Ministro das Finangas e dois vogais indicados pelo Ministro dos Transportes. Constam de entre as competéncias do Conselho Fiscal, a incumbéncia de proceder & verificagao regular dos fundos existentes e, fiscalizar a escriturag&o da contabilidade. O réu Augusto da Silva Tomas, Ministro dos ‘Transportes, nunca nomeou o Conselho fiscal do CNC. poder de superintendéncia e tutela, impunha ao réu Augusto da Silva Tomas conhecer e fiscalizar a actividade financeira do NC. Este réu, a0 no exercer os seus poderes, permitiu que 0 préfugo Francisco Agostinho Itembo ¢ os réus Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganca e Rui Manuel Moita, aplicassem em bolsas de estudo dinheiros piblicos, sem que, para tal, esta despesa estivesse inscrita no orgamento do CNC, legalmente aprovado. Para além do pagamento das bolsas de estudo com recurso a dinheitos piiblicos em posse dos Agentes Certificadores de Carga, os réus Augusto da Silva Tomas, Manuel Antonio Paulo, Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga, Rui Manuel Moita ¢ o préfugo Francisco Agostinho Itembo, em conluio, usaram também dinheiros ptiblicos na posse destes mesmos Agentes, para pagarem despesas relativas & estadia e assisténcia médica dos réus Rui Manuel Moita e Manuel Anténio Paulo. ‘Com estas despesas, o Estado ficou prejudicado em Eur. 3.399.809.73 (trés milhées, trezentos ¢ noventa e nove mil, oitocentos e nove euros e setenta e trés céntimos) e Usd 76.674.00 (setenta e seis mil ¢ seiscentos e setenta e quatro délares norte-americanos). Os Agentes Certificadores de Carga, tinham uma remunerag&io (Comisséo do Agente) no exterior do pais, fixada em 10% sobre 0 valor de cada certificado emitido, estando os mesmos impedidos de cobrar quaisquer quantias relativamente a impressos, tal como, consta nas clausulas 13° e 14° dos Contratos de Agéncia, juntos ao Anexo XXXII. Os réus Augusto da Silva Toms, Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganca e Rui Manuel Moita e o profugo Francisco ‘Agostinho Itembo, sempre com o intuito de prejudicarem o Estado Angolano, mediante utilizagao indevida de receitas piblicas, adquiriram participagdes sociais em sociedades. Em 2007, 0 anterior Ministro dos Transportes, André Brandao, ordenou que o CNC desembolsasse a quantia de Usd 7.500.000.00 (sete milhées e quinhentos mil délares norte-americanos), para adquirir 10% do capital social da HFA Holding Financeira Angola que, 4 data do suposto investimento, no funcionava, pois nao havia ainda sido legalmente constituida, nem o Estado tinha regulamentado a actividade para a qual estaria vocacionada, tendo o réu Augusto da Silva Tomés dado sequéncia a esta aquisicao. Visto que a HFA- Holding Financeira Angola, estava impossibilitada de funcionar, em 2011, 0 réu Augusto da Silva Tomas, 28 enquanto Ministro dos Transportes que tutelava 0 CNC, autorizou que os Usd 7.500.000.00 (sete milhdes e quinhentos mil délares norte-americanos), fossem destinados 4 compra de 1% das acgdes do Banco de Negécio Internacional, a fim de o CNC participar no capital social desta instituigao. 7 Entretanto, estes valores deviam ser destinados 4 Conta Unica do Tesouro. A ASGM Automéveis de Angola S.A., é uma sociedade por quotas, cujo objecto social é a montagem de viaturas (SKD) de marca Volkswagen, tendo como accionistas as empresas Suninvest S.A, representada pelo senhor Ismael Diogo da Silva, Acapir LDA, pela senhora Welwitchea dos Santos, bem como, os senhores Anténio de Jesus Castelhano Mauricio, Francisco Raimundo Pinheiro e Mbakassy e Filhos LDA. Os sécios da ASGM, aflitos pela débil situacao financeira que a empresa vivia, interpelaram o réu Augusto da Silva Tomas ¢ este livremente aceitou dar financiamentos 4 ASGM. Foi neste quadro que o réu Augusto da Silva Tomas, ordenou que 0 CNC adguirisse participagées sociais na ASGM, S.A., tendo 0 CNC, em 2009, desembolsado o valor de Usd 9.600.000.00 (nove milhdes e seiscentos mil délares norte-americanos), para adquirir acgdes correspondentes 8% do capital social. O CNC, neste periodo, era um érgtio de apoio técnico do Governo, tutelado pelo réu Augusto da Silva Tomés, entdio Ministro dos Transportes, estando impossibilitado de adquirir participacdes sociais. ‘Assim, o préfugo Francisco Agostinho Itembo, Director- Geral do CNC, subscreveu 8% do Capital Social da ASGM, adquirido com: 0 dinheiro do CNC, em nome individual. Entretanto, mais de 80% deste valor que devia retornar para o CNC, foi inscrito na sua contabilidade como custo, tal como, se pode ler na acta datada de 2 de Dezembro de 2010, subscrita pelos réus Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga, Rui Manuel Moita e Eurico Alexandre Pereira da Silva, 0 seguinte: “Em conformidade com a acta dos accionistas ¢ o capital actual da empresa ASGM, 0 montante correcto que corresponde a participagiio de 8.% do capital social naquela empresa é de Usd 720.000.00 (setecentos e vinte mil délares norte-americanos); registado neste caso, uma menos valia de Usd 8.880.000.00 (ito milhdes oitocentos ¢ oitenta mil délares norte- americanos), que deveraio ser contabilizado como “custo” por se considerar um estimulo a dinamizagao da actividade produtiva interna das empresas do sector, mais concretamente na fabricago e/ou montagem de viaturas ligeiras e pesadas. A diferenga de Usd 8.880.000.00 (oito milhdes e oitocentos e oitenta mil délares norte-americanos), nunca foi devolvida aos cofres do Estado angolano, pois nem sequer foi exigida a sua devolugao pelo CNC. 29 Os réus Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga ¢ Rui Manuel Moita ¢ o profugo Francisco Agostinho Itembo, entdo gestores do CNC, justificaram, como sendo parte deste valor, um estimulo a dinamizagao da actividade produtiva interma das empresas do sector. Aos 30 de Julho de 2012, a ASGM recebeu do CNC, por transferéncia bancaria, a quantia de kz 8.000.0000.00 (oito milhdes de kwanzas) e no dia 5 de Dezembro de 2012, recebeu o valor de Usd 80.000.00 (citenta mil dolares norte-americanos), a titulo de suprimento, sendo certo que nao era érgio vocacionado para o efeito. Estes montantes desembolsados pelo CNC, serviram apenas para o réu Augusto da Silva Tomds movimentar dinheiros piblicos 4 favor de uma entidade privada, que nada tem a ver com as atribuigdes do CNC, sem qualquer contrapartida para 0 Estado. O CNC, por orientagao do Ministro dos Transportes, 0 réu Augusto da Silva Tomds, através do despacho datado de 23 de Outubro de 2009, também transferiu para a empresa CIMMA, 0 valor correspondente a Usd 7.000.000.00 (sete milhdes de dolares norte-americanos), em principio, como participagao societaria correspondente a quota de 15% do capital social desta empresa. ‘A CIMMA - Companhia Industrial de Montagem e Metalomecanicas de Angola, S.A., sociedade anénima, foi constituida em Margo de 2010, tendo sido outorgada pelos senhores José Paulo Kindanda, Berlito de Jesus Adéo Quemba e, pelos préfugos, Francisco Agostinho Manuel Itembo e Abel Anténio Cosme, tendo como objecto social, a montagem de autocarros (SKD) da marca KING LONG (chinesa). As acces adquiridas na CIMMA, foram subscritas em nome individual pelos préfugos Francisco Agostinho Itembo, a data director do CNC e Abel Antonio Cosme, director da Unicargas, pois 0 CNC, era apenas um érgio de apoio técnico ao Ministério dos Transportes e, por isso, no podia adquirir participagdes sociais. Posteriormente, foram transferidas as accdes, através de procuragdes irrevogaveis, para o CNC e para Unicargas. O CNC, tal como aconteceu com a ASGM, pagou para a aquisigdio de 15% do Capital Social da CIMMA, o valor de Usd 7.000.000.00 (sete milhées de délares norte-americanos). Os 15% do Capital Social da CIMMA S.A. valiam apenas Usd 7.500.00 (sete mil e quinhentos délares norte-americanos), os restantes Usd 6.992.500.00 (seis milhdes, novecentos e noventa e dois mil e quinhentos dolares norte-americanos), n&o foram devolvidos ao CNC foram considerados suprimentos ao capital, tal como consta da ACTA, datada de 2 de Dezembro de 2010. 30 Acontece que apenas 0 CNC e a UNICARGAS realizaram suprimentos, porquanto somente o CNC e a Unicargas realizaram © Capital de Investimento na empresa CIMMA, sendo o valor de Usd 7.000.000.00 (sete milhdes de délares norte-americanos), para a primeira e, Kz, 286.812.000.00 (duzentos e oitenta e seis milhdes e oitocentos e doze mil kwanzas), para a segunda, isto em fungao de um despacho assinado pelo réu Augusto da Silva Tomds, nas vestes de Ministro dos Transportes. Apesar de terem investido mais dinheiro, 0 CNC e a Unicarga néo se tornaram accionistas maioritérios, nem sequer podiam, pois © CNC, entio era apenas um Orgio de Apoio Técnico do Governo. Concluida a transferéncia dos valores acima referidos pelo CNC ¢ pela UNICARGAS, a CIMMA importou 100 (cem) autocarros de marca KING LONG, dos quais, 37 (trinta ¢ sete) foram enviados orientagdo do réu Augusto da Silva Tomas, para a empresa publica TCULS~ os restantes ficaram sob gestéo da CIMMA, que por sua vez entregou 53 (cinquenta e trés) para a empresa SGO ¢ a TRANSGOL. Ainda no Ambito das participagdes de capital em empresas, em 2008, o declarante José Manuel Rasak, prop6s ao réu Augusto da Silva Tomas, enquanto Ministro dos Transportes, a implementagao de uma rede de taxis para apoiar o CAN, através da utilizagfo de viaturas de marca KIA, que deveriam ser fornecidas pela empresa Impor Africa. Reagindo, o réu Augusto da Silva Tomés sugeriu a criagdo de uma empresa de raiz na qual, o Ministério dos Transportes, apenas injectaria dinheiro, pois, segundo 0 mesmo, este érgao nao podia constituir empresas privadas de transporte publico. Em Setembro de 2009, foi entdo constituida, pelos senhores FARUK IBRAHIM e ABDUL MAJAD IBRAIMO, sécios da Impér Africa, a empresa AFRITAXI, cujo objecto, era a actividade de rent- a-car, aluguer de viaturas, transporte maritimo, téxi aéreo, agéncias de viagem e turismo, tendo o declarante José Manuel Rasak, participado na criagao da referida empresa, sendo o Director Geral da mesma. Cerca de um més antes da escritura de constituigao da empresa AFRITAXI, por ordem do réu Augusto da Silva Tomas, em Agosto de 2009, 0 CNC ¢ a UNI CARGAS representados pelos préfugos Francisco Agostinho Itembo e Abel Cosme, respectivamente, transferiram para a AFRITAXI, as quantias de Usd 3.000.000.00 (trés milhGes de délares norte- americanos), a primeira e, kz. 247.499.964.39 (duzentos e quarenta e sete milhdes, quatrocentos e noventa e nove mil, novecentos ¢ sessenta e quatro kwanzas ¢ trinta e nove céntimos), a segunda, As transferéncias dos valores acima referidos, no tomou © CNC, nem a Unicargas s6cios na empresa AFRITAXI. Com © montante acima citado, a AFRITAXI adquiriu junto da Impor Africa 300 (Trezentas) viaturas de marca KIA modelo 31 SPORTAGE, tendo 0 declarante Faruk Ibrahim acrescido, para o efeito, a diferenga, pois as viaturas, no total, ficaram orgadas em Usd 9.570.000.00 (nove milhdes quinhentos e setenta délares norte-americanos). O réu Augusto da Silva Tomas, sabendo da aquisigao das 300 viaturas, orientou ao préfugo Francisco Agostinho Itembo ¢ a0 declarante José Manuel Rasak, no sentido de a gestdio de 150 (Cento Cinquenta) viaturas ficarem & cargo do CNC e da Unicargas, devendo serem utilizadas nas provincias de Benguela, Hufla e Cabinda. Para a Provincia de Benguela, mediante ordens do réu ‘Augusto da Silva Tomés, foram enviadas 50 viaturas, para a Huila 50 ‘Viaturas e para Cabinda 50 viaturas, criando-se a empesa Rent Angola, tendo como sécios Francisco Agostinho Itembo e Abel Antonio Cosme e um representante da dita AFRITAXI. As 50 viaturas enviadas para a provincia de Cabinda foram recebidas pelo senhor San Pedro Araiijo, enquanto as destinadas para a Huila e Benguela, ficaram sob responsabilidade dos profugos Francisco Agostinho Itembo e Cosme. ‘Apés entrega das referidas viaturas a RENT ANGOLA, esta nao deu qualquer contrapartida, nem 4 AFRITAXI, nem ao CNC, bem como, 4 UNICARGAS, tendo o CNC, ficado prejudicado financeiramente pelo pagamento que efectuou na compra das 300 viaturas. Este desfalque foi no CNC contabilizado como custo, com a justificagdo de que serviu “... como uma das formas de se alavancar a actividade de transporte personalizado, no ambito do fomento empresarial do sector dos transportes publicos, especializado ...”. O CNC ea UNICARGAS, nao tinham qualquer vinculo juridico com a empresa AFRITAXI que justificasse 0 desembolso dos valores investidos na compra das 300 viaturas. investimento do CNC na AFRITAXI, foi um artificio utilizado para que 0 réu Augusto da Silva Tomés, bem como, os préfugos Francisco Agostinho Itembo e Abel Cosme, desviassem dinheiro do Estado e financiassem o seu proprio negécio ou de terceiros. ‘A aquisigao de participagdes sociais acima citadas pelo CNC também foi um artificio, através do qual, o réu Augusto da Silva Tomas ¢ os profugos Francisco Agostinho Itembo e Abel Cosme, causaram ao Estado Angolano um prejuizo de Usd 27.180.000.00 (vinte e sete milhdes e cento € oitenta mil délares norte-americanos) e kz 255.499.964.39 (duzentos ¢ cinquenta e cinco milhées, quatrocentos ¢ noventa e nove mil, novecentos € sessenta € quatro kwanzas). Todos estes contratos foram firmados em Kwanzas, & pagos em Kuanzas e moeda estrangeira délares e euros, pois, segundo a ré 32 Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga, eram as moedas que circulavam no CNC, 0 que, agravou ainda mais o prejuizo ao Estado. Durante a crise financeira em que o Estado angolano nao dispunba de moeda estrangeira para a satisfagao das necessidades basicas, a direcgo do CNC, pagava as suas despesas locais/internas, em moeda estrangeira que devia ser depositada na Conta Unica do Tesouro. Em 2015, os réus Manuel Anténio Paulo, Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganca e Rui Manuel Moita, comercializaram délares norte-americanos no mercado informal, vendendo a Organizages Chana, representada pelo declarante Paulo Adolfo Neto, Usd 3.079.000.00 (trés milhGes e setenta e nove délares norte-americano). A venda de divisas no mercado informal feita pelos réus Manuel Antonio Paulo e a Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga e Rui Manuel Moita, entao dirigentes do CNC contrariava as linhas mestras da estratégia para a saida da crise derivada da queda do prego do petrdleo, aprovado pelo Decreto Presidencial n° 40/16 de 24 de Fevereiro. Esta era pratica dos dirigentes do CNC, pois costumavam efectuar pagamentos de bens e¢ servicos em moeda estrangeira, para residentes cambiais, violando as regras anuais de execug’o do OGE, em matéria de execugdio de despesa, por realizarem pagamentos em moeda estrangeira a empresas que operam em territério nacional, como é 0 caso, do Jumbo, Bestfly, Lutesa e outras, num total de Usd 2.875.964.64 (dois milhdes, oitocentos e setenta e cinco mil, novecentos e sessenta e quatro délares norte-americanos e sessenta e quatro céntimos) e Eur. 836.735.34 (oitocentos e trinta e seis mil, setecentos e trinta e cinco euros e trinta e quatro céntimos). ‘A contratagio de forecedores para o CNC erana maioria dos casos, sempre feita sem observancia de concurso piiblico e em fungao dos interesses particulares dos réus Augusto da Silva Tomas, Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganca e Rui Manuel Moita e do profugo Francisco Agostinho Itembo. Foi 0 que aconteceu com a contratagdo da empresa ISMA, LDA-BSP SEGURANGA, cujo contrat, tinha por objecto a prestagao de servicos de vigilancia e protecgdo as instalagdes do CNC, da Bolsa Nacional do Frete e do Instituto Maritimo Portudrio de Angola. A ISMA é uma sociedade da ré Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga, a data dos factos, Directora-Geral Adjunta para rea de Administrag&o e Finangas do CNC, com o seu esposo, o senhor Victor Manuel Braganga Pereira. ‘A ré Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga, aproveitando-se sempre da sua posi¢do, constituiu com o empresério Walter Soares Luis Jodo, a empresa ISAWAL que passou a prestar servigo ao CNC na area de informatica e emissao de passes de identificagao. 33 y O Walter Soares Luis Jo&o € sécio gerente da empresa LIRALINK que ja prestava (desde 2011) servigo ao CNC, também no ramo de informatica, area de gest&io documental, controlo de assiduidade, sistema de redes de voz e dados. A ré Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganca introduziu também na CNC, a SIMIKEA, empresa vocacionada para comércio geral € prestag&io de servigo, cujo Presidente do Conselho de Administraco, € a declarante Ana Balbina Gustavo Ferreira de Ceita Martins, irma da ré Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganca. No periodo de 2015 a 2018, a ré Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga, aproveitando-se da sua posicéio no CNC, arrendou o scu apartamento na Avenida de Portugal, rua Karl Marx, n° 57°, 5° andar, ao CNC, pelo valor de Usd 6.000.00 (seis mil délares norte- americanos), por més, tendo a referida residéncia sido transformada em casa de passagem desta instituigao. Esta ré colocou 0 seu cunhado Osvaldo Pereira, irméo do seu esposo Victor Manuel Braganca Pereira, a assinar, na posigao de senhorio, o contrato de arrendamento do imével de que é proprietaria. Para tentar esconder a propriedade do mesmo, a ré Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga, no referido contrato de arrendamento, ocultou enderego para que no se soubesse que a mesma era areal proprietaria, tendo apenas citado 0 bairro. A ré Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga, assinou ainda, o referido contrato na qualidade de arrendataria do seu proprio imével, em representagéio do CNC. Jao réu Augusto da Silva Tomas, introduziu no CNC a NIOSA e a Nova Somil, suas empresas pessoais, que prestaram servigos que foram pagos com dinheiros do CNC, tendo a NIOSA, em 2009, beneficiado pagamentos no valor de Usd 81.925,00 (itenta e um mil e novecentos e vinte e cinco délares norte-americanos. Este réu assinava as contas bancdrias das referidas empresas como sécio. O réu Augusto da Silva Tomas, sendo Ministro, por varias vezes reuniu com os seus empregados gestores da sua empresa NOVA SOMIL, na baixa de Luanda, mesmo sabendo que os servigos da referida empresa prestados no ISGEST, eram pagos por dinheiros do CNC. No processo de contratagdo das empresas acima referenciadas e noutras 0 CNC nao obedeceu ao processo de concurso. préfugo Francisco Agostinho Itembo e os réus Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga, Rui Manuel Moita ¢ Manuel Anténio Paulo, receberam gratificagdes de varias empresas que prestavam 34 servigo no CNC, mediante promessas ou acordo entre eles ¢ proprietdrios de tais empresas. Assim foi, em 2017, com as empresas Xiang Cun-Bu e Organizag6es Polida da Silva, representadas pelo senhor Avelino Paulino da Silva que, depois de solicitar por escrito, foi-Ihe enderegada uma carta pela Direcgtio do CNC na qual foi informado que a empresa Xiang Cun-Bu havia sido escolhida para a construgéio de uma obra para o CNC ¢ a outra empresa Organizag6es Polida da Silva faria a respectiva fiscalizagao, devendo, para tanto, pagar aos réus, 10” do valor do contrato. Esta exigéncia de pagamento de cerca de 10%, foi-lhe feita de forma expressa pelos réus Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga numa reuniao realizada no CNC para a assinatura dos contratos, tendo a mesma referido que ou aceitavam os pagamentos das referidas CF percentagens ou nao celebraria os contratos. Sempre que o CNC efectuasse qualquer pagamento & estas empresas, o senhor Avelino Paulino da Silva, dividia o dinheiro mesmo com os directores do CNC, os réus acima referenciados, numa proporgéio de quase 10% do valor do contrato. Esta exigéncia de 10”ou 15%, denominada pelos réus de gratificagdes ou comissGes, era uma pratica reiterada da ré Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga, pois jd assim se processou em relago & empresa Real Imobiliéria (empreiteira dos projectos de construgo do condominio Felitrans), das empreitadas no Lombe - Malange e no Menongue, desde 2012. \ As gratificages eram transferidas para a conta do réu Eurico Alexandre Pereira da Silva, entéo Director Adjunto para a Administragao ¢ Finangas no CNC e este distribuia 0 valor pelos réus Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga, Rui Manuel Moita e pelo préfugo Francisco Agostinho Itembo, nos termos orientados por este: Entre 0 més Dezembro de 2012 ao més de Agosto de 2014, o réu Eurico Alexandre Pereira da Silva, recebeu desta forma, para ser distribuido, as seguintes quantias: - Banco BAI: Kz. 21.797.800.00 (vinte e um milhdes, setecentos ¢ noventa e sete mil e oitocentos kwanzas) e Usd 1.894.888.00 (um milhao, oitocentos e noventa e quatro mil e oitocentos ¢ oitenta e oito délares norte-americanos). - Banco Keve: Kz. 21.797.800.00 (vinte e um milhdes, setecentos € noventa e sete mil € oitocentos kwanzas) e Usd 561.329.00 (quinhentos ¢ sessenta e um mil e trezentos € vinte e nove délares norte- americanos). - Banco BNI: Kz. 30.957.800.00 (trinta milhdes, novecentos e cinquenta e sete mil e oitocentos kwanzas). 35 - Banco BFA: Kz. 27.797.800.00 (vinte e sete milhdes, setecentos e noventa e sete mil e oitocentos kwanzas), réu Eurico Alexandre Pereira da Silva, sempre que levantasse os dinheiros, entregava tais quantias ao profugo Francisco Agostinho Itembo que, por sua vez, os distribufa aos réus Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga e Rui Manuel Moita, tendo cada um, ficado com 0 valor de USD 118. 400,00 (Cento e Dezoito Mil e Quatrocentos Délares Norte Americanos). Do aludido montante, Eurico Alexandre Pereira da Silva apropriou-se de Kz. 10.000.000,00 (Dez Milhées de Kwanzas) e USD 325. 000,00 (Trezentos ¢ Vinte ¢ Cinco Mil Délares Norte Americanos). A ré Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga, tio logo se apercebeu da exonerac&io do préfugo Francisco Agostinho Itembo, do cargo de Director do CNC, assumiu 0 controlo do “negécio das comissdes ou gratificagdes”, tendo decidido que o réu Eurico Alexandre Pereira da Silva, continuasse a receber as mesmas nas suas contas bancarias. O réu Eurico Alexandre Pereira da Silva, por ter sido transferido para o Gabinete de Estudo, Planeamento e Estatistica do Ministério dos Transportes, combinou com a ré Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga no sentido de escolherem outra forma de receberem as supostas gratificagdes que niio fosse por intermédio das suas contas bancarias; Entio o réu Eurico Alexandre Pereira da Silva, indicou 0 declarante Benetti Adelino da Cunha Bumba, seu compadre e titular da empresa de construgéo BB Comercial, para receber as supostas gratificagdes, tendo este de imediato, por orientacdo dos réus, sido subcontratado pela ‘empresa AFRO ENG que tinha sido anteriormente contratada pelo CNC para a vedagiio da Plataforma Logistica do Lombe. A final, a subcontratag4o da empresa BB comercial, era apenas para efeito de recepedio e distribuigdio das alegadas gratificagdes ¢, por cada pagamento que o CNC fazia a empresa AFROENG, esta depositava 15% na conta da empresa BB Comercial. Desse modo, de 2015 a 2017, para a conta de Benetti Adelino da Cunha Bumba, foi transferido o valor de USD 585.931,00 (Quinhentos ¢ Oitenta e Cinco Mil e Novecentos e Trinta e Um Délares Norte Americanos) que, posteriormente, como distribuiedo, foi transferido para as contas dos réus, tendo Manuel Anténio Paulo recebido USD 30.061,00 (Trinta Mil e Sessenta e Um Délares Norte Americanos), Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga, USD 261.875,00 (Duzentos e Sessenta e Um Mil Oitocentos e Setenta e Cinco Délares Norte Americanos), Rui Manuel Moita USD 43.384,00 (Quarenta e Trés Mil, Trezentos e Oitenta e Quatro Délares Norte Americanos), Eurico da Silva USD 195.565,00 36 (Cento ¢ Noventa e Cinco Mil e Quinhentos ¢ Sessenta e Cinco Délares Norte Americanos). Aos senhores Avelino dos Santos e Joao Agostinho, ambos funcionarios do CNC, foi-lhes entregue a quantia de USD 9.287,00 (Nove Mil e Duzentos e Oitenta e Sete Délares Norte Americanos) e USD 25.000,00 (Vinte e Cinco Mil Délares Norte Americanos), respectivamente. Mediante tais mecanismo, os réus Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga, Manuel Anténio Paulo e Rui Manuel Moita, receberam das empresas Organizagdes Polida, Clicker Service LDA, Organizagées Gelvisol, Organizagdes Chana, Xiang Cun Bu, os valores monetérios descritos no Relatério de Peritagem Contabilistico - Financeira, constante a fls. 2839 e seguintes dos autos, que se dé aqui por inteiramente reproduzido para todos efeitos legais. ‘A gestdo andrquica dos dinheiros do CNC cra do conhecimento do réu Augusto da Silva Tomas, entéo Ministro dos Transportes. O pagamento referente ao fretamento de aeronave para a deslocagao do réu Augusto Tomds ao interior ¢ exterior do pais foi efectuado pelo CNC, cujo oficio de solicitacaio de pagamento era para ali remetido, pela Secretaria -Geral do Ministério dos Transportes, visado pelo proprio Ministro dos Transportes que alegou ter actuado por ordem superior. ‘As despesas para o fretamento de aeronaves para as delegagdes do Ministro dos Transportes, nfo estavam previstas no Orgamento do CNC, que era e € diferente do orgamento do Ministério dos Transportes, pois o CNC tem Orgamento proprio. Ainda que as despesas para 0 fretamento de aeronaves para as delegagdes do Ministro dos Transportes, 0 réu Augusto da Silva Tomés, fossem retiradas da dotagéo orgamental do Ministério dos Transportes, violaria sempre os princfpios acima aludidos, visto que foram fretadas aeronaves para rotas com muita frequéncia de voos de carreira, tais como Luanda/ Cabinda, Luanda /Lisboa. ‘A companhia fretada com frequéncia era a Bestfly - Flight Suport, nfo constando nos despachos para o fretamento, a descriminagdo dos integrantes das delegagdes, nem as razdes que levavam a fazer-se recurso 4 uma Via mais dispendiosa cujo pagamento era imputado ao CNC. O CNC gastou com fretes de aeronaves, somas avultadas no valor de Kz. 68.249.954,00 (Sessenta ¢ Oito Milhdes, Duzentos ¢ Quarenta e Nove Mil e Novecentos e Cinquenta e Quatro Kwanzas), USD 3.057. 896,00 (Trés Milhdes, Cinquenta e Sete Mil e Oitocentos e Noventa e Seis Délares Norte Americanos) e EUR. 278.894,00 (Duzentos e Setenta e Oito Mil e Oitocentos e Noventa e Quatro Euros). © CNC pagou inclusive fretes, por orientagao do réu Augusto da Silva Tomas que terd recebido ordens superiores nesse sentido, para entidades estranhas ao Ministério dos Transportes, como € 0 caso do Movimento Nacional Espontineo e do Ministério da Justiga. Assim, 0 CNC, foi obrigado a realizar varias despesas A favor do Ministério dos Transportes que também possuia a sua propria dotagdio orcamental, como € o caso do pagamento de despesas de telefones, subsidios diversos aos funcionérios, apoio a area administrativa do Ministério dos Transportes e até pagamentos de encargos e despesas de capital. O réu Augusto da Silva Tomas, utilizava os dinheiros do CNC para suportar as despesas do Ministério dos Transportes que se encontravam devidamente cabimentadas e cuja verba tinha sido aprovada, tendo o CNC despendido, no periodo de 2014 a 2017, com 0 Ministério dos Transportes em subsidios funcionais, 0 montante em Kz. 23.226.937,00 (Vinte e Trés Milhdes, Duzentos ¢ Vinte e Seis Mil e Novecentos e Trinta e Sete Kwanzas) e USD 1.557. 666,00 (Um Milhao, Quinhentos e Cinquenta € Sete Mil e Seiscentos ¢ Sessenta ¢ Seis Délares Norte Americanos). No referido periodo, para a area administrativa do Ministério dos Transportes, 0 CNC, gastou Kz. 138. 484.743,00 (Cento e Trinta e Oito Milhdes, Quatrocentos e Oitenta e Quatro Mil e Setecentos e Quarenta e Trés Kwanzas), USD 1.476.715,00 (Um Milhao, Quatrocentos ¢ Setenta e Seis Mil e Setecentos e Quinze Délares Norte Americanos) e EUR. 293.904,00 (Duzentos e Noventa e Trés Mil e Novecentos ¢ Quatro Euros). Tais despesas orientadas pelo réu Augusto da Silva Tomés, na Area Administrativa, consistiam no apetrechamento de instalagdes, pagamento de assisténcia técnica, concep¢ao e a manutengao da EXPOTRANS, pagamento de factura da ENDE, reparagdo de viaturas, servigo de limpeza no ISGEST, aquisigao de cadeiras, pagamento do registo de propriedade das carrinhas de servigo dos érgios do Ministério dos ‘Transportes, compra de Ipad, tratamento de manutengao das plantas, limpeza de tapetes © cadeirdes do Ministério dos Transportes, reparagdo do sistema de bombagem de agua do edificio do Ministério dos Transportes. Por orientagao do réu Augusto da Silva Tomas, 0 CNC era quem pagava os subsidios de alimentagao dos funciondrios do Ministério dos Transportes, que consistia na atribuigdo de uma verba para consumo nos supermercados Jumbo e Kero, sendo no primeiro, em délares e, no segundo, em kwanzas, perfazendo um total de USD 5.253.030,00 (Cinco Milhées, Duzentos e Cinquenta e Trés Mil e Trinta Délares Norte Americanos) e KZ 108.939.800,00 (Cento e Oito Milhdes, Novecentos ¢ Trinta e Nove Mil ¢ itocentos Kwanzas). ‘Na sequéncia da gestiio anarquica do erario publico, ¢, sempre por orientagao do réu Augusto da Silva Tomés, 0 CNC pagou 38 também salarios, ajudas de custos, bem como, compras de bilhetes de passagem para funciondrios do Ministério dos Transportes e para outros 6rgios por ele tutelado ou superintendido, como € 0 caso do Instituto Nacional de Caminhos de Ferro - de -Angola, do Instituto Nacional dos Transportes Rodoviérios e do Instituto Superior de Gestdo, Logistica Transporte, no valor total de Kz.250.796.858,00 (Duzentos e Cinquenta Milhdes, Setecentos e Noventa e Seis Mil e Oitocentos e Cinqguenta e Oito Kwanzas), USD 4,461.024,15 (Quatro Milhdes, Quatrocentos ¢ Sessenta e Um Mil, Vinte Quatro Délares Norte Americanos e Quinze Céntimos) e EUR. 95.900,00 (Noventa e Cinco Mil e Novecentos Euros). © CNC pagou despesas de capital que eram da incumbéncia do Ministério dos Transportes e de outros érgaos dependentes do mesmo, despesas estas, que etam previamente cabimentadas na dotagiio orgamental do Ministério ou dos referidos érgtos, referentes a despesas com a manutengo geral do edificio sede do Ministério dos ‘Transportes, contrato de assisténcia técnica para o Estudo do novo Aeroporto Internacional de Luanda, cujo pagamento foi efectuado em 2016, fomecimento e montagem de mobilirio e artigo e decoragdo na empresa portudria do Porto Amboim, servigos prestados na fiscalizacao da empreitada de construgao do edificio dos trés laboratérios do ISGEST em 2017. Tais despesas de capital realizadas pelo CNC, a favor de outras entidades do sector dos transportes, foram avaliadas em Kz, 891.840.448,00 (Oitocentos e Noventa e Um Milhées, Oitocentos e Quarenta Mil e Quatrocentos e Quarenta e Oito Kwanzas), USD 29.161.819,00 (Vinte e Nove Milhées, Cento ¢ Sessenta e Um Mil e Oitocentos ¢ Dezanove Délares Norte Americanos) e EUR. 13.189.106,00 (Treze Milhées, Cento € Oitenta e Nove Mil e Cento e Seis Euros). O réu Augusto da Silva Tomas mandou ainda, o CNC pagar despesas relacionadas com o seu telefone pessoal que também servia para assuntos profissionais, tendo o CNC pago também as facturas referentes ao servigo de comunicagiio do Ministério dos Transportes, num total de Kz. 47.841.190,00 (Quarenta e Sete Milhdes, Oitocentos e Quarenta e Um Mile Cento e Nov n Kwanzas). Os réus Augusto da Silva Tomds, Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga, Rui Manuel Moita e Manuel Anténio Paulo, sabiam que todas as receitas arrecadadas pelo CNC, pertenciam ao Estado ¢ nenhuma das despesas podia ser assumida, autorizada e paga sem que estivesse inscrita em orgamento a dotagao adequada, Igualmente, os réus sabiam que as receitas piblicas nao podiam ser deduzidas, seja a que titulo fosse, especialmente quando se tratasse de financiamento de actividades que nem sequer se incluiam no Ambito das atribuigbes do CNC legalmente estabelecidas. 39 As empresas acima citadas, s6 depositaram as referidas percentagens nas contas bancérias tituladas pelos réus Manuel Anténio Paulo, Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga, Rui Manuel Moita e Eurico Alexandre Pereira da Silva, porque se convenceram, atenta as fungdes pelos mesmos exercida e o porqué a ré Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga declarou erradamente, que essas percentagens eram devidas, sendo que, todos abusaram dos seus poderes funcionais, para obterem vantagem patrimonial a que nao tinha direito. Entretanto, o réu Eurico Alexandre Pereira da Silva rejeitou o pedido da ré Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga, para que cle recebesse as comissdes nas suas contas. ‘Desse modo, importa aqui e agora a guisa de resumo dos factos dados como provados por este Tribunal, referir que no periodo compreendido entre 0 ano 2008 a 2017, os réus retiraram anarquicamente, para si ou para terceiros, dinheiros piblicos, em Kwanzas, délares norte americanos e euros, fixados nos seguintes montantes: - Augusto da Silva Tomas - Kz. 1.501.173.202.00 (um. bilidio, quinhentos e um milhées, cento ¢ setenta ¢ trés mil e duzentos € dois kwanzas), Usd 40.557.126.00 (quarenta milhdes, quinhentos e cinquenta e sete mil e cento e vinte seis délares norte-americanos) e Eur 13.857.804.00 (treze milhées, oitocentos ¢ cinquenta e sete mil ¢ oitocentos € quatro euros). - Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga - Kz. 34.154.893.00 (trinta e quatro milhées, cento e cinquenta e quatro mil € oitocentos e noventa e trés kwanzas), Usd 110.493.00 (cento e dez mil, quatrocentos € noventa e trés délares norte-americanos) e Eur 267.500.00 (duzentos e sessenta e sete mil e quinhentos euros). ~ Rui Manuel Moita - Kz. 5.550.000.00 (cinco milhdes & quinhentos ¢ cinquenta mil kwanzas), Usd 37.000.00.00 (trinta ¢ sete mil délares norte-americanos), Eur. 1.000.00 (Mil Euros). - Manuel Anténio Paulo -Kz. 7.215.400.00 (sete milhées, duzentos e quinze mil ¢ quatrocentos kwanzas), Usd 32.100.00 (trinta e dois mil e cem délares norte-americanos), Eur 8.000.00 (oito mil euros). Todos os réus dos presentes autos, nomeadamente, Augusto da Silva Toms, Manuel Anténio Paulo, Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga, Rui Manuel Moita e Eurico Alexandre Pereira da Silva e demais individuos e os préfugos, com os seus comportamentos tinham 0 objetivo comum de se apoderarem de dinheiros pitblicos pertencentes a0 Estado Angolano. FACTOS NAO PROVADOS Com interesse para a deciséo da causa néo resultaram provados os seguintes factos: 1 — Os réus Manuel Anténio Paulo, Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganca, Rui Manuel Moita, Eurico Alexandre Pereira da Silva e o préfuugo Francisco Agostinho Ttembo, ao longo dos anos permitiram que alguns agentes para além deste valor cobrassem despesas administrativas, encarecendo o fiete e prejudicando assim a economia nacional. 2 — O Ministério dos Transportes tenha efectivamente recebido a totalidade dos valores que estavam orgamentados. 3 = Que as receitas do CNC, continuam a nao ser depositadas na Conta Unica do Tesouro, porque tendo o CNC uma nova direcgao, estd ainda no depositou as receitas na CUT, porque a obrigatoriedade deste depésito, ocorre no dia 31 de Dezembro de cada ano, 4 - Que o réu Augusto da Silva Tomés, tenha beneficiado um parente seu no programa de bolsas de estudos. 5 — Que o réu Augusto da Silva Tomés, tenha recebido alguma comissdo ou algum agrado de alguns prestadores de servigos do CNC. 6 — Que o afretamento pelo CNC de aeronaves privadas, destinavam-se para atividades privadas do Ministro dos Transportes. 7 — Os réus Manuel Anténio Paulo, Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganca, Rui Manuel Moita e Eurico Alexandre Pereira da Silva, valendo-se das suas qualidades de funcionarios piiblicos, intimidavam alguns prestadores de servigo contratados pelo CNC, mostrando-lhes que tinham poderes para manterem ou Tevogarem a relacao contratual, obrigando-os, por isso, a pagarem as denominadas gratificagdes para celebragao e manutengao dos referidos contratos, chegando a referit “O senhor tem familia, a sua empresa & uma empresa nova. Nés podemos seleccionar esta empresa, mas nés também temos familia. Nao se preocupa Porque nés podemos orronjar-ihe outros contratos. Nao estamos a insinuar nada, mas veja ld 0 que pode fazer” 8 — Todos os réus dos presentes autos, nomeadamente, Augusto da Silva Tomés, Manuel Anténio Paulo, Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga, Rui Manuel Moita e Eurico Alexandre Pereira aL 6 da Silva e demais individuos e os profugos, agiram na execugao de planos delineados entre todos, com o objetivo comum de se apoderarem de dinheiros pitblicos pertencentes ao Estado Angolano (crime de associagdo criminosa). 9 — Agiram ainda, com 0 propésito concretizado de converter no sistema bancario os avultados rendimentos pecunidrios, dissimulando perante terceiros, designadamente funciondrios bancérios ¢ érgios de policia criminal, em caso de investigagao criminal limitada & actividade bancéria das sociedades em causa, a origem ilicita do dinheiro e, por isso, legitimando a sua movimentagio no normal circuito econémico- financeiro, contaminando-o com fundos provenientes de actividades ilicitas (crime de branqueamento de capitais) MOTIVACAO DECISAO DE FACTO Em desespero de causa procurou a defesa de um dos réus, atrair o Tribunal para supostas irregularidades, trazendo a colagao situagdes jf resolvidas em sede propria, como 0 caso da IGAE e de eventuais situagdes ocorridas durante a instrugdo contraditéria, numa manobra de diversdio que nao logrou éxitos, porquanto, o Tribunal to logo identificou 0 “n6 gérdio” da questiio, preocupando-se na identificagdo com evidéncia solar, da posiggo que cada um dos réus ocupou no descalabro financeiro que sofreu o CNC, a época dos factos. Na verdade, longe de se divagar para se saber quem ¢ que nomeia 0 Conselho Fiscal do CNC, sem descurar a clareza do legislador nesta matéria, o mais relevante foi saber quem mais retirava vantagens nesse caso, em que um instituto piblico funcionou sem Conselho Fiscal. Foi 0 Ministério de tutela, o Ministério das Finangas ou foram os gestores do CNC? ‘A resposta foi clara no sentido de que quem mais se beneficiou da auséncia do Conselho Fiscal, num instituto piblico como €o CNC, foram os seus gestores ¢ consequentemente 0 seu Orgao de tutela, que abocanharam acima de milhdes de délares norte-americanos, euros ¢ Kwanzas. Na verdade, poucos sdo os gestores que gostam de serem. fiscalizados, razio suficiente para concluirmos que quem mais estava acomodado com a situago, era o réu Augusto da Silva Tomis, nao colhendo a versio de que tudo aconteceu assim devido a suposta inércia do Ministro das Finangas. 42 Allis, € estranho que sendo dois Ministros de uma mesma equipa governamental, venha hoje o Ministro de Tutela do CNC, pretender atribuir responsabilidades ao pelouro das Finangas, quando na pritica quem geria os dinheiros do CNC como quisesse ¢ entendesse, era este réu Augusto da Silva Tomas, que quando mais tempo se arrastasse a situagdo do CNC sem Conselho Fiscal, melhor seria para os seus designios inconfessos. Por conseguinte, é basico que a actividade financeira do CNC, esta sujeita ao controlo exercido pelo Conselho Fiscal, que tem a incumbéncia legal de proceder a verificagdo regular dos fundos existentes, ¢ fiscalizar a escrituragio da contabilidade, sendo que o poder de superintendéncia ¢ tutela, impunha ao réu Augusto da Silva Tomas, conhecer e fiscalizar a actividade financeira do CNC. E isto mesmo que diz 0 Decreto executivo n.° 9/03, ¢ Decreto Legislativo Presidencial, sendo que o Ministro dos transportes deveria superintender e fiscalizar a actividade financeira do CNC. Com efeito, estando provado que o profugo Francisco Agostinho Itembo, assinou memorandos com Brasil, Cuba, EUA, Portugal e Itdlia, esta operagdo pelo impacto e pela envergadura que encerra, jamais seria levada 4 cabo sem o conhecimento prévio e total do Ministro dos ‘Transportes, 0 ora réu Augusto da Silva Tomis, sendo este um facto e contra © qual nao hé argumentos. Sto as regras de experiéncia da vida comum e a normalidade das coisas que nos comunicam que um Ministro dos Transportes, mal toma posse, chega-lhe imediatamente a informaciio reportando as cautelas para o controlo de um Instituto Pablico como é 0 CNC que em fungdio do seu objeto social, s6 arrecada por dia USD 3.000.000.00 (trés milhos de délares norte-americanos). E obvio que perante este dado ¢ inacreditével que um Ministro dos Transporte, se mantenha distante de um CNC, a ponto de nfo se aperceber da existéncia de um programa de bolsas de estudo que movimenta despesas financeiras tao elevadas, como as que estavam sendo realizadas com 0 programa jé referido nos presentes autos. Neste quesito, a conduta dos réus Augusto da Silva Tomés, Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga, Rui Manuel Moita e Eurico Alexandre Pereira da Silva, resultou naturalmente em avultados prejuizos 4 economia de Angola, jé que o total de receita piiblica destinada aquelas bolsas de estudos, nao entrava na conta do CNC. Alias, a Lei Quadro do Orgamento Geral de Estado, determina regras gerais 4 serem observadas na sua elaboragao ¢ execugao, impondo que todas as receitas arrecadadas por qualquer organismo do Estado, devem constar no orgamento e depositadas na Conta Unica do Tesouro e nao utilizadas para outro fim, sendo que esse programa de bolsas, no estava incluido nas atribuigées do CNC. 8 Foi, pois, sob 0 olhar contemplativo do réu Augusto da Silva Tomés que 0 saque passeava e campeava no CNC, com um programa que alegadamente se destinava a elevagdo continua dos niveis de escolaridade e profissional dos funciondrios do CNC, a ser convertido em veiculo para beneficiar parentes e amigos dos réus Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga, Rui Manuel Moita, Eurico Alexandre da Silva e do préfugo Francisco Agostinho Itembo. Reiterar que o envolvimento do réu Augusto da Silva Toms, situou-se ainda no apoio ao filho de um falecido funciondrio afecto a0 Ministério dos Transportes, por si autorizado, sendo certo que o programa abrangiu reas completamente estranhas a especificidade do CNC, quais sejam, fisioterapia, cultura © artes, comunicagao social © até gestiio desportiva. De resto, veja-se 0 mapa dos beneficiarios das bolsas, junto a (fls 76 a 80) do anexo XXXVIII, donde consta que o réu Augusto da Silva Tomas, enquanto Ministro dos Transportes teve conhecimento de algumas bolsas atribuidas a pessoas que nao cram funciondrios do CNC, 0 que contraria a sua versio ao negar que alguma vez tivesse tido sequer conhecimento dessas bolsas de estudo. Desse modo, o Estado Angolano através das receitas piblicas arrecadadas pelo CNC, sofreu prejuizos de Usd 2.156.309.93 (dois milhdes, cento ¢ cinquenta e seis mil, trezentos ¢ nove délares norte- americanos e noventa e trés céntimos) e Eur. 264.582.76 (duzentos e sessenta e quatro mil, quinhentos e oitenta e dois euros ¢ setenta ¢ seis céntimos), para custear as ditas Bolsas de Estudos no periodo compreendido entre os anos de 2010 a 2018. Tudo isto ocorria sob o olhar impavido e sereno do Ministro dos Transportes, 0 ora réu Augustos da Silva Tomés, que materializando a sua dolosa alheiedade, maliciosamente trabalhava com um CNC, sem Conselho Fiscal, limitando-se a remeter para o Tribunal de Contas ou para Ministério das Finangas expediente provenientes do CNC em jeito de relatérios que na pratica nao refletiam as verdadeiras receitas que o CNC arrecadava. ‘Na verdade, tal apeténcia delapidativa deste réu Augusto da Silva Tomés, estendeu-se até a0 uso de dinheiros piblicos para 0 pagamento de despesas pessoais de todos os réus ¢ viagens ¢ outras de menor televo, provocando, sé neste capitulo enormes prejuizos financeiros a0 Estado Angolano, avaliados em Eur. 3.399.809.73 (trés milhdes, trezentos € noventa ¢ nove mil, oitocentos e nove euros e setenta e trés céntimos) e Usd 76.674.00 (setenta e seis mil e seiscentos ¢ setenta ¢ quatro délares norte- americanos). E 0 caso da assisténcia médica que os réus Rui Manuel Moita e Manuel Anténio Paulo, beneficiaram, tendo os mesmos de forma 44 credivel, esclarecido que foram os agentes certificadores que pagaram tal despesa, incluindo a estadia para ambos, 0 que também causou o prejuizo constante nos anexos XV ¢ XV-A e no relatério de pericia de (fis 2850) dos autos, No concemente as participagdes sociais em sociedades, & esmagadora a prova que aponta o envolvimento dos réus Augusto da Silva Tomas, Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganca e Rui Manuel Moita e 0 préfugo Francisco Agostinho Itembo, sempre com o intuito de prejudicarem o Estado Angolano, mediante utilizag&o indevida de receitas Pliblicas, engajando o CNC em participagdes sociais em empresas, senio vejamos: Apesar de 0 processo ter sido iniciado pelo declarante Brandao, ent&o Ministro dos Transportes, isto em 2007, foi jé no consulado do réu Augusto da Silva Tomés que as coisas ganharam contornos assustadores pela forma irresponsdvel que vincularam 0 CNC, que até parecia um banco financiador de créditos, a ponto de fazerem aplicagdes de valores monetirios extremamente altos, que muita falta faziam as receitas Piiblicas que nos termos da Lei, deviam obrigatoriamente serem depositadas na CUT. E ébvio que tais aplicagdes beneficiaram e beneficiariam terceiros e porque no, 0 Ministro dos Transportes e a ento Direcgdo do CNG, jé que ha provas robustas nos autos demonstrando que os mesmos, 20 tempo dos factos viviam de expediente fraudulentos a busca de dinheiros piiblicos para proveito proprio? Alids, resulta claro, A luz do olhar do homem médio e regras de experiéncia comum que 0 objectivo tinico destas participacoes, seria o financiamento de investimentos particulares, tanto assim que foram sempre considerados como custos. O mais caricato de tudo isso eram as manobras técnicas que os réus Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganca, Rui Manuel Moita, Eurico Alexandre Pereira da Silva e 0 profugo Francisco Agostinho Itembo, faziam, colocando inclusive as suas sapiéncias académicas em prol de caminhos invios, atropelando aquisigdes cientificas da area da economia, ma de legalizarem os desvios, utilizando linguagem técnico ica, usando expresses como “custos”, “suprimentos”, dando-lhes sindnimos que mais os convinha. Isto tudo tinha como finalidade, documentarem tais operagées ilfcitas, inclusive com actas, como por exemplo a que se 1é a fis see" com o seguinte teor: “Em conformidade com a Acta dos accionistas e 0 capital actual da empresa ASGM, 0 montante correcto que corresponde a participagao de 8.% do capital social naquela empresa é de Usd 720.000.00 4s (setecentos ¢ vinte mil délares norte-americanos); registado neste caso, uma menos valia de Usd 8.880.000.00 (oito milhdes oitocentos e oitenta mil délares norte- americanos), que deverao ser contabilizados como “custo” por se considerar um estimulo & dinamizacio da actividade produtiva intema das empresas do sector, mais concretamente na fabricagfio e/ou montagem de viaturas ligeiras e pesadas (fim de citagao)”. Esta acta, a (fis 3) dos autos, sendo retrato fiel de que os réus sabiam do cardter ilfcito das suas condutas foi tornada publica, devidamente assinada pelos réus Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga, Rui Manuel Moita, Eurico Alexandre Pereira da Silva e pelo préfugo Francisco Agostinho Itembo ¢ remetida ao réu Augusto da Silva Tomas, que como era de esperar, no mugiu nem tugiu, lavando as méos, qual Pilatos. Por outro lado, é inconcebivel que num Pais carente de servigos minimos de transportes piblicos e com empreendedores dispostos 4 arregagarem mangas neste sector vital da economia, a SGO ¢ a tal TRANSGOL, empresa privadas, tenham sido beneficiadas sem qualquer concurso piiblico com 53 autocarros adquiridos com dinheiro do erdrio pliblico, no havendo aqui qualquer demonstragdo por parte dos réus, de responsabilidade na gesttio da coisa publica, numa conduta que denuncia desprezo pela utilizagao dos dinheiros que em razaio das suas fungdes, eram obrigados a gerir com parcim#nia e sobriedade. Uma das facetas deste esbanjamento, foi a aquisigiio de trezentas viaturas que supostamente apoiariam 0 CAN, que terdio sido vistas pelo povo durante curtos dias, tendo tal empresa (AFROTAXI), sumido num periodo muito curto de servigo, o que significa que havia sido criada para fins ilicitos, num desperdicio de enormes valores financeiros. Uma vez mais, repare-se que 0 caricato disso tudo, foi que em relagfo A este caso, o réu Augusto da Silva Tomds, apressou-se em criar a tal de AFROTAXI, que mesmo sem ter existéncia juridica, um més antes de isto acontecer, j4 tinha beneficiado em Agosto de 2009, de Usd 3,000.000.00 (trés milhdes de diélares norte-americanos), ¢ kz 247,499.964.39 (duzentos e quarenta e sete milhdes, quatrocentos e noventa enove mil, novecentos e sessenta e quatro kwanzas e trinta e nove céntimos). Importa no contomnar também pela itresponsabilidade que gravitou em torno das condutas destes gestores do erario piiblico, 0 detalhe de terem vendido Usd 3.079.000.00 (trés milhdes ¢ setenta e nove délares norte-americano) as Organizagdes Chanas, para nfo citarmos, exceptuando-se a Afroeng, a inobservancia da obrigatoriedade de concursos piblicos para empresas que prestavam servigos publicos ao CNC, do desplante revelado pela ré Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga, em instrumentalizar o seu cunhado Osvaldo Pereira, a assinar na posigfio de senhorio 0 contrato de arrendamento do imével acima 46 mencionado ¢ ela prépria assinar o referido contrato em representagtio do CNC, este na qualidade de senhorio, enfim, um cortejo de atrocidades, a raia de ciimulo que atinge o apogeu, quando o préprio Ministro, traz ao CNC, as famigeradas NIOSA e Nova Somil, suas empresas pessoais, que prestaram servigos que foram pagos com dinheiros piblicos, arrecadando para os seus bolsos, a titulo de exemplo Usd 81.925.00 (oitenta e um mil e novecentos e vinte e cinco délares norte-americanos), provenientes do CNC, emboraa sua defesa alegue terem sido Kz 89.000.00 (citenta e nove mil Kwanzas), alias, era o proprio réu, quem assinava as contas bancérias das referidas empresas, como sécio. Perante esse tipo de cardcter, caem por terra os argumentos esgrimidos pela defesa do referido Ministro, ora réu Augusto da Silva Tomés, segundo os quais, este ao afectar dinheiros do CNC ao Ministério dos Transportes, fé-lo pelo facto do seu pelouro, nunca ter recebido a totalidade dos valores orgamentados que Ihe eram devidos por lei. ‘Na verdade, na falta de ovos deveria evitar fazer omeletes € 86 assim procedeu, porque sabia que era uma forma de camuflar o ataque desenfreado que langava contra o erério piiblico, violando claramente o poder de superintendéncia ¢ tutela a si atribuido por lei, nas vestes de Ministro dos Transportes da Repiiblica de Angola. De igual modo, as (fls 3 a 6 e 72 a 120) do anexo Xt, demonstram que o réu Augusto da Silva Tomés, se propés financiar a ASGM, numa altura em que esta empresa estava financeiramente débil, ordenando por despacho n.° 003288/00.12/2009, datado de 1/10/09, que o CNC adquirisse participages sociais nos montantes descritos no acervo dado como provado. O mesmo foi confirmado pelas declaragdes de Ismael Diogo Mario Antonio Carvalho, sendo que a acta datada de 2/12/10 e as declaragdes de Ismael Diogo, mostra que 80% do valor gasto na referida empresa, foi inscrito como custo ¢ que a diferenga dos USD 8.880.000.00 (oito milhées e oitocentos e oitenta mil Kwanzas), nunca foi devolvida aos cofres do estado Angolano, nem foi exigida pelo CNC. Nao € necessirio ser bom matemitico ou eximio especialista em contabilidade, para se concluir que esta diferenga de Usd 8.880.000.00 (oito milhdes oitocentos e oitenta mil délares norte- americanos), nfo foi devolvida aos cofies do Estado Angolano, nem sequer foi exigida a sua devolugao pelo CNC, porque serviu de beneficio dos réus e de terceiros. ‘Nao foi por mera casualidade que de forma muito subtil, os réus Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga, Rui Manuel Moita, Eurico Alexandre Pereira da Silva e 0 profugo Francisco Agostinho Itembo, entdo gestores do CNC, justificaram parte desta quantia, como sendo 7 um estimulo a dinamizago da actividade produtiva interna das empresas do sector. Também 0 anexo XXI, (fls 82a 83), demonstra que a ASGM recebeu do CNC determinados montantes em délares norte- americanos ¢ em Kwanzas, a titulo de custos a fundo perdido. Ora, de acordo com as regras de experiéncia comum € 0 conhecimento deste Tribunal, sendo o CNC um instituto piiblico, néio poderia ser parte numa empresa privada, pelo que, néio podia o réu Augusto da Silva ‘Tomas, ter dado este consentimento. ‘lids, a questo que se coloca é a de que como é que um economista de reputagao académica, como é 0 réu Augusto da Silva Tomas, permitiu que um simples érgao de apoio técnico do Governo, como era em 2009 0 CNC, adquirisse por exemplo, participagdes sécias nas empresas privadas? 6 tem uma explicagiio, foi uma outra forma de os réus ‘Augusto da Silva Tomas, Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga, Rui Manuel Moita e Eurico Alexandre Pereira da Silva, prejudicarem o Estado Angolano, adquirindo participagdes sociais em sociedades com receitas publicas, como foi o caso da Holding Financeira Angolana, que & época do referido investimento, devidamente autorizado pelo réu Augusto da Silva Tomés, ainda nao funcionava por auséncia de legislagio. (Os réus fizeram descaso a este facto, tendo o réu Augusto da Silva Tomés, mediante proposta dos demais, permitido que os usd 7,500.000.00 (sete milhdes e quinhentos mil délares norte-americanos), fossem destinados 4 compra de 10% do BNI, quando todas as receitas do CNC, deveriam ser canalizadas para a Conta Unica do Tesouro, conforme (fis 3 a 6) do anexo XI e docs de (fls 7 23) do anexo XI. De resto, a aquisi¢io de participagdes em instituigdes bancétrias, nao tém nada a ver com as attibuigdes e aquisigoes do CNC, como resulta da propria lei, O mesmo ocorreu com a CIMMA, tal como resultou claro das declaragdes do réu Eurico Alexandre Pereira da Silva ¢ das testemunhas Ismael Diogo da Silva e Paulo Kuindanda Fidel que, de forma clara explicaram o que se passou € de que modo, sendo que, as acgdes nesta empresa acabaram por ser transferidas para o CNC e Unicargas, através de procuragées irrevogaveis, como resulta de (fls 156 e 157), do anexo XI ¢ 50 do anexo XXXIII-C. Foram ainda contabilizados como suprimentos as importancias injectadas nesta empresa, quando o CNC, como instituto piblico, ndo podia fazer suprimentos em empresas privadas. Entretanto, 0 proprio réu Augusto da Silva Tomés, confirma duas das aludidas transferéncias em relagéio A compra de autocarros pela CIMMA, sendo que de igual modo, a testemunha Rasak, foi peremptoria 48 em confirmar a criagéo da AFRITAXI para implementagdo de uma rede de taxis para apoiar 0 CAN, por sugestdo do réu Augusto da Silva Tomds, apés proposta daquele, conforme ja acima referimos. De resto, no foi digna as atitudes assumidas por todos os réus, excepto 0 réu Manuel Anténio Paulo, porquanto, tudo acontecia com base em critérios de relagdes de amizade ou de outros interesses camuflados, como afirmaram os declarantes Ildo Mateus do Nascimento, Osvaldo Amaral e o proprio réu Eurico Alexandre Pereira da Silva. Tal aconteceu com a ISMA, NOVA SOMIL; NYOSA; SIMIKEIA; ISAWAL, respectivamnete, empresas pertencentes aos réus Augusto da Silva Tomés ¢ Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga ¢ seus familiares, conforme declaragdes dos préprios réus © dos demais s6cios das mesmas que beneficiaram de valores elevadissimos jé referenciados nos autos, em prejuizo do erdrio puiblico. Destaque ainda para o facto de a ré Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga, exigir as empresas que contratassem com 0 CNC, a pagar-Ihes 10% a 15% do valor do contrato, baseando-nos nas declaragdes dos sécios das mesmas empresas, que apesar, de em sede de instrugo terem feito referéncia aos réus Rui Manuel Moita e Manuel Anténio Paulo, em sede de julgamento apenas se referiram a ré Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga, como estando presente nas reuni6es, nomeadamente as testemunhas Shiang, Lufs Fernando da Afroeng © a proprietéria da empresa W3 de nome... Mais disseram que a ré Isabel Braganga apenas se limitou a dizer que ou aceitavam as percentagens referidas ou no havia contratos, sendo que tais gratificagdes eram transferidas para as contas do réu Eurico Alexandre Pereira da Silva que por sua vez, os distribuia pelos réus Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganca, Rui Manuel Moita e Manuel Ant6nio Paulo. O réu Eurico Alexandre Pereira da Silva, neste concreto, foi muito preciso ao referir que os IBANS, eram-lhe fornecidos pelos titulares das respectivas contas, mesmo quando acareado com os demais, manteve a sua versio. Tal como ja nos referimos noutros momentos deste acordio, as declaragées deste réu ofereceram maior credibilidade quer porque, desde o inicio do processo sempre as manteve, quer porque, de acordo com as regras de experiéncia comum, ser a mais conforme com a verdade dos factos, na medida em que sé os titulares das contas lhe poderiam ter fornecido 0 IBAN e nao terceiros. Convém enfatizar que o réu Augusto da Silva Tomés, sendo Ministro da tutela, por varias vezes reuniu com os seus empregados gestores da sua empresa NOVA SOMIL, na baixa de Luanda, mesmo sabendo que os servigos de seguranga que a referida empresa prestava no 49 4 ISGEST eram pagos com dinheiros do CNC, embora alegue ter em 2014, prescindido, por raz6es omissas nos autos dos servigos que a sua propria empresa prestava ao Estado Angolano. E pertinente realgar 0 facto de ter 0 CNC pago inclusive fretes, por orientag&o do réu Augusto da Silva Tomas, para entidades estranhas ao Ministério dos Transportes, como é 0 caso do Movimento Nacional Espontaneo ¢ do Ministério da Justiga, improcedendo o seu argumento de ter actuado por ordens superiores, haja vista que na seara penal os fins nao justificam os meios, alids, ainda que tais ordens fossem dadas como provadas, jé mais justificariam a tipicidade que a conduta deste réu encerra neste quesito, por se serem ordens contrarias 4 lei. Na verdade, embora que as viagens tenham sido em missio oficial e no privada, ainda assim nada justificava tio danosa gestio do erdrio publico. Referir que tais frctes nao estavam previstas no orgamento da CNC e estdo provadas com base nas declaragdes do Piloto Nuno Fernandes ¢ da testemunha Nerica. ‘Jérelativamente as despesas feitas pelo CNC para a érea administrativa do Ministério dos Transportes, constam do mapa junto aos autos ¢ tal situagaio foi claramente explicada nos autos pelos peritos Nerica € Evandro Bettencourt. A perita Nerica, nfo poderia ter sido mais clara, utilizando inclusive a expresstio “descalabro”, ao se referir peremptoriamente de alto e bom som, numa das sessdes de audiéncia de julgamento e discussao da causa que 0 CNC produz receitas piblicas cujo destino é a Conta Unica do Tesouro e nfio mais do que isso. Referiu ainda que 0 CNC ¢ 0 Ministério dos transportes, tém orgamentos auténomos e s6 poderiam fazer despesas constantes do mesmo, nao estando previstas as despesas feitas pelo CNC ¢ que constam desta acusagdo, acrescentando que o Ministro de Tutela, tinha conhecimento que nao poderia pagar despesas relativas ao Ministério com receitas do CNC, por esta se tratar de uma entidade organica diferente e independente. Revelou também que conforme consta do Mapa de folhas.... havia duplicagio de despesas, porque, algumas foram pagas com dinheiros do Ministério e do CNC, frisando ainda que o réu Augusto da Silva. Tomas, nao estava autorizado a fretar avides, na medida em que, essa despesa nfo estava inscrita no orgamento e muito menos que 0 tivesse feito através do CNC. Convicta firme e coerente nas suas declaragdes, qual patriota, Nerica, finalmente, foi demolidora em esclarecer que o CNC, nunca 50 poderia adquirir participagdes j4 que tal prética no corresponde as suas atribuigdes, para além de que, deveriam ser sempre autorizadas ou pela Assembleia Nacional ou pelo Ministério das Finangas. De resto, o Estado Angolano, através do CNC gastou com fretes de aeronaves, kz. 68.249.954.00 (sessenta e oito milhdes, duzentos e quarenta € nove mil e novecentos e cinquenta e quatro kwanzas), Usd 3.057. 896.00 (trés milhdes, cinquenta e sete mil e oitocentos e noventa e seis délares norte-americanos) ¢ Eur. 278.894.00 (duzentos ¢ setenta ¢ oito mile oitocentos € noventa e quatro euros). No que diz respeito as gratificagdes ou comissées, resulta dos autos provado que o préfugo Francisco Agostinho Itembo e os réus Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga, Rui Manuel Moita e Manuel Anténio Paulo, receberam gratificagdes de varias empresas que prestavam servigos ao CNC, mediante promessas ou acordos de cavalheiros entre todos os participes na tramoia. Entretanto, aqui chegados, € oportuno enaltecer novamente, a posig&o do réu Eurico Alexandre Pereira da Silva que com clareza solar, desvendou o suposto mistério que envolvia tais operagdes, a0 revelar que na verdade, os dinheiros referentes as ditas gratificagdes eram transferidos para as suas contas pessoais, tudo sob orientagtio clara da ré Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga. Na verdade, a convic¢ao do Tribunal quanto a matéria de facto vertida nos factos provados resultou da andlise critica e conjugada, de acordo com as regras da experiéncia e da légica, de toda a prova produzida, a que faremos referéncia. O estratagema em questo ampla e detalhadamente descrito em audiéncia, assentava essencialmente em conseguirem, usando das fungdes que desempenhavam no Ministério do Transportes, para se locupletarem de elevadissimas quantias que pertencem ao Estado Angolano. Os subsidios de alimentag3o com funciondrios do referido Ministério, bem como, salérios, ajudas de custo e outros, basearam- se nas declaragées da ré Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganca e da secretaria 4 data do réu Augusto da Silva Tomds, a declarante Maria Yolanda, bem como, no Anexo XVII e XVII-A e fls. 2860 e mapa 10 dos autos). Ja quanto as despesas com a manutengdo do edificio do Ministério dos Transportes, assisténcia técnica ao aeroporto de Luanda, forecimento e montagem do mobilidrio, baseamo-nos nos anexos XIII, XIII -Aa XIII-J. Sem davida que notémos em audiéncia, por parte dos réus, com excepgdo do réu Eurico da Silva, uma preocupagio, sobretudo dos 51 réus Augusto da Silva Tomés e Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga, em deixar transparecer que 0 Ministério dos transportes n&o poderia ser responsabilizado pelos actos do CNC, na medida em que, ninguém o podia razoavelmente controlar ou sindicar. Pura mentira, porque o que estes réus pretenderam com tais declaragées, eram essencialmente protegerem o seu comportamento perverso, j4 que 0 acervo probatério € suficiente e as proprias declaragdes dos réus, contribufram para a descoberta da verdade, sendo certo que agiram consciente para se apropriarem de dinheiros publicos. Efectivamente, os réus Augusto da Silva Tomas, Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga, Eurico Alexandre Pereira da Silva, Manuel Antonio Paulo e Rui Manuel Moita, todos eles, nio conseguiram explicar de modo convincente os factos que Ihes foram imputados, sendo que a confisso do réu Eurico da Silva fragilizou as declaragées dos outros réus. Ja a firmeza das declaragées da perita Nerica, ao desmontar de forma clara os argumentos dos réus, sustentam com seguranga ‘© acervo factico dado como provado, olhando para as regras de experiéncia comum, 0 que nos permite concluir com a certeza absoluta que estes réus sabiam de tudo por ineréncia das suas fungdes, com especial relevo para 0 réu Augusto da Silva Tomas. Entendemos contextualizar a complexidade dos actos materiais que com éxitos foram sendo praticados por todos os réus ao longo dos anos, embrenhados na auséncia de controlo por parte de um Conselho Fiscal que deveria ter sido nomeado para 0 CNC, quanto a respectiva actuacio no processamento dos pagamentos, transferéncias, participagdes ‘em empresas privadas e outras j4 detalhadamente descritas. Lamentavelmente, tal lacuna foi explorada pelos réus como veiculo de perpetuarem a delapidagao do dinheiro do Estado Angolano que 0 usaram em proveito préprio ou de terceiros. Dizer ainda que 0s factos relativos ao branqueamento de capitais, encontram sustentagiio nas transferéncias ¢ depésitos feitos nas contas dos réus, porque, sem divida era uma forma de fazerem crer que se tratava de dinheiros de origem licita. Por tiltimo, relativamente as condigdes pessoais dos réus, a situagio econémica e as condutas anteriores ¢ posteriores aos factos, considerdmos as declaragdes de cada um. Concluindo ¢ nao descurando a utilizagéio de verbas em beneficio proprio de cada um dos réus, mostra que a actuacco se revela numa conjugagiio de esforgos ¢ interesses entre todos, mas sem possibilidade de encontrarmos qualquer rigor para além da davida razoavel, que tivessem actuado como um grupo organizado em que cada um deles tinha uma fungao especifica. 52 Por isso, tais factos que até nem constam da acusa¢ao ou rontincia, impedem que se tenha dado como provado o crime de associagao criminosa, Finalmente, os factos dados como nfo provados resultam da auséncia de produgdio de prova acerca da sua ocorréncia. De resto, os réus agiram ainda, com o propdsito concretizado de converter no sistema bancério os avultados rendimentos pecunidrios obtidos com tal conduta em licitos montantes depositados em conta bancdrias, dissimulando perante _ terceiros, designadamente, funcionérios bancérios e érgios de policia criminal, em caso de investigac4o criminal limitada actividade bancéria das sociedades em causa, a origem ilicita do dinheiro e, por isso, legitimando a sua movimentago no normal circuito econdmico-financeiro, contaminando-o com fundos provenientes de actividade ilicita. ‘No nosso modesto entendimento, foi todo este abundante acervo probatério recolhido ao longo da instrucéo preparatéria e contraditéria que procuramos sindicar com alguma profundidade durante as longas vinte € quatro sessdes de audiéncia de julgamento e discusso da causa, nos permite imputar aos réus Augusto da Silva Tomds, Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga, Rui Manuel Moita e Manuel Anténio Paulo, a pratica de alguns dos crimes para os quais foram acusados e pronunciados. Estes réus agiram na execugdo de planos delineados entre todos, com 0 objetivo comum de se apoderarem de dinheiros piblicos pertencentes ao Estado Angolano de forma deliberadamente voluntaria conscientemente, bem sabendo que tais condutas eram proibidas e punidas por lei. Os réus ao actuarem do modo acima descrito, agiram sempre com a perfeita consciéncia plena de que os montantes que foram fazendo seus, n&o Ihes pertenciam ¢ que tinham acesso aos mesmos como decorréncia das fungdes que exerciam, enquanto Ministro dos transportes e como gestores do CNC; A seu favor, os réus exploraram as fung6es a que se encontravam investidos e dos poderes que possufam para assim obterem beneficios patrimoniais para si, bem como para aceder aos referidos montantes, dispondo-os em seu proveito préprio e de terceiros, dando-lhes um uso para o qual nao estavam autorizados. DO CRIME DE PECULATO NA FORMA CONTINUADA. 53 A NM Vem os Réus, & excepgaio do Eurico Alexandre Pereira da Silva, acusados da pritica, em primeiro lugar, de um crime de peculato (na forma continuada), p. ¢ p. pelo art. 313.° n° 1 do CP, que dispde 0 seguinte: “ Todo o empregado piblico que em razio das suas fung@es tiver em seu poder dinheiro, titulos de crédito, ou efeitos méveis pertencentes a0 Estado, ou a particulares, para guardar, dispender ou administrar, ou Ihes dar destino legal, e alguma destas coisas furtar, maliciosamente levar ou deixar levar ou furtar a outrom, ou aplicar a uso proprio ou alheio, faltando a aplicago ou entrega legal, seré condenado na pena correspondente ao crime de roubo nos termos do artigo 437”. © bem juridico protegido na norma incriminadora presenta uma dupla vertente: a tutela bens juridicos patrimoniais, na medida fem que criminaliza a apropriagfo ou oneragiio ilegitima de bens alheios; a tutela da probidade e fidelidade no exercicio de fungdes de titulares de cargos politicos, quando esse exercicio esta diretamente relacionado com direitos patrimoniais do Estado. Neste sentido, o Comentirio Conimbricense do Cédigo Penal portugués, mas aqui aplicdvel dada a similitude de legislagdes, de onde se pode extrair a ideia central que no tocante ao hem juridico protegido seria a da «salvaguarda da intangibilidade da legalidade material da ‘Administragdo Publica» consubstanciada no sé na protecgaio de bens juridicos patrimoniais, mas também e principalmente na tutela da probidade dos funciondrios ou equiparados. Isto porque o peculato € na sua esséncia, um abuso de confianga qualificado pela qualidade especial do agente, da funcao especial que desempenha em certo momento. bem juridico que confere particular especificidade a0 tipo legal, é precisamente o da probidade ou fidelidade do funcionario interveniente, isto é, 0 da salvaguarda da atitude de observancia rigorosa dos deveres no exercicio de uma fungdo publica ou equiparada. tipo objetivo preenche-se, no que ao caso interessa, quando o titular de cargo politico, no exercicio das suas fungSes, ilicitamente se apropria - em proveito proprio ou de outra pessoa - de dinheiro que Ihe for acessivel em razio das suas fungdes. Trata-se, por isso, de um crime de resultado uma vez. que ‘a consumagiio depende da verificago da produgdo daquele resultado, passando a agir como se fora 0 cortespondente proprietario. ‘A componente subjetiva exige o dolo, ou seja, 0 querer directamente retirar aquele dinheiro pertenga do Estado que lhe esté confiado por ineréncia das suas finges, em proveito proprio ou de terceiros, causando prejuizo. Subsumindo os factos provados ao direito, néio podemos deixar de concluir que se encontram preenchidos os elementos tipicos do referido crime, uma vez que os réus so funciondrios piblicos ¢ concertadamente entre si, que 0 mesmo é dizer em coautoria, apropriaram- se ilegitimamente, no ambito e no exercicio das suas fungdes, em proveito réprio ¢/ ou dos demais e de terceiros, das quantias apuradas, pertencentes ao Estado, creditadas nas contas bancérias de cada qual em resultado das transferéncias bancérias realizadas para esse mesmo efeito, querendo causar prejuizo ao Estado, Os réus actuaram livre, voluntéria e conscientemente, sabendo que estavam a agir na veste dos cargos puiblicos que ocupavam, correlativamente as fungdes que cada qual desempenhava, tendo, por isso, uma profunda consciéncia da ilicitude da sua conduta, a qual é tipica, ilicita © culposa, na medida em que nao se vislumbra a existéncia de qualquer causa de justificagdo ou de exclusdo da culpa. Na forma continuada porque as condutas dos Réus, Preencheram todos os requisitos desta figura, nomeadamente terem sido por cle praticados varios factos ilicitos que violam 0 mesmo bem juridico, mediante a reiteragio de uma resolugao criminosa num determinado periodo de tempo e tendo actuado no quadro da solicitagfio de uma mesma situagio exterior que diminuiu consideravelmente a sua culpa. Sendo continuado conta para efeito de aplicagao da lei da amnistia, 0 Ultimo acto praticado, pelo que, tendo a conduta ocorrido até ao ano de 2017, naturalmente que escapa a aplicago desta medida de cleméncia. A medida penal abstracta é de prisdo de 12 a 16 anos de pris&o maior. DO CRIME DE VIOLACAO DAS NORMAS DE EXECUCAO DO PLANO E ORCAMENTO NA FORMA CONTINUADA IMPUTADO A TODOS OS REUS, COM EXCEPCAO DO REU EURICO ALEXANDRE PEREIRA DA SILVA. Neste concreto estatui o art.° 36.° da Lei 3/10: 0. agente piiblico que, no exercicio das suas fungées, incumba o cumprimento de normas de execugdo do plano ou do orcamento e, voluntériamentem as viole é punido com prisdo, quando: @) Contraia encargos nao permitidos; 5) Autorize ou promova operagées de tesouraria ou alteracées orgamentais proibidas por lei; ; ¢) Dé, ao dinheiro piiblico, um destino diferente daquele a que esteja legalmente afectado.”. Os réus com excepgaio do réu Eurico Alexandre Pereira da Silva ao ordenarem a efectivacio de despesas que no constavam do orgamento do CNC, bem como, autorizarem operagées, como participagdes em empresas € outras, sabendo que nao 0 poderiam fazer, por estrarem pela natureza das fungdes que ocupavam a cumprir com as regras orgamentais, preencheram este tipo legal de crime, verificados que esto as suas componentes material ¢ subjectiva. DO CRIME DE ABUSO DE PODER NA FORMA CONTINUADA IMPUTADO A TODOS OS REUS COM, EXCEPCAO DO REU EURICO ALEXANDRE PEREIRA DA SILVA. Este crime tem a sua tipicidade prevista no art.° 39.° da Lei n.° 3/10, segundo o qual “o titular de cargos de responsabilidade que abusando de poderes que a lei Ihe confere ou violando deveres inerentes as ‘suas fungées, ou por qualquer fraude, obtenha para si ou para terceiro, beneficio ilegitimo ou cause prejuizo a outra entidade priblica ou privada é punido com prisdio e multa correspondente se pena mais grave n&io couber ‘por forca de outra disposigdo legal”. ‘Trata-se de um tipo que pune o abuso de fungdes, em termos genéricos ¢ subsididrios, na medida em que, conforme consta da norma, se reporta a actos ou omissdes nio tipificados nos tipos de crime anteriormente definidos pelo Cédigo Penal. O abuso de poderes, por via de regra, consubstancia-se na respectiva instrumentalizacdo para finalidades estranhas ou contrérias as permitidas pelo direito administrativo, finalidades essas que, por isso, so ilegitimas. Sera o caso do titular do cargo politico que, instrumentalizando os poderes inerentes as suas fungées, excede os limites das suas competéncias ou viola a lei (isto é, contraria as normas juridicas com as quais 0 acto administrativo se deveria conformar), ou ainda actua com desvio de poder (poder discriciondrio), usando-o para fim diverso daquele para o qual Ihe foi conferido. Trata-se do exercicio de faculdades discriciondrias fora do seu fim, tendo particular interesse a modalidade extrema do desvio de poder, ou seja, a hipotese em que o interesse puiblico ¢ preterido em nome de fins ou interesses de natureza meramente particular. Neste, pretende-se evitar que os funcionérios ou titulares de cargos politicos excedam os seus poderes, como foi o caso dos réus a0 realizarem despesas nao cabimentadas no orgamento ¢ utilizarem dinheiros 56 de um Instituto, a CAN, para despesas do Ministério quando sabiam nao 0 poder fazer, pelo que, est preenchido o elemento material do tipo. No que conceme aos elementos subjectivos, prova-se a actuagao por dolo directo dirigida a intengdo de obter beneficio ilegitimo 0 que est manifestamente apurado. Neste concreto alega o réu Augusto da Silva Tomas em sede de contestacdo que este crime esté consumido pelo crime de peculato que o mesmo € dizer existe um concurso aparente e néo real entre estes tipos legais. Jé muito se escreveu na doutrina sobre 0 concurso aparente e todos os autores convergem no facto de o Tribunal ter essencialmente de atender aos bens juridicos tutelados pela norma ¢ se um é 0 crime meio do outro. Analisadas as previsbes legais de cada um dos tipos (e desta forma confrontados os bens juridicos que a norma visa proteger), verificamos que o crime de abuso de poder tem um ambito de protecgao que em nada converge com a do crime de peculato, razo pela qual, estamos perante um concurso real, porquanto a reac¢&o contra a violagdo concreta do bem juridico realizada pelo peculato punido de forma mais grave, néo defende estes bens juridicos que o direito penal pretende proteger no abuso de poder, pelo que, aquele nao pode consumir este. Com efeito, no abuso de poder incluem-se deveres funcionais especificos impostos por normas juridicas ou instrugdes de servigo, e relativos a uma fungdo em particular, e deveres funcionais genéricos que se referem a toda a actividade desenvolvida no Ambito da administrago do Estado, ao passo que no crime de peculato, se rectimina © desvio de dinheiros que Ihes foram entregues em razo das fungdes que desempenham, para finalidade diversa, com 0 objectivo de apropriagaio ilicita e consequente prejuizo. DOS CRIMES DE PARTICIPACAO EM NEGOCIO IMPUTADO AOS REUS AUGUSTO DA SILVA TOMAS E ISABEL CRISTINA GUSTAVO FERREIRA DE CEITA BRAGANGA. No que conceme ao crime de participagio em negécio previsto e punido pelo artigo 40.° da Lei 3/14, a sua previséio tem a seguinte redacgfo: “I - O funciondrio que, com intengao de obter para si ou para terceiro, participagdio econdmica ilicita, lesar em negécios juridico ou interesses patrimoniais que, no todo ou em parte, Ihe cumpre, em razéo da sua fungao administrar, fiscalizar, defender ou realizar, é punido com pena de pristio de 6 meses a 5 anos”. 87 O bem juridico protegido pela incriminagio € 0 patriménio alheio (piblico ou particular) e, acessoriamente, a integridade do exercicio das fungées piblicas pelo funcionério. O tipo objectivo consiste no lesar em negécio jurfdico os interesses patrimoniais que, no todo ou em parte, cumpre ao funcionério, em razo da sua fung3o, administrar, fiscalizar, defender ou realizar. O tipo subjectivo admite qualquer modalidade de dolo. A modalidade do crime prevista no n.° | inclui também um elemento subjectivo adicional: a intengdo de obter, para si ou para terceiro, participagao econémica ilicita Nao € necessdrio que o funciondrio ou o terceiro obtenham efectivamente uma vantagem patrimonial ou no patrimonial, sendo suficiente que ele a tenha querido obter, isto é, 0 tipo subjectivo contém uma intengaio de realizagaio de um resultado que nao faz parte do tipo objectivo, mas que provocado pela acgao tipica. Também neste concreto a conduta apurada relativa & participacdo destes réus em empresas privadas, como sejam, a Nova Somil relativamente ao réu Augusto da Silva Tomas, sendo que, renovou o contrato com esta em 2016 ¢ a ISMA, ISAWAL e SIMIKEA, quanto a ré Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga, lesaram interesses do Estado inciondrios deveriam proteger com intengio de obterem ta, factos que subsumem 0 tipo legal. Quanto & empresa NYOSA, empresa pessoal do réu Augusto da Silva Tomés, a acusacdo inclui o beneficio desta no montante de 81.985.00 USD nos factos referentes ao peculato que naturalmente consome este tipo legal, por ser punido com pena mais grave. ‘Ainda que assim niio fosse, como tal, teré ocorrido em 2009, 0 mesmo estaria amnistiado. Temos assim de concluir pela subsungaio de um destes crimes pelo réu Augusto da Silva Toms e trés crimes pela ré Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga. DO CRIME DE CONCUSSAO NA FORMA CONTINUADA IMPUTADO AOS REUS ISABEL CRISTINA GUSTAVO FERREIRA DE CEITA BRAGANCA, RUI MANUEL MOITA, MANUEL ANTONIO PAULO E EURICO ALEXANDRE PEREIRA DA SILVA. Relativamente ao crime de concussao diz 0 artigo 314.° do Cédigo Penal: Todo 0 empregado piiblico que extorquir de alguma pessoa, por si ou por outrem, dinheiro, servigos, ou outra qualquer coisa 58 que ndo Ihe seja devida, empregando violéncias ou ameacas, seré punido com prisdo maior de 16 a 20 anos”. Os elementos constitutivos deste tipo legal de crime sao assim, a recepgdo pelo funcionério de um lucro indevido e a coacgio ligada com a fungao publica do agente como meio para a obteng&o desse lucro. A nota diferente na concusséio é a especificidade da coac- glo que envolve, A coacgaio do crime de concussao tem uma natureza uma definigao préprias, que a distinguem da coacgao que pode ser praticada Por qualquer pessoa: o vicio da vontade do particular nao deriva do medo da forga privada de quem o coage, mas antes do receio da autoridade publica do funcionério. O elemento subjective traduz-se no dolo em qualquer das suas modalidades, Perpassando para os factos apurados, diremos que quanto aos réus Rui Manuel Moita, Manuel Anténio Paulo e Eurico Alexandre Pereira da Silva, nao se provaram os factos constantes da acusagao pelo que, Testard a a absolvigao. J4 quanto a ré Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga provou-se que a mesma reuniu com as diversas empresas a quem Propés 0 pagamento das referidas gratificagées referindo que ou o faziam, ou ndio haveria celebragio de contratos. Ora, como se referiu a componente objectiva deste tipo legal exige a verificacdo de uma ameaga para cuja subsungao se exige que 0 agente efectivamente consiga o seu objectivo através de uma conduta intimidatéria com um mal maior. No caso, a ré Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga apenas referiu que ou pagariam as gratificagdes, ou nao celebraria 0s contratos, facto que, em nosso entender n4o tem forca suficiente para subsumir o que deve traduzir a ameaga, até porque deixou ao livre cri dos empresérios a celebracdo dos mesmos. O facto de ter referido que as gratificagdes eram uma exigéncia legal encerra apenas um erro que os levou a pagar as mesmas, mas que nao relava para este tipo legal. Assim, entendemos que também quanto a esta ré os factos. apurados nao preenchem a componente material e subjectiva do ilicito, No entanto, uma vez que todos estes réus receberam e aceitaram as referidas gratificagdes a que sabiam nao ter direito e fizeram- 59 nos em virtude das fungdes que exerciam, entendemos ser de convolar este crime nos termos do art.° 447.° do C.P.P, para o crime de recebimento indevido de vantagem na forma continuada preenchidos que estiio os elementos constitutivos. DO CRIME DE RECEBIMENTO INDEVIDO DE VANTAGEM NA FORMA CONTINUADA IMPUTADO AOS REUS ISABEL CRISTINA GUSTAVO FERREIRA DE CEITA BRAGANCA, RUI MANUEL MOITA, MANUEL ANTONIO PAULO E EURICO ALEXANDRE PEREIRA DA SILVA. Este ilfeito esta previsto no art.° 36.° da Lei 3/14 de 10 de Fevereiro onde se estatui: “ J. O funciondrio que, no exercicio das suas {fuungées ou por causa delas, por si ou por interposta pessoa, com 0 seu ‘consentimento ou ractificacdo, solicitar ou aceitar, para si ou para terceiro, vyantagem patrimonial ou ndo patrimonial que nao Ihe seja devida, & punido com pena de prisdo de 6 meses a 3 anos ou multa até 600 dias”. Neste dispositivo, pune-se o acto de solicitagfio/aceitagsio de promessa de vantagens que se mostrem susceptiveis de criar um clima de permeabilidade favordveis as pretensdes do agente, isto ¢, quando o funciondrio solicita ou aceita vantagem ou manifesta a inten¢do de receber vantagem que nao Ihe seja devida e que esteja inter-relacionada com 0 exercicio das suas fungdes, o crime consuma-se. Com efeito, o funcionério ao solicitar vantagens que nfio Ihe sao devidas pelo exercicio de fungdes de natureza piiblica, a sua acgfio € consciéncia ficam condicionados, pelo que deixa de possuir a objectividade necessria para decidir de uma forma imparcial, isenta ¢ tranquila. Percorridos os factos constantes na acusagio néo vislumbramos quais 0s que possam ser autonomizados daqueles que claramente integram o crime de concussio ¢ que de modo algum, podem também subsumir este tipo legal de crime. Porém, como se referiu quando abordamos o referido crime de concussdo, entendemos que apesar de, niio se ter apurado da ameaga por parte de nenhum dos réus, provou-se que a ré Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga solicitou e recebeu e os demais réus aceitaram as descritas gratificagdes a que sabiam nao terem direito, que thes foram creditadas nas contas, porque as empresas contratadas pensavam set prética corrente e por se tratarem de funcionsrios piblicos, factos que subsumem a 60 componente material do crime de recebimento indevido na forma continuada, valendo aqui o que se escreveu quanto ao crime de peculato. DO CRIME DE BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS. O crime de branqueamento supde o desenvolvimento de actividades que, podendo integrar varias fases, visam dar uma aparéncia de origem legal a bens de origem ilicita, assim encobrindo a sua origem, conduzindo quase sempre a um aumento de valores, que nao é comunicado 4s autoridades legitimas. Trata-se de um crime de acgdo, auténomo em relac&o ao ctime subjacente que pode ser cometido por qualquer pessoa, inclusive pelo autor do crime subjacente. No branqueamento esté includa uma fase de maior risco, em que o agente procura desembaracar -se do numerdrio, retirando os fundos de qualquer relacio directa com o crime, nomeadamente através da sua colocacéo numa conta bancéria e a multiplicagio das operacées, em mais que um pais se possivel, com movimentos por varias contas, cheques sobre o estrangeiro, tudo com vista a criar a aparéncia de legalidade. Porém, entendemos que mesmo a simples conduta do agente de apenas depositar, na sua conta bancéria, quantias monetérias provenientes do crime-subjacente por si cometido, no caso os crimes de peculato, participagao econémica em negécio e concussao, pode integrar a pratica do crime de branqueamento. Quanto ao tipo subjectivo, exige a intengao de dissimular a origem ilicita das vantagens ou de evitar que o autor ou participante dessas infracgdes seja criminalmente perseguido ou submetido a uma reaccao criminal. Com efeito, como jé referimos anteriormente, os depésitos em conta bancéria de vantagens provenientes do crime subjacente, podem constituir a tal reciclagem das vantagens na medida em que estes fundos séo utilizados pelas entidades financeiras junto das quais o agente do crime subjacente os deposita, sendo direccionados para as mais diversas actividades econémicas, gerando rendimentos que 0 agente do crime ird receber. Mas, apesar deste entendimento, naturalmente que, como em todos os tipos legais de crime, para se mostrar preenchido o tipo objectivo, é indispensével a alegagfo de factos que permitam depois extrair a conclustio de que, por essa forma (depésito em conta propria, de vantagens provenientes do crime subjacente) se esté a ocultar ou dissimular a sua verdadeira origem. 61 Be of t Ora, ndo conseguimos extrair da factualidade apurada, elementos que nos permitam com certeza a imputago deste ilicito aos réus, apesar das suas manobras fraudulentas facilitarem depdsitos camuflados de conta em conta e até numa das contas de um deles para a transferéncia noutras dos demais réus, visando ocultar a origem dessas vantagens economicas, enfim, na davida beneficiam os réus. DO CRIME DE ASSOCIACAO CRIMINOSA. Este ilicito est previsto no art.° 8.° da Lei 3/14, de 10 de Fevereiro, de onde resulta expressamente que para o preenchimento deste tipo legal, na vertente da componente material se exige a promogdo ou fundagdo de grupo, organizagdo ou associago cuja finalidade ou actividade seja a realizagao da acefo criminosa. Dado tratar-se de um crime doloso, em qualquer das suas modalidades, o dolo tem de ser dirigido ao acordo de vontades direccionados 4 finalidade comum de cometer crimes, isto €, 0 dolo de associagio. Este elemento constitutivo surge quando diversas pessoas se unam voluntariamente para cooperar na realizagao de um fim ou fins comuns e essa unido possua ou queira possuir uma certa permanéncia ou estabilidade, o que afasta as situagdes de mera agregacflo momentanea ou casual de uma pluralidade de pessoas. O ilicito pressupée ainda que a refetida associagao viva, ‘ou ao menos se proponha viver, como reunido estavel de diversas pessoas ligadas entre si com o objectivo da prética de crimes e de acordo com um programa criminoso j4 congeminado Isto €, s6 pode falar-se de associagiio criminosa, de acordo com a unanimidade da doutrina, quando a convergéncia de vontades dos envolvidos origine uma realidade auténoma, diferente e superior as vontades e interesses dos singulares membros. Sem diwvida que é a ideia de permanéncia ¢ fim abstracto, © factor distintivo da associagao criminosa da comparticipagao que se trata de um simples acordo conjuntural para se cometer um ou mais crimes em concreto. Feita esta breve resenha sobre este tipo legal de crime, naturalmente que resulta evidente que a acusag&o descuidou destes elementos essenciais, pelo que, sem necessidade de mais delongas diremos que também ndo podemos imputar este crime a qualquer dos réus por auséncia de factos no libelo acusatério que subsumam os seus elementos constitutivos. Neste sentido, também, jurisprudéncia ja firmada neste Tribunal Supremo, no ac. n.° 308/2018, onde se pode ler: “..Com efeito, do que vem exposto quer na acusagao, quer no despacho de proniincia, os 62 arguidos decidiram constituir 0 alegado fundo ,para poderem colher dividendos em concreto com prejuizo para o estado, sem um plano Previamente delineado, nem com a atribuigito da distribuicao de funcées, da existéncia de um “ mentor” que delineia 0 plano a que os demais aderiram., nem tio pouco com o tal fim abstracto da prdtica de crimes. Tanto assim, que comecaram por fazer uma tentativa que falhou, pela intervencdo do entéo Ministro das Financas ao alertar para alguns constrangimentos que poderiam prejudicar 0 Estado Angolano ¢, posteriormente, usaram de outros mecanismos até alcancarem os seus intentos, o que denota bem, a inexisténcia de qualquer Plano delineado em moldes de se poder falar de Associagdo criminosa. Somos assim a concluir que os factos tal como esto desenhados, apontam apenas para a existéncia de uma comparticipagdo Para cometerem certos crimes concretamente determinados, com uma antecedéncia razodvel para que pudessem melhor tracar os seus planos ‘mas, sem o cardcter organizativo que impde a associagao criminosa...”. Aqui chegados, naturalmente que ndo podemos deixar de lamentar que com 0 acervo probatério constante dos autos, o titular da acgdo Penal que desenha a pega acusatéria determinante do objecto do julgamento, nao tenha tido o especial cuidado de descrever factos bastantes para subsumir 8 mais variados tipos legais de crime que acaba por imputar aos réus, ‘Mais ainda quando, esto em causa bens pertencentes a0 crério piiblico ¢ condutas praticadas por quem tem uma especial responsabilidade de nao o fazer, como é, manifestamente 0 caso dos agentes aqui presentes, sendo ainda mais gritante se pensarmos que a nivel mundial Se procura hoje que os Tribunais garantam através de rigor punitivo, travar este fenémeno crescente de corrupeao, de molde a estabilizar as expectativas comunitarias na validade da norma violada em raz4o, por um lado, dos sentimentos difusos do dominio da commupgdo na vida piiblica que se instalaram na comunidade e, por outro lado, da acrescida consciéncia e exigéncia, por parte da comunidade, de que as fungdes piiblicas estejam ao servigo do “bem comum”, Assim e para finalizar, concluimos que os factos praticados pelos réus configuram assim, a subsung&o em co-autoria material dos crimes que abaixo se seguem: I- AUGUSTO DA SILVA TOMAS 1 - Um crime de peculato sob forma continuada p. e p. pelas disposicoes conjugadas dos art.°s 313° e 437°, ambos do Cédigo Penal; 63 2- Um crime de violagdo das normas de execugtio do plano e orgamento sob forma continuada p. e p. pelo art.° 36°, al c), da Lei n° 3/10, de 29 de Margo, Lei da Probidade Piblica; 3- Um crime de abuso de poder sob forma continuada p. ep. pelo art.° 39° da Lei n°3/10, de 29 de Margo, Lei da Probidade Publica; 4- Um crime de participagdo econémica em negocio p. p. pelo n? 1 do art® 40° da Lei n? 3/14, de 10 de Fevereiro, Sobre a Criminalizagao das Infracgdes Subjacentes ao Branqueamento de Capitais; TI- ISABEL CRISTINA GUSTAVO FERREIRA DE CEITA BRAGANGA, RUI MANUEL MOITA € MANUEL ANTONIO PAULO. 1-Um crime de peculato sob forma continuada p. ¢ p. pelo art. 313° e 437°, ambos do Cédigo Penal; 2- Um crime de violagdo das normas de execugiio do plano e orgamento sob forma continuada p. e p. pelo ar.” 36°, al c), da Lei n° 3/10, de 29 de Margo, Lei da Probidade Publica; 3- Um crime de abuso de poder sob forma continuada p. e p-pelo art° 39° da Lei n.° 3/10 de 29 de Margo, Lei da Probidade Pablica; 4. Trés crimes de participagao econdmica em negécio p. e p. pelo n? 1 do art. 40.° da Lei n° 3/14 de 10 de Fevereiro, Sobre a Criminalizagio das Infracgdes Subjacentes ao Branqueamento de Capitais, este apenas para a ré Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga; 5-Um crime de recebimento indevido de vantagem sob forma continuada p. ep. pelo n.°1 do art.° 36° da Lei 3/14 de 10 de Fevereiro, Sobre a Criminalizagao das Infracgbes Subjacentes ao Branqueamento de Capitais, este nos termos do art.” 447° do C.P.P. IlI- EURICO ALEXANDRE PEREIRA DA SILVA 1-Um crime de recebimento indevido de vantagem sob forma continuada, p. ep. pelon® 1 do art.° 36° da Lei 3/14 de 10 de Fevereiro, Sobre a Criminalizagdo das Infracgées Subjacentes a0 Branqueamento de Capitais; 64 A. estes ilicitos correspondem as medidas penais abstractas que a seguir se transcrevem: 1 - O crime do tipo de peculato sob forma continuada é Punivel com a pena de doze a dezasseis anos de prisfo maior. 2- O crime do tipo de participagao econdmica em negécio € punivel com a pena de seis meses a cinco anos de pristo, 4 - O crime do tipo de recebimento indevido de vantagens sob forma continuada é punivel com a pena de seis meses a trés anos de prisdo ou com pena de multa até seiscentos dias, 5- 0 crime do tipo de violagdo das normas de execugiio do plano e orgamento sob forma continuada € punivel com a pena de trés dias a dois anos de prisao. 6 - O crime do tipo de abuso de poder sob forma continuada é punivel com a pena de trés dias a dois anos de prisiio e multa comrespondente, se pena mais grave nao couber por forca de outra disposigalo legal. DETERMINACAO DA MEDIDA DA PENA. Atenta a qualificagao juridica da conduta praticada pelos réus, importa determinar as sangdes penais a aplicar. Neste concreto importa referir que a pena serve finalidades exclusivas de prevengao geral e especial, Com a finalidade da prevengao geral positiva ou de integrasdo pretende-se alcangar a tutela necesséria dos bens juridico-penais, da confianga das expectativas de todos os cidadaos na validade das normas Juridicas € no restabelecimento da paz juridica comunitétia abalada pelo crime. Do ponto de vista da prevengao especial, o critério decisivo é, em prinefpio, a medida da necessidade de socializagao do agente. E, pois, em funcao da articulagéio entre as necessidades de prevencao geral ¢ de prevengao especial que 0 caso suscite que a escolha entre as penas alternativas se coloca. Os concretos factores de medida da pena, constantes do art’ 84.° do CP, relevam tanto pela via da culpa como pela via da prevengfo, Relevam sem divida a personalidade dos réus demonstrada em audiéncia que traduzem uma completa indiferenga quanto 65. aos factos imputados, com excepgaio do réu Eurico Alexandre Pereira da Silva que interiorizou o desvalor da acgio. Também o espago temporal bastante grande sem que tivessem em algum momento retrocedido nas suas actuagdes denotam uma personalidade desajustada aos valores sociais e morais, bem como, atenta a fungi exercida por cada um, em especial a do réu Augusto da Silva Tomés, denotam profundo desrespeito pelo “bem comum”. ‘A auséncia de antecedentes criminais ¢ 0 facto de estarem socialmente inseridos, sfio atenuantes de relevo em termos de prevengaio especial. De igual modo, a reparagaio total do prejuizo causado € a colaboragaio com a justi¢a do réu Eurico Alexandre Pereira da Silva, sao atenuantes de relevo. As condigées econémicas de todos os réus funcionam aqui como agravante. O grau de dolo ¢ intenso para qualquer dos ilicitos. Quanto ao grau de culpa convém relembrar que a medida da pena nao pode, em caso algum, ultrapassar a medida da culpa, a culpa tem a fungi de estabelecer «uma proibigao de excesso, constituindo o limite inultrapassdvel de todas as consideragdes preventivas. ‘A aplicagdo da pena néo pode ter lugar numa medida superior a suposta pela culpa, fundada num juizo auténomo de censura ético- juridica. No plano da culpa, releva ter em conta que a menor exigibilidade e a consequente diminuigao da culpa que caracterizam o crime continvado j4 foram tomadas em conta, justamente, quando a punigao foi subtraida as regras da pena conjunta pelo concurso, pelo que, nada impede, agora, que a pluralidade de actos, o tempo decorrido, a auséncia de qualquer motivagio e a intensidade com que os varios tipos de ilfcito foram praticados sejam valoradas como factor de agravagao da culpa, pelo que, a consideramos de grau elevado para a generalidade dos crimes. Quanto ao crime de recebimento indevido, o grau de culpa da ré Isabel Cristina Gustavo Ferreira de Ceita Braganga, ¢ superior ao dos demais réus, porquanto, aquela solicitou e recebeu, enquanto os restantes, apenas aceitaram. Retomando, sao pois, essencialmente as necessidades de prevencao geral que sobrelevam , tanto mais nestas situagdes que envolvem verbas plblicas, tendo 0 combate 4 criminalidade econémico-financeira ganho especial protagonismo nas tltimas duas décadas, nacional ¢ internacionalmente, e, dentro deste universo, as preocupagdes proprias da tipologias da criminalidade contra 0 exercicio de fungdes piblicas, vindo a alimentar, como anteriormente referimos, um forte sentimento na comunidade de necessidade de pronta ¢ eficaz resposta por parte da Justiga. 66 Salientamos que estas necessidades de prevengdo geral apenas se justificam pelo reflexo negativo que representam para a economia do Pais. Este processo € 0 exemplo de que governando ou administrando em nome do povo e aproveitando-se dessa condicao, apropriaram-se, sem escripulos e plenamente conhecedores da ilicitude dos Seus actos, de dinheiros piiblicos para lograrem beneficios econémicos ¢ financeiros pessoais esvaziando os coftes do Estado. Razio pela qual o doseamento das penas a serem aplicadas por este Tribunal, situar-se-4 perto do seu limite maximo. De resto, lembrar que, sendo cada caso um caso, na verdade, olhando para as cambiantes sociais que se verificam no nosso Pais, nio repugna uma sangdo exemplar, jé pelo maior protagonismo que ness¢ novo ciclo sécio econdmico que se vive em Angola, a prevengao geral Positiva vem ganhando forca como uma das finalidades das sangdes penais, Acompanhamos, pois, 0 professor Espanhol Gimbernat Ordeig, que nos alerta para firmeza nestas épocas em que “o legislador ao assinalar limites ¢ definir conceitos, procurou uma possfvel aplicagao segura © calculavel das normas penais, retirando-lhes a irracionalidade, a arbitrariedade e a improvisag4o”. Jamais abdicaremos das nossas _responsabilidades, aplicando puni¢des que entendemos justas de acordo com a singularidade de cada caso, ndo descurando nunca, o cardcter ressocializador das reagdes ctiminais, j& que o “objectivo do direito penal é sempre o de obter a compreensio do direito do seu tempo, seleccionando bens a serem Protegidos por intermédio de ameagas de sangdes aos infractores”, conforme ensina Karl Binding, Critica da Faculdade do Juizo, pag. 139 e 140. Olhamos também com bons olhos, os ensinamentos expressos pelo Professor Renné Arial Doti, citado pelo Professor Edilson Mogenout Bonfim, in obra Direito Penal, Parte Geral, Ed. Saraiva, Pag. 15, “o direito penal esté condenado a ser letra morta, se nfo ser vivido pelo povo € para ser bom, precisa de ser bem aplicado a fim de inquestionavelmente, através desta vivencia, o povo reafirmar a sua crenga as instituigdes formais de controlo social”. Por constarem do despacho de promincia, vai a responsabilidade penal dos réus agravadas, pelas circunstncias: 1* (haver premeditaclo), 7° (ter sido o crime pactuado por duas ou mais pessoas), 10* (ter sido o crime cometido por duas ou mais pessoas), 14° (ter sido o crime cometido com o emprego simulténeo de diversos meios ou com insisténcia €m 0s consumar), 25* (ter sido o crime cometido com a obrigago especial 67 de o nfo cometerem, exceptuando-se o réu Eurico Alexandre Pereira da Silva) e a 34* (acumulacao de infracgGes), todas acolhidas nos termos do art.° 34° do Cédigo Penal. Militam em abono dos réus, as seguintes circunstincias atenuantes reguladas nos termos do art? 39 do Cédigo Penal, designadamente, a 1° (sem antecedentes criminais), 9* (confissdo, muito esclarecedora para o réu Eurico Alexandre Pereira da Silva ¢ parcialmente esclarecedora para os restantes réus, excepto o réu Augusto da Silva Toméds), 10" (reparagao parcial dos danos causados ao Estado Angolano), 19° (matureza reparivel dos danos causados a0 Estado Angolano) ¢ a 23° (encargos familiares para todos os réus). DECISAO Por todo exposto acordam os Juizes reunidos em conferéncia, em nome do povo, em julgar parcialmente provada e procedente a acusagio e, em consequéncia, decidem: POLE aS Biguat pbe : Shue, Yue Opler - LA SPECLLE zoe Celt Gfeaginga eCut 0 perce. Lieve, Wa Os Vek Learquase “7, Dpuvare rtd, Ort Cte, PE rt gare ea (Peewee . CLVECE flrE IE ey, Ahab forepee Aete 2 Qiver 7 - "mae 2 Ante, atD UCLA ae (Lp pC BAS 6 2. 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Atad i LIVIA, tae eG i, A y Vtded Mage BArloGe: hb Ce bck ANCL £8 Le~ La Cebiticar’, f CC. Aa e ee BEF — Oe Jie autige, Zor ZO R 9 DOI= P a Ss Ass.: JOEL LEONARDO, NORBERTO SODRE JOAO E JOAO PEDRO. KINKANI FUANTONI -ESTA CONFORME---------- a SECRETARIA JUDICIAL DA CAMARA CRIMINAL DO TRIBUNAL SUPREMO EM LUANDA, aos 16 de Agosto De 2019. A SECRETARIA spolelaL: EB= clo /ELSA DO CARMO/ te

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