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Tópicos Especiais de Economia XVIII (A

(ANE050))
Economia Urbana
Prof. Dr. Admir Antonio Betarelli Junior

Esta nota de aula tem o propósito de sintetizar o conteúdo exposto em aula a partir das
referências listadas na disciplina. Representa, pois, um parâmetro, não sendo um
documento exclusivo para o estudo. Grande parte do conteúdo reproduz trechos traduzidos
livremente das referências, especialmente:
O’SULLIVAN, A. Urban Economics. 8th ed. New York: McGraw-Hill, 2011. cap. 1.

AULA 1 – Introdução à Economia Urbana, conceitos e axiomas

1 Economia Urbana
Economia urbana é um ramo de estudo com praticamente 50 anos de
existência, nascida da economia regional. Alonso (1964), Mills (1967) e Muth
(1969) são considerados, por vezes, os fundadores deste campo da economia,
com forte influência teórica do modelo de von Thünen (1842). O principal
objetivo da economia urbana é explicar a estrutura interna das cidades, ou
seja, busca compreender a organização e distribuição urbana das atividades
econômicas e humanas (das famílias)(CRUZ et al., 2011). Por outro lado,
este ramo de estudo busca explicar o porquê as cidades possuem um
(monocêntrica) ou mais Distrito Central de Negócios (DCN) (policêntrica).
A distribuição do uso da terra entre residências, fábricas, escritório e
infraestrutura influenciam a própria localização das atividades humanas e
sociais (e.g., trabalho, compras, educação e lazer), e vice-versa (BUTTON,
2010). Elas são interdependentes. Ou melhor, pessoas são atraídas pelas
oportunidades oferecidas na cidade. Os grandes centros urbanos, ao
contrário dos menores e das zonas rurais, tendem a oferecer a seus
residentes atrações culturais (e.g., cinemas, teatros, bibliotecas, museus e
shows), proporcionam acessos à oferta de serviços específicos (e.g.,
restaurantes étnicos, especialidades médicas e educação superior) e são
grandes polos de emprego (GALINARI, 2006).

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Já a concentração de atividades econômicas nas cidades se justifica
principalmente pelas economias de aglomeração provenientes de
externalidades positivas geradas pela proximidade geográfica dos agentes
econômicos, que favorecem a elevação da produtividade das firmas,
contrapondo-se aos efeitos negativos do próprio crescimento das cidades
(e.g., poluição, trânsito, criminalidade, congestionamentos) (GALINARI,
2006).
Nesse processo de aglomeração econômica emergem centros urbanos de
diversas dimensões: metrópoles, cidades ou pequenas cidades. A diversidade
econômica de uma cidade é fomentada pelas interações entre os setores
localizados nela. Um grande numero de variedades produzidas localmente
fará a localização mais atrativa para os consumidores, ampliando, por
conseguinte, o tamanho do mercado local e atraindo ou desenvolvendo novas
atividades produtivas. Nesse sentido, o ambiente econômico local de uma
cidade deve gerar vantagens de escala do processo de urbanização em razão
da diversidade das atividades produtivas, revelando principalmente os
serviços produtivos. O crescimento das cidades está relacionado com a
própria especialização produtiva, com a sua diversidade econômica e a sua
localização relativa aos demais centros urbanos.
Ademais, o crescimento de cidades grandes é mais dinâmico. Ela cresce,
não somente com o tempo, mas no espaço. Com efeito, cresce para cima (em
densidade), assim como para fora (em área) (RICHARDSON, 1978). Uma
vez que as cidades apresentam tamanhos diferentes, isto leva ao surgimento
de uma hierarquia entre elas e a conformação de uma complexa rede
urbana. Em suma as cidades são como ilhas flutuantes, sendo que algumas
se especializam em determinadas atividades, enquanto outras se
diversificam.

1.1 Definição geral

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A economia urbana é uma disciplina que se encontra na interseção de
geografia e economia. A Economia explora as escolhas das famílias que
maximizam as suas utilidades com recursos limitados, enquanto que as
firmas maximizam os lucros com uma dada tecnologia de produção
(O’SULLIVAN, 2011). Por outro lado, a geografia estuda como as coisas
estão organizadas no espaço, respondendo a questão: Onde a atividade
humana ocorre?

Geografia
Economia:
Onde a
Famílias e
atividade
Firmas
humana ocorre?

Economia Urbana
Escolhas Políticas
ótimas de públicas
Problemas
localização
urbanos

A economia urbana explora as decisões locacionais das famílias


(maximizadoras de utilidade) e firmas (maximizadoras de lucro) e mostra
como essas decisões determinam a formação de cidades em diferentes
tamanhos e formas. A economia urbana também identifica as ineficiências
típicas das grandes cidades, como poluição, trânsito, criminalidade, as quais
aparentemente deveriam repelir os agentes econômicos. Após esse
diagnóstico, esse ramo de economia examina políticas públicas alternativas
para promover escolhas locacionais eficientes. Ou seja, quais medidas

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poderiam diminuir a criminalidade em uma cidade? Qual política poderia
atenuar o problema de congestionamento e transporte público?
Nesse ramo de estudo existem seis áreas relacionadas, quais sejam:
a) Forças de Mercado no desenvolvimento de cidades. As decisões
locacionais inter-urbanas de firmas e famílias geram cidades de
diferentes tamanhos e estrutura econômica (base econômica). Nessa
área exploram-se questões de porque as cidades existem e porque
existem cidades grandes e outras melhores?
b) Uso do solo dentro das cidades. As decisões locacionais intra-urbanas
de firmas e famílias geram padrões urbanos de uso da terra. Por
exemplo, nas cidades modernas os empregos estão distribuídos em
toda a área metropolitana, enquanto que cidades de até 100 anos
geralmente exibem uma concentração espacial de empregos em sua
área territorial. É possível, inclusive, explorar questões de segregação
com respeito à raça, renda e nível educacional;
c) Transporte Urbano. Exploram-se algumas possíveis soluções para o
problema de congestionamento urbano e visualiza o papel do
transporte em massa na área urbana. Por exemplo, é possível
identificar se o sistema de ônibus é mais eficiente que o sistema de
metrô (O’SULLIVAN, 2011). O modelo também explica como o
desenvolvimento de modernos meios de transporte (automóveis e
transporte de massa) gerou a suburbanização e o achatamento da
densidade populacional urbana, uma situação conhecida como
espraiamento (sprawl) urbano (CRUZ et al., 2011).
d) Crime e política pública. Analisa o problema de crime urbano e
mostra os vínculos entre o crime e outros problemas urbano, tais como
a pobreza e o baixo nível educacional;
e) Habitação (moradias) e políticas públicas. As escolhas habitacionais
são vinculadas com as escolhas locacionais, uma vez que as habitações
são imóveis. Nessa área discute-se o porquê a habitação é diferente de
outros produtos e como as políticas de habitação trabalha;
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f) Impostos e gastos do governo local. Sob um sistema fragmentado de
governo local, muitas áreas metropolitanas têm tem dezenas de
governos locais, incluindo municípios, distritos escolares e distritos
especiais. Fazendo escolhas locacionais, famílias consideram uma
mistura de taxas e bens públicos locais (O’SULLIVAN, 2011).

2 O que é cidade?
Um economista urbano define uma área urbana como uma área
geográfica que contém um grande número de pessoas em um espaço
geográfico relativamente pequeno. Em outras palavras, uma área urbana
tem uma densidade populacional que é relativamente alta em relação à
densidade de uma área circundante. Esta definição acomoda áreas urbanas
de tamanhos muito diferentes, de uma cidade pequena a uma grande área
metropolitana. A definição é baseada na densidade populacional, pois uma
característica essencial de uma economia urbana é o contato frequente entre
diferentes atividades econômicas, o que só é possível se as firmas e
domicílios estão concentrados em uma área relativamente pequena. Existe
um conjunto de definições quanto à cidade, essenciais para o entendimento
dos estudos em Economia Urbana (O’SULLIVAN, 2011). As definições
comuns são:
a) Área Urbana: a área geográfica densamente povoada com uma
população mínima de 2.500 pessoas e uma densidade mínima de 500
pessoas por quilómetros quadrado.
b) População urbana: as pessoas que vivem em áreas urbanas.
c) Área metropolitana: uma área central com um núcleo populacional
substancial, juntamente com as comunidades adjacentes que são
integradas, em um sentido econômico, com a área central. Para se
qualificar como uma área metropolitana, a população mínima é de
50.000 pessoas.

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d) Área micropolitana: uma versão menor de uma área metropolitana
com uma concentração de 10.000 a 50.000 pessoas. Em 2000, havia
559 áreas nos Estados Unidos.
e) Cidade principal: o maior município em cada área metropolitana ou
micropolitana. Um município é definido como uma área sobre a qual
uma corporação exerce autoridade política e fornece serviços do
governo local, tais como: o serviço de esgoto, proteção contra crime e
corpo de bombeiros (O’SULLIVAN, 2011).

A pesquisa sobre as regiões de influência das Cidades (REGIC),


elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) desde
2007, disponibiliza informações acerca da centralidade e interações das
cidades a partir dos fluxos de bens e serviços no país (IBGE, 2008). Envolve-
se, pois, com elementos teóricos do ramo da economia urbana e regional,
particularmente no que diz respeito ao sistema urbano hierárquico e
multifuncional, sendo o espaço constituído e organizado por um núcleo
urbano circundado por regiões complementares. Nessa pesquisa, o IBGE
(2008) apresentou as seguintes classificações e definições:

a) Metrópoles: são os 12 principais centros urbanos do País, que


caracterizam-se por seu grande porte e por fortes relacionamentos
entre si, além de, em geral, possuírem extensa área de influência
direta. Dividem-se entre: Grande metrópole nacional – São Paulo, o
maior conjunto urbano do País, com 19,5 milhões de habitantes em
2007; Metrópole nacional – Rio de Janeiro e Brasília, com população
de 11,8 milhões e 3,2 milhões em 2007, respectivamente, também
estão no primeiro nível da gestão territorial. Juntamente com São
Paulo, constituem foco para centros localizados em todo o País; e
Metrópole – Manaus, Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo
Horizonte, Curitiba, Goiânia e Porto Alegre, com população variando

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de 1,6 (Manaus) a 5,1 milhões (Belo Horizonte), constituem o segundo
nível da gestão territorial.
b) Capital regional – integram este nível 70 centros que, como as
metrópoles, também se relacionam com o estrato superior da rede
urbana. Com capacidade de gestão no nível imediatamente inferior ao
das metrópoles, têm área de influência de âmbito regional, sendo
referidas como destino, para um conjunto de atividades, por grande
número de municípios. Existem três subdivisões: Capital regional A –
constituído por 11 cidades, com medianas de 955 mil habitantes e 487
relacionamentos; Capital regional B – constituído por 20 cidades, com
medianas de 435 mil habitantes e 406 relacionamentos; e Capital
regional C – constituído por 39 cidades com medianas de 250 mil
habitantes e 162 relacionamentos. A cidade de Juiz de Fora foi
classificada como Capital Regional (2B).
c) Centro sub-regional – integram este nível 169 centros com atividades
de gestão menos complexas, dominantemente entre os níveis 4 e 5 da
gestão territorial; têm área de atuação mais reduzida, e seus
relacionamentos com centros externos à sua própria rede dão-se, em
geral, apenas com as três metrópoles nacionais. Com presença mais
adensada nas áreas.

A Figura 1 abaixo ilustra a rede urbana com essas classificações ao longo


do território nacional. Tão breve, ao discutirmos sistemas urbanos ou de
cidades, retomaremos esses conceitos de maneira prática. Por momento, o
importante é diferenciar e apresentar os conceitos para o Brasil.
Ao longo da disciplina serão utilizados três termos para se referir à
concentração espacial da atividade econômica: área urbana, área
metropolitana e cidade. Estes três termos, os quais serão usados
indistintamente, referem-se à cidade econômica (i.e., uma área com uma
densidade populacional relativamente alta que contém um conjunto de
atividades estreitamente relacionadas), e não a cidade política. Ao se referir
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a uma cidade política, usa-se o termo central da cidade ou município. Esta
definição acomoda áreas urbanas de tamanhos muito diferentes, ou seja, de
uma cidade pequena a uma grande área metropolitana. A definição é
baseada na densidade populacional, porque uma característica essencial de
uma economia urbana é o contato frequente entre diferentes atores
econômicos (O’SULLIVAN, 2011).

Figura 1 – Rede urbana brasileira (2007)

3 Porque as cidades existem?


Esta é a questão fundamental da economia urbana. As pessoas
precisam de terra para produzir alimentos e outros recursos, e de viver em
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cidades densas e separar da área rural onde o alimento é produzido. Talvez
uma analogia próxima de uma cidade no mundo natural é uma colmeia de
abelhas ou um formigueiro, cujos insetos revelam funções e atividades
distintas. As cidades existem porque a tecnologia humana criou sistemas de
produção e de troca que parecem desafiar a ordem natural. Três condições
devem ser satisfeitas para uma cidade se desenvolver:
1) Excedente agrícola: os agricultores, residentes fora das cidades,
são autossuficientes e seu excedente de produção rural é
comercializado na cidade;
2) Produção Urbana. Os moradores da cidade devem produzir bens
ou serviços para facilitar o intercâmbio de alimentos e produtos
urbanos;
3) Transporte para troca. Deve haver um sistema de transporte
eficaz para facilitar o intercâmbio entre produtos alimentares e
urbanos.

Para Cantillon (1952), a origem das cidades poderia ser creditada à


concentração de propriedade de terras, o que permitiu aos patrões viverem a
uma distância de suas propriedades em lugares onde poderiam “desfrutar
uma sociedade agradável”, e às demandas dos patrões, que atrairiam
artesãos e mercadores. Já Beckmann (1972) se concentrou no trade-off entre
o desejo de um indivíduo interagir com outros e a sua necessidade de
consumir uma extensa porção de terra. De acordo com estas preferências, o
contato interpessoal estimula a urbanização (CRUZ et al., 2011).
Entre 1960 a 2015, tal proporção das pessoas que vivem nas cidades
no mundo passou de 33,6% para quase 54% ((WORLDBANK, 2016). Em
outras palavras, a área urbana tem uma densidade populacional
relativamente maior quando comparada a da área rural em 2015. Essa
definição trata áreas urbanas de diversos tamanhos, de uma pequena cidade
até uma grande área metropolitana. A transformação de uma sociedade
rural para uma urbana ocorreu em razão dos progressos tecnológicos, do
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crescimento do excedente agrícola (condição 1), do aumento da
produtividade dos trabalhadores urbanos (condição 2) e da expansão da
eficiência de transporte e intercâmbio (condição 3) (O’SULLIVAN, 2011).
A Figura 2 apresenta as taxas de urbanização para diferentes regiões
do mundo, com projeções para o ano de 2030. Em 1950, as taxas de
urbanização foram relativamente baixas na África e na Ásia, e mais elevada
na Oceania e América do Norte. Para o mundo, a taxa de urbanização era
30% em 1950 e espera-se dobrá-la até o ano de 2030. No Brasil, entre 1960 a
2015, observa-se que a taxa de urbanização passou de 46,1% para 85,6%
(WORLDBANK, 2016), ratificando a significativa produção da espacialidade
urbana no país entre os períodos.

Figura 2 – Taxas de urbanização, por região mundial, 1950–2030

Ademais, o mapa da Figura 3 aponta que as maiores cidades no mundo


estão localizadas em países em desenvolvimento. Isso também reforça um

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dos fatos estilizados em Economia Urbana, que será apresentado no final
desse documento.

Figura 3 – Tamanho populacional nas maiores cidades mundiais

4 Os cinco axiomas de economia urbana


Economia Urbana explora as escolhas locacionais de famílias e
firmas, assumindo que as mesmas são móveis. Entretanto, as pessoas não
alteram instantaneamente seus locais de trabalho e residências quando as
circunstâncias mudam. Por conseguinte, um modelo de mobilidade perfeita
nos diz mais sobre as mudanças no longo prazo do que em curto prazo.
Embora a maioria dos modelos de economia urbana assuma a hipótese de
mobilidade perfeita, há exceções, que serão destacadas em futuras análises.
Nesta parte, cabem apresentar os cinco axiomas da economia urbana. O
axioma é uma auto evidência de verdade, algo que a maioria das pessoas
facilmente compreende e aceita. Os cinco axiomas estão no cerne da
economia urbana e, juntos, fornecem uma base para os modelos econômicos

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de escolhas locacionais. São axiomas que aparecem repetidamente
(O’SULLIVAN, 2011).

Axioma 1: Os preços se ajustam para atingir o equilíbrio locacional

Um equilíbrio locacional ocorre quando ninguém tem um incentivo


para se mover. Suponha que você e João estão competindo por duas casas de
aluguel, uma ao longo de uma bela praia e outra ao longo de uma estrada
barulhenta. Se as duas casas têm o mesmo preço (o mesmo aluguel mensal),
você preferiria a casa de praia, assim como João. Mesmo que lançasse uma
moeda e concedesse a casa de praia para o vencedor, esta negociação não iria
gerar um equilíbrio locacional, pois a pessoa azarada, que ficaria na casa
situada próxima a rodovia, teria um incentivo para mover para a casa mais
desejável (O’SULLIVAN, 2011).
O equilíbrio locacional requer um preço mais elevado para a casa de
praia. Para eliminar o incentivo de se mover, o preço da casa de praia deve
ser alto o suficiente para totalmente compensar o melhor ambiente. A
pergunta é: Quanto dinheiro você estaria disposto a sacrificar para viver na
praia? Se a sua resposta é de US$ 300 e João concordar, então o preço de
equilíbrio da casa de praia será de US $ 300 mais alto do que o preço da casa
na estrada. De um modo geral, ajustam-se os preços para gerar o mesmo
nível de utilidade em diferentes ambientes, levando as pessoas a viver em
locais desejáveis e indesejáveis (O’SULLIVAN, 2011).
Esse tipo de forças econômicas opera no mercado de trabalho.
Trabalhadores competem por trabalhos em locais desejáveis, causando
salários mais baixos em locais mais desejáveis. Suponha que você está
competindo com Rick por dois empregos, um em Juiz de Fora e outro em
Belo Horizonte. Belo Horizonte apresenta um ambiente social mais
estimulante. Se a diferença do salário mensal for $500 a fim de compensar
totalmente o meio social distinto entre as duas cidades, então o salário de
equilíbrio será de $ 500 mais baixos em Belo Horizonte. Os dois
trabalhadores serão indiferentes entre as duas cidades, porque um
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movimento para Belo Horizonte significaria um corte salarial de $500. No
mercado de trabalho, os salários ajustam para levar as pessoas a trabalhar
em ambientes desejáveis e indesejáveis (O’SULLIVAN, 2011).
O preço da terra também ajusta para garantir o equilíbrio locacional
entre firmas. Firmas competem por terras mais acessíveis em uma cidade.
Em razão disso, há um acirramento de competição pelo uso da terra próxima
ao centro da cidade, e, portanto, a mais cara. Em equilíbrio, firmas
instaladas em áreas (terras) mais distantes do centro pagam um preço mais
baixo pelo uso do solo (terra). Inversamente, firmas localizadas próximas ao
centro da cidade, tendem a pagar relativamente mais caro pelo uso da terra
(O’SULLIVAN, 2011).

Axioma 2: Efeitos de auto reforço geram resultados extremos

Um efeito de auto reforço é uma mudança de algo que leva a alterações


adicionais no mesmo sentido. Considere uma cidade onde os vendedores de
automóveis são inicialmente distribuídos uniformemente por toda a cidade.
Se um vendedor se transfere ao lado de outro vendedor em uma estrada, o
que acontece? Consumidores de automóveis comparam marcas antes de
comprar, e o par de vendedores nessa estrada irão facilitar compras pela
comparação, que devem atrair mais clientes. O aumento do trafego de
consumidores na estrada irá tornar a área atrativa para os vendedores de
automóveis, de modo que eles também irão se transferir para a estrada. O
resultado final é uma "fileira", um conjunto de firmas que competem umas
contra as outras, mesmos aquelas localizadas nas proximidades
(O’SULLIVAN, 2011).
Mudanças de auto reforço também influenciam nas decisões de
localização das pessoas. Suponha que os artistas e tipos criativos são
inicialmente distribuídos uniformemente entre uma dúzia de cidades em
uma região. Se uma cidade experimenta um influxo de artistas, seu
ambiente criativo melhorará, pois os artistas (1) expõem mais ideias e
técnicas de fabricação e (2) podem compartilhar estúdios, lojas de impressão,
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fornecedores de ferramentas, e outras instalações. O grupo de artistas vai
atrair outros artistas da região, causando uma concentração de produção
artística em uma cidade. Nas últimas décadas, cidades que têm atraído os
artistas e pessoas criativas têm experimentado um crescimento
relativamente rápido (e.g., Florida em 2002) (O’SULLIVAN, 2011).

Axioma 3: Externalidades causam ineficiências

Na maioria das transações, os custos e benefícios da troca são


confinados aos compradores e vendedores individuais. O consumidor paga
um preço igual ao custo total da produção do bem, para que ninguém mais
carrega um custo da transação. Da mesma forma, o consumidor é a única
pessoa a beneficiar do produto. Em contraste, uma externalidade ocorre
quando alguns dos custos ou benefícios de uma transação são
experimentados por alguém que não seja o comprador ou vendedor, isto é,
alguém externo à transação (O’SULLIVAN, 2011).
Um custo externo ocorre quando um consumidor pagar um preço que
é menor do que o pleno custo de produzir um bem. O preço de um produto
sempre inclui os custos de trabalho, de capital e matérias-primas utilizadas
para produzir o produto, mas geralmente não incluem os custos ambientais
da produção do produto. Já um benefício externo ocorre quando um bem
comprado por uma pessoa gera um efeito positivo para alguém. Por exemplo,
pintar minha casa pode melhorar a aparência de meu bairro, aumentando o
valor da casa do meu vizinho (O’SULLIVAN, 2011).
Quando existem custos ou benefícios externos, o equilíbrio do mercado
não será socialmente eficaz. No caso dos custos externos, as pessoas pagam
menos do que o custo social total (custo privado mais o social). Em muitos
casos há uma solução simples: internalizar a externalidade com um imposto
ou um subsídio (O’SULLIVAN, 2011).

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Axioma 4: A produção está sujeita a economias de escala

Economias de escala ocorrem quando o custo médio de produção


diminui à medida que a produção aumenta. Quando a curva de custo médio
de longo prazo é negativamente inclinada, diz-se que há economias de escala
na produção. Economias de escala podem ocorrer por dois motivos:
a) Insumos indivisíveis. Alguns insumos de capital são
"irregulares" e não pode ser requerido para pequenas escalas de operações
produtivas. Como resultado, uma pequena operação tem o mesmo insumo
indivisível com em uma grande operação. Por exemplo, para a fabricação de
geladeiras, é preciso de um molde, mesmo que para uma produção de uma
unidade ou mil unidades. Como a produção aumenta, o custo médio diminui
porque o custo do insumo é indivisivelmente distribuído por mais bens
produzidos.
b) Especialização do fator. Uma pequena escala de produção, um
trabalhador realiza uma grande variedade de tarefas de produção. Já em
uma operação maior, com mais trabalhadores, cada trabalhador especializa
em algumas tarefas, levando a uma maior produtividade por causa da
continuidade (menos tempo é gasto ao mudar de uma tarefa para outra) e
proficiência. Como veremos na disciplina, as economias de escala
desempenham um papel vital nas economias urbanas. Se não há economias
de escala, também não haverá cidades. Será caro transportar produtos a
partir de um local de produção para os consumidores. A produção
centralizada em cidades será sensata se há alguma vantagem a mais do que
os custos de transporte deslocamentos.

Axioma 5: Concorrência gera lucro econômico zero

Quando não há restrições à entrada de firmas em um mercado,


esperam-se que novas firmas entrem no mercado até que o lucro econômico
firmas seja nulo. Cabe ressaltar que o lucro econômico engloba também os
custos de oportunidade de um empreendimento.

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Na economia urbana, a competição tem uma dimensão espacial. Cada
firma entra no mercado em algum local, e o lucro de cada firma é afetado
pelas localizações das outras firmas. A competição espacial parece muito
com concorrência monopolística, uma estrutura de mercado na qual as
firmas vendem produtos pouco diferenciados em um ambiente de livre
entrada. Cada firma tem o monopólio para a sua diferenciação de produto,
mas a livre entrada leva para uma forte concorrência, pois os consumidores
podem facilmente mudar de um produto diferenciado para outro. Com a
concorrência espacial, cada firma tem um monopólio local na área
imediatamente em torno do seu estabelecimento, mas a hipótese de livre
entrada leva a uma forte concorrência (O’SULLIVAN, 2011).

5 Alguns fatos estilizados na Economia Urbana


Estudos empíricos têm estabelecidos um número de fatos estilizados
sobre a composição, o tamanho e localizações de cidades. Podem-se sumariar
alguns deles:
Fato estilizado 1. Países urbanizados são os mais ricos.
Fato estilizado 2. Pessoas e atividades econômicas se aglomeram no
espaço.
Fato estilizado 3. Existem aglomerações de cidades.
Fato estilizado 4. Na maioria das vezes, grandes cidades se localizam em
países em desenvolvimento.
Fato estilizado 5. Algumas cidades crescem mais rápido que outras.
Fato estilizado 6. Especialização e diversificação coexistem em cidades.
Fato estilizado 7. Grandes cidades tendem a ser mais diversificadas.
Fato estilizado 8. Cidades populosas são as maiores.
Fato estilizado 9. Renda fundiária (preço/m2) difere no espaço.
Fato estilizado 10. Grandes cidades têm maiores taxas de crime e
congestionamentos.

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Exercícios
1) Afinal, o que o ramo de estudo “Economia Urbana” trata?
2) O que é cidade e porque elas existem? Explique as condições básicas
para o desenvolvimento de uma cidade?
3) Exemplifique três axiomas em Economia Urbana.
4) Conceitue as regiões urbanas e metropolitanas conforme o IBGE.
(Use, se possível, os conceitos das notas técnicas). Ademais, o que é
uma cidade econômica?
5) A partir das informações estatísticas do IBGE (2008), caracterize um
município de interesse em termos de: tamanho populacional,
composição do PIB (estrutura produtiva), taxa de urbanização e sua
classificação – as regiões de influência das Cidades (REGIC).
Links para obter informações:
http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/geografia/regic.shtm?c=7
http://www.ipeadata.gov.br/
Exemplo da questão 5.
O munícipio de Juiz de Fora apresenta um total de 516 mil residentes
locais, cuja população está localizada proeminentemente na área
urbana (98% do total de residentes), de acordo com o Censo
demográfico de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE). A economia de Juiz de Fora é a quinta maior do Estado de
Minas Gerais e cresceu cerca de 10% entre 2006 a 2010, registrando
uma significativa taxa anual média de 2,4%. De acordo com o IBGE,
em 2012, o seu Produto Interno Bruto (PIB) atingiu
aproximadamente R$ 10 bilhões em 2012 (preços correntes). Juiz de
Fora compreende uma área total de 1429,8 km² e com um perímetro
urbano de 317,7 km². Na economia de Juiz de Fora, o setor de
serviços, inclusive administração, saúde e educação públicas e
seguridade social, é o mais significativo, com 73,75% do Valor
Adicionado (VA) de Juiz de Fora (R$ 6,2 bilhões a preços correntes) e
2,85% do VA de Minas Gerais. Por outro lado, o setor de industrial
tornou-se menos significativo entre 2005 e 2012, passando de 28,1%
para 25,8% no VA. A cidade de Juiz de Fora foi classificada como
Capital Regional (2B), a quarta na hierarquia das centralidades no
território brasileiro.

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Leituras interessantes:
· A distribuição urbana de mercadorias e o planejamento da mobilidade urbana
http://www.antp.org.br/noticias/ponto-de-vista/a-distribuicao-urbana-de-
mercadorias-e-o-planejamento-da-mobilidade-urbana.html
· A cidade que queremos
http://www.antp.org.br/noticias/ponto-de-vista/a-cidade-que-queremos.html

· Pessoas mudam, a cidade muda


http://www.antp.org.br/noticias/ponto-de-vista/pessoas-mudam-a-cidade-muda.html

Referências
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BECKMANN, M. J. Von Thünen Revisited: A Neoclassical Land Use Model.


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<http://www.jstor.org/stable/3439005>.

BUTTON, K. Transport economics. Massachusetts: Edward Elgar


Publishing, 2010.

CANTILLON, R. Essai sur la nature du commerce en général. New York:


INEd, 1952.

CRUZ, B. DE O. et al. Economia regional e urbana: teorias e métodos com


ênfase no Brasil. Brasília: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea),
2011.

GALINARI, R. Retornos Crescentes Urbano-Industriais e Spillovers


Espaciais: Evidências a partir da taxa salarial no estado de São Paulo. 2006.
162 f. Dissertação (Mestre em Economia) – Centro de Desenvolvimento e
Planejamento Regional da Universidade Federal de Minas Gerais
(CEDEPLAR/UFMG), 2006.

IBGE. Regiões de influência das cidades: 2007. Rio de Janeiro: IBGE, 2008.
Disponível em:
<http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/geografia/geografia_urbana/areas
_urbanizadas/default.shtm>.

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Metropolitan Area. The American Economic Review, v. 57, n. 2, p. 197–210,
1967. Disponível em: <http://www.jstor.org/stable/1821621>.
18
MUTH, R. F. Cities and Housing. Chicago: University of Chicago Press,
1969.

O’SULLIVAN, A. Urban economics. 8th. ed. New York: McGraw-Hill/Irwin,


2011.

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