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CRISTINA SANTOS

Vida ecreta
das
ormigas
CRISTINA SANTOS

união entre as formigas na construção


de um formigueiro faz toda a diferença. A cada novo
alimento encontrado, esse achado é comunicado e
compartilhado entre as companheiras de ninho.
A cooperação entre elas é parte de sua sobrevivência.
Vamos visitar o Cerrado, a Caatinga, a Mata
Atlântica e a Amazônia para saber como as formigas
constroem seus ninhos e interagem com as plantas
desses magníficos biomas brasileiros. E descobrir
por que são consideradas as maiores plantadoras
de florestas do planeta.
VIDA SECRETA DAS FORMIGAS

LEANDRO LOPES
ILUSTRAÇÕES
A
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CRISTINA SANTOS

Vida ecreta
das
ormigas

LEANDRO LOPES
ILUSTRAÇÕES

1a edição
2010
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s formigas estão presentes em grande parte do planeta e em


praticamente todos os ecossistemas. Elas não conseguem sobreviver ape-
nas nas regiões polares. A evolução da vida em sociedade é uma das
prováveis explicações para a bem-sucedida ocupação das formigas nos
mais variados ambientes.
Além de estarem amplamente dispersas, elas compõem um grande
número de espécies. Já foram identificados mais de 12,5 mil diferentes
tipos de formigas. Mas é bastante provável que existam entre 15 mil e 20
mil espécies, muitas delas habitando as florestas tropicais.
Elas são habitantes da Terra muito mais antigos que nós, os humanos.
Seus fósseis já encontrados, todos conservados em âmbar endurecido,
permitem dizer que surgiram durante o Período Cretáceo. Elas viviam com
os dinossauros! Outra descoberta fascinante, e também muito recente, foi en-
contrar uma nova espécie de formiga na Amazônia brasileira, cuja
origem é de 100 milhões de anos. Essa notícia foi tão surpreendente, que os
pesquisadores lhe deram o nome científico de Martialis heureka, que, numa
brincadeira, significa: “achei a formiga vinda de Marte!”
Sempre em busca de alimento, as formigas passam grande parte do
tempo caminhando sobre o solo ou nas plantas. Certamente, as que mais
chamam a nossa atenção são aquelas que fazem longas filas carregando
pedaços recortados de folhas. Mas, nesse mundo minúsculo, existem
muitas surpresas. Um grande número de espécies de formigas se relaciona
com as plantas nas mais variadas formas de associações, resultando em
melhores chances de sobrevivência para ambos os organismos.
Os pesquisadores de formigas são chamados de mirmecólogos. Suas
pesquisas minuciosas e fascinantes descobertas foram fonte de inspiração
para que eu escrevesse este livro.
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Venha vi
comigo conhecer a

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um formigueiro, cada formiga tem uma tarefa. E são muitos os


afazeres. Vivendo em sociedade, as formigas cooperam na divisão do trabalho,
mantendo toda a colônia viva e organizada.
Dentro do ninho, a maior das formigas é a rainha, mãe de todas elas.
De seus ovos nascem muitas filhas operárias e poucos machos.

vida das formigas-cortadeiras é assim:


do lado de fora, as operárias procuram, cortam e coletam
pedaços de folhas e flores, levando-os para dentro do
ninho. Caminham por longas trilhas, subindo e descendo
dos troncos de árvores e arbustos.
No interior do ninho, outras operárias cortam em
pedaços ainda menores as folhas que vão chegando, co-
locando-as cuidadosamente sobre uma cultura de fungos.
São eles que vão alimentar toda a colônia. As formigas-
-cortadeiras são as únicas que coletam as folhas das plan-
tas para cultivar fungos dentro do formigueiro. Poderíamos
até chamá-las de formigas-agricultoras. Como nós, elas
se alimentam com o que produzem.
O ninho é formado por várias câmaras subterrâneas
interligadas por túneis. Dentro de cada uma, acontece
algo diferente. Numa mais aquecida, ficam os ovos. Em
outra câmara, ficam as larvas. Nesse local, elas se trans-
formam em pupas e de seu casulo sai uma nova formiga.
De tempos em tempos, as larvas são levadas até a cultura
de fungos, para que se alimentem deles. A rainha mora
numa câmara mais ao fundo, onde põe seus ovos.

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esse pequeno mundo, a liberação de odores é a principal forma


de comunicação entre as formigas. As mensagens enviadas pelos cheiros
auxiliam em sua organização e cooperação.
O trajeto que liga a planta até o ninho é feito de odores. Se a água
da chuva lavar o cheiro dessa trilha, elas esperam o solo secar e marcam
todo o percurso novamente. Sempre orientadas pelos odores, mesmo na
escuridão da noite, algumas espécies de formigas-cortadeiras saem do
ninho e coletam folhas.
Cada colônia de formigas possui um agrupamento único de odores,
que forma o odor da colônia. Impregnado sobre o corpo da formiga, o
cheiro característico da colônia revela para a operária quem são as irmãs
de um mesmo ninho. Já a rainha libera um odor que estimula as operárias
a cuidarem dela.
Quando um formigueiro é atacado por algum animal, ou piso-
teado, ou remexido, as formigas mais próximas abrem as mandíbulas e
liberam um cheiro, que se espalha rapidamente ao redor. Esse odor si-
naliza o alarme. Ele é tão eficiente, que em segundos todas as formigas
são alertadas. Em resposta, uma infinidade delas sai do ninho e se une
na defesa da colônia.

Formiga-de-rodeio
Acromyrmex striatus
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ara manter viva a cultura de fungos, as formigas precisam cortar


muitas folhas. No ambiente natural, como nas restingas da Ilha de Santa
Catarina, as formigas-de-rodeio podem coletar pedaços de folhas e flo-
res de mais de 50 tipos de plantas diferentes. E nenhuma planta fica com-
pletamente desfolhada. Mas, num ambiente modificado pelo homem, a
vegetação mais próxima do formigueiro pode ficar totalmente sem folhas,
como as verduras de uma horta.

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s chuvas de verão anunciam às fêmeas e aos machos alados


que chegou a hora de eles deixarem o ninho. É o momento da grande
revoada. Um grupo de larvas recebeu uma superalimentação que o
transformou em grandes fêmeas aladas. Outro grupo deu origem aos
machos alados.
Em pleno voo, as fêmeas e os machos de diferentes formigueiros
encontram-se e acasalam-se. São muitas formigas!
Em algumas regiões rurais e em comunidades indígenas da Ama-
zônia, a revoada das fêmeas de saúva é motivo de euforia. Conhecidas
como tanajura ou içá, elas são coletadas em abundância para serem tos-
tadas ou servirem de ingrediente em uma farofa. Os pássaros que comem
insetos também capturam muitas içás durante a revoada.
As poucas fêmeas que conseguem escapar voam até o chão para rea-
lizar a tarefa mais importante de suas vidas: cada uma irá dar início a uma
nova colônia. Primeiro, ela corta as asas, que não lhe serão mais úteis;
depois, com as pernas e a mandíbula, cava um túnel que termina numa
pequena câmara. Os primeiros ovos são colocados nesse novo ninho que
começa a se formar. Ao deixar o formigueiro em que nasceu, a fêmea leva
um pequeno pedaço de fungo, que será cultivado para alimentar as pri-
meiras larvas. E tudo recomeça...
E os machos alados? Chamados de bitus, eles são menores que as
içás, e morrem logo após a revoada.

Saúva
Atta sexdens

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