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Vovó Maria Conga, uma das mais amadas e respeitadas Pretas Velhas
da Religião de Umbanda.
Quando sua mãe desencarnou, Maria Conga era apenas uma pequena
jovem ainda, e esse fato a deixou muito abalada a levando numa
tristeza profunda, pois ela acreditava que sem a presença da mãe sua
caminhada junto a caridade poderia terminar. Mas pelo contrário após
algum tempo de luto e de muitas palavras de amor e carinho de seu pai,
Maria Conga elevou ainda mais sua fé e se colocou a disposição de
Zambi (Deus), de Oxalá, de todos os Orixás e Entidade de Luz que ela
buscava com determinação na hora das benzeduras e das curas, mesmo
sendo ela uma jovem, uma jovem que mostrava que era pequena na idade
mas grandiosa na fé.
Quando Rei Congo decidiu lutar pela libertação de seu povo das
garras dos senhores de escravos e fugiu para tentar chegar ao Monte
dos Perdidos, ele para não fazer com que seus filhos amados sofressem
algum risco nessa fuga, que poderia ser uma fuga suicida, decidiu
se relocar antes, se firmar no local que ele considerava seguro para
após isso resgatar além de seus filhos consanguíneos, todos seus
irmãos negros.
Com isso a menina Maria fica só, sem a proteção de seu pai e o
carinho de sua mãe. Por noites a fio ela chorava, olhando as estrelas
e pedindo uma luz a Zambi, que ele mostrasse um caminho, uma trilha a
seguir.
Numa dessas noites, após a jovem fazer suas orações, ela ainda
com lágrimas nos olhos, vê uma imagem brilhante vinda do céu
estrelado, nessa imagem com um formato de uma mulher, mas um tanto
indefinida, ela escuta a voz de sua mãe. E a voz disse de um modo
gentil e amável as seguintes palavras:
"Filha amada, peço para você ter força, suportar o que vem pela
frente. Terá dias de dor e lágrimas,, terá uma grande vontade de
desistir, terá ódio em seu coração. Mas pediria que lembrasse de
minhas palavras, você tem que demonstrar nesse período a sua
verdadeira fé em Zambi, demonstrar que as lágrimas que ira perder não
a farão não enxergar que Zambi e grandioso, que a falta de esperança
não lhe levará a desistência de prosseguir clamando, que o ódio não
acabará com o amor e a caridade que deverá espalhar pelas terras
sangrentas. Minha doce filha, após essa demonstração de fé, sua
esperança poderá voltar a brilhar, pois seu amado pai voltará para
seu resgate. Confie sempre!""
Após ordenar aos feitores a levar Maria Conga ao tronco, ela foi
açoitada diversas vezes, na tentativa de que ela dissesse onde poderia
estar seu pai. Na falta de respostas foi determinado que ela ficaria
no tronco até Rei Congo entregar-se
Ele sabia que ao se entregar nas mãos dos feitores do seu antigo
Coronel, estaria também entregando todo aquele povo que já tinha
conseguido resgatar, inclusive seus outros filhos que já se
encontravam no Quilombo.
Tinha que buscar sua filha, mas de uma maneira que não arriscasse
todos os outros. E assim Rei Congo ficou refletindo como seria esse
feito.
E com isso ela sorriu, sabendo que não estava só. Seu rosto que
antes demonstrava dor e desespero, se transformara em uma face serena,
cheia de paz e esperanças.
O feitor que estava incumbido de açoitar Maria Conga nota o olhar
sereno que ela estaria, e isso lhe trouxe uma sensação de estar
errando ao obedecer as ordens de seu coronel. Contudo ele não poderia
arriscar a não fazer, pois dentro da fazenda a lei era se caso um dos
feitores poupassem algum negro escravizado dos castigos impostos pelo
senhor de escravos, o próprio feitor iria para o tronco junto de seus
familiares, no lugar do negro poupado.
Mas a cada vez que o feitor levantava seu braço para um novo
açoitamento a escrava, seu coração doía, e ele batia apenas levemente
sua chibata no corpo já machucado da negra.
"Meu filho, você só tem uma chance de salvar sua filha, e só tem uma
pessoa que pode fazer isso. Essa pessoa está morrendo presa ao tronco,
morrendo pelas chibatadas que você foi obrigado a dar nela. Sua filha
não tem muito tempo, leve Maria Conga até ela, pois ela vai saber o
que fazer para tirar a sua menina das mãos da fria morte."
O feitor sem pensar muito corre até o tronco, retira Maria Conga
das correntes, se joga a seus pés chorando e suplicando que ela
salvasse a vida de sua filha. E por entre lágrimas e pedidos de
perdão, ele ouve a voz dela pedindo que ele se levantasse e a levasse
até a menina. E assim foi feito.
Ao encontrar por Rei Congo, Maria Conga conta tudo que lhe
aconteceu. Diz sobre a ajuda do feitor que arriscando a vida e a
segurança de sua família, a ajudou na fuga, mesmo sabendo que ele
jamais poderia voltar a fazenda.
Carlos de Ogum