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lúcio costa
L
juscelino
sérgio buarque
Lúcio Costa,
Gregori Warchavchik
e Roberto Burle Marx:
C
18
síntese entre
arquitetura e natureza
tropical
ABILIO GUERRA
merecidas homenagens a um
carecia nas fontes verdadeiras, siderado, a partir dessa ótica, como a sín-
C
Costa é peça-chave. No nosso entendimen-
onde nos trouxe espécimes em to, o juízo proferido por Lúcio Costa – na
vagabundos, sem donos, dos assumindo proporções mitológicas, tal o 2 Otília Beatriz Fiori Arantes,
“Lúcio Costa e a Boa Causa
sucesso com que cada obra da Moderna da Arquitetura Moderna”, in
fundos de quintal” Otília Beatriz Fiori Arantes e
Paulo Eduardo Arantes, O Sen-
Arquitetura Brasileira, grandiosa ou não, tido da Formação. Três Estu-
(Mário Pedrosa) (1). dos sobre Antonio Candido,
reforçava a fábula de sua própria origem Gilda de Mello e Souza e Lú-
cio Costa, São Paulo, Paz e
miraculosa” (2). Terra, 1997, p. 126.
este motivo o interesse e os elogios da crí- maior controle dos elementos formais 14 Lúcio Costa, “Chômage 1932–
36”, in Lúcio Costa: Registro
tica estrangeira. modernos e utilizando pela primeira vez o de uma Vivência, op. cit., p.
Nas duas décadas que separam os pas- recuo do fechamento na planta inferior para 83.
sos iniciais da introdução da arquitetura a criação de uma varanda, fórmula repetida 15 Guilherme Wisnik faz interes-
sante ilação sobre a presença
moderna no Brasil e a instauração da visão com grande êxito no Park Hotel São Cle- das redes no Pavilhão Brasilei-
ro para a Trienal de Milão: “A
histórica de Lúcio Costa ocorreu o soter- mente vários anos depois. rede, no Brasil, é ao mesmo
ramento das intenções de “abrasileiramen- Roberto Burle Marx ensaia seus primei- tempo lugar de descanso e
reflexão. É também um objeto
to” defendidas por Gregori Warchavchik. ros passos profissionais justamente nesse artesanal dos mais finos, cuja
Mas, ao que tudo indica, tal formulação momento de incertezas e mudanças pelo tessitura denota um saber cons-
trutivo paciente e rigoroso.
original não passou desapercebida ao jo- qual passava Lúcio Costa, do qual, inevita- Suspensa pelo tensionamento
de cabos, ela parece revelar,
vem arquiteto Lúcio Costa. Recém-saído velmente, compartilhou. Convidado pelo como num ready-made às aves-
das hostes neocoloniais, não havia ainda próprio arquiteto carioca para ser profes- sas, a possibilidade de um lu-
gar artístico em que a
encontrado um caminho seguro a seguir sor da Escola Nacional de Belas Artes e gratuidade significa, ao mes-
mo tempo, empenho, e em que
dentro da cena moderna, e no qual vai dar para ser seu sócio em escritório no Rio de chômage quer dizer produção
os primeiros passos em 1934, com os cro- Janeiro, Gregori Warchavchik acaba exer- e criatividade” (Guilherme
Wisnik, Lúcio Costa. Entre o
quis e memorial para a Vila Monlevade. Os cendo sobre Lúcio Costa uma ascendência Empenho e a Reserva, São
projetos desses anos incertos, que Lúcio momentânea, mas significativa e certamen- Paulo, Cosac & Naify, cole-
ção Espaços da Arte Brasilei-
Costa chama significativamente de te menosprezada pelos críticos e historia- ra, 2001, p. 49).
mos um jardim, temos que começar por en- explanação de Mário Pedrosa, que dedicou 21 “Recordo um fato, quando eu
trabalhava no Parque del Este,
tender o ambiente, o meio ambiente. Se eu ao paisagista ao menos dois artigos. na Venezuela. Havia gente que
se aproximava para olhar, e
faço um jardim para o Amazonas, esse Num deles, chamado “Arquitetura Paisa- cujo único comentário era: Isso
mesmo jardim não pode servir para o Rio gística no Brasil” e publicado no Jornal do é puro mato!” (idem, ibidem).
de Janeiro ou São Paulo. Temos que com- Brasil em 9 de janeiro de 1958, Mário 22 Idem, ibidem, pp. 305-13.
preender que devemos utilizar plantas da Pedrosa lembra a péssima reputação da na- 23 Idem, ibidem, p. 308.
Praça Euclides
da Cunha,
Recife (PE).
Roberto Burle
Marx, 1935
Praça do
Museu de Arte
Moderna,
Aterro do
Flamengo, Rio
de Janeiro
(RJ). Roberto
Burle Marx,
década de 60