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Oeiras do Pará-Pará
2018
SUSI DOS REIS SANTANA
Oeiras do Pará-Pará
2018
SUSI DOS REIS SANTANA
BANCA EXAMINADORA
________________________________________
Prof. Me. Mário Júnior de Carvalho Arnaud
Campus de Cametá – UFPA
Orientador
________________________________________
Prof. Dr. Marcel Ribeiro Padinha
Campus de Cametá – UFPA
Membro avaliador Interno
________________________________________
Prof. Dr. Rosivanderson Baía Corrêa
Campus de Cametá – UFPA
Membro avaliador Interno
________________________________________
Prof. Dr. Adalberto Portilho Costa
Campus de Cametá – FAED/UFPA
Membro avaliador externo
- 1 CORÍNTIOS 13
DEDICATÓRIA
Em nossas vidas para chegarmos aos nossos objetivos, percorremos uma longa
caminhada cheia de momentos bons e outros nem tanto. Durante essa caminhada contamos
com a ajuda e o apoio de muitas pessoas, que contribuem de diferentes maneiras para que
tenhamos êxito naquilo que fazemos. Em minha jornada tenho encontrado diversas pessoas
que têm me marcado, sendo verdadeiras bênçãos em minha vida.
Sendo assim, agradeço em primeiro lugar ao bondoso Deus pelo dom da vida, pela
capacidade de superar meus limites e me erguer diante de situações que tendem a me colocar
para baixo.
Aos meus pais, Manoel da Vera Cruz e Esmerinda Garcia, pela família que tenho,
pelos bons ensinamentos e cultivo de valores éticos e morais que procuro levar sempre
comigo em minha vida pessoal e em sociedade.
Aos meus irmãos Sidervan, Siderivan e Sivan, que de certa forma, os três, foram
meus alfabetizadores particulares, antes mesmo que eu frequentasse a escola. Ao meu irmão
caçula, silvano, é a criança grande da casa, ser humano de coração puro.
Às minhas primeiras professoras alfabetizadoras da escola Magalhães Barata, que
enfrentavam com muita coragem os desafios de uma escola rural e multiseriada, me
conduzindo a descobrir o mundo mágico das letras e dos sons que elas formavam.
Às amigas Sámas, Sandra, Alessandra, Josélle, Mara, são pessoas que guardam em
meu coração, até hoje me recordo dos nossos passeios à tarde, depois da aula, no Cais da
cidade, tudo era motivo de risos, tempos bons que não voltam mais.
À minha amiga irmã Cris Barbosa e à minha prima irmã Célia Tavares, pelo apoio
incondicional, quando de forma prematura, em 2010, perdi meu irmão Sivan, meu
companheiro de planos e de todas as horas. Com essa perda cheguei ao fim do poço, mas
encontrei apoio nos amigos para continuar a caminhada.
Aos amigos Saulo e Elisângela Araújo, pessoas de palavras sábias e confortantes.
Aos professores da FAGEO e demais professores que colaboraram com minha
aprendizagem no período que fiz parte da Geo/2014: José Carlos Cordovil, Marcel Padinha,
Mário Arnaud, Rosivanderson Baía, Weliton Correa, Paulo Melo, Enivaldo Monteiro, José
Domingos, Paulo Melo, Michel Guedes e Edir Augusto. Muito obrigada professores.
À professora Domingas Monteiro, coordenadora do Polo de Oeiras do Pará. Aos
colegas de curso Nilda Cavalcante, Enoque e Juracy pela amizade que construímos.
A escola São Francisco Xavier e a todos os colegas de trabalho, em especial à
Marcilene Veiga, que foi mais que uma ajudante, foi meu braço direito quando precisei me
ausentar da escola por várias vezes, por ocasião da atividade de estágio e produção do TCC.
Ao colega e estudante da Faculdade de Educação do Campo, Nonato Camarão.
Agradeço ao gestor da RESEX, ao Presidente da associação de moradores e aos
moradores da RESEX, pela disponibilidade e solicitude. Todos foram peças essenciais à
construção deste trabalho.
Ao Professor Mário Arnaud pelas orientações para a construção deste trabalho.
Agradeço imensamente ao meu namorado Rollo Barbosa, pelo apoio incondicional
em todos os sentidos.
E, por fim, agradecer aos meus pequenos sobrinhos Lucas e Emanoel pela alegria,
pelo sorriso no rosto e até pelas traquinagens.
Muito, muito obrigada a todos.
Resumo
O presente trabalho tratou sobre os movimentos sociais e as territorialidades construídas a
partir da criação da RESEX Arióca Pruanã, em Oeiras do Pará. Em meados dos anos de 1999
o mencionado município sofreu profundos impactos ambientais e sociais produzidos pela ação
de grandes madeireiras. Com base nisso, objetivou-se conhecer e refletir acerca da
contribuição dos movimentos sociais no processo de mobilização e criação da citada RESEX,
assim como, conhecer as territorialidades a partir dessa produção territorial, no município de
Oeiras do Pará, que muitas vezes se inscrevem no campo da conflitualidade. A pesquisa
adotou uma abordagem qualitativa, com estudos exploratórios envolvendo levantamentos
bibliográficos, análise de documentos sobre a RESEX e entrevistas. As entrevistas com os
atores sociais aconteceram em duas etapas, nos meses de abril e junho de 2018, junto ao
gestor da UC, ao presidente da associação de moradores, ao Pároco da igreja Católica, na
época da criação da RESEX, e mais junto a quatro famílias da comunidade Terra Alta, na
RESEX Arióca Pruanã. As entrevistas para o levantamento e coleta de dados aconteceram
com o auxílio de um roteiro com questões norteadoras, semiestruturadas. Com o trabalho
observou-se as diversas relações de poder entre os atores sociais que constroem o território da
RESEX Arióca Pruanã, as estratégias de reprodução social, a possibilidade de geração de
renda pelos moradores, as problemáticas que afetam a vida dos pertencentes e que contribuem
para a existência de conflitualidades dentro da área. Por fim, conclui-se que a mobilização
social, inicialmente, acampada pelos moradores das próprias comunidades, mais a ação de
diversas instituições e do Estado, foi fundamental para o processo de luta e criação da
RESEX, e que esta ainda necessita superar muitas situações no âmbito da gestão e
organização, para que possa, verdadeiramente, se consolidar na vida dos moradores
pertencentes ao seu território.
Key-words: Territory, Social movements, Conflict, Terra Alta Community, Oeiras do Pará,
RESEX Arióca Pruanã.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
ASS Associação
ART Artigo
CD Conselho Deliberativo
PRES Presidente
RL Reserva Legal
UC Unidade de Conservação
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 14
2. Capítulo 1. A RESERVA EXTRATIVISTA COMO EXPRESSÃO
TERRITORIAL NA AMAZÔNIA PARAENSE ................................................................. 22
1.1 As reservas extrativistas no Pará na perspectiva do território ............................................ 22
3. Capítulo 2. MOVIMENTOS SOCIAIS E A CRIAÇÃO DA RESEX ARIÓCA
PRUANÃ EM OEIRAS DO PARÁ ...................................................................................... 34
2.1 A origem da RESEX Arióca Pruanã: Movimentos sociais e territorialização em Oeiras do
Pará ........................................................................................................................................... 34
2.2 Organização e funcionalidade da RESEX Arióca Pruanã: Aspectos ambientais e
administrativos na comunidade Terra Alta ............................................................................... 45
4. Capítulo 3. A COMUNIDADE E SUAS TERRITORIALIDADES NA RESEX
ARIÓCA PRUANÃ EM OEIRAS DO PARÁ ..................................................................... 60
3.1 Caracterização rural e situação fundiária, conflitualidades e territorialidades na
comunidade Terra Alta – RESEX Arióca Pruanã .................................................................... 60
3.1.1 Caracterização rural e situação fundiária ..................................................................................... 60
3.1.2 As territorialidades e conflitualidades na comunidade Terra Alta dentro da RESEX Arióca
Pruanã.................................................................................................................................................... 70
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 79
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 82
APÊNDICE ............................................................................................................................. 85
ANEXO .................................................................................................................................... 90
14
1. INTRODUÇÃO
Da união entre esses diversos atores passou-se ter uma maior mobilização social e
articulação política, no âmbito municipal e fora dele, no sentido de buscar soluções para as
questões ambientais que Oeiras do Pará estava vivenciando, bem como, dar respostas aos
anseios das comunidades que de diversas maneiras estavam sendo estranguladas pelas
empresas madeireiras.
Diante de tal cenário o presente trabalho tem como objeto entender: Qual a
contribuição dos Movimentos Sociais no processo de criação da Reserva Extrativista Arióca
Pruanã, em Oeiras do Pará?
Partindo da premissa que os movimentos sociais contribuíram para a constituição da
Reserva Extrativista Arióca Pruanã, no município de Oeiras do Pará, juntamente com
entidades governamentais e não governamentais, e ainda considerando que tem-se
apresentado potenciais conflitos socioambientais na área da Reserva, foi necessário entender
tais processos.
Foi necessário ainda conhecer que impactos socioespaciais esta RESEX tem
implicado para o espaço municipal, assim como o papel que os movimentos sociais têm
desempenhado diante de tais situações, enquanto agentes que contribuíram para a implantação
da mesma.
O mérito da construção do trabalho foi no sentido de favorecer o conhecimento sobre
como esses movimentos se organizam e atuam na área da RESEX Arióca Pruanã,
possibilitando uma maior compreensão quanto a articulação política e social que eles
possuem, quando necessitam defender o seu território e reivindicar direitos.
Ao final, foi possível conhecer as várias relações que constroem o território da
RESEX Arióca Pruanã e as relações construídas a partir dessa produção territorial.
Conheceram-se ainda as estratégias que os diversos atores têm projetado nesse espaço, seja
para defender seus interesses ou acessar as condições necessárias à sua sobrevivência.
Para a construção deste trabalho foi necessário o cumprimento de alguns
procedimentos metodológicos dentro de uma pesquisa de abordagem qualitativa. Para Minayo
(2009, p. 21), “a pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares, com um nível de
realidade que não pode ou não deveria ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo
dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes”.
Constituiu-se numa pesquisa que envolveu estudos exploratórios. Segundo Gil (2008,
p. 27), “as pesquisas exploratórias têm como principal finalidade desenvolver, esclarecer e
modificar conceitos e idéias, tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou
hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores”. Nesse sentido, buscou-se desenvolver o
16
sempre única, os fenômenos e aspectos que nela se apresentam, podem até se assemelhar aos
de outra(s) comunidade(s), mas nunca serão os mesmos, no sentido da maneira como
acontecem e influenciam a vida dos seus moradores.
Sendo assim, o curto tempo em que a pesquisa foi realizada, não implicou em
prejuízos ao trabalho, pois, também segundo Gil (2008, p. 58), “a experiência acumulada nas
últimas décadas mostra que é possível realização de estudos de caso em períodos mais curtos
e com resultados passíveis de confirmação por outros estudos”.
O critério de escolha da Comunidade Terra Alta para o levantamento de dados,
considerou a importância que tal comunidade teve no processo de mobilização para a criação
da RESEX Arióca Pruanã, e ainda por nessa comunidade se apresentar conflitos quanto à
exploração ilegal de recursos madeireiros, a caça e pesca predatória.
A pesquisa na comunidade aconteceu no mês de junho de 2018, atendendo ao
período constante na autorização concedida pelo Sisbio para a realização de atividades com
finalidade científica, envolvendo pesquisa de campo e registros fotográficos, dentro da
RESEX Arióca Pruanã. A pesquisa na comunidade Terra Alta foi realizada junto a quatro
famílias, mediante a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido, além da
apresentação da autorização, acima citada.
Os moradores da Comunidade são representados no texto por letras do alfabeto, em
maiúscula, como forma de resguardar suas identidades e o sigilo das informações prestadas e
usadas nas discussões no decorrer do trabalho.
Além dos quatro moradores da RESEX, a pesquisa contemplou mais três atores
sociais, sendo o gestor da RESEX, o presidente da Associação de Moradores e o Pároco da
igreja Católica, na época, envolvido no processo de criação da UC. As pesquisas com esses
três atores aconteceram no mês de abril/2018.
Para a coleta de dados junto aos atores sociais, a técnica utilizada foi a entrevista.
Acerca dessa técnica GIL (2008), relata que:
Pode-se definir a entrevista como a técnica em que o investigador se apresenta frente
ao investigado e lhe formula perguntas, com o objetivo de obtenção dos dados que
interessam à investigação. A entrevista é, portanto, uma forma de interação social.
Mais especificamente, é uma forma de diálogo assimétrico, em que uma das partes
busca coletar dados e a outra se apresenta como fonte de informação. (GIL, 2008, p.
109).
a face [...]. No entanto, nas últimas décadas vem sendo desenvolvida outra modalidade: a
entrevista por telefone”.
No presente trabalho devido a impossibilidade de contato face a face com dois atores
pesquisados, recorreu-se ao uso de instrumentos como o aparelho celular e o computador.
Referente ao gestor da RESEX, o primeiro contato se deu por ligação via celular, na qual
pôde-se combinar uma estratégia que consistiu no envio do roteiro de entrevista por e-mail,
obtendo-se as respostas também pelo mesmo meio de comunicação. No caso do Pároco da
Igreja Católica, o contato também só foi possível com o auxílio da tecnologia, as informações
por ele prestadas se deram via conversa por mensagem instantânea de texto, por celular, meio
pelo qual também autorizou o uso de suas declarações.
As entrevistas realizadas sejam face a face com os entrevistados ou com o auxílio da
tecnologia, almejaram fundamentalmente o levantamento de informações sobre as impressões
dos atores acerca do processo de criação da RESEX Arióca Pruanã, bem como, relacionadas
aos aspectos da gestão e organização e da própria vivência na área.
Selltiz et al (1967, p. 273 apud GIL, 2008, p. 109), afirma que “enquanto técnica de
coleta de dados, a entrevista é bastante adequada para a obtenção de informações acerca do
que as pessoas sabem, crêem, esperam, sentem ou desejam, pretendem fazer, fazem ou
fizeram, bem como acerca das suas explicações ou razões a respeito das coisas precedentes”.
O critério de escolha dos moradores seguiu a lógica da indicação espontânea, a partir
do contato com o primeiro morador, da fala deste foi possível coletar nomes de outros
personagens locais que podiam contribuir com a pesquisa e assim sucessivamente. Já a
escolha dos demais atores se deu em função dos papéis que desempenham frente à RESEX
Arióca Pruanã, e pela figura articuladora que assumiu na luta pela criação da Unidade.
As entrevistas foram efetuadas com o auxílio de um roteiro, com perguntas
semiestruturadas, assim, as questões norteadoras possibilitaram maior liberdade ao
entrevistado no ato de suas falas, como isso, foi possível obter impressões para além do que
inicialmente se almejou com alguns questionamentos.
Para Gil (2008, p. 111), a entrevista informal é do tipo “menos estruturada possível e
só se distingue da simples conversação porque tem como objetivo básico a coleta de dados”.
As entrevistas informais são realizadas “com informantes-chaves, que podem ser especialistas
no tema em estudo, líderes formais ou informais, personalidades destacadas etc.” (GIL, 2008,
p. 111).
Importante ressaltar que nos dois casos em que as entrevistas não foram realizadas
face a face, é possível que se tenha incorrido em limitações relatadas por Gil (2008, p. 114),
19
que se faz mediante sua ligação com os conhecimentos disponíveis, derivados principalmente
teorias” (GIL, 2008, p. 178).
Nessa perspectiva, os dados coletados e devidamente analisados foram interpretados
à luz de estudos de autores renomados na área das ciências sociais. O auxílio da pesquisa
documental com destaque para a Ata da Associação dos Moradores da RESEX, o Manifesto
Popular e o Acordo de Gestão da RESEX, foram fundamentais para dar materialidade e
consistência à interpretação dos dados e ao trabalho como um todo, visto que, tratam-se de
documentos que carregam em seu bojo a história da RESEX Arióca Pruanã e os registros da
luta acampada pela criação da mencionada Unidade de Conservação.
Importante ressaltar que durante a elaboração do trabalho a RESEX Arióca Pruanã
entrou em fase de transição e mudança de gestor da Unidade. Porém, como o processo estava
muito recente, as informações prestadas pelos moradores nos aspectos da organização e
gestão da UC, ainda foram referentes à gestão anterior.
Dito isso, o presente trabalho está estruturado em três capítulos. No primeiro capítulo
intitulado de “A Reserva Extrativista como Expressão Territorial na Amazônia Paraense”,
buscou-se estabelecer uma relação entre a criação de reservas extrativistas e a produção
territorial a partir destas, pensando que as ações dos diversos atores que constroem esses
territórios são sempre conduzidas e mediadas pelo exercício do poder.
No segundo capítulo denominado de “Movimentos Sociais e a Criação da RESEX
Arióca Pruanã em Oeiras do Pará”, faz-se uma discussão acerca da participação e luta desses
movimentos no processo de criação de espaços para se pensar ações que resultaram na criação
da Reserva Extrativista Arióca Pruanã, e consequentemente a superação das problemáticas
que afligiam o povo naquele momento, relacionadas às questões ambientais e sociais criadas
pelas empresas madeireiras que se instalaram na área rural de Oeiras do Pará.
E, por último, no terceiro capítulo intitulado de “A Comunidade e suas
Territorialidades na RESEX Arióca Pruanã em Oeiras do Pará”, realiza-se uma discussão
acerca das diversas questões ambientais e sociais produzidas e vivenciadas pelos atores que
constroem o território da RESEX, e as estratégias por eles criadas diante de tais realidades,
que muitas vezes se inscrevem no campo das conflitualidades.
Ao final, foi possível concluir que a mobilização social acampada pelos moradores
das comunidades hoje pertencentes à RESEX somada à ação de órgãos e instituições públicas
e mais às Igrejas (Católica e evangélica Assembleia de Deus) foi essencial para a criação da
Reserva Extrativista Arióca Pruanã, no município de Oeiras do Pará.
21
Criada a mencionada RESEX esta tem contribuído para a construção e/ou acentuação
de questões dentro da área, ligadas à gestão e ao uso dos recursos naturais e à produção de
conflitualidades entre os atores que a constituem. As conflitualidades que se apresentaram
foram condicionantes e condicionadas pelas diversas territorialidades existentes, e estas se
revelaram estratégias cotidianamente construídas pelos atores sociais frente às demandas que
vivenciam em seu dia a dia.
22
18/07/2000, que no Art. 14 trata exclusivamente sobre as categorias que formam o Grupo das
Unidades de Uso Sustentável, dentre elas as Reservas Extrativistas, as quais segundo o Art.
18, são áreas onde vivem populações extrativistas tradicionais, tem como objetivos dar
proteção ao modo de vida e a cultura destas populações e ao mesmo tempo promover a
utilização dos recursos naturais de maneira sustentável.
Dentre as Reservas Extrativistas existentes na Amazônia brasileira, 23 unidades,
incluindo as Reservas Extrativistas Marinhas, estão em territórios paraenses.
Figura 1- Quadro das Reserva Extrativistas Paraenses
Continua
Reservas Extrativistas Tipo Localização/
Paraenses Município (s)
Arióca Pruanã RESEX Oeiras do Pará
Chocoaré-Mato Grosso RESEX Santarém Novo
Ipaú-Anilzinho RESEX Baião
Gurupá Melgaço RESEX Gurupá e Melgaço
São João da Ponta RESEX São João da Ponta
Mapuá RESEX Breves
Maracanã RESEX Maracanã
Renascer RESEX Prainha
Rio Iriri RESEX Altamira
Rio Xingu RESEX Altamira
Riozinho do Anfrísio RESEX Altamira
Tapajós-Arapiuns RESEX Santarém e Aveiro
Terra Grande-Pracuúba RESEX Curralinho e São Sebastião da
Boa Vista
Verde Para Sempre RESEX Porto de Moz
Mocapajuba RESEX Marinha São Caetano de Odivelas
Mãe Grande de Curuçá RESEX Marinha Curuçá
25
Nesse sentido ao se criar uma reserva extrativista deve-se considerar a demanda pela
proteção dos recursos naturais, e ao mesmo tempo pensar a dinâmica de vida de centenas de
homens e mulheres e toda a relação anteriormente estabelecida com esses espaços de
vivências, pois embora a legalidade de uma RESEX são as múltiplas ações desses homens e
mulheres que darão materialidade e sentido à ela. Por consequência dessas relações entre
indivíduos com o meio natural e mais as ações do Estado, muitas vezes complexas para tais
indivíduos, pressupõe a produção e ao mesmo tempo a luta pelo território.
1
O quadro contendo a relação das Reservas Extrativistas Paraenses foi elaborado a partir do levantamento de
informações no site do Sisbio, por ocasião da elaboração do presente trabalho.
26
dada por relações muitas vezes complexas e que perpassam sempre por uma relação de poder,
luta e resistência.
Segundo Haesbaert (2007):
Enquanto continuum dentro de um processo de dominação e/ou apropriação, o
território e a territorialização devem ser trabalhados na multiplicidade de suas
manifestações – que é também e, sobretudo, multiplicidade de poderes, neles
incorporados através dos múltiplos sujeitos envolvidos (tanto no sentido de quem
sujeita quanto de quem é sujeitado, tanto no sentido das lutas hegemônicas quanto
das lutas de resistência – pois poder sem resistência, por mínima que seja, não
existe). (Haesbaert, 2007, p. 22)
Para Raffestin (1993, p.144), território está imbuído de aspectos do poder uma vez
que, “a produção, por causa de todas as relações que envolve, se inscreve num campo de
poder”. Ainda sobre o exercício do poder, fator decisivo nas relações construídas pelos seres
humanos, Raffestin (1993, p. 159) discorre que “o poder é inevitável [...] é impossível manter
uma relação que não seja marcada por ele”.
Essa é uma linha de raciocínio muito comungada, a produção territorial numa íntima
ligação com o poder, da vida humana em sociedade e com a natureza. Para Cruz (2011, p. 93),
“no conceito de território, o poder e a política estão no foco das linhas de luz e de enunciação
[...]”. Haesbaert (2009, p. 105), enfatiza que “ao território caberia [...], um foco centralizado
na espacialidade das relações de poder”.
Nas contribuições de Souza (2000), o território possui no poder sua definição e
delimitação:
Nos últimos tempos em toda a Amazônia brasileira tem-se observado uma grande
mobilização de vários atores sociais em prol da criação de Unidades de Conservação,
especialmente de Reservas Extrativistas, visando resolver questões ambientais, bem como,
acessar direitos.
[...] todo um aparato de novos atores sociais que passam a reivindicar seus direitos e
também começaram a se organizar para tal. Os povos da floresta são os primeiros a
iniciar reivindicações contra a forma de exploração dos recursos florestais,
reivindicando principalmente a criação de reservas extrativistas. (ARNAUD, 2010,
p. 37)
comunidade local, para muitos indivíduos que estão nessas áreas a criação desses espaços é
contraditória.
Quando os pertencentes não se sentem abraçados pelas políticas existentes dentro das
RESEX’s ou quando estas não se fazem presentes, a tendência é que se desencadeiem ou se
acentuem inúmeras problemáticas nessas áreas, dentre elas a continuidade da exploração de
madeira para a venda. Questão dessa natureza, sem dúvida, tem provocado muitos embates
entre morador/órgão gestor e morador/morador, já que o morador que não realiza esse tipo de
prática acaba por se tornar uma espécie de delator dos demais.
Assim, pelas múltiplas relações de poder que cotidianamente são construídas,
desconstruídas e reconstruídas por seus diversos atores, as RESEX’s têm se configurado um
produto das lutas sociais e ao mesmo tempo um meio pelo qual várias relações são criadas,
podendo estas ser de caráter amistoso e convergente ou conflitante e divergente, visto que são
construídas e influenciadas pela sociedade, tempo e espaço em que acontecem, numa
verdadeira construção histórica do território.
Saquet (2009) considera que a territorialização resulta e condiciona os processos
sociais e espaciais dentro das vivências históricas das sociedades.
A territorialização constitui e é substantivada, nesse sentido, por diferentes
temporalidades e territorialidades multidimensionais, plurais e estão em unidade. A
territorialização é resultado e condição dos processos sociais e espaciais, significa
movimento histórico e relacional. Sendo multidimensional, pode ser detalhada
através das desigualdades e das diferenças e, sendo unitária, através das identidades.
(SAQUET, 2009, p. 83).
2
A relação foi baseada em observações locais e em informações dos comunitários, sem nenhum rigor científico
(RELATÓRIO PARAMETRIZADO/MMA).
3
O Relatório Parametrizado sobre a RESEX Arióca Pruanã foi encontrado no endereço
<http://www.icmbio.gov.br/portal/unidadesdeconservacao/biomas-brasileiros/amazonia/unidades-de-
conservação-amazonia/2010-resex-arioca-pruana>, no campo Saiba Mais (CNUC - MMA). Acesso em: 25 mai.
2018. Infelizmente ao analisar tal documento, não foi possível encontrar a data de elaboração do mesmo, por isso
a ausência de período no texto.
37
Mas, percebendo que somente a mobilização local não seria suficiente para se ter um
resultado efetivo, e que era necessário ir além, resolveram ir à sede do município buscar ajuda
junto ao senhor Júnior Pantoja, devido sua habilidade na elaboração de expedientes.
Com o senhor Júnior Pantoja as reivindicações do grupo passaram a ter um caráter
mais formalizado. Inúmeras Cartas foram encaminhadas às autoridades locais e
posteriormente no âmbito estadual e federal, no sentido de buscar alternativas contra a ação
das madeireiras no município.
Esse grupo de pessoas ficou conhecido como a Comissão Contra a Grilagem de
terras em Oeiras do Pará- CCGO. Na percepção de Costa (2014, p. 147), “a Comissão Contra
a Grilagem em Oeiras do Pará vivenciou o desafio de agregar forças para articular um fórum
que envolvesse a participação tanto da comunidade, como de outras instituições”.
Mesmo com as mobilizações surgindo, ainda não se tinha nenhum impeditivo legal
capaz de frear as atividades das empresas. Assim, calcula-se que, semanalmente, cerca de 4 a
54 balsas carregadas com madeiras passavam em frente à sede do município, a qualquer hora
do dia.
Tanto em Porto de Moz como em Oeiras do Pará, a situação tornou-se insustentável
a partir do momento em que balsas passaram a transportar centenas de toras de
madeira durante períodos consecutivos, causando sentimento de impotência por
parte da população local, especialmente as populações que encampavam a luta pela
preservação da floresta. Esse movimento ininterrupto de balsas parecem mostrar, de
modo concreto, o problema socioambiental grave pelo qual estavam passando as
duas regiões. (COSTA, 2014, p. 40).
4
Quantidade estimada segundo informações dos moradores locais, sem nenhuma comprovação oficial.
5
Há relatos de moradores que entre esses indivíduos, estavam infiltrados inúmeros meliantes, dentre eles,
pistoleiros.
38
6
Atanagildo de Deus Matos, “Gatão”, é natural da Comunidade Cristã Castanheiro, hoje pertencente à RESEX
Arióca Pruanã.
7
Durante o desenvolvimento do presente trabalho, o documento estava de posse do presidente da associação dos
moradores da RESEX, que gentilmente o disponibilizou para análise.
8
Em um desses eventos um grupo de representantes de moradores acompanhado pelo Padre Manoel Crispim,
reuniu-se, em Belém do Pará, com o Procurador da República no Pará, na oportunidade foi exposta toda a tensão
que Oeiras do Pará estava vivenciando. Diante dos fatos o Procurador recomendou ao IBAMA a imediata
suspensão de todos os planos de manejo em Oeiras do Pará.
39
9
As famílias eram prioritariamente das comunidades Marambira e Pau-de-Rosa, localizadas às margens da BR
422, no município de Oeiras do Pará.
10
As famílias pertenciam, especificamente, às comunidades de Curral do Meio e Juaba, município de Cametá.
40
11
Além dos rios Oeiras, Arióca e Prunã, ainda existem dentro da RESEX o rio Branco e o rio Preto, nos quais
entre os meses de outubro e janeiro, a navegação só é possível à canoas movidas a remo, principalmente no rio
Branco, que sofre com as consequências danosas da ação de búfalos da fazenda Araras, confinante da
comunidade rio Branco, que estão destruindo suas nascentes, segundo informações dos moradores
(RELATÓRIO PARAMETRIZADO/MMA).
12
Com exceção do açaí (Euterpe oleracea), em áreas próximas à foz (RELATÓRIO
PARAMETRIZADO/MMA).
13
Gley húmicos e Gley pouco húmicos (RELATÓRIO PARAMETRIZADO/MMA).
14
Com vegetação arbórea de cobertura uniforme e arbórea emergente (RELATÓRIO
PARAMETRIZADO/MMA).
15
Açaí e Buruti (Mauritia flexuosa). (RELATÓRIO PARAMETRIZADO/MMA).
16
Como ucuúba (Virola surinamensis) e samaúma (Ceiba pentandra), entre outras (RELATÓRIO
PARAMETRIZADO/MMA).
43
17
Com destaque para o cultivo da mandioca para a produção da farinha.
18
Aves e suínos (Pesquisa de Campo).
44
Para Cruz (2006), nos últimos tempos as lutas acampadas pelos movimentos sociais
na Amazônia, têm o viés não apenas de superação de mazelas sociais, mas também de
reconhecimento das suas especificidades culturais e de afirmação da sua identidade territorial.
Esses movimentos sociais, emergentes hoje na Amazônia forjados pelos mais
diversos antagonismos têm como referencial e diferencial o fato de serem
movimentos pautados em não só contra a desigualdade, pela redistribuição de
recursos materiais como, por exemplo, a terra, crédito, estradas etc., mas também
são lutas simbólicas por um “novos magmas de significação” que permitam o
reconhecimento das diferenças culturais, dos diferentes modos de lutas e vidas que
expressam em suas diferentes territorialidades. Desse modo, a constituição desses
novos sujeitos se dá nas e pelas lutas de afirmação de suas identidades culturais e
políticas pautadas na territorialidade, logo, são lutas pela afirmação de suas
identidades territoriais. (Cruz, 2006, p. 81).
É pela busca de direitos, de viver com dignidade tendo acesso a terra e aos serviços
sociais e políticos, que os movimentos sociais tem- se articulado e organizado no campo
amazônico e paraense. O território é reivindicado como espaço de vivência, cenário de
construção e reprodução de ações e práticas sociais e espaciais, que muito dizem respeito
sobre como vive a comunidade, sua dinâmica cotidiana e seus costumes historicamente
construídos.
Essas novas formas de organização política implicam em novas táticas e estratégias
levando a uma ampliação das pautas reivindicatórias na luta por direitos que vão
dos direitos sociais básicos como saúde, educação, terra, crédito, bem como pelo
reconhecimento de direitos culturais, como o direito as formas diferenciais de
apropriação e uso da terra e dos recursos naturais, formas diferentes de cultos e
valorização e reconhecimento dos conhecimentos acumulados por tais populações
etc. (CRUZ, 2006, p. 79).
resistência com os quais possam enfrentar a realidade imposta, reivindicar melhorias sociais,
acesso a direitos constitucionais e a continuidade do seu estilo de vida, negligenciados pelo
grande capital e muitas vezes pelo próprio Estado.
A resistência dos Povos e Comunidades tradicionais se dá, portanto, na dialética
conflituosa marcada pela apropriação específica do território por estes grupos em
oposição à expropriação guiada pelo capital. Enquanto os primeiros primam pela
preservação dos recursos naturais através de uma profunda sinergia entre território e
subsistência, permeados pelas identidades peculiares, o capital trata de invisibilizar
estes grupos, esvaziando o território de suas significações (sociais, culturais,
ancestrais...) e visando somente o lucro que dele pode extrair, através da
monocultura, de megaprojetos de infra-estrutura ou exploração ilimitada dos
recursos naturais. (MONT; GÓMEZ, 2010, p. 5).
Nos meses seguintes à criação da RESEX Arióca Pruanã, foi realizada uma grande
assembleia19 que contou com a participação de mais de 300 (trezentas) pessoas, incluindo
moradores das comunidades, autoridades locais e de outras esferas e representantes de
diversas instituições.
Na oportunidade fizeram-se presentes: Colônia de Pescadores de Oeiras do Pará-
Z50, Igreja Assembleia de Deus, Igreja Católica, Sindicato dos Trabalhadores e
Trabalhadoras Rurais de Oeiras do Pará- STTR, Associação de Mulheres Produtoras Urbanas
e Rurais de Oeiras do Pará, representante da RESEX Ipau-Anilzinho/Baião, Secretaria da
19
A assembleia foi realizada no dia 11 de fevereiro de 2006, no Templo da Igreja Evangélica Assembleia de
Deus, em Oeiras do Pará (ATA DA AMOREAP, 2006).
46
20
Durante o desenvolvimento do presente trabalho, o documento estava de posse do presidente da associação
dos moradores da RESEX, que gentilmente o disponibilizou para análise.
21
Para isso a AMOREAP estava contando com a parceria de um estudante do curso de Educação do
Campo/UFPA/Polo de Oeiras do Pará, que já possuí formação em Contabilidade, e na oportunidade estava
cumprindo atividade de estágio junto à associação.
47
oportunidade de estágio dentro da RESEX, que tá ajudando cuidar das documentações até a
regularização”, declarou Luiz Tenório, presidente da AMOREAP.
Enquanto a Associação Mãe aguarda pela necessária regulamentação, quando
necessita, a RESEX Arióca Pruanã estabelece parcerias com associações de outras RESEX’s
paraenses, para o recebimento e gestão de eventuais recursos alocados à área.
Nos últimos tempos, essa tem sido a alternativa encontrada pela Reserva Arióca
Pruanã para não perder importantes recursos. “Com isso mesmo dessa forma a AMOREAP
tem lutado pra levar melhorias pras comunidades” (LUIZ DOS S. TENÓRIO – Pres.
AMOREAP, 2018).
Além da AMOREAP, que é a Associação Mãe, existem outras 15 (quinze)
associações de moradores22, dentro da RESEX Arióca Pruanã.
Figura 4- Quadro das associações da RESEX Arióca Pruanã
Continua
Data da
Nº Razão Social/ Nome situação Objetivos Endereço/
fantasia cadastral Comunidade
Atividade de
Ass. Dos Produtores Rurais
01 Associações de Rio Jarité
da Comunidade
23/06/2001 defesa de direitos
Jarité/APROJE
sociais
Atividade de
Ass. Dos Produtores
02 Associações de Vila Valério/Rio
Agrícolas e Extrativistas do
21/01/2002 defesa de direitos Arióca
Rio Arióca/APAERA
sociais
Atividades de
Ass. Dos Produtores Rurais
03 Associações de
e Extrativistas da Terra Alta
03/11/2003 defesa de direitos M/D23 do Rio
do Rio Arióca/APAETA
sociais Arióca, s/n
Atividade de
Ass. Dos Produtores Rurais
04 Associações de M/D do Rio
e Extrativistas da Palmeira
03/11/2003 defesa de direitos Pruanã, s/n
do Rio Pruanã/APREP
sociais
Atividade de
Ass. Dos Produtores rurais
05 Associações de Vila
do Melancial/APROMEL
03/11/2005 defesa de direitos Melancial/Zona
sociais Rural
22
Os levantamentos das informações sobre as associações existentes na RESEX Arióca Pruanã e a elaboração do
quadro se deram a partir de acesso ao site http://www.receita.fazenda.gov.br/PessoaJuridica/CNPJ.
23
Margem Direita.
48
24
Margem Esquerda.
49
25
O banheiro refere-se a uma espécie de casinha, em madeira, construída sobre um buraco escavado diretamente
no solo, a certa distância das residências. Ou simplesmente, qualquer lugar a céu aberto.
51
Além das situações relatadas pelo gestor da RESEX Arióca Pruanã que dificultam o
desenvolvimento de políticas dentro da área, há ainda questões ligadas à falta de
esclarecimento sobre os instrumentos de gestão criados com a presença da UC. Com isso,
tem- se ainda determinados comportamentos de moradores, quanto à continuidade de antigas
práticas que vão de encontro às políticas da Unidade.
Olha, são vários né, muitas dificuldades encontradas pela diretoria, uma delas é que
foi criada a associação sem muitos esclarecimentos do quê que era uma associação,
que precisava os sócios pagar uma taxa, sem recurso não tem como andar. Outras,
são pessoas que ainda não entenderam que a reserva é uma coisa significante pra
elas, onde eles caça, pesca, faz roça, de onde vai tirar o sustento da família. Pessoas
que levam pessoas de fora pra pescar e caçar. E venda ilegal da madeira, que as
pessoas continuam fazendo. (LUIZ DOS S. TENÓRIO – Pres. AMOREAP, 2018)
usar, como cuidar dum banheiro, que eram acostumados todo tempo lá no mato, né,
aquela dificuldade. Essas são umas das mudanças. Com relação também a parte
ambiental eles também já tivero mudança hoje, uma parte dela, acredito que 60% da
população já sabe que tem que preservar pra poder ter por mais tempo, né? ele faz o
possível pra não queimar a mata já, já fazem o aceiro direto, já faz o mutirão
mesmo, então foi uma aprendizagem que eles conseguiro fazer depois da criação da
reserva, isso veio com a criação da reserva. (LUIZ DOS S. TENÓRIO – Pres. da
AMOREAP, 2018).
Com isso, para o gestor da RESEX as perspectivas para o momento se dão no sentido
de “melhoria de vida e renda”. O presidente da Associação de moradores deposita suas
esperanças no plano de manejo comunitário, esperando que a população entenda que o
trabalho coletivo é algo benéfico às comunidades.
Para o futuro “proporcionar mais educação de qualidade para os moradores através
das parcerias com as universidades públicas federais (UFPA E IFPA)”, enfatizou o gestor da
RESEX Arióca Pruanã. Educação se mostrou uma demanda também nas colocações do
presidente da AMOREAP.
No caso futuro, por exemplo, o que nós estamos hoje caminhando para isso é as
parcerias como com a UFPA e IFPA [...] quem sabe a longo prazo nós temo a
educação, uma universidade, o ensino superior lá dentro, essa é a nossa esperança.
Então nossa esperança no caso futuro é formar, capacitar os jovens de hoje pra que
mais tarde eles saiba como viver, uma vida digna e preservando sempre a natureza,
dessa forma. (LUIZ DOS S. TENÓRIO – Pres. AMOREAP, 2018).
Educação a serviço não somente da formação acadêmica como também para uma
educação ambiental, sem dúvida, será um ganho muito grande para a RESEX, e, sobretudo,
para a vida dos próprios pertencentes que poderão ter a oportunidade de se capacitar e
construir novos conhecimentos morando na própria comunidade.
Referente à demarcação da RESEX Arióca Pruanã existem placas fixadas ao longo
da área, localizadas às margens dos rios e em áreas terrestres, indicando o território da
mesma.
54
Semelhante a essa existem outras placas distribuídas ao longo dos rios que compõem
a hidrografia da RESEX Arióca Pruanã, nelas estão impressas, além da denominação da UC
informações como o decreto de criação, o órgão federal responsável pela Unidade e as
recomendações de acesso à área da RESEX.
Também há placas semelhantes em vários pontos de área terrestre da RESEX Arióca
Pruanã, delimitando e tornando visível o território, mata à dentro.
55
Na imagem acima, tem-se a chegada à vila da comunidade Terra Alta, que fica
localizada à margem direita do rio Arióca. Porém, as famílias pertencentes à comunidade
Terra Alta residem tanto em uma margem quanto em outra do mesmo rio.
57
Figura 8 - A vila da comunidade Terra Alta, no rio Arióca, na RESEX Arióca Pruanã
26
Maneira, local, de referir-se a produtos alimentícios.
58
“Nem todo tem as casa, o nome tá como teja pronto só que não existe, tá pronto no
documento, só que não tá pronto nem nada” (ENTREVISTADO H, 2018). Para além de uma
situação alarmante de falta de compromisso com a gestão e aplicabilidade de recurso público
foi, sobretudo, um imenso desrespeito para com muitas famílias que poderiam ser agraciadas
com uma moradia mais digna.
“É arguns já recebeu casa né, nós temo uma casa em documento pronta, mas nós
nunca recebemo, o documento tá pronto né, que nós temo uma casa, mas nós nunca recebemo,
é umas quantas no Arióca que o documento tá pronto mas ninguém recebeu”
(ENTREVISTADA K, 2018). As famílias da Terra Alta são em sua maioria muito humildes,
os moradores que se encontram na situação relatada continuam morando em suas casas de
madeira, que embora agradáveis para se viver, sem dúvida, tem uma vida útil muito inferior a
de uma construção, em alvenaria.
Anterior ao período da pesquisa, diversas famílias em todas as comunidades da
RESEX foram contempladas pelo Projeto Sanear, inclusive várias famílias da Terra Alta.
“Depois das casa veio os banheiro agora, foi recebido, o pessoal recebero, tão recebendo”
(ENTREVISTADO, H, 2018).
Figura 9 – Construção de sistema de coleta de água e banheiros pelo Projeto Sanear
Amazônia
27
Forma, local, de dizer ao reivindicar-se algo.
60
São em roças como essa que os moradores da comunidade Terra Alta desenvolvem
suas atividades agrícolas. A roça da imagem está em fase de cultivo da mandioca, ao mesmo
tempo em que se observa a presença de pés de bananeiras plantados na mesma área, assim
como outras culturas, como o abacaxi, na imagem abaixo.
62
28
Manihot esculenta Crantz (Disponível em: https://www.embrapa.br>cultivo).
63
venda, “é pra venda também e pro sustento familiar, baseado, nada, nada é feito mais de trinta
pacote, pro consumo é tirado uns três pacote” (ENTREVISTADO W, 2018).
A farinha é produzida ainda de forma bem rudimentar, assim, dependendo do volume
da produção, o trabalho que se tem também é dispendioso ao agricultor.
Figura 12 - Aspectos do local onde a farinha é produzida
Essa é uma “casa de forno”, é em espaço similar a esse em que ocorre a fabricação
da farinha usada para o consumo familiar e para a comercialização, no porto da casa ou na
sede do município.
Segundo informaram, dependendo da disponibilidade do produto, o valor da venda
do pacote da farinha (30 kg) fica em torno de R$ 60,00 à R$ 110,00. Conforme a Entrevistada
K (2018), no período de realização da pesquisa a produção da farinha estava em baixa no rio
Arióca, um dos motivos é que os roçados que foram plantados no início do ano ainda não
estavam aptos à colheita29. Assim, os moradores estavam colhendo o que ainda restava nos
roçados ou simplesmente não tinham roça.
29
No geral, as famílias começam cultivar a mandioca, próximo ou após completar um ano de plantio.
64
É de açaizal como esse, ou mesmo das árvores existentes às margens dos rios, que as
famílias durante o período da safra colhem os frutos usados para o consumo familiar e para a
venda.
“É o negócio do açaí, a bacaba e a farinha, o açaí os piquenos vendo, vendo bem
mesmo na época do açaí” (ENTREVISTADA K, 2018). Durante a pesquisa o açaí estava no
início do período da safra, com isso a família já observava significativa melhora na
disponibilidade do produto tanto para o consumo como para a comercialização.
Dessa maneira, conforme se observou acima nos relatos da Entrevistada K (2018), no
período da safra do açaí a economia da família sofre um significativo aquecimento. Isso sem
dúvida nenhuma possibilita a aquisição de bens e produtos que venham favorecer a melhoria
da qualidade de vida do trabalhador e da família dele.
65
Nessa residência a dona da casa relatou que até já possuiu uma significativa criação
de aves, mas se tornou difícil manter devido a presença de predadores como gaviões e outros
animais.
No caso da pesca e da caça, o que os moradores conseguem capturar, artesanalmente,
serve somente para a alimentação da família.
66
existindo. A situação também será abordada adiante, com maior atenção, visto que, tal
ocorrência se inscreve no campo das relações de poder entre os atores que constituem a
RESEX, e principalmente das conflitualidades dentro da UC.
As maneiras acima relatadas são as formas pelas quais os moradores se mantêm,
alimentam suas famílias e adquirem, mesmo que de forma mínima, as condições necessárias à
sua vivência dentro da RESEX. Embora, essa não tenha sido uma tarefa fácil, em muitos
momentos, muitas famílias passam por situação de extrema dificuldade.
Eu digo assim, na nossa reserva tá existindo muita fome, a fome não é fácil né,
muita fome memo, chega um tempo que a gente não vê mas peixe, não vê nadinha,
aí passa quantidade de fome mesmo, em toda parage, tem gente que não procura
fazer uma roça, tem gente que só tá fiado também no açaí e quando acaba o açaí? e
pronto. (ENTREVISTADO H, 2018).
nunca teve, nunca teve não” (ENTREVISTADO H, 2018). “Não, orientação técnica nunca
tivemo, a gente até sempre cobra30” (ENTREVISTDO W, 2018).
Observou-se que as orientações que costumam obter estão mais relacionadas ao uso e
manipulação dos recursos naturais e da área, “a orientação que nós temo é sobre o acordo de
gestão, de vez em quando temo reunião, eles fica orientando como trabalhar dentro da área da
reserva, a orientação que eles dá é sobre o desmatamento mais, a queimada, pra que tenha um
controle sobre a queimada” (ENTREVISTADO W, 2018).
“Já, já teve oficina, nós participemo, porque a gente faz a roça, mas antes de queimar
a gente tem que fazer a varrida né, pro fogo não brangir a mata, já foi orientação que eles
dero” (ENTREVISTADA K, 2018). No Item 44 e Subitens 44.1, 44.2, 44.3, 44.4, 44.5 e 44.6,
do Capítulo VI, do Acordo de Gestão (2013), da RESEX Arióca Pruanã, trata-se
exclusivamente das medidas que os moradores devem tomar ao desenvolver suas atividades
agropastoris roça. Essas são orientações sempre presentes e repassadas nas reuniões nas
comunidades, conforme se observou nos relatos acima.
Os moradores que têm como uma de suas atividades a produção do açaí pareceram
estar, atualmente, bem mais apoiados em termos técnicos, “orientação técnica só pelo lado do
manejo do açaí, pra quem tem açaizal, né” (ENTREVISTADO W, 2018).
“A EMATER já deu dois curso de manejo do açaí, pela Embrapa já tivemo curso
com açaí nativo” (ENTREVISTADA X, 2018). A orientação técnica é muito importante para
que as atividades extrativistas ou agrícolas passem a apresentar melhores resultados e com
isso o trabalhador tenha a satisfação de usufruir dos frutos do seu labor cotidiano.
Assim, se somados orientação técnica de apoio à produção e mais políticas de
conscientização para o uso responsável e correto dos recursos naturais da RESEX, será um
ganho enorme para o fortalecimento da UC e consequentemente para a melhoria das
condições de vida da comunidade em geral.
Nesse sentido, o Plano de Manejo31, documento no qual deve constar tudo o que
pode ou não ser feito, de que forma, quando e por quem, dentro da RESEX, se faz muito
necessário.
O Plano de Manejo da RESEX Arióca Pruanã ainda não está consolidado, mas
segundo o presidente da AMOREAP, estão trabalhando para em breve torná-lo uma realidade,
30
Maneira local de dizer quando reivindica-se algo
31
O Plano de Manejo é um instrumento técnico de planejamento e gestão das UC’s, constante no Art. 2º, inciso
XVII, e Art. 27, § 1º, da Lei Federal nº 9.985/2000.
69
“olha, nós temos na fase da elaboração, mais ou menos com oito oficina, já fizemo o
mapeamento, e no mês de junho, agora, vamo fazer a demarcação da área”.
A lei do SNUC- Lei Federal nº 9.985/2000, orienta que os Planos de Manejo para
além de dispositivos técnicos, devem ser documentos de elaboração contínua e participativa,
assim todas as decisões neles contidas devem ser tomadas pela coletividade observando todos
os aspectos que fundamentam a unidade de conservação.
O Plano de Manejo, enquanto importante instrumento de gestão e planejamento, deve
ainda contemplar as especificidades das comunidades, especialmente referente às formas de
atividades desenvolvidas pelos moradores, de maneira a diminuir as conflitualidades
existentes até mesmo entre eles próprios.
No âmbito da situação fundiária, no ano em que a RESEX Arióca Pruanã completa
13 (treze) anos de existência, no município de Oeiras do Pará, vale buscar saber como se
encontra a situação da regularização das suas terras, considerando que nem sempre esse é um
processo célere e que somente a criação da Reserva não implica na sua imediata
regularização, do ponto de vista fundiário.
Para isso, é necessário antes que instituições que delegam sobre o assunto, como o
INCRA, juntamente com o órgão gestor, realizem vistorias e levantamentos no interior da
Unidade, a fim de verificar se há a existência de propriedades e imóveis particulares, caso
existam devem proceder os trâmites legais para a desapropriação dessas propriedades,
passando a adquiri-las e integrando-as às RESEX’s.
Segundo o gestor da RESEX Arióca Pruanã, “a RESEX ainda não possui
regularizado sua situação fundiária, apesar de já possuir o CAR32 (Cadastro Ambiental
Rural)”.
O Cadastro Ambiental Rural (CAR) é um instrumento fundamental para auxiliar no
processo de regularização ambiental de propriedades e posses rurais. Consiste no
levantamento de informações georreferenciadas do imóvel, com delimitação das
Áreas de Proteção Permanente (APP), Reserva Legal (RL), remanescentes de
vegetação nativa, área rural consolidada, áreas de interesse social e de utilidade
pública, com o objetivo de traçar um mapa digital a partir do qual são calculados os
valores das áreas para diagnóstico ambiental. Ferramenta importante para auxiliar no
planejamento do imóvel rural e na recuperação de áreas degradadas, o CAR fomenta
a formação de corredores ecológicos e a conservação dos demais recursos naturais,
contribuindo para a melhoria da qualidade ambiental, sendo atualmente utilizado
pelos governos estadual e federal. (MMA).
32
O Cadastro Ambiental Rural foi ciado pela Lei nº 12.651, de 25/05/2012, e regulamentado pelo Decreto nº
7.830, de 17/10/2012, que criou o Sistema de Cadastro Ambiental Rural – SICAR.
70
A comunidade Terra Alta, no rio Arióca, tem aproximadamente trinta e sete anos de
existência, sua origem está ligada aos festejos a São Benedito na casa dos próprios moradores
e posteriormente se tornou uma comunidade cristã ligada a Paróquia de Nossa Senhora
D’Assunção, de Oeiras do Pará. Os festejos ao santo continuam sendo realizados, anualmente,
no mês outubro.
No período em que o rio Arióca vivenciou extremos conflitos sociais e impactos
ambientais gerados pelas madeireiras vindas de fora do município de Oeiras do Pará, a
comunidade Terra Alta esteve no centro dessas questões, “a Terra Alta é onde tinha uma
empresa do lado de baixo e tinha também outra do lado de cima, na vila Jacarequara, nós tava
cercado, nós já tava ameaçado” (ENTREVISTADA K, 2018).
Foram tempos difíceis em que os moradores temeram por suas vidas e viram os
recursos naturais, especialmente o madeireiro, ser rapidamente destruído, e ainda em que a
atividade de maquinários provocou a acelerada destruição da floresta impactando diretamente
na disponibilidade e quantidade da fauna local, que por sua vez afetou muito a vida dos
moradores que tinham (e continuam tendo) na caça, uma das maneiras pela qual providenciam
o alimento para a família.
71
A esperança dos moradores é que tais situações deixem de existir, mas enquanto isso
não acontece a presença do Conselho Deliberativo pelos menos tem implicado para cessar um
pouco as ações dos invasores, “depois do conselho entrar é que eles já fico mais amedrontado
um pouquinho, que paralisa né” (ENTREVISTADO W, 2018).
A problemática da exploração e venda da madeira que foi o vetor principal que
desencadeou os conflitos que serviram de impulsos à luta para a implantação da RESEX
Arióca Pruanã, ainda não ficou totalmente no passado das comunidades do rio Arióca.
Embora, atualmente, essa exploração se dê em proporção muito inferior à extração feita pelas
madeireiras, pois utilizavam grandes maquinários e muitos trabalhadores.
33
Espécie de armadilha com arma de fogo caseira, deixada em lugares estratégicos na floresta para matar caças.
A arma dispara no momento em que qualquer corpo (animais silvestres, galhos de árvores ou pessoas) toca em
um fio diretamente ligado a ela.
74
“Tavo acabando com a natureza, hoje em dia graças a Deus não, o pessoal com
motosserra tiro, mas não é igual como o pessoal da impresa né, o pessoal da impresa veio é
pra acabar mesmo” (ENTREVISTADA K, 2018). Porém, há relatos que nos últimos anos a
RESEX voltou sofrer assédio de madeireiras, “uma maderera já tentou entrá nas terras de
comunidade do rio Arióca vindo pelas cabecera do rio, mas bom que não conseguiu, acho que
foro avisado que o pessoal do conselho já tava sabendo”.
Segundo consta no Acordo de Gestão (2013), da RESEX, “a utilização dos recursos
naturais da RESEX Arióca Pruanã é de exclusividade dos seus moradores, incluindo as
comunidades do entorno, que tradicionalmente exploram a área” (ITEM 11, CAP.II).
No Item 15, do capítulo III, do Acordo acima, trata-se da utilização dos produtos
florestais madeireiros, preceituando que “é permitida a utilização de madeira para uso familiar
e comunitário dentro da RESEX (casas, barco, igreja, etc.) sem necessidade de plano de
manejo florestal comunitário, conforme Art. 32, Inciso III do Código Florestal (Lei nº
12.651/2012)”.
Porém, o que continua acontecendo é a prática de moradores que exploram a madeira
fora das finalidades acima permitidas, ou seja, estão utilizando os recursos madeireiros
prioritariamente para a comercialização, “a gente vê de vez em quanto barco com madeira tá
passando, continua” (ENTREVISTADA K, 2018).
Nesses moldes, a exploração da madeira além de infringir o Acordo de Gestão da
RESEX, também prejudica em potencial a disponibilidade do recurso madeireiro, uma vez
que a retirada predatória não respeita o critério de corte permitido, em lei.
A tirada da madeira num pára, até agora num pára, ela só dá uma paralisada quando
sabe que o gestor está entrando, aí todo mundo esconde madeira por aí, todo mundo
não, uma parte. Os madeireirozinhos que continuo num pararo, quando o gestor vai
embora eles desço com a madeira deles, e continua sempre, quando eles tão lá no
mato não quer dispensar nada, é pau fininho mesmo. (ENTREVSTADO W, 2018).
34
Estrutura de sustentação.
75
35
O texto aqui utilizado foi retirado da tradução de José Roberto Bonifácio (RJ, 10/05/2011), acha-se disponível
no endereço: https://edisciplinas.usp.br>resource>view. Acesso em: 15 de set. 2018. Que por sua vez utilizou a
versão disponível no site: <http://www.garretthardinsociety.org/articles/art_tragedy_of_the_commons.html>
77
Porque se não fosse nós ter formado isso aí, a reserva, acho que não existia nada
mas, já tinha tudo acabado, já tinha acabado igual como tem certo lugar que não tem
isso aí e num existe nem um pé de madeira, ainda existe muita madeira aí, agente
ainda vê que tem alguma coisa, caça essas cuisas, se não tivesse parado de explorar
não tinha mais, a gente ainda vê, porco come bem a roça, tudo quanto é bicho a
gente vê ainda. Se não tivesse isso aí, se fosse mais invadido ainda, não tinha nada,
porque tinha acabado com a mata. (ENTREVISTADO H, 2018).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
venham melhorar cada vez mais as suas condições de vida e ao mesmo tempo promover a
conservação dos recursos naturais da área.
Os movimentos sociais tão importantes no processo de criação da Unidade precisam
retomar seus papéis de protagonistas, fortalecer discursos próprios, e quando necessário
exercer a pressão junto ao Estado e a outros atores sociais, quanto ao acesso às políticas
ambientais e aos bens e serviços sociais para os pertencentes, se inscrevendo aí uma maneira
de diminuir ou sanar muitas conflitualidades. As conflitualidades na RESEX Arióca Pruanã é
algo que carece de atenção, a fim de que se tenha uma maior compreensão acerca desse
processo.
Com o presente trabalho buscou-se conhecer as manifestações sociais que
contribuíram e resultaram na criação da RESEX Arióca Pruanã, assim como, as questões que
se apresentam dentro dessa área, e que influenciam diretamente na dinâmica de vida da
população local, e ainda que mostram a urgência pela implementação de políticas públicas
voltadas a RESEX. Políticas capazes de proporcionar melhorias à vida dos pertencentes e
primar pela conservação de todos os recursos ali presentes.
Do ponto de vista acadêmico, o mérito do trabalho é com vistas na produção de
conhecimento sobre a questão ambiental, a produção territorial e as territorialidades, bem
como, sobre a produção de conflitualidades, a partir da existência das várias territorialidades
nessa área rural.
De maneira que professores, lideranças comunitárias e a população de modo geral,
conhecendo os processos que levaram à criação da Reserva no município de Oeiras do Pará e
mais as relações diariamente construídas nessa área, possam ter subsídios para discutir sobre
esta RESEX, no contexto escolar, nas reuniões em comunidade e mesmo no dia a dia,
podendo com isso levantar discussões e formar opiniões acerca dos efeitos da implantação
desta Unidade no território municipal, sua importância e os desafios ainda enfrentados nesta
Unidade.
82
REFERÊNCIAS
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(Portaria nº 162, de 28 de fevereiro de 2013). Disponível em:
https//www.jusbrasil.com.br/diarios/51421105/dou-secao-1-01-03-2013-pg-110. Acesso em:
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______. Dispõe sobre a proteção da vegetação nativa. Brasília DF, 2012. (Lei nº 12.651, de
25/05/2012). Disponível in: <www.planalto.gov.br>lei>/12651>. Acesso em: 29 abr. de 2018.
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nº 9.985, de 18 de julho de 2000).
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Sempre e Arióca Pruanã- PARÁ. Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Pará, Núcleo
83
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Ferreira; GOMES, Romeu; MINAYO, Maria Cecília de Souza. (Org.). Pesquisa Social:
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______. A Produção das estruturas territoriais e sua representação. In: SAQUET, Marcos
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(Orgs.). Geografia: conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000, p. 77-116.
APÊNDICE
86
ANEXO
91