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LAVRAS, MG
2016
FILIPE EGÍDIO DIAS DO PRADO
LAVRAS, MG
2016
Ficha Catalográfica preparada pelo Setor de Processamento Técnico da
Biblioteca Central da FADMINAS
Esta folha será incluída na encadernação da monografia, após a realização da sua defesa e das
correções sugeridas pela banca.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus e a todas as pessoas que Ele colocou em minha vida e que me apoiaram na
realização deste trabalho: minha esposa, minha mãe e meu pai, meu irmão, enfim, minha
família e amigos. A todos vocês, digo: muito obrigado!
RESUMO
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................... 8
2 TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE
(TDAH).................................................................................................................. 9
2.1 Causas.................................................................................................................. 10
2.1.1 Tratamento................................................................................................................... 12
3 SÍNDROME DO PENSAMENTO ACELERADO (SPA)..................................... 13
3.1 Causas.................................................................................................................. 14
3.1.1 Tratamento................................................................................................................... 15
4 A COMORBIDADE ENTRE TDAH E SPA.......................................................... 16
4.1 A prevalência da comorbidade em adultos e o estilo de vida
contemporâneo............................................................. 18
5 METODOLOGIA.................................................................................................. 21
6 CONSIDERAÇÕES
FINAIS........................................................................................................ 22
REFERÊNCIAS.................................................................................................... 23
1 INTRODUÇÃO
As patologias acima citadas manifestam-se na infância, e podem permanecer até a vida adulta.
Foram estudadas as características, as causas e as consequências de cada uma delas
separadamente e, também, da associação, da interação de uma com a outra.
Faz-se necessário, porém, antes de qualquer outra análise, determinar de modo claro o que
pode ser considerado TDAH, diferenciando-o de simples formas de hiperatividade próprias da
personalidade de algumas crianças em particular, o que não se constitui como objeto do
presente estudo. Nesse sentido, Barbosa et al. (2005) afirmam que:
um comportamento inadequado pouca importância terá para outro examinador. Diferenças culturais
poderiam também favorecer apreciações distintas, bem como o fato de uma criança, que está habituada
a um ambiente educacional mais permissivo, ser avaliada por um examinador mais rígido. O importante
é que o TDAH associa-se com significativo comprometimento funcional em diversas áreas (acadêmica,
profissional, social) e, à medida que o indivíduo cresce, ocorrem taxas crescentes de comorbidades
psiquiátricas (BARBOSA et al., 2005, p. 13).
Por mais que haja questionamentos quanto aos critérios diagnósticos do TDAH no que diz
respeito à subjetividade, diferenças culturais etc., alguns sintomas estão bem estabelecidos.
Podem-se citar três sintomas clássicos: desatenção, impulsividade e hiperatividade. Segundo
Barbosa et al.(2005):
De acordo com a nomenclatura atual, o DSM-IV3, o TDAH compreende três sintomas principais,
desatenção, impulsividade e hiperatividade, manifestando-se em diferentes ambientes e com
comprometimento funcional. Sabe-se, também, que o TDAH começa no início da vida e pode persistir
na adolescência (85% das crianças) e idade adulta (50% a 70%). A característica mais exuberante nas
crianças pequenas é a hiperatividade, que diminui com o tempo e com o tratamento farmacológico e
psicológico; ao contrário do sintoma de desatenção que aumenta (BARBOSA et al., 2005, p. 14-15).
Como se pode perceber, os sintomas, além de bastante característicos nos acometidos pelo
TDAH, apresentam certa especificidade de acordo com as fases da vida, demonstrando
prevalência na fase adulta, podendo até aumentar a sua intensidade de manifestação como é o
caso do sintoma “desatenção”.
Diante de tudo isso, o que se sabe sobre as causas ou a etiologia do TDAH? Por que
determinadas crianças e indivíduos adultos são acometidos por essa doença e outros não? É
possível evitá-la?
2.1 Causas
Após a revisão de literatura e a pesquisa sistemática realizada, pode-se afirmar que não existe
estudo científico que aponte para uma causa única para o TDAH. O que existe é um conjunto
de causas que podem desencadear o quadro psicopatológico no indivíduo, sendo esse quadro
mais ou menos reforçado de acordo com fatores ambientais. Barbosa et al. (2005)
exemplificam essa variedade de causas possíveis:
Atualmente, é consenso o conceito de que é improvável a existência de um fator etiológico único que, por
si só, possa ser suficiente para determinar o quadro do TDAH. Ele é, portanto, uma síndrome
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Como em toda a clínica uma doença atual pode estar relacionada a doenças ou condições mórbidas do
passado que merece então ser pesquisada. Pode haver um histórico de abuso ou negligência, múltiplos
lares adotivos, famílias menos estáveis, maiores taxas de divórcio, exposição a neurotoxinas (p.ex.,
envenenamento por chumbo), infecções (p.ex.; encefalite), exposição a drogas “in útero”, tais como,
cocaína e tabagismo, prematuridade, baixo peso ao nascer, traumatismos cranianos ou retardo mental
associados ao TDAH (IDEM, p. 20).
Todos os sintomas do TDAH tipicamente pioram em situações que exigem atenção ou esforço mental
constante ou que não apresentam atrativos ou novidades; são também mais prováveis em situações de
grupo (p.ex., no pátio da escola, na sala de aula ou no ambiente de trabalho). Os sinais do transtorno
podem ser mínimos ou ausentes quando o indivíduo se encontra sob um controle rígido, encontra-se num
ambiente novo, está envolvido em atividades especialmente interessantes, em uma situação a dois (p.ex.,
no consultório do médico ou psicólogo) ou enquanto recebe recompensas frequentes por um
comportamento apropriado (IDEM, p. 17).
Todas essas evidências indicam que os fatores ambientais também têm promovido diferenças
significativas entre quadros de TDAH e a intensidade com que se manifestam os seus
sintomas. Isso indica que esses fatores devem ser analisados mais acuradamente.
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2.1.1 Tratamento
Do ponto de vista farmacológico, o tratamento de indivíduos com TDAH é feito com drogas
psicoestimulantes. O mecanismo de ação dessas substâncias é basicamente estimular
diretamente os receptores de neurotransmissores dos neurônios ou a liberação de dopamina e
noradrenalina pelos terminais sinápticos, indiretamente. Isso indica a necessidade de regular
os impulsos nervosos, que desorganizados podem acelerar o pensamento (hiperatividade) ou
torna-lo mais lento (desatenção). Contudo, tais drogas apresentam algumas limitações.
Barbosa et al. (2005) afirmam:
A característica de meia-vida curta requer pelo menos duas doses diárias para a obtenção de uma eficácia
que perdure o maior tempo do dia, podendo reduzir a aderência ao tratamento. Para permitir uma
administração menos frequente da droga foram desenvolvidas formulações de liberação prolongada do
metilfenidato, que proporcionam uma duração maior de efeito após uma única dose, utilizando tecnologia
farmacêutica apropriada (BARBOSA et al., 2005, p. 31).
Conforme relatam Toledo e Simão, vários estudos com diferentes técnicas têm demonstrado que a
terapêutica medicamentosa isoladamente não implica em melhoria do sintoma, necessitando de uma
intervenção multidisciplinar envolvendo além de médicos, psicólogos, pedagogos e outros profissionais
que estejam relacionados com a criança no ambiente familiar e escolar (IBDEM, p. 33).
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Pensar é excelente, pensar muito é péssimo. Quem pensa muito rouba energia vital do córtex cerebral e
sente uma fadiga excessiva, mesmo sem ter feito exercício físico. Este é um dos sintomas da SPA. Os
demais sintomas são sono insuficiente, irritabilidade, sofrimento por antecipação, esquecimento, déficit
de concentração, aversão à rotina e, às vezes, sintomas psicossomáticos, como dor de cabeça, dores
musculares, taquicardia, gastrite (CURY, 2003, p. 59).
Em sua teoria, o Dr. Augusto Cury defende a ideia de que a construção de pensamentos é um
processo ininterrupto, podendo apenas ser alterada a velocidade com que acontece. Haveria
uma espécie de “autofluxo” constante de pensamentos, cabendo a cada indivíduo gerenciar
esse processo da maneira mais equilibrada possível. Ou seja, o “fenômeno do autofluxo é o
fenômeno que lê continua e diariamente inúmeros territórios da memória produzindo uma
"usina" de emoções e de pensamentos cotidianos” (CURY, 2006, p. 151).
De acordo com a teoria, todo ser humano possui uma “ansiedade vital”, uma característica
saudável e natural a todo ser humano, e que motiva cada pessoa a buscar suas realizações
pessoais. Entretanto, existem também variações dessa ansiedade natural de pessoa para
pessoa. Cury (2006) afirma que:
Embora todo ser humano tenha essa ansiedade vital, ela é qualitativamente diferente de pessoa para
pessoa. As crianças hiperativas ou hipercinéticas têm uma ansiedade vital intensa; por isso, provocam
inconscientemente e de maneira exacerbada os fenômenos que fazem a leitura da memória, gerando um
hiperfluxo de transformações emocionais e motivacionais e uma hiperconstrutividade de pensamentos,
que se expressa na hiperatividade psicomotora (CURY, 2006, p. 152).
Mas quais seriam as causas para a variação da ansiedade vital entre as pessoas? Existiriam
fatores sociais, ou apenas genéticos e relacionados ao desenvolvimento de determinados
traços hereditários pelo convívio com os pais, família e amigos durante a primeira infância?
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3.1 Causas
As causas da variação da ansiedade vital entre indivíduos podem se relacionar com as causas
da Síndrome do Pensamento Acelerado (SPA). Por isso, é válido analisar quais seriam as
causas da variação da ansiedade vital. De acordo com Cury (2006):
A ansiedade vital está ligada psicodinamicamente tanto à qualidade quanto à velocidade da leitura da
memória e, consequentemente, à qualidade e velocidade dos processos de construção da psique, e
também, consequentemente, à qualidade do processo de formação da personalidade. Diversas variáveis
atuam psicodinamicamente na ansiedade vital determinando seus níveis qualitativos, tais como os
microcampos de energia físico-química determinadas pelo metabolismo neuroendócrino (determinado
geneticamente), o pool de experiências vivenciadas no meio ambiente intrauterino, a qualidade da história
intrapsíquica, a estimulação socioeducacional, a operacionalidade psicodinâmica do fenômeno da
psicoadaptação, etc (CURY, 2006, p. 153).
Assim existe uma relação estreita entre o autofluxo, que movimenta a energia psíquica
lançando mão para isso do metabolismo neuroendócrino, e a ansiedade vital. Isto é, em alguns
casos o autofluxo de pensamentos é tão grande e rápido que o indivíduo manifesta uma
ansiedade psicomotora. Em outros casos o autofluxo é tão intenso que leva a criança a se
distrair das atividades presentes e mergulhar em seu mundo próprio de pensamentos. Desse
modo, tanto o déficit de atenção quanto à hiperatividade seriam faces de uma mesma moeda:
o autofluxo de pensamentos desregulado e a ansiedade vital exacerbada. Cury (2006) comenta
que:
Uns pensam e logo se concentram nas suas tarefas. Outros pensam tanto que se desligam do que estão
fazendo, por isso têm grande déficit de concentração e, consequentemente, se esquecem facilmente dos
fatos cotidianos. Todavia, esse déficit de memória não é neurológico, mas psicodinâmico, portanto não é
grave. Ele é fruto apenas da hiperprodução de pensamentos, situação que ocorre quando alguém vive
intensamente o fenômeno do autofluxo. As pessoas hiperativas e as estressadas frequentemente
apresentam esse déficit de memória psicodinâmico (CURY, 2006, p. 154).
Milhares de pensamentos são produzidos por dia no palco da mente de um bebê, através das leituras do
fenômeno do autofluxo. Num ano são milhões. Cada pensamento é registrado automaticamente pelo
fenômeno RAM, tornando-se um pequeno e precioso tijolo da arquitetura do "eu". Quando uma criança
de três anos diz que tem medo de ficar num quarto fechado, esta pequena reação fóbica não é produzida
apenas pela palavra medo, mas pela consciência do medo, uma consciência que é gerada pela leitura
instantânea de milhares de informações contidas na sua memória, ligadas à ausência de sua mãe,
insegurança, sentimento de solidão, vazio, angústia (CURY, 2006, p. 155).
O registro automático de memória (RAM) torna impossível que, após uma experiência seja
vivida, as lembranças desta sejam deletadas ou apagadas da memória, a não ser por traumas
ou doenças que levem a perda da memória. Isso sugere um grande problema para o ser
humano, principalmente para aqueles que sofreram traumas psicológicos e vivem em
ansiedade, pois:
A mente humana é, por assim dizer, fotográfica no que diz respeito ao registro de situações e
experiências, sobretudo aquelas que envolvem emoções mais intensas como o medo ou a
euforia. Contudo, uma vez registradas automaticamente na memória as experiências
traumáticas vividas desde a vida intrauterina, que geram ansiedade e que não podem ser
apagadas serão fardos que os seus portadores terão que carregar a vida toda? Que tratamento
pode ser realizado?
3.1.1 Tratamento
De acordo com Cury, a consciência existêncial ou o “eu” deve ser estimulado em cada
indivíduo para que cada ser humano possa se analisar e avaliar mais criticamente e
racionalmente seus objetivos, necessidade, medos e ansiedades. É evidente que em crianças
muito novas esse é um processo diferenciado, trabalhado de forma pedagógica, mas que deve
ser adaptado para a realidade delas, a fim de que desde cedo estejam se desenvolvendo
indivíduos que conheçam a condição humana, conheçam as suas mazelas, seus traumas
pessoais e respeitem isso nos seus semelhantes, entendendo, também, os princípios
psicológicos de tratamento para esses pensamentos mórbidos.
Tanto o TDAH quanto a SPA estão relacionados, na grande maioria das vezes, ao estereótipo
da criança agitada, hiperativa, que não larga o videogame, tablet, computador etc, e demonstra
pouco interesse por atividades em sala de aula que não envolvam atividade física ou uso de
tecnologia audiovisual. Isso porque o ato de submeter-se a tão alto grau de estímulos
audiovisuais desenvolve uma dependência por cargas iguais ou maiores de estímulos dia após
dia e a produção de neurotransmissores que eles produzem. Quase como um vício em
narcóticos, as maiores concentrações de neurotransmissores gerados pelos estímulos
audiovisuais contínuos criam um desejo cada vez maior pelo efeito psicoestimulante da
bioquímica cerebral acelerada. De acordo com Cury (2003):
Esse enorme fluxo de imagens e pensamentos pode ser prazeroso em certos momentos, mas
como é próprio do uso de psicoestimulantes, após determinado tempo as quantidades usadas
não fazem mais efeito, e a ausência dos estímulos audiovisuais é recebida com irritabilidade e
pouco interesse pelas “monótonas” atividades de sala de aula. Cury (2003) afirma:
A síndrome SPA gera uma hiperatividade de origem não genética. (...) Quais são as causas da SPA? A
primeira, como disse, é o excesso de estímulo visual e sonoro produzido pela TV, e que atinge
frontalmente o território da emoção. Notem que não estou falando da qualidade do conteúdo da TV, mas
do excesso de estímulos, sejam eles bons ou péssimos. A segunda é o excesso de informações. Em
terceiro lugar, a paranoia do consumo e da estética, que dificulta a interiorização. Todas essas causas
excitam a construção de pensamentos e geram uma psicoadaptação aos estímulos da rotina diária, ou seja,
uma perda do prazer pelas pequenas coisas do dia-a-dia. Os portadores da SPA estão sempre inquietos,
tentando garimpar algum estímulo que os alivie (CURY, 2003, p. 60).
O resultado não poderia ser diferente: pergunta-se aos “professores com mais de dez anos em
sala de aula se eles percebem que os alunos atuais estão mais agitados que os do passado, e a
resposta unânime é afirmativa” (CURY, 2003, p. 58-59). Esses alunos podem ser
considerados desinteressados ou hiperativos, e, até mesmo, diagnosticados como acometidos
pelo TDAH, quando na verdade muitos deles estão sendo vítimas das causas da SPA, e têm
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manifestado seus sintomas. Um dos mais terríveis deles é o cansaço devido ao excesso de
informações que bombardeiam o homem contemporâneo desde a infância. Isso gera uma
grande dificuldade em tranquilizar a mente e encontrar a paz interior para crianças e adultos.
Cury (2003) traz alguns interessantes dados sobre isso:
Com respeito ao excesso de informação, é fundamental saber que uma criança de sete anos de idade da
atualidade tem mais informações na memória do que um ser humano de setenta, há um ou dois séculos. Essa
avalanche de informações excita de maneira inadequada os quatro grandes fenômenos que leem a memória e
constroem cadeias de pensamentos. Quem tem SPA não consegue gerenciar os pensamentos plenamente, não
consegue tranquilizar sua mente (CURY, 2003, p. 60).
Contudo, tanto os acometidos pela SPA quanto pelo TDAH podem tratar esses quadros
através da mudança de estilo de vida e da escolha consciente, pois até mesmo as “crianças (...)
são frequentemente capazes de controlar os sintomas com esforço voluntário ou em atividades
de grande interesse” (BARBOSA et al., 2005, p. 27).
Quanto à prevalência desse quadro comórbido de TDAH e SPA em adultos, basta um pouco
de observação e análise do estilo de vida contemporâneo para concluir que este é um campo
promissor para o aumento dos casos de hiperatividade e/ou déficit de atenção devido à rotina
estressante. O TDAH em meios como esse pode até superar as estimativas de sua prevalência
em adultos, que vem sendo estimada entre 2% a 7% (BARBOSA et al., 2005, p. 28).
Estudos longitudinais realizados nos últimos 10 anos mostram que 30% a 70% das crianças com TDAH
continuam a apresentar o mesmo comportamento na fase adulta, porém, com o crescimento, os sintomas
de hiperatividade tendem a diminuir, mas os sintomas de desatenção permanecem constantes
(BARBOSA et al., 2005, p. 14).
Algumas estimativas, entretanto, indicam que a desatenção pode até aumentar com o avanço
da idade. O mesmo autor ressalta que a “característica mais exuberante nas crianças pequenas
é a hiperatividade, que diminui com o tempo e com o tratamento farmacológico e psicológico;
ao contrário do sintoma de desatenção que aumenta” (BARBOSA et al., 2005, p. 15).
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Associando esse dado com o fato de que a “prevalência é mais alta no meio urbano em
relação ao meio rural e aumenta em função de condições socioeconômicas mais precárias
(BARBOSA et al., 2005, p. 14), tem-se uma evidência muito forte de que o estilo de vida
caracterizado por maiores índices de estimulação audiovisual artificial – próprio do ambiente
urbano – é responsável, pelo menos em parte, pela prevalência da comorbidade TDAH/SPA
em adultos residentes nas cidades. Isso porque é onde se encontram mais comumente os
fatores causa (intensa estimulação audiovisual, poluição visual e sonora, trânsito, cotidiano
mais agitado e estressante etc.).
Apesar de parecer uma verdade auto evidente, muitos têm fechado os olhos para os fatos,
talvez por entrarem em choque com seus interesses comerciais e econômicos, mantidos pelo
mercado de produtos tecnológicos, que parece crescer na medida em que desenvolve maiores
formas de interação e excitação através das funções interativas de aparelhos eletrônicos e
jogos digitais.
A própria televisão sobrecarrega o córtex visual das pessoas desde a infância, pois o “excesso
de estímulo visual e sonoro produzido pela TV (...) sejam eles bons ou péssimos (...) [implica]
que uma criança de sete anos de idade da atualidade tem mais informações na memória do
que um ser humano de setenta, há um ou dois séculos” (CURY, 2003, p. 60). Isso tem
sobrecarregado determinadas regiões do cérebro responsáveis pelo armazenamento da
memória visual, e feito dos jovens de atualmente uma geração de corpos jovens com cérebros
mais “velhos”, “cansados”, sem disposição para atividades mentais com pouca estimulação
visual, como a leitura.
Muitos cientistas não percebem que a SPA é a principal causa da crise na educação mundial. Ela é
coletiva, atinge grande parte da população adulta e infantil. Os adultos mais responsáveis apresentam
uma SPA mais forte e, por isso, ficam mais estressados. Por quê? Porque têm um trabalho intelectual
mais intenso, pensam mais, são mais preocupados (CURY, 2003, p. 59).
Assim, na medida em que são feitas maiores exigências às pessoas no que diz respeito ao
desenvolvimento de seu potencial intelectual e profissional, o modo como isso tem sido
conduzido vem afetando a sua saúde física e mental. O homem contemporâneo entrou em um
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círculo vicioso em que quanto mais precisa se dedicar ao trabalho, mais seus filhos têm sido
expostos aos entretenimentos digitais, saturados de estímulos audiovisuais estressantes.
Crescendo sob os “cuidados” dessas babás eletrônicas, as crianças de hoje se tornarão os
adultos estressados de amanhã, e a comorbidade TDAH/SPA será objeto de cada vez mais
estudos.
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5 METODOLOGIA
Com isso, pretendeu-se determinar se existe na literatura científica evidência de que esses
dois quadros psicopatológicos estão em associação na maioria dos casos atualmente, o que se
denomina comorbidade.
Por fim, pretendeu-se analisar se os dados das pesquisas realizadas até o presente momento
são consistentes o suficiente para confirmar ou refutar a hipótese de que a prevalência dessa
comorbidade é mantida nos indivíduos pela submissão contínua de crianças, jovens e adultos
a um alto volume de estímulos audiovisuais estressantes. Isso feito, houve espaço para uma
breve discussão sobre os impactos psicológicos e sociológicos causados pelo estilo de vida do
homem contemporâneo.
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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Uma das motivações para a escolha do tema do presente trabalho foi a percepção de que,
apesar da realidade estressante do mundo contemporâneo ser algo reconhecidos por todos,
poucos são os que relacionam esse fenômeno com o uso indiscriminado de tecnologia
audiovisual no dia-a-dia. Os quadros de estresse muitas vezes são sintomas de psicopatologias
mais complexas como o TDAH e a SPA, e essas doenças psicológicas podem estar mais
ligadas a causas ambientais do que se imagina.
O TDAH tem sido tradicionalmente explicado por fatores endógenos e exógenos, sendo que
nestes últimos não consta como algo relevante a influência de estímulos audiovisuais
estressantes contínuos. A SPA, por sua vez, em sua conceituação dada pelo Dr. Augusto Cury
está totalmente relacionada com esses fatores ambientais contemporâneos, e uma associação,
ou comorbidade com quadros de TDAH é algo totalmente plausível, dada a semelhança dos
sintomas e pelo fato de possuírem em comum o substrato orgânico onde ocorrem as
alterações, isto é, o córtex cerebral, com sua formação de pensamentos e impulsos nervosos
que podem estar mais ou menos acelerados.
A Dra. Susan Greenfield em uma das suas últimas considerações afirma que “Se o ambiente
for limitado a duas dimensões, visão e audição, por um período de dez horas diárias ou mais,
o cérebro terá seu funcionamento modificado. ... Conexões podem ser perdidas e, com elas, a
oportunidade de tornar-se uma pessoa normal.” (p.7). Declarações como essas vindas de
respeitáveis neurocientistas tendem a aumentar à medida que novos estudos forem realizados.
Assim, fazem-se necessárias novas pesquisas científicas para a elucidação de até que ponto os
estímulos audiovisuais têm gerado estresse no ser humano, e contribuído para transtornos
psicológicos como a comorbidade TDAH/SPA, que tem acompanhado pessoas desde a
infância até a vida adulta.
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REFERÊNCIAS
CURY, A. J. Pais Brilhantes, Professores Fascinantes. Rio de Janeiro: Ed. Sextante, 2003.
170 p.
POETA, L. S.; ROSA NETO, F.. Estudo epidemiológico dos sintomas do Transtorno de
Déficit de Atenção/Hiperatividade e Transtornos de Comportamento em escolares da
rede pública de Florianópolis usando a EDAH. Revista Brasileira de Psiquiatria, v. 26, supl
3, p. 150-5, 2004. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbp/v26n3/a04v26n3.pdf Acesso
em: 06 out. 2015.
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