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Cair Sob o Poder do Espírito Santo

Por que achar que o Espírito Santo só opera de um jeito?

Nota introdutória: Esta apostilha NÃO foi preparada com o objetivo de defender o cair sob
o toque do Espírito Santo, uma experiência comum em alguns segmentos da igreja
pentecostal. O que nos propomos é mostrar apenas que tais experiências, longe de ser uma
doutrina ou uma prática, também ocorreram em outros avivamentos da história da igreja, e
é claro, apresentarmos o tema sob à luz da Escritura, nossa regra básica de Fé.

Não estamos contestando aqui aqueles que pregam e escrevem contra; apenas queremos
mostrar que muitas pessoas não conhecem a Escritura nem a história e quando têm
conhecimento dos fatos, pensam no Espírito Santo como Alguém limitado, alguém que só
faz e opera dentro de parâmetros teológicos estruturados. Mas o Espírito Santo opera como
quer e em quem ele quer operar! Aqueles que dizem que somente o diabo derruba,
desconhecem determinados textos bíblicos em que Deus é quem derruba e levanta!

Há vários textos nas Escrituras que nos surpreendem quanto a ação do Espírito Santo. Não
podemos limitá-lo em suas manifestações e temos indícios das Escrituras de algumas de
suas ações. Usando as regras de interpretação bíblica, observamos que há mais de dois
textos apresentados por diferentes autores a respeito do tema. Se houvesse apenas uma
citação ou uma experiência apenas, não poderíamos estabelecer um ensino. Mas como há
mais de uma citação, temos a autoridade da Palavra de Deus para abordar o tema.

1. A experiência de Saul. Mesmo depois do Espírito do Senhor o haver abandonado por


causa de sua desobediência e entrado em Davi, (Compare 1 Sm 10.6 com 16.14), Saul teve
uma experiência muito forte com o Espírito Santo. Ele mandou uma primeira escolta de
soldados prender Davi na casa de Samuel em Ramá, mas o Espírito de Deus veio sobre os
soldados que não regressaram a Saul; todos ficaram profetizando.

Saul mandou, então uma segunda escolta que também ficou profetizando e ainda uma
terceira que não pôde prender a Davi por causa do poder de Deus (1 Sm 19.18-21). O
próprio Saul foi prender a Davi e o "mesmo Espírito de Deus veio sobre ele, e ia
profetizando, até chegar a Naiote em Ramá" (vs 23).

Veja bem, já pelo caminho Saul ia profetizando tomado pelo Espírito de Deus! Quando
chegou a Ramá, diz a Bíblia na versão corrigida: "E ele também despiu os seus vestidos, e
ele também profetizou diante de Samuel, e esteve nu por todo aquele dia e toda aquela
noite..." Veja bem! Ele ficou todo um dia e toda uma noite caído por terra, profetizando
diante de Deus! A impressão que se tem é que ele ficou fora de si, deitado e prostrado
diante de Deus!

2. O tabernáculo no deserto e o templo de Salomão. Temos dois exemplos ainda: um


anterior a Saul, na edificação do Tabernáculo e outro na inauguração do Templo de
Salomão. No primeiro, diz a Bíblia que "Moisés não podia entrar na tenda da congregação"
por causa da glória do Senhor! (Ex 40.34,35) indicando que ele tentava entrar, mas era
impelido ou jogado para fora!

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O segundo exemplo está em 2 Crônicas 5.13,14 na inauguração do templo: "E não podiam
os sacerdotes ter-se em pé, para ministrar, por causa da nuvem, porque a glória do Senhor
encheu a casa de Deus" (Versão corrigida). Isto é, eles estavam ali dentro ministrando
quando veio a glória de Deus; o que aconteceu não sabemos, mas o texto diz que "não
podiam ficar em pé" o que quer dizer que todos caíram por terra! Será que não podemos,
também nós, em nossos dias, experimentarmos um pouquinho desta glória do Senhor?

Veja ainda 2 Crônicas 7.2.

3. Jeremias. Quando Deus falava com Jeremias ele se sentia tonto, embriagado pelo poder
de Deus. Veja o que ele diz: "Sou como homem embriagado, e como homem vencido do
vinho, por causa do Senhor, e por causa de suas santas palavras" (Jr 23.9).

4. Ezequiel em transe: Ezequiel teve uma experiência ainda mais forte. Ele estava reunido
com os anciãos no cativeiro, na Babilônia. Era uma reunião daqueles que foram levados
cativos, quando, de repente, o Espírito do Senhor o leva para Jerusalém em visões.

Seu corpo fica ali, prostrado diante dos anciãos e ele passa a relatar, posteriormente tudo o
que viu. Leia Ezequiel 8.1-3 com 11,24, o começo e o fim da visão. Como ficou o corpo de
Ezequiel? Prostrado diante de várias pessoas enquanto era levado em espírito a Jerusalém
nas visões de Deus!

5. Daniel ao contemplar o Senhor, desfaleceu, perdeu as forças e seus companheiros


fugiram de medo. Leia o que ele mesmo diz (Dn 10.7-11). Ele caiu não pela fraqueza de
estar em jejum há três semanas, mas pela presença de Deus, porque depois, sentindo-se
fortalecido, ficou em pé!

6. Jesus. Bastou o Senhor Jesus dizer aos soldados, "Sou eu" e eles caíram por terra! (Jo
18.6).

7. Os discípulos e a voz de Deus. Quando Jesus foi transfigurado diante dos discípulos
aconteceu este fenômeno. Eles ouviram a voz de Deus e caíram por terra.

Veja em Mateus 17.5-7.

8. E como foi no dia de Pentecostes? Não podemos negar que as pessoas que os viam
falando em línguas achavam que eles estavam embriagados! "Estão embriagados", diziam.
Os moradores de Jerusalém, quando olhavam aqueles cento e vinte acharam que era fruto
de uma bebedeira! Como procedem os bêbados? Falam alto, gritam, dão risadas, rolam pelo
chão... e que respondeu-lhes Pedro? "Estes homens não estão embriagados, como vindes
pensando..." (At 2.13-15).

A presença do Espírito Santo na vida dos 120 dava a impressão, para os de fora, de algo
ridículo, como se fosse um bando de beberrões!

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9. Paulo. A experiência de Paulo (que não deve ser tomada como algo corriqueiro), foi
muito grande. Ele nem sabe como chegou aos céus, como ele próprio diz: "se no corpo ou
fora do corpo, não sei, Deus o sabe" (2 Co 12.1-4). Será que muitos dos discípulos não
teriam experimentado algumas das fortes manifestações do Espírito Santo que nem mesmo
foram registradas nas Escrituras por acharem que era algo normal na vida deles? O próprio
Paulo só foi contar a experiência doze anos depois!

10. Paulo também cita o que aconteceu com Moisés. Ele diz que sob a lei a glória de Deus
foi tão forte que Moisés tinha que colocar um véu sobre o rosto cada vez que saia da tenda
para falar ao povo. E como não será na época da graça? "Se o ministério da condenação foi
glória, em muito maior proporção será glorioso o ministério da justiça" (2 Co 3.7-13). O
que Paulo quer dizer? Ele explica que, se Moisés, que pregava a lei, tinha tanta glória,
quanto maior glória terá os que pregam a justiça?

11. Paulo foi derrubado por terra pelo Senhor Jesus: "E caindo por terra, ouviu uma voz que
lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues?" (At 9.4).

12. E que dizer de João, na experiência que teve em Patmos? "Quando o vi, caí a seus pés
como morto" (Ap 1.10-17).

Ele ficou sem forças diante de Deus!

Estas são experiências relatadas nas Escrituras. Mas imagine algumas outras manifestações
semelhantes ao cair, como êxtases, visões e percepções à distância que tiveram os profetas.
Eliseu (1 Rs 5.19-27; 6.8-20; Pedro, (At 10.1-22). À luz de todos estes textos, podemos
afirmar que é possível haver manifestações do Espírito em nossas vidas das maneiras mais
diversas.

A história da igreja registra muitas manifestações na vida de pessoas que se consagraram a


Deus. A protestante Evelyn Underhill em vários de seus livros conta suas experiências de
contemplação e o que ocorria com a presença do Espírito Santo (livros: Mysticism; The
Mistery of Sacrifice; Practical Mysticism for Normal People e outros).

João da Cruz, monge católico no seu livro, Obras Espirituais, Carmelo, ensina o caminho e
as experiências da vida cristã com experiências semelhantes de êxtases e arrebatamentos.
Numa das obras da Biblioteca de Autores Cristãos, em espanhol, o Padre I.G. Arintero trata
de toda a mística da igreja onde há relatos surpreendentes do que aconteceu com alguns
missionários da Igreja; alguns eram trasladados fisicamente para outras terras onde
pregavam o evangelho e regressavam!

Algumas experiências, diz ele, aconteciam com o padre Gracián: "São efeitos do divino
amor, os resultados de uma alma enamorada de Deus que se chama júbilo, gozo, paz,
embriaguez, desmaio, morte e fogo de amor, zelo, devoção, êxtases e raptos, amalgamento
em Deus, e a divina união". São Dionísio diz que o amor divino produz êxtases e o amante
já não é seu, mas do amado!

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Um escritor anônimo mencionado por Sauvé diz: "As pessoas não têm consciência do que
dizem ou fazem: dizem coisas sublimes e coisas que não podemos compreender... outras
vezes o amor opera de modo mui distinto, deixando-as dormindo. Perdem o conhecimento
como no sono e necessitam que sejam despertadas; e não é fácil despertá-las. A razão é que
Deus as embriagou até deixá-las adormecidas...."

Nunca devemos tomar uma experiência e utilizá-la como base doutrinária. Entretanto,
podemos usar o argumento histórico quando este abaliza o texto bíblico. Por isso podemos
acrescentar algumas das experiências de homens de Deus do passado.

Carl Brumback no livro "Que Quer Isto Dizer? (O S. Boyer, 1960), diz: "Como os críticos
gostam de descrever os acontecimentos nos cultos pentecostais! Como se regozijam de se
referir à maneira de eles tremerem, clamarem, dançarem, caírem e, então, dirigindo-se ao
interessado perguntar seriamente: "isso tem alguma coisa em comum com o relato calmo e
solene das Escrituras".

O interessado, se for um verdadeiro estudante das Escrituras, pode retrucar: "A qual relato
calmo e solene das Escrituras se refere? Ao relato do Pentecostes, quando as manifestações
extraordinárias e barulhentas levaram os zombadores a dizerem : "Estão embriagados?" Ou
refere-se a história da cura do coxo, que deu "um salto, pôs-se em pé e, começou a andar; e
entrou no templo, andando, saltando e louvando a Deus?"

Ao relato em Atos 4, onde os discípulos "levantaram unanimemente a voz?" A Saulo que


caiu sob o poder de Deus? Ao regozijo e louvor a Deus em alta voz da multidão na entrada
triunfal, o qual o Senhor Jesus apoiou, dizendo: "Declaro-vos que, se estes se calarem, as
pedras clamarão"?

Depois ele continua: "João Wesley exprimiu uma atitude sábia e com juízo, quanto às
demonstrações do corpo, no seu jornal de domingo de 25 de novembro de 1759: 'O perigo
foi o de dar demasiada ênfase a acontecimentos extraordinários, tais como clamores,
convulsões, visões, êxtases, como se fossem indispensáveis à obra interior até o ponto da
obra não avançar sem esses acontecimentos. O perigo (diz Wesley) é o de não lhes dar
ênfase suficiente; de condená-los inteiramente; de imaginar que não tivessem alguma coisa
de Deus, e que impedissem a sua obra.

Na realidade, João Wesley, fundador do Metodismo, está mostrando que em seus dias havia
este tipo de manifestação do Espírito Santo! De todos os líderes do passado, João Wesley
foi o que mais embasamento bíblico e histórico tinha a respeito do Espírito Santo e por isso
o que ele acrescenta é muito importante: "A verdade, contudo, é:

Deus convenceu a muitos repentina e profundamente que eram pecadores perdidos e o


resultado natural foram clamores e fortes convulsões do corpo;

Os que creram foram fortalecidos e encorajados, e a obra de Deus ficava mais evidente. Ele
concedeu a muitos deles sonhos divinos, a outros êxtases e visões;

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Muitas vezes, depois de um intervalo a natureza se misturava com a graça;

Satanás, igualmente, imitava essa obra de Deus, para desacreditar toda a obra.... no início
foi, sem dúvida, inteiramente de Deus. A sombra não desacredita a substância, nem o
diamante falso deprecia o verdadeiro". E isto em 1759!

0 livro "O Fogo do Reavivamento" de Wesley Duewel (Editora Candeia, pg. 53) afirma que
enquanto João Wesley pregava, "inúmeras pessoas caíram ao chão como se atingidas por
um raio". George Whitefield, companheiro de Wesley diz que quando pregou em
Edimburgo em junho de 1742 "... durante uma hora e meia houve tanto choro, tanta aflição,
manifestada de várias formas, que fica impossível descrever.

O povo parecia estar sendo atingido às centenas. As pessoas eram carregadas e levadas até
suas casas como soldados feridos num campo de batalha. Sua agonia e gritos eram
profundamente comoventes" (ibid pg. 58). Ele acrescenta o que aconteceu no dia 3 de
outubro numa reunião que começou as 8.30 da manhã e terminou as 8.30 da noite: "Vi
10.000 pessoas afetadas num instante, algumas com alegria, outras com choro... algumas
desmaiando nos braços de amigos" (pg. 59).

Um outro avivamento aconteceu nos dias de Finney. Onde ele pregava as pessoas caíam
sob o poder de Deus. Diz o texto que, enquanto Finney pregava "a congregação começou a
cair de seus assentos, e caíam em todas as direções, pedindo misericórdia" (ibid pg. 87).
"Algumas pessoas desmaiavam sob a convicção nos cultos da igreja e outras mais tarde em
suas casas" (pg. 90). As biografias de Finney falam deste mover de Deus que derrubava as
pessoas no chão!

Jônatham Edwards relata o acontecido quando pregou o sermão Pecadores nas Mãos de um
Deus Irado: "Parecia que um espírito aterrador havia descido sobre as pessoas. A
congregação começou a cair de seus assentos em todas as direções, clamando por
misericórdia." E ele relata: "No grande avivamento americano de 1858, os navios, ao se
aproximarem dos portos americanos, pareciam entrar numa zona de influência do Espírito.
Navio após navio chegava com o relato de uma repentina convicção e conversão" (Citado
na revista Atos, Vol. 12 No. 3 pg. 17).

No avivamento de Cane Ridge em 1801 nos Estados Unidos um pastor presbiteriano relata:
"O que vi foi para mim novo e realmente extraordinário...Muitas e muitas e muitas pessoas
caíram ao chão, como homens mortos na batalha, e continuaram neste estado durante horas
a fio, num estado aparentemente sem respiração e inerte – às vezes reavivando-se por
alguns momentos e exibindo sintomas de vida através de um profundo gemido, ou de um
grito penetrante e agudo..." (Idem pg. 31)

Portanto, não podemos ser sectários achando que Deus só opera de um jeito. O Espírito
Santo tem muitas maneiras de se manifestar, algumas delas menciono no livro "Dons

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Espirituais, o Poder de Deus em Você". Leia a Bíblia e examine cuidadosamente a história
da igreja e você descobrirá muitas maneiras do Espírito Santo operar em nós!

Se, como afirmam alguns o cair não faz parte da obra do Espírito Santo, então temos que
concordar que:

As experiências acima relatadas que aconteceram no Antigo Testamento, foram obras de


um outro espírito. Mas não é o que diz a Bíblia. Saul, os sacerdotes, Jeremias, Ezequiel e
Daniel foram tocados pelo Espírito de Deus!

Então, Deus estaria nos enganando. Mas isto não é verdade, pois a Palavra serve como
fundamento do que acontece. O Espírito Santo é aquele que nos conduz à verdade. Ele não
nos deixaria cair na mentira.

Se assim fosse os obreiros e os crentes que tiveram tal experiência estariam sob a influência
de um outro espírito. Não creio, entretanto, que estejamos sendo enganados, pois tais
experiências ajudaram a aumentar a percepção de Deus; a comunhão com ele e o
crescimento na Fé, no amor e no ardor evangelístico. Cresceu a comunhão com Deus e
solidificou o relacionamento entre os membros do corpo. Nenhum "espírito" teria interesse
no crescimento espiritual dos fieis nem no reino de Deus!

Teríamos que negar nosso ministério, nosso chamamento e colocar em dúvida a conversão
de tanta gente. Tais experiências têm servido para demonstrar o poder de Deus; a operação
do Senhor nas vidas. É certo que há pessoas que caem sob forte convicção do Espírito
Santo mas não permanecem.

Este é um problema do homem e não de Deus. O fato de uma pessoa não ficar transformada
quando cai, é problema da pessoa e não de Deus. É a mesma experiência que algumas
pessoas têm quando, decidem-se por Cristo, choram, confessam seus pecados e continuam
iguais!

Temos que admitir, contudo, que muitos obreiros forçam, empurram as pessoas para que
caiam e isto é criancice, infantilidade. Obreiros há que "forçam" este tipo de manifestação.
Apesar da ignorância de alguns, precisamos afirmar que a manifestação do poder de Deus
não precisa de nossa força humana da mesma forma que não precisamos nos agarrar a
objetos, coisas ou práticas achando que desta ou daquela forma consegue-se algum favor de
Deus.

No caso de pessoas serem tocadas por Deus, quando o Espírito age, mesmo à distância as
pessoas começam a cair, sem qualquer influência do homem. Outras vezes basta chegar
perto da pessoa, dar um leve toque, soprar, e a pessoa está no chão!

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