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4 Aplicações do Blockchain

Blockchain – disrupção de mercado? Aplicações com a tecnologia; ameaças da tecnologia!

novembro de 2017

A. ANGRISANO e R. KYRMSE

A
tecnologia blockchain ainda não está totalmente madura, e por isso seu potencial de disrupção

ainda não foi totalmente percebido pelas grandes corporações. Não só no campo financeiro, mas

também em outros a sua aplicabilidade é indiscutível, mas incerta. Os mais variados modelos de

negócio podem se beneficiar dessa técnica emergente.

A economia do compartilhamento apresenta, pela sua natureza, uma potencial sinergia com o blockchain.

Empresas de compartilhamento como Airbnb e Uber, por muito que sejam inovadoras, podem sofrer

disrupção pelo blockchain na medida em que sua atuação – como intermediárias entre fornecedores e

consumidores – poderá se tornar dispensável. Com efeito, elas intermediam entre os proprietários de

ativos (por exemplo imóveis ou automóveis) e as pessoas que desejam utilizá-los. Trabalham com a folga

de capacidade alheia e a vendem àqueles que precisam dos serviços (de hospedagem ou transporte).

Uma das características do blockchain é justamente a desintermediação e constituição de uma relação

P2P (peer-to-peer – parte a parte), com cooperação direta entre os interessados de um e outro lado.

Fornecedores e consumidores compartilham um livro-razão digital descentralizado, protegido contra

fraude e alteração. O Arcade – empresa de carona compartilhada P2P via aplicativo – pretende chegar ao
Brasil até o início de 2018.

O blockchain tem um componente de confiança baseado em protocolo de consenso criptografado, o que

faz com que os próprios criadores de valor controlem as associações e suas transações. As receitas são

alocadas aos próprios membros da associação e não desviadas para serviços administrativos, jurídicos,

de TI e outros.

Além de serviços, também commodities físicas podem ser transacionadas via blockchain. O setor de

energia elétrica, por exemplo, tem sido tradicionalmente operado por organizações centralizadoras com

potencial para controlarem toda a cadeia, desde a geração até a transmissão e distribuição. Dificilmente

surgem concorrentes significativos, dada sua alta intensidade de capital. Porém pequenos produtores,

que geram energia elétrica a partir de fontes como a solar e a eólica e são eles mesmos consumidores

(de parte) dessa energia, tornam-se agora capazes de competir com as grandes empresas. Assim, a

Powerledger australiana vai oferecer seu excesso de energia (gerada em painéis solares) via blockchain.
Também a Share&Charge, na Alemanha, trabalha com conexão direta entre fornecedor e usuário, em seu

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caso na recarga de veículos elétricos. No bairro do Brooklyn, em Nova York, a energia solar está sendo

compartilhada entre vizinhos, equilibrando produção e consumo, através do blockchain.

A energia elétrica é somente um dos inúmeros campos em que a nova tecnologia traz avanços e

vantagens. Podem ser citados também (e a lista não é exaustiva): cibersegurança; registros acadêmicos;

leasing de automóveis; registro de imóveis; programas de fidelização; rastreio de produtos na cadeia

logística.

Mas, como em toda mudança, incertezas são intrínsecas ao processo. Algumas questões se impõem a

organizações de qualquer setor para começarem a se beneficiar da tecnologia do blockchain:

 O blockchain é disruptivo para intermediários. A disrupção será tanto maior quanto maiores

forem o custo da transação e sua complexidade. Qual o potencial impacto dessa disrupção na

minha organização?

 Outras organizações poderão se aproveitar desse potencial. Quando e como reestruturar minhas

ações, para não sofrer os ônus da mudança do ecossistema em que minha organização se insere?

 Quais novos serviços e modelos de negócio devo embasar no blockchain?

 O desenvolvimento deverá ser solitário ou em colaboração com outras organizações? Com quem

e como investir?

Uma implementação solitária do blockchain dificilmente será compensadora; a natureza da tecnologia

beneficia mais a colaboração que a competição. Os setores que mais se beneficiarão são os de alto custo

de transação e baixa confiança entre players, como por exemplo o da saúde. A heterogeneidade entre

participantes de um consórcio de blockchain também dificultará o estabelecimento de uma estratégia

comum e, portanto, a implementação.

Resta saber se os blockchains abertos ou os consorciados terão maior chance de sobrevivência. Enquanto

aqueles têm a vantagem da escala, estes últimos dispensam funcionalidades como proof of work, o que

afeta positivamente seu desempenho.

Ainda não há paradigmas para o papel do governo na regulação da nova tecnologia. Os graus de abertura

e de agilidade são variados entre os governos usuários. A tendência à adoção é influenciada pela

facilidade de auditagem e pela potencial redução de corrupção e fraudes.

A verdade é que existirão ganhadores e perdedores, como costuma acontecer com todas as tecnologias

disruptivas. O blockchain poderá transformar a sociedade e as organizações. O potencial para isso existe,

mas terão de ser enfrentados diversos desafios nas áreas jurídica, financeira e social. Não há solução

padronizada, mas ignorar o fenômeno blockchain não vale a pena.

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A seguir, destacamos algumas aplicações com base na tecnologia blockchain extraídas de: The Economist

– https://execed.economist.com/blog/industry-trends/5-applications-blockchain-your-business

Contratos inteligentes

O Ethereum Project, lançado em 2013, consiste em uma

plataforma descentralizada que executa contratos inteligentes:

aplicativos que automatizam o elemento “se acontecer isto,

faça aquilo” dos contratos escritos, sem possibilidade de

interrupções, censura, fraude ou interferência de terceiros.

Como exemplo, a Slock.it, empresa de aluguel de

apartamentos, disponibiliza bicicletas aos usuários através de

um contrato inteligente de locação, uma vez que os termos

estejam acordados entre as partes. https://www.criptomoedasfacil.com/6-aplicacoes-praticas-do-blockchain-no-mundo-real/

Armazenagem em nuvem

Um exemplo paradigmático desta aplicação é a Storj.io, que oferece armazenamento sem a dependência

de uma infraestrutura central. Os usuários podem utilizar espaço em disco distribuído, e são creditados

quando seu próprio espaço é usado para salvar fragmentos de arquivos alheios. A sistemática lembra a

locação de imóveis ociosos pela Airbnb.

Estima-se que o negócio mundial de armazenagem em nuvem tem a dimensão de 22 bilhões de dólares

anuais, uma parte dos quais poderia reverter aos usuários individuais e às próprias organizações que

hoje guardam seus arquivos em nuvens convencionais.

Comunicações na cadeia de fornecimento e prova de origem

A maior parte dos produtos que compramos é feita não por uma única empresa, mas sim por uma cadeia

de fornecedores e clientes que acaba desembocando no montador e vendedor final. Se falhar um dos elos

dessa cadeia, é o detentor da marca que sofre as consequências. A tecnologia blockchain poderá

proporcionar registros digitais permanentes e auditáveis que demonstram o estado do produto a cada

etapa de acréscimo de valor.

A SkuChain.com, por exemplo, disponibiliza contratos criptográficos que controlam todo um ciclo de

compras, bem como sistemas de rastreamento de bens e de controle e financiamento de estoques.

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Pagamento de funcionários e contratados

Empresas que empregam funcionários em âmbito internacional podem beneficiar-se da inclusão de

bitcoins em seu processo de folha de pagamento. A transferência de fundos torna-se mais barata e

rápida para ambas as partes devido à eliminação dos intermediários. O livro-razão digital público das

transferências permite um controle preciso da situação de débitos e créditos a qualquer instante.

Também o pagamento remoto de contratados – indivíduos ou empresas – torna-se mais eficaz e

controlável, pelos mesmos motivos.

Votação eletrônica

O DPOS - Delegated Proof of Stake [Prova Delegada de Participação] é um modelo de consenso

descentralizado e flexível baseado em blockchain. Ele permite que votações sejam realizadas de forma

democrática, com transações confirmadas instantaneamente, produzindo um protocolo de consenso

inviolável, protegido contra interferências indesejáveis.

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