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ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL
14/4/2009

AGRAVO INOMINADO NA APELAÇÃO CÍVEL Nº 061020002178


AGVTES.: ARQUELINO ALTOÉ
SOLIMAR PEDRO ALTOÉ
AGVDO.: BANCO DO BRASIL S/A
RELATOR: O SR. DESEMBARGADOR CARLOS HENRIQUE RIOS DO AMA-
RAL

R E L A T Ó R I O

O SR. DESEMBARGADOR CARLOS HENRIQUE RIOS DO AMARAL


(RELATOR):-
Trata-se de Agravo Inominado interposto pelos
agravantes SOLIMAR PEDRO ALTOÉ e ARQUELINO ALTOÉ, incon-
formados com a decisão que negou seguimento a apelação cí-
vel interposta em face do agravado BANCO DO BRASIL S/A
(fls. 160-165), oportunidade em que houve a manutenção da
decisão proferida pelo MM. JUÍZO DE DIREITO DA COMARCA DE
VARGEM ALTA/ES que julgou procedentes em parte os pedidos
formulados na inicial (fls. 80-105).
Aduzem os recorrentes em suas razões os mesmos ar-
gumentos trazidos nas razões do apelo pugnando, notadamen-
te, a incidência da comissão de permanência (fls.
107-119). Ao final, requerem a reforma da decisão monocrá-
tica a fim de que este recurso seja conhecido e provido
(fls. 167-177).
Da decisão hostilizada extrai-se a seguinte emen-
ta:

“APELAÇÃO CÍVEL - CONSUMIDOR, CIVIL E PRO-


CESSUAL CIVIL - COBRANÇA - FIADOR - RENÚNCIA
A DIREITOS - IMPOSSIBILIDADE - COMISSÃO DE
PERMANÊNCIA - POSSIBILIDADE - ART. 557 DO
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL.
1. É insofismável que as questões de ordem
pública são conhecidas a qualquer tempo e
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grau de jurisdição. Nesse caminho mantém-se
a legitimidade passiva do fiador para figu-
rar no polo passivo da demanda, bem como a
nulidade da cláusula contratual que impôs ao
garantidor do contrato a renúncia aos bene-
fícios contidos nos arts. 1.491 e 1.503 do
CC/1916 porque nula de pleno direito. 2. In-
controversa que a relação existente entre as
partes é de consumo, por se tratar de pres-
tação de serviço realizada pelo banco dire-
tamente ao devedor principal. Dessa maneira,
é essencial que os índices dos reajustes
praticados pelas instituições financeiras
não onerem o contrato de modo a colocar o
consumidor em condição de desvantagem exces-
siva. 3. Não é nula a cláusula contratual,
em contratos bancários, que determina a co-
brança de comissão de permanência, desde que
não cumulada com juros remuneratórios, ju-
ros moratórios, correção monetária e/ou mul-
ta contratual. Precedentes das Cortes Supe-
riores. 4. ‘Não é potestativa a cláusula
contratual que prevê a comissão de permanên-
cia, calculada pela taxa média de mercado
apurada pelo Banco Central do Brasil, limi-
tada à taxa do contrato’ (Enunciado
294/STJ). 5. Apelação a que se nega provi-
mento, nos moldes preconizados no artigo 557
do CPC” (fl. 160).

Eis o que tenho a relatar. Em mesa para


julgamento, na forma do artigo 557, § 1º do CPC.

Vitória/ES, 13 de março de 2009.

*
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V O T O

O SR. DESEMBARGADOR CARLOS HENRIQUE RIOS DO AMARAL


(RELATOR):-
Conheço do recurso, porquanto adequado, tempestivo
(fl. 179) e preparado (fl. 178).
Não vejo motivos plausíveis para reconsiderar a
decisão proferida, tampouco a possibilidade de modificar o
convencimento quanto aos fatos analisados em data pretéri-
ta.
Vejamos os fundamentos do decisum agravado (fls.
160-165):

“[...] Quanto à devolutividade do apelo, é


insofismável que as questões de ordem públi-
ca, como por exemplo as condições da ação,
são matérias que podem ser conhecidas a
qualquer tempo e em qualquer grau de juris-
dição (CPC; art. 267, § 3º e art. 301, §
4º). Nesse caminho mantém-se a legitimidade
do fiador para figurar no polo passivo da
demanda pelos fundamentos apresentados na
sentença (fls. 84-87), bem como a nulidade
da cláusula contratual que impôs ao garanti-
dor do contrato a renúncia dos benefícios
contidos nos artigos 1.491 e 1.503 do Código
Civil/1916 porque nula de pleno direito.
Passo ao mérito recursal propriamente dito.
O Supremo Tribunal Federal entendeu, em Ação
Direta de Inconstitucionalidade (ADI
2591/DF), serem aplicáveis às instituições
financeiras as normas veiculadas pelo Código
de Defesa do Consumidor. Já o Superior Tri-
bunal de Justiça editou súmula nos seguintes
termos: ‘Súmula 297 - O Código de Defesa do
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Consumidor é aplicável às instituições fi-
nanceiras’.
É incontroversa que a relação existente en-
tre as partes é de consumo, por se tratar de
prestação de serviço realizada pelo banco
diretamente ao recorrente Solimar Pedro Al-
toé (e.g.; fls. 06-08). Dessa maneira, é es-
sencial que os índices dos reajustes prati-
cados pelas instituições financeiras não
onerem o contrato de modo a colocar o consu-
midor em condição de desvantagem excessiva,
comprometendo o equilíbrio da relação a pon-
to de, por exemplo, forçar a sua desistência
do contrato (CDC; art. 4º, III; art. 39, V e
art. 51, IV, X, XV e § 1º). Saliento que as
discussões envolvendo relação consumerista
podem ser conhecidas de ofício pelo julgador
por se tratar de questões que suscitam a or-
dem pública e o interesse social (CDC; art.
1º).
Porém, no contrato de adesão firmado pelas
partes, não há qualquer vício no negócio ju-
rídico. Isso porque, o contrato foi celebra-
do por pessoas capazes, o objeto é lícito,
possível, determinado e observou-se a forma
prescrita e não defesa em lei (CC/1916; art.
82). Ademais, como bem ressaltado pelo Juí-
zo a quo: ‘[...] a nulidade de determinada
cláusula contratual não significa negar efe-
tividade a toda convenção negocial. Em aten-
dimento ao princípio da conservação dos con-
tratos, declarando-se nula determinada cláu-
sula contratual, subsistem, se possível, as
demais, preservando-se o que foi avençado
entre as partes’ (fl. 89).
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Logo, os valores contratados na ‘confissão


de dívidas’ - principal - são devidos (fls.
06-08), cabendo então tecer comentários se
há abusividade na cobrança dos acessórios
(encargos financeiros), notadamente a comis-
são de permanência.
Não é nula a cláusula contratual, em emprés-
timo bancário, que determina a cobrança de
comissão de permanência em substituição aos
encargos contratuais, desde que não
cumulada, durante o período de sua incidên-
cia, com a correção monetária, nos termos da
Súmula 30 do STJ. Isso porque ‘a comissão
de permanência foi instituída quando inexis-
tia previsão legal de correção monetária.
Visava a compensar a desvalorização da moeda
e também remunerar o banco mutuante. Sobre-
vindo a Lei 6.899/81, a primeira função do
acessório em exame deixou de justificar-se,
não se podendo admitir que se cumulasse com
a correção monetária, então instituída’ (Ex-
trato do voto do Eminente Ministro Eduardo
Ribeiro, no REsp n. 4.443/SP).
Outrossim, não se acumulam, a comissão de
permanência, a correção monetária, a multa
contratual, os juros remuneratórios e os mo-
ratórios, porque ‘a comissão de permanência
possui natureza tríplice: a) funciona como
índice de remuneração do capital mutuado
(juros remuneratórios); b) atualiza o valor
da moeda (correção monetária); e c) compensa
o credor pelo inadimplemento contratual e o
remunera pelos encargos decorrentes da mora.
Desse modo, qualquer cumulação da comissão
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de permanência com os encargos previstos
pelo Código Civil, sejam estes moratórios ou
não, representa bis in idem, observada a na-
tureza jurídica dos institutos em questão’
(Extrato do voto da Eminente Ministra Nancy
Andrighi, no REsp n. 706.368/RS -
destacamos).
Eis a jurisprudência:

‘Direito econômico. Agravo no recurso espe-


cial. Ação revisional de contrato bancário.
Comissão de permanência. Cumulação com ou-
tros encargos moratórios. Impossibilidade. -
É admitida a incidência da comissão de per-
manência após o vencimento da dívida, desde
que não cumulada com juros remuneratórios,
juros moratórios, correção monetária e/ou
multa contratual. Agravo no recurso especial
não provido’ (STJ-2ª Seção, AgRg no REsp
706.368/RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, j.
27/04/2005, DJ 08/08/2005 - destacamos).

No mesmo sentido: AgRg-Ag 296.516/SP, Rel.


Min. Nancy Andrighi, DJ de 05.02.2001; REsp
176.833/MG, Rel. Min. Aldir Passarinho Ju-
nior, DJ 22.05.2000; REsp 248.691/SP, Rel.
Min. Aldir Passarinho Junior, DJ 11.09.2000;
REsp 174.181/MG, Rel. Min. Sálvio de Figuei-
redo Teixeira, DJ 15.03.99; Resp 200.252/SP,
Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, DJ 24.05.99;
REsp 263.567, Rel. Min. Ruy Rosado de
Aguiar, DJ 07.05.2001; e, REsp 387.805/RS,
Rel. Min. Nancy Andrighi, DJ 09.09.2002.
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No que concerne ao limite máximo à taxa de
comissão de permanência e sobre sua forma de
cobrança a Corte Superior determina que ‘é
aferida pelo Banco Central do Brasil com
base na taxa média de juros praticada no
mercado pelas instituições financeiras e
bancárias que atuam no Brasil, ou seja, ele
reflete a realidade desse mercado de acordo
com o seu conjunto, e não isoladamente, pelo
que não é o banco mutuante que a impõe’
(STJ-2ª Seção, REsp 374.356/RS, Rel. Min.
Antônio de Pádua Ribeiro, Relator para acor-
dão Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, j.
12/03/2003, DJ 19/05/2003; STJ-3ª Turma,
AgRg no AI 480.269/RS, Rel. Min. Antônio de
Pádua Ribeiro, j. 19/08/2003, DJ 15/09/2003
- destacamos).

Mencionados precedentes, dentre outros, re-


dundaram na edição da Súmula 294/STJ que tem
o seguinte enunciado: ‘Não é potestativa a
cláusula contratual que prevê a comissão de
permanência, calculada pela taxa média de
mercado apurada pelo Banco Central do
Brasil, limitada à taxa do contrato’.

Conforme o dispositivo da sentença, consta-


ta-se que os juros (moratórios e remunerató-
rios) foram afastados, assim como foram ‘ex-
cluídos os valores relativos à capitalização
de juros e abatido do valor cobrado os valo-
res efetivamente pagos pelo primeiro reque-
rido’ (fls. 104-105).
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Pelo exposto, na forma do artigo 557 do Có-
digo de Processo Civil, CONHEÇO e NEGO PRO-
VIMENTO MONOCRATICAMENTE ao apelo, mantendo
incólume a sentença proferida pelo magistra-
do Airton Soares de Oliveira”.

Assim, eminentes pares, em que pese a tese susten-


tada pelos recorrentes, não verifico, e não verifiquei,
razões para modificar a decisão proferida pelo juízo a
quo.
Por todo o exposto, pelos fundamentos acima ali-
nhavados, CONHEÇO do agravo inominado e NEGO-LHE PROVIMEN-
TO.
É como voto, Senhor Presidente.

V O T O S

O SR. DESEMBARGADOR FÁBIO CLEM DE OLIVEIRA:-


Acompanho o voto do Eminente Relator.

O SR. DESEMBARGADOR ANNIBAL DE REZENDE LIMA:-


Voto no mesmo sentido.

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D E C I S Ã O

Como consta da ata, a decisão foi a seguinte: à


unanimidade, conhecer e negar provimento ao recurso, nos
termos do voto do relator.

* *

kfm*

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