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A PESQUISA HISTÓRICA
teoria e método
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ír. F.lvira M il,m i
IúííjohíiI
Ir. facinta Tim>lo G.mi.i
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A pesquisa histórica
teoria e método
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t k m p o e h is t o r ia
271
nn u l
I it'iiriiJ ifii Iibfdi iogrnliii
dado île analisar com rigor o problema Ja realidade objetiva do tempo frente á
sua percepção subjetiva. A realidade do tempo não ê, e não pode ser, objetiva
mente mais do que uma. Outra coisa é a percepção sensorial, não intelectual, do
tempo pelo homem, cujos perfis psicológicos são alheios ao conceito cosmoló-
gico do temporal.• Se não procede falar de um tempo físico e outro histórico,
isso não deve ser confundido com a necessidade de se distinguir entre um “tem
po de relógio” e um “tempo existencial’/ entre os clássicos chronw e hiiiw .
De outro ponto de vista, a questão da Construção "sociológica" do tem
po apresenta maior interesse: em iodos os núcleos sociais historicamente exis
tentes o tempo ê uma instituição que .se constrói e que tem funções precisas.
Para a construção da idéia de história, 110 entanto, o que interessa, na realida
de, é a maneira pela qual a significação do tempo como um coiiiponenie inter
no, inserido realmente nas coisas, pode ser captada e explicada por nós de for
ma objetiva: de que forma o tempo atua sobre a existência das coisas e se ma
nifcsta no processo histórico.
A forma como a história é conceitualmente uma “dimensão” 011 “qua
lidade” do social, como dissemos, tem sua explicação também pela existência
dessa oulra condição ou dimensão prévia: porque tudo o que existe está
“ imerso 110 tempo” ainda que seja uma maneira metafórica de expressa lo.
Portanto, o círculo dessa argumentação estará fechado ao se concluir que, se
toda pesquisa sobre a natureza da história o é , também, sobre a natureza da
stit ictUnic, também o será, inseparavelmente, sobre .1 natureza do {empo* sobre
a temporalidade. Não podemos falar do que é o histórico sem falar do social
e do temporal. Daí que, no mundo do homem, mais do que talar de um “ fato
social” é preciso entendê-lo como um “falo sócio temporal", que por ser am
bas as coisas, social e temporal, o categorizamos com maior precisão como
fato sôcio-histórico. Não existe nada que possamos chamar “ lato histórico" sem
maiores qualificações no sentido das mais clássicas idéias do positivismo.
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SiVftVÍthU' «•fíui/ii i MmVi <l,ihhfàriit.
O Q un v o te m p o ?
273
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I Jroriii .í.i linhi/iLifiiiiliii
32 SAN A G U S T lN . Los outfesiones. M ad ritl: Akal, t ‘)8<>. Ver a c cicb re p assagem tio c a
pitu lo X IV d o livro XI, p. 2 9 ? d m-<|.
33 A K IS T Ó T E L K S . VhietL Paris: í cs Bcllcs Lcttrcs, 1 9 9 0 . 1, p. 13 et se«j.
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llllftllukf I
r IcW/vi \ftViVií iÍ.í '«Vil
cle em cujo seio sucede/u as demais realidades físicas loi, como se sabe, idéia ar-
giimcntada por Newlon e a física clássica nos séculos 17 e 18. Posleriormen
le. essa concepção foi discutida e, em boa medida, descartada, e, no enlanto,
permanece bastante viva ua opinião comum. O “tempo absoluto*'definido poi
Newton Ibi logo discutido poi outras concepçòes físicas do lempo posteriores
ã sua, mas foram as formulaçoes de l;rnst Macli e as de Albert l instein, depois,
.is que acabaram por colocá-las inteiramente em questão.
Com eleito, Newton estabelece no i.scolio I dns definições de sua obra
clássica tjue
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fttitf i
l f<v<r/<i <Ai /iKJiMMg/n/íii
cia real desse tempo absoluto foi discutida ia por Leibniz e t ic a is foi rechaça
da pelo físico e metodólogo da ciência Krnst Mách. um dos claros predecesso
res cio neopositivismo na ciência e na filosofia, cm fins do século 19, qualifi-
.cando-a de “concepção metafísica ociosa", “baseada em argumentos aparente
mente sensatos" e, cm todo caso, “supérflua'’, t) tempo só pode sei medido
pela mudança cias coisas,’ disse Macli. Não existe um tempo‘'absoluto”, assim
como também não existe um espado absoluto.
Assim, pois, como já percebeu Mach, na sua época, e reafirmou 1-ins-
tein depois, o tempo não é uma realidade fluente na qual "se submergem ’, se
desenvolvem todos os fenómenos do universo. Não existe um tempo fluente e
externo, um lempo absoluto. O tempo não é externo às coisas, aos fenómenos,
mas são os fenómenos que sustentam o tempo, o que <» prova. Ê o movimen
to, .1 mudança, o que denota que existe o tempo. O lempo astronómico ueces
sita da idéia de uniformidade, de movimentos uniformes que de fato não exis
tem. Por isso Newlou disse que se pode aceder desde o tempo vulgai ao astro
nómico de forma matemática. Sem movimento ou mudança o tempo não
existiria, como assinalou Aristóteles, e a experiência pode facilmente recons
truí-lo. Kssas constatações têm para a história e para a historiografia, como se
pode deduzir, uma importância não desprezível e depois insistiremos nelas."
Em sua significação úllima, a percepção e conceitualização do tempo
pelo homem partem da tlcnoltiçõo tio nitulmiço no mundo real. Mas isso não
permite afirmar, de forma alguma, que o tempo c a mudança, coisa que já de
nunciou Aristóteles como errónea e que foi motivo lambem dos enérgicos
ataques de Friedricli Hngelsao Docior Dühring.' <> tempo nãoé a mudança,
mas não pode ser apreendido senão através de algum tipo de mudança. Essa
observação já se deve também a Aristóteles. () lempo nõo conicni o unuhnço,
diferente do que acreditava Ncwton, mas antes o contrário. () tempo não é
tampouco uma substância, nem um fluxo contínuo, nem um fundo sobre o
qual os latos se produzem. H uma dimensão das próprias coisas. O tempo
3g N o liipitiifo 5.
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Vivi.v/.i.lr ,• I liVtí.l .l.i íiifhbúi.
como dimensão é a idéia fundamental trazida por Einstein, que concebe aque-
le como um ingrediente definidor em qualquer sistema físico, ligado indisso
luvelmente ii idéia de espaço e ã da velocidade da luz, quer di/er, ao movimen
lo. Ê conhecida a iiilim a preocupação de 1-ÜnsCein com as dificuldades ineren
tes à idéia física de tempo, mensurável e reversível.,u
£ antes a “ produção" de fatos, quer di/er, de mudanças, a que introduz
a dimensão icinpo. Uma dimensão da realidade» estreitamente relacionada
com as demais dimensões e, portanto, que não pode ser concebida indepen
dentemente da de espaço. Daí que se tenha dito que o tempo é uma quarta d i
mensão. A física relalivisla, como expôs Michael I riedman, se baseia nas teo
rias do espaço tempo e a “ tradição relacioiiisla’’ insiste em que “não devería
mos contemplar o sistema de coi pos físicos concretos como submersos no es
paço-tempo que faria as vezes de grande‘recipiente” ’."
Mas a “ordem tio tempo" não e somente o sistema derivado da realida
de da mudança, da variação, mas que da mesma forma está também contida
na idéia de duração, de permanência.1 A mudança é, por sua vez, a variação
de uma ordem sucessiva de estados. Aristóteles acabou definindo o tempo
como “o numero da variação segundo um antes e um depois ”. A mudança, a
variarão de que fala Aristóteles, é a sucessão de estados distintos c para que
haja sucessão de estados é preciso denotar por comparação presença ou au
sência de elementos, o que não é possível senão sobre a existência e a expei íén-
cia básica da permanência, da duração.
•l 1 I H l 1:1 > M A N . M . / m n h iin a iio s iiv //•.<h v r i i i> r f c lc s p m o -iiv n ifu i. I fsien rv tn d v h in y l'i
losof « ! </<•h < d o iiiii. M a d rid : A lian/.a, 1991. p. ?.<vl-265, n o c a p ilu la d e d ic a d o a o '‘ re-
I.K idoism o” na c o n c e p v ã o d o tcni|K> e <lo e s p a io , tio qual p a rticip a m L eib n i/ c
M acli. ü livro d e F r ie d m jn tem d e m a sia d o ccm teiid o m a te m á tic o p ara q u e seja
u m a feitura fácil.
278
(Vj"i/<nV» I
Kxiste também, como destacamos, uma ampla tradição, ainda que rela
tivamente recente, de análise do tempo a partir dos enfoques sociológico e an
tropológico. Não podemos aqui nos deter nessa questão, principalmente quan
do. na prática, as análises provenientes da historiografia, talvez com exceção de
liraudel, tenham ignorado esse tipo de estudos. íi verdade que a ciência social
em seu conjunto, e não somente a historiografia, dedicou tradicionalmente
pouca atenção ao estudo direto do fato temporal como componente essencial
•17 EIN STF.IN , A . S o l)ir l<i n v r la ilc )u tvhnividotl especial y g e n e ra l. M ad rid : A lianza,
1 0 8 1 . N a tu ra lm e n te , u le x tu to d o e im p o rta n te . m as v rr "S o b re el c n n ce p to d c
lie m p o eu l.i lisk a ". .1 p a itir ita página 2 1 . Sem d ú v id a , , 1 m ais c o m p le ta d ivu lgação
q u e E in stcin IV/ (oi uo livro E IN S T E 1N , A .; IN F E L D , 1.. l a e w lu e ió n ile lo física.
B arcelo n a: Salvai. I‘M .
279
ftow2
\IfíWtUih/ (lifUHillJ(lit)H)
52 Ver. e n tre m u ito s o u tro s , sen ensaio /•/ itniiiiiienio <lel fwinfto. B arcelo n a: Tii$(|uets,
I9 9 J.
2S0
Sn íi i/iul, uwfvi \ líVtni i/ii ín*ritfui
53 W H IT R O W , <"/.). 1:1 licn ip o e u Li historia. I.a evohición ile tm esira seniiila tlcl d c n i
y o y i l e hi p ersp eciiva tciitpontl. H a n clo n a : C rític a , 1 9 9 0 . A p esar do n áo « r o <|iiese
p o d e ria esp erar, essa o b ra d e W h iirow , u m d o s p resid en tes d a so cied ad e in te r n a
cio n a l cil.id.i a n te s, ó u m livro e ru d ito e in teressan te.
281
pouco c estranho que lima das constantes <lo pensamento dos historiadores
acerca tio tempo seja <> empenho em estabelecer se .is concepções temporais
que as culturas históricas mostram são “circulares” ou “ lineares" assunto ao
qual deram atenção desde Vico e Spengler a Arnaldo Momigliano.
I )aí o interesse de algumas posições geratlas na escola dos A n im lc s , como
a de Braudel, ou .1 menos conhecida de Maíret, que se dehruçam sobre outro
tipo de especulação a propósito do tempo histórico, muito mais 11a sua própria
essência, em sua “estrutura'', sem quê, certamente, o próprio Braudel tenha esgo
tado as perspectivas que suas análises apresentavam. Ainda que atjui não nos
aprofundemos 11a discussão das teses de Braudel .sobre o “tempo longo” e demais
temas que defende," pode-se destacar que sua grande con 1ribuição é, a nosso ver,
o estabelecimento de que o tempo da história não esta de forma alguma circuns
crito à cronologia e que os “eventos” são sonienle uma parte do devir histórico e
não sua única manifestação. Algumas das criticas que se fez a Braudel, como as
de Ricoeur, por exemplo, não carecem de interesse, mas continuam operando so
bre uma conceiluaçào errônea, externa e cronológica, do tempo. "
Braudel trabalha com uma conceiluaçào do tempo “eslruturalizante"
enquanto que o “tempo curto” opem 110 sentido "imlividualizante". ’ O cami
nho eslruturalizante empreendido pelos A n iu iles na análise do tempo pode tci
uma certa relação com o fato de que a escola, em princípio, tratara pouco da
história contemporânea onde, segundo M. Miyake, o tempo estrutural encon
Ira dificuldades. Mas esse autor, comentarista de Braudel, não compreendeu
na sua profundidade a relação entre estrutura e evento que os auiuitistcs ma
nejaram. Ricoeur. por sua vez, lançou criticas à falta de rigor de Braudel e sua
carência de percepções do tempo plural. Disse que, falando em termos abso
lutos. a ideia de "velocidade do tempo" não potle ser aplicada aos intervalas de
leinpo mas aos movimentos que os atravessam. A questão está em que R i
coeur parece crer, no estilo newtoiiiano, que há um tempo absoluto cujos in-
56 M AIRfcT. 0 . /<• tlisciuirs <-i 1‘h ifu u iijn e. ' » / In rcp n W u M th m h isto rin n tr ihi
tanfts. P a ris: M a m e , 1 9 7 4 .
38 Kli :o i - U K , I'. Ticinfut y m in v d ó ti. .Vl.ulrid: C risli.u iid .u l, I 9 H 7 .1, p. 1S3 et set|.
282
I il/HIIlh' -I
c liW/y AMrrwJit/AiiiWit
ter V i l los podem ser atravessados por movimentos. Uma vez mais st' confun
dem lempo-receptáculo e tempo mudança.
Uma das contribuições recentes tlc maior interesse a partir do campo
historiografia) é, indubitavelmente, a de Reinhail Koselleck. 1'sse auloi colo
cou suas visões sol) uma denominação geral tao sugestiva como a de “semânti
ca dos tempos históricos” e suas apreciações gerais acerca do papel do estudo
do tempo em uma teoria histórica coincidem substancialmente com os que se
sustenta aqui. Koselleck adverte no início de sua obra que “o que representa o
tempo da história é, entre todas as questões impostas pela ciência histórica,
uma das mais difíceis de resolver’'. A cronologia, dirá também, calcula de acor
do com as leis da física e da astronomia, mas "não e nessas condições naturais
da divisão do tempo que se observa o que se interroga sobre as relações entre
a história e o tempo, mesmo que exista algo como um tempo tln h is t ó r ia 1
Convém não relacionai “diretamente” o tempo mensurável da natureza com o
conceito de lempo da história. O tempo da história não tem unicidade, mas, na
verdade, encontra se ligado “aos conjuntos de ações sociais e políticas".
Koselleck defenderá a idéia de um tempo múltiplo da história, no que
evidentemente está na linha de Braudel. As determinações temporais são im
postas pela natureza mas se definem, no entanto, como especificamente histó
ricas. Evidencia se claramente em Koselleck a marca de I leidegger e da herme
nêutica quando afirma que “em uma situação concreta, as experiências do 'pas
sado transformaram-se e as expectativas, as esperanças, os prognósticos volta
dos para o luiuro, encontram a maneira de se expressar". Logo, a idéia da tem
poralidade histórica de Koselleck se volta para a exploração dos três tempos ou
modos da temporalidade em uma relaçao entre passado e futuro que se crista
liza, no presente: o movimento histórico se desenvolve entre a cxperiêmiti, en
tre as categorias que o autor denominou conc retamente um "campo de expe
riência" e um “ horizonte cie expectativa”. ( ) lempo da história é cumulativo
mas sua entidade completa não se entende senão a parlir da tensão em direção
61 C ita m o s pela e d içã o fran cesa desse livro, d ad os a s n>ndi\rtes da v ersão esp an h ola a
q u e ja nos referim o s. /<■ 1'iitu/ pns<i\ (.o/itribit/io/i <i m /r d a letup* Itit-
lo íu fiia . JMris: EIJF-SS, 1‘WO. p. 9.
62 Pàçin a 1 1.
283
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I fiwíii iltf Uht(itvgfv)in
65 Ib id ., p. 2 8 - 2 9 .
m
I ityitiih I
Wi.ilu.í. finujui liMimit,i hif.U‘1iii
coincide com outras filosofias. O lempo il<> homoin não tem medida, o ser lii-
Luro é o próprio tempo. Heidegger alirma que .1 pesquisa histórica encontra
"fenômenos relevantes” como é o das gerações e <1 conexão entre elas,'- mus
que essa pesquisa acaba levando a reduzir o tempo ao “quanto”, ao tempo do
relógio. O tempo do relógio é sempre tempo visto como presente. "O lato de
que os acontecimentos se produzam 110 tempo não significa que tenham tem
po, significa antes que eles... nos vêm ao encontro como se transcorressem
através de um presente". s
O tempo da história torna-se irreversível e homogéneo. Mas há mais
uma observação de I leidcgger que em si mesma equivale a lançar uma luz de
cisiva sobre a percepção da história: "O passado experimentado como histori
cidade própria dirá - é tudo menos o que se foi. Ou melhor, é algo a que pos
so voltar nma ou outra vez”.' O passado, pois, permanece. I. em seguida algo
ainda mais revelador que mostra, no entanto, quais S ã o os limites da coinci
dcncia na visão fisiológica e 11a teorização empírica... “A filosofia nunca averi
guará o que é a história enquanto a desmembrar como um objeto analisado
através do método. O enigma da história reside no que significa ser histórico”.
Poderíamos concluir de tudo isso que i leidegger representa .1 concep
ção "radical” da temporalidade que é a própria raiz da existência, do ser-ai. A
história não é senão o produto da consciência que os homens têm dessa tem
poralidade, da antecipação que fazem do futuro, de que “um presente sabe em
cada caso ser futuro”, dirá textualmente. As posições de Heidegger são chave
na busca de uma apreensão da história pela via hermenêutica, porque o lato
de que o presente sabe em cada caso ser futuro “é o primeiro princípio de toda
hermenêutica”.' Paul Ricoeur recorrerá em boa medida ã herança heidegge-
riana' para estabelecer que o tempo histórico é uma mediação, uma passa
69 Ibid., p. 3 8 .
70 liicoeu r analisa as p o siçõ e s de Heidegger e x p licita m en te em hctnyo y uarm cw i.
M ad rid : G ristin nidad. 1 9 8 7 . v. III: d tie m p o n.irr.itlo, |>. 7 1 8 et seq.
285
fiuYf )
\Mu/ii .tfi litoiHfogr.ifí,!
gem, entre o tempo universal, que c o tempo físico, e o "tempo vivido”, entre
o tempo do mundo e o tempo vivido.'
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T em po s o c ia l t it .m p o h is t ó r ic o
7.1 P. V ilar, J lis (o h ? n m rx iftc ... |». 1 9 0 .0 te x to d e Vil.u diz: "II a rriv e e n effet q u e l’his
to ir c c o n jo n c tu r e lle ... scm b le Ia ire d e I h is to irc tin p ro d u it du te m ps te e qui n e s ig
nifie rie n ) e t n o n d u te m p s { c ’c s t-à -d m - d e sa d istrib u tio u non h o m o g è itc , d c SA
d iffé re m ia tio n } u n prod u it d e 1’h istoirc...'
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VOiv/.iiir r ii w/m \ Mu/n ilii iViVh»/if
coincide com outras filosofias. O tempo do homem n.io tem mctlidd, o ser fu
luro ò o próprio tempo. I leidegger alirma que a pesquisa histórica encontra
"fenômenos relevantes” como ê o das gerações e a conexão entre elas,' mas
que essa pesquisa acaba levando a reduzir o tempo ao ‘‘quanto’', ao tempo do
relógio. O tempo do relógio ê sempre tempo visto como presente. “O falo de
que os acontecimentos se produzam no tempo não significa que tenham tem-
' po, significa antes que eles... nos vêm ao encontro como se transcorressem
através de um presente".
O tempo da história torna se irreversível e homogêneo. Mas há mais
uma observação de I leidegger que em si mesma equivale a lançar uma luz de
cisiva sobre a percepção da história: "O passado experimentado como histori
cidade própria - dirá - é tudo menos o que se foi. Ou melhor, ê algo a que pos
so voltar uma ou outra vez”“' O passado, pois, permanece. I em seguida algo
ainda mais revelador que mostra, no entanto, quais são os limites da coinci
dência na visão fisiológica e na teorização empírica... "A filosofia nunca averi
guará o que c a história enquanto a desmembrar como um objeto analisado
através do método. O enigma da história reside no que significa scr histórico".
Poderíamos concluir de tudo isso que I Icideggei representa a concep
ção ^radical" tia temporalidade que é a própria iaiz da existência, do ser-ai. A
história nao e senão o produto da consciência que os homens têm dessa tem
poralidade, da antecipaçao que fazem do fnluro, de que "um presente sabe cm
cada caso ser futuro”, diia textualmente. As posições de I leideggei são chave
na busca de uma apreensão da história pela via hermenêutica, porque o fato
de que o presente sabe em cada caso ser futuro “é o primeiro princípio de toda
hermenêutica”.' Paul Ricoenr recorrera em boa medida a herança heidcgge-
liaiKi para estabelecer que o tempo histórico e uma mediarão, uma passa
iw N.iu se ria dom ai» r m ir d .ii aqu i q u e p o u c o s .m o s d e p o is dessa c o n ferên cia h eid eg -
y e r ia iv a , e m 1 9 2 8 u m su cio lo g o a le m ã o , Kal M .m h e im . puhlicari.i u m le x io tu n d a-
D ie n i.iI, l i i p w b h '» u i «/■* l,ts y m c n iiio n if . P o d e -se ve i c m esp an h ol n n III IS iRcvisut
liíp a iio lu «/r lm r< iiy ih 'b in 's SociológiotfU **2. p. 195 2 1 2 . 19‘J.V
69 IbiiL, p. 5 8 .
70 Kíl«ui analisa as |x»sivões d e H eid cgger e x p licita m en te e m Tiaupo y m rfivinn.
M ad rid : C ristia n id a d , 1 9 8 7 . v. III: el tie m p o n a rr.u io . |>. 71K et scq .
IW/r2
I i.nriií .Ai
gcm, entre o tempo universal, que é o tempo físico, e o "tempo vivido", entre
o tempo do mundo e o tempo vivido. 1
T e m p o s o c ia i c t e m p o h is t ó r ic o
72 P. Vilar, Ilistai/v m a rx iste... p. l ‘Ki. O le x to tie V ilar »li/: "Il a rriv e en eïtei qu e l'his
lo irc c o n jo n c tu re lle .., sem b le faire d e l'h isto ire un p ro d u it d u tem p s (c c q u i n e sig
nifie r ie n } e t n o n d u te m p s Ic’e s t-à -d ir e d e sa d istrib u tio n n o n h o m o g è n e , d e SA
d iffe re n tia tio n ) un p ro d u it d e I'liistoiiv..."
2<%
* ,l/'lllth> I
SflíMUttlc •fiWjsi \í.iM/ií Jii fti)/,ViVi
neira alguma invalida a de que o tempo acaba sendo, em imi.i parte importan
te de sua realidade, uma construção social. Assim, na ciência social moderna,
C. Purkheim, em “As formas elementares tia vida religiosa*’ parece ler sido o
primeiro a chamar a atenção para a origem propriamente social, construída,
da categoria “tempo*', cujo nascimento ele atribuía ao desenvolvimento cíclico
da vida social, derivado, por sua vez, das práticas religiosas.
Para a análise da ontologia d«» histói ico, aparece como básico o lato de
<jue o tempo e justamente o indicador fundamental da existência histórica,
enquanto a consciência tio histórico se manifesta como conseqüência de que
o homem conccitualizo a mudança como elemento constitutivo da existência.
Assim, mudança tempo-históiia aparecem na cultura como o correlato de
toda simbolização da atividade criativa do homem. I ’ o correlato da própria
percepção do movimento social.
O tempo é mensurável poi diversos procedimentos e tem uma manei
ra peculiar de conformar o social, com implicações distintas tias que se apre
sentam na natureza não humana. Na realidade, para exemplificar isso, os tem
pos queconceitualizou Braudel somente medem “tipos"de mudança; mudan
ça num titio curto que se caracteriza pela presença de muitos “acontecimen
tos" que são cada vez menos abundantes conforme adentramos outros tipos,
ou níveis, de tempo. Braudel analisa tipos de realidades segundo sua “veloci
dade" de mudança. Braudel não chega a apresentar uma aiticulação acabada
entre esses tipos de mudança que conformariam o tempo “total”. O que falta
em sua teoria ê a consideração dó nexo lógico que se estabelece entre o tem
po físico c sua percepção humana: o homem tem consciência tio tempo .1 pai -
til do movimento, mas especialmente a partir da percepção do movimento rc
corrente, do movimento estacionário, de forma que o tempo só é mensurável
pela relação com movimentos recorrentes. Isso contribuiu para explicar o s u r
gimento da idéia tle“tempo cíclico”, é um novo obstáculo para a compreensão
do “ tempo cumulativo", linear, tia “ flecha do tempo".
O verdadeiro tempo da história é, pois, aquele que se mede em nnnlnn-
frente à thirnçíw. Para uma parte do pensamento filosófico, o da teorização
do histórico, a converteu-se em um obstáculo para a correia com
preensão da história como realidade externa e objetiva. De uma forma ou de
outra, persiste o pensamento de que historia e liumção são coisas opostas. Mas
um achado fundamental de Braudel reside, mais uma vez, a nosso ver, em ter
287
/Virl.-2
\ W h . ) i t i l flis h < / n y t i)f / ,t
mostrado todo o absurdo que se esconde sob .1 idéia dc lima realidade que se
compõe de ftilos, quer dizer, de mudanças, sem nenhuma 011Ira articulação
cogtiosciliva entre eles, ao estabelecer que é possível conceber, em lodo caso, e
ao menos como contraste, lima história iitnWel. C possível uma história sem
mudanças porque sempre existe o movimento, o movimento recorrente ou
estacionário. Ou o que dá no mesmo, dito em outras palavras: que não há um
lempo que determine os fatos, ou no qual os latos se produzam, senão que são
os latos que determinam o tempo. Que há diversos tempos, em função dc
como os fatos se produzem. Que se os fatos são as mudanças e fundamental
que isso se coloque em relação a n u a duração. A história, assim, não coincide
de modo algum como a mudança mas sim com a articulado dialética entre
permanência e mudança.
hm conclusão, como definir o tempo para os fins da historiografia? Eis
aqui o que propomos como uma primeira aproximação:
288
Capitulo 8
O PRO CESSO M ET O D O LÓ G IC O E A
D O C U M EN T A Ç Ã O H ISTÓ R IC A
M arc ik o u i
Apologia da 1listória ou O o fiei6 do Historiador
465
ftok*J
I >i imtiiiniivM <!•i iiuiiíw
O PROCESSO METODOIOG1CO
NA HISTORIOGRAFIA
O IM A N O DA PESQ U ISA
466
( ilfrlllik* n
() fliWCSWW/iliMi}JliV
«' II lllh 'IW H 'l(h l)iil> I l l M t i i t l
toi iografia mais pragmática e“crouíslica” que entendeu sempre que a história era
a transcrição mais simples em um texto daquilo que as fontes, os “documentos”,
diziam. Essa imagem do trabalho da pesquisa história é completamente errónea
e esta, nas correntes historiográ ficas mais «ilidas, amplamente ultrapassada.
Na i’5(Tf'/ít tradicional da história, no pensamento historiográ fico mais
simples, sempre se entendeu que a “descrição” histórica, a narração dos aconte
cimentos “como realmente aconteceram", iá possuia em si mesma um caráter sin
tético, ordenado, explicativo, que bastava para dar conta dos porquês dos eventos.
Acreditou-se em uma espécie de causalidade implícita. Por isso, o trabalho histo
riográfico tradicional foi entendido, durante muito tempo, como composto de
duas partes essenciais que reuniriam em si todo o método historiográfico:
1. A rctolhn dos fatos, aos que, às vezes, com notável impropriedade cos
tuma-se chamar thtdos.: Na historiografia do século 19 a temática era dilada
muitas vezes pela mera disponibilidade de tais fatos. Os grandes progressos da
historiografia do século 19 foram realizados sobre o suposto metódico de que
primeiro vêm o trabalho de arquivo, a consulta dos documentos e o agrupa
mento de informação factual, e que só depois dessa fase se pode passar á se
gunda, sem que esta possa começar antes...
2. A cotislrução do rclolo, a integração dos latos em uma trama seqüen
ciai, cronológica, que em si mesma conteria sua própria lógica, sua própria in
teligibilidade, como curso da história. Sem “latos" não poderia haver história
e sem “documentos” não poderia haver fatos. O relato, como forma arquelipi-
c.i e quase exclusiva do discurso histórico, baseou se em uma informação
abundante quase sempre e teve além disso que possuir uma ampla perspecti
va temporal da qual se poderia julgar os acontecimentos, com seus anteceden
tes e suas conseqüências.
Hm sua fundamentação geral, essa concepção ê completamente errò
nea. Mas com maior ou menor sofisticação, imaginação, variedade de temas e
auxilio de outras metodologias, todos os narrativisnws histuiiogròficos, antigos
e modernos, obedeceram a essa concepção do discurso histórico e a esse es
quema de trabalho. Idéias tão sumárias são a herança, sem dúvida, dos pre-
167
/Sirir }
O i i m l i t H m n h t o </■i i i i u i U t f / lõ fc 'rj,v i
468
{Àipilllltlü
O |'Mi w i»r6HÍi>)iiyir<i
.•ii i/i*i*NUitT>Tlii|Yli>tlisfilriüi
469
dtizindo diversificação e diferenciação cada vez maiores e, ao mesmo tem
po, maior coerência.
O “ p r o h lfm a ” HISTÓRICO
3 R c.su lu c s p c d a lm e iu e rs l ranha a p ro p o siçã o <lc qu e a ' pesquisa h istó rica " e o " i n ê
to d o h istó ric o '1 são d u as coisas d istin tas. Essa p ro p o s iç ã o p ro ce d e d e u m livro em
si m e sm o e s tr a n h o e c o m preten sõ es d id á ti c a s ,o ja c ita d o d c E S C A N 1)I: I l„ K H v
riu t k l D iu u r s n Itisu u iitg n ifk v . Htuiik 11n u fn ú t i h u dcu iifttit c m s iia iii' </<• <n m eio
tio. O v ie d o : U n ivcrstd ad d e O v f c d o , 1 9 9 2 . p. 131 cl seq.
170
i «ytfi/A*x
()(*>%
r il <ii>iUH/tOtUiü.* Iutfiiii. iJ
4 Essa ingénua posição era manifestada por l.auglois e Seignohos com referência «i
história antiga que eles supunham não eslava longe de scr conhecida “completa
mente” quando se descobrissem todas as fontes existentes. Tss;i .iftrmaçjo apenas e.
por si mesma, expressiva da ideia que fazem da história edii historiografia osgran
des preu-pl isias da historiografia clássica do começo d»' século .’<1. Langlois
o C. Seignohos» Introdução, cap. I.
471
linteJ
Osimttwmitos titi <i«<IJÍ!c-hlstòiiM
47 2
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■/ GP.P.RTZ, C . I<i fw iT /in w n ÍM i/r lus 1uliunis. liu rcelon a: Gedisa, C f. tam b em
M A ftC U S , C .; FISC l ir.R , M . I. A nihrojtnlo^y iis 11 C.uliurot (.ritú iiie. C h icag o : Uiii-
v c rsily i>l C.lmjijjo PreSA, 1 9 8 6 . c a p . 2.
-176
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•178
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() > i n u n i w t i i h v i l <I l u u i i i w lu < t^ n < .t
podem ser observados com os sen lidos porque se produzem diante dc nossos
olhos. E» inclusive, ou se produzem rapidamente ou podem ser repetidos ex
perimentalmente. A historiogralla não pode observar o passado humano;
nem a cosmologia o passado do universo, nem a geologia o da terra, nem a
psicologia oh estados mentais ou mentes sucessivas que um homem atravessa.
Mas as ciências estudam fenômenos que estão á vista ou que não estão. Algu
mas estudam ambos 95 tipos, e a historiografia inclui-se entre elas. A historio
grafia não é o estudo do passado, mas o estudo tio comportamento social tem
poral, e pai te desse comportamento está à vista...
Não obstante, a questão essencial não é essa, mas a de que as ciências
que não estudam, ou não estudam sempre, fenômenos que podem ser vistos
tem de conhecer a realidade através de vestígios* testemunhos, relíquias. No
sentido metodológico mais direto, testemunhos, vestígios e relíquias podem e
têm de sei observados. F.nlão se introduz o conceito de documento e entramos
110 mundo genérico das fontes de informação. No caso da historiografia, essas
fontes da observação são as chamadas topicamente de James r/n história.
A pari ir de novas posições da atualidade, a consideração da historio
grafia como ciência de observação não parece suscitar dúvidas. Os testemu
nhos históricos são “observáveis”, são compiláveis, acumuláveis e tratáveis sis
tematicamente de acordo com uma definição prévia e estrita de uma tipologia
dos “ latos" que estamos buscando. A pergunta sobre a “observabilidade” dos
testemunhos nao se refere ás fontes em si mesmas, mas às informações con
cretas que buscamos nelas. Com base em um desenho preciso de uma pesqui
sa histórica, a matéria que se investiga é, certamente, observável; não se traia
meramente dc reconstrução especulativa.
/\ obsct vaçtio da história <; n ofaemjfdo das jantes. C) conhecimento da
história não se reduz, porém, exclusivamente à exploração das fontes, mas se
apóia também em conhecimento “não baseado em fontes", como disse To-
polsky, o que é uma maneira simples de dizer que as fontes não funcionam
sem um aparato teórico-crítico. 1: mais do que isso, não é factível sequer o
conceito de Ibnte sem a ideia correlata de “fonte para...” A conceituação das
fontes da história mudou drasticamente, assim como seu tratamento, como
veremos mais adiante neste mesmo capitulo. O problema metodológico da
480
(I i» ih>■■■■>líinV.V-Myi,,.
41.< ii> i iJin<vilii|VU< (ii>Ui i t a l
-181
PiM i' S
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•182
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I > p r iv e « !» d i.'l.v /.'A v iV i'
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*183
M/r*' J
i>> i n t l n i / i w i i o í il, \ iW iih . v lll<U >rii'ti
sua origem, seu alcance e sua evolução ate a criação de novos estados que pos
sam sei' distinguíveis dos anleriores. A questão metodológica alude à forma
pela qual <> historiador pode apresentar relatos e argumentações perfeitamen
te ai ticuladas em um discurso textual; em conclusão, em uma obra ou livro ou
em outro suporte material onde a comunicação, certamente, se faça em lin
guagem natural.
O fato de que uma situação histórica se apresente mostrando certas
realidades “sistêmicas”, irredutíveis a outras mais simples, que são continua
mente pei turbadas e que, portanto, mudam, em forma de sistemas que atra
vessam estados sucessivos, e a razão da principal dificuldade, mas também é a
chave, para a exposição da história. A linguagem natural, lalada ou escrita,
pode descrever um sistema social e seu comportamento através tle muitos ca
minhos diferentes. Pode lazer alusão primeiro aos elementos, depois ãs rela
ções simples, aos subsistemas e, por último, à entidade global do sistema con
siderado. Mas pode também seguir o caminho inverso: expor o modelo, seja
verbal, seja formalizado em maior ou menor escala, com o auxilio de outras
linguagens não naturais - matemática, gráfica - , seja por uma utilização con
junta de todos eles, para passar depois a descrição e a argumentação relativas
a subsistemas, relações e elementos. Um e outro caminho são válidos. A difi
culdade se encontra em como conjugar sincronia e diacronia, enquanto que,
por outro lado, as necessidades do discurso argumentaiivo obrigam a separai
dois grandes campos: o livro de história geral e a monografia lemática, aos
quais jã nos referimos.
O problema c como representar em um texto, em um discurso que é
por delinição seqüencial,.os uiveis de atividade enlaçados sistematicamente e,
rfesse sentido, sincrônicos, que articulam a mecânica social e que aluam de
forma absolutamente inter-relacionada, circular, que estão co determinados:
economia,dinâmica das populações, grupos sociais, exercício do poder e do
minação, criação ideológica, ecologia, equipamento material e produção inte
lectual não são meros estratos descriiíveis e separados na realidade, senão que
téin muito de abstrações metodológicas que para entender a realidade aplica
mos a seu estudo. Todas as instâncias ou níveis ou setores da vida social estão
estreitamente co-rciadonados, co-delerminudos. Recursos materiais, grupos
sociais, hegemonias políticas e ideológicas, simbolismos culturais, criação
científica são, em uma determinada conjuntura social e histórica, elementos.
181
de falo, inextricáveis, Assim, por onde começar a descrição histórica do com
porlumenlo de um determinado conjunto humano em busca da exposição de
uma hiV/cfr/d £cm/ sua?
Esse problema é especialmente verificado nas histórias gerais, mas cm
outro nível é detectável em qualquer tipo de história sistemática. Um livro de
história tem diversas parles e nele de alguma maneira hão de se integrar rela
tos, argumentações e proposições generalizadoras. Existem boas exemplifica
çóes das dificuldades que se apresentam para uma articulação suficiente da ex
posição do histórico e de como se resolvem permitindo-nos ver os sistemas .1
pai lir de iodos os ângulos de sua inteligibilidade. Existem várias obras de dife
rente disposição e resolução que exemplificam modelos singulares de exposi
ção da difícil articulação da história. O célebre estudo de Braudcl sobre o Me
diterrâneo na época de Felipe II e um modelo paradigmático. Mas essa maes
tria pode também ser vista em Mommsen tratando da história de Roma, em
W ilold Kula e o feudalismo polonês, em l. Wallerstein e o moderno sistema
mundial, em C. Ginzburge o mundo simbólico de um moleiro do século ló...‘
O relato histórico simples pode ser assimilado ao que a descrição dos
fenômenos, sua caracterização, sua laxonomização, representa cm qualquer
método' da ciência social e, inclusive, da natural. O nível da descrição é logica
mente anterior ao da explicação, mas a metáfora existe sempre em lodo discur
so cientifico. l ’m livro de história tem de descrever - relatar - e leni de expli
car - argumentai - . I 'm livro de historia é, em último caso, um discurso sub
metido à lógica da comunicação, discurso que é descritivo e argumentativo. A
“argumentação” é o que dilerencia tal discurso do relato.
Um livro ile história descreve um sislema, dizemos. A descrição e expli
cação de um sistema devem basear-se na apresentação do elemento ou na re
lação siffiificaiimi, na variável, na relação entre variáveis ou na relação entre os
subsistemas, que permitam explicar melhor como se cria, relaciona, mantém
e destrói tal sistema. A chave esla na descoberta da variável ou da relação bá
sica. determinante. A descrição tle uma historia pode começar por qualquer
lugar e nela empregar a metáfora. A argumentação deve estar, 110 entanto, su
jeita a uma lógica estrita. Um livro de história pode ser escrito de qualquer
485
IlHIÍ.1
• I' , l , i , 1/ i M h 1 f i h f d r i i 4«
maneira. Pode começai pela política ou terminar nela. O que não pode fazer
é descrever sem argumentar ou argumentar sem d escrever.
A história que se escreve lem de captar o histórico. Dizer isso não é uma
obviedade, porque o mero relato baseado cm lontcs nao expressa por si mes
mo o hislórico. Desde a história geral à micro-história, desde a história total à
biografia individual, o que define a historicidade própria de uma situação ê al
guma variável especialmente significativa. Km torno dela o historiador tem de
construir seu “ produto”. As demais coisas são matei iais para o edifício; são im
prescindíveis para a edificação, mas não o sustentam.
/ lislória abato: a í explicações cm cinuraste. ( lo mo podem sei ionfronta-
ilas as explicações históricas? F.ntre aqueles que não conhecem suficientemen
te a forma de operar da ciência, muitas vezes produz escândalo a situação fre
qüente de discordância palpável entre as “explicações” as “ interpretações" os
juizos em geral que diferentes pesquisadores podem dar de latos que logica
mente não podem ter mais do que uma realidade unívoca. A razão pela qual
rem ando V II, rei de Espanha, em setembro de 1832, contradiz suas disposi
çòes anteriores sobre a sucessão de sua filha Isabel, para declarar herdeiro do
trono seu irmão Carlos, seja uma razão simples ou complexa, não pode ser
iiia if tio (jtic uma. Mas deste, e de outros muitíssimos episódios históricos, mí
nimos ou complexos, as testemunhas e os historiadores têm dado explicações
muito diferentes. O que isto significa?
Alguns autores, pouco documentados na maneira de funcionar a expli
cação na ciência têm falado de um específico “ relativismo histórico", manifes
tação do “ relativismo cognitivo”, que se expressaria na idéia de que “c muito
comum em história, ainda que não seja exclusivo dessa disciplina, encontrar
versões radicalmente diferentes de um mesmo acontecimento”.1-’ Hssa afirma
rão é estimulada de certa lórma pelo que poderia pios chamar a "síndrome
Schaff"." Para responder adequadamente conviria partir de um lato bem es-
486
( llfllul,’ H
( *Ji/iSVW i»
(■ií i)íiii'i>i/i>7iiilfí)i' (MMi
487
tíurr.t
( h Íi) íllU H H t)li>> ih l Il in l l it c I l i/ U i r i iiJ
UMATIiORIA DA DOCUMF.NTAÇÀO
HISTÓRICA
•188
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A “ in t o k m a ç AO i iiS T o R io c iiiÀ t ic a ” : a s ro N T i s
489
rtlrtc }
< >• iitstruitimhn iíy o m J i V J ií W i n f c i
p esq u isaib ) a busca das fontes de informação. Quer dizer, é o problema o que
condiciona as fontes e nao o contrário, ao menos em um correio enlendimen-
lo do que é o progresso dos conhecimentos. A expressão “informarão histo-
riográfica” congregaria bem, poriailto. a idéia de fonte da história. A informa
ção sobre, e a documentação de, um problema é um passo subseqüente, não o
primeiro, em todo início dè um projeto de pesquisa.
Provavelmente em nenhum outro terreno foi tão patente o avanço da
historiografia na segunda metade do século 20 como nas novas idéias sobre as
Ibmes da história. Cm nenhum outro terreno ficou tão obsoleta a velha pre
ceptiva de tradição positivista que, no entanto, em alguns de seus tópicos e
oricnlaçoes tem chegado a nossos dias. A extensão do conceito de lonle, a ca
racterização dos objetivos, a necessidade e as técnicas da “crítica de fontes“, a
conccitilação das “disciplinas auxiliares” que têm sido o apoio tradicional do
historiador para a interpretação das fontes mudaram radicalmente. Foram ar
ruinadas três velhas concepções: a das fonte.c da história e sua critica como a
origem de toda pesquisa; a distinção entre lontes primarias e secundarias; a
concepção tradicional das ciências auxiliares da história.
As idéias de informação e documentação na pesquisa são hoje essenciais
no uso das fontes na pesquisa, dada a enorme variedade delas que é possível
utilizar. A informação histórica c algo mais do que a mera “ leitura" das fontes
e a transi riçào das noticias que proporcionam. A informação é um demento
permanente do método. A tradicional "critica das fontes" deve ser vista a luz
da idéia de “depuração da informação”.
O c o n c e ito d e “ fo n le ”
Marc Bloch dedicou lodo lim capítulo de sua clássica Apologia.da his
tõria á questão dá “observação histórica" e a mostrai que a pretensão de que o
presente é aquela fase temporal que tem o privilégio único de poder ser obser
vado diretamente não é de todo verdade. A coincidência com o passado neste
ponto repousa no fato de que o que entendemos como “presente” tampouco
é de maneira absoluta observável diretamente. Reciprocamente, a observação
do passado, ademais, não se distingue sempre da que se faz do presente. Toda
a velha lese de Seignobos acerca da impossibilidade de uma “observação" da
•190
<*pHKffSi»Hh'ttohMftln'
7
••I l l U lU W H M f'iH ’ ifl<Mrii l
<191
Mi/tf J
O-i'ii.'lKti/U'i/Miihl ilIftífrV(lifhirioI
U ma n o v a t a x o n o m ia das io n t i -s h is t ó r ic a s
492
<ilfl»u i.f .V
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< ) flU W Í > Ml» W l>%h'<l
,-,l./><.!,’Il. in,!,.h' /iM.in,v
Os critérios taxonômicos
C rité r io p o sk io n a l
in d iretas
vo lu n tárias
C rité r io in tencional
n arrativ as
m au -riais, a rq u e o ló g ica s escritas
n ao narrativas
C rité r io <|ii.ilii;itivo verbais
o rais
cu ltu ra is
.sem iológicas
não verbais
au d iov isu ais
seriad as (seriáveis)
C rité rio
lo rm a lijiia iitita tiv o
n a o seriad as I n a o seriáveis)
•193
<>*/uttrumrnhn ih in/tlliff i|t'jí<irir«i
A s C A R A C T E R ÍS T IC A S T A X O N Õ M IC A S d o s T I P O S D E r-O N J ES
A classificação por critérios específicos que têm que ver com a nature
za interna das fontes e não meramente com a forma em que serão "lidas”, ou
seja, pela forma como dela é extraída a informação - escritas, orais, arqueoló
gicas, etc. permite uma grande flexibilidade. Assim, um exemplo de classifi
cação por aplicação simultânea dos quatro critérios poderia irazer-nos uma
fonte que fosse, por exemplo: nialcritil/invohtntària/seriada/direta* com o qual
nos encontraríamos, justamente, frente a um dos melhores tipos de fontes
imagináveis, ou verbal/nilo no n u l i va/serit tdo/indirclo, que corresponderia a
um tipo de fonte como a judicial, aplicável, por exemplo, ao estudo da evolu
ção da linguagem oficial. Fm suma, esses critérios, e as correspondentes cate
gorias complexas que deles se depreendem, têm antes de mais nada um valor
técnico ao favorecer de modo especial a observação* erllico e ovalioçõo docu
mentais, que é do que se trata. São, como dissemos, critérios combináveis na
busca da correta localização de uma fonte.
A classificação das fontes tem interesse também, ao menos, pelo crité
rio orientador que facilita a busca tias fontes adequadas ao estudo de determi
nadas situações históricas, levando-se sempre em conta que o ideal de uma
grande pesquisa é o uso das mais variadas fontes possíveis e a confrontação
sistemática entre elas. Ainda assim, seria possível encontrar, é claro, fonte de
classificação duvidosa ou impossível.
Além disso, uma classificação de fontes que se lim itar a distinguir entre
materiais ou arqueológicas e todas as demais - o que não é raro - teria por si
mesma uma utilidade técnica bastante limitada. Uma boa taxouomia das fon
tes não é, afinal, uma coisa fácil. Qualquer classificação coloca sempre proble
mas que mostram quão decisivo é o próprio critério do pesquisador 110 mo
mento de se m unir tle uma documentação idônea para o estabelecimento de
conclusões. Assinalemos, pois, as características fundamentais dessas classifi
cações e algumas das dificuldades quanto aos critérios de classificação.
O c r ité r io p o s ic io n a i
•191
OJUdrtYí««
«•,i i/iuiiiUí>iiii,iU>tíáhnwi
uniu vez mais, podem ser interpretadas lambem como primárias ou secundá
rias. Como eslahelecer o critério distintivo? Segundo a procedência da fonte,
seu conteúdo, o grau de relação com o núcleo central do pesquisudo? L-.m his
tória agrária, por exemplo, imagine-se .1 diferença entre um cadastro d;i pro
priedade agrária e uma informação sobre as festividades rurais em relaçáo ã
colheita tios frutos.
A distinção entre fontes iliretas e indiretas resulta bastante clássica. Mas
em sua forma clássica essa distinção era aplicável mais à natureza do testemu
nho contido na fonte do que ã própria categoria de fonte. I ma fonte classifi
cada de direta era um escrito ou relato de alguma testemunha presencial de
um fato, de um protagonista» de uma documentação, às vezes, que emanava
diretamente do ato em estudo. Uma fonte indireta era uma fonte mediada ou
mediatizada, uma informação baseada, por sua vez, em outras informações
não testemunhais. Hm suma, tratava se de 11111 critério classificador aplicável
aos escritos em forma de crónica, de memória, de reportagem. As fontes eram
de um ou outro tipo segundo a forma como a informação era reunida, segun
do a "proximidade" da fonte cm relação aos fatos narrados.
Mas hoje a categorizaçào direta/indireta, sem abandonar de todo essa
noçao referente ao grau de “originalidade** - informação, diríamos, de prim ei
ra mão ou não deve atender primordialmente â funcionalidade on idoneida
de i/u uma fonte em relação ao tipo «le estudo que se pretende. Desloca-se as
sim o critério de classificação da natureza da inlormaçao para 0 tipo de pes
quisa que se pretende. Dessa forma, fontes podem sei direta* para um deter
minado assunto e indiretas para outro. Assim, certos dounnentos históricos
mostram uma extremada poli valência. As vidas de santos informam sobrem
do a respeito do simbolismo religioso, posto que visam “edificar" o fiel. mas,
ao mesmo tempo,.são uma fonte inestimável sobre o^> costumes de uma épo
ca. por exemplo. Esse critério de classificação das fontes, portanto, da mais es
paço aos conceitos relac ionados com a pertinência metodológica do que à for
ma de reunir a informação.
Por fim. o critério posicionai nos leva ao problema do carálei das fon
tes em relação aos períodos históricos dos quais tratamos. Cada período tem al
gumas fontes inteiramente típicas. Compare-se a questão das fontes antes do
surgimento da escrita e depois, ou o tipo de fontes históricas que geram as so
ciedades pré-indusiriais em reluçao com as industriais. Por isso, em conclusão,
495
f'iirh' .t
( h i «SflW W M ft»» '/•! r im i/ iff fIW/iHWW
<1 tooriu das fontes segundo critérios posicionais nos leva a contemplar as tou
tes históricas estreitamente ligadas à história que se pretende pesquisar.
Por l'un, uin assunto bastante clássico relacionado com a classificação
posicionai é o dessa posição em sentido cronológico. A “proximidade” ou “dis
tanciamento" de um determinado tipo de fonte em relação à situação de que
Iratam impôs à historiografia tradicional o imbróglio da distinção entre docu
mentação e bibliografia, ou entre fontes prim árias e secundárias. P., no entan
to, essas diferenças não obedeceriam na realidade a um critério posicionai,
mas antes intencional. “ Documentação” é a informação não elaborada, não
discursiva. “ Bibliografia" deline melhor o contexto científico, o “estado da
questão", tut qual nos movemos. Assim, coloca-se o problema: uma crónica é
documentação ou c bibliografia? Tem algum sentido empregar aqui um crité
rio cronológico como distinção e ajuda à classificação? Parece claro que não.
A distinção deve ser estabelecida entre o que é crônica testemunho ou o que
é estudo historiográfico.
O critério intencional
•1%
( Ji/víi/fi* K
0
i >/>nvt’M <i.viixA'A'i>t'
.i iSuwiiaih\thi huMiUii
C o n s tru ç ã o su n tu o sa
M ateriais L íp id e s e artos fúneb res
E statu ária c o m e m o ra tiv a
In scrições
C rô n ic a s ,., n iem ô r ias
C u ltu ra is E p o p eia... «pica
A n ais... c ro n o lo g ias
to rn e s o ra is
t-ONTES
U ten sílios
M o b iliá rio ... Enxoval
M ateriais N u m ism ática
A rq u itetu ra civil e m ilitar
O u tro s vestígios m ateriais
N'.io in te n cio n a is
1 ii .Ui te ste m u n h a is)
A d m in istra çã o estatal
C u ltu ra is D o cu in c u fa ç a o e co n ô m ica
D o c u m e n to s ju ríd ico s
A d m in istraçõ es p riv ad as
-197
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•198
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b o m e xem p lo .
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tivo de lima pesquisa. Pudern ser reduzidos a uma “matriz de dados" desde as
características mais externas de uma lonte, cómo podem ser as cores de catla
uma de suas partes, até as distribuições de freqüências das palavras de um tex
l<» ou das quantidades expressas em determinadas coutas. A diferença repou
sa em que algumas fontes aparecem construídas sobre a seriarão - assim são
as fontes económicas, de forma habitual e arquetipicamente - , enquanto em
outras a seriação deverá ser feita pelo historiador. As fontes não seriadas ou
não seriáveis seriam essencialmente as qualitativas.
A condição de writnlas ou não scritultis alude especiulmente, ainda que
não de forma exclusiva, á distinção que se pode fazer nas fontes entre aquelas
que apresentam, ou das que se pode extrair, um conteúdo exprimive! nume
ricamente, frenie as que não têm essa possibilidade. Encontra mo nos assim
diante dó tão tratado tema da existência de magnitudes mensuráveis implica
das na pesquisa histórica e suas características. A velha discussão, e a velha for
ma de optar, entre fontes qualitativas e fontes quantitativas, a oposição entre
elas, carece hoje praticamente de sentido. Rara ê a fonte de conteúdo não nar
rativo, incluindo certamente as verbais desse tipo, que com os meios técnicos
hoje existentes 1 não seja suscetível de algum tipo de seriação. A seriação tem
relação com a quantidade, mas o que im poria não e sempre o número senão
a repetição, a recorrência.
Uma seriação não deve ser entendida, como se deduz do que foi expos
to, que é sempre seriarão no tenipo. Realmente, seriadas tio tempo estão tíu/ns
as lontcs. ra/ao pela qual tal característica não tem interesse taxonòmico, ain
da que o tenha, obviamente, no sentido técnico, em seu tratamento por parte
do pesquisador. A seriação de que falamos aqui alude sobretudo ao conteúdo.
Fontes não seriadas são as tradicionais fontes qualitativas geralmente escritas:
crónicas e memórias, documentos diplomáticos, vestígios arqueológicos em
determinadas circunstâncias, etc. Mas não será excessivo concluir reiterando
que a habilidade técnica do historiador deve ser suficiente para expressar em
forma de séries, se isso lôr necessário para a análise, para a comparação ou
para a estatística, as informações que suas fontes proporcionam.
503
ftirr«-.«
11»iiMnoimUix il.t »imita-hMtirku
O s p ro g r e s s o s d a c r ític a d a s fo n te s
50-1
('tipiluU*H
I >fHifSJll UíiW.'M-y<ii'
4
i*(t i vMn»i’f»íi»frf<i h i i t f i i i o i
r
505
I\ir/r 1
Cu imuati/tWtú tíii iMiXiic /laufriM
A idéia de critica das fontes pode sor substituída hoje de forma vantajosa
pela de análise documental. A análise documental é algo mais do que a clássica
crítica em seus aspectos de autenticidade, veracidade e objetividade, em seus as
pectos de crítica “eXterna" e “ interna’', e, mais ainda, substituiu a velha distinção
entre heurística, metódica e sistemático, eLcv" O trabalho de preparação e mani
pulação técnica das fontes de informação encontra-se estreitamente inserido no
processo metodológico normal; não é algo prévio nem dcsconeclado das de
mais operações metodológicas. A informação desempenha um papel*essencial
ao longo de todo o processo de pesquisa. A análise documental oslá embutida
no processo geral da pesquisa científica que considera sempre que as fontes
equivalem ao campo geral da observação na qual hao de ser obtidos os dodos.
A iniciaçáo ã atividade crítica e de avaliação das fontes é, sem duvida,
essencial em toda preparação conscienciosa paia o aprendizado do método
historiográfico. O agrupamento das evidências documentais é a base em píri
ca decisiva de qualquer pesquisa e a idoneidade de tal base, sempre com rela
ção ao tipo de objetivos que a pesquisa pretende atingir, é a função final da c rí
tico e das lontes. A competência para a critica e avaliação requer fun
damentalmente uma preparação teórica, metodológica e técnica que pode*
perfeitamente ser adquirida e que incorpora não somente recursos técnicos,
mas também intuição e rigor na aplicação cio método. Mas tampouco é alheio
a esse processo o próprio exercício da "prática” da pesquisa.
Na metodologia historiográfica, a obrigatoriedade e a necessidade téc
nica da critico e avaliação cio campo de observação ou fontes parte de quatro
princípios básicos, dois dos quais são próprios da natureza especifica cia do
cumentação histórica e são os seguintes:
a) Que os fatos estudados só podem ser captados pela inferência a par
tir dos restos ou vestígios. '
h) Que a informação histórica é gerada em fontes de extraordinária /ir
tcrogeneidáde.
2<\ A origem de todas essas expressões citadas encontra se, obviamente, na terniiimlo-
j:ü própria d.i aniiga preceptiva, a historidsta e .1 positivista. Para esse aspecto, re
passar iodos o s clássicos textos ja citados de Droysen, Keinlieitn. Ilauer. I an^lois-
Sd^nnhos, Garcia Villada, e iltê Samaran, Halkin, Salnion, Regia, eu.
506
Kxistein outros dois condicionamentos que são, no entanto, comuns a
todos os lipos de documentação:
f) Que a pesquisa c Iralamento das fontes estão absolutamente vincu
lados em lodo o campo da ciência social á busca de adequação entre as hipó
teses orientadoras da própria busca e o tipo de fatos que contribuem para tor
nar tais hipóteses fecundas. Ê por isso que a crítica da adequação, á que nos
referiremos depois, niio contém substancialmente aspectos técnicos mas sim
epistemológicòs e contextuais. Hm linhas gerais, e ideais, toda pesquisa corre
ta parte de um problema e não de uma fonte. O problema em questão decide
sempre a crítica de adequação.
d) Que as fontes por si só podem conter um componente de distorção
da realidade. Não a que é introduzida pelo historiador, como resultante de di
ficuldades de método ou técnica, ou como efeito de pressuposições ideológi
cas, mas sim aquela distorção que já se encerra na própria fonte e que, como
qualidade intrínseca a ela, coloca, além disso, problemas de lógica e de conteú
do, Porque como é possível medir uma distorção? Ou, simplesmente, como
descobri-la? A distorção ou os erros que as fontes contém apresentam um pro
blema critico de primeira grandeza que já percebera Marc Bloch: a intencio
nalidade dos erros é por si só uma fonte impressionante de verdade na histó
ria: por que mente aquele que mente... ?
A análise documental na historiografia, também aqui como cm qualquer
outra pesquisa social, tem aspectos instrumentais e aspectos epistemológicos.
Como em toda ciência normalizada, é preciso cíeluar sempre um trabalho de de
puração dos dados, o qual constitui uma das tarefas próprias do contexto meto
dológico da observação. Xós aqui chamaremos essas operações técnicas de and
lise da fiabilidade das fontes. Mas na historiografia há mais uma vertente, como
é a do estabelecimento do tipo próprio e adequado de fontes a ser empregado. A
pesquisa desse aspecto é o que chamaremos análise da adequação das fontes, fissa
segunda seria a busca de respostas a perguntas tais como "qual o caráter de uma
determinada pesquisa”, “que tipo de lontes seria necessário utilizar”, “o que se
pode lazer com as que forem encontradas". Os objetivos da pesquisa condicio
nam a adequação das fontes. A pergunta acerca de quais as fontes necessárias é
um problema em boa parte teórico, tle uma boa conceitualização prévia ou de
hipóteseá claras. H um problema heurístico. Enquanto que saber para que pode
servir uma fonte encontrada é um problema hermenêutico de grande interesse.
507
<b uutni/invuu <l,i m,Ui.w hislA/i.ii
O p m e e s s o d a a n á lis e d o c u m e n t a l
508
('ii/iíiiibff
< >pr»i)f*i uh /is/i'hyii ii
!•,i ifi\ /iíi/ri/f<iSiK<histihüii
terminada pesquisa. I' evidente que para o historiador, como para qualquer
outro pesquisador social, a Habilidade de suas fontes continua sendo, como é
natural, um problema prévio a resolver, ailles ainda do problema seguinte que
é o de utilizá-las corretamente.
A idéia de fiabilidade das fontes substitui amplamente, e com vanta
gens, as antigas concei tu ações que já comentamos da “nutenlicidade" “veraci
dade" “objetividade". Mas há outra conceituarão que importa tanto quanto a
fiabilidade material e formal de uma lonte que é a da adequação. A adequação
de uma fonte para emitir informação acerca tle um determinado assunto é
algo que supera propriamente a critica, tal como habitualmente a entende
mos. O problema da adequação das fontes tem sido, no entanto, uma questão
normalmente marginalizada pela preceptiva historiográfica de origem histo-
ricista. O julgamento a respeito da adequação é lima decisão metodológica
mas é mais importante do que a própria crítica “externa”, como era chamada
pelos clássicos.
A maneira pela qual a análise da fiabilidade e a da adequação se rela
cionam pode ser assim representada:
A fhhilirftuic. A djiíi/isc í/ri jtabiluliulc das fontes se basearia cm uma ba
teria tle meios instrumentais mais ou menos simples e diretos que incluiriam
coisas como:
Autenticidade:
Técnicas de datação (estratificação, ratlialividade, comprovação de da
tações explícitas).
Técnicas lingüísticas (lexicografia, análise do “estado" tia lingua), eru
dição literária e crítica histórica..
Análise tia história tia fonte.
Depuração ilti informação:
Coerência interna tia fonte (rastreamento de interpolações).
Comprovação externa da informação.
l’esquisa por enqucle ou questionários comparativos.
Comexiunlização:
Técnicas de classificação documental.
Análise tle “séries" ou “famílias" de documentos.
Comparação tle fontes diversas.
509
r
ftww.•
th iníimiitiiiitH ,t,i tnuKiw//i wAvt
510
L'wj*rtnAi.1
11finkttiOwMli'hfcttit
v , i iliiri»;uviM|iii> h i f l f i r im
tipo - de cuja exploração primária so deduz que podem sei aplicadas no estu-
do de alguma questão nova ou iá colocada anteriormente.
Nada se presta á presença de uma casuística tão variada que depende de
um sem número de lãtores como a origem de mna pesquisa social e histórica:
estado dos conhecimentos, interesse intelectual estrito ou demanda da opi
nião pública, necessidades ideológicas, "modas intelectuais", etc. A relação en
tre lenta e fontes é sempre dialética e é ela que explica e condiciona o desenho
de uma pesquisa. A dialética entre problemas, hipóteses e fontes é também a
que impõe a necessidade de um estudo da adequação.
Podemos dizer que sãofontes adaftiadas parn ttin tana aqueles conjun
tos documentais capazes de responder a um número maior de perguntas, com
um número menor de problemas de Habilidade, de equivocidade ou melhoi
adaptação aos fins da pesquisa e suscetíveis de usos mais proveitosos. Infeliz
mente, o problema da adequação não se apresenta como mera possibilidade e
necessidade de opção entre tipos diferentes de fontes, li ram, ou pouco exigen
te. o pesquisador que se encontra satisfeito com suas fontes. Passado um certo
nível elementar de adequação - quer dizer, descartando se a absoluta dispari
dade entre a informação, por exemplo, que pode ser extraída de uma contabi
lidade e a pergunta a respeito das crenças religiosas do contador... as fontes
podem responder a géneros diferentes de perguntas e dar respostas .1 elas dire
las ou indiretas dai a classificação desse tipo que fizemos.
O problema da adequação é antes o que se relaciono com a necessária
“quantidade de informação" para poder dizei que um problema pode ser re
solvido e da necessária “ variedade da informação" que permita dar generalida
de as respostas. Às fontes são adequadas quando, passado esse nível mínimo a
que aludimos, de relação entre o que se pretende perguntar e a que ou a quem
é feita a pergunta, há delas em suficiente quantidade e variedade - formal e de
co nteúdos-e quando superaram uma avaliação suficiente de sua fiabilidade.
Uma avaliação da adequação exigiria, pois, que se prestasse atenção a
questões como:
Demanda de infonmnão:
Estabelecimento dos tipos de documentos requeridos - segundo crité-
1ios taxonómicos explícitos.
Quantidade de informação precisa.
Variedade dos suportes c dos conteúdos.
C a p ítu lo 9
M éto d o e t é c n ic a s n a
A H. H
m o s \
Teoria da ecologia Inimana
513
JV th ' i
( ) í i/ i< iir ir n ,/ iiii < , l , i i i t t i í t i i t ' h i f i i i i i c i i
Mm lodo caso, o que se oferece* a título de çòlofon, não e muito mais do cjue
uma introdução ao assunto.
Como j.i advertimos antes, a presente obra não se propõe a analisar em
detalhe e mostrai o desenvolvimento das técnicas de pesquisa que o historia
dor pode empregar. Carecemos, sem dúvida, de textos adequados desse tipo,
mas para o tratamento da maíéria necessita-se liojc, pela sua extensão, de vo
lumes específicos, o que não constitui o presente livro. O que este capítulo li
nal oferece, pois, é uma idéia muito sumária, quase unicamente informativa,
das técnicas de pesquisa que o historiador tem hoje à sua disposição, ü isso se
busca fazer a partir de dois pontos de vista. Primeiro, diferenciando as técni
cas por seu caráter ou orientação global ou pelo tipo de instrumentos que em
pregam, Sempre dentro do contexto das técnicas de pesquisa que as ciências
sociais aplicam - nem todas são possíveis para o h istoriad or- pode-se distin
guir entre as tjhalitativas e as quantitativas, entre as gencmlizanles e a.s indivi-
diutlijuintcs. Segundo, distinguindo-as pela instrumentação que fazem dos
meios de trabalho; desse ponto de vista podemos falar de técnicas arqnivísti-
ctís, estatísticas, informáticas, etc.
No estado atual do ensino do método e das técnicas do historiador é
praticamente impossível expor qualquer matéria sobre técnicas de pesquisa -
com exceção talvez da arquivística , onde não sejamos obrigados o recorrer a
manuais, compilações e livros básicos pensados para outras ciências sociais,
para a sociologia especialmente. A penúria de publicações dessa natureza e a
antiguidade ou superficialidade das poucas existentes faz com que não haja
outra solução. Isso não é grave na medida em que muitas das técnicas da pes
quisa social são perfeitamente aplicáveis ã pesquisa histórica, como veremos.
Mm lodo caso, porém, e este é o problema central, é evidente que as técnicas de
pesquisa não podem ser ensinadas pela sua descrição, mas obrigatoriamente
com sua prática. Uma razão a mais para atribuir ao que segue apenas um ca
ráter de orientação.
Quando falamos de técnicas de pesquisa é imperioso não esquecer a es
Ireita relação, necessária e insubstituível, que em uma disciplina sempre liga a
teoria, o método e as técnicas. Por isso, raramente se fala de técnicas de pes
quisa sem estabelecer primeiro essa clara hierarquização entre o conceituai, os
pressupostos do método e as habilidades das técnicas.
514
(.'i/fíltlki 9
Shhvti' i liVmVif; iui /'rsr/Mí*! liíí/iUmi
AS TÉCNICAS QUALITATIVAS
515
fti/ir I
i •• i i i M r i i n w i i t i » i / . i t i i i i t í h i - / l i s i J / i ú i
N atureza e f u n ç à o das t é c n ic a s
2 MAVNI Z. U.; HOLM, k.; HÜKNEK. !J. Iinnuluu ió» o /<>.<métodos de In sociologia
aitpirtca. M a d rid : A li.tn /a , IWttt. p. Ií>.
516
í lt\ «Uíll llil (Vu\uhii hhlón, tf
517
HiWí .1
<l>iri>Jn/i‘n ih/líditílV/li<líiriiu
Arquivo
Olvservaçao docnmcinal Imprensa
i Publicações oficiais
Icxlos Bibliográficus
Técnicas arqueológicas
Qualitativas
Análise dc conteúdo
Técnicas filológicas
Estudos liugiiíslivos
História oral
Pesquisa oral
Técnicas de pesquisa Questionário
Tabularão e indexação
Descritiva
rstJliM ica
Quantitativas Inícrencial
Técnicas gráficas
518
I
<Ílffll/fí*•>
«■tállísili m /VjiJ/i/jm/lí.»l(*rn»i
T ratam ento t e m á t ic o d a d o c u m e n t a ç ã o e s c r it a :
ARQUIVO li HKMEROI EGA
519
/'«l/f»' .*
í*< I/Ilfdíl/I.7l/|’ llll Klr.l/lM Jh,/l>/lVlS
520
i K>
M ,‘f>hín r In uiiiir rii» ('i-fi/H h is f i M it r ii u
dc uma boa planificaçao da pestpiiut que é a única que permite otirui/ar »> tra
balho <lo ponto de vista tlc uma observação imprescindível:
• possibilitar, buscas exaustivas;
• permitir a orientação da busca;
• produzir 11111 agrupamento correto chis informações;
• latililar um controle claro das “lacunas” da informação.
A técnica de exploração documental tem como ponlo-chave não só a
leitura correia das documentações encontradas, quer dizer, a extração de iti-
forninçno primária, informação factual de qualquer tipo, seja de expedientes
administrativos, correspondência, contabilidade ou qualquer Outro tipo de
documentos, como também, sobretudo, o trasvasc das informações obtidas ao
aparato <le “organização da informação". O pesquisador constrói tipologias
em função de seu projeto e suas formas de trabalho: fichários de conteúdo,
base de dados, compilação de citações, etc.
A “ leitura” de um documento, ao contrário tio que possa parecer, não
é coisa fácil. Um pesquisador não pode simplesmente ler um documento
para captar seu sentido superficial, mas sua leitura deve estar orientada, e de
fato o está, para a busca de coisas concretas. Porque a leitura da informação
é sempre "hipotética", está orientada por perguntas. Algo diferente disso sig
nificaria praticamente a impossibilidade de superar o nível da “descrição”.
Um historiador não lê, “para ver o que há”, senão buscando coisas orientadas
por um projeto prévio de observação. Há uma análise externa e inteina de
um documento, da forma e do conteúdo. Uma análise contextuai e outra
substancial. 0 tudo isso independentemente das questões de cnlica tlocuincn-
lat de que já tratamos e que são diferentes e, provavelmente em muitos casos,
prévias ao que agora tratamos aqui.
A documentação hetnerogwftca c bibliográfica tem, por sua ve/., seus
próprios condicionamentos. De inicio é preciso assinalar que toda pesquisa
em qualquer ciência social e, portanto, em historiografia, é impossível de ser
levada a bom termo sem um correto c suficiente apoio bibliográfico. Quer d i
zer, sem a consulta do aparato preciso da bibliografia científica sobre um de
terminado tema, á qual é possível ter acesso por meio de repertórios variados,
522
I
i tiyi/ii&i v
Aítí.v/.' i kvi/hv.*/iii ;ir;^Mi>ii tinfiiriai
I.IN C iU A G EM F D ISC U R S O
Na atualidade, a mera leitura temática das fontes escritas não basta para
o progresso técnico da pesquisa histórica. O progresso das técnicas qualitativas
caminha, evidentemente, na direção daquilo que chamamos informações prim á
ria*, quer dizer, o que se obtem de informação “direta” por ineio da leitura do
conteúdo de um texto, vá sendo progressivamente mais elaborado por técnicas
complexas que permitam organizar conjuntos de dados por meio do estudo de
codificações menos aparentes que o texto também contém: a língua, a semióti
ca, á semântica de um texto podem nos trazer conteúdos "subjacentes”, ocultos,
que a mera leitura primária não descobre. É por isso importante que o historia
dor que trabalha sobre fontes escritas de caráter textual conheça as mais diferen
tes técnicas de análisé cias codificações ocultas dos textos que outras disciplinas
praticam. Ainda que se trate de uma especialização laboriosa.
II) Existe liojc nesse sentido a incógnita de que todavia nao se conhece hein a dorabi
lidado ilos suporto?» de .uio.i/euamemo de informação como lllas magnéticas de
áudio ou video, disquetes e outros.
523
fW/1- J
<tf imUiiiitiVlos <!<<«KiinVíf híilòi iVir
11 Ver G. M. Spil^el, ilistory, llhunitism. nutl Thr Stu itil Logic 0/ ilw Tcxt, p. 59 c
seguintes.
12 Nosso posição se encontra, naturalmente, mais próxima <b <|iie expõe MORÀ-
OIELLOS, II. Ultimas corrionies en historia. Jliíkniti mkm K 16. p. 97 ei sc«|.. 1993.
Os textos são "representações".
13 KOBIN, R; Hhíoiteel l.inguistitfiie. Rios: Arm.iml Colin, 1973.
524
t
técnicas ile «ináliso hislórica. Nesse sentido técnico, é mais imporlanie o estu
do do aparecimento do “ lato lingüístico" como fato histórico.1. As mudanças
sociais são também mudanças de linguagem. A linguagem adquire sua forma
genuína no conceito e, conío estabeleceu Wittgenstein, é uma representação
do inundo que diz quase tudo sobre uma época.
A ANALISE DE CONTEÚDO
é
11 A C IIA R D , I*. ct al. iD ir.l. Ilislo irc ct I J n g m t i ifi ir : P aris: M aiso n d e s Scien ces de
I I la m in e , 198*1.
526
I np)tul,>9
(Vi^ubt luM.li I. It
I- V i l í i u i í Ill)
2 0 Ibitl., p. 2 7 .
527
/»•r/l*.*
I I* U tílf\llH * -n h ff l l l l l/iu lt iu - il< < ll'líl/l
21 MAYN I Z, II.; I IOI..M, K.: I lOllNEU. I*. Intrxuluu iõii a los inàhulos de la sociologia
empírica. M a d rid : A lian& i, 1 9 8 8 . p. 198.
22 AUOSTHCíUI, |. El Maniliéstn de l.i "Fedcr.uión de Realista* Puros" IIK 26). Cion-
trilnicinn al estúdio Ue los grupos políticos vn cl reinado de Fern.iiido VII. In: í :.s-
nuiios tle Historia Conicntporãnco. Madrid: Insliuilo "Immimo Zurila’' dei C.SK .
1976. v. II. p. 119 1K5. Nesse trabalho pretendia-sc demonstrar «|ue o Manifesto
aludido era nin.i falsificaçao liberal que queria se fa/cr passar por realista ou- apos
tólico' proclamando rei Carlos Maria Isidro de Itorhõn, irmão dc Fernando VII.O
cMudo de sua língua prati« ainente nao deixa lugar para dúvidas: sua terminologia
imo c i autenticaniciite realista da época e tampouco soas idéias.
528
lavras não .1 linguagem em si. Por isso .1 AC chega a ser "análise tio discurso",
uma análise semântica do que o emissor de uma mensagem quer realmente
dizer ainda que pareça dizer outra coisa.
529
ZiUtíJ
I *' ifH /rw i> iiilli> .' i / i / ■. iiv i
530
cjtfíi/iki v
U r i i i / o c ftv v iv .M u i l(i».'i"v«vi
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531
P k irí.' 1
Õ> J l U l i i w t c H h H <hi i i l u í t i s v h i s l j t k t i
isso "se puder ver mais coisas". Mas esses trabalhos, sobretudo com dados qua
litativos, textos, expedientes verbais - jurídicos ou de outro tipo informes,
etc.,só se justificam pára seu uso instrumental, não em si mesmos.
THOMPSON, P. I.o voz <M pusaib. Historia dnr/. Valencia: Alfons el Magnánim,
1988. A edi\íto original e de Thompson atualizou as edições sucessivas.
<3 Existe urna associação internacional de seus estudiosos <)ral History, livcrnationai
fourmi of OroI History, Historia yfticnic arai (Barcelona), alguns centros onde se es
tuda especialmente como o Institut dTlistoiie du Jemps Présent (Paris), seminá
rios espcci ticos, etc.
532
< ïi/»i7iiAi y
AI<!W.<i i>triuiMthi fh‘>i(itnnhn/irrim
31 Uni exeinpki da «liliis.ii» que esse tipo tle pesquisa lem alcançado lia Espanha c
dado pelii célébras'»!« cm Barcelona <lu V Congresso Iniemauimal em 1V85 e a con
tinua rçalizaçâo de Jornadas ondcsc trata dos mais variados itfriias. Cl. TRU|I1.LA
NO, ). M. (tel.). Ilis t o r iii y l)u 'n ic< o n d es."M cn iv rin y m ie d n d a i lu l û a w t e u i
Actasde las III lornndas. Avila: Fundacion C iilinr.il Santa Teresa. 1993.
fnuïitieo“
3r> Ver, por exemple, POU AK, M. Pour un inventaire. / .< • > Caillées de l'IH T P , Paris,
n. I: Questions a l'Histoire Oral, p. IS, juin l‘>.S7.
3f> J O U T A R l A P. H . É siis nnr.< f/ne nos llc g m d c l j><i»tdo. M t 'x ï c o : l ' Œ , p . .r/ 3 .
.e / N IJT T IIA M M FR , I . Para ipié sirve la 1 1 .0 .? Ilit u iiia y fu n t/e oral, B arcclo n a, n.
Mcnioria y Biogralia» p. h, 1989.
3fl FRASHR, R . l a liis lo ri.i o r.il c o n iO liis lo r ia d esde ab ajo . In : R U IZ TORRP-S, P. ( lid , ) .
l.a h is to riu j'.ra li i. /\ jrr, M a d r id . 12. p. 79, 1993.
533
Muh-.«
I •> ilh ln t iH l'illiK ' i l l I «/«Afí*fíl»i>rir;l
cos c técnicos, dos quais tbi se ocupando cada vez mais - foi assinalado por M.
Pollak que se publicam mais trabalhos metodológicos ilo que de pesquisa
são, no entanto, de certa envergadura.
O problema ciitico e técnico da fonte construída sobre declaração
oral reside nas dilieuldades de sua objetividade, sua exaustividáde, sua
transcrição correta, a dinâmica específica que se estabelece entre entrevista
dor e entrevistado, a complementariedade com outras fontes, etc. Nesse ú l
timo aspecto, deve-se dizer que uma parcela de grande autonomia e também
de tbrte presença interdisciplinar é a da construção histórica mediante o re
lato oral do passado de povos agrafos, que não têm fontes escritas, na Á fri
ca ou Oceania. A construção da fonte oral está sujeita a uma série de con
dicionantes “de situação“ psicológicas c sociológicas, que certamente a do
cumentação escrita não tem. A coleta e controle dos testemunhos orais são
tarefas cujo rigor deve ser extremo. O procedimento técnico tem três mo
mentos que foram descritos de forma brilhante por I!. I*. Thompson; proje
to, entrevisto e armazenamento e peneiro.
A enquetú oral é o elemento básico dessa técnica. Mesmo apresentando,
é bem verdade, problemas de “distanciamento”, tem as vantagens de toda co
municação imediata que permite abrir sempre novas vias de informação. Tra
ta-se de uma técnica que prima absolutamente pelo qualitativo, o subjetivo,
com problemas de censura e auto-censura e oferece lambem a vantagem de
tpie a forma Ião peculiai de reunir a informação não impede que posterior
mente se possam aplicar a seu tratamento técnicas relinadas, como a da ana
lise de conteúdo, por exemplo. A ausência de uma padronização das enquetes
pode set outra das dilieuldades para objelivar a I IO. Isso se associa ao proble
ma do nivel de “represenlalividade" que o agrupamento de fontes orais pode
aportar ao estudo de um problema concreto. O número das entrevistas que
uma pesquisa necessita é uma questão metodológica importante.
39 Uma síntese atual de seus problemas cm PR INS, G, I listori» Oral. In: lUMiKt. P.
(F.d.). tonnas tiehaeer historia. Madrid: Ali.mza. 1991. p. I-M et seq. Essa contribui
ÇiH» Iião tala de outra coisa além do que assinalamos,.
•II) VOt DMAN, D. L'invention du témoignage oral. (J a r s rions. p. 77 cl seq. ( ) liistori.v
dor oral Icm de “inveiMar” a tonte.
-It THOMPSON, P. lu I"02 d e l pnstuto. Ilisio rio o ra l. Valencia: Allons el Magnanim,
1988. cap. h, 7, 8.
•12 POLI AK, M. Penn un inventaire. Lei C a h iers i le t ’I U T P , Paris, n. I: Questions à
l'Histoire Oral, p. 19, juin 1987.
534
I ilfittlth * 9
AMiiiíiri'M/iiiviy jv/ifufsii lii<uiri(ii
A técnica <la I IO tem convergido cada vez mais com a técnica mais li-
mitnda da chamada história tie vitlti - l ife History - que disciplinas vizinhas
praticam há muito tempo." A conexão ou diferença enlie uma e outra impõe
alguns problemas. Além disso, a analogia t|ue se quer ver, às vezes, entre “his
tória de vida” e uma “ história cotidiana” não parece correta. A história de vida
(I IV ) é. em linhas gerais, “a narração da vida de uma pessoa feita por ela mes
ma". Lm principio é, pois, uma fonte simples, bem delimitada, utilizável de di
ferentes maneiras. Defende-se, às vezes, que não é possível lazer uma boa I IC)
sem que haja um fundo de HV.,TOs problemas normais da validade epistemo-
lógica da fonte oral se complicam na I IV pela absoluta proximidade do pro
dutor com o compilador da lónte.
Poi isso, há fortes correntes propensas, por um lado, a integrar ao mé
todo o falo inevitável de que a subjetividade preside essa pesquisa, buscando
justamente essa subjetividade.1 A experiência do sujeito foi posta cm relação
com sua possível exploração psicanalíticn, com a exploração e interpretação
dos “silêncios” etc." E são propensos, por outro lado, a considerar que há um
conceito mais amplo da extroversão,tia subjetividade histórica do indivíduo
que é o de “documentos pessoais”, de forma que a pesquisa oral se completa
ria com o uso de outras fontes como cartas, diários, fotografias, etc.
536