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Exposição histórica das concepções sobre a psicose, mais especificamente

sobre a psicose paranoica.

A psicose paranoica é constitucional, isto é, a paranoia é inata. Disso podemos


extrair algumas consequências: (1) há uma pré-disposição que determina seu
surgimento antes da eclosão, propriamente dita, da paranoia. Segundo a teoria
“constitucional” da paranoia, escola francesa, corresponde à presença de traços
de caráter particulares. A pergunta que restaria ao clínico é a seguinte: em que
momento da vida desses sujeitos e por quais razões se daria a eclosão da
paranoia?
A psicose paranoica é uma doença orgânica. Isto é, a ação sobre
determinado grupo de neurônios determina o aparecimento na consciência de
uma série de fenômenos responsáveis por comporem a matéria prima do delírio.
Esses fenômenos seriam automáticos ou, melhor, fortuitos, aos quais se suporia
um agente mítico (como, por exemplo, uma lesão). Isto é, não teriam relação
alguma com aspectos da história da vida do doente. A paranoia, segundo essa
abordagem, corresponderia a uma sucessão fortuita de fenômenos mentais
elementares (ou primários), sobre o quais o delírio viria, secundariamente,
estabelecer-se, conferindo-lhes uma unidade.
Em contrapartida, para Lacan a paranoia se apresenta como um todo,
positivo e organizado, em torno da agitação do desejo que clama saciedade.
Reconhece-se o fim do estado de agitação desejante quando uma determinada
experiência, vivida ativa ou passivamente pelo sujeito, satisfaz sua finalidade.
No caso Aimée, a saciedade está condicionada à punição sofrida por ela,
objeto cuja finalidade . socialmente.

Desejo corresponde ao conjunto de apetites que ultrapassam suas estritas


necessidades de concervação

Esta saciedade em que se reconhece o fim do desejo, nós a vimos condicionada por uma
experiência certamente complexa, mas essencialmente social em sua origem, seu exercício e seu
sentido.

A psicose paranóica de autopunição, com efeito, não revela apenas seu valor de fenômeno de
personalidade por seu desenvolvimento coerente com a história vivida do sujeito (v. parte II,
capo3), seu caráter de manifestação ao mesmo tempo consciente (delírio) e inconsciente
(tendência auto punitiva) do ideal do eu, e sua dependência das tendências psíquicas próprias às
relações sociais (tensões traduzidas imediatamente tanto nos sintomas e conteúdos do delírio
quanto em. sua etiologia e seu desenlace reacional).
Inexplicáveis isoladamente, os fenômenos atribuíveis à paranoia manifestam-se
ordenadamente sob determinadas condições essencialmente sociais e de
maneira cíclica.

Uma espécie de organogênese do mental.

Lacan abandona ambas as hipóteses. Sem antes, contudo, extrair dessas


abordagens o que lhe interessa.

Ao contrário,

num determinado momento da vida dessas pessoas;

Primeiro: de que a paranoia é uma psicose;


Segundo: de que há uma psicose que não é paranoide;
O que especifica que que essa psicose é paranoide?

Os fenômenos elementares na tese de Lacan sobre a psicose paranoica

Em sua tese, Lacan irá contrastar, principalmente, duas abordagens sobre a


paranoia: a da escola francesa e a da escola alemã. Para a primeira, a eclosão
da paranoia é o desabrochar natural e fatal de uma constituição. Enquanto que
para a segunda, a paranoia é resultado de reação do sujeito a situações vitais.
Lacan situa os fenômenos elementares no interior das teorias da escola alemão,
para qual esses fenômenos constituem uma reação neurônica qualquer
(automatismo mental) a causas exteriores.

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