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ABREU, A. S. Curso de redação. São Paulo: Ática, p. 30-38, 2008. (texto adaptado).
Esse tipo de articulação se faz por meio de dois processos: a coordenação adversativa
e a subordinação concessiva.
[1] A polícia conseguiu prender todos os ladrões, mas as joias ainda não foram
recuperadas.
[1a] A polícia conseguiu prender todos os ladrões, entretanto as joias ainda não foram
recuperadas.
O que é interessante é que esses outros articuladores são móveis, dentro da oração
em que estão, ao contrário do mas, que tem uma posição fixa, no início dela. Uma
sequência como:
[1b] A polícia conseguiu prender todos os ladrões, as joias mas ainda não foram
recuperadas.
[1d] A polícia conseguiu prender todos os ladrões, as joias ainda não foram,
entretanto, recuperadas.
[1e] A polícia conseguiu prender todos os ladrões, as joias ainda não foram
recuperadas, entretanto.
Esse fato se deve a que, no português antigo, esses outros articuladores eram apenas
advérbios que só apareciam, inicialmente, junto ao articulador mas, com o propósito
de acrescentar a ele uma força ilocucional adicional. No português antigo, dizia-se:
[1f] A polícia conseguiu prender todos os ladrões, mas, porém, as joias ainda não
foram recuperadas.
[1g] A polícia conseguiu prender todos os ladrões, mas as joias, entretanto, ainda não
foram recuperadas.
[1i] Apesar de a polícia ter conseguido prender todos os ladrões, as joias ainda não
foram recuperadas.
Neste momento, já posso esclarecer uma possível curiosidade do leitor, que deve ter
achado um pouco estranho ter eu falado em articuladores sintáticos e não em
conjunções. Escolhi articuladores sintáticos como um termo mais genérico que
abrangesse também as locuções prepositivas, uma vez que elas, como acabamos de
ver, se prestam também ao serviço de ligar orações.
Até esse momento, ele não sabe se conseguiu ou não as férias. A conclusão tanto
pode ser no sentido de encaminhamento favorável por meio de uma sequência como:
... mas você não poderá ter suas férias ainda neste ano, por motivo de força maior.
Vejamos agora o efeito do emprego da subordinação concessiva. Imaginemos aquele
mesmo funcionário, passando pelo Departamento de Pessoal e ouvindo a seguinte
sentença:
Imediatamente, mesmo sem ter ainda ouvido a sequência da mensagem, ele já estará
sabendo que essa sequência fará um encaminhamento contrário àquilo que está posto
na sentença introduzida por embora. A continuação:
... você não poderá ter suas férias ainda neste ano, por motivo de força maior,
conjunções e locuções conjuntivas: porque, pois, como, por isso que, já que,
visto que, uma vez que;
preposições e locuções prepositivas: por, por causa de, em vista de, em virtude
de, devido a, em consequência de, por motivo de, por razões de.
[3] Não fui até Roma porque estava com pressa de regressar ao Brasil.
[3a] Não fui até Roma, em virtude de estar com pressa de regressar ao Brasil.
[3c] Em virtude de estar com pressa de regressar ao Brasil, não fui até Roma.
É interessante notar que a conjunção como só tem valor causal quando é feita essa
inversão. Enquanto a sequência:
[3d] Como estava com pressa de regressar ao Brasil, não fui até Roma
[3e] Não fui até Roma, como estava com pressa de regressar ao Brasil.
O contrário acontece com a conjunção pois. Ela só pode ser empregada quando não
há inversão:
[3f] Não fui até Roma, pois estava com pressa de regressar ao Brasil.
[3g] Pois estava com pressa de regressar ao Brasil, não fui até Roma.
Os outros articuladores são: caso, contanto que, desde que, a menos que, a não ser
que.
[4b] Caso você viaje hoje à noite, poderá descansar mais amanhã.
A menos que e a não ser que incorporam a marca de negação de uma oração
condicional. Esses articuladores somente se aplicam em orações condicionais
negativas, portanto têm a propriedade de cancelar o advérbio não. Uma sequência
como:
com a condicional negativa iniciada pelo articulador se, manifesta a negação por
intermédio do advérbio não. Se utilizarmos a menos que, por exemplo, teremos:
[6] Os salários precisam subir para que haja uma recuperação do mercado
consumidor.
[6a] Os salários precisam subir para haver uma recuperação do mercado consumidor.
Entre os outros articuladores de finalidade, destacam-se: a fim de, com o propósito de,
com a intenção de, com o intuito de, com o objetivo de.
[6b] Os salários precisam subir com o objetivo de haver uma recuperação do mercado
consumidor fica menos aceitável.
Os principais articuladores de conclusão são: logo, portanto, então, assim, por isso,
por conseguinte, pois [posposto ao verbo], de modo que, em vista disso.
Sidney vendeu sua moto prateada, logo só poderá viajar de carro.
[7] Agnaldo comprou um capacete, de modo que usará sua moto com maior
segurança.
[7a] Agnaldo comprou um capacete; usará, por isso, sua moto com maior segurança.
[7b] Agnaldo comprou um capacete; usará, pois, sua moto com maior segurança.
[7c] Agnaldo comprou um capacete; usará de modo que sua moto com maior
segurança.
[7d] Agnaldo comprou um capacete, pois usará sua moto com maior segurança.
Em muitos dos casos anteriores, é possível estabelecer uma articulação sintática sem
usar especificamente os articuladores, bastando para tanto deixar o verbo da oração
subordinada no gerúndio. Exemplos: