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ANÁLISE DO PRIMEIRO MOVIMENTO DA SINFONIA Nº1 DE

BEETHOVEN
Henrique Ferreira de Castro Gil

1. OBJETIVO
O objetivo deste artigo é realizar a análise do Primeiro Movimento da Sinfonia
nº1 de Beethoven.

2. INTRODUÇÃO
Beethoven é considerado o gênio da transição do período Clássico para o
Romantismo. Contornou diversas atrocidades na vida pessoal, e ofereceu exemplos das
mais extraordinárias composições em Sonatas, Lieds, Minuetos e Rondós.

O Compositor possui três principais fases de composição. Segundo Fauconnier


(p. 4),

(...) o jovem compositor segue ainda as pegadas de Mozart e de Haydn,


alguns de seus mestres. Já o homem amadurecido está totalmente
noutra parte, impõe composições de uma ousasdia e de uma força que
às vezes chocarão seus contemporâneos e o afastarão do público,
embora sua popularidade permaneça intacta. (...)

A Sinfonia número 1 representa o início da revolução composicional de


Beethoven, unindo o período clássico ao romântico.

Segundo Brown (2010, p. 2),

(...) Esta Sinfonia proporciona o primeiro exemplo da revolução na


escrita orquestral de Beethoven em estilo, harmonia e estrutura, apesar
de ter uma característica influente de Franz Joseph Haydn e Wolfgang
Amadeus Mozart. Em função das particularidades da Sinfonia nº1, esta
tem sido alvo de diversas interpretações pelos grandes maestros do
século vinte, levando a inúmeras gravações e grandes tratados que
oferecem instruções para a sinfonia transformacional de Beethoven.

Desta forma, através da análise aprofundada desta obra, o maestro pode


construir uma interpretação única, rica e precisa para sua performance.

3. ANÁLISE

a. Estrutura de Frase
Segundo Ramires (2010, p. 104),
Uma frase musical pode ser entendida como um trecho de música, com
relativa autonomia e com ideias musicais suficientes para lhe garantir
uma independência. Todo final de frase é marcado por uma cadência.
Esta definição não é definitiva, nem tampouco única para o assunto.
Porém, a importância da cadência na determinação da frase é
indiscutível.

Ainda, segundo Schoenberg (1996, p. 28)

A menor unidade estrutural é a frase, uma espécie de molécula musical


constituída por algumas ocorrências musicais unificadas, dotada de uma
certa completude e bem adaptável à combinação com outras unidades
simiares. (grifo original)

As frases do primeiro movimento da primeira sinfonia de Beethoven são


regulares e balanceadas, tal como as composições daquele período, embora haja
algumas frases com comprimentos irregulares ao longo da obra. Nota-se grande
influência de Haydn e Mozart. Frases de “pergunta e resposta” podem ser claramente
observados neste primeiro movimento.

b. Desenvolvimento do Motivo
O Motivo desenvolve-se na forma Sonata, com exposição, desenvolvimento e
recapitulação.

Segundo Schoenberg (1996, p. 35)

O motivo geralmente aparece de uma maneira marcante e característica


ao início de uma peça. Os fatores constitutivos de um motivo são
intervalares e rítmicos, combinados de modo a produzir um contorno que
possui, normalmente, uma harmonia inerente. (...)
Um motivo aparece continuamente no curso de uma obra: ele é repetido.
(...)

c. Textura
A textura musical é polifônica, pois madeiras e metais movem-se independentes
das cordas.

d. Timbre
Neste movimento, Beethoven usou a orquestra de cordas mais quarteto de
madeiras (flauta, oboé, clarineta e fagote), dueto de metais (trompete e trompa) e
tímpano. A seção de madeiras move-se de forma independente e contrastante às
cordas, e os metais estão limitados à série harmônica.
e. Modulação
A Sinfonia 1 de Beethoven é Tonal, e não há progressões modais. O primeiro
movimento utiliza as tonalidades maiores C, F e G, e suas relativas menores Am, Dm e
Em.

f. Estrutura
A introdução desenvolve-se nos primeiros 12 compassos de forma inovadora: a
abertura é feita com o acorde C7 (Dominante) e resolvido em F (Subdominante), numa
cadência perfeita. Em seguida, há uma cadência interrompida de Am para G. A tensão
desta parte está nos trítonos, gerados durante a conexão entre os acordes até chegar
em G (Dominante). A tensão dos quatro primeiros compassos sugere que a melodia
esteja em G Maior, que se desenvolve do compasso 5 ao 11 numa cadência de terceira
para primeira inversão em G7. No entanto, essa tensão só será resolvida completamente
quando a melodia chegar em C Maior, após uma cadência perfeita do compasso 11 ao
13.

Heline (p. 5) relaciona a estrutura de 12 compassos da introdução, separadas


claramente em 3 seções, com a união dos quatro elementos da natureza:

As composições de Beethoven seguem modelos pré-concebidos. Este grande


músico não fez nada sem um objetivo claro. Assim, por exemplo, não se pode
considerar como acidental que a introdução da Primeira Sinfonia seja formada
por doze compassos, cada um dos quais pode ser considerado como abrindo a
porta a cada um dos doze signos zodiacais, cujas forças desempenham seu
papel na música verdadeiramente cósmica em sua expansão e natureza. Os
doze compassos estão divididos em três grupos de quatro, cada grupo dos quais
anuncia a melodia que se seguirá. Os quatro formam uma amalgamação das
forças que fluem através dos quatro elementos da natureza: Fogo, Ar, Terra e
Água.
A Exposição do tema é feita do compasso 13 ao 109. Dos compassos 13 ao 18
é realizada a primeira exposição em C, aparecendo o primeiro contraste rítmico entre
cordas e sopros. Depois é desenvolvido em Dm pelos compassos 19 a 33, finalizado
com uma cadência perfeita em C. O segundo tema é exposto do compasso 34 ao 51, e
os sopros passam a dialogar com as cordas, complementando a melodia. Do compasso
52 a 88, o segundo tema aparece com algumas variações rítmicas sincopadas e a
melodia aparece com ênfase nas madeiras. Finalmente, a partir do compasso 88, o
primeiro tema volta exposto com G7 (dominante) até A/C. O esperado dessa resolução
seria C. Neste trecho, observa-se uma pequena Coda ou Codetta.

O Desenvolvimento é feito nos compassos 110 a 177. O início desta seção, até
o compasso 136, progride dentro do ciclo das quintas, com a mistura do primeiro com o
segundo tema, desta forma: A > D > G > Cm > Fm > Bb > Eb > Ebm > Bb (dominante).
Depois, até o compasso 160, o diálogo entre cordas e sopros continua com o
contraponto nas colcheias, começando em Eb > Fm > Gm > Dm > Am > E (dominante).
Finalmente, a última seção do Desenvolvimento retoma a exposição do segundo tema
em E, seguindo com F > Dm > G > C. A tonalidade de C é exposta, portanto, com uma
cadência autêntica neste trecho.

Segundo Brown (2010, apud Deane, 1971, p. 11), “Essa ênfase harmônica de A menor
trazendo a jornada harmônica para C maior, é um recurso usado frequentemente por
Haydn”.

Ramires, M. Exercícios de teoria musical: uma abordagem pratica Harmonia: Uma


Abordagem Prática - Vol. 1. São Paulo: 2010.

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