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Obras: Profissionais de Educação Infantil: gestão e formação. São Paulo: Ática, 2005;
História de professores. São Paulo: Ática, 1996; Por entre as pedras: arma e sonho na
escola. São Paulo: Ática, 1993; Com a pré-escola nas mãos: uma alternativa curricular
para a educação infantil. São Paulo: Ática, 1993.
Salto – Como a seu ver a questão da faixa etária das crianças, enfim, as
diferentes etapas do desenvolvimento infantil, devem estar presentes nos
cursos de formação de professores?
Sonia Kramer – Essa é uma grande discussão na área. Até mesmo quando a
gente discutia, na época da LDB, a Educação Infantil em creches e pré-
escolas, havia um grupo que preferia, inclusive, que essa denominação não
existisse. E a denominação que vigorou e que vigora até hoje, ela exatamente
faz essa distinção, creche – pensando criança de 0 a 3 e pré-escola –
pensando em instituições destinadas a crianças de 4 a 6. Na realidade, o que
você tem mais são turmas de Educação Infantil em escolas. O que é uma coisa
muito delicada, por quê? Por que a gente não trabalha com uma proposta que
vai dividir pela idade, e o que a gente entende que faz o eixo? Bom, eu vou
responder à segunda pergunta. O que faz o eixo é a questão da cultura e a
questão da linguagem. A gente não trabalha de forma dividida, porque a gente
tenta escapar de uma visão escolarizada da Educação Infantil. Quer dizer, todo
esse modelo (...) ele teve um problema com a visão escolarizada, inclusive
trabalho com a área de 1ª a 4ª, tenho um entendimento do papel fundamental
que você tem de Educação Infantil junto com Educação Fundamental, com
Ensino Fundamental. Mas a gente tem, na nossa escola, uma visão muito
fragmentada, e a própria psicologia, de tradição desenvolvimentista, que
sempre trabalhou com a idéia de: "com 1 ano de idade a criança será capaz de,
aos 2 anos a criança será capaz de...". E a pergunta que a gente pode se fazer
é de que criança a gente está falando, quando traça um perfil por idade. Se a
gente considera a diversidade de contextos culturais das nossas crianças, não
só regionais, não só culturais, e também de classe social, isso tudo combinado,
numa interessante combinação, o que a gente tem na realidade são
alternativas de crescimento, desenvolvimento e interação da criança muito
diferenciados. Claro que é diferente falar de um bebê de 6 meses e de uma
criança de 5 anos. Isso você tem toda razão.
O que a gente procura fazer é trabalhar, e aí eu não sei se me fiz entender
antes, no que a gente pode conhecer da criança, ou seja, o conhecimento que
nós temos da criança, aquilo que a gente pode aprender com as crianças nas
interações que ela vai estabelecendo com os seus pares, com os objetos, e
com os adultos. Nós não trabalhamos numa visão tão específica, embora a
gente tente considerar as especificidades de determinados grupos. Hoje, você
tem muitas creches e pré-escolas, inclusive, que trabalham com idade
compartilhada. Muito na perspectiva do Vygotsky, que é um psicólogo que já
morreu há muito tempo, mas é um psicólogo que tem fundamentado todo esse
campo do conhecimento da criança, de como é importante a interação de
crianças pequenas com crianças maiores, por tudo aquilo que é possível
aprender e se desenvolver a partir dessa troca. A gente tem uma visão de não
compartimentalizar por idades ou por turmas. Mas eu acho que é fundamental,
sim, eu queria aproveitar a deixa da sua pergunta, para dizer que, do meu
ponto de vista, a gente tem (...) não falando só do curso, falando da área da
Educação Infantil em geral, a gente tem uma necessidade de investimento
teórico e prático com o bebê, com as crianças pequenas. Não só porque essa é
uma área que ainda não está em expansão, enquanto a gente tem hoje,
felizmente, uma expansão no atendimento à criança pequena. No caso do Rio
de Janeiro, mais de 50% de todas as crianças de 4 a 6 anos já estão em pré-
escolas, ou em escolas de Educação Infantil, e você tem de 7 a 10%, ou seja,
centenas de milhares de crianças, que não são atendidas em creches. Falando
do município do Rio de Janeiro, mas a gente está falando na realidade do
contexto brasileiro. Então, o que é que falta? A gente tem pouco, tem tido
pouco investimento no trabalho com o bebê, e também, conseqüentemente,
essas duas coisas estão interligadas, um menor conhecimento teórico,
inclusive, do trabalho direto com bebês. Nós mesmos estamos começando,
temos um curso agora, que é um curso de extensão, ligado ao nosso, voltado
para os bebês. Então, eu podia dizer, eu mesmo estou contrariando a minha
própria resposta. Nós começamos, nesse semestre, um curso que está
acontecendo no centro da cidade, pensando só a creche e o trabalho com
bebês. Mas no curso, assim, no curso de especialização, a gente tem um
trabalho integrado para pensar a concepção e a implementação das
alternativas.
A gente estava comentando, exatamente, a preocupação do ponto de vista da
formação do professor, que ele esteja se qualificando para trabalhar com a
criança desde que ela nasce até 10 anos, digamos. E mais especificamente a
idade de 0 a 6, compreendida na Educação Infantil. Mas, ao mesmo tempo, eu
estava tentando destacar aí, a relevância com pesquisa ou com trabalho
prático, considerar as especificidades das crianças, especialmente dos bebês,
que é uma área em que a gente tem uma lacuna muito grande. Essa é uma
área que precisa de muito investimento, e que precisa de muito estudo, de
muita preparação dos profissionais.
Salto – Então, a questão da formação continuada é um desafio para os
professores que trabalham com Educação Infantil?
Sonia Kramer – Eu acho que é uma pergunta fundamental, e eu vou responder
pensando a realidade do nosso trabalho, do nosso município, mas pensando
na realidade brasileira. Porque a gente tem especificidades. A gente tem, vou
começar pela realidade brasileira, a gente tem hoje, mais de 40 mil
professores, é o que se estima, que trabalham com Educação Infantil, que não
têm formação em nível médio, que não têm uma formação como professores,
então, conseqüentemente, no meu ponto de vista, eu acho que é fundamental
que esses professores tenham, pelo mesmo, acesso à formação em nível
médio. Então, acho que aí temos uma questão política, uma questão
contextual, porque, e eu faço essa defesa não só para os professores de
Educação Infantil, mas também para os de Ensino Fundamental, que eles
possam ter uma formação no ensino superior. Um curso superior, numa
universidade de preferência, essa é a minha defesa, para que possam ampliar
a base da sua formação, e porque, como eu disse, foi a primeira frase que eu
disse hoje aqui, porque eles têm direito. Não só para trabalharem melhor, mas
também para garantirem, isso que é direito de todo cidadão, inclusive dos
professores.
Agora, em contextos como o da cidade, onde você tem quase todos os
professores com o ensino superior, uma cidade como o Rio de Janeiro, a
grande maioria dos professores de Educação Infantil e de Ensino Fundamental
está na universidade, ou já passaram pela universidade. Esses dados existem,
estão disponíveis, nas capitais, então não é, não seria, no mínimo sensato,
você imaginar: por que não garantir aos profissionais também de Educação
Infantil, o acesso à universidade? Pela lei, o mínimo exigido é o Ensino Médio.
De direito, ao meu ver, eles deveriam ter acesso também à universidade, por
conta dessa formação prévia para o seu trabalho. Por outro lado, a gente tem,
com as mais diferentes denominações – você mencionou formação continuada,
antigamente se falava formação permanente, eu prefiro formação em serviço –
que são apenas maneiras diferentes de se referir a um profissional que está no
trabalho, que está atuando, mas que, tenha ele Ensino Médio ou nível superior,
ele necessita, para que vá aprimorando o seu trabalho, com os desafios que as
práticas sempre nos colocam, que ele vá desenvolvendo, que vá adquirindo
conhecimento, e que vá principalmente pensando a prática, pensando os
problemas concretos, que não são poucos. Educação Infantil lida não só com
questões teóricas, mas também com questões muito do cuidado, questões do
corpo, da sexualidade, das mordidas, das fraldas, questões inclusive da
relação com a família, com os pais. Então, há muitas questões que também
afetam os outros níveis de ensino, claro. Mas a formação continuada, ela é
uma necessidade, e ela é, hoje, uma estratégia que várias secretarias de
educação têm assumido, e que várias escolas, particulares ou que atuam como
organização não-governamental, também têm assumido o seu trabalho. Eu
acho que a formação continuada, ela é importante até para re-inserir o
professor nos conhecimentos que vão sendo descobertos, ou para garantir o
trabalho coletivo, a possibilidade das trocas entre os professores, a leitura
conjunta de textos, a discussão conjunta de problemas. Enfim, não sei se era
essa a intenção da pergunta, mas é, assim, elas têm especificidades. A
formação prévia, no Ensino Médio ou na universidade, tem especificidades.
Mas a formação continuada ela é, num país como o Brasil, uma necessidade.
Uma necessidade da própria prática.