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SISTEMA APPCC (ANÁLISE DE PERIGOS E PONTOS CRÍTICOS DE CONTROLE) DE ACORDO

COM A NBR ISO 22000

HACCP (HAZARD ANALYSIS AND CRITICAL CONTROL POINTS) SYSTEM ACCORDING TO ISO
22000

Samira Luana de Paula1 Resumo: Garantir a inocuidade dos alimentos é tarefa


Mauro Antonio da Silva Sá Ravagnani obrigatória das indústrias. O sistema APPCC (Análise de
Perigos e Pontos Críticos de Controle) traz uma série de
benefícios para as empresas neste sentido. Dentre eles,
pode-se citar: Garantia da segurança de alimentos,
diminuição de custos operacionais, redução de Recall e
reprocessamento, diminuição de testes nos produtos
acabados, redução de perdas, maior credibilidade e
competitividade e atendimento à legislação. Porém, na
prática, a maioria das empresas possui o plano APPCC
apenas para atender as exigências da legislação, e não o
implanta de fato. Outro agravante é a utilização de planos
não personalizados, utilizando dados prontos e pouco
eficientes para a indústria em questão. Dessa forma, o
presente trabalho propõe uma discussão sobre
alternativas e sugestões de melhoria durante a elaboração
e implantação do sistema APPCC, utilizando uma
metodologia diferenciada e baseada na NBR ISO 22000.

Palavras chave: APPCC. Perigos. ISO 22000.

Abstract: It is mandatory task of industries Ensuring food


safety. The HACCP (Hazard Analysis and Critical Control
Point) system has a number of benefits for food
companies, among which one can include: Ensuring
product safety, reduced operating costs, reduced recall
and reprocessing activities, decrease testing finished
products, waste reduction, greater credibility and
competitiveness and legal compliance. However, most
companies have a HACCP plan only to meet the
requirements of the legislation, and they don’t do it.
Another problem is the use of non-personalized plans,
using ready and inefficient data for the industry in
question. However, the implementation methodology
used may impede the process industries. Thus, this paper
1 proposes a discussion of alternatives and suggestions for
Departamento de Engenharia Química – Universidade improvement during the implementation and execution of
Estadual de Maringá. Campus Universitário, Av. Colombo, HACCP system, using a different methodology based on
5790, Bloco E-46 Sala 09 – CEP87020-900 – Maringá – PR the NBR ISO 22000
– Brasil. Telefone: (44) 3261-4745 – Fax: (44)3261-4793.
Autor Responsável pelo recebimento de correspondência.
Email: samiraluana@hotmail.com Keywords: HACCP. Hazards. ISO 22000.

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Sistema APPCC (Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle) de acordo com a NBR ISO 22000
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1 INTRODUÇÃO alimentos (CODEX ALIMENTARIUS, 2009). Depois


disso, um marco importante foi a assinatura do
O sistema APPCC (Análise de Perigos e Pontos Acordo de Aplicação de Medidas Sanitárias e
Críticos de Controle) é uma forma de identificar e Fitossanitárias pela Organização Mundial do
analisar os perigos envolvidos na cadeia de Comércio (OMC) que deu forças ao Codex.
alimentos, buscando alternativas de controle Entretanto, faltava algo que garantisse o
com o intuito de garantir a segurança do cumprimento dos requisitos de segurança de
consumidor (Paula e Ravagnani, 2009). Por esse alimentos e ao mesmo tempo facilitasse a vida
motivo esse sistema se torna muitas vezes um dos vendedores e compradores de diferentes
requisito para determinados clientes, partes do mundo.
principalmente quando se trata de exportação. Diante desse panorama, a International
Luning e Marcelis (2009) citam que a gestão Organization for Standartization (ISO) elaborou a
da qualidade dos alimentos tem se tornado cada família de Normas ISO 22000. Esses documentos
vez mais desafiadora, sendo necessária sua foram elaborados pelo grupo de trabalho
atualização constante, seja por novas (working group) WG 8, do Comitê Técnico TC 34.
tecnologias, cuidados com o meio ambiente ou Especialistas de 23 países e organizações como:
atendimento a novas legislações. Para que esses Comissão do codex Alimentarius, World Food
programas tenham sucesso, as indústrias Safety Organization (WFSO), Food and Drink
precisam estar sempre atentas e com uma equipe Industries of the Europen Union (CIAA), entre
preparada para executar tal atividade. outros, participaram de elaboração das normas
O Sistema APPCC é um diferencial importante relacionadas com a gestão da segurança de
para as indústrias de alimentos. Atualmente a sua alimentos. A primeira norma da família ISO 22000
implantação garante a garantia de contratos com foi publicada em setembro de 2005. A ABNT
clientes dos mais exigentes, no Brasil e exterior. traduziu e publicou essa Norma em 05 de junho
Grob et al. (2009) citam que a legislação dos de 2006.
Estados Unidos por exemplo, exige que seja Assim, a Norma ABNT NBR ISO 22000:2006,
assegurada a inocuidade dos alimentos a cada implantada e certificada por meio de auditorias
etapa da sua cadeia produtiva. independentes reconhecidas internacionalmente,
Para isso é necessário que fornecedores, permite atestar a implantação de um sistema de
produtores, terceiros, indústrias, gestão da segurança de alimentos.
transportadoras, centros de distribuições, pontos Os requisitos da Norma são genéricos e
de venda e consumidores alinhem seus aplicáveis a todas as organizações na cadeia dos
conhecimentos sobre o assunto. Violaris et al. alimentos, independente de tamanho e
(2008), discutem a grande exigência da Comissão complexidade. Isso significa que a Norma pode
Européia em relação a compra de produtos ser implantada em empresas direta ou
alimentícios. indiretamente envolvidas na produção de
Apesar de sua importância para as empresas, alimentos, por exemplo, produtores de
o Sistema APPCC é pouco aproveitado pelas alimentação e abastecimento, empresas
indústrias que o adotam. Por esse motivo, este fornecedoras de serviços de limpeza, serviços de
trabalho aborda sugestões de melhoria na transporte, estoque e distribuição, fornecedores
metodologia tradicional aplicada, visando o de equipamentos, embalagens e outros materiais
melhor aproveitamento desse Sistema na que entram em contato com os alimentos.
garantia da segurança de alimentos, bem como A Norma combina os seguintes elementos-
na reestruturação de processos internos. chave com o objetivo de garantir a segurança dos
alimentos ao longo da cadeia produtiva:
1.1 NBR ISO 22000:2006
• Comunicação interativa;
A necessidade de harmonizar os requisitos e • Gestão do sistema;
garantir a segurança do alimento ou produto • Princípios do APPCC;
agrícola comercializado trouxe à tona a • Programas de pré-requisitos.
necessidade de uma norma que certificasse um
sistema de gestão de segurança de alimentos. A
criação do Codex Alimentarius teve como um dos
seus objetivos harmonizar o comércio mundial de

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Paula e Ravagnani
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1.2 PROGRAMAS DE PRÉ-REQUISITOS (PPR), que é eliminar ou reduzir a níveis aceitáveis tal
PROGRAMA DE PRÉ-REQUISITOS OPERACIONAIS perigo. A diferença básica é que o PCC é a última
(PPRO) E PONTOS CRÍTICOS DE CONTROLE (PCC) etapa do processo de produção capaz de eliminar
o perigo considerado e o PPRO é um programa
Os programas de Pré-Requisitos (PPRs), de realizado pela empresa antes mesmo que
acordo com ABNT NBR ISO 22000:2006, são qualquer máquina seja ligada. Em muitos casos a
condições básicas e atividades necessárias para indústria pode optar qual controle quer realizar,
manter um ambiente higiênico ao longo da e esse é o grande desafio.
cadeia produtiva e para fabricar alimentos
seguros para o consumo humano. 1.3 APPCC DE ACORDO COM A NBR ISO
Os PPRs nada mais são que as Boas Práticas 22000:2006
aplicadas ao seu segmento correspondente. Boas
Práticas Agrícolas (BPA), Boas Práticas de O Sistema APPCC, conhecido
Fabricação (BPF), Boas Práticas de Distribuição internacionalmente como HACCP (Hazard
(BPD), entre outras. Analysis and Critical Control Point) originou-se na
Esses programas controlam as seguintes Grã-Bretanha, estimulado pelas primeiras viagens
atividades: espaciais tripuladas no início dos anos 60. A
NASA (Administração Espacial e da Aeronáutica)
• Relacionamento com os havia estabelecido como prioridade a saúde dos
fornecedores/produtores; astronautas, e naquela época às doenças
• Limpeza dos Equipamentos e Instalações; associadas aos alimentos foram consideradas as
• Higiene e Saúde dos Funcionários; mais importantes e perigosas. A partir disso o
• Manutenção dos equipamentos e APPCC veio se disseminando em todo o mundo.
instalações; Conforme Paula e Ravagnani (2008) deve ficar
• Calibração de equipamentos; claro a diferença entre plano e sistema APPCC. O
• Controle de pragas; plano APPCC é um documento formal que reúne
• Garantia da potabilidade da água; informações importantes, contendo todos os
• Controle de resíduos; detalhes considerados críticos para a produção
• Rastreabilidade e Recall. de alimentos seguros. O sistema como um todo é
o que garante a segurança dos alimentos. O
Ainda de acordo com a ABNT NBR ISO plano APPCC é o documento necessário para a
22000:2006, utiliza-se o termo Programa de Pré- execução e estruturação do sistema APPCC. Os
Requisito Operacional (PPRO). O PPR operacional sete princípios do sistema APPCC são:
é o procedimento de controle identificado pela
análise prévia de perigos como essencial para 1. Análise dos perigos e medidas preventivas;
controlar a probabilidade da introdução, 2. Identificação dos pontos críticos de controle;
contaminação ou proliferação de perigos à 3. Estabelecimento dos limites críticos;
segurança de alimentos (Paula e Ravagnani, 4. Estabelecimento dos procedimentos de
2009). monitoramento;
Se a empresa decidir controlar um perigo 5. Estabelecimento das ações corretivas;
utilizando somente o PPR, este programa passa a 6. Estabelecimento dos procedimentos de
ser chamado de PPRO. Ou seja, um pré-requisito verificação;
que elimina ou reduz a níveis aceitáveis um 7. Estabelecimento dos procedimentos de
determinado perigo. Caso a decisão seja por registro.
etapa do processo, essa etapa se tornará um
Ponto Crítico de Controle (PCC). Seguindo a linha da NBR ISO 22000:2006, um
Ponto crítico de controle é a última etapa de perigo pode ser eliminado, controlado ou
um processo, capaz de prevenir, eliminar ou prevenido por um PPR, por uma etapa do
reduzir a níveis aceitáveis um perigo relativo à processo ou uma combinação dos dois. O desafio
segurança de alimentos (ABNT NBR ISO da implantação de um plano APPCC seguindo
22000:2006). esse raciocínio é permitir que a indústria
Dessa forma, conclui-se que os PCCs e PPROs identifique se é mais vantajoso controlar o perigo
têm a mesma função em uma linha de produção, por PPR, por processo ou por uma combinação
dos dois.

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Para Rodriguez e Carrascosa (2009), esse


sistema também pode ser implantado com foco 2.3 IDENTIFICAÇÃO DOS PERIGOS
em qualidade de um modo geral. Sendo assim,
outros aspectos podem ser levados em conta, Nesta fase a equipe define quais os perigos
como odor, sabor, aspecto visual, cor, tornando são importantes em cada etapa do processo e
seu controle ainda mais abrangente. nas matérias-primas. Essa definição é feita a
partir do histórico da empresa, experiência dos
2 DESENVOLVIMENTO DE METODOLOGIA PARA funcionários, legislações vigentes e literatura.
IMPLANTAÇÃO DE SISTEMA APPCC
2.4 IDENTIFICAÇÃO DA SIGNIFICÂNCIA DOS
Esse trabalho discute uma metodologia para a PERIGOS
implantação do Sistema APPCC em uma indústria
de alimentos de acordo com a NBR ISO 22000. É Neste momento, a equipe deve analisar
importante destacar que a empresa que novamente os perigos com um olhar mais crítico,
implantará o sistema deverá se organizar e dispor levando em conta a severidade e o risco
um tempo semanal de no mínimo duas horas associado ao perigo. Essa atividade será
para a elaboração e execução do trabalho. A importante para validar as decisões tomadas
empresa deve possuir pessoas interessadas e Os diferentes tipos de perigos podem
competentes para formar a equipe APPCC, provocar consequências de gravidades variáveis
conforme citado abaixo. A necessidade de nos consumidores, resultando em diferentes
investimentos aparecerá como resultado da graus de severidade das patologias (SENAI/RJ,
elaboração do plano APPCC. Por isso, a diretoria 2008).
deve estar comprometida e ciente de que muitas Exemplos de perigos com severidade alta são:
vezes, para implantar o Sistema de fato, é
necessário investir na produção ou em • Microorganismos que podem causar um
equipamentos. Porém, isso não é regra. Em quadro clínico muito grave nos
alguns casos é mais uma questão de organização consumidores. Exemplos: Clostridium
do que investimento propriamente dito. Para botulinim, Salmonella typhi, Shigella
avaliar essa necessidade, é preciso elaborar o dysenteriae, Vibrio cholerae O1, Brucella
plano inicial, feito de acordo com as etapas melitensis, Clostridium perfringens tipo C,
mostradas na sequência. Vírus da hepatite, Listeria monocytogenes,
A sequência proposta é detalhada a seguir: Taenia solium.
• Perigos químicos como substâncias químicas
2.1 EQUIPE APPCC proibidas ou usadas indevidamente, como
agrotóxicos e produtos veterinários. Metais
Inicialmente uma equipe deve ser formada na como mercúrio, ou aditivos químicos que
empresa que está implantando esse programa. É podem provocar alergia. Toxinas
importante que essa equipe possua integrantes microbianas também se enquadram em
com conhecimentos variados e seja aprovada severidade alta.
pela diretoria. • Perigos físicos como pedras, vidros, agulhas,
A concordância da alta direção é metais e outros objetos pontiagudos ou
extremamente importante para o andamento cortantes.
dos trabalhos. O número ideal de participantes • Alguns exemplos de perigos com severidade
nesta equipe é cinco, e estes devem reunir-se média são:
semanalmente para discussão das atividades. • Patologias resultantes da contaminação por
microorganismos de patogenicidade
2.2 ELABORAÇÃO DE FLUXOGRAMA E moderada e disseminação extensa como
VALIDAÇÃO Escherechia coli enteropatogênica,
Salmonella spp, Shigella spp, Streptococcus.
A equipe precisa estruturar um fluxograma • Perigos com severidade baixa podem ser:
detalhado do processo, bem como descrever • Alguns microorganismos de patogenicidade
cada uma de suas etapas. Posteriormente a moderada e disseminação restrita, como
equipe faz a conferência “in loco” do Bacillus cereus, Clostridium perfringens tipo
fluxograma, garantindo sua validação. A.

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• Uso inadequado de aditivos, como sulfitos. poderá ser descartado da mesma forma. Essa
• Sujidades leves e pesadas (terra, areia, análise pode ser feita de forma subjetiva pela
serragem), insetos inteiros ou fragmentos, equipe APPCC, ou a partir de técnicas de
pêlos, cabelos. Consiste nos perigos que não otimização de processos.
causam injúrias ou danos a integridade física
do consumidor, mas sim danos psicológicos
quando presentes nos alimentos. 2.5 MEDIDAS PREVENTIVAS

A avaliação do risco de determinado perigo Com a definição dos perigos significativos, são
depende da freqüência de manifestação do relacionadas as medidas preventivas para a
mesmo. Embora existam dados sobre a avaliação eliminação ou redução destes perigos a níveis
quantitativa de riscos nem sempre é possível sua aceitáveis. Essas medidas preventivas de controle
avaliação numérica. A estimativa do risco é podem ser Programas de pré-requisitos ou
obtida pela combinação de experiências e dados etapas do processo.
epidemiológicos. Para facilitar, as respostas podem ser
Sendo assim, caso um perigo apresente organizadas em forma tabular, como
severidade baixa e um risco baixo, com certeza apresentado na Tabela 1.
não haverá a necessidade de considerar esse
perigo como significativo. Um perigo de
severidade média e risco baixo por exemplo,

Tabela 1 Exemplo de Perigos e Medidas Preventivas de Controle


M.P./Etapas do Processo Perigos Medida Preventiva de Controle
Bactérias dos gêneros: Conscientização dos produtores;
Micrococcus, Streptococcus e Higiene na Ordenha;
Leite Cru Corynebacterium (B) Controle da Mastite.
Controle da Temperatura;
Salmonella spp (B)
Pasteurização.

Essa organização já permitirá uma visão apenas por medidas de pré-requisitos, conforme
ampla do processo para a equipe APPCC. Basta tabela acima.
analisar as medidas preventivas de controle para
constatar se um perigo é eliminado por programa 2.6 PONTOS CRÍTICOS DE CONTROLE
de pré-requisito ou por uma etapa do processo. A
Salmonella spp por exemplo, é controlada pela Nesta etapa, os Pontos Críticos de Controle
temperatura e pasteurização. Com isso, fica (PCC) são identificados a partir da árvore
evidente que, apesar de realizarem medidas de decisória modificada apresentada na Figura 1.
prevenção, apenas uma etapa do processo, no Essa árvore é utilizada para cada perigo em cada
caso a pasteurização, será capaz de eliminar este etapa do processo.
perigo. Por outro lado, as bactérias Micrococcus,
Streptococcus e Corynebacterium são eliminadas

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Figura 1 Árvore Decisória Modificada

As respostas obtidas com a aplicação desta árvore podem ser organizadas na Tabela 2.

Tabela 2 Exemplo de Respostas obtidas da Árvore Decisória


Perigos significativos (Biológico, físico
Etapa do processo 1 2 Conclusão
e/ou químico)
Microorganismos patogênicos (ex:
Recepção do leite NÃO NÃO NÃO É PCC
Salmonella spp) (B)

2.6 IDENTIFICAÇÃO DOS PROGRAMAS DE PRÉ são controlados por medidas preventivas de
REQUISITOS OPERACIONAIS (PPRO). controle relacionadas a programas de pré-
requisitos. Ou seja, os PPROs são PPRs definidos
A identificação dos PPROs neste momento é como as únicas alternativas para o controle de
apenas uma questão de organização. Para isto, determinado perigo. Assim, basta transcrevê-los
basta utilizar a Tabela 1 e verificar os perigos que para a Tabela 3.

Tabela 3 Exemplo de Perigos e PPROs


M.P./Etapas do Processo Perigos PPROs
Bactérias dos gêneros: Conscientização dos produtores;
Micrococcus, Streptococcus e Higiene na Ordenha;
Corynebacterium (B) Controle da Mastite.
Bactérias dos gêneros: Bacillus, Conscientização dos produtores;
Leite Cru
Clostridium, podendo formar esporos de Transporte adequado;
Clostridium (B) Monitoramento da temperatura.
Conscientização dos produtores;
Escherechia coli enteropatogênica (B)
Higiene na Ordenha.

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Paula e Ravagnani
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2.7 IDENTIFICAÇÃO DOS PROGRAMAS DE PRÉ REQUISITOS (PPR).

Neste momento, as medidas preventivas de controle relacionadas a Pré-requisitos e não exclusivas no


controle de certo perigo, são descritas na Tabela 4

Tabela 4 Exemplo de Perigos, PPRs e PCCs


M.P./Etapas do
Perigos PPRs PCCs Correspondentes
Processo
Patógenos (ex: Salmonella
Leite Cru Controle da Temperatura. Pasteurização.
spp) (B)

Como a própria definição já diz, os PPRs 2.9 AÇÕES CORRETIVAS, CORREÇÕES E


descritos na Tabela 3 não são capazes de eliminar VERIFICAÇÃO
sozinhos os perigos das etapas acima descritas.
Por esse motivo, nesta tabela é importante Cabe a equipe APPCC definir quais as ações
constar o Ponto Crítico de Controle que eliminará serão realizadas no caso de uma falha no
o perigo. Este PCC já foi definido anteriormente processo. Para isso, é importante relacionar as
com a ajuda da Figura 1 e Tabela 2. Essa forma de correções e ações corretivas. As primeiras são
apresentação facilitará posteriormente a análise aquelas atitudes imediatas que devem ser
das decisões tomadas. tomadas para evitar prejuízos maiores. Ex:
Acrescentar determinada matéria-prima; regular
2.8 VALIDAÇÃO DAS DECISÕES TOMADAS o ph, ajustar a temperatura, reprocessar,
descartar, etc.
Com a definição dos PCCs e PPROs do As ações corretivas, por sua vez, são ações
processo, basta validá-los, verificando a eficiência planejadas, focadas na causa do problema. Para
desses controles. Para isso é necessário definir as isso, é necessário um planejamento. Exemplos
variáveis que serão monitoradas e os limites comuns são: realização de treinamentos para
críticos que devem ser respeitados. Essa funcionários, relatório de não conformidade para
validação pode ser feita a partir de um o fornecedor, aplicação de novo procedimento
acompanhamento do processo, análises de análise, etc.
microbiológicas ou aplicação de técnicas de Para finalizar, é preciso definir os
otimização de processos. procedimentos de verificação da eficácia do
Nesse momento é importante também que a sistema APPCC. Essas atividades são realizadas
equipe analise a Tabela 4, verificando se é anualmente para confirmar se o plano está
possível intensificar o controle nos PPRs implantando e principalmente, atingindo seu
identificados, fazendo com que os mesmos sejam objetivo. Ações usuais nesse sentido são:
únicos na eliminação do perigo, tornando-se auditorias internas, revisão do plano e análises
assim PPROs. Muitas vezes é mais viável investir microbiológicas. As técnicas de validação
em programa de pré-requisito, e eliminar a realizadas no final da elaboração do documento
necessidade de controle do mesmo perigo no também podem ser utilizadas como verificação
ponto crítico de controle. com o intuito de confirmar a implantação do
Um exemplo comum nas empresas é sistema APCC.
referente ao perigo físico metal. A manutenção
preventiva é um PPR que pode controlar esse 3 CONCLUSÕES
perigo. Muitas empresas que não têm condições
de investir em detectores de metais intensificam Os métodos de elaboração de planos APPCC
esse programa para controlar esse perigo. seguindo a linha do Codex Alimentarius
A Tabela 4 permite essa visualização, fazendo concentram-se apenas em encontrar os pontos
com que a empresa possa optar entre intensificar críticos de controle, considerando que as boas
um programa de pré-requisito, ou investir em práticas de fabricação já foram implantadas com
adequação e melhorias em um ponto crítico de sucesso. Porém, na maioria das vezes, elas
controle. possuem falhas que devem ser corrigidas para
garantia da segurança do alimento.

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Sistema APPCC (Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle) de acordo com a NBR ISO 22000
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Seguindo os novos conceitos da NBR ISO CODEX ALIMENTARIUS. Disponível em:


22000, as análises tornam-se mais abrangentes e http://www.codexalimentarius.net/web/index_en
completas. A tomada de decisões é facilitada, já .jsp .Acesso em: 27 fevereiro 2009.
que as medidas preventivas de controle são GROB, K.; MARMIROLI, G.. Assurance of
definidas analisando processo e programa de compliance within the production chain of food
pré-requisito. Com isso, é possível decidir pela contact materials by good manufacturing
intensificação de um controle de Boas Práticas de practice and documentation – Part 3: Lids for
Fabricação ou melhoramento de um processo glass jars as an example. Food Control, 20, 491–
produtivo. Essas decisões podem ser focadas em 500, 2009.
redução de custos e tempo ou eficiência na LUNING P.A.; MARCELIS W. J.. A food quality
eliminação de determinado perigo. management research methodology integrating
As discussões deste trabalho permitiram technological and managerial theories. Trends in
mostrar que o Sistema APPCC pode possuir uma Food Science & Technology, 20, 35 – 44, 2009.
conduta mais abrangente. A diferença deste PAULA, S. L.; RAVAGNANI, M.A. S. S..Lógica Fuzzy
método para o tradicional é que o empresário como Ferramenta de Decisão na Identificação
tem uma visão global do processo, podendo dos Perigos Significativos e Medidas Preventivas
analisar seus pontos fracos e fortes, facilitando de Controle do Sistema APPCC (Análise de
sua tomada de decisão. Adotar essas melhorias Perigos e Pontos Críticos de Controle). In: CIBIA
propostas faz com que o Sistema APPCC não seja VII, 2009. Colômbia. CD – RQM.
apenas uma formalidade para atendimento de PAULA, S. L.; RAVAGNANI, M.A. S. S..Otimização
requisitos de clientes ou legislação. dos Perigos e Pontos Críticos de Controle no
Porém, para o sucesso do trabalho, caberá a Processamento de Carne Bovina Fresca. In: XVII
diretoria da empresa realizar as mudanças CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA
necessárias, avaliando a necessidade de QUÍMICA, 2008, Recife. CD – RQM.
substituição de processos ou realização de RODRÍGUEZ A. J. M.; CARRASCOSA, A. V.. HACCP
investimentos. to control microbial safety hazards during
winemaking: Ochratoxin A. Food Control, 20,
REFERÊNCIAS 469-475, 2009.
SENAI/RJ, Conservação de Alimentos. FIRJAN.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS Diretoria de Educação, Gerência de Projetos de
TÉCNICAS. NBR 22000:2006: Sistemas de Gestão Educação, 2008.
da Segurança de Alimentos: Requisitos para Violaris, Y., Bridges, O., Bridges, J. (2008). Small
qualquer organização na cadeia produtiva de businesses – Big risks: Current status and future
alimentos. direction of HACCP in Cyprus. Food Control, 19,
439-448.

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