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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “Júlio Mesquita Filho”

FACULDADE DE CIÊNCIAS E LETRAS- ASSIS


LICENCIATURA EM HISTÓRIA

Najilah Marina Ramos Jacob RA 131. 243.977


Docente: Alonso Bezerra de Carvalho

ESTUDO DIRIGIDO II
DISCIPLINA: DIDÁTICA DE ENSINO

Assis
2018
Resposta Questões 1; 2. 7; 9 e 02:

O direito fundamental de privacidade e intimidade do empregado amparado


constitucionalmente (artigo 5o , inciso X, CF e arts. 20 e 21 do CC) representa um
espaço íntimo intransponível por intromissões de terceiros, principalmente do
empregador. A maioria dos doutrinadores utiliza as expressões “intimidade” e “vida
privada” de forma indistinta. Alguns autores procedem à diferenciação quanto a sua
amplitude, visto que a vida privada seria mais extensa do que a intimidade. Sandra Lia
Simon6 apresenta a diferença entre as expressões “intimidade” e “vida privada”: “Vida
privada seria tudo aquilo que o indivíduo quer ocultar do conhecimento público e
intimidade seria tudo aquilo que ele quer deixar apenas no seu próprio âmbito pessoal,
oculto, também de pessoas de seu convício mais próximo”. Desta forma, a intimidade
qualquer pessoa tem, em qualquer lugar onde se encontre, pois ela significa a esfera
mais íntima, mais subjetiva e mais profunda do ser humano, com as suas concepções
pessoais, seus gostos, seus problemas, seus desvios, etc... A privacidade é uma forma de
externar essa intimidade, que acontece em lugares onde a pessoa esteja ou se sinta
protegida da interferência de estranhos, como a casa onde mora.
O direito à privacidade constitui-se na escolha entre divulgar ou não o que é íntimo,
e, assim, construir a própria imagem. A privacidade é um direito natural. A intimidade
relaciona-se às relações subjetivas, de trato íntimo da pessoa, isto é, suas relações
familiares e de amizade, além de também se relacionar com as relações objetivas,
envolvendo as relações comerciais como, por exemplo, no trabalho. Por íntimo se deve
entender tudo o que é interior ou simplesmente pessoal (“somente seu”, como se
costuma dizer popularmente), e por privado, o caráter de não-acessibilidade às
particularidades contra a vontade do seu titular.
De qualquer forma, a Constituição Federal atual procurou preocupar-se com a
proteção ampla de ambos os direitos de forma indistinta: o direito a intimidade e à vida
privada. Além disso, deixou claro que quaisquer conflitos que surgirem na relação de
trabalho, referentes às violações dos direitos de personalidade dos empregados, tais
como o direito à intimidade e à sua vida privada, poderão ensejar reparações por dano
material, moral ou à imagem (art. 5º, incisos V e X, CF).
O grande problema é que não há uma linha exata e distinta que estabeleça onde
começa e termina o poder de subordinação do empregado e nem sempre é fácil
distinguir tal poder com as novas tecnologias de trabalho e os novos meios de
informação. Não há como negar que o avanço da tecnologia nas últimas décadas vem
fazendo grande revolução às relações e vínculos de trabalho. O conflito entre o direito
de propriedade e poder diretivo do empregador versus direito à privacidade e intimidade
do empregado é evidente. Como equilibrar ambos os direitos? Como estabelecer tais
limites, sem se fazer do local de trabalho um lugar opressor e pesado para o empregado?
A Ideologia são os ideais de um indivíduo para com a humanidade, sociedade em que
vive, para si mesmo. Ter uma, é completamente necessário, é como andar, comer, ir ao
banheiro. Um dos principais pensadores desse conceito foi Karl Marx. Acreditava,
juntamente com Friedrick Engels que devia se fazer uma análise profunda da sociedade,
em todos os pontos principais. Para isso foram feitas diversas observações na época da
Revolução Industrial. As principais características dessa revolução devem ser
destacadas como: Práxis, que exibe o conceito da teoria e prática andarem juntas, sem
maior ou menor, ou seja, para toda prática há uma teoria por trás; do trabalho que se
tornou algo remunerado, porém para os donos do capital, servimos apenas como
mercadorias, ou seja, nossos pensamentos, sentimentos, opiniões e expectativa de vida
não eram considerados, além da vida pessoal e do lazer não estarem presentes com
vigor, pois existiam promoções feitas por esses empregadores que manipulavam o
cotidiano de cada empregado, para incentivar a concorrência ao melhor cargo, melhor
salário, deixando assim a vida pessoal de cada um de lado. Para Marx esse poder de
dominação ficaram implícitos, mais sutis, porém ainda presente.

Também vale ressaltar que dentre as características da ideologia, temos a


universalização, onde o empregado adota a “verdade” do empregador como absoluta.
Como citado no parágrafo anterior, que dentro desse pensamento os trabalhadores são
vistos como “mercadoria” e como toda mercadoria possuem o valor da troca (trabalho-
salário-consumismo). Consumismo também pode ser exemplificado como ter o corpo
perfeito, ou o status bem desenvolvido, isso é uma ideologia imposta pela sociedade, ou
seja, quem está fora dos padrões não preenche os “requisitos” da sociedade “normal”.
Outra questão que atinge a escola diretamente dentro desses pensamentos é o
conflito de interesses de cada um, porém deve-se atentar para que não prevaleçam os
valores do grupo dominante. Isso também pode ser chamado de alienação. A alienação
acontece desde quando somos bem pequenos, alienados a viver uma cultura por status,
ou pelo acúmulo de capital que brasileiros conseguem vivendo em outro país. Por
exemplo a nossa cultura, assistimos que tipo de filme? Americano. Comemos que tipo
de comida? Fast-Food. Pensamos em moda, pensamos em quê? Modelos americanas
com um estereótipo muito afinado, entre outros. No pensamento de Marx “Os homens
não percebem-se como sujeitos e agentes, e se submetem às condições sociais, políticas,
culturais, como se não tivessem vida própria”. Alienados ao conceito, por exemplo, de
um político corrupto, que sabemos que não sairá do poder, pois somos enganados até
pela mídia, que passa só o que convém a eles e é claro a política. Esse político então, no
futuro receberá nossos votos novamente, e assim acontece a alienação intelectual.
Na escola não ocorre diferente, pois onde era para o professor ter a autonomia de
transmitir o conteúdo que melhor se adeque ao tema da aula, da maneira que acredita ser
mais adequado, algumas vezes isso não acontece, pois foi “alienado” a passar aquilo
que interessa a sociedade, e não a cada indivíduo. E como já foi citado anteriormente,
ocorre também dentro da sala de aula, a alienação por meio de conflitos de interesses,
onde se formam grupos que acreditam em uma determinada verdade (baseada também
nas condições financeiras e raça), e impõe o que deve se pensar a partir dai, tornando
tudo o que for fora desse pensamento, algo errado, algo ruim. Pode se dizer então, que o
capitalismo “usurpou” o reconhecimento de nós mesmos!
O conceito de ideologia possui muitas vertentes (CENTRE, 1980). Uma das maneiras
pela qual se pode conceber a ideologia é que ela seria um reflexo invertido, mutilado,
deformado do real, na medida em que significaria um conjunto abstrato de ideias,
representações e valores de determinada sociedade. No entanto, esta é uma concepção
abstrata, no sentido de que designa que todo e qualquer conjunto de ideias pretende
explicar fatos observáveis sem vincular essa explicação às condições sociais, históricas
e concretas em que tais fatos foram produzidos. Apesar da desvinculação, essas ideias
seriam transmitidas e absorvidas como se fossem reais (FRANCO, 2004).
Ao criticarem a ideologia alemã, Marx e Engels (2007) expressam de início a concepção
de ideologia como uma abstração deformada do real. À medida que desenvolvem suas
argumentações, a concepção de ideologia passa a ser definida como uma forma de
consciência social. De fato, para Mészáros (2004),

A ideologia não é ilusão nem superstição religiosa de indivíduos mal orientados, mas
uma forma específica de consciência social, materialmente ancorada e sustentada.
Como tal não pode ser superada nas sociedades de classe. Sua persistência se deve ao
fato de ela ser constituída objetivamente (e constantemente reconstituída) como
consciência prática inevitável das sociedades de classe, relacionada com a articulação de
conjuntos de valores e estratégias rivais que tentam controlar o metabolismo social
em todos os seus principais aspectos (MÉSZÁROS, 2004, p. 65).

Segundo Mészáros (2004), o conflito mais fundamental na arena social refere-se à


própria estrutura social que proporciona o quadro regulador das práticas produtivas e
distributivas de qualquer sociedade específica, cujo objetivo é manter ou, ao contrário,
negar o modo dominante de controle sobre o metabolismo social dentro dos limites das
relações de produção estabelecidas. Tal conflito encontra suas manifestações
necessárias nas “formas ideológicas (orientadas para a prática) em que os homens se
tornam conscientes desse conflito e o resolvem pela luta”. Ou seja, as diferentes formas
ideológicas de consciência social têm implicações práticas de longo alcance em todas as
suas variedades, independentemente de sua vinculação sociopolítica a posições
progressistas ou conservadoras (MÉSZÁROS, 2004, pp.65-66). Neste sentido, não se
pode reduzir o conceito de ideologia como simplesmente uma “falsa consciência”. O
que define a ideologia como ideologia não é seu suposto desafio à “razão” ou seu
afastamento das regras preconcebidas de um “discurso científico” imaginário, mas sim
sua situação real - materialmente fundamentada - em um determinado tipo de sociedade.
As funções complexas precisam focalizar a atenção nas exigências práticas vitais do
sistema de reprodução (MÉSZÁROS, 2004, pp. 472-473).

Nesta mesma linha de argumentação, Pagès et alii (1987) alertam que:


Quando se evoca a ideologia que uma instituição produz, geralmente se refere a um
sistema de representação do qual se servem os detentores do poder para mascarar e
ocultar a realidade. Ainda que a ideologia se ocupe de tais funções, esta leitura torna-se
muito simplista, tendo em vista que não explica o domínio profundo que uma
organização pode exercer sobre seus membros (PAGÈS et alii, 1987, p.74).

Para compreender tal fenômeno, Pagès et alii (1987) apontam a necessidade de


renunciar à visão ingênua da ideologia que corresponde apenas aos interesses das
classes dominantes, ou seja:
A ideologia predominante num grupo social ou em uma instituição constitui de
fato uma “bricolagem” de elementos disparatados resultante de influências
variadas, heranças de períodos diferentes. Uma classe, ainda que dominante, só
pode impor uma ideologia conforme seus interesses particulares na medida em
que consegue integrar as ideologias próprias daqueles que ela quer submeter.
Deve oferecer uma interpretação do real relativamente coerente com as práticas
sociais dos membros da instituição e fornecer-lhes uma concepção do mundo
conforme suas aspirações (PAGÈS et alii,1987, p.74).

Tomando como referência o discurso ideológico como veículo da manifestação expressa


do poder, seja para convencer, seja para impor ou para estabelecer acordos, tem sido
possível constatar que de uma forma especial os modelos e as formas de gestão
implantados pelas organizações incorporam um conjunto de conteúdos de ordem
prática, política e ideológica, historicamente relacionado com os interesses econômicos
do capital. Ou seja, é principalmente a existência de um sistema estruturado, de uma
filosofia global, de um conjunto de princípios nos quais os sujeitos podem acreditar, que
leva à adesão dos mesmos ao conjunto de valores da organização produtiva.
Sendo assim, uma análise crítica das entrevistas deve evidenciar se, na avaliação
dos gestores, a unidade industrial atua como uma organização apenas dirigida para gerir
racionalmente as suas atividades, segundo a lógica de acumulação inerente ao modo de
produção capitalista, a mesma suscitaria a admiração e a adesão maciça da maior parte
de seus trabalhadores e poderia submetê-los profundamente ao seu grandioso sonho de
ser a “preferida” por seu público de interesse. É justamente pelo fato de construir um
apelo ideológico amalgamado no imaginário heroico, ser motivo de orgulho e de
pertencimento, como também oferecer ao seu corpo técnico e gerencial, além das
condições materiais,satisfações de ordem psicossocial e elementos de vínculos sociais,
que os gestores se reconhecem na organização a ponto de se engajarem à mesma,
empregando toda sua energia física e emocional.
Em A Ideologia Alemã, Marx e Engels (2007) já apontavam a ligação entre
ideologia, alienação, mistificação e coisificação. Como interpreta Swingewood (1978. p.
76), uma “consciência social alienada é aquela que passou a ser dominada por um
mundo de coisas, no qual a realidade não é mais considerada como uma realidade
humana, mas uma ideologia de atributos humanos”. A ideologia, portanto, entre tantas
“funções”, como as de cooptação, engajamento, legitimação, interpretação, etc., também
está na base da alienação conduzindo os sujeitos à uma estrutura de crenças desfigurada,
alicerçada na transferência a outros sujeitos daquilo que lhe pertence.
O conceito de alienação, bem como de estranhamento, encontra-se primeiramente
exposto em Hegel (2008), mas é em Marx (2007; 2010) que o mesmo ganha
importância no estudo sobre o trabalho. É na relação entre o trabalhador e o produto do
seu trabalho e na relação entre o trabalhador e a atividade produtiva que este desenvolve
sob o modo capitalista de produção que se pode compreender tanto a alienação, em que
o trabalhador não se apropria do resultado de seu próprio trabalho (alienando-o ao
capital), como o estranhamento, em que o resultado de seu trabalho aparece como algo
externo ao trabalhador e não como parte de si, ou seja, sua atividade não lhe pertence, é
estranha a ele. Isso acontece, entre outras questões, porque a força de trabalho é vendida
como mercadoria.
Neste sentido, o trabalhador é estranho ao produto de seu trabalho na medida em
que aquilo que produz apresenta-se para ele como detentor de um poder independente,
pois quanto mais o trabalhador executa sua atividade, mais o mundo lhe parece
estranho, o que intervém em sua consciência e em sua vida emocional. A alienação se
dá em relação à sua atividade produtiva e ao que produz, pois o trabalho deixa de ser
uma atividade essencial para satisfazer suas necessidades de existência e se transforma
em um meio para satisfazer necessidades que lhes são estranhas.
Marx (2010) trata do trabalho estranhado a partir de quatro dimensões (formas): (i)
a relação entre o trabalho e o produto do trabalho: o objeto produzido se torna estranho
ao seu produtor, torna-se independente dele, ainda que seja sua atividade cristalizada. O
que o produtor produz não lhe pertence (MARX, 2010. p. 80); (ii) autoestranhamento: o
estranhamento “não se mostra somente no resultado (...), mas também, e rincipalmente,
no ato de produção, dentro da própria atividade produtiva” (MARX, 2010 . p. 83).
Sendo oproduto estranho ao trabalhador, isto significa que nem sua própria
atividade lhe pertence; (iii) negação genérica do homem: a vida produtiva é a vida
genérica do homem, é a vida que engendra sua vida, ou seja, é a relação do sujeito com
sua existência vital. Porém, “o trabalho estranhado inverte a relação a tal ponto que o
homem, precisamente porque é consciente, faz de sua atividade vital de sua essência,
apenas um meio para sua existência” (MARX, 2010. p. 85); (iv) Estranhamento do
outro: o homem somente se reconhece como tal defrontando-se com outro homem
(MARX, 2010. pp.85-86).
Para melhor compreender o conceito de alienação, que é o que interessa neste
estudo, convém destacar os conceitos de mediação de primeira e de segunda ordem,
conforme proposto por Marx (1983). A mediação de primeira ordem é a forma como o
homem se relaciona com a natureza e com o próprio homem, ou seja, é a forma que
permite ao homem compreender o mundo através de sua atividade produtiva. Na
mediação de primeira ordem o homem se relaciona diretamente com a natureza e com
os outros homens. No sistema de capital, contudo, estas relações homem-natureza e
homem-homem são mediadas pelo capital,
As mediações de segunda ordem constituem, portanto, a condição do processo de
alienação do trabalho. Entretanto, o conceito de alienação não é pacífico. Ao analisar as
diferentes formas de entendimento da alienação, conclui-se que além de sua
caracterização econômica que significa a transferência, pelo trabalhador, da propriedade
do fruto de seu trabalho ao capital, a mesma também se refere à forma de inserção dos
sujeitos no mundo e à concepção daí decorrente. O mundo é visto pelo sujeito alienado
não em um plano concreto, mas como uma fantasia que direciona a maneira de ser, de
pensar e de agir dos sujeitos. A realidade não é compreendida pelo sujeito alienado em
sua complexidade, em seus movimentos contraditórios, em seu dinamismo, mas é
naturalizada como sendo tal como parece ser, simplificada e destituída de sua história.
Neste sentido, o sujeito projeta a si mesmo como um ser de qualidades segundo
aquilo que dele se espera e passa a agir de acordo com estas qualidades. Com isto, o
sujeito aliena-se de sua própria existência real, doando sua vida a uma ideia dela, a um
tipo idealizado. Este tipo é referido pelo sujeito como sendo a configuração das
exigências da realidade, de onde advém a concepção fantasiosa do que deve ser o
“trabalhador ideal”, o “chefe competente”, o “gestor democrático”, a “equipe unida”, “o
trabalho eficaz”, a “qualidade reconhecida”, entre outras. Em síntese, há uma
elaboração maniqueísta do bom trabalhador (gerente, chefe) e do mau trabalhador
(gerente, chefe). O bom é o ser do elogio, da aceitação, da admiração, do sucesso. O
mau é o ser da crítica, da exclusão, do desprezo, do fracasso. Esta dicotomia que
sustenta a construção do tipo idealizado esconde o sujeito alienado de si, incapaz de
desenvolver uma consciência crítica da realidade e de seu lugar nela (FARIA, 2004).
Seguindo a mesma linha teórica, Antunes (1999), ao retratar as formas de alienação
nas empresas flexíveis, aponta que o estranhamento do trabalho encontra-se em sua
essência preservado. Isto porque a subjetividade que emerge na fábrica ou nas esferas
produtivas contemporâneas é expressão de uma existência inautêntica e estranhada, em
relação ao que se produz e para quem se produz (ANTUNES, 1999, p. 130). Isto
significa dizer que os benefícios aparentemente obtidos pelos trabalhadores no processo
de trabalho são largamente compensados pelo capital, uma vez que a necessidade de
pensar, agir e propor dos trabalhadores deve levar em conta prioritariamente os
objetivos intrínsecos da empresa, que aparecem muitas vezes escamoteados pela
necessidade de atender aos desejos do mercado consumidor (ANTUNES, 1999, pp.
130-131). Além deste aspecto, alguns estudos têm tratado dos chamados
infoproletários, trazendo à tona a discussão sobre a “associação oculta entre o uso de
novas tecnologias e a imposição de condições de trabalho” em uma área que simboliza a
chamada moderna economia, que é aquela que emprega exatamente tecnologias físicas
informacionais, seja na produção direta, seja nos processos de terceirização, tanto em
setores industriais quanto de serviços. Esta associação tem indicado uma “tendência
crescente de alienação do trabalho em escala global” (ANTUNES; BRAGA, 2000).
As investigações no campo empírico da organização produtiva devem permitir
indicar como se materializam as inúmeras práticas por ela disseminadas objetivando
estabelecer maior vínculo, envolvimento, adesão aos projetos e programas da empresa e
dedicação permanente dos trabalhadores na execução e planejamento de atividades.
Estudos realizados mediante a participação e discussões coletivas, oriundas de reuniões
de análises críticas, indicam que os gestores dedicam suas melhores ideias, iniciativa e
criatividade em prol do resultado organizacional. Existe, assim, tanto incentivo à criação
de comitês internos e grupos de trabalho, como também estímulo à qualificação e
desenvolvimento profissional, utilizando para isto o tempo livre do gestor (RAMOS,
2013).
Práticas como estas, já relatadas por Pagès et alii (1987, p. 75), implicam, em última
instância, em uma adesão ideológica, a um sistema de valores que galvaniza as energias
e incita as pessoas a se dedicarem de corpo e alma a seu trabalho. “Esta adesão é um
elemento fundamental para o poder da empresa e para seu sistema de dominação e
alienação dos indivíduos” (PAGÈS et alii, 1987, p. 75).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Assim, é possível verificar se, por detrás do sistema de crenças, valores, planos e
estratégias de atuação gerencial, existem mecanismos de controle e dominação que
orientam e condicionam a atuação e discurso gerencial para interesses do capital. O
indivíduo só pode aderir a um sistema de valor coerente com sua experiência própria se
este lhe permitir ao mesmo tempo torná-lo inteligível e valorizá-lo. Da perspectiva das
relações de poder, pretende-se verificar se o aparato organizacional da unidade
produtiva industrial (composto por novas e refinadas formas de gestão do processo
de trabalho) atua como instrumentos de poder e controle nas atividades laborais
fortalecendo, através de mecanismos sutis de sedução, as condições de engajamento
com a organização, potencializando (i) o controle da subjetividade e (ii) a manipulação
dos desejos e necessidades dos sujeitos trabalhadores. Em outras palavras, a partir desta
categoria pode-se verificar como e se o poder se consolida (i) através de regras,
dispositivos e técnicas consentidas mediante uma lógica racional e/ou (ii) através de
mecanismos de controle da subjetividade.
O estudo das relações de poder permite, assim, verificar se a eficácia dos sistemas
edas formas de gestão utilizadas para controlar (presentes nos discursos de gestão) (i)
dependem exclusivamente de imposição, obediência ou de formas autoritárias de sua
aplicação, ou (ii) se entra em contradição com o antigo sistema baseado na autoridade
pessoal do chefe, submetendo os indivíduos a uma lógica abstrata de lucro e expansão.
Em outros termos, o estudo das relações de poder devem permitir verificar se e como
trabalhar em uma organização industrial implica a obediência exclusiva às regras ou se
igualmente compreendea adesão a um sistem a de crenças, cultura e valores, a uma
filosofia de vida, a uma formação específica e diferenciada. Da perspectiva da
ideologia, deve ser possível constatar como os modelos e as formas de gestão
implantadas pela organização incorporam um conjunto de conteúdos de ordem prática,
historicamente relacionado com os interesses econômicos do capital. Em outras
palavras, esta categoria de análise permite verificar a existência de um sistema
estruturado, de uma filosofia global, de um conjunto de princípios nos quais os sujeitos
podem acreditar: construção de um apelo ideológico amalgamado no imaginário
heroico; motivo de orgulho e de pertencimento; além das condições materiais, oferta de
satisfações de ordem psicossocial e elementos de vínculos sociais; elementos de
reconhecimento com a organização a ponto de promover o engajamento à mesma com o
emprego de toda energia física e emocional disponível.
Da perspectiva da alienação pode-se verificar como a fantasia (o imaginário)
direciona a maneira de ser, de pensar e de agir dos sujeitos trabalhadores, tendo em vista
que a realidade passa a ser compreendida pelo sujeito alienado como sendo tal como
parece ser, simplificada e destituída de sua história, de forma que este sujeito projeta a
si mesmo como um ser de qualidades segundo aquilo que dele se espera e passa a agir
de acordo com estas qualidades, alienando-se de sua própria existência real, doando sua
vida a uma ideia dela, a um tipo idealizado: “trabalhador ideal”, “chefe competente”,
“gestor democrático”, “equipe unida”, “ trabalho eficaz”, “qualidade reconhecida”,
entre outras. O estudo sobre a alienação pode indicar a existência de uma elaboração
maniqueísta do bom (ser do elogio, da aceitação, da admiração, do sucesso) e do mau
(ser da crítica, da exclusão, do desprezo, do fracasso) trabalhador. Além deste aspecto,
pode-se também analisar a associação entre o uso de novas tecnologias e a imposição de
condições de trabalho. O estudo da alienação no trabalho deve permitir verificar como
se materializam as inúmeras práticas organizacionais com o objetivo de estabelecer
maior vínculo, envolvimento, adesão aos projetos e programas e dedicação permanente
dos trabalhadores na execução e planejamento de atividades. Assim, será possível
verificar se, por detrás do sistema de crenças, valores, planos e estratégias de atuação
gerencial, existem mecanismos de controle e dominação que orientam e condicionam a
atuação e discurso gerencial para interesses do capital, canalizando a pulsão e energia
do sujeito trabalhador por meio do engajamento, da persuasão e do convencimento de
que suas atividades são fundamentais para o sucesso e alcance dos seus resultados.
Objetivamente, o estudo da alienação permite analisar (i) a manutenção da forma
assalariada de trabalho como mecanismo de “liberdade”, (ii) a introdução de vantagens,
prêmios, benefícios e outros aliciantes, (iii) a participação direta nos resultados
relacionados à intensificação do trabalho, (iv) a valorização dos resultados da produção
em detrimento das condições de trabalho, (v) a utilização de programas de premiação
por produtividade, (vi) a destituição material dos resultados individuais de produção,
(vii) a apropriação cada vez mais significativa de resultados pela empresa e (viii) a
criação de incentivo ao melhor desempenho (eficiência, eficácia, produtividade) devido
a ameaças reais (flexibilidade da jornada, terceirização, subcontratação).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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LEAL, Anne Pinheiro. Universidades corporativas e controle social: as faces da


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