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As Emoções e o Câncer:
A Minha viagem com Farrah Fawcett
(Uma história de vida, amor e amizade)
*Professor aposentado
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As Emoções e o Câncer: A Minha viagem com Farrah Fawcett
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Introdução
Esta proposta de trabalho tem a intenção de compreender o vínculo social entre as
emoções e o câncer, decodificando as mensagens subliminares dos registros
memorialistas da obra A Minha viagem com Farrah Fawcett: uma história de vida, amor
e amizade. Busca-se compreender o que foi dito e relatado no registro memorialista do
sofrimento pessoal da dor humana vivenciada por uma mulher famosa participante dos
meios cinematográficos da rede mundial. Assim, a meta é entender qual a mensagem
foi veiculada no registro memorialista. Conceitualmente, a proposta de trabalho
pretende se inserir na conexão social das emoções com a patologia, sob a ótica dos
fundamentos da Medicina Tradicional Chinesa: a polaridade yin-yang, a teoria dos cinco
elementos e os ciclos da criação e do controle. Além do princípio energético do “chi”,
basicamente. O pensamento oriental entende que existe uma conexão entre as
emoções: a raiva, o medo, a tristeza, a alegria, a preocupação e a ansiedade, e os
órgãos ocultos do corpo humano: o coração, o fígado, o baço, o pulmão e o rim. Da
interação entre as emoções e os órgãos do corpo humano, a Medicina Tradicional
estabelece e aprofunda o vínculo de adoecimento do ser humano.
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documental mencionada, foca-se na fonte original do conflito, evidenciando os
protagonistas do conflito emocional vivenciado pela portadora da patologia. No
terceiro, privilegiando-se a fonte memorialista, resgata-se o contexto biográfico
para detalhar o que foi o processo percorrido pela atriz. E toda essa interpretação
sob a ótica metodológica da análise de conteúdo. Portanto, esta estrutura
analítica objetiva alcançar a meta prevista inicialmente pela proposta de trabalho.
1.2 Segundo Ergil & Ergil (2009), a teoria taoísta, que fundamenta a MTC,
apresenta os seus princípios para compreender, estrategicamente, como se
arquiteta essa linha do pensamento oriental. Inicialmente, o princípio da
polaridade yin-yang era instrumentalizado pelo pensamento oriental chinês para
decodificar a natureza, por intermédio da metodologia dialética em conjunto com
o pensamento materialista. Assim, a interação dos dois princípios yin-yang
provoca a compreensão de como acontece o processo de criação e
desenvolvimento que interagem mutuamente. Com isto, a arquitetura conceitual
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vale-se da teoria dos cinco elementos, terra, madeira, metal, água e fogo, para
materializar o processo de mutação e interação na realidade da natureza e da
sociedade humana. A ideia central subjacente na teoria proposta é o processo
de movimento, no qual ocorre a transformação permanentemente e que a
mudança se dá em interação. Com isto, acontece a alteração cíclica de forma
integrada, formando a unidade construída pela polaridade Yin-Yang, a
integração dos opostos como canal da unidade. A teoria dos cinco elementos,
terra, metal, água, madeira e fogo, implica em transformar aquele universo
desdobrado em fases regidos por elementos que constituem a distribuição para
compreender como cada fase acontece e se perpetua com identidade própria.
Por exemplo, segundo os autores mencionados, “todo fenômeno tem qualidades
ou características em comum com uma das cinco fases” (2010, p. 60). E continua
o diagnóstico: “as cinco fases tem várias funções na medicina chinesa. Suas
correspondências e relacionamentos são usados os papéis e as relações dos
órgãos e das vísceras” (p. 60). Com isto, o processo de mudança se encaixa em
cada um dos cinco elementos.
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Prof. Dr. José R. Barrero
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holística, na qual se procura articular como o somático registra o sofrimento
oriundo das estratégias de poder que são vigentes na sociedade humana e
refletidas no campo corporal. O ato de adoecer também é um ato político, que
denuncia, sutilmente, como a sociedade organiza, estrategicamente, as diversas
formas de registro somático, do sofrimento humano. E, ainda, como desenvolve
os seus mecanismos de procedimento terapêutico para se reconectar o sistema
de forças em atuação articulada. Enfim, cada sociedade prepara, culturalmente,
o seu sistema de controle dos cidadãos, assim como gesta os mecanismos de
saída do domínio de poder instalado.
Farrah Fawcett, inicialmente, foi casada com Lee Majors, ator famoso vinculado
a temática ou seriado do Homem Biônico. Após a separação dele, iniciou um
romance com o ator Ryan O’Neal que se prolongou pelo período de 17 anos,
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mas não oficializado como casamento. Dessa relação conjugal, nasceu um filho
que será peça chave nesta análise. Entretanto, a filha do Ryan O’Neal, a
atriz Tatum O’Neal tinha conflitos de relacionamento com o pai por causa do envolvimento
do genitor com a Farrah Fawcett. Estes são os protagonistas da conjuntura do conflito
emocional que irão envolver a atriz famosa, de forma marcante.
A atriz Farrah Fawcett, nascida para brilhar nas telas cinematográficas e na vida
real, estava acostumada com a lavagem do seu ego estético permanentemente.
A sua beleza era estonteantemente inigualável. Até a revista especializada em
beleza feminina teve uma vendagem recorde e a dimensão estética da
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identidade feminina tomava contornos de acompanhá-la de forma deslumbrante.
Imagine-se uma pessoa elogiada em pontos de beleza e, bruscamente, recebe
o golpe emocional da prisão do filho, vinculado ao tráfico de drogas. E para quem
não tinha o espaço de administrar contornos negativos do conflito do filho e que
iriam atingir a maternidade no seu recolhimento emocional de forma marcante.
Agora, imagine-se para quem não devia ter um baixo nível de resiliência, no
caso, a Farrah Fawcett, pois só vivia na dimensão da beleza estonteante. Torna-
se marcante a mensagem documental do encontro do filho com a mãe
moribunda e o garoto todo algemado, nas mãos e nos pés, para se despedir da
mesma. Algo emocionalmente profundo e catalizador da dor emocional de uma
mãe detentora de uma patologia moribunda. Inserindo a rede conceitual adotada
nesta interpretação, a Farrah Fawcett estava inserida num contexto do ciclo da
criação, da beleza feminina, e foi envolvida no contexto do ciclo do controle, no
qual ela não tinha muita familiaridade e que o processo de controle que atingiu
o seu filho, alcançou também a sua identidade pessoal, derrubando na sua
dimensão maior: a maternidade. Nesse conflito, sucumbiu à matriz materna!
Mas, o que significa isto? Significa que, para quem não tinha nenhuma
aproximação com a dor emocional, com a dificuldade sentimental, pois só sabia
e só conhecia os contornos do ciclo da criação e, então, recebe o peso do ciclo
do controle, é envolvida com os mecanismos do ciclo da punição, da destruição.
Para a qual não existia nenhuma familiaridade historicamente. Sucumbiu
naturalmente ao processo da destruição. Portanto, o confronto dos egos
emocionais, ora do ciclo da criação, ora do ciclo do controle, conduziu a uma
inserção no mundo da patologia do câncer.
3.A Minha Viagem com Farrah Fawcett: uma história de vida, amor e amizade
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3.1 Diário íntimo e pessoal: “Tens a obrigação de fazê-lo”
Alana Stewart, autora deste registro memorialista, recebeu, da sua filha Kim, um
questionamento preocupante: “Mãe, a Farrah tem cancro? ”. “O quê? Onde é
que ouviste isso? –Li na internet” (Stewart, 2009, p. 27). Num contato telefônico
com a atriz americana, para averiguação da notícia, não só ocorreu a
confirmação da veracidade da informação, como comentou já do tratamento
quimioterápico e o radioterápico, pois o tumor é muito agressivo. Conforme o
registro de Stewart, “já cheguei a ter aquela crença de que as pessoas famosas
ou “acima da multidão” são imunes a este tipo de coisas, mas, entretanto, vi
demasiadas pessoas que me pareciam invencíveis, que pareciam ter tudo de
bom” (p. 29) ... e prossegue a reflexão: “ninguém está imune às coisas da vida,
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nem sequer um ícone como a Farrah, a menina de ouro dos anos de 1970” (p.
29). Na percepção da memorialista, “desistir é uma palavra não consta do
dicionário da Farrah (p.29). Na lógica do mito de beleza feminina americana, “as
pessoas sempre viram nela um exemplo –é a menina de ouro, um ícone
americano, a imagem da beleza e da vitalidade” (p. 37). Em 2 de fevereiro de
2007, os médicos declaram a Farrah livre do cancro, felicidade.... Até que, em
maio de 2007, num exame de rotina, no Hospital da Universidade da Califórnia,
“o cancro regressou... reincidência” (p. 38). Os médicos queriam fazer uma
cirurgia radical, que teria a retirada dos intestinos e passaria a usar uma bolsa
de colostomia para o restante da vida. E o desconforto seria que a cirurgia seria
na Alemanha, não em solo americano. Algo totalmente desconhecido: equipe
médica, por exemplo. Em maio de 2007, o diagnóstico não esperado:
“metástases no fígado” (p. 46). No ápice do registro memorialista de Alana
Stewart, para quebrar o relato do sofrimento do tratamento enfrentado por
Farrah, ela menciona o problema dos nossos rapazes com a polícia, em função
dos conflitos envolvendo jovens. E comenta acerca de uma ordem judicial de
captura... aqui, segundo esta abordagem analítica holística assumida nesta
interpretação, a mensagem subliminar registrada pela memorialista apresenta-
se de forma breve, minimizada pelo problema do olhar materno minimizado.
Contudo, no documentário cinematográfico, a mensagem subliminar fecha o
cerco da mensagem, ao se confrontarem a genitora e o filho, aquela moribunda,
num leito de hospital, e um filho, algemado nos membros inferiores e superiores,
visitando a mãe, como ato final de despedida, algo chocante a um olhar não
envolvido diretamente, mas, imagine-se para quem está envolvido direta e
emocionalmente: a genitora!
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Em função da limitação do artigo, evita-se detalhar pormenores do processo histórico vivenciado,
conforme o relato memorialista.
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sofrimento emocional do câncer da Farrah. Porém, nenhum diagnóstico mais
agressivo que, após “os últimos resultados da Farrah chegaram da Alemanha, e
ela tem, de facto, dois ou três tumores novos no fígado” (Stewart, 2009, p. 102).
Um sofrimento atrás do outro, se avolumando nas idas e vindas do processo
terapêutico, e estreitando os vínculos da amizade entre as duas amigas: Alana
e Farrah, conforme os registros memorialistas históricos da convivência das
duas. E isto provocando inclusive um processo de transferência do conflito da
patologia em uma para o sofrimento da outra: “de ver a minha melhor amiga
sofrer tanto estes últimos dois anos, enquanto vai batalhando com um cancro
feroz e persistente... sem saber se ela irá acabar por vencer esta batalha” (p.
123). Neste sentido, a reflexão introspectiva toma conta do registro memorialista:
“por que razão, perguntei, foi isto acontecer à Farrah? Haverá alguma lição nisto
tudo? ” E continua o desabafo memorialista “acho que há sempre uma causa
por detrás de qualquer doença” (p.127).
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Conclusão
Referências
Bai Ne, Zhang & Hui H, Yin. Teoria básica da Medicina Tradicional Chinesa.
São Paulo: Editora Atheneu, 1999.
Boukaram, C. O Poder Anti Cancro das Emoções: uma nova forma de
enfrentar o cancro. Portugal: Nascente, 2015.
Ergil, M. C. & Ergil, K. V. Medicina Chinesa: guia ilustrado. Porto Alegre: Artmed,
2010.
Stewart, Alana. A Minha Viagem com Farrah Fawcett: uma história de vida,
amor e amizade. Lisboa: Planeta, 2009.
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