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Redução – ocorre quando o leitor diminui ou

COMPREENSÃO E elimina informações ou a própria intensidade do texto.


INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS Inversão – acontece quando o leitor perde passagens
do desenvolvimento do texto ou altera a orientação de
A compreensão e a interpretação dos seu sentido, o que pode levá-lo a conclusões opostas às
textos são primordiais em qualquer situação do expressas pelo autor.
cotidiano, tendo em vista que o desempenho da
leitura interfere na aprendizagem de todas as outras NÍVEIS DE LINGUAGEM
matérias, além de promover a socialização e a
cidadania do leitor. O bom leitor sabe selecionar o A linguagem é qualquer conjunto de sinais
que deve ler e que efetivamente pode contribuir para que nos permite realizar atos de comunicação.
sua formação intelectual e melhorar sua Dependendo dos sinais escolhidos, teremos uma
compreensão a respeito da complexidade do mundo. comunicação verbal, visual, auditiva etc. Damos o
Interpretar é criar sentido, pois toda nome de fala à utilização que cada membro da
interpretação provoca a criação de “outro texto”. comunidade faz da língua, tanto na forma oral quanto
na escrita. Em decorrência do caráter bastante
Cada leitor é um sujeito singular, que utiliza
individual da língua, é necessário destacar algumas
diferentes estratégias (sua experiência prévia, suas
modalidades:
crenças, seus conflitos, suas expectativas e suas
relações com o mundo) para dar sentido ao que lê,  NORMA CULTA: é aquela utilizada em situações
sem, no entanto, eliminar o sentido original do texto. formais, principalmente na escrita – mais planejada e
Cabe, porém, ressaltar que é quase impossível bem elaborada. Caracteriza-se pela correção da
linguagem em diversos aspectos: um cuidado maior
determinar o grau de fidelidade de um leitor ao texto
com o vocabulário, obediência às regras
original.
estabelecidas pela Gramática, organização rigorosa
O ato de interpretar possibilita a das orações e dos períodos etc. Confira no texto
construção de novos conhecimentos a partir abaixo:
daqueles que existem previamente na memória do “(...) O mais forte e apreciável motivo para um
leitor, os quais são ativados e confrontados com as estudo dos assuntos humanos é a curiosidade. Este é um
informações do texto, permitindo-lhe atribuir dos traços distintivos da natureza humana. Ao que parece,
coerência àquilo que está lendo. nenhum ser humano é dele totalmente destituído, apesar de
seu grau de intensidade variar enormemente de indivíduo
para indivíduo. No campo dos assuntos humanos, a
Como fazer uma leitura eficaz: curiosidade nos leva a buscar uma óptica panorâmica,
através da qual se possa chegar a uma visão da realidade,
1. Leia todo o texto, com atenção, procurando tão inteligível quanto possível para a mente humana.”
entender o seu sentido geral. Arnold TOYNBEE. Um estudo da história. Brasília: EdUnB.
1987. Pág. 47. (com adaptações).
2. Identifique as idéias do texto (cada parágrafo
contém uma idéia central e outras secundárias),  LINGUAGEM COLOQUIAL: é adotada em
estabelecendo as relações entre as partes. situações informais ou familiares. Caracteriza-se pela
3. Procure compreender todos os vocábulos e espontaneidade, já que não existe uma preocupação
expressões. Muitas vezes, o próprio texto já com as normas estabelecidas (aceita o uso de gírias e
fornece o significado da palavra. Mas, na de palavras não dicionarizadas). Embora seja uma
medida do possível, use o dicionário sempre que linguagem informal, não é necessariamente inculta,
estiver lendo, pois com isso aumentará os seus pois a desobediência a certas normas gramaticais se
deve à liberdade de expressão e à sensibilidade
conhecimentos e ampliará o seu vocabulário.
estilística do falante. É facilmente encontrada na
Lembre-se de que é bastante freqüente a
correspondência pessoal (msn, e-mail etc.), na
cobrança do significado (tanto literal quanto literatura, histórias em quadrinhos, nos jornais e
contextual) das palavras nessas provas. revistas. Veja o exemplo:
4. Leia atentamente as instruções para a resolução Sei lá! Acho que tudo vai ficar legal. Pra que então
das questões e analise com cuidado o que cada ficar esquentando tanto? Me parece que as coisas no fim
sempre dão certo.
enunciado pede. Muitas vezes, o erro é
proveniente do descuido, ou da pressa, no
momento de ler as informações dos comandos.  LINGUAGEM TÉCNICA: é utilizada por alguns
profissionais (policiais, vendedores, advogados,
economistas etc.) no exercício de suas atividades.
Erros mais freqüentes, quando não se Exemplo:
faz uma leitura adequada dos textos: “Vamos direto ao assunto: interface gráfica ou não,
muitas vezes, é preciso trabalhar com o prompt do DOS,
Extrapolação – consiste em acrescentar sendo aborrecedor esforçar-se na redigitação de
informações ao texto original ou mesmo aplicá-lo em subdiretórios longos ou comando mal digitados”.
outros contextos. Revista PC World, ago/2007. p. 98.

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OBS.: Não se deve confundir vocabulário técnico
com jargão (modalidade coloquial).  JARGÕES: são os vocábulos característicos da
linguagem utilizada por alguns grupos profissionais
(médicos, policiais, vendedores, professores etc.) e que,
 LITERÁRIA (artística): tem finalidade expressiva, por sua expressividade, acabam sendo incorporadas à
como a que é feita pelos artistas da palavra (poetas e linguagem de outras camadas sociais. Exemplos:
romancistas, por exemplo). Observe: positivo, bico fino, X9 (policiais); caroço (vendedores)
“O céu jogava tinas de água sobre o noturno que e outros.
me devolvia a São Paulo. O comboio brecou, lento, para
as ruas molhadas, furou a gare suntuosa e me jogou nos  REGIONALISMOS: são as variações originadas
óculos menineiros de um grupo negro. das diferenças de região ou de território. Veja o
Sentaram-me num automóvel de pêsames”. exemplo de uma variedade regional, também conhecida
Memórias Sentimentais de João Miramar. Oswald de Andrade
como “fala caipira”, própria do interior de alguns
estados brasileiros:
“Cheguei na bera do porto onde as onda se espaia.
VARIAÇÕES LINGÜÍSTICAS As garça dá meia vorta, senta na bera da praia.
E o cuitelinho não gosta que o botão de rosa caia.”
São as variações que uma língua apresenta, de Milton Nascimento
acordo com as condições sociais, culturais, regionais e
históricas em que é utilizada. A língua é um organismo
vivo, que se modifica no tempo, a todo instante. Os FUNÇÕES DA LINGUAGEM
tipos de variações mais cobrados em provas são:
O modo como a linguagem se organiza está
 EMPRÉSTIMOS LINGUÍSTICOS: vocábulos diretamente ligado à função que se deseja dar a ela, isto
incorporados ao nosso idioma em sua forma original - é, à intenção do autor. Para os seis componentes da
ou aportuguesados. No português usado hoje no comunicação, seis são as suas funções:
Brasil, existe influência de várias línguas: do contato Emissor: aquele que transmite a mensagem.
com o índio, incorporamos palavras como cipó, Receptor: aquele com quem o emissor se comunica.
mandioca, peroba, carioca etc.; a partir do processo de Mensagem: aquilo que se transmite ao receptor.
escravidão no Brasil, incorporamos inúmeros Referente: assunto da mensagem.
vocábulos de línguas africanas, tais como quiabo, Código: convenção social que permite ao receptor
macumba, samba, vatapá e muitos outros. compreender a mensagem.
Podemos encontrar também, no português atual, Canal: meio físico que conduz a mensagem ao
palavras provenientes de línguas estrangeiras receptor.
modernas, principalmente do inglês. Veja alguns
exemplos: do italiano (maestro, pizza, tchau, EMOTIVA (EXPRESSIVA)
espaguete); do francês (abajur, toalete, champanhe); do Está centrada na expressão dos sentimentos,
inglês (recorde, sanduíche, futebol, bife, gol, clube, e emoções e opiniões do emissor. Reforça o aspecto
muitos outros mais). subjetivo, pessoal da mensagem. É comum nesse tipo
de função a presença de interjeições, reticências,
 NEOLOGISMOS: são palavras novas, que vão pontos de exclamação e, ainda, de verbos na 1ª pessoa.
sendo logo absorvidas pelos falantes no seu processo O narrador apresenta opiniões com as quais outras
diário de comunicação. Umas, surgem para expressar pessoas podem ou não concordar. Textos líricos são
conceitos igualmente novos; outras, para substituir exemplos dessa função, já que expressam o estado de
aquelas que deixam de ser utilizadas. Os neologismos alma do emissor.
podem ser criados a partir da própria língua do país
(cegonheiro, por exemplo), ou a partir de palavras CONATIVA (APELATIVA)
estrangeiras (deletar, escanear etc.). Ocorre quando o receptor é posto em destaque e é
estimulado pela mensagem. Há um autor querendo
 RECRIAÇÕES SEMÂNTICAS: existem, influenciar o receptor. É comum nesse tipo de texto o
também, aquelas palavras que adquirem novos sentidos emprego do modo imperativo dos verbos e de
ao longo do tempo. Por exemplo: cegonha (carreta que vocativos.
transporta automóveis, desde as montadoras até as
concessionárias), laranja (testa de ferro, pessoa que REFERENCIAL (INFORMATIVA)
empresta o nome para a realização de negócios ilícitos) Ocorre quando o referente é posto em destaque e a
e muitas mais. intenção principal do emissor é informar. Os textos
cuja função é referencial possuem linguagem clara,
 GÍRIAS: são palavras características da
linguagem de um grupo social (os jovens), que, por sua direta e precisa, procurando traduzir a realidade de
expressividade, acabam sendo incorporadas à forma objetiva. Alguns textos jornalísticos, os
linguagem coloquial de outras camadas sociais. São científicos e os didáticos são o melhor exemplo disso.
exemplos de gírias: véi (velho), mano, bro (brother), POÉTICA
Maneiro!, Radical!, e muitas outras. Podemos encontrá-la nos casos em que o emissor
OBS.: como as gírias também evoluem (elas surgem e enfatiza a construção, a elaboração da mensagem por
desaparecem com o passar do tempo) pode ser que os meio da escolha de palavras que realcem a sonoridade,
exemplos dados já tenham caído em desuso!

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pelo uso de expressões imprecisas (legal, hiper, é isso sua estrutura composicional, os textos se dividem
aí). O texto não é objetivo, traz uma fala cheia de em:
rodeios, transmite pouca informação. A função poética
ocorre tanto em prosa como em verso. 1. NARRATIVO
Texto que visa a discorrer sobre fatos,
METALINGUÍSTICA relatar episódios, acontecimentos e histórias
Tem como função realçar o código - quando este é verdadeiras (narrativa real) ou fictícias (narrativa
utilizado como assunto ou explica a si mesmo. Por ficcional). O texto narrativo possui uma seqüência de
exemplo, quando um poema tece reflexões sobre a acontecimentos (começo, meio e fim) que pode ter sua
criação poética, um filme tematiza o próprio cinema ou ordem alterada pelo escritor, dependendo do efeito que
um programa de televisão debate o papel social da ele pretenda alcançar. São exemplos de narrativas:
televisão. romance, novela, conto, crônica, anedota e, até,
histórias em quadrinhos. Leia o texto que segue:
FÁTICA
Ocorre quando o canal é posto em destaque. A Contou-me um amigo uma história exemplar,
função é testar o canal de comunicação. Acontece nos ocorrida na cidade mineira de Nova Lima, por volta
cumprimentos diários, conversas de elevador, nas dos anos 30. Em Nova Lima, existe uma importante
primeiras palavras de uma aula etc. mina de ouro – a mina de Morro Velho – que, àquela
época, vivia o seu apogeu, e era propriedade de uma
Importante! companhia inglesa. Os operários, nas entranhas da
É possível encontrar em um texto mais de uma terra, perfuravam a rocha com suas brocas e picaretas
função da linguagem. Portanto, cabe ao leitor e, dessa forma, respiravam durante anos, nas galerias
identificar aquela que predomina e, por conseguinte, a fundas, a poeira de pedra que o trabalho levantava.
intenção de seu autor. Sem nenhuma proteção, ao fim de algum
tempo, os mineiros, na sua quase totalidade, contraíam
a silicose, causada pelo depósito do pó de pedra em
FORMA E CONTEÚDO DOS seus pulmões. A silicose, além de encurtar a vida e a
TEXTOS capacidade de trabalho, provoca também uma tosse
crônica, oca e ressoante, capaz de denunciar, a
Existem duas maneiras de se classificar os distância, a moléstia que lhe dá origem.
textos, quanto ao conteúdo e à forma: Nas noites de Nova Lima, quando buscava
• POESIA é um gênero textual que se caracteriza pela repouso, a cidade era sacudida e inquietada por uma
escrita em versos (o verso é o ordenador rítmico e trovoada surda e cava que, nascendo dos casebres
melódico do poema), que pode apresentar rima e operários, chegava até às fraldas das montanhas em
métrica e uma elaboração muito particular da torno. Era a grande tosse dos pobres, sintoma e
linguagem. A poesia em geral reflete o momento, o denúncia eloqüente da silicose que os roia. Os ingleses,
impacto dos fatos sobre o homem e a criação de perturbados em seu sono e em sua boa consciência, em
imagens que reflitam esse impacto. vez de adotarem medidas hábeis para que a silicose
cessasse, resolveram enfrentar o problema pelo
Eu canto porque o instante existe
E a minha vida está completa. exclusivo ataque ao sintoma. Montaram em Nova
Não sou alegre nem sou triste Lima, com banda de música e foguetes, uma fábrica de
Sou poeta. xarope contra a tosse que, ao mesmo tempo, produzia
(...) para consumo dos colonizadores matéria-prima para
Sei que canto. E a canção é tudo. refrigerantes que não eram encontrados em nosso país.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo: Hélio Pellegrino. Psicanálise da criminalidade
– mais nada. brasileira: ricos e pobres. In: Folha de S. Paulo, “Folhetim”. Apud
Cecília Meireles – Motivo In: http://www.cefetsp.br/edu/eso/pellegrinocriminalidadecsc.html.

• PROSA: é um discurso que reproduz a maneira


natural de falar, sem métrica nem rima. As linhas Elementos da narrativa:
ocupam quase toda a extensão horizontal da página, 1. NARRADOR: é quem conta a história, um ser
demarcada, fisicamente, pelo parágrafo - pequeno ficcional a quem o autor transfere a tarefa de narrar os
afastamento em relação à margem esquerda da folha. fatos. Há textos narrativos quase totalmente – ou
O parágrafo é o ordenador lógico da prosa. totalmente – dialogados. Nesse caso, o narrador
aparece muito pouco, ou fica subentendido.
Atenção: não confunda o narrador com o autor da
TIPOS TEXTUAIS história. Este é um escritor, com uma biografia civil,
Os tipos textuais designam uma seqüência um ser humano, que pode construir vários narradores
definida pela natureza lingüística de sua (um para cada história que desejar contar).
composição e, para a sua classificação, são
observados aspectos lexicais, sintáticos, tempos 2. PERSONAGENS: são os seres que estão envolvidos
verbais e, principalmente, as relações lógicas. Por com a história, que vivem os fatos e que são
caracterizados física e psicologicamente. Qualquer

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tipo de ser (gente, bicho, criaturas inanimadas) pode de elocução (dizer, falar, responder, berrar, retrucar,
virar personagem de uma narrativa. indagar etc.).
Os personagens podem ser classificados como: No discurso direto, o narrador reproduz (ou
 Principais – quando participam diretamente da imagina reproduzir) textualmente as palavras, “a fala”
trama. dos personagens. Este tipo de discurso permite melhor
 Secundários – quando participam de forma pouco caracterização dos personagens, pois reproduz de
intensa da história. maneira mais viva os matizes da linguagem afetiva e as
 Caricaturais – que têm traços de personalidade ou peculiaridades de expressão, tais como gíria, modismos
padrões de comportamento realçados, acentuados (às etc..
vezes beirando o ridículo). Observe o exemplo:
“...Botou as mãos na cabeça e a boca no mundo:
3. ENREDO: é a história em si, o conjunto encadeado – Nossa senhora, meu patrãozinho me mata!”
dos fatos, organizado de acordo com a vontade do Fernando Sabino

escrito. Todo enredo supõe um conflito.


OBS.: Uma narrativa pode apresentar um enredo linear  O discurso indireto ocorre quando o narrador
– quando os fatos vão se desenrolando um depois do utiliza sua própria fala para reproduzir a fala de um
outro, em ordem cronológica de tempo – ou um enredo personagem. O tempo verbal, no discurso indireto, será
não-linear – quando a história é interrompida por uma sempre passado em relação ao tempo verbal do
volta ao passado (para algo ser lembrado). É o que discurso direto.
chamamos de flashback, muito comum em filmes. No discurso indireto, o narrador incorpora na sua
linguagem a fala dos personagens, transmitindo-nos
4. ESPAÇO: o espaço da narrativa é o local onde se apenas a essência do pensamento a eles atribuído.
desenvolve a história, o cenário. A descrição do espaço Confira:
serve para criar o clima que envolve o leitor nos “D. Evarista ficou aterrada. Foi ter com o
acontecimentos. A descrição do espaço serve, também, marido, disse-lhe que estava com desejos.”
Machado de Assis
para caracterizar, de forma indireta, um personagem.
Pode ser:
 Físico: é o cenário por onde circulam os personagens  O discurso indireto livre é uma mescla do
e onde se desenrola a trama. discurso direto com o indireto. No discurso indireto
 Mental: é o retrato de uma época, a ênfase nos livre, a fala do personagem se insere sutilmente no
costumes de determinado período da história. discurso do narrador, permitindo-lhe expor aspectos
psicológicos do pensamento do personagem.
5. TEMPO: o tempo da narrativa é o “quando acontece”
No discurso indireto livre, a fala de
a história. determinado personagem ou fragmentos dela inserem-
 Cronológico: é o tempo marcado pelo relógio, pelo se discretamente no discurso indireto, através do qual o
calendário ou por outros índices exteriores autor relata os fatos. No estilo indireto livre, as orações
(momentos do dia, estações do ano, fatos históricos). da fala são independentes, sem verbos dicendi, mas
 Psicológico: é o tempo subjetivo, variável de com transposições do tempo do verbo (pretérito
indivíduo para indivíduo. Esse tempo marca-se pelas imperfeito) e dos pronomes (3ª pessoa). A
sensações ou pensamentos do personagem. característica que distingue esse tipo de discurso dos
outros (direto e indireto) é que não é cabível sua
transformação em objeto direto do verbo transitivo.
Foco narrativo (ou ponto de vista): Compare os dois exemplos:
 Quando o narrador participa do enredo, é 1º) “Achamos o nome engraçado. Qual o padrinho que
personagem atuante, diz-se que é um narrador- pusera o nome de Milagre naquele afilhado? E o
personagem. Isso constitui o foco narrativo ou ponto português explicou que não, que o nome do pretinho
de vista da primeira pessoa. era Sebastião. Milagre era apelido.
 Narrador-observador é o que serve de intermediário Stanislaw Ponte Preta
entre o episódio e o leitor – é o foco narrativo de 2º) “Sinhá Vitória falou assim, mas Fabiano franziu a
terceira pessoa. testa, achando a frase extravagante. Aves matarem bois
 Ocorrem casos em que o narrador é classificado e cavalos, que lembrança! Olhou a mulher,
como onisciente, pelo fato de dominar o lado desconfiado, julgou que ela estivesse tresvariando.”
psíquico de seus personagens, antepondo-se às suas Graciliano Ramos
ações, percorrendo-lhes a mente e a alma - também
sob o foco narrativo de terceira pessoa. A técnica do diálogo:
Ao transmitir pensamentos expressos por
Formas de DISCURSO: personagem real ou imaginário, o narrador pode utilizar
 O discurso direto caracteriza-se pela reprodução o discurso direto ou o indireto e às vezes, de uma
fiel da fala do personagem. Estrutura-se normalmente junção dos dois – o discurso indireto livre (ou semi-
com a precedência de dois-pontos e inicia-se após indireto). Esses três estilos de discurso são marcados
travessão. Normalmente vem acompanhado por verbos por:

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 Verbos dicendi, ou de elocução, cuja principal os movimentos são sempre simultâneos, não indicando
função é indicar o interlocutor que está com a progressão de um estado anterior para outro posterior.
palavra. São os verbos de dizer (afirma, declara...);
de perguntar (indaga, interroga...); de responder Características de uma descrição:
(retruca, replica...); de concordar (anuiu, assentiu);
de pedir (solicitou, rogou...); de ordenar (mandando,  Encadeamento de informações. Todos os
enunciados apresentam ocorrências simultâneas.
determinando...); de contestar (negando, objetando...)
 Riqueza de detalhes e a presença abundante dos
etc. adjetivos.
 Pronomes demonstrativos para fazer alusão a idéias  Não existe temporalidade (datas), tanto que se pode
expressas anterior ou posteriormente, para marcar alterar a seqüência, sem afetar basicamente o
referências no tempo e no espaço: os sentido.
correspondentes à primeira pessoa (este, esta, isto)  Uso dos cinco sentidos.
são usados no discurso direto e os relativos à terceira  Texto estático, pois faz um uso reiterado de verbos
pessoa (aquele, aquela, aquilo) são usados no de estado (e não de ação).
discurso indireto.
 Recursos de pontuação: travessões, aspas ou vírgulas A descrição é um processo de caracterização
(para marcar as falas); pontos de interrogação, que exige sensibilidade daquele que descreve, para
exclamação e qualquer sinal que dê sonoridade às sensibilizar também aquele que lê. Sendo assim, ela se
frases, no sentido de torná-las mais claras e vívidas baseia na percepção – nos cinco sentidos: visão, tato,
para o leitor. audição, paladar e olfato. Observe o trecho a seguir:

A terra
Como transformar um discurso direto em Ao sobrevir das chuvas, a terra (...) transfigura-se
indireto e vice-versa: em mutações fantásticas, contrastando com a desolação
 O discurso direto apresenta-se em primeira pessoa anterior. Os vales secos fazem-se rios. Insulam-se os cômoros
escalvados, repentinamente verdejantes. A vegetação recama
e necessita de uma pontuação específica. Veja o
de flores, cobrindo-os, os grotões escancelados, e disfarça a
exemplo: dureza das barrancas, e arredonda em colinas os acervos de
Ela respondeu: blocos disjungidos – de sorte que as chapadas grandes,
– Comprei um lindo vestido. intermeadas de convales, se ligam em curvas mais suaves aos
tabuleiros altos. Cai a temperatura. Com o desaparecer das
Ou ainda: soalheiras anula-se a secura anormal dos ares. Novos tons na
– Não bebo dessa água – afirmou a menina. paisagem: a transparência do espaço salienta as linhas mais
ligeiras, em todas as variantes da forma e da cor.
 O discurso indireto, em terceira pessoa (a fala do Dilatam-se os horizontes. O firmamento, sem o azul
personagem – ele ou ela – é reproduzida com carregado dos desertos, alteia-se, mais profundo, ante o
palavras do narrador). Além do mais, o tempo expandir revivescente da terra. E o sertão é um vale fértil. É
verbal sempre será passado em relação ao tempo um pomar vastíssimo, sem dono.
Depois tudo isto se acaba. Voltam os dias
verbal do discurso direto. Observe:
torturantes; a atmosfera asfixiadora; o empedramento do solo;
Ela respondeu que comprara um lindo vestido. a nudez da flora; e nas ocasiões em que os estios se ligam
sem a intermitência das chuvas – o espasmo assombrador da
Ou ainda: seca. A natureza compraz-se em um jogo de antíteses.
A menina afirmou que não bebia daquela água. Euclides da Cunha. Os sertões - campanha de Canudos. Rio de Janeiro:
Editora Francisco Alves. 1982. Páginas 37-38 (com adaptações)

Características de uma narrativa:


A apresentação conjunta de traços físicos e
 Encadeamento de ações e fatos. psicológicos permite que a descrição se torne mais
 As frases se organizam em uma progressão
concreta, mais sensível e mais capaz de fazer o leitor
temporal (relação de anterioridade/posterioridade),
tanto que não se pode alterar a seqüência sem afetar realizar em sua imaginação o objeto descrito/ser
basicamente o texto. descrito. Mesmo assim, às vezes, é possível visualizar a
 Texto dinâmico, uma vez que existem muitos verbos descrição sob dois enfoques:
indicando movimento, ação, e, ainda, a passagem do
tempo. 2.1. OBJETIVO – é um processo de
caracterização que procura descrever a realidade, de
maneira direta e objetiva, sem acrescentar nenhum
2. DESCRITIVO juízo de valor. O autor torna-se impessoal e a
Texto em que é feita a caracterização de uma linguagem utilizada é denotativa.
pessoa, um animal, um objeto ou uma situação Leia a descrição abaixo e observe que, à
qualquer. É um texto em que não há progressão medida que você avança no texto, a imagem do ser
temporal, já que apenas põe em relevo as propriedades descrito vai-se formando em sua mente:
e aspectos dos elementos num certo estado,
considerado como se estivesse parado. Era um burrinho pedrês, miúdo e resignado, vindo
Nos enunciados descritivos podem até de Passa-Tempo, Conceição do Serro, ou não sei onde no
sertão. Chamava-se Sete-de-ouros, e já fora tão bom, como
aparecer verbos que exprimam ação, movimento, mas
outro não existiu e nem pode haver igual.

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Agora, porém, estava idoso, muito idoso. Tanto, Estrutura padrão da dissertação:
que nem seria preciso abaixar-lhe a maxila teimosa para
espiar os cantos dos dentes. Era decrépito mesmo a distância: • Introdução: é o parágrafo de abertura,
no algodão bruto do pêlo – sementinhas escuras em rama rala responsável pela apresentação do assunto, em que
e encardida: nos olhos remelentos, cor de bismuto, com é lançada a tese (tópico frasal ou idéia principal) a
pálpebras rosadas, quase sempre oclusas, em constante semi- ser desenvolvida nos parágrafos seguintes.
sono; e, na linha, fatigada e respeitável – uma horizontal
perfeita, do começo da testa à raiz da cauda em pêndulo • Desenvolvimento: é a parte fundamental da
amplo, para cá, para lá, tangendo as moscas. dissertação, em que se desenvolve o raciocínio ou
João Guimarães Rosa. Sagarana. Rio de Janeiro: o ponto de vista sobre o assunto, por meio de
Livraria José Olympio Editora, 1976. argumentos convincentes. Do desenvolvimento,
depende a profundidade, a coerência e a coesão do
2.2. SUBJETIVO – é um processo de texto. Cada argumento (idéia secundária) a ser
caracterização que busca transmitir o estado de espírito trabalhado deverá ocupará um parágrafo.
do autor diante da coisa observada ou a sua opinião • Conclusão: É a parte final do texto, em que se faz
sobre ela. Ele faz uma representação particular do um arremate das idéias apresentadas. É mais
objeto, normalmente usando a linguagem conotativa. comum, na conclusão de um texto que o autor
ofereça uma sugestão para o problema levantado.
Observe a descrição subjetiva de uma personagem Mas, às vezes, ele se limita a passar a solução do
feminina, de Machado de Assis: problema para o leitor, por meio de uma pergunta.

Assomando à porta, levantou o reposteiro e


deu entrada a uma mulher, que caminhou para o centro O discurso na dissertação:
da sala. Não era uma mulher, era uma sílfide, uma • 1ª pessoa do singular – imprime extrema
visão de poeta, uma criatura divina. subjetividade no texto e é encontrada com mais
Era loura; tinha os olhos azuis, que buscavam freqüência nos textos literários.
o céu ou pareciam viver dele. Os cabelos, São exemplos do uso da 1ª pessoa nos textos: Eu
desleixadamente penteados, faziam-lhe em volta da acho, eu acredito, a meu ver, no meu entender,
cabeça, um como resplendor de santa; santa somente para mim, na minha opinião etc.
não mártir, porque o sorriso que lhe desabrochava os
lábios era um sorriso de bem-aventurança, como raras • 1ª pessoa do plural – também atribui certo grau
vezes há de ter tido a terra. de subjetividade ao texto. Autores que optam pela
Um vestido branco, de finíssima cambraia, 1ª pessoa do plural buscam maior interatividade
envolvia-lhe o corpo, cujas formas, aliás, desenhava, com o leitor, no sentido de incluí-lo como
pouco para os olhos, mas muito para a imaginação. participante das idéias do texto. Exemplo:
A chinela turca. In: Obra Completa. Rio de Janeiro: Editora Vivenciamos atualmente tempos de globalização
Aguilar. 1986. p.301 (Adaptado). da pobreza... (consenso)
Cuidado! Existe uma 1ª pessoa do plural que não
inclui o leitor – é o chamado plural de modéstia.
3. DISSERTATIVO Isso acontece quando um autor produz e assina,
Texto em que se faz uma exposição de sozinho, um texto no qual ele expressa “Para
opiniões, pontos de vista, fundamentados em citarmos um exemplo...”.
argumentos e raciocínios baseados na vivência, na • 3ª pessoa (ideológica) – imprime objetividade no
leitura, na conclusão a respeito da vida, dos homens e texto, dando à expressão do pensamento um
dos acontecimentos. O texto dissertativo baseia-se, caráter mais universal. O uso da 3ª pessoa facilita
sobretudo, em afirmações que transmitem um conceito a persuasão, já que confere maior credibilidade às
relativo, pois suscitam dúvidas, hesitações. Nele, idéias. Ex.: “A política econômica do governo
aparecem os pontos de vista diferentes e conflitantes e Lula não promove, de fato, o bem-estar social.”
os graus de verdade e/ou falsidade.
No texto dissertativo, o autor tem maior
preocupação com o uso dos conectores, com a sintaxe, 3.1 - ARGUMENTATIVO – é o texto que
e, ainda, as corretas relações semânticas entre as
visa a influenciar o leitor, por meio de uma linha de
palavras.
raciocínio consistente, procurando convencê-lo, ante a
evidência dos fatos, a concordar e aceitar como correto
Características de uma dissertação: e válido o ponto de vista expresso. Observe o
 Encadeamento de idéias e raciocínio. exemplo:
 Os assuntos são tratados de maneira abstrata e
genérica. Carne dada aos vermes. Alguns gramáticos
 As relações internas e a coerência entre as frases é extravagantes vêem nas sílabas iniciais da expressão latina
que lhe garantem o sentido, já que são os CAro DAta VERmibus a origem da palavra cadáver. A
mecanismos de coesão (conjunções, preposições e ciência, no seu esforço de salvar vidas, logrou, no entanto,
pronomes relativos, demonstrativos) e as palavras dar-lhe outra finalidade mais nobre: a de suprir a falência de
abstratas que integram a estrutura básica do texto. órgãos de pessoas vivas, substituídos por partes que dele
possam ser retiradas. Contra esse benefício para a

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humanidade, levantam-se barreiras à utilização de órgãos de viver mais dignos, mais cooperativos e solidários, porque
removidos de cadáveres, se não há, para isso, consentimento isso é coisa de “obscurantista, idealista, perdedor ou ideólogo
familiar, com a invocação de princípios que orientam a ética fanático”, e o mundo é dos fazedores de dinheiro.
médica. Somos uma espécie que possui o poder da
Benjamin Bentham estabeleceu que o direito e a imaginação, da criatividade, da afirmação e da agressividade.
moral ocupam círculos concêntricos; o raio maior seria o da Se isso não pode aparecer, surge, no lugar, a reação cega ao
moral.O direito, portanto, seria o mínimo ético. Posta a que nos impede de criar, de colocar no mundo algo de nossa
premissa, o debate da retirada de órgãos de cadáveres deve, marca, de nosso desejo, de nossa vontade de poder. Quem
necessariamente, ferir-se no campo da Ética. Contudo, grande sabe e pode usar – com firmeza, agressividade, criatividade e
diferença vai entre a Ética, como é considerada no âmbito da afirmatividade – a sua capacidade de doar e transformar a
Filosofia, e a disciplina imposta ao exercício de profissões vida, raramente precisa matar inocentes de maneira bruta.
liberais pelos seus órgãos de classe. Na Axiologia, os valores Existem mil outras maneiras de nos sentirmos
são vistos dentro de uma escala, estabelecida segundo os potentes, de nos sentirmos capazes de imprimir um curso à
costumes e a cultura dos povos. vida que não seja pela força das armas, da violência física ou
O sentido dessa escala é o de oferecer fundamentos da evasão pelas drogas, legais ou ilegais, pouco importa.
para dirimir o conflito que se instale entre esses valores. O Jurandir Freire Costa. In: Quatro autores em busca do Brasil.
conflito é inerente à vida de relação, tanto que, na Rio de Janeiro: Rocco, 2000, p. 43 (com adaptações).
organização do Estado, é prevista a instituição de um poder
só para dirimi-lo: o Judiciário. Nenhum país, com foros de
civilização, há de colocar a vida em segundo plano na escala 4. INJUNTIVO – é um texto instrucional, que
de valores. Tudo o que se fizer para a salvação de uma vida é, indica procedimentos a serem realizados. A intenção
por princípio, ético. A Ética, aplicada no uso de partes do pode ser persuasiva ou apenas instrutiva. São
cadáver, para restituir a saúde de pessoas ou salvar-lhes a
exemplos de textos injuntivos as receitas (culinárias
vida, põe-se diante do seguinte dilema: preservar a saúde ou a
vida contra a morte ou a doença, ou preservar o cadáver para ou médicas); os manuais de instrução: as bulas de
satisfazer o desejo da família? remédios, artigos e leis, de modo geral; placas de
A discussão da lei da doação presumida de órgãos sinalização de trânsito; editais de concursos;
é, diante da Ética, absolutamente estéril. Os primeiros campanhas comunitárias etc.
transplantes não dependeram de lei e ainda hoje, como antes,
a Ética lhes dá o necessário suporte. A retirada de órgãos de
cadáver, para transplante, é ética até contra a vontade, em Características de um texto injuntivo:
vida, do morto. O direito, ainda dentro do mínimo ético,  verbos empregados no modo imperativo;
colocaria esse ato em face do estado de necessidade, que o  emprego do padrão culto da língua;
Código Penal considera excludente de ilicitude.  linguagem clara e acessível a todo tipo de
O artigo 24 do Código Penal calha, no caso, como pessoas;
uma luva. Se a única alternativa para salvar uma vida é o  predomínio da função referencial da linguagem,
transplante de órgão de cadáver, a sua retirada, para esse fim, embora a conativa seja também bastante
é inteiramente abonada pelo estado de necessidade. Conduta recorrente.
em sentido inverso é relevante para a configuração de crime  a intenção pode ser persuasiva ou apenas de
por omissão, se o médico podia e devia evitar a morte ou instrução.
curar a doença. É inconcebível que todo o pensamento penal
tenha sido formulado contra a Ética. Não há ética que se
sustente contra a vida. Segue um exemplo de texto injuntivo (extraído
Assim, por sentimento da família, que se leve em da prova do Ministério da Saúde, aplicada pelo
maior conta o daquela ligada ao paciente que espera pelo CESPE/UnB):
órgão. E, se é inevitável o sofrimento de uma – pela falta do
órgão, ou de outra – pela sua retirada, a solução, sempre Cuidados para evitar envenenamentos
conflituosa, deve ser buscada na escala de valores.  Mantenha sempre medicamentos e produtos tóxicos fora
Edelberto Luiz da Silva. Correio Braziliense, 11/1/98 (com adaptações). do alcance das crianças;
 Não utilize medicamentos sem orientação de um médico
e leia a bula antes de consumi-los;
3.2 - EXPOSITIVO – é o texto que procura  Não armazene restos de medicamentos e tenha atenção ao
somente informar, explicar ou interpretar idéias, seu prazo de validade;
 Nunca deixe de ler o rótulo ou a bula antes de usar
conceitos ou pontos de vista, por meio de uma
qualquer medicamento;
explanação imparcial que não conduza à polêmica e  Evite tomar remédio na frente de crianças;
não tenha o propósito imediato de persuadir ou formar  Não ingira nem dê remédio no escuro para que não haja
a opinião do leitor. Leia: trocas perigosas;
 Não utilize remédios sem orientação médica e com prazo
A maioria dos comentários sobre crimes ou se de validade vencido;
limitam a pedir de volta o autoritarismo ou a culpar a  Mantenha os medicamentos nas embalagens originais;
violência do cinema e da televisão, por excitar a imaginação  Cuidado com remédios de uso infantil e de uso adulto
criminosa dos jovens. com embalagens muito parecidas; erros de identificação
Poucos são aqueles que pensam que vivemos em podem causar intoxicações graves e, às vezes, fatais;
uma sociedade que estimula, de forma sistemática, a  Pílulas coloridas, embalagens e garrafas bonitas,
passividade, o rancor, a impotência, a inveja e o sentimento brilhantes e atraentes, odor e sabor adocicados despertam
de nulidade nas pessoas. Não podemos interferir na política, a atenção e a curiosidade natural das crianças; não
porque nos ensinaram a perder o gosto pelo bem comum; não estimule essa curiosidade; mantenha medicamentos e
podemos tentar mudar nossas relações afetivas, porque isso é produtos domésticos trancados e fora do alcance dos
assunto de cientistas; não podemos, enfim, imaginar modos pequenos.

7
Internet: HTTP://189.28.128.100/portal/aplicacoes/noticias (Adaptado) vinculada ao autor do texto e à sociedade em que ele
vive. Os discursos que podem aparecer, mais
frequentemente, em provas de concursos são:
5. PREDITIVO é um texto que faz previsões.
Podem ser descrições, narrações ou dissertações ACADÊMICO
futuras em que o autor antecipa uma informação,
uma idéia, um saber. Neste tipo de texto, as formas É um discurso que tem a finalidade de expor
verbais têm sempre valor de futuro, visto ocorrer a investigação de um fato, de um acontecimento ou
uma predição de algo que está por acontecer. Há de uma experiência científica, com bastante rigor
certos tipos de textos que normalmente são nos conceitos e informações utilizados. Este domínio
preditivos ou contém partes preditivas. discursivo aparece em
São exemplos de textos preditivos as previsões em Tem como característica:
geral: boletins meteorológicos, programas de  Geralmente explica ou fundamenta as afirmações
eventos e viagens, leituras de sorte, profecias, com base em dados objetivos, cientificamente
horóscopos, prenúncios de comportamentos e comprovados;
situações etc.  Pode servir-se de descrições, de enumerações, de
exposições narrativas, de relatos de fatos, de
Veja, abaixo, um exemplo de texto preditivo, gráficos, de estatísticas etc.
extraído da prova para Professor de Ensino Básico,  Normalmente segue um roteiro preestabelecido:
da SEPLAG/DF, aplicada pela Fundação Universa. apresenta, normalmente, introdução,
desenvolvimento e conclusão. Em alguns casos,
Daqui a uns cinquenta anos, alguns dos recursos pode apresentar outras partes, como folha de rosto,
usados hoje em sala de aula e considerados modernos anexos, sumário etc.
provavelmente estarão obsoletos. Novos utensílios serão  Linguagem objetiva e impessoal, de acordo com o
desenvolvidos; alguns até, quem sabe, revolucionários. No padrão culto da língua.
entanto, na opinião da doutora em educação pela
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, a
professora Andrea Ramal, não serão ferramentas de última CIENTÍFICO
geração que marcarão a aula do futuro. Para ela, os novos É um discurso de natureza expositiva e tem
rumos da educação estão mais relacionados à postura de
por finalidade expor um assunto de cunho científico.
professores e alunos em sala de aula. "Imagino a sala de
aula do futuro como um lugar comunicativo, sendo o Possui uma estrutura relativamente simples:
espaço da polifonia, da diversidade das vozes, onde todos apresentação de uma tese (explicação sobre o objeto
poderão se comunicar, se posicionar, e onde, desse de estudo) a ser desenvolvida por meio de “provas”
diálogo, vai se produzir conhecimento", prevê a doutora. (exemplos, comparações, relações de causa e efeito,
“A aula do futuro, a meu ver, será formada por resultados de testes, dados estatísticos etc.). Nesse
grupos, reunidos por interesses em temas específicos, e tipo de texto, a conclusão é facultativa. Este domínio
não por faixas etárias, exclusivamente; equipes discursivo aparece em artigos e relatórios científicos,
multidisciplinares, trabalhando juntas nos colégios, e não teses, dissertações, monografias, verbetes de
divididas em áreas como português, matemática,
enciclopédias, artigos de divulgação científica etc.
geografia, história. Serão equipes de trabalho, formadas
por professores e alunos, desenvolvendo projetos juntos. Tem como característica:
A avaliação não será a mesma para todos e não vai ser  O máximo de precisão e rigor nos conceitos e
determinada por uma única pessoa. Isso porque existirão informações utilizados;
tantos currículos quantas forem as navegações dos alunos.  Presença obrigatória de terminologia científica de
Como o indivíduo navegante é o próprio autor, haverá um uma ou mais áreas do conhecimento;
currículo por aluno. No fundo, existirão avaliações  Verbos empregados predominantemente no presente
diversificadas, por competências, e não por conteúdos; em do indicativo;
síntese: uma mudança radica0l, em que não vai mais  Linguagem clara, objetiva e impessoal, de acordo
existir o conceito de turma, mas de comunidade com o padrão culto da língua.
cooperativa de aprendizagem.”
Internet: http://teclec.psico.ufrgs.br (com adaptações). Acesso
em 8/7/2010. LITERÁRIO
É um discurso que tem função estética, no
qual o escritor busca não apenas traduzir o mundo,
Características mas recriá-lo nas palavras, de modo que, nele,
importa não apenas o que se diz, mas o modo como
de alguns discursos se diz. Este domínio discursivo aparece em: contos,
fábulas, lendas, poemas, peças de teatro, crônicas,
Discurso é a prática social de produção de roteiros de filmes, histórias em quadrinhos etc.
textos. Todo discurso é uma construção social (e não
Tem como características:
individual), que só pode ser analisada considerando-
se o seu contexto histórico-social, suas condições de
produção e, essencialmente, a visão de mundo

8
 Predomínio da linguagem conotativa, já que, por subjetivos com o debate de temas abrangentes e
sua função estética, o autor sempre atribui novos abstratos.
sentidos às palavras. A partir do Renascimento, antes do
 Utiliza múltiplos recursos estilísticos: ritmos, surgimento da imprensa jornalística, as cartas exerciam
sonoridades, repetição de palavras ou de sons, a função de informar sobre fatos que ocorriam no
repetição de situações ou descrições. mundo. Por isso, as epístolas de um autor, reunidas,
poderiam vir a ser publicadas devido a seu interesse
JORNALÍSTICO histórico, literário ou documental, como no caso das
É um texto que tem função utilitária, pois Epístolas de São Paulo (na Bíblia), destinadas às
comunidades cristãs e das cartas do padre Antônio
visa a informar o leitor. Nesse caso, o plano da
Vieira e de Pero Vaz de Caminha.
expressão não tem muita importância, já que sua
Na modernidade, com a difusão dos meios
finalidade é apenas veicular conteúdos. Este domínio eletrônicos de escrita, o discurso epistolar tende a se
discursivo aparece em editoriais, notícias, reinventar – em outros moldes e estilos, como
reportagens, artigos de opinião, comentários, cartas mensagens de e-mail, por exemplo.
ao leitor, crônica policial, crônica esportiva,
entrevistas jornalísticas, expediente, boletim do Leia, abaixo, trechos da Carta de Caminha, escrita nos
tempo, erratas e charges. primórdios do descobrimento do Brasil, impressa em
1817 pela Imprensa Régia do Rio de Janeiro:
Tem como características:
 Predomínio da narração, com a presença dos Senhor
elementos essenciais de um texto narrativo: fato, Mesmo que o Capitão-mor desta vossa frota e também
pessoas envolvidas, tempo em que ocorreu o fato, o os outros capitães escrevam a vossa alteza a notícia do
lugar onde ocorreu, como e por que ocorreu o fato. achamento desta vossa Terra Nova que, agora, nesta
 Normalmente, apresenta um título. navegação se achou não deixarei, também, de dar disso
 Predomínio da função referencial, na qual se minha conta a Vossa Alteza, tal como eu melhor puder ainda
que para bem contar e falar o saiba fazer pior que todos. Mas
privilegia a linguagem denotativa e as construções
tome Vossa Alteza minha ignorância por boa vontade; e
gramaticais em ordem direta e clara. creia, como certo, que não hei de pôr aqui mais que aquilo
que vi e me pareceu, nem para aformosear nem para afear.
PUBLICITÁRIO (...)
Mas o melhor fruto que nela se pode fazer, me parece
É um discurso de natureza dissertativa que que será salvar esta gente; e esta deve ser a principal semente
tem por finalidade apresentar argumentos (diretos ou que Vossa Alteza nela deve lançar. E que não houvesse mais
indiretos) para persuadir o interlocutor sobre as do que ter aqui esta pousada para esta navegação de Calecute,
bastaria, quanto mais disposição para se cumprir nela e fazer
eventuais “vantagens” de um produto: quantitativas
o que Vossa Alteza tanto deseja, ou seja: acrescentamento da
(rende mais, é mais barato); qualitativas (o melhor, nossa Santa Fé. E desta maneira Senhor, dou aqui a Vossa
o mais saboroso, o mais nutritivo) e ideológicas Alteza notícia do que nesta vossa terra vi. E se algum pouco
(mais moderno, mais arrojado, mais exclusive). Este me alonguei, Ela me perdoe, que o desejo que tinha de vos
domínio discursivo aparece em propagandas, dizer tudo me fez assim por pelo miúdo. Pois que, Senhor, é
anúncios classificados, cartazes, folhetos, outdoors, certo que, assim, neste cargo que levo, como em outra
qualquer coisa, que de Vosso serviço for, Vossa Alteza há de
inscrições em muros, placas, front lights,
ser, por mim, muito bem servida. A Ela peço que, para me
logomarcas, publicidade em geral. fazer singular mercê, mande vir da Ilha de São Tomé, Jorge
Tem como características: de Osório, meu genro, o que d’Ela receberei em muita mercê.
 É quase sempre constituído por imagem e texto. Beijo as mãos de Vossa Alteza. Deste Porto Seguro de vossa
 O nível de linguagem utilizado varia de acordo com ilha de Vera Cruz, hoje, sexta-feira, primeiro dia de maio de
o público que se quer atingir. 1500.
 Utiliza verbos geralmente no modo imperativo ou no
presente do indicativo.
 Faz uso de recursos tais como: figuras de linguagem, GÊNEROS TEXTUAIS
ambigüidades, jogos de palavras (trocadilhos),
provérbios etc. Os gêneros textuais também estão ligados às
 A estrutura pode variar, mas é geralmente composta práticas sociais e, portanto, são inúmeros – textos
por: título (que chame a atenção sobre o produto); orais ou escritos produzidos por falantes de uma
texto (que amplie o argumento do título) e assinatura língua em determinado momento histórico. Podem
(logotipo ou marca do anunciante). ser definidos de acordo com o estilo, a função, a
composição e, principalmente, o conteúdo. Vale
EPISTOLAR lembrar que muitos gêneros são comuns a vários
É um discurso de natureza narrativa, escrito domínios discursivos. Alguns gêneros utilizados em
sob a forma de carta, que se caracteriza por provas de concurso:
apresentar opiniões, manifestos e discussões, as
quais vão muito além dos meros interesses pessoais
1. EDITORIAL
É um texto dissertativo, que manifesta a
ou utilitários. Texto que combina paixões e apelos
opinião do jornal ou da revista a respeito de um assunto

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da atualidade, quase sempre polêmico, com a intenção Estrutura textual:
de esclarecer ou alterar pontos de vista dos leitores,  Lead é um resumo do fato em poucas linhas e
alertar a sociedade e, às vezes, até mobilizá-la. compreende, normalmente, o primeiro parágrafo da
O editorial, como texto argumentativo que é, notícia. Contém as informações mais importantes e
tem por finalidade persuadir o leitor e, por isso, precisa deve fornecer ao leitor a maior parte das respostas às
dar a impressão de que detém a verdade, evitando perguntas formuladas anteriormente.
opiniões pessoais, afirmações generalizantes e sem  Corpo são os demais parágrafos da notícia, nos quais
fundamento. No desenvolvimento das idéias de um se apresenta o detalhamento do assunto exposto no
editorial, os recursos empregados para dar maior Lead, fornecendo ao leitor novas informações, em
consistência ao texto e aproximá-lo da verdade são ordem cronológica ou de importância.
exemplos, depoimentos, dados estatísticos, pesquisas,
comparações ou relações de causa e efeito. Leia a notícia extraída do jornal Folha de São Paulo:
Semelhante a outros textos argumentativos, o Assombrado pela necessidade e pela fome Ashkar
editorial normalmente apresenta uma estrutura Muhammad primeiro vendeu alguns de seus animais. Aí,
organizada em torno de três partes: introdução, em que enquanto os meses iam passando, trocou os tapetes da
se anuncia a tese a serem defendida pelo jornal; o família, os utensílios de metal e até mesmo as toras de
madeira que sustentavam o teto da cabana que o abriga com a
desenvolvimento, em que são apresentados os
larga prole.
argumentos que fundamentam essa tese; e a conclusão, Mas o dinheiro não dava. A fome sempre
em que se faz uma síntese das idéias expostas. reaparecia. Finalmente, seis semanas atrás Muhammad fez
Leia o editorial abaixo, extraído da revista algo que se tornou infelizmente digno de nota no país. Ele
Época, de 20 de setembro de 2005. levou dois de seus dez filhos para o bazar da cidade mais
Sinais inequívocos de como o homem moderno já próxima e os trocou por sacos de trigo. Agora os garotos
está sendo prejudicado pelo uso depredatório dos recursos Sher, 10; Baz, 5, estão longe de suas casas. “O que mais eu
naturais têm se multiplicado mundo afora. No ano de 2005, poderia fazer?”, pergunta o pai, em Kangori, uma remota vila
houve um número sem precedentes de irregularidades no norte do Afeganistão. Ele não quer parecer indiferente:
climáticas de conseqüências trágicas. Quase “Sinto falta de meus filhos, mas não havia nada para comer”.
simultaneamente, houve ondas de calor nos EUA, na Europa, Nas colinas próximas, vêem-se pessoas debilitadas
na Ásia e na África. Inundações na Ásia, nos EUA e na voltando de uma colheita primitiva de variedades de vegetais
Europa. E também furacões devastadores nas Antilhas, nos da região e até mesmo grama – uma colheita que só fica
EUA e na Ásia. E até no Brasil, um caso com poucos minimamente comestível se fervida por muito tempo. “Para
precedentes. E ainda por cima começam a se desenvolver alguns, não há nada mais”, balbucia Muhammad.
BEARAK, Barry. Pai afegão vende filhos para comprar comida. Folha
hipóteses de que a atividade vulcânica, responsável por de São Paulo, São Paulo, 17 mar. 2006.
maremotos (tsunamis), pode ser induzida pelo aumento da
temperatura do mar.
Embora não seja consenso, pesquisas científicas 3. REPORTAGEM
apontam uma relação de causa e efeito entre o aquecimento É uma modalidade de caráter opinativo, que
global e as perturbações climáticas observadas nos últimos estabelece uma conexão entre o fato central e os fatos
tempos. Com base nisso, desde 1997, representantes de cerca paralelos, questiona causas e efeitos desses fatos,
de duas centenas de países têm se reunido para discutir um interpretando-os e orientando o leitor sobre eles.
protocolo de intenções para regular a emissão dos gases
Não possui uma estrutura rígida: de modo
poluidores responsáveis pelo aquecimento global. A esse
protocolo foi dado o nome de Kyoto, cidade japonesa onde
geral, é introduzida por um lead e é sempre encabeçada
ocorreu a primeira reunião do grupo. por um título (que anuncia o fato em si) e pode ou não
apresentar subtítulo.
Na reportagem, o autor desenvolve a narrativa
2. NOTÍCIA pormenorizada dos fatos, compondo-a por meio de
É um texto narrativo que expressa um fato entrevistas, depoimentos, dados estatísticos, pequenos
novo, buscando despertar o interesse do público a que resumos e textos de opinião, e, depois, emite sua
se destina. Gênero tipicamente jornalístico, a notícia opinião a respeito do assunto.
pode ser veiculada em jornais, escritos ou falados, e em Embora seja um texto de linguagem clara,
revistas. dinâmica e objetiva (de acordo com o padrão culto), a
Uma notícia deve ser imparcial e objetiva, ou maioria dos jornais e revistas brasileiros costuma
seja, deve expor fatos, e não opiniões, em linguagem empregar uma linguagem mais informal, dependendo
clara, direta e bastante precisa. É encabeçado por um do público a que esses veículos se destinem.
título, que anuncia o assunto a ser desenvolvido e no Leia o excerto abaixo:
qual são empregadas palavras curtas e de uso comum.
Enquanto a notícia nos diz no mesmo dia ou no
Os elementos que compõem a notícia são a seguinte se o acontecimento entrou para a história, a
resposta a estas seis perguntas básicas. reportagem nos mostra como é que isso se deu. Tomada
• O quê? – os fatos; como método de registro, a notícia se esgota no anúncio; a
• Quem? – os personagens, as pessoas; reportagem, porém, só se esgota no desdobramento, na
pormenorização, no amplo relato dos fatos.
• Quando? – em que tempo;
O salto da notícia para a reportagem se dá no
• Onde? – em que lugar; momento em que é preciso ir além da notificação – em que a
• Como? – de que maneira, por meio de quê; notícia deixa de ser sinônimo de nota – e se situa no
• Por quê? – por que motivo(s). detalhamento, no questionamento de causa e efeito, na
interpretação e no impacto, adquirindo uma nova dimensão

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narrativa e ética. Porque, com essa ampliação de âmbito, a
reportagem atribui à notícia um conteúdo que privilegia a
versão. Se a nota é geralmente a história de uma só versão
[...], a reportagem é, por dever e método, a soma das
diferentes versões de um mesmo acontecimento.
[...] É fundamental ouvir todas as versões de um
fato para que a verdade apurada não seja apenas a verdade
que se pensa que é e, sim, a verdade que se demonstra e tanto
que possível se comprova.
Jornal, história e técnica: as técnicas do jornalismo. São Paulo: Ática, 1990.

4. ARTIGO DE OPINIÃO
É um texto jornalístico de caráter dissertativo,
com assinatura do autor, no qual ele expressa uma
opinião ou comenta um assunto a partir de determinada 6. CARTUM (do inglês cartoon)
posição. É uma modalidade na qual o articulista É um desenho humorístico que tem amplo
geralmente apresenta opiniões, que refletem apenas a espaço na imprensa escrita atual e retrata, de maneira
forma como ele compreende e interpreta os fatos. extremamente crítica, um fato que não depende do
Leia o artigo de opinião, escrito pelo jornalista contexto específico de uma época ou cultura.
Eugênio Bucci, extraído da revista Veja, de 18/09/96. O cartum trata de temas universais (o amante,
No seu programa de Domingo dia 8 [setembro de o palhaço, a guerra, a luta do bem contra o mal) que
1996], o apresentador Fausto Silva colocou em cena o garoto podem ser entendidos em qualquer parte do mundo por
Rafael, da altera do seu joelho. Logo que o peso-pena pisou diferentes culturas e em diferentes épocas. É uma
no programa, Faustão tentou entrevistá-lo. O menino, com forma de manifestação caricatural que normalmente
idade mental de criança que acabou de deixar a fralda, não
prescinde de textos de apoio, representando as idéias
entendia as perguntas. Respondia uma ou outra, com uma voz
que parecia um balbucio. Houve então sessões de piada tendo apenas pela expressão dos personagens no desenho.
o garoto como tema. [...]
A apresentação do Bizarro na televisão é um
recurso que dá resultado, sempre deu. O bizarro atrai a
atenção do ser humano quase que por instinto, sem que ele
raciocine. [...] Se os telespectadores ficam olhando curiosos,
o ibope do programa sobe e isso significa sucesso comercial,
mais anúncios, mais faturamento.
Qual é a fronteira, qual a linha divisória entre o que
se pode levar ao ar para atrair mais telespectadores? “É tênue
a linha que divide o que é curioso e o que transforma a
curiosidade em algo que ridiculariza uma pessoa”, arrisca o
empresário Sílvio Santos, dono do SBT, uma emissora que
não raro transpões essa linha. [...]
7. FÁBULA
5. CHARGE (do francês charger ‘carregar’ ) É um texto narrativo de caráter alegórico, que
trabalha o imaginário e que pretende transmitir alguma
É uma forma de manifestação caricatural que
lição de fundo moral, tendo geralmente animais como
relata um fato ocorrido em uma época definida, dentro
personagens. Quando ela utiliza objetos inanimados,
de determinado contexto cultural, econômico e social
recebe o nome de apólogo. A fábula constitui uma
específico que depende do conhecimento desses fatores
forma simples de narrativa. Suas raízes remontam à
para ser entendida (fora desse contexto, ela
Antiguidade greco-romana, com Esopo e Fedro. La
provavelmente perde sua força comunicativa).
Fontaine, poeta francês, foi quem introduziu e
A charge transforma a intenção artística em
aprimorou as fábulas antigas, fazendo com que
uma prática política, em uma forma de resistir aos
chegassem até nós.
acontecimentos, nem sempre objetivando o riso
No Brasil, coube a Monteiro Lobato recriar as
(embora o tenha como atrativo), utilizando-se da
fábulas de La Fontaine e a Millôr Fernandes atualizar
caricatura, de recursos visuais e lingüísticos para fazer
algumas das histórias clássicas. Millôr é também
uma síntese dos acontecimentos cotidianos filtrados
criador de algumas fábulas modernas cheias de humor
pelo olhar de seus atentos produtores. Justamente por
e filosofia, como mostra o exemplo abaixo:
isso, ela tem um papel importantíssimo como registro
histórico. A causa da chuva
Não chovia há muitos e muitos meses, de modo que os
animais ficaram inquietos. Uns diziam que ia chover logo,
outros diziam que ainda aia demorar. Mas não chegava a uma
conclusão.
 Chove só quando a água cai do telhado do meu
galinheiro - esclareceu a galinha.

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 Ora, que bobagem! - disse o sapo de dentro da Ao mesmo tempo em que a crônica tem o
lagoa. Chove quando a água da lagoa começa a borbulhar as caráter transitório de um jornal - uma vez que nasceu
gotinhas. dentro desse veículo de comunicação de massa -, ela
 Como assim? - disse a lebre. Está visto que só apresenta também um narrador (que é o próprio autor),
chove quando as folhas das árvores começam a deixar cair as personagens que se aproximam muito das pessoas da
gotas d’água que têm dentro. vida real, enredo, tempo e espaço. Na maioria dos
Nesse momento começou a chover.
casos, todos esses elementos são trabalhados numa
 Viram? - gritou a galinha. O telhado do meu
linguagem poética. Muitos cronistas contemporâneos
galinheiro está pingando. Isso é chuva.
 Ora, não vê que a chuva é a água da lagoa conseguem captar flashes, circunstâncias do cotidiano,
borbulhando? - disse o sapo. de uma maneira tão lírica que fica difícil dizer que tais
 Mas, como assim? - tomou a lebre. Parecem textos não assumem um caráter literário.
cegos! Não vêem que a água cai das folhas das árvores. Cabe ressaltar que, apesar de ser um gênero
narrativo por definição, a crônica é um texto
Moral: Todas as opiniões estão erradas. geralmente híbrido (uma mescla de modalidades), que
Millôr Fernandes (Adaptado).
não prescinde da reflexão e do comentário. Leia:

8. INFOGRÁFICO Vejo uma aranha caçar uma mariposa — eis o


problema. Mato a aranha? Deixo a aranha viva e salvo a
É um quadro informativo que mistura texto e mariposa? Deixo a aranha devorar a mariposa?
ilustração para transmitir visualmente uma informação O fato se passa numa terça-feira de carnaval, mas
(Em vez de “contar”, o infográfico “mostra a notícia não faço alegoria. Não me refiro veladamente a um pierrô
como ela é”, com detalhes mais relevantes e forte apelo malvado que seqüestra uma indefesa colombina... É carnaval,
visual). mas estou sentado à minha mesa de trabalho e é a trinta
O infográfico é usado corriqueiramente no centímetros de mim, sob a borda da janela, que se processa
esse assassinato.
design de jornais, com a função de descrever como
Detenho-me e observo. A mariposa se agita presa
aconteceu determinado fato e quais as suas por fios invisíveis, e já da sombra surge a aranha, pequenina,
conseqüências ou de explicar, por meio de ilustrações, dedilhante. A princípio sou pura curiosidade: a aranha é
diagramas e textos, fatos que o texto ou a foto não muito menor que a mariposa, que irá fazer? Aproxima-se, faz
conseguem detalhar com a mesma eficiência. Ele se uma volta em torno dela, detém-se em certos pontos, move
tornou um grande atrativo para a leitura das matérias, afanosamente as pernas.
tendo em vista que facilita a compreensão do texto e A mariposa se agita menos, enleada. É quando
oferece uma noção mais rápida e clara dos sujeitos, do intervém em mim o sentimento: a aranha vai devorá-la! O seu
tempo e do espaço da notícia. Observe o exemplo que trabalho agora é sinistro: sobe na mariposa, tece-lhe na
cabeça, procura virá-la, muda de posição — upa! — vira-a.
segue:
Parece um homem trabalhando, amarrando sua presa.
Ouço distante o rumor de um bloco que passa lá na
rua dos fundos. O Rio inteiro está mergulhado na folia, e é
como se a aranha aproveitasse essa distração para cometer o
seu crime silencioso. Por acaso, um dos habitantes da cidade
— eu — ficou em casa, e com isso a aranha não contava. Sou
a testemunha. Mais que isso: posso evitar o crime. Bastaria
um gesto meu e a mariposa estaria salva. Devo fazê-lo?
Enquanto isso, a aranha continua sua faina sinistra.
Agora arrasta a mariposa, já imobilizada, para aquele canto
da sombra, sob o parapeito, donde saíra momentos antes.
Percebo na aranha uma inteligência quase humana. Pobre
mariposa, e o carnaval troando lá fora! Vou salvá-la. Ergo a
mão, mas vacilo como uma divindade irresoluta. Um
segundo, minha mão onipotente detém-se erguida no ar.
Enfim, para que servem as mariposas?
— Para que as aranhas as comam — responde-me a aranha
sem interromper seu serviço.
— Sim, mas para que servem as aranhas?
— Para comer as mariposas.
— Ora bolas, mas para que servem as aranhas e as
9. CRÕNICA mariposas?
É um texto jornalístico de caráter narrativo, A aranha já não se dignou responder. A essa altura
que obedece à ordem do tempo (etimologicamente, a sumira com a mariposa sob o parapeito da janela. Alguém,
palavra vem do grego chrónos, que significa ‘tempo’). providencialmente, bate à porta do escritório e me chama à
Modernamente, a crônica é um relato sobre os realidade dos homens.
Ferreira Gullar. A estranha vida banal. Rio de Janeiro: José Olympio, 1989.
acontecimentos do cotidiano, escrito em linguagem
leve. Ela difere do conto não apenas no tamanho, mas
também na linguagem. Ela busca a intimidade e o
humor da anedota, numa linguagem cotidiana que 10. CRÔNICA REFLEXIVA
encontra receptividade em todos os leitores. É uma modalidade de crônica na qual o autor
tece reflexões filosóficas, ou seja, produz opiniões e

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impressões (humorísticas ou líricas) sobre um assunto, Em sua forma implícita, a intertextualidade é
cativando a sensibilidade do leitor numa abordagem bastante comum nos textos publicitários e, neste caso,
descontraída. serve para persuadir o leitor e levá-lo a consumir um
Na crônica reflexiva, não há preocupação com produto ou, até mesmo, para difundir a cultura.
a forma, já que ela admite tanto a linguagem culta Em sua forma explícita, a superposição de
quanto a coloquial, além de recursos poéticos, como um texto sobre outro pode promover uma atualização
repetições enfáticas e gírias. Ela representa a ou modernização das ideias do primeiro texto, fazendo
expressão espontânea do pensamento. chegar ao leitor, de maneira mais efetiva, o pensamento
Observe o texto que segue: do autor. Esta forma aparece com frequência nos
textos utilizados pelas Bancas examinadoras em provas
Os olhos de Isabel de concursos. No texto que segue, por exemplo, o
Instalou-se ontem, no Rio, um banco de olhos. Ali poeta Mário Quinatana faz alusão a uma passagem da
será conservada na geladeira uma parte dos olhos tirados de Bíblia e a uma famosa frase do escritor francês
pessoas que acabam de morrer, de acidentados e natimortos. Voltaire. Veja:
Os cegos que são capazes de distinguir a claridade
poderão, em muitos casos, ter vista perfeita, recebendo nos
Da imparcialidade
olhos a córnea da pessoa morta. Já houve muitos casos dessa
A imparcialidade é uma atitude desonesta. Das duas
operação no Brasil, como o da jovem Isabel, de 18 anos, cega
uma: ou o imparcial está mentindo, traindo, assim, as suas
desde nascença, que passou a ver bem. Não a conheço; e
mais legítimas preferências, ou então não passa de um exato
estimo que seja feliz em suas visões, e veja sempre coisas que
robô, mero boneco mecânico, sem opinião pessoal, sem nada
a façam alegre.
de humano.
É pelos olhos que entra em nós a maior parte das
Aquela frase de Voltaire, tão citada: “Não creio em
alegrias e tristezas. Os meus, ainda que bastante usados,
uma só palavra do que dizes, mas defenderei até à morte teu
enxergam bem, e mesmo, em certas circunstâncias, demais.
direito de o dizer”. É uma das coisas mais demagógicas que
São, é natural, sujeitos a muitas ilusões; de muitas já fui ao
alguém já poderia ter inventado. Se achamos que algo é
empós, e eram miragens que me levaram ao meio de um
nocivo, meu Deus, como conseguiremos dormir tranquilos
deserto onde me alimentei de gafanhotos e lágrimas, tomando
sem evitar sua propagação?
sopa de vento, comendo pirão de areia, como diz a canção.
Pilatos também é um exemplo de imparcialidade.
A fina membrana dos olhos não guarda a lembrança
Ao condenar Cristo, aparentemente deixou de tomar posição.
das visões; mas que sabemos? A matéria viva é uma coisa
Porém a realidade insurge-se contra os fatos. Frente à massa,
sutil e sensível que ninguém entende. O jornal não diz de
procurou preservar seu governo. Desempenhou na História
quem eram os olhos com que hoje vê a moça Isabel; e ela,
uma pontinha. Mas que pontinha! Condenou um inocente,
nunca tendo visto antes, não sabe se as visões de hoje são
desconhecendo a posteridade. Esqueceu Pilatos, entretanto,
verdade ou fantasia; talvez esteja a ver este mundo através do
que a verdade deve ser reconhecida e proclamada em
filtro emocional de uma criatura já morta; (...) mas tenham
qualquer situação.
visto o que tiverem antes, que ora vejam tudo em suave e
belo azul, a cor dos sonhos e descobrimentos nas navegações Mário Quintana. In: Caderno H. Porto Alegre. (Com adaptações).
dos 18 anos. Que são tontas, mas belas navegações.
Rubem Braga, O homem rouco. Rio: Editora do Autor, 1963

REESCRITURAS DE TEXTOS
INTERTEXTUALIDADE
 PARÁFRASE: consiste no desenvolvimento
Ocorre quando há um diálogo (implícito ou interpretativo de um texto. A paráfrase é uma
explícito) entre textos ou gêneros textuais. Ela serve espécie de “tradução” (com palavras do
para ilustrar a importância do conhecimento de mundo próprio tradutor) das idéias de um texto –
e como este interfere no nível de compreensão de um
sem comentários marginais, sem nada
texto. Assim, mesmo quando não há citação explícita
da fonte inspiradora, é possível reconhecer elementos acrescentar e sem nada omitir sobre aquilo
do outro texto, já que ele é normalmente bastante que está no original. A paródia, por
conhecido. Esse conhecimento, porém, não se dá por exemplo, é um tipo de paráfrase satírica, com
acaso nem por obra da intuição e, sim, pelo exercício intenção crítica, que tem por características a
da leitura. Quanto mais experiente for o leitor, mais caricatura, a jocosidade e a fuga à intenção
possibilidades ele terá de compreender os caminhos primeira do autor.
percorridos por um determinado autor em sua produção
e, da mesma forma, mais possibilidades ele terá de  PERÍFRASE (amplificação): consiste no
utilizar seus próprios caminhos. emprego de um rodeio de palavras (e outros
São exemplos de intertextos: Epígrafe (escrita floreios) para exprimir, ampliar uma idéia
introdutória a uma outra); Citação (transcrição de texto ou parte de um texto. A perífrase textual
alheio, marcada por aspas); Paráfrase (reprodução do pode ser útil para levar o leitor a dizer a
texto do outro, com palavras daquele que o reproduz); mesma coisa – de maneiras diferentes.
Paródia (forma de apropriação que, em lugar de
endossar o modelo retomado, rompe com ele, sutil ou
 RESUMO: consiste em “traduzir” um texto,
abertamente, visando à ironia ou à crítica) e Tradução
(recriação de um texto).
fazendo uma condensação fiel de suas idéias.
É reduzir o texto ao seu esqueleto essencial,

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obedecendo aos seguintes procedimentos: PRINCIPAIS RECURSOS DE
captar cada uma das idéias relevantes;
respeitar a progressão em que elas se COESÃO
sucedem; encadear (correlacionar) cada
uma das partes. PREPOSIÇÕES - palavras invariáveis que ligam
outras palavras, estabelecendo entre elas determinadas
 SÍNTESE: consiste em traduzir, em poucas relações de sentido e de dependência.
palavras, aquilo que o autor expressou As preposições podem ser:
amplamente. Na síntese, é importante Essenciais (sempre têm essa função): a, ante, após,
agrupar os fatos particulares em um todo, até, com, contra, de, desde, em, entre, para, perante,
dando-lhes uma visão geral. por, sem, sob, sobre, trás.
Acidentais (circunstanciais, pois podem pertencer a
outras classes gramaticais): afora, conforme,
PROCESSOS DE consoante, durante, exceto, fora, mediante, tirante,
salvo, segundo.
COESÃO TEXTUAL Ao ligarem os termos, as preposições podem
A coesão de um texto é decorrente das estabelecer relações de:
relações de sentido que se operam entre os seus Assunto: O ministro falou sobre Educação.
elementos. Muitas vezes, a compreensão de um termo Causa: Ele vibrava de entusiasmo.
depende da interpretação de outro ao qual ele faz Companhia: Estava com o secretário particular.
referência. Direção/sentido: Depois seguiu para o Sul.
Os elementos de que a língua dispõe para Especialidade: Ele é especialista em Sociologia.
relacionar termos ou segmentos na construção de um Falta: Contudo, estava sem verbas naquele momento.
texto são os recursos vocabulares, sintáticos e Finalidade: Disse aquilo para tranqüilizar o professor.
semânticos – chamados de conectivos, coesivos ou Instrumento: Atrapalhou-se com o microfone.
conectores. Lugar: Ele mora em Brasília.
Matéria: Aqui comprou uma bota de couro.
Meio: Certamente voltará de avião.
O texto adequado é aquele que resume Oposição: Mostrou-se contra a estatização do ensino.
as seguintes qualidades: Origem: Na verdade, é natural de Maceió.
 Correção: o texto/fragmento deve obedecer às Posse: Em Brasília, hospeda-se na casa de Erundina.
regras gerais da língua (ressalvando-se sempre Entre outras...
algumas liberdades como conseqüência do estilo). Uma mesma preposição pode atribuir idéias
O emprego da modalidade culta formal atribui distintas a um texto. Portanto, desista de decliná-las
maior credibilidade ao texto. apenas e atente para os possíveis sentidos que podem
trazer ao contexto. Observe:
 Coerência: é a adequação entre o que se afirma
Ficar de pé (modo); morrer de fome (causa); pulseira
e o que diz o contexto extraverbal (é necessário
de ouro (material); maço de cigarros (conteúdo); casa
que o leitor conheça o assunto a que o texto faz
de Luís (posse); falar de futebol (assunto);
referência).
descendente de alemães (origem); viajar de avião
 Clareza: é imprescindível para que o leitor (meio); atitude de imbecil (semelhança) etc.
ganhe mais facilmente a adesão do leitor às suas Cuidado!
idéias (ao compreender com facilidade as idéias A preposição “de” não deve contrair-se com:
expostas o leitor estará mais propenso a concordar  o artigo que precede o sujeito de um verbo.
com elas). Ex.: É tempo de a polícia agir com eficácia.
 Coesão: ocorre quando as palavras ou os termos  o artigo que faz parte de um título.
das orações – e mesmo as orações – se ligam para Ex.: O fato de O Globo ter noticiado a negociação...
formar um texto. Essa ligação se dá por meio de  Tratar com carinho (modo); ficar pobre com a
recursos como conjunções, pronomes, inflação (causa); vinho se faz com uva (matéria);
preposições, a própria escolha vocabular, entre ir ao cinema com o Jonas (companhia); jogar com
outros. (contra) os argentinos (oposição).
 Escrever em francês (modo); televisor em cores
 Concisão: é o resultado do uso de linguagem
(qualidade/estado); pagar em cheque (meio);
precisa/enxuta, sem, contudo, comprometer a
ficar em casa (lugar); pedir em casamento
clareza. O procedimento oposto é a prolixidade,
(finalidade).
o “encher lingüiça” – defeito que deve ser evitado
 Para mim, ela está mentindo (referência); ter
em um texto.
água para dois dias apenas (tempo); nascer para o
trabalho (finalidade); ser inteligente para não cair
numa cilada (consequência); vou para Goiânia
(lugar) – neste caso, para dá a idéia de estada

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permanente ou definitiva, ao contrário da jornais fazem alarde de sua neutralidade em relação
preposição ‘a’, que exprime breve regresso. Desse aos fatos, isto é, de seu não comprometimento com
modo, vamos para o céu ou para o inferno, já que nenhuma das forças em ação no interior da
de tais lugares não há regresso. sociedade”.
Alguns conectivos adversativos (mas,
CONJUNÇÕES - palavras invariáveis que ligam todavia, porém, contudo, entretanto) marcam
oposição entre dois enunciados ou dois segmentos do
duas orações ou duas palavras de mesma função em
texto. Não é possível ligar, por meio desses conectivos,
uma oração. Podem ser:
segmentos que não se oponham.
Coordenativas: ligam orações, estabelecendo entre Certos elementos de coesão servem para
elas apenas dependência semântica. São elas: aditivas, estabelecer gradação entre os componentes de uma
adversativas, alternativas, conclusivas e explicativas. escala. Alguns (mesmo, até, até mesmo) situam a
Subordinativas: ligam orações, estabelecendo relação idéia no topo da escala; outros (ao menos, pelo menos,
de dependência semântica e gramatical, ou seja, uma no mínimo) situam-na no plano mais baixo. Exemplos:
oração é termo de outra. São elas: integrantes, causais, • “O homem é ambicioso, quer ser dono de bens
comparativas, concessivas, condicionais, materiais, da ciência, do próprio semelhante; até
conformativas, consecutivas, temporais, finais e mesmo do futuro e da morte”.
proporcionais. • “É preciso garantir ao homem seu bem-estar: o
As orações se apresentam como elementos lazer, a cultura, a liberdade, ou, no mínimo, a
capazes de estabelecer relações de significado ao moradia, o alimento e a saúde”.
texto. A troca de uma conjunção por outra muda Os conectivos que estabelecem ao mesmo
completamente a relação semântica do período. tempo uma relação de contradição e de concessão
Observe: (embora, ainda que, mesmo que) servem para admitir
a) Todos os seres humanos são iguais e nenhum é um dado contrário, e depois negar seu valor de
superior ou inferior aos outros. (e = adição entre as argumento. É preciso ficar atento ao seu uso, pois se
orações) essa relação não for apropriada, deixará o enunciado
b) Todos os seres humanos são iguais, portanto descabido. Veja:
nenhum é superior ou inferior aos outros. “Embora o Brasil possua um solo fértil e imensas
(portanto= relação de conclusão) áreas de terras plantáveis, vamos resolver o problema
c) Todos os seres humanos são iguais, porque da fome”.
nenhum é superior ou inferior aos outros. (porque
= relação de causa e efeito) PRONOMES RELATIVOS – pronomes que
retomam um termo já citado numa oração,
Observe as idéias atribuídas por substituindo-o no início da oração seguinte. Veja:
determinadas conjunções e expressões: Eu trouxe os lápis. Você precisará desses lápis.
Eu trouxe os lápis de que você precisará.
O conectivo “e” anuncia o desenvolvimento
do discurso e não a repetição do que foi dito antes; Os pronomes relativos podem ser:
indica uma progressão semântica que adiciona, que  Variáveis: o/a qual, os/as quais; cujo(s), cuja(s);
acrescenta um dado novo. É necessário tomar cuidado quanto(s), quanta(s).
na análise dessa conjunção, pois em alguns casos, seu  Invariáveis: que, quem, onde, como, quando.
uso se constitui apenas um recurso estilístico: serve
para enfatizar uma idéia! Principais características dos pronomes
O mecanismo Ainda serve para introduzir relativos:
mais um argumento a favor de determinada conclusão
1ª) Os relativos sempre iniciam uma nova oração.
ou incluir um elemento a mais dentro de um conjunto
Visitaremos a cidade / onde eu nasci.
qualquer. Exemplo: “O nível de vida dos brasileiros é Oração A Oração B

baixo porque os salários são pequenos. Convém


lembrar ainda que os serviços públicos são 2ª) A maioria das bancas examinadoras do país gosta
extremamente deficientes”. de cobrar os pronomes relativos atrelados à regência
(nominal ou verbal). Exemplos:
Alguns termos servem para introduzir um
argumento decisivo (Aliás, além do mais, além de Ele é o rapaz a cujas idéias me refiro.
tudo, além disso), apresentado como acréscimo, como Ele é o rapaz de cujas idéias discordo.
se fosse desnecessário, justamente para dar o golpe Ele é o rapaz com cujas idéias concordo.
final no argumento contrário. Exemplo: “Os salários Ele é o rapaz de cujas idéias desconfio.
estão cada vez mais baixos porque o processo Ele é o rapaz em cujas idéias me confio.
inflacionário diminui consideravelmente seu poder de
compra. Além de tudo são considerados como renda e 3ª) O relativo que:
taxados com impostos”. a) Pode retomar palavras que nomeiam pessoas ou coisas.
Algumas expressões (isto é, quer dizer, ou Ex.: O rapaz que chegou é meu vizinho. (o qual)
seja, em outras palavras) introduzem b) Pode se referir aos demonstrativos o, a, os, as.
esclarecimentos, retificações, desenvolvimento ou Ex.: Sei o que você faz neste lugar! (o = aquilo)
desdobramento da idéia anterior. Exemplo: “Muitos

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4ª) O relativo quem só é usado para retomar palavras  Este (e variações) – refere-se ao elemento citado
que designam pessoas. por último.
Ex.: Ela é a pessoa com quem você conversava. Exemplo: Brasil e Uruguai são dois países sul-
americanos. Aquele foi colonizado pelos portugueses;
5ª) Os relativos cujo(a), cujos(as) são usados entre dois este, pelos espanhóis.
substantivos, estabelecendo entre eles uma idéia de Aquele – Brasil (citado primeiro);
posse. Exemplo: Este – Uruguai (citado por último).
Discutiremos um assunto cujas causas são complexas.
(cujas causas = as causas do assunto)  MECANISMOS DE REFERÊNCIA NO ESPAÇO
(DÊITICOS) – LOCALIZAM SERES OU COISAS NO
6ª) Os relativos onde, aonde: essas duas formas sempre ESPAÇO.
indicam lugar e têm empregos diferentes. Usa-se este, esta, isto, deste, desta, disto, neste,
Onde – indica “lugar em que”. Exemplo: nesta e nisto para o que está próximo da pessoa que
Fui à cidade onde você nasceu. (Quem nasce, nasce fala.
em). Usa-se esse, essa, desse, dessa, nesse, nessa para
Aonde – indica “lugar a que”. Exemplo: o que está próximo da pessoa com quem se fala.
Conheço a cidade aonde você vai. (Quem vai, vai a). Aquele, aquela, aquilo, naquele, naquela,
naquilo, daquele, daquela, daquilo indicam o que está
7ª) Os relativos quanto(s) e quanta(s) são precedidos longe de quem fala e também longe de quem ouve.
de tudo, todo, tanto (e variações). Exemplos: Exemplo: “O que é aquilo que está lá no fim da rua?”.
Esqueceu-se de tudo quanto prometera.  MECANISMOS DE REFERÊNCIA NO TEMPO
Todos quantos assistiram ao filme ficaram (DÊITICOS) – LOCALIZAM SERES OU COISAS NO
decepcionados. TEMPO.
Você quer provas de concurso? Pois pegue tantas Este, esta, isto, neste, nesta, nisto, deste, desta e
quantas quiser. disto indicam um tempo presente atual. Exemplo: “Este
ano tem sido muito bom para quem quer passar em um
8ª) O relativo como tem sempre as palavras “modo”, concurso público.” (ano de 2007).
“maneira” ou “forma” como antecedentes e equivale Usa-se esse, essa, isso, nesse, nessa, nisso, desse,
semanticamente a pelo qual (e variações). Exemplos: dessa e disso indicam um tempo passado ou futuro,
Contaram-me a maneira como você se comportou. mas não muito distante. Exemplos: “A seleção
(pela qual) brasileira jogará no Chile nesse fim de semana.”
Vamos acertar o modo como irei trabalhar. Aquele, aquela, aquilo, naquele, naquela,
(pelo qual)
naquilo, daquele, daquela, daquilo indicam um tempo
9ª) O relativo quando sempre terá um antecedente que distante. Exemplo: “Mudei para Brasília há vinte anos.
dê idéia de tempo. Nesse caso, ele equivale Naquela época aqui não havia tantos mendigos nas
semanticamente a em que. Veja os exemplos: ruas”.
Era chegado o dia quando teríamos que resolver o Atenção!
caso. (em que) Os pronomes adjetivos (último, penúltimo,
Bendita a hora quando você apareceu aqui! antepenúltimo, anterior, posterior) e os numerais
(em que) ordinais (primeiro, segundo etc.) também podem ser
usados para se fazer referências em geral.
PRONOMES DEMONSTRATIVOS –
pronomes que situam elementos dentro do
texto, ou os seres - no tempo e no espaço - em FATORES LINGUÍSTICOS DE
relação em relação a cada uma das três
pessoas gramaticais. São eles: COESÃO TEXTUAL
 MECANISMOS DE ARTICULAÇÃO TEXTUAL
(TÊM FUNÇÃO ANAFÓRICA E CATAFÓRICA) – 1. P A R A L E L I S M O S
servem para situar elementos no contexto 1.1 - Paralelismo sintático é a combinação de
lingüístico. palavras em estruturas sintáticas que se repetem ao
Esse, essa, isso, nesse, nessa, nisso, desse, dessa e longo do texto. Nesse caso, não se repetem as
disso são termos anafóricos (retomam o que foi palavras, mas a mesma construção sintática (o
mencionado). mesmo tipo de sujeito seguido do mesmo tipo de
Este, esta, isto, neste, nesta, nisto, deste, desta e verbo com o mesmo tipo de complemento etc). O
disto são termos catafóricos (referem-se ao que será paralelismo sintático serve para mostrar que os
mencionado). sentidos transmitidos pelas construções paralelas
Aquele(s), aquela(s), aquilo são usados – mantêm entre si algum tipo de simetria ou de
conjuntamente com os pronomes este(s), esta(s) – para assimetria. Exemplos:
fazer referência a elementos já citados. Sendo assim:  Nas ondas da praia quero ser feliz / Nas ondas do
 Aquele (e variações) – refere-se ao elemento mar quero me afogar.
citado primeiro;

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 Os amores (estão) na mente / As flores (estão) no momento da comunicação. Os elementos que
chão / A certeza (está) na frente / A história (está) desempenham tal função são advérbios,
na mão.
locuções adverbiais ou expressões
1.2 - Paralelismo semântico é a relação de denotativas de tempo. Por exemplo: amanhã,
semelhança (correspondência de sentidos) quanto ontem, na semana passada, de noite, na
ao sentido das orações.
semana seguinte, à tarde etc.
Observe os exemplos:
1º) Nas ondas da praia quero ser feliz
Nas ondas do mar quero me afogar. 2.3- Dêixis espacial – assinala os elementos
Manuel Bandeira
espaciais, tendo como referência o lugar da
(Nesse caso, o paralelismo ocorre pela enunciação, evidenciando a relação de maior
correspondência do desejo, da atração pelo mar e ou menor proximidade em relação aos lugares
pela morte).
ocupados por locutor e interlocutor. Os
2º) A semente que tu semeias, outro colhe ; elementos que cumprem esta função são
A riqueza que tu achas, outro guarda; advérbios e locuções adverbiais de lugar
As roupas que tu teces, outro veste;
(aqui, lá, lá de cima, perto de), determinantes
As armas que tu forjas, outro empunha.
Shelley e pronomes demonstrativos (esse, aquela, a
(Nesse caso, o paralelismo põe em relevo o outra), bem como alguns verbos que indicam
mesmo tema: quem faz alguma coisa não a faz movimento (chegar, entrar, subir).
para si; ou ainda, ninguém usufrui dos bens que
produz).
SEMÂNTICA
 Quebra (intencional) do paralelismo
Anúncio de uma exposição das obras de Salvador É o estudo da significação das
Dali, no MASP: “Quem viu, viu. Quem não viu, palavras e das mudanças de sentido
ainda pode ver”. ocasionadas pelo contexto.
Nesse caso, houve uma quebra intencional do
paralelismo, que seria algo como “Quem não viu, A palavra (signo lingüístico) é uma combinação
não viu” ou “quem não viu, não vai ver mais”. Por de forma (escrita e falada) e conteúdo (conceito,
meio dessa quebra, o anunciante procura atrair a idéia), os quais se traduzem em:
atenção do leitor e persuadi-lo a ver a exposição  Significante: é o elemento concreto, material,
enquanto há tempo.
perceptível: os sons (fonemas) e as letras.
 Significado: é o elemento inteligível (o
2. D Ê I X I S
conceito) ou a imagem mental.
Os elementos dêiticos têm a função de
localizar entidades no contexto espaço-temporal, AS PALAVRAS POSSUEM SIGNIFICADOS QUE
social ou discursivo, já que eles apontam para PODEM SER:
elementos exteriores ao texto e mudam de sentido
conforme o contexto, isto é, não possuem valor LITERAL/DENOTATIVO: é o sentido convencional,
real, que não permite mais de uma interpretação,
semântico em si mesmos, podendo variar a cada
igual para todos os falantes da língua. Aparece na
nova enunciação. Observe o exemplo da linguagem científica, informativa ou técnica.
manchete de um jornal:
Ontem, aqui, caiu um temporal CONTEXTUAL/CONOTATIVO: é o sentido figurado,
diferente do convencional e que raramente se
(A compreensão que se terá da idéia expressa
encontra no dicionário. Só é possível descobri-lo
pelos advérbios “ontem” e “aqui” somente será
quando se observa o contexto em que tal palavra
possível pela situação do texto, ou seja, necessito saber
aparece. É apropriado à linguagem literária, cujas
em que cidade e em que data tal texto foi publicado).
palavras mais sugerem do que informam.
2.1. Dêixis pessoal – indica as pessoas do
discurso, permitindo selecionar os OBS.: o sentido original é a própria significação
participantes dentro do processo etimológica do termo, mas este também sofre
comunicativo. Integram este grupo: constantes alterações no decorrer do tempo,
pronomes pessoais (tu, me, nós etc.); devido à sua expansão ou generalização. Por
determinantes e pronomes possessivos (meu, exemplo, carrasco era o nome do algoz Belchior
vosso, seu, teu etc.); sufixos flexionais de Nunes Carrasco e generalizou-se para todos os
número e pessoa (falas, falei, falamos etc.) algozes e anfitrião era personagem de uma
bem como vocativos. comédia de Plauto e se expandiu a todos aqueles
reúnam, em sua casa, convidados e amigos.
2.2. Dêixis temporal – localiza os fatos no
tempo, tomando como ponto de referência o
17
CAMPO SEMÃNTICO é o emprego de
palavras que pertencem ao mesmo universo de
significação, formando “famílias ideológicas”.
RELAÇÕES DE SENTIDO
Tais palavras se associam por meio de uma ENTRE OS VOCÁBULOS DO
espécie de imantação semântica, ou seja, embora TEXTO
não sejam sinônimas, remetem umas às outras em
determinado contexto. Assim, são exemplos de
campos semânticos: SINONÍMIA: ocorre quando palavras podem
ser substituídas umas pelas outras, sem prejudicar a
Natureza: seres que constituem o universo, compreensão das idéias do texto. Por exemplo, em
temperamento, espécie, qualidade etc. uma prova de concurso, a banca fez a seguinte
Nota: anotação, comunicação escrita e oficial do assertiva: “Pode-se substituir o vocábulo hemisférica
governo, cédula, som musical, atenção etc. por ‘minuciosa’ sem que isso altere as relações de
Breve: de pouca duração, ligeiro, resumido etc. sentido do texto.” A princípio, parece ser impossível
estabelecer uma relação de sinonímia entre tais
Dentro de um mesmo campo semântico, as vocábulos, mas o texto trazia o seguinte conteúdo: “Eu
palavras são caracterizadas como: me considero um consumidor tão educado que nunca
compra nada sem antes fazer uma tomada hemisférica
HIPERÔNIMOS: palavras que possuem um de preços”. Neste caso, o vocábulo “minuciosa” não só
sentido mais genérico. Exemplos: substitui hemisférica como é o mais adequado ao
Economia, Direito, futebol, componentes contexto. Veja outros exemplos:
automotivos, disciplinas escolares, pássaros etc. Rival/adversário/antagonista – cloreto de sódio/sal –
HIPÔNIMOS: palavras que possuem caráter íntegro/probo/correto/justo/honesto – unhas/garras –
mais específico. Assim, são hipônimos de: aguardar/esperar – pessoa/indivíduo – cara/rosto.
Economia: deflação, déficit, superávit, juros, câmbio,
balança etc. ANTONÍMIA: ocorre quando duas ou mais
Direito: mandado, arrolamento, alçada, ementa, palavras se opõem quanto ao significado dentro do
agravo etc. texto. Veja:
Internet: web, página, link, portal, blog, site etc. Feliz/infeliz – bem/mal – rico/pobre – amor/ódio
Informática: drive, software, programas, hardware, – euforia/melancolia – sagrado/profano – claro/escuro.
memória RAM etc.
PARONÍMIA: ocorre quando palavras ou
OBS.: A relação entre hipônimos e hiperônimos não é expressões possuem grafia e pronúncia parecidas, com
absoluta, pois um mesmo termo pode exercer as duas sentidos diferentes. Observe os exemplos:
funções, dependendo do contexto: Vertebrado é um Ir ao encontro de = estar de acordo.
hipônimo de animal, mas é um hiperônimo de Ir de encontro a = chocar-se, opor-se.
mamífero. Mamífero é um hipônimo de animal e de
Na medida em que (Loc. causal) = tendo em vista que.
vertebrado, mas é um hiperônimo de roedor, de
Á medida que (Loc. proporcional) = à proporção que.
ruminante etc.
Infração = violação da lei.
Inflação = desvalorização da moeda.
LÉXICO é o conjunto de palavras de uma Cível = relativo ao Direito Civil.
língua. A língua é um organismo vivo e se Civil = relativo ao cidadão.
atualiza de acordo com as necessidades sociais de
seus usuários. Por isso, não existe falante que HOMONÍMIA: ocorre com palavras que
domine por completo o léxico de uma língua: a possuem grafia ou pronúncia igual, por causa de sua
cada dia, as palavras podem perder alguns origem, mas que têm sentidos distintos. As palavras
sentidos e ganhar outros ou até desaparecerem homônimas podem ser:
quando deixam de ser usadas por muito tempo.
HOMÓGRAFAS heterófonas: possuem
mesma grafia e pronúncia diferente, com sentidos
CAMPO LEXICAL é o emprego de famílias de também diferentes.
palavras – ou de palavras cognatas, ou seja, que Sede (ê) = vontade de beber.
descendem de um mesmo radical, de uma mesma raiz. Sede (é) = administração de empresa/ casa de
Cognação quer dizer parentesco. Por exemplo, do fazenda.
latim Stella derivam estrela, estelar, estrelar, estrelado. Almoço (ô) = substantivo.
Veja também: Almoço (ó) = verbo.
Campo lexical de terra: aterrar, terremoto, Colher (ê) = verbo.
desenterrar, aterrissar, desterro, terraplanagem, Colher (é) = substantivo.
térreo, terrestre, território, terráqueo, terracota etc.
Campo lexical de luz: aluno, iluminar, luminosidade,
ilustre, ilustrado, iluminado etc.

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HOMÓFONAS heterógrafas: possuem pessoas estão sempre prorrogando o prazo para
mesma pronúncia e grafia diferente, com sentidos começar a respeitar o mandamento.
também diferentes.
Acender = atear fogo.
Ascender = subir, elevar-se. FIGURAS DE LINGUAGEM
Coser = costurar.
Cozer = cozinhar. São recursos estilísticos utilizados
Cessão = doação (verbo doar). por quem fala ou escreve para reforçar a
Seção = repartição/departamento, divisão. linguagem, tornando-a mais interessante
Sessão = duração de um evento.
e original. Tais recursos costumam se
HOMÔNIMAS PERFEITAS: possuem desviar das regras da gramática
mesma grafia e mesma pronúncia, com sentidos normativa e dos sentidos frios das
diferentes.
acepções de dicionários.
OBS.: As homônimas perfeitas são também chamadas
de palavras polissêmicas, polifônicas, plurívocas ou, OBS.: as figuras de linguagem não são
ainda, plurissignificativas. meros enfeites do texto. Elas contribuem, ao
aprimorar a mensagem, para ampliar a nossa
Real = verdadeiro; real = relativo à realeza; real = capacidade de reflexão, de análise e,
moeda brasileira. consequente, compreensão do fato
Sentença = condenação; sentença = frase. anunciado.
Mente = intelecto; mente = verbo; mente = sufixo.

FORMAS VARIANTES: são palavras que, FIGURAS DE PALAVRA


embora tenham um mesmo sentido, admitem grafia e
pronúncia diferentes. Exemplos: Consiste na substituição de uma
cota/quota – catorze/quatorze – cociente/quociente palavra (ou expressão) por outra, a qual
traslado/translado – aspecto/aspeto – assoviar/assobiar caracteriza uma mudança do sentido que
percentual/porcentual – necrópsia/necropsia o consenso identifica como normal (real)
céptico/cético – projétil/projetil – conectivos/conetivos para o sentido figurado da palavra. São
malformação/má-formação – aterrissar/aterrizar elas:
caráter/carácter/caractere (só um plural: caracteres)

METÁFORA consiste em utilizar uma palavra


POLISSEMIA: consiste no fato de uma mesma
palavra possuir significados diferentes, os quais se ou expressão em lugar de outra, sem que haja
explicam pelo contexto. Veja os exemplos: uma relação real de sentido entre elas, mas o
Passar uma mão de tinta no portão = uma demão; nosso espírito as associa e depreende entre
Dar uma mão = ajudar; ambas certas semelhanças. A metáfora tem
Passar a mão no dinheiro do outro = roubar; caráter absolutamente subjetivo e
Abrir mão de = prescindir, dispensar; momentâneo. Repare os exemplos:
Lançar mão de = utilizar;
Abrir a mão = gastar; • "Meu pensamento é um rio subterrâneo."
(Fernando Pessoa)
Pegar a mão errada da via = sentido, direção.
(o poeta estabelece relações de semelhança
Obs.: O antônimo d polissemia é monossemia (quando entre um rio subterrâneo e seu pensamento –
uma palavra apresenta apenas um sentido.
profundo, inatingível).
AMBIGUIDADE: ocorre quando uma palavra • “Minha alma é uma estrada de terra que
ou expressão admite mais de uma interpretação. leva a lugar algum.”
É um recurso lingüístico muito utilizado em textos (indica uma alma rústica, abandonada - e
literários e publicitários. Observe: angustiadamente inútil)
• Anúncio em bancas de revistas: “Aprenda a fazer
uma galinha no ponto!”. O anúncio dá a idéia de Obs.: toda metáfora é uma espécie de
que querem vender livros de receitas, mas, na comparação implícita, em que o elemento
verdade, o que será vendido é uma revista de comparativo não aparece.
ponto-cruz. Ou seja, aprenda a fazer uma galinha
no ponto[-cruz] (para bordar em panos de prato). Mais exemplos:
• Interpretação do sétimo mandamento, segundo • Meu pai é um leão quando joga futebol.
Bastos Tigre: “Não furtarás – prega o Decálogo; e
• Minha vida é um jiló.
cada homem deixa para amanhã a observância do
sétimo mandamento”. A graça vem do fato de que • Eu não acho a chave de mim.
pelo fato de se utilizar o verbo no tempo futuro, as

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COMPARAÇÃO (SÍMILE) consiste em ser mais abrangente, o conceito de
estabelecer uma relação entre dois elementos metonímia prevalece sobre o de sinédoque.
de universos diferentes, por meio de palavras
ou expressões que estabeleçam a relação de ANTONOMÁSIA (EPÍTETO) substituição de
sentido entre termos comparados. A um nome próprio (pessoas) pela qualidade ou
comparação metafórica depende muito do atributo que o distingue. Exemplos:
sujeito que a enuncia (de sua sensibilidade, • Os brasileiros já esqueceram o Águia de
seu estado de espírito e sua experiência. Haia. (Rui Barbosa)
Veja o exemplo: • O poeta dos escravos é o autor do célebre
• Ele chorou feito um condenado. poema “O navio negreiro”. (Castro Alves)
(associa-se o modo como ele chorou ao
modo como se imagina que choraria um PERÍFRASE consiste no uso de uma expressão
condenado). que designa um ser (coisas ou animais) por
• “A sombra das roças é macia e doce, é que meio de características, atributos ou, ainda, de
nem uma carícia”. (Jorge Amado) um fato que o celebrizou. Neste caso,
• Meu pai é agressivo como um touro utilizam-se expressões para traduzir a ideia
quando joga futebol. que a palavra original, sozinha, não
São conectivos comparativos: como, feito, conseguiria exprimir.
que nem, assim como, tal, tal qual, qual. • Pretendo visitar o país do sol nascente.
(Japão).
METONÍMIA ocorre quando empregamos uma • Última flor do Lácio, inculta e bela
palavra em lugar de outra, com a qual aquela [Língua portuguesa]. (Olavo Bilac)
se achava relacionada. A metonímia • Aquele que tudo pode irá nos proteger.
estabelece uma relação qualitativa entre os [Deus]
termos, ou seja, a implicação entre os
conceitos decorre da relação de contigüidade PARONOMÁSIA consiste na aproximação de
entre eles. Por exemplo, a causa pelo efeito, o palavras semelhantes pelos sons, mas de
continente pelo conteúdo, o autor pela obra, o sentidos diferentes, ou seja, é o emprego de
lugar pelo produto, o instrumento pela pessoa palavras parônimas. Exemplo:
que o utiliza. Veja os exemplos:
• Cada leitão em seu leito / cada paixão com
• Passe-me a manteiga. [manteigueira]. seu jeito.
• Amanhã irei ao correio. [edifício onde "Aquela cativa
funciona a agência dos Correios e que me tem cativo
Telégrafos]. porque nela vivo
• Sócrates tomou a morte. [veneno]. já não quer que viva"
(Luís Vaz de Camões, Redondilhas)

SINÉDOQUE ocorre quando a relação entre os


ANADIPLOSE consiste na repetição da última
termos é quantitativa, ou seja, quando se
palavra (ou expressão) de um seguimento de
alarga ou se reduz a significação da palavra.
verso ou de um membro da frase no início do
Estas relações entre os termos são
seguinte. Por exemplo:
basicamente as seguintes: a parte pelo todo, o
• "Quero escrever sem saber, / Sem saber o
singular pelo plural, o gênero pela espécie, o
que dizer." (Dante Milano)
particular pelo geral (ou vice-versa). Observe:
• Não há felicidade onde não há paz, e paz
• O homem é o ser mais confuso da Terra. só há onde há Deus.
[Os homens]. • O mau-humor produz a impaciência; da
• Os sem-teto fazem uma manifestação na impaciência nasce a cólera; a violência; e
Esplanada dos Ministérios. [sem casa para a violência conduz ao crime.
morar]
OBS.: Atualmente, não se faz mais a
distinção entre metonímia e sinédoque. Por

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EPIZEUXE (encadeamento) consiste em repetir a depreendido pelo contexto. Existe elipse de
mesma palavra duas ou mais vezes seguidas – preposição, conjunção, preposição ou verbo.
sem outra de permeio. Por exemplo: Veja:
“Ele estava bêbado, com a calça rasgada e
• "Marília, Marília, és a estrela da manhã."
[com] a camisa na mão...”
• "Amigo, amigo, por favor não vá embora."
• "Eu queria conhecer a minha mãe, mãe,
ZEUGMA consiste em suprimir, ocultar verbos
mãe. Não a minha madrasta!"
– expressos anteriormente – para evitar sua
repetição. Observe os exemplos:
APÓSTROFE (VOCATIVO) consiste na
As quaresmeiras abriam em flor depois do
"invocação" de alguém ou de coisa
carnaval, os ipês [abriam] em junho. (Rachel
personificada, ou seja, é o chamamento do de Queiroz)
receptor da mensagem, seja ele imaginário ou
não. É uma figura bastante usada na "O meu pai era paulista / Meu avô,
linguagem cotidiana: nas orações religiosas; pernambucano / O meu bisavô, mineiro / Meu
nos discursos políticos e nas situações mais tataravô, baiano." (Chico Buarque)
diversas. A introdução da apóstrofe
interrompe a linha de pensamento do PLEONASMO (estilístico) é a repetição de
discurso, destacando-se, assim, a entidade a um termo já expresso ou de uma idéia já
quem se dirige e a ideia que se pretende pôr sugerida, com o objetivo de realçá-la, torná-la
em evidência. Veja os exemplos: mais expressiva. Exemplos:
• “Povo de Juazeiro! É com grande • “E rir meu riso e derramar meu pranto.”
alegria…”. (Vinícius de Moraes)
• "Pai Nosso, que estais no céu...". • “E quem sabe sonhavas meus sonhos por
• “Minha Nossa Senhora, o que foi isso?!”. fim.” (Cartola)
• “Valha-me Deus, que eu não posso mais • “Isso eu vi com meus próprios olhos!”
com esse menino”. (frase popular)
OBS.: o pleonasmo torna-se vicioso quando a
CATACRESE ocorre quando, por falta de um repetição for considerada desnecessária ou
termo específico para designar um conceito, quando a redundância não trouxer reforço
toma-se outro termo "emprestado". Assim, algum à idéia. Observe as construções:
passamos a empregar algumas palavras fora “descer para baixo”; “sair para fora”; “subir
de seu sentido original. Entretanto, devido ao para cima”; “fato real”.
uso contínuo, não conseguimos mais perceber
que esse uso é figurado. Veja os exemplos: SILEPSE ocorre quando efetuamos a
Formigueiro humano (Formigueiro = porção concordância – não com os termos expressos,
de formigas); realidade das coisas (Res = mas, sim, com a idéia que associamos em
coisa); espalhar dinheiro (espalhar = separa a nossa mente. A SILEPSE se divide em:
palha); péssima caligrafia (caligrafia = boa
letra); embarcar num avião (embarcar = • SILEPSE DE GÊNERO
tomar a barca). A criança nasceu. Era magnífico.
"Quando a gente é novo, gosta de fazer
bonito." (João Guimarães Rosa)
FIGURAS DE SINTAXE • SILEPSE DE PESSOA
Consistem em uma modificação – “Os cinco estávamos no automóvel”.
às vezes, brusca - na estrutura da oração "Todos os sertanejos somos assim."
(também conhecidas como figuras de (Rachel de Queiroz)
construção). São elas:
• SILEPSE DE NÚMERO
O pelotão chegou à praça e estavam cansados.
ELIPSE consiste na omissão de um termo
facilmente subentendido – que pode ser "Coisa curiosa é gente velha. Como
comem!" (Aníbal Machado)
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(Mário Quintana)
POLISSÍNDETO: é a repetição da conjunção
coordenativa. Note os exemplos: HIPÉRBATO (INVERSÃO) Caracteriza-se pela
"Suspira, e chora, e geme, e sofre, e sua..." inversão da ordem natural e direta dos termos
(Olavo Bilac) da oração, ou da ordem natural das orações no
período. Empregado deliberadamente, o
"Mãe gentil, mas cruel, mas traiçoeira."
(Alberto de Oliveira)
hipérbato visa obter determinado efeito
estilístico. Este artifício é um dos mais usados
ASSÍNDETO: consiste na omissão de por poetas, com o intuito de trazer maior
conjunções entre orações dispostas em desenvoltura à língua (ritmo, melodia,
seqüência (neste caso, as orações se dispõem sonoridade ou até ambiguidades originais
em seqüência – separadas por vírgulas, capazes de marcar um estilo). Veja:
quando poderiam vir ligadas pelo conectivo • Ao ódio venceu o amor. (a ordem direta
de adição). Por exemplo: seria “O amor venceu ao ódio”.)
• “Vim, [e] vi, [e] venci”. • Dos meus problemas cuido eu! (a ordem
• “Ela cosia com amor, [e] aprendia a arte direta seria “Eu cuido dos meus
do bilro”. problemas”.)
• “Tua raça quer partir, [e] guerrear, [e] • “Os bons vi sempre passar / no mundo
sofrer, [e] vencer, [e] voltar”. graves tormentos.” (Luís Vaz de Camões)
(Cecília Meireles) • "Passeiam, à tarde, as belas na Avenida."
(Carlos Drummond de Andrade)
ANÁFORA (EPANÁFORA) consiste na • "Passarinho, desisti de ter." (Rubem Braga)
repetição de palavra (ou expressão) no início
de frases ou versos consecutivos. É muito SÍNQUISE (confusão) ocorre quando a
usada em quadrinhos, letras de música e inversão é muito violenta na ordem natural
literatura em geral, especialmente na poesia. dos termos, de modo que a sua compreensão
Exemplos: seja seriamente prejudicada. Consiste,
“…O que será que será? segundo alguns autores, em um vício de
Que vive nas idéias desses amantes linguagem, e não em uma figura de
Que cantam os poetas mais delirantes linguagem com fins estilísticos. Veja:
Que juram os profetas embriagados” • "Tu de amante o teu fim hás encontrado."
(Gonzaguinha)
(Gregório de Matos Guerra)
• “A grita se levanta ao céu, da gente.”
(ITERAÇÃO) consiste no uso repetido de (Luís Vaz de Camões)
palavras ou orações – para enfatizar ou
intensificar a afirmação ou sugerir insistência, ANACOLUTO (frase quebrada) consiste na
progressão. Compare: mudança da construção sintática no meio da
"Cantei, cantei, é tão cruel cantar assim!" frase, ficando alguns termos desligados do
(Chico Buarque) resto do período.
"Tudo, tudo parado: parado e morto." Isso acontece porque começamos uma
(Mário Quintana) determinada construção sintática e depois
optamos por outra. O anacoluto também é
ANÁSTROFE constitui uma inversão da ordem chamado de frase quebrada, já que
normal dos termos numa oração (palavras corresponde a uma interrupção na sequência
vizinhas). Compare os exemplos: lógica do pensamento. Veja este exemplo:
• Esses alunos da escola, não se pode
• “Da igreja / estava ela na frente”. duvidar deles.
• “Aqueles rapazes, por dinheiro / são muito (a expressão "esses alunos da escola" deveria
ávidos.” exercer a função de sujeito. No entanto, há
• “Entre as nuvens do amor / ela dormia.” uma interrupção da frase e essa expressão fica
à parte – sem exercer função sintática).
• "Tão leve estou / que nem sombra tenho."

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Mais exemplos: Que eu, que dois, que dez, que dez milhões.
Todos iguais.
• Meu casaco, preciso pegá-lo na lavanderia. (Gilberto Gil – Esotérico)
• Pobre, quando come frango, um dos dois
está doente. IRONIA é a figura pela qual dizemos o
• A vida, não sei realmente se ela vale contrário do que pensamos, quase sempre
alguma coisa. com intenção sarcástica. Veja o exemplo:
• A mim, não me importa o que falam de O ministro foi sutil como uma jamanta e
mim. delicado como um hipopótamo.
Obs.: o anacoluto deve ser usado com OBS.: A ironia usa a entonação e o contexto
finalidade expressiva, e em casos muito para apenas “sugerir” a idéia. Por isso, os
especiais. Em geral, deve-se evitá-lo. sinais que mais evidenciam pensamento
irônico são o ponto-de-exclamação e as
reticências.
FIGURAS DE PENSAMENTO
PENSAMENTO
Constituem processos expressivos PERSONIFICAÇÃO (PROSOPOPÉIA) é a figura
que introduzem uma ideia diferente que consiste em atribuir sentimentos ou
daquela que a palavra normalmente características humanas a coisas ou animais.
exprime. São elas: Exemplos:
“As margens plácidas do [rio] Ipiranga
ANTÍTESE (CONTRASTE) é a figura que ouviram o brado retumbante de um povo
salienta o confronto de idéias opostas entre si, heróico”... (Hino Nacional Brasileiro)
mas que podem ocorrer, inclusive, de maneira
“O cravo brigou com a rosa debaixo de uma
simultânea. Exemplos:
sacada...” (cantiga popular)
• “Toda guerra finaliza por onde devia ter
começado: a paz!”
REIFICAÇÃO (do latim, RES = Coisa) é a
• “Tristeza não tem fim, felicidade sim!”
(Vinícius de Moraes)
figura de linguagem que consiste em dar
tratamento de coisa a pessoas. Exemplos:
PARADOXO (OXÍMORO) é a antítese levada “No Brasil de hoje, é mais fácil comprar um
ao extremo: unir duas ideias que não são senador do que um vereador”.
aceitáveis do ponto de vista lógico, já que sua “Nas grandes cidades, os passageiros andam
explicação transcende os limites da própria empilhados nos ônibus urbanos”.
expressão verbal. Note os exemplos:
“Tem, mas acabou!” (retórica de vendedores SINESTESIA é uma variante de metáfora que
para justificar a ausência de um produto na consiste em fazer o cruzamento de planos
loja). sensoriais diferentes (engloba um conjunto
“Amor é fogo que arde sem se ver geral de percepções e sensações interligadas
É ferida que dói e não se sente por processos sensoriais). Por exemplo, do
É um contentamento descontente “gosto” com o “cheiro”, da “visão” com o
É dor que desatina sem doer.” “olfato” etc. Note os exemplos:
(Luís Vaz de Camões) • No silêncio escuro do seu quarto,
aguardava os acontecimentos.
HIPÉRBOLE é uma afirmação exagerada – ou • "Vamos respirar o ar verde do outono"
uma deformação da verdade – objetivando um • Este perfume tem um cheiro muito doce!
efeito expressivo. São exemplos as • Era uma sonoridade aveludada como a
construções: “chorar rios de lágrimas”; superfície de uma flor. (Giuliano Fratin)
“dizer um milhão de vezes”; “desconfiar da
própria sombra”; “morrer de rir”. Veja um OBS.: A sinestesia é um fenômeno sensorial
bom exemplo de hipérbole: que ocorre por meio da memória e pelo
Pessoas até muito mais vão lhe amar, excesso de criatividade. Esta palavra vem do
Até muito mais difíceis que eu, pra você. Grego syn (unido) e aynthesis (percepção),

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formando a expressão percepção unida. Os parte do universo das onomatopéias. Veja
Românticos viam os sinestésicos como exemplos:
pessoas de percepção elevada e mais • Os sinos faziam blém, blém, blém, blém.
próximos da divindade. • Miau, miau. (Som emitido pelo gato)
• Tic-tac, tic-tac fazia o relógio da sala de
EUFEMISMO consiste na tentativa de jantar.
suavização de uma idéia desagradável, por
meio da substituição do termo exato por outro
menos ofensivo, menos inconveniente. VÍCIOS
VÍCIOS DE LINGUAGEM
Observe os exemplos:
Ocorrem quando as normas
O pobre homem entregou a alma a Deus.
estabelecidas pela Gramática Normativa não
[morreu]
são obedecidas em se tratando de linguagem
Quem faltar com a verdade, será punido.
escrita. Isso ocorre por simples
[mentir]
desconhecimento de tais regras.
OBS.: Um exemplo de eufemismo famoso (e
útil, na época) na História aconteceu quando SOLECISMO ocorre quando são cometidos
D. João II rebatizou o “Cabo das Tormentas” erros de sintaxe nas frases: regência,
(que marca o encontro dos oceanos Atlântico concordância ou colocação pronominal. Veja:
e Índico) como “Cabo da Boa Esperança”.
• Me parece que ela ficou doida.
• Fazem cinco anos que não vejo meu pai.
FIGURAS DE SOM • Eu assisti um verdadeiro ato de selvageria.
Constituem recursos estilísticos
que exploram a sonoridade das palavras, ECO é a repetição de palavras terminadas pelo
por meio da repetição/imitação de sons mesmo som. Observe os exemplos:
produzidos por seres ou coisas, para dar “Eternamente
maior expressividade à mensagem. é ter na mente
éter na mente”.
ALITERAÇÃO é a repetição constante de (inscrição flagrada em um grafite no muro de
consoantes (fonemas consonantais idênticos) uma grande cidade)
como recurso para intensificação do ritmo ou • O menino repetente mente alegremente.
como efeito sonoro significativo. Exemplos: (Marina Cabral)
• "Rara, rubra, risonha, régia rosa". (Félix
Pacheco) PLEONASMO (vicioso) é uma redundância
• "A fria, fluente, frouxa claridade flutua". viciosa, uma repetição desnecessária de uma
(Cruz e Souza)
idéia, porque indica uma idéia que já está contida
Vozes veladas, veludosas vozes, em outra parte do texto. Por exemplo:
Volúpias dos violões, vozes veladas • E ela rolou escada abaixo em meio ao
Vagam nos velhos vórtices velozes assombro da platéia.
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas • Criar mil novos empregos.
(Cruz e Souza)
• Há um consenso geral em relação a isso.
ASSONÂNCIA é a repetição constante e ordenada • O juiz deferiu favoravelmente.
de vogais (fonemas vocálicos idênticos):
AMBIGUIDADE (ANFIBOLOGIA) é a
• "Sou um mulato nato no sentido lato / possibilidade de uma mensagem ter dois
mulato democrático do litoral."
sentidos. Essa duplicidade é provocada pela
má organização das palavras na frase, que
ONOMATOPEIA consiste em reproduzir sons
compromete a clareza do enunciado. Veja o
por meio de palavras. Ruídos, gritos, canto de
exemplo (manchete de um famoso jornal
animais, sons da natureza, barulho de
brasileiro):
máquinas, o timbre da voz humana fazem Crianças que recebem leite materno são
frequentemente mais sadias.

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Elas são mais sadias porque recebem leite acordo com a origem, os estrangeirismos
frequentemente ou são frequentemente mais recebem diferentes nomes:
sadias porque recebem leite? • galicismos, se provenientes do francês:
Formas adequadas de escrever: champagne; toillet; mayonnese etc.
• Crianças que recebem frequentemente leite • anglicismos, quando oriundos do inglês:
materno são mais sadias. performance; home theater; hit; link etc.
• Crianças que recebem leite materno
frequentemente são mais sadias. • castelhanismos, quando provenientes do
espanhol: gringo; tapas; aficcionado etc.
Mais exemplos:
• Vende-se leite de cabra em pó / Vende-se OBS.: Quando ocorrem erros de grafia ou
leite em pó de cabra. pronúncia dos vocábulos da língua
• “O deputado disse que sempre lutou portuguesa, dá-se o nome de BARBARISMO
contra a corrupção e a ética na política.” ORTOGRAFICO. Por exemplo: tauba, em vez de
tábua; rúbrica, em vez de rubrica; pobrema,
BARBARISMO consiste no uso de palavra, em vez de problema; germinada (casa), em
expressão ou construção estrangeira no lugar vez de geminada etc.
de uma equivalente da própria língua. De

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