E m muitas lendas galesas e irlandesas, massas de água são associadas a uma grande
variedade de qualidades práticas e esotéricas, incluindo cura, purificação, sabedoria e
transformação. Há uma conexão entre rios e sabedoria poética ou divinamente
inspirada, imagens de poços e fontes associados a conhecimentos sagrados, redemoinhos e
recipientes místicos que se ligam a qualidades proféticas ou divinas. É a um vaso dessa
natureza que desejamos levar a atenção do Leitor.
Neste poema do “Caldeirão da Poesia”, diz-se que um peculiar vasilhame canta (ar-cain) por
meio de uma “correnteza de soberania” (sruaim n-ordain), sendo a fonte de “sendas de bom
conhecimento” (rethaib sofhis), bem como de um “derramamento de inspiração poética”
(srethaib imbais).
O file (“poeta”) recebe Coire Goriath diretamente da Divindade (“Deus me deu retirando-o
dos elementos misteriosos”). Pode ser usado para “criar poesia com muitos encantos
poderosos”.
Em uma passagem do texto, o autor afirma que Coire Érmae vira-se ou muda de posição de
acordo com a quantidade de conhecimento que uma pessoa possua e essa mudança pode
ocorrer em razão de uma tristeza ou alegria particularmente marcantes. Quando isso ocorre, o
Caldeirão do Movimento transforma-se no Caldeirão da Sabedoria. Os quatro tipos de tristeza
que podem virar o recipiente são: anseio, luto, ciúme, peregrinação aos lugares sagrados. Os
quatro tipos de alegrias são: sexo, saúde, composição bárdica, inspiração (imbas). E há ainda
uma alegria divina, não descrita no texto.
“Segais era o nome dela no Sid”. Quem é “ela”? “Esta torrente”, isto é o rio Bóinn (Boand);
portanto, “Segais era o nome de Bóand no Sid”. Assim, Tobar Segais, “Fonte de Segais” (a
Fonte da Sabedoria), é a Fonte de Bóand. O relato conta que Bóand foi à fonte, suas águas
ergueram-se e afogaram-na, porém nunca mais voltaram ao nível original, dando origem ao
rio Bóinn (Boyne). Esse mito do Dindshenchas, portanto, não é sobre a morte de Bóand, mas
sobre a criação de um rio: Bealach/Bothar na Bó Finne, “Caminho/Estrada da Vaca Branca
(isto é de Bóand, Bou Uinda, a Vaca Branca)”, a Via Láctea, cujo reflexo terrestre, na
mitologia irlandesa, é o Rio Boyne (Sruth Segais, o Rio de Segais).
O conto Echtra Cormaic i Tir Tairngiri ocus Ceart Claidib Cormaic (“A Aventura de Cormac
na Terra da Promessa e a Decisão da Espada de Cormac”) também alude à Fonte da Sabedoria
como origem dos sentidos e manancial indispensável a todos os buscadores do conhecimento.
Nessa história, Cormac Ulfada Mac Airt Ua Cuinn, Ard-Rí na hÉireann (“Grande Rei da
Irlanda”) no séc. III ou IV EC, parte para uma aventura em Tir Tairngiri (“Terra da
Promessa’), domínio sobrenatural do deus Mannanán mac Lir. Lá, Cormac depara-se com a
seguinte visão:
E então ele viu moradas ali. Foi em direção a elas e viu que ao redor delas havia uma
muralha de bronze cortada por uma abertura. Dentro da muralha, as moradias eram
como palácios, tendo uma cada ornamento possível, enquanto a outra, sua vizinha,
sequer dispunha de um teto de palha. Havia uma fonte de água diante da abertura da
muralha - água tão brilhante e clara que Cormac ficou olhando-a por longo período
de tempo.
Ao redor daquela fonte, nove aveleiras cresciam; suas folhas pareciam nunca
murchar e seus galhos tinham nozes purpúreas que caíam na água. Quando uma
delas caía, um salmão prateado, um dos cinco que estavam na fonte, subia e
alimentava-se com ela e depois nadava por um dos cinco riachos que saíam da fonte.
Um salmão de corpo brilhante, tendo se alimentado de uma noz roxa, foi nadando
em cada um dos riachos que em seu fluxo fazia um murmúrio tão doce quanto
música. Enquanto o rei Cormac ouvia aquele murmúrio e olhava para a limpidez da
água, sentiu-se próximo da compreensão de algo que não entendera antes - algo
surgia em sua mente como as bolhas que subiam à superfície da fonte enquanto o
salmão surgia e alimentava-se com as nozes que lhes caíam dos ramos das aveleiras.
Mais tarde, o próprio Mannanán explicará a Cormac o significado da fonte e das correntezas
que nela se originam:
“A fonte que observaste é o Poço da Sabedoria e suas cinco correntezas são os cinco
sentidos que os homens têm. Todos os que praticam ciência ou arte devem beber
dessa fonte ou dos riachos que fluem dela. E a partir de agora serás capaz de
reconhecer aqueles que beberam da fonte ou dos riachos e, quando os reconheceres e
mostrares que os reconheceste, não gastarão o seu tempo discutindo e reclamando”.
É digno de nota que a tradição védica da Índia usa imagens análogas para descrever a sede do
conhecimento na psique humana. O Bṛhadāṇyaka Upaniṣad (2.2.3) apresenta a esse respeito a
seguinte descrição: “Existe uma tigela que tem a sua abertura embaixo e alarga-se no topo;
diversos tipos de conhecimento nela foram colocados; sete sábios sentam-se ao seu redor e o
órgão da fala, que possui comunicação com os Vedas, é o oitavo”. As glosas a esse trecho
esclarecem que a “tigela que tem sua abertura embaixo e alarga-se no topo” é a nossa cabeça,
pois esta é “a vasilha que tem sua abertura embaixo e alarga-se no topo”. “Diversos tipos de
conhecimento nela foram colocados” refere-se aos órgãos, pois “sem dúvida, estes
representam vários tipos de conhecimento”. “Sete sábios sentam-se ao seu redor” refere-se
aos órgãos, pois “eles certamente são os sábios”. “O órgão da fala, que tem comunicação com
os Vedas, é o oitavo”, pois o órgão da fala “comunica-se com [isto é, recita] os Vedas”.
Quanto à frase “Diversos tipos de conhecimento nela foram colocados”, o texto diz: “Assim
como o suco Soma foi colocado na tigela, da mesma forma vários tipos de conhecimento
foram colocados na cabeça”.
Soma é o nome de uma bebida ritual de grande importância na religião védica antiga. Nos
Vedas, a mesma palavra designa a bebida, a planta (de identificação incerta) de onde era
extraída e a sua divindade regente (Soma, deus lunar que recebe o epíteto Vacaspati, “Senhor
da Fala”). Sobre os poderes do Soma, diz o Rigveda (8.79.2-6): “... Ele cobre o nu e cura
todos os que estão doentes. O cego vê; o homem coxo caminha .... Que aqueles que buscam
encontrem o que procuram: que recebam o tesouro ... Que encontrem o que foi antes perdido;
que impulsionem o homem da verdade ...”, além de referências a imortalidade, amṛta, e
revelação, āgama (8.48.3).
O Leitor descobrirá que a tigela da cabeça repleta de Soma e o Caldeirão da Sabedoria (Coire
Sofhis) cheio e borbulhante descrevem estados semelhantes de iluminação pessoal,
comparáveis em sua posição no corpo humano e sobretudo em seus efeitos benéficos,
apontados nos comentários ao “Caldeirão” e nos exercícios propostos.
Para concluir esta Apresentação, ou finalizar este Começo, não posso furtar-me de mencionar
algo que há anos tem me causado desconforto. Trata-se dos Dúile, “Elementos”. Houve um
certo enlevo quando, nos últimos anos do séc. XX, surgiu um relação de nove elementos que
fariam a correspondência entre o ser humano e o mundo, entre micro e macrocosmo (carne -
terra; osso - rocha; sangue - mar etc.). Tal enumeração supriria uma lacuna (uma dentre
muitas) que foi sempre ligeiramente vexatória para numerosos interessados nas tradições
célticas: a necessidade de usar a Tetrasomia (Fogo, Ar, Água e Terra) grega, lugar comum no
esoterismo ocidental, para descrever a composição da psique humana e organizar práticas
mágico-ritualísticas. Passo a expor porque essa ideia, que acompanha a “comunidade” há
mais de vinte anos, talvez esteja equivocada.
Tudo tem início com esta asserção (cuja fonte pode ser facilmente localizada em linha): To
further define the self, our first center, I am presenting a list of nine elements that I have
derived from a study of Celtic traditions (“Para definir melhor o self, nosso primeiro centro,
estou apresentando uma lista de nove elementos que derivam de um estudo das tradições
célticas”).
Pois bem, que estudo é esse? Ni ansae, diria o irlandês, “não é difícil”.
Is fisigh cidh diandernadh adham .i. do viii rannaib: in céd rann do talmain: indara
rann do muir: in tres rand do ghrein: in cethramha rann do nellaib: in cuigid rann
do gaith: in séisedh rann do clochaibh: in sechtmadh rann don spirad naomh:
intochmadh rann do soillsi in domuin.
Vale a pena saber que Adão foi feito de oito partes, isto é: a primeira parte, a terra; a
segunda parte, o mar; a terceira parte, o sol; a quarta parte, as nuvens; a quinta parte,
o vento; a sexta parte, as pedras; a sétima parte, o Espírito Santo; a oitava parte, a
luz do mundo.
Onde esse texto pode ser encontrado? Ni ansae. “Códice Clarend”, vol. XV, fol. 7., p. 1, col.
a, manuscrito do Museu Britânico (catalogado como Additional, 4783), séc. XV EC. No
entanto, é muito mais provável que tenha sido visto noutra fonte bem mais acessível, o
prefácio de Three Irish Glossaries (William Stokes, tradutor; Londres: William and Norgate,
1862), onde aparece integralmente nas pp. xl-xli. Esse livro contém traduções do Glossário de
Cormac, do Glossário de O’Davoren e do Glossário ao Calendário de Oengus.
Qual a origem da ideia de que Adão foi formado por elementos cósmicos? Ni ansae.
Encontra-se no Talmud babilônico (“Tratado Sanhedrin”, 38a-38b), que assim diz:
Rabbi Oshayah falou em nome do Rab: o primeiro homem, seu tronco veio da
Babilônia e a sua cabeça da Terra de Israel e os seus membros do resto das outras
terras do mundo; e as suas nádegas, de acordo com Rabbi Akha, de Aqra de Agma.
Essa noção existe numa variedade de tradições, sugerindo que a irlandesa não represente um
desenvolvimento independente. A versão acima (Is fisigh cidh diandernadh adham) não é a
mais antiga em língua irlandesa, pois outras existem consideravelmente mais velhas, por
exemplo: Manuscrito MS 37785 British Library (obras de Isidorus e Alcuinus em caligrafia
irlandesa): Quot sunt cispes de quibus factus est Adam. Quatuor sunt. / Cispes de terra garoth
de qua creauit dominus caput eius. [...]; Airbetach mac Coisse (traduzido do latim), no Codex
Palatino-Vaticanus 830: Cenn ard Adaim etrocht rad. / A tir glan, grianda Garad; /
Abrunnechor nad brecbron, / A tir alaen Arabion / (no Aradon, no Adilon) [...]; nas diferentes
versões do Lebor Gábala Érenn.
A tradição latina a esse respeito (derivada da judaica) surgiu já no período cristão primitivo.
Encontra-se presente na Grã-Bretanha numa interessante passagem do “Ritual de Durham”1:
Octo pondera de quibus factus est Adam. Pondus limi, inde factus est caro; pondus
ignis, inde rubeus est sanguis et calidus; pondus salis, inde sunt salsae larimae;
pondus roris, unde factus est sudor; pondus floris, inde est uarietas oculorum;
pondus nubis, inde est instabilitas mentium; pondus uenti, inde est anhela frigida;
pondus gratiae, inde est sensus hominis.
As oito libras de que Adão é feito. A 1 libra da terra, de onde é feita a carne; a 2
libra do fogo, de onde [é feito] o sangue vermelho e quente; a 3 libra do sal, de onde
são [feitas] as lágrimas salgadas; 4 a libra do orvalho, de onde é feito o suor; a 5
libra da flor, de onde [é feita] a diversidade dos olhos; a 6 libra da nuvem, de onde é
[feita] a fugacidade dos pensamentos; a 7 libra do vento, de onde é [feita] a
respiração fria; a 8 libra da graça, de onde é [feita] a inteligência do homem.
Vamos comparar as duas listas de elementos (que, estando correta a minha derivação,
deveriam chamar-se ranna, “partes”, não dúile):
1
Council of the Surtees Society. Rituale Ecclesiae Dunelmensis. Londres: J. B. Nichols and Son, 1840, p. 192.
Trata-se do rito católico anglo-saxão em uso na Igreja Catedral de Durham (Inglaterra, séc. VII EC).
2
É o plural de pondus (pound em inglês), medida de peso (=453,592 g) chamada libra em português.
Não existe omissão de um nono elemento, pois essas listas não representam uma tradição
irlandesa nativa, mas uma importação que pode ter chegado à Irlanda com os primeiros
cristãos que lá surgiram, levando à ilha tradições que a Igreja Romana depois consideraria
desviantes e literatura religiosa que seria rotulada como apócrifa. A Irlanda ocasionalmente
conservou esse material e devolveu-o ao continente no curso da Idade Média.
Apesar de não considerar essa especulação sobre Nove Elementos historicamente correta,
sinto-me à vontade para defini-la com o provérbio italiano: Se non è vero, è ben trovato (“Se
não é verdade, é bem contado”).
Meus colegas não necessariamente concordam com esta análise (e é bem possível que dela
discordem vivamente). Por quaisquer falhas que possua, confesso-me culpado único.
Einigen, o gigante, o primeiro de todos os seres, viu três raios de luz que desciam do céu.
Esses três raios eram também uma palavra de três sílabas, o verdadeiro nome do deus Celi,
espírito oculto da vida que cria todas as coisas. Neles estava todo o conhecimento que já
existiu, existe ou existirá. Contemplando esses raios, Einigen pegou três bastões de sorveira
brava e neles talhou todo o conhecimento em letras de linhas retas e inclinadas. Porém,
quando outros viram os bastões, compreenderam mal e adoraram os bastões como deuses em
lugar de aprender o conhecimento neles escrito. Tão grandes foram a tristeza e a ira de
Einigen por essa razão que ele se rompeu e morreu.
Quando tinham se passado um ano e um dia após a morte de Einigen, Menw, filho de
Teirwaedd, deparou-se com o crânio de Einigen e viu que os três bastões de sorveira brava
tinham se enraizado dentro dele e estavam crescendo por sua boca. Dele as tradições dos
bastões passaram aos Gwydoniaidd – os antigos sábios dos celtas – e, por fim, deles para os
druidas. Assim, o conhecimento que um dia tinha brilhado em três grandes raios de luz forma
agora a sabedoria da tradição druídica.
O conto do gigante Einigen e dos três raios de luz é o mito de origem da Renovação Druídica.
Os próprios raios formam o símbolo central do Druidismo e surgem constantemente onde
quer que os ensinamentos da Renovação Druídica tenham deixado traços. Eles representam
Awen, o coração do caminho druídico.
O que é Awen? Em seu significado mais básico, significa espírito, inspiração e iluminação.
Awen é a luz interna que dá à mente a habilidade para alcançar além de si mesma. É a Awen
que transforma escritores de versos em poetas e mostra lampejos do futuro a profetas e
videntes.
3
Greer, John Michael. The Druidry Handbook; spiritual practice rooted in the living earth. Red Wheel/Weiser,
LLC, York Beach ME, 2006, p. 49-54. ISBN 1-57863-354-0.
17
momentos de iluminação em que o mundo assumiu um significado profundo. Algumas dessas
experiências, eles sabiam, ocorreram quando as pessoas voltaram sua atenção para fora, em
direção à natureza ou aos grandes poderes espirituais da natureza que o ser humano chama
deuses. Eles sabiam que outras experiências do mesmo tipo tiveram lugar quando as pessoas
voltaram sua atenção para dentro, para o centro de si mesmas.
Esses dois modos de experiência são simbolizados por duas formas de desenhar os três raios
de Luz. A primeira, a forma invocadora \|/, representa a experiência de Einigen – a descida da
Awen de uma fonte divina exterior ao indivíduo. A segunda, a forma evocadora mais
comumente usada /|\, representa a experiência de Menw – o despertar da Awen dentro da alma
individual por meio do estudo e da contemplação. As duas formas juntas compõem o
emblema chamado Tribann.
O próprio discernimento está, na verdade, entre as coisas que o conto de Einigen ensina.
Einigen reconheceu os raios de luz e Menw reconheceu os ramos como portadores de
conhecimento. Os outros que viram os bastões falharam nessa compreensão e adoraram os
bastões em lugar de aprender sua mensagem. Existe aqui uma forte lição sobre a diferença
entre uma religião da crença e uma espiritualidade baseada na compreensão. Os adoradores
dos bastões trataram-nos como objetos de fé e deixaram escapar cada ensinamento que esses
objetos pretendiam transmitir. Do mesmo modo, alguém pode acreditar no relato de Einigen e
Menw e nunca entender que essa lenda tem algo a ensinar.
Entretanto, essa não é a única lição do mito. Os três raios são também três gritos e as três
partes do nome do deus Celi, a fonte oculta de todas as coisas. Esse nome é a própria palavra
Awen, dividida em três sílabas: a-u-en. Pare um momento e pense no que isso significa.
Awen, a iluminação interior que concede dons de poesia e profecia, é o verdadeiro nome da
fonte de todas as coisas. Tocar a Awen é tocar a energia divina que cria o universo. Escrever
4
Na obra Peri theon kai kósmou (“Sobre os deuses e o mundo”), séc. IV da Era Comum (nota do tradutor).
18
um poema que capture um raio de inspiração é representar o feito de Einigen, cujos bastões de
sorveira capturaram a sabedoria manifestada nos três raios de luz. Ler um poema e captar um
vislumbre da inspiração original é representar o feito de Menw. O conto dos três raios de luz é
então recontado em cada obra de criatividade.
Na tradição druídica, os três raios são também os três primeiros raios do sol nascente no
solstício de verão, no solstício de inverno e nos equinócios, brilhando sobre uma pedra ereta e
lançando sua sombra pelo chão. Os raios do Sol traçam a forma invocadora, enquanto as
sombras traçam a forma evocadora.
Um mito antigo, encontrado em muitas lendas descreve a criação do cosmos pelo corpo de um
gigante primordial. Nessas lendas, o crânio do gigante torna-se a abóbada celeste. O mito
galês de Einigen, ecoando esses relatos antigos, mostra bastões de sorveira brava que se
erguem do crânio do gigante morto em lugar das auroras que definem o ano. Desse modo,
outro significado do ano é reencenado a cada ano quando o Sol se ergue nas três posições
fundamentais no horizonte oriental: sudeste no solstício de inverno, nordeste no solstício de
verão, exatamente no leste nos equinócios da primavera e do outono.
Gwron, Plenydd e Alawn são também os nomes de três misteriosas figuras da lenda, os três
primeiros bardos da Grã-Bretanha. Uma narrativa do Bardas afirma que foram eles os
primeiros a instituir os graus de Bardo, Vate e Druida entre os Gwydoniaidd, os mestres da
tradição entre os celtas, nos dias antes que suas perambulações os trouxessem à Grã-Bretanha.
Os Bardos, que preservam o conhecimento do passado, correspondem ao raio do solstício de
inverno. Os Vates, que encontram o poder vivo dos reinos espirituais, correspondem ao raio
do solstício de verão. Os Druidas, que unem conhecimento e poder e tradicionalmente podiam
separar exércitos à beira do combate para trazer a paz, correspondem ao raio central dos
equinócios.
Os Três Raios de Luz, Gwron, Plenydd e Alawn, formam a Primeira Tríade do Druidismo.
19
OS TRÊS CÍRCULOS DA MANIFESTAÇÃO
Bellou̯ esus Īsarnos
Os Três Círculos da Manifestação fazem parte do sistema do Barddas, criado no séc. XVIII
por Iolo Morganwg e ainda usado por um bom número de ordens druídicas atuais. Os três
mundos ou reinos são nele apresentados como círculos concêntricos, que se chamam:
Esses três círculos correspondem à existência mineral, vegetal e animal. Formam o mundo
chamado Ank (Fatalidade), onde a vida encontra-se submetida ao destino.
O aspecto invisível de Ank manifesta-se como 1.2. Ankou ou Ankoun, incorporando todos
os fenômenos da vida subconsciente. Corresponde ao Plano Astral do ocultismo.
Além de Abred, está 3. Gwynfyd, o Mundo Branco, o reino celestial dos espíritos e
divindades acima de nós e/ou na fronteira externa do círculo de Abred, o lar da humanidade.
Se a vida, saída de Annwn, que adquiriu sua individualidade no círculo de Abred, não estiver
pronta para adentrar Gwynfyd, não possuindo afinidade com as condições de vida nesse
plano, obrigatoriamente continuará a viajar pelos círculos de Abred, submetida a Ank.
1 Abred - Ank
1.a Annwn
1.b Gobren
1.c Cenmil
1.2 Ankou/Ankoun
2 Gwynfyd
3 Ceugant
O Barddas descreve a viagem espiritual da alma como uma migração que inicia em Annwn,
o Mundo Inferior, atravessando Abred, onde experimenta a vida de todas as espécies de
criaturas vivas, de fungos a insetos, plantas e animais, tornando-se finalmente um ser humano.
Como humanos, podemos avançar para Gwynfyd e nos tornarmos divinos ou retornar à forma
pré-humana e repetir a tentativa. Talvez essa ideia tenha surgido da observação feita por
Caesar: “Aqueles [i. e., os druidas] desejam sobretudo persuadir de que as almas não
perecem, mas, após a morte, passam de um corpo a outro, e por esse modo julgam excitar ao
20
máximo o destemor nas batalhas e o desprezo ao medo
da morte” (Commentarii de Bello Gallico, VI, 14).
Primeira Tríade
As imagens fundamentais do Druidismo
2 - Os Círculos da Manifestação
3 - Os Elementos da Natureza
Nwyfre - ar
Elementos primordiais Gwyar - água
Calas - terra
Segunda Tríade
Simbolismo espiritual e mágico
1 - Acima e Abaixo
2 - As Estações do Ano
3 - O Ogham
1 - Acima e Abaixo
2 - As Estações do Ano
1. Samhuinn
2. Alban Arthuan - solstício de inverno
3. Imbolc
4. Alban Eiler - equinócio de primavera
5. Belteinne
6. Alban Hefin - solstício de verão
7. Lughnasadh
8. Alban Elfed - equinócio de outono
3 - O Ogham
Terceira Tríade
Grandes figuras míticas que permitem vislumbrar o ensinamento druídico
1. Taliesin, o Feiticeiro Poeta: bardo arquetípico da mitologia britânica, seu mito define o
padrão central da iniciação druídica nesta tradição. Explorar o Hanes Taliesin. Tal Iesin,
“Testa Brilhante”, a luz da corrente lunar.
2. Arthur, o Rei Passado e Futuro: Arthur é Arth Fawr, “Grande Urso”, eixo do céu estrelado
do norte; a Távola Redonda é o círculo das estrelas e os cavaleiros e damas de sua corte,
poderes cósmicos representados em forma humana. Assim como Taliesin fornece o modelo da
iniciação, as lendas de Arthur fornecem os símbolos e narrativas do mundo para o qual o
iniciado entra.
3. Myrddin/Merlin, o Mago: figura sombria de poder imenso; antes de ser habitada por
humanos a Grã-Bretanha já se chamava Clas Myrddin, o Recinto de Merlin. Taliesin é um
amigo e contemporâneo mais jovem de Merlin, ambos acompanham o ferido Arthur à Ilha do
Oeste. Assim como Taliesin fornece o modelo da iniciação e as lendas de Arthur fornecem os
símbolos e narrativas do mundo para o qual o iniciado entra, os relatos sobre Merlin falam do
próprio iniciado: não um bruxo, mas profeta e vidente, conhecedor das coisas ocultas e de
seus significados - magia, no sentido estrito da palavra não é necessária ao caminho do
druida; sabedoria, não poder, é o objetivo de seu trabalho. Meditação e busca pelo
autoconhecimento são o centro vivo da tradição e a porta aberta para suas dimensões mais
profundas. Muito depois de abandonar o plano físico, Merlin permanece um poder vivo no
reino da mente e do espírito humanos, esperando em meditação eterna dentro de sua tumba.
Cada um de nós é essa tumba.
23
AS TRÊS CORRENTES DA NWYFRE*
Como ligação entre a mente e a matéria e poder
por trás dos usos mágicos da intencionalidade, a
nwyfre coloca-se no centro da magia druídica.
Entenda os caminhos da nwyfre e você saberá
tudo o que precisa sobre as artes mágicas.
A corrente solar desce à atmosfera superior da Terra e de lá cascateia para sua superfície. Ela
aumenta e diminui de acordo com a posição do Sol no céu, atingindo a máxima força ao
amanhecer e ao meio-dia, mas está presente mesmo à meia-noite; flui onde quer que a luz
celeste alcance e até mesmo penetra por uma curta distância no solo. Os outros planetas do
sistema solar refletem a corrente solar para a Terra assim como refletem a luz do Sol e seus
ciclos definem o fluxo da corrente solar de maneiras que podem ser traçadas pela astrologia e
outras tradições mágicas de mensuração do tempo. Os símbolos tradicionais da corrente solar
no mito e na lenda são pássaros como a águia, o falcão e a garça. Escritos mágicos
ocasionalmente a chamam aud ou od e na alquimia é o Sol. É simbolicamente masculina e um
de seus nomes é corrente do conhecimento.
A corrente telúrica recebe sua designação de Tellus, um antigo nome romano da Terra. Ergue-
se do âmago da Terra, atravessando a crosta para atingir a superfície e recebe da paisagem sua
forma e características do mesmo modo que a corrente solar tira suas características dos
planetas que se movem. A água subterrânea afeta-a poderosamente e fontes de onde a água
brota na superfície ardem com ela. A serpente e o dragão são os símbolos mais comuns da
corrente telúrica no mito e na lenda. Seus nomes na tradição oculta incluem fogo secreto, a
corrente do dragão e aub ou od e na alquimia é Mercúrio. Seu símbolo fundamental no
Druidismo é o triângulo, representando sua natureza ígnea e transformadora. É
simbolicamente feminina e um de seus nomes é corrente do poder.
As tradições que trabalham com a corrente telúrica têm uma reputação duvidosa nos círculos
ocultistas modernos e em bem poucos casos essa reputação foi merecida. Operações de certos
manuais medievais de magia usam o ritual para conjurar entidades telúricas destrutivas e
desequilibradas das profundezas internas da Terra, de forma que o mago possa submetê-las
com os símbolos da corrente solar, suborná-las
com sacrifícios e forçá-las a obedecer sua
vontade. Essa aproximação é tão perigosa quanto
parece e tende a ser igualmente contraprodutiva,
uma vez que as entidades em questão tendem a
fazer o que puderem para virar o jogo contra seu
pretenso controlador. Algumas das imagens
nesses sistemas derivam de ideias religiosas
populares sobre demônios e isso levou algumas
pessoas, mesmo dentro da comunidade ocultista,
a pensar em toda a magia telúrica como adoração
do demônio.
É bem verdade que a corrente telúrica expressa-se no indivíduo por meio dos aspectos
inferiores da natureza humana - as forças da vida, amor sensual, paixão e o poder que se
enraizam no corpo - mas é somente do ponto de vista de uma perspectiva solar extrema que
inferior significa pior. Esses aspectos da personalidade são inferiores do mesmo modo que o
alicerce é inferior ao edifício que sustenta. Eles evoluíram em eras há muito passadas e
funcionam sem atenção consciente e operam através dos centros de nwyfre no ventre, quadris
e pés, a metade inferior do corpo físico. O centro do ventre, localizado no abdome cerca de
2,5 cm abaixo do umbigo, é o foco principal da corrente telúrica no corpo.
As duas correntes podem interagir de muitas formas diferentes. Num nível mais simples,
podem equilibrar uma à outra como no famoso símbolo taoísta do t’ai-chi (ying-yang). No
ponto de equilíbrio entre elas, existem possibilidades de liberdade e de ação efetiva que não
podem ser acessadas de nenhuma dessas correntes sozinhas.
A terceira relação entre a corrente solar e a telúrica, no entanto, produz os mais profundos e
poderosos resultados. As duas correntes podem fundir-se e essa fusão gera uma terceira
corrente, que é o segredo central da magia druídica.
26
A BUSCA PELO CÁLICE SAGRADO**
A terceira corrente possui muitos nomes, mas o que usarei será corrente lunar. Diferentemente
das correntes solar e telúrica, a corrente lunar não existe naturalmente no indivíduo ou no
mundo. Deve ser criada pela fusão equilibrada das correntes solar e telúrica. A arte de realizar
essa fusão ocupa o centro da magia druídica.
A corrente lunar chama-se aur ou or nos escritos ocultistas. Seu símbolo primordial na
tradição mágica é o crescente lunar e seus símbolos míticos incluem o ovo, a taça sagrada e a
criança. Situa-se entre as correntes solar e telúrica da mesma forma que a Lua ocupa a posição
média ao refletir a luz do Sol para a Terra. Opera em nível mais alto que a corrente solar, uma
vez que ainda se encontra em evolução nos seres humanos e também porque seus centros de
energia localizam-se na cabeça, acima dos centros das correntes solar e telúrica. Seu foco
principal no corpo é o centro pineal, dentro da cabeça e atrás da base do nariz.
Ao passo que a corrente telúrica atua por meio do corpo e de seus apetites e a corrente solar
age através da mente e de suas percepções, a corrente lunar expressa-se pela alma e suas
forças. Quando a corrente lunar desperta no indivíduo, acorda os sentidos interiores e
desdobra-se na iluminação. Ao despertar na terra, traz cura, fertilidade e abundância.
27
Enquanto a lenda do Graal está escrita na linguagem dos romances medievais e inspira-se na
linguagem ainda mais velha e desafiadora dos mitos antigos, ela conta a mesma história que o
pensamento moderno, embora este use o vocabulário mais preciso e menos atraente da
sociologia. A lenda do Graal original surgiu primeiramente ao mesmo tempo que as correntes
intelectuais que, séculos depois, deram nascimento à sociedade industrial e a sua visão de
mundo materialista. A sociedade industrial aparentemente sobrepujou toda oposição, embora
o custo humano terrível desse triunfo tenha sido reconhecido e a própria lenda do Graal -
revivida por poetas do séc. XIX como parte de sua própria rebelião contra a sociedade
industrial - tenha se tornado um dos principais ícones dessa era, um símbolo que resume para
muitas pessoas tudo o que foi perdido no desencantamento do mundo.
A lenda do Graal possui ainda mais relevância hoje, num período em que a crise ambiental e a
loucura industrialista prometem transformar os frutos da Terra Viva numa Terra Erma mais
desolada do que qualquer contador de histórias medieval jamais poderia ter imaginado. A
busca, a coragem guerreira e a arte de perguntar as questões certas ainda possuem um papel
na tarefa de encontrar o Graal hoje, mas as operações mágicas do Druidismo podem ser outro
modo para procurar o Cálice Sagrado em um mundo privado do encanto.
Uma pista que aponta para o funcionamento dessas operações pode ser encontrada na forma
como os símbolos tradicionais das três correntes combinam-se. Como mencionado antes, o
símbolo mágico da corrente telúrica ou fogo secreto é um triângulo com uma ponta para cima;
um disco semelhante ao do Sol representa a corrente solar e um crescente lunar é a Lua. Una
as três formas na ordem em que as correntes manifestam-se no corpo humano e o resultado
será a imagem do Cálice Sagrado, tão familiar ao imaginário ocidental. A magia druídica
investiga o modo como as três correntes são usadas para criá-lo.
28
O TRIBANN
Bellou̯esus Īsarnos
O primeiro raio
Solstício de inverno
Bardos
Passado
\|/ ou /|\
Gwron, o Conhecimento da Awen
Corrente telúrica
Verde (gwyrdd)
Ventre, quadris e pés, a metade inferior do corpo físico. O centro do ventre, localizado no
abdome cerca de 2,5 cm abaixo do umbigo, é o foco principal da corrente telúrica no corpo.
Coire Goiriath (“Caldeirão do Aquecimento/Sustento/Incubação”). O líquido que nele
borbulha é a força vital (dán, “dom, talento, vocação, fado, destino”).
II
O segundo raio
Solstício de verão
Vates
Futuro
\|/ ou /|\
Plenydd, o Poder da Awen
Corrente solar
Azul (glas)
29
29
III
O terceiro raio
Equinócios
Druidas
Presente
\|/ ou /|\
Alawn, a Paz da Awen
Corrente lunar
Branco (gwyn)
Seus centros de energia localizam-se na cabeça, acima dos centros das correntes solar e
telúrica. Seu foco principal no corpo é o centro pineal, dentro da cabeça e atrás da base do
nariz.
Coire Sofhis (“Caldeirão da Sabedoria”). O líquido que nele borbulha é a autorrealização
(bua, “mérito, honra”).
30
O CALDEIRÃO DA POESIA
TRADUÇÃO E COMENTÁRIOS
31
Irlandês Tradução Comentários
Bellou̯ esus: Um antigo poema atribuído ao próprio druida Amhairghin foi localizado em um manuscrito
jurídico do séc. XVI que hoje se encontra no Trinity College of Dublin, catalogado como H 3.18. Esse
poema (datado do começo do séc. VIII, para as partes em verso, e do séc. X, para as partes em prosa, em
razão de certas formas gramaticais) recebeu dos estudiosos modernos o nome de “O Caldeirão da Poesia”.
Citado no “Glossário de O’Davoren” (1569), o nome desse texto aparece sob diferentes formas: In Coire,
Coire Goiriath, In Coire Éarmai, sempre fazendo menção à palavra coire (“caldeirão”). De acordo com o
poema, três caldeirões existem dentro de cada indivíduo.
Rowena: O simbolismo do caldeirão está presente por todos os mitos celtas, incluindo as jornadas
arturianas pela busca do Graal. Como não poderia deixar de ser, os mitos foram associados a três funções
específicas: o Caldeirão da Abundância, o Caldeirão do Renascimento e o Caldeirão da Inspiração.
Atributos esses que são observados na mitologia irlandesa através do Grande Dagda, indo para a
mitologia galesa com os Deuses: Arawn, o Senhor do Submundo; Bran, o Abençoado e Cerridwen, a
Senhora da transformação. Além da própria arqueologia, com a representação artística de Cernunnos no
Caldeirão de Gundestrup, um antigo artefato de prata, ricamente decorado em alto relevo, encontrado na
Dinamarca. “A conexão com uma divindade, compreensivelmente, tem o foco nos Deuses do seu próprio
povo. As divindades são conhecidas por muitos nomes dentro da “tradição celta”, com funções e poderes
surpreendentemente semelhantes. Cada aspecto simboliza uma qualidade do ser e nenhum deles é
unidimensional. Os caldeirões são como pontos de recolhimento de autoconhecimento para absorver os
aspectos e os poderes dos Deuses locais” (Searles O’Dubhain).
Bellou̯ esus: O caldeirão (proto-céltico *ku̯ ari̯ os, gaulês parros/parios, irlandês antigo coire, galês pair,
córnico antigo per) é um dos símbolos mais ricos, complexos e persistentes da mitologia céltica. Alguns
caldeirões das lendas são: 1. O caldeirão de Bran fab Llŷr: Pair Dadeni (“Caldeirão do Renascimento”) -
restaura a vida dos guerreiros caídos; 2. Pair Dyrnwch (o Caldeirão de Dyrnwch, o Gigante, um dos
“Treze Tesouros da Grã-Bretanha”) - não cozinhará a carne para um covarde; 3. Pair Pen Annwfn (o
Caldeirão do Chefe de Annwfn) - aquecido pelo hálito de nove donzelas, não cozinhará comida para um
covarde; 4. Pair Cerridwen (o Caldeirão de Cerridwen) - concede inspiração e poderes proféticos; 5.
Coire an Dagdae (o Caldeirão do Dagda, da mitologia irlandesa) - graças a sua abundância inextinguível,
jamais alguém dele se afastaria insatisfeito. O caldeirão de Cerridwen oferece sabedoria e inspiração
poética. O caldeirão de Bran, regeneração. Os outros são nutridores. Colocados lado a lado, não é difícil
imaginar que todos esses vasos sejam na verdade um só: a representação do renascimento e da fertilidade
e abundância contínuas, tanto espiritual quanto material, o místico poder da sua fervura impregnando tudo
o que nele fosse cozido.
Rowena: Coire Goiriath é a fonte da vida e da juventude. Localiza-se no abdômen, na posição normal
desde o início (para cima). É responsável por manter a saúde e as necessidades básicas de sobrevivência
do ser humano. Neste caldeirão podemos aquecer, ferver ou preparar a saúde física através do fluxo de
Dán (dom). Quando o caldeirão tomba de lado, representa uma doença grave e ao virar de cabeça para
baixo, representa a morte física ou quase-morte. Representa o Reino da Terra e os Espíritos da Natureza.
• Corrente Telúrica: o líquido que borbulha é a força vital.
• Força de Dán: “dom, talento, vocação, fado, destino”.
Rowena: Coire Érmai é a expressão das emoções através da arte poética. Localiza-se no peito, na posição
inclinada (de lado). Todos nós temos dons que nos são dados e é nosso dever aprimorá-los. A expressão
emotiva é que vira o caldeirão de boca para cima através do líquido Brí (essência). Podemos dizer que o
Caldeirão do Movimento segue o fluxo de continuidade do Caldeirão do Aquecimento ao encher e
esvaziar constantemente. A alegria ou a tristeza irá virar e preenchê-lo. Representa o Reino do Mar e os
Ancestrais.
• Corrente Solar: o líquido que borbulha é o poder pessoal.
• Força de Brí: “essência, vigor” - energia que precisa ser desenvolvida.
Rowena: Coire Sois é o que nos une à inspiração divina. Localiza-se na cabeça e nasce na posição
invertida (para baixo). Responsável pelas habilidades e potenciais naturais que podem ser desenvolvidas
ao máximo através do liquido Bua (mérito). Eleva a capacidade humana, fornecendo informações
necessárias para se alcançar a iluminação. É no Caldeirão da Sabedoria que a Imbas/Awen flui
intensamente e onde há a integração entre os caldeirões do Movimento e do Aquecimento. Representa o
Reino do Céu e os Deuses.
• Corrente Lunar: o líquido que borbulha é a autorrealização.
• Força de Bua: “mérito, honra” - o que é alcançado pelo indivíduo.
O caldeirão do
movimento, então, em Bellou̯ esus: Os caldeirões são três,
podendo também cada um deles
todas as pessoas sem arte
Coire érmai dano, cach la assumir três diferentes posições:
está invertido. Está fóen ou uas toíb (em pé, isto é, na
duine is fora béolu atá and
inclinado para o lado em posição correta); de thoíb ou
.i. n-áes dois. Lethchlóen i
pessoas do ofício bárdico lethchlóen (inclinado); fora béolu
n-áer bairdne 7 rand. Is ou for béolu ou ainda is toib
e de pequeno talento
fóen atá i n-ánshruithaib (invertido). A posição em pé é a
poético. Está na posição
sofhis 7 airchetail. Conid considerada ideal; a invertida é a
correta nos maiores dentre menos desejável; a posição
airi didiu ní dénai cach
os poetas, que são grandes inclinada é um estado
óeneret, di h-ág is fora
correntezas de sabedoria. intermediário. Essas posições
béolu atá coire érmai and correspondem: fóen/uas toíb - o
Nem todo poeta o possui
coinid n-impoí brón nó caldeirão está cheio; de
na posição correta, pois o
fáilte. thoíb/lethchlóen - o caldeirão está
caldeirão do movimento meio cheio; fora béolu/for béolu/is
deve ser virado pela toib - o caldeirão está vazio.
tristeza ou pela alegria.
Bellou̯ esus: Este trecho deve ser analisado em conjunto com o que diz “O caldeirão do aquecimento
nasce na posição correta nas pessoas desde o começo”, pois é na verdade um comentário sobre a natureza
de Coire Goiriath. Coire Érmai está invertido em todas as pessoas sem arte, ou seja, ignorantes, e
meramente inclinado nos bardos. Naqueles que são os maiores dentre os poetas, grandes correntezas de
35
sabedoria (implicitamente os ollúna, grau mais alto dos filí), Coire Érmai mostra-se com a boca para
cima. Desse modo, o Caldeirão do Movimento deve ser entendido como continuação do Caldeirão do
Aquecimento. Nos ollúna, Coire Érmai é simplesmente Coire Goiriath em qualquer posição que este
antes se encontrasse, sem que nada lhe fosse acrescentado. Coloca-se uma oposição entre os ollúna, de
um lado, e os anruthanna (segundo grau dos filí), descendo toda a hierarquia dos poetas até chegar ao
baird e às pessoas sem instrução, do outro. Como se dá então que o Caldeirão do Movimento possa ser
cheio e “virado pela tristeza ou pela alegria”? Não se trata de contradição, pois esse é um processo
dinâmico. O Caldeirão do Movimento é a transição entre o Caldeirão do Aquecimento e o Caldeirão da
Sabedoria, ocorrendo entre eles uma sequência de esvaziamentos e enchimentos contínuos. Coire
Goiriath começa com a boca para cima, Coire Érmai inicia no estágio em que o esvaziamento já começou
(inclinado). Este processo se completa e, quando Coire Érmai é cheio novamente, converte-se em Coire
Sofhis.
Loutar andiaid na Fomore dno Lug agus an Eis que Lugh e Ogma perseguiram os Fomoiri, pois
Daghdou agus Ogma, ar cruitire an Dagda ron- tinham levado o harpa [embora o texto mencione
ucsad leo, Uáitniu a ainm. Rosaghad ierum a cruitire, harpista, não harpa, crot] do Dagda, cujo
flettech a mboi Bres mac Elathan agus Elathan nome era Uaitne. Chegaram então ao salão de
mac Delbaith. Is ann boi in crot for in fraighid. Is banquetes [flettech] onde estavam Bres, filho de
si in cruit sin ara nenaisc in Dagdae na ceola Elatha, e Elathan, filho de Delbaeth. Ali estava a
conna rofograighsetor tria gairm co ndegart in harpa [agora sim crot] pendurada na parede. Essa é
Dagda intan atbert annso sis: a harpa em que o Dagda amarrara as melodias
[nenaisc in Dagdae na ceola] a fim de que não
Tair Daur-dablao. soassem até que, pelo seu chamado, ele as
Tair Coir cetharchuir, convocasse; foi então que disse o seguinte:
Tair sam, tair gam,
beola crot agus bolg agus buinne. Vem, Daurdabla,
Vem Coir-cethar-chuir,
Dá n-ainm dno batar foran cruit-sin .i. Dur-dabla Vem, verão, vem, inverno,
agus Coircethairchuir. bocas de harpas [crott] e foles [builge] e flautas
[buinne].
Doluid an crot assan froig ierum, agus marbaid
nónbor, agus tanuicc docum an Daghda, agus Eis que a harpa tinha dois nomes, a saber, Dur-da-
sepainn side a trédhi fora nemithir cruitiri doib .i. bla, “Carvalho-de-dois-florescimentos” and Coir-
súantraigi agus genntraigi agus golltraigi. Sepainn cetharchuir, “Música-de-quatro-ângulos”.
golltraigi doib co ngolsad a mna déracha. Sepainn
genntraigi doib co tibsiot a mna agus a macraith. Então a harpa avançou da parede e matou nove
Sepainn suantraigi doib co tuilset an tsluaigh. Is de homens e chegou ao Dagda. E ele tocou para eles
sén díerlátar a triur slan uaidib ciamadh ail a as três coisas pelas quais os harpistas destacam-se,
ngoin. ou seja, o acorde do sono [súantraigi] e o acorde da
alegria [genntraigi] e o acorde da tristeza [golltraigi]. Tocou-lhes o acorde da tristeza, de forma que suas
mulheres chorosas prantearam. Tocou-lhes o acorde da alegria, assim suas mulheres e crianças riram. E
tocou-lhes o acorde do sono e os exércitos caíram adormecidos. Graças a esse sono, os três escaparam
ilesos dos Fomoiri que desejavam matá-los.
Bellou̯ esus: Endovelicon refere-se a passagens do relato Immram Curaig Mailduin (“A Viagem de Barco
de Máel Dún”), que traduzo em seguida.
XI. Intan iarum arrochiúirtár na hubla hisin, acus 11. Depois de remar por um longo tempo, o seu
ba mór a ngorta acus a n-ítu, acus intan batír lána estoque de maçãs terminou e nada tinham para
a mbéoil acus a sróna di bréntaid in mara, atchiat beber ou comer, de modo que sofriam intensamente
insi ná’bu mór, acus dún indi, acus múr gel ard im sob um sol quente e suas bocas e narinas estavam
sodain amal bad du áel chombruithiu dognethe, no cheias com o cheiro salgado do mar. Por fim,
amal bed oen chloch calca uile. Má a dícsa ón avistaram terra, uma ilhazinha onde havia um
muir acht nad roched néolu. Óebela robói in dún. grande palácio. Ao redor do palácio havia uma
Tige snechtaidi márgela immá-múr. Al-lotar is-tech muralha toda branca, sem mancha ou falha, como
bá moam dib, ni con facatár nech and acht catt bec se tivesse sido construída de cal queimado ou
bó forsind lár oc cluchiu forsna cetheóraib uátnib esculpida de um só rochedo de gesso; e no ponto
acus lecdaib bátar and. Nolinged di cech uáitniu onde se voltava para o mar, era tão alta que parecia
foraraili. Dofhécai biucán na firu, acus nin- quase tocar as nuvens. O portal dessa muralha
tairmesc día chluchiu. Con-accatár iarsin téora externa estava aberto e certo número das belas
sretha isindfhraigid in taige immácuaird ónd casas, todas brancas como a neve, estavam
ursaind díarali. Sreth and chetumus di bretnasaib dispostas junto a ela por dentro, cercando um pátio
ór acus argit, acus a cosa isind fraigid, acus sreth plano para o qual todas as casas abriam-se. Máel
di muntorcaib ór acus argit, mar chirclu dabcha Dún e os seus entraram na maior delas e
cechae. In tres sreth di claidbib móraib co n- caminharam por vários aposentos sem encontrar
imdornaib oir acus airgit. Lána inna himda di ninguém. Mas, quando chegaram ao cômodo
cholcthib gelaib acus di tlachtaib etrochtaib. Dam principal, ali viram um gato pequeno, brincando
bruthe dano acus tinne forsind lár, acus lestra entre alguns pilares quadrados de mármore, que
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mára co ndeglind inmesca. “In dunni forrácbad estavam dispostos em fileira. E a brincadeira do
so?”, ol Mél duin frisin cat. Dosn-écacha gato era pular continuamente de topo de um pilar
talmaidiu acus gabais cluche arísi. Atgéoin iarom ao topo do outro. Ao entrarem no quarto, o gato
Máeldúin ba doib forruised in praind. Praindigsit olhou-os por um instante e não lhes deu mais
iarom acus ibsit acus con-toilset. Dobertatár importância. Em relação ao próprio aposento,
díurad ind lenna isna paitti acus docosechtatár viram três fileiras de joias preciosas penduradas na
diúrad in biid. Intan asbertsat iarom imthecht, parede de um batente da porta ao outro. O primeiro
asbert a thris comalta Máili dúin: “In bérsa lemm era uma fileira de broches de ouro e prata, com os
múince dinaib muincib-se?” “Ni thó”, ol Máel seus alfinetes fincados na parede e as cabeças para
dúin, “ni cen chomet atá a tech”. Dobert cammai fora; o segundo, uma fileira de torques de ouro e
corrici lár ind lis. Dolluid in cat inandiáid, acus prata; e o terceiro, uma fileira de grandes espadas,
lebling trít amal saigit tentidi, acus loiscthi co mbu com empunhaduras de ouro e prata. Havia
lúathred, acus luid arísi cor-rabi for a uáitni. dispostos ao redor da câmara vários divãs, todos
Róailgenaig iarom Máelduin cona briáthraib in puramente brancos e ricamente ornados. Comidas
cat, acus sudigestár in muince ina inad, acus abundantes de várias qualidades espalhavam-se em
glanais a luathred di lár ind lis, acus fochairt i n- mesas, entre as quais viram ou boi cozido e um
alt in maro. Lotar iarum inna curach am-moltais porco assado, e havia grande número de chifre s
acus an-n-adamraigtis in Comdid. para bebida, cheios de boa e inebriante cerveja. “É
para nós que foi preparada essa comida?”, disse Máel Dún ao gato. O gato, ouvindo a pergunta, parou de
brincar e olhou na sua direção, mas recomeçou a brincar imediatamente. Então Máel Dún disse a seus
companheiros que o jantar fora feito em sua intenção. E todos sentaram-se e comeram e beberam até ficar
satisfeitos, depois do que descansaram e dormiram nos divãs. Ao despertar, despejaram numa vasilha o
que sobrara da cerveja o juntaram os restos da comida para levar consigo. Quando estavam partindo, o
irmão mais velho de Máel Dún perguntou-lhe: “Devo levar comigo um dos torques grandes?” “De jeito
nenhum”, disse Máel Dún, “é suficiente que tenhamos ganhado comida e descanso. Não leves nada, pois
é sem dúvida que esta casa não foi deixada sem alguém que a guardasse”. O jovem rapaz, no entanto,
desprezando o conselho de Máel Dún, tirou da parede um dos torques e levou-o. Mas o gato seguiu-o e
alcançou-o no meio do pátio e nele saltou como uma esbraseante flecha de fogo, atravessou o seu corpo e
reduziu-o num momento a uma pilha de cinzas. Voltou então ao aposento, pulou em cima de um dos
pilares e ali ficou sentado. Máel Dún retornou, trazendo consigo o torque e, aproximando-se do gato,
falou-lhe com suavidade; em seguida, recolocou o torque no lugar de onde fora tirado. Tendo feito isso,
juntaram as cinzas do seu irmão de criação e, levando-as à praia, lançaram-nas ao mar. Todos em seguida
voltam ao barco e continuaram a viagem, lamentando o companheiro perdido, porém agradecendo a Deus
as muitas mercês que lhes concedera.
XXXI. Fogabat indsi moir aile, acus mag mor reidh 31. Encontram outra ilha grande, nela existindo
inte. Sochaide mor oc cluiche acus ic gairib cen uma grande planície. Nessa planície estava uma
airisium etir issan magh-sin. Certar crandchor grande multidão, brincando e rindo sem parar. A
léosom duscia dothocradh dul isand-innsi dia sorte foi lançada por Máel Dún e seus homens para
promadh. Dochuir son don très comalta Maile ver a quem caberia descer à ilha e explorá-la. A
duin. A ndoluid sidhe fochetoir gabais cluiche acus sorte coube ao terceiro dos irmãos adotivos de
sirgaire léo, amal bid occaib nobeith o ais. Batar Máel Dún. Ao chegar, começou logo a brincar e rir
re fota cian occa irrnaidhiu, acus ní taneic chucco. continuamente junto aos ilhéus, como se ali tivesse
Fon-acbat iarom. estado por toda a sua vida. Seus companheiros
ficaram por muito, muito tempo, esperando-o, porém não voltou a eles. Então ali o deixaram.
XV. Al-lotár dano ond insi sin in mulinn fúaratár 15. Eis que, quando deixaram aquela ilha do
insi mair acus sochaide mór di dáinib indi. Hit é moinho, encontraram uma ilha grande e nele uma
duba etir churpu acus etach. Cennaithi imma grande multidão de pessoas. Escuras eram estas,
cenna acus ni chumsantais di chui. Dofuit di- tanto em seus corpos quando nas vestes. Faixas em
craindchor don dala comaltai Máili duin dul isin volta das suas cabeças e não paravam de lamentar-
n-insi. Al-luid side cusna dóini robátár oc cói bá se. A sorte desafortunada de desembarcar na ilha
cumthach friu fó-chétoir acus gabais coi léo. Foite coube a um dos dois irmãos adotivos restantes de
dís día thabairt ass acus nin-athgénatár etir a célib Máel Dún. Quando ele aproximou-se das pessoas
fecsit cadesne for cói. Ba hand asbert Mael duin: que estavam lamentando-se, imediatamente
“Tét cethrar uaib”, ol se, “co n-armaib acus começou a fazer o mesmo. Dois homens foram
tucaid na firu arecin, acus ná décid in talmain mandados para buscá-lo, porém não o puderam
nach in n-aer, acus tabrid for n-étaige immóbar reconhecer entre os demais e eles próprios
sróna, acus immóbar mbeolu, acus ná súgid aér in tornaram-se chorões. Máel Dún então disse: “Que
tíre, acus na gataid for sella do for feraib quatro de vós”, falou ele, "vão com suas armas à
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fodeisne”. Dogníth samlaid anísin. Luici in ilha e trazei à força aqueles homens e não deis
cethrar, acus dobertatár léo in díis n-aili arécin. A atenção á terra ou ao ar, e protegei com as roupas
n-immácomraicthe ced atconcatár isin tir, asbertís: vossos narizes e bocas e não respireis o ar da terra,
“Nicon fetammár ám”, ol seatsom, “acht a n- e não ireis os olhos dos vossos próprios homens”.
atcliondcamár dorígensam”. Táncatár iarom Os quatro foram e trouxeram à força os outros dois.
cohellam iarsin ond insi. Quando lhes foi perguntado o que tinham
visto na terra, disseram: “Na verdade, não sabemos”, eles falaram, “mas o que vimos outros fazer,
também o fizemos”. E logo depois partiram da ilha rapidamente.
Endovelicon: Ao acorde da tristeza (golltraigi) da harpa do Dagda correspondem as tristezas que “viram
os caldeirões dos sábios”: ânsia e pesar, ciúme e o esforço da peregrinação aos lugares sagrados. A sua
causa é exterior ao indivíduo, embora este precise lidar com elas internamente. Na “Viagem de Máel
Dún”, seria a Ilha das Lamentações. Ao acorde da alegria (genntraigi) da harpa do Dagda correspondem
as “alegrias humanas entre os sábios”: intimidade sexual, saúde e prosperidade depois do aprendizado
bárdico, a sabedoria pela criação poética e o êxtase da inspiração. Na “Viagem de Máel Dún”, seria a Ilha
do Riso. Ao acorde do sono (súantraigi) da harpa do Dagda corresponde a alegria divina, que o texto do
poema não indica qual seja. Na “Viagem de Máel Dún”, seria a Ilha do Palácio do Gato.
Fó topar tomseo, Boa é a nascente do ritmo, Bellou̯ esus: .I. is maith in coiri asa
toimsidhher fri fidh 7 deach, “isto é,
fó atrab n-insce, boa é a aquisição da fala,
bom é o caldeirão graças ao qual se
fó comair coimseo, boa é a confluência do poder, mede por letra e metros poéticos”,
con-utaing firse. que edifica a força. isto é, o conhecimento da
40
gramática, da escrita e da métrica, que obviamente era um prerrequisito necessário a qualquer pessoa
instruída.
Bellou̯ esus: “Boa é a aquisição da fala”, isto é, a aquisição do poder de compor poesia, ou ser inspirado
.i. is maith in coiri a fuil in tein fesa, “isto é, bom é o caldeirão em que se encontra o ‘fogo do
conhecimento’ (tein fesa)”; assim, as tristezas e alegrias antes mencionadas são tipos diferentes de
inspiração.
Bellou̯ esus: .I. is maith in coiri asa comainsidhther so uile, “isto é, bom é o caldeirão do qual tudo isso é
obtido”.
Is fisigh cidh diandernadh adham .i. do Vale a pena saber que Adão foi feito de
uiii rannaib: in céd rann do talmain: oito partes, isto é: a primeira parte, a terra;
indara rann do muir: in tres rand do a segunda parte, o mar; a terceira parte, o
ghrein: in cethramha rann do nellaib: in sol; a quarta parte, as nuvens; a quinta
cuigid rann do gaith: in séisedh rann do parte, o vento; a sexta parte, as pedras; a
clochaibh: in sechtmadh rann don spirad sétima parte, o Espírito Santo; a oitava
naomh: intochmadh rann do soillsi in parte, a luz do mundo.
domuin.
Dessa lista de correspondências, podemos concluir que há uma simetria entre Adão e o
Mundo: a carne de Adão é a terra do Mundo; o mar do Mundo é o sangue de Adão.
1) terra (carne);
2) mar (sangue);
3) sol (rosto);
4) nuvens (mente);
5) vento (respiração);
6) pedras (ossos);
7) lua (alma) e
8) luz do mundo (devoção)
9) níab (espírito)
Elementos
Caldeirões Força Cósmicos Pessoais Deidade6
9 Sabedoria Bua Lua Alma Anu
8 Sabedoria Bua Luz do Mundo Devoção Manannán
7 Sabedoria Bua Níab Espírito Dagda
6 Movimento Brí Pedras Ossos Cailleach
5 Movimento Brí Vento Respiração Lugh
4 Movimento Brí Nuvens Mente Brigit
3 Aquecimento Dán Sol Rosto Ogma
2 Aquecimento Dán Mar Sangue Morrígu
1 Aquecimento Dán Terra Carne Macha
5
Irlandês antigo níab, “vigor, essência” < proto-céltico *neibos, galês nwyf, “vigor, energia”,
nwyfre,“firmamento, força vital”.
6
A atribuição destas divindades aos elementos é puramente experimental, sem caráter definitivo.
42
Caldeirões Força Localização Mundo Corrente
VII VIII IX
BUA CÉU SABEDORIA
ESPÍRITO DEVOÇÃO ALMA
IV V VI
BRÍ TERRA MOVIMENTO
MENTE RESPIRAÇÃO OSSOS
I II III
DÁN MAR AQUECIMENTO
CORPO SANGUE ROSTO
Sabedoria
IX - influência, irradiação
VIII - valorização
VII - comunicação
Movimento
Aquecimento
Rowena: O “Caldeirão da Poesia” relaciona a poesia ao que está sendo gerado em três
caldeirões internos do homem. Uma visão do macrocosmo refletida no microcosmo
individual. O poema nos diz que cada pessoa possui três caldeirões internos que determinam a
saúde geral, o estado da mente e da psique, em comunhão com o mundo natural. É possível
imaginar uma analogia com o pensamento hinduísta, com a diferença no sentido de como
movimentar, ativar ou derramar essa energia vital. A partir desse princípio, os caldeirões estão
relacionados a nove elementos essenciais ao homem, conhecidos como dúile - empiricamente
o número nove é sinônimo de plenitude para os celtas - e que, por sua vez, estão interligados
ao Cosmos e à natureza, facilitando a manifestação do divino. Os dúile ou elementos do corpo
e os seus correspondentes mágicos são:
43
Dúile
Os Elementos
Correspondências Micro/Macrocósmicas
44
Você pode ter nomes diferentes para esses aspectos e sua existência, mas estes são
os Deuses do meu povo. Uma conexão com a divindade, compreensivelmente, tem
foco um pouco diferente com base nos Deuses do seu próprio povo. As divindades
são conhecidas por muitos nomes dentro tradição celta, com funções e poderes
surpreendentemente semelhantes. Cada aspecto simboliza uma qualidade do ser e
nenhum deles é unidimensional. Os caldeirões são pontos de coleta de
autoconhecimento para os aspectos e os poderes dos Deuses.
Searles O’Dubhain
Bellou̯ esus
Todo esse conhecimento está oculto na linguagem dos antigos poetas. Cada caldeirão possui
três, dessas nove virtudes, que podem ser ativadas através da meditação e da respiração,
fazendo parte das práticas diárias de conexão aos Três Reinos (Céu, Mar e Terra). A alegria
divina e humana ou a tristeza são as responsáveis pelo movimento deles, simbolicamente,
cada caldeirão “concede, é concedido” (ernid ernair), àqueles que buscam sabedoria para os
trabalhos de magia, adivinhação ou cura. O Aquecimento, o Movimento e a Sabedoria são três
aspectos de nós mesmos que, combinados entre si, servem para moldar, aprimorar e iluminar
o nosso caminho junto às tríades sagradas.
Este exercício é uma variação da Respiração de Fogo, uma forma de pranayama (técnica
respiratória) purificadora originária da Kundalini Yoga. A Respiração de Fogo é também
conhecida como Kapalabhati (kapal, “crânio” + bhati, “brilho, iluminação”).
Para fazê-lo, fique em pé, com seus pés separados na largura dos ombros e os joelhos
ligeiramente flexionados.
Coloque a sua mão direita sobre o plexo solar e a esquerda, sobre o seu ventre, pouco abaixo
do umbigo.
Com a ponta da sua língua, toque o céu da boca, mantendo a mandíbula inferior relaxada, com
os dentes separados e as mandíbulas alinhadas.
Afunde suavemente o seu queixo em direção ao peito para deixar o seu pescoço reto.
Quando estiver pronto, comece a respirar. Ao fazê-lo, imagine a energia fluindo para dentro
do seu ventre, ali onde se encontra a sua mão esquerda. Deixe-a encher o seu abdômen e
alimentar o fogo dentro da sua pele, na base da sua coluna.
Enquanto continua a respirar, a energia começará a subir da base da sua coluna para o plexo,
enchendo o Caldeirão do Movimento e fazendo-o virar. Daí, ela subirá à cabeça e fará o
mesmo no Caldeirão da Sabedoria.
Durante essa prática, talvez você sinta o aumento da sua temperatura corporal. Não se alarme,
pois isso é normal. Pode também sentir um ligeiro tremor. Não se assuste. Isso é a nwyfre
movendo-se pelo seu corpo.
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Muirgheal
Qual é então a raiz da poesia e de toda as outras formas de sabedoria? Não é difícil.
Três caldeirões nascem em cada pessoa, isto é, o Caldeirão da Incubação, o
Caldeirão do Movimento e o Caldeirão da Sabedoria.
O Caldeirão do Aquecimento (Coire Goiriath) nasce virado para cima numa pessoa
desde o começo. Distribui sabedoria às pessoas na sua juventude.
O Caldeirão da Sabedoria (Coire Sois) nasce sobre seus lábios [virado para baixo] e
distribui sabedoria em cada arte, além da [em acréscimo à] poesia.
Muirgheal acomodou-se sob o salgueiro na encosta da colina, a pequena árvore perdida num
mar verde. Observou as formas das nuvens até que o espelho de turquesa do céu começasse a
tingir-se de vermelho no horizonte. Pela cortina esfarrapada dos ramos pendentes, a menina
esquadrinhava a distância e via a terra vestir-se com o manto da noite em muda lucidez.
O dia partiu sem um sussurro, deixando para trás campos castanhos e o salgueiro tristonho de
ramos encurvados sob o firmamento inalcançável. O dia partiu em silêncio, escorreu pelas
folhas, enquanto Muirgheal fitava o horizonte, sua mente dançando com o vento que não
conhece fadiga.
Levou então as mãos ao centro do peito, à região do coração, onde se posiciona o Caldeirão
da Vocação. Os vapores subiam do ventre para esse local sob suas mãos e o córrego de ar
agora desaguava ali. Muirgheal viu o grande receptáculo não totalmente emborcado, não
completamente em pé, e inalou profundamente, exalando depressa como alguém que suspira.
Envolvido pelas emanações do Caldeirão do Aquecimento e recebendo o jato prateado do
novo sopro, o vaso do coração aproximava-se da posição ereta. Um fumo tênue já subia de
seu conteúdo.
Muirgheal segurou sua cabeça com as duas mãos e deixou que o ar enchesse seu crânio, sede
do Caldeirão da Sabedoria. Viu então uma grande luz, o salgueiro envolvido pelo poente e a
menina sentada embaixo dele numa pele de veado. E percebeu nesse instante que tinha feito o
bastante para um só dia, pois os cenários do seu desejo tinham se sobreposto a sua realidade.
Turlach, seu tutor, já a advertira: “Iluminar-se não é contemplar figuras de luz, mas fazer a
escuridão consciente”.
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Ela sacudiu as pernas, comeu um pedaço de pão e tomou um gole de água do odre em seu
alforje. Levantou-se, recolheu a pele que lhe servira de tapete e voltou para ajudar sua mãe
adotiva com o jantar.
EXERCÍCIOS DA NWYFRE
A energia básica do universo é toda uma só. Porém, ela é modulada de acordo com os objetos
pelos quais passa. Encontrará essa energia aonde quer que vá, modificada de acordo com
circunstâncias locais, e a ela acrescentará a sua própria energia.
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Comumente, a energia é puxada para dentro para diversos propósitos de cura, mas pode ser
necessário, em certos momentos, que seja externalizada, criando uma barreira de energia ao
seu redor para bloquear um fluxo de força carregado de negatividade.
1 Nwyfre Solar
Tem acesso ao terraço do seu prédio? O melhor horário é entre a aurora e as 10 horas.
Este exercício é especialmente indicado para ajudar na recuperação da saúde depois de uma
doença, contra fraqueza, depressão e falta de energia geral.
Em pé, pés separados na largura do quadril, coluna ereta etc., faça respirações profundas,
inalando a cor verde clara.
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Quando achar que é o momento, comece a erguer os seus braços pelos lados, até formar um
arco suave, as palmas das suas mãos para cima, dedos suavemente estendidos. Fique voltado
para o Sol.
Continue a respirar suavemente a cor verde, deixando que o Sol penetre o seu corpo pelas
palmas das mãos, pelo alto da cabeça e pelas narinas.
Depois de cerca de 3 minutos, comece a descer os braços até a altura da sua testa, as palmas
das mãos viradas para o seu rosto, separadas dele por alguns centímetros. A luz captada do
Sol deve penetrar pela sua testa até o centro da cabeça. Então, descerá as mãos até o plexo
solar e permitirá que a força do Sol chegue até o centro do seu peito.
Repita todo o processo de 3 a 9 vezes. Esse é o exercício para captar a nwyfre solar.
2 Nwyfre Telúrica
Este exercício é indicado para dispersar a tensão, o stress, sensações de desconexão com a
natureza, pensamentos e sensações obsessivos e para acalmar a mente em tempos de
dificuldade.
Em pé, pés separados na largura do quadril, coluna ereta etc., o arco dos braços numa altura
inferior aos seus ombros, palmas das mãos para baixo, dedos estendidos sem tensão,
respirando o verde escuro.
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Sinta a presença da terra embaixo de si e a força que dela sobe. Quanto mais praticar, mais
fácil será sentir o fluxo, mas agora levará as suas mãos até um ponto cerca de 2 cm abaixo do
seu umbigo e mandará a força da terra para a base da sua coluna.
Depois, subirá as mãos até o centro de força da sua garganta e deixará que a nwyfre captada
da terra chegue ao centro do seu pescoço.
3 Nwyfre Arbórea
Trata-se de uma troca. Você dá gás carbônico, as árvores devolvem oxigênio. Você dá energia
estagnada, as árvores devolvem nwyfre limpa. Quem derruba árvores devia ser punido com
chicotadas em público.
Encontre uma árvore disposta a trocar. Sem entrar em detalhes técnicos, seres não-humanos
não compreendem a linguagem humana, mas entendem perfeitamente os nossos padrões
emocionais e respondem de acordo.
Se sentir receptividade da árvore para compartilhar a nwyfre consigo, existem dois métodos
pra isso.
1o. método: Fique em pé ou sente-se com as suas costas junto ao tronco. Para aumentar o
efeito, pode colocar a sua mão esquerda na região lombar com a palma voltada para o tronco
da árvore e a direita abaixo do seu umbigo com a palma para dentro. O trabalho com árvores
neste método visa ao reequilíbrio do sistema nervoso.
2o. método: Tem efeitos curativos nos órgãos do peito e do abdômen. Fique em pé de frente
para a árvore, os seus pés um pouco afastados do tronco, incline-se para a frente e toque o
tronco com a sua testa. Para maior efeito, pode colocar as suas mãos na altura da testa,
formando um triângulo apontado para cima com os indicadores e polegares e fazer como se
estivesse abraçando o tronco com os cotovelos. A troca por dez a quinze minutos fará bem a
si e à arvore.
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4 Yr Wy (“O Ovo”)
Esses três exercícios são formas de trazer a nwyfre para dentro do seu corpo.
O último serve para que a exteriorize, a fim de formar uma barreira protetora contra o influxo
de nwyfre estagnada ou por qualquer motivo deteriorada em qualquer lugar. Lidar com esse
tipo de energia exige um conhecimento mais profundo, porém este exercício serve bem à
necessidade de autoproteção.
Respire
51 durante cerca de 5 minutos, desta vez a cor violeta, inalando e exalando
profundamente a fim de limpar a sua própria energia parada, como se fosse iniciar uma
meditação. Entretanto, em lugar de chamar um tema para a meditação, diga a si mesmo
mentalmente: “Crio o ovo dos druidas” (lembra-se que o ovo é um dos símbolos da corrente
lunar?).
Sinta o ar solidificar-se ao seu redor e veja-se como o centro de uma esfera de cristal que se
estende em todas as direções a partir dos limites do seu corpo físico.
Enquanto o ovo estiver ao seu redor, nenhuma força poderá atingi-lo, nem sair de si. Contudo,
o processo de troca pode ser importante e, quando não for mais necessária, deve dissolver a
barreira expirando profundamente: “Libero o ovo dos druidas”.
Essa prática torna-se muito fácil com a repetição e será capaz de chamar e barreira
rapidamente, mas não pode esquecer-se de dissolvê-la deliberadamente.
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NOVE SELOS: UM SISTEMA ELEMENTAL DE CURA
Endovelicon
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Lorica de Patrício*
Força do CÉU
Luz do SOL
Radiâcia da LUA
Esplendor do FOGO
Velocidade do RAIO
Leveza do VENTO
Profundidade do OCEANO
Estabilidade da TERRA
Firmeza da ROCHA
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Patraicc dorone in nimmun-sa; i Patraicc fez este hino; na época de
naimseir Loegaire meic Néil dorigned; Loegaire mac Neill foi feito e a causa da
fád a dénma immorror dia diden co na sua composição foi a proteção de si
manchaib ar náimdib in báis robátar i mesmo e dos seus monges contra os
netarnid ar na cleircheib. Ocus is inimigos mortais que estavam em
luirech hirse inso fri himdegail cuirp emboscada contra os clérigos. E é uma
ocus anma ar demnaib ocus dúinib ocus couraça de fé para a proteção do corpo e
dualchib: cech duine nosgéba chech día da alma contra demônios e homens e
co ninnithem léir i nDia, ní thairisfet vícios; quando alguém a recitar
demna fria gnúis, bid dítin dó ar cech diariamente com meditação piedosa
neim ocus format, bid comna dó fri sobre Deus, os demônios não ousarão
dianbas. bid lu’rech dia anmain iar na enfrentá-lo, será uma proteção para ele
étsecht. Patraicc rochan so in tan contra todo veneno e inveja, será um
dorata na hetarnaidi ar a chinn ó guarda para ele contra a morte súbita,
Loegaire, na disged do silad chreitme será uma couraça para a sua alma depois
co Temraig, conid annsin atchessa fiad da sua morte. Patraicc cantou-a quando
lucht na netarnade comtis aige alta as emboscadas foram posicionadas
ocus iarróe i na ndíaid .i. Benen; ocus contra ele por Loegaire, a fim de que ele
“fáeth fiada” a hainm. não fosse a Temuir para semear a fé, de
modo que, naquela ocasião, foram vistos
como se fossem cervo selvagens diante
daqueles que estavam em emboscada,
tendo por trás de si um gamo, isto é,
Benen; e Fáeth Fiada é o seu nome.
Tocuirius etrum thra na huile nertso, Invoco, portanto, todas essas forças para
fri cech nert namnas nétrocar fristí intervir
do’m churp ocus do’mm anmain, entre mim e toda força impiedosa e
fri tairchetla saebḟáthe, feroz que possa vir sobre o meu corpo e
fri dubrechtu gentliuchta, a minha alma:
fri sáibṙechtu heretecda, contra encantamentos de falsos profetas
fri himcellacht nidlachta, contra as leis negras do paganismo
fri brichta ban ocus goband ocus druad, contra as falsas leis da heresia
fri cech fiss arachuiliu anman duini. contra o engano da idolatria
contra feitiços de mulheres e ferreiros e
druidas
contra todo conhecimento que seja
proibido à alma humana.
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co nomthair ilar fochraice; que possa vir a mim uma multidão de
Crist lim, Crist rium, recompensas;
Crist i’m degaid, Crist innium, Cristo comigo, Cristo diante de mim
Crist íssum, Crist úasum, Cristo atrás de mim, Cristo em mim
Crist dessum, Crist tuathum, Cristo sob mim, Cristo sobre mim,
Crist illius, Crist isius, Crist i nérus; Cristo à minha direita, Cristo à minha
Crist i cridiu cech duine immimrorda, esquerda,
Crist i ngin cech óen rodomlabrathar Cristo ao deitar, Cristo ao sentar, Cristo
Críst in cech rusc nomdercædar ao levantar
Críst in cech cluais rodamchloathar. Cristo no coração de cada pessoa que
pode pensar em mim!
Cristo na boca de todos que possam
falar comigo!
Cristo em todos os olhos que possam
olhar para mim!
Cristo em todo ouvido que possa me
ouvir!
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Nove Selos
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OS NOVE ELEMENTOS NOS TRÊS CALDEIRÕES: UMA PRÁTICA DE
CURA
Endovelicon
Limpeza
Passe
Consagração
Começando após o Passe, de frente para a pessoa, sentada ou em pé, concentrado nas forças
espirituais de cura:
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para o sistema metabólico-energético, sistema nervoso-sensorial, sistema endócrino
respectivamente;
B) com as mãos voltadas para o Caldeirão do peito, visualize os símbolos do Vento (espiral
violeta), Sol (círculo dourado com 8 raios) e Mar (3 ondas branco-prateadas), projetando as
energias para o sistema respiratório, sistema circulatório/coração, sangue e líquidos orgânicos
respectivamente;
C) com as mãos voltadas para o Caldeirão do ventre, visualize os símbolos da Lua (crescente
negro), Terra (cruz no círculo rosa) e Rocha (polígono azul), projetando as energias para o
sistema gênito-urinário, vísceras abdominais, sistema esquelético respectivamente.
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