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Crimes Contra a Administração Pública

TÍTULO XI - DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

CAPÍTULO I – PRATICADOS POR FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS (arts. 312 a 327 CP)

São os chamados delitos funcionais.

SUJEITO ATIVO
Funcionário público, em regra.

SUJEITO PASSIVO
A administração pública em geral. Isso não impede que o particular figure como vítima secundária.

Obs.: Todos os crimes contra a administração pública a partir da Lei 12.403/11 passaram a ser
afiançáveis, ou seja, estão sujeitos ao rito da defesa preliminar do art. 214 do CPP.

O art.7º, I “c” do CP trata sobre a extraterritorialidade incondicionada, quando o crime for contra a
administração pública: “ficam sujeitos à lei brasileira os crimes contra a administração pública, por
quem está a seu serviço”.

O art. 33, §4º do CP diz que o condenado por crime contra a administração pública terá progressão
de regime do cumprimento da pena, se reparar o dano ou devolver o produto.

Todo crime contra a administração pública corresponde ao ato de improbidade. Mas o contrário já
não se confirma.

CRIMES FUNCIONAIS ATOS DE IMPROBIDADE


Art. 312 ao 326 do CP. Art. 9 ao 11 da LEI Nº 8.429/1992.
Estes vão se ajustar nesses 3 crimes previstos nos Quando não enquadrar no art. 9 ou 10, caberá no
arts. 9, 10 ou 11. art. 11 e ofenderá certamente o princípio da
administração pública, da legalidade, moralidade
e da eficiência.
Os crimes funcionais em regra são dolosos, salvo Os atos de improbidade podem ser dolosos ou
o peculato culposo. culposos.

Existe um ato do procurador geral orientando o promotor de justiça criminal para que quando se
depara com crime funcional extraia cópia e remeta ao promotor da cidadania.

ESPÉCIES DE CRIMES FUNCIONAIS


1. Próprios ou propriamente dito: faltando a qualidade de servidor do agente, o fato passa a ser
tratado como um indiferente penal (hipótese de atipicidade absoluta). Só haverá crime se for
cometido por funcionário público. Exs.: condescendência criminosa, prevaricação.

2. Impróprios: desparecendo a qualidade de servidor do agente, desaparece o crime funcional,


desclassificando-se para delito comum (atipicidade relativa, o fato não é atípico). Exs.: concussão
vira extorsão, peculato vira apropriação indébita.

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CONCEITO DE FUNCIONÁRIO PÚBLICO PARA FINS PENAIS

O art. 327 do CP traz o conceito de funcionário público: Considera-se funcionário público, para
os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou
função pública.

O caput traz o funcionário típico ou propriamente dito, quem exerce:


a) cargo público – estatutário;
b) emprego público – celetista;
c) função pública – cumprir dever para com a administração pública (jurado e mesário).
Ainda que transitoriamente e sem remuneração.

PERG.: E o administrador judicial na recuperação da empresa?


Não, porque ele exerce encargo, múnus público, não é considerado funcionário público para fins
penais. Há lei especial tratando quando este administrador comete delito.
Outros casos de encargo público: inventariante dativo, tutor/curador dativos.

De acordo com o STJ, o advogado contratado por meio de convênio entre o Estado e a OAB, para
atuar na justiça gratuita enquadra-se no conceito de funcionário público para fins penais,
respondendo pela prática de peculato apropriação.

O § 1º traz o funcionário público atípico ou por equiparação. Equipara-se a funcionário público


quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa
prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da
Administração Pública.

Quem exerce cargo, emprego ou função:


a) entidade paraestatal;
b) empresa prestadora de serviço contratada;
c) empresa conveniada.
Nos casos das letras “b” e “c” precisa ser para a execução de atividade típica da administração
pública.

Não há consenso para o conceito de paraestatal entre os administrativistas. Hely Lopes Meirelles
(21 ed., 1996, pg. 62): “pessoas jurídicas de Direito privado cuja criação é autorizada por lei
específica para a realização de obras, serviços ou atividades de interesse coletivo, como as empresas
públicas, sociedades de economia mista e serviços sociais autônomos (SESI, SESC, SENAI, dentre
outros)”. No entanto, na 30 ed., em 2005: “pessoas jurídicas de Direito privado que, por lei, são
autorizadas a prestar serviços ou realizar atividades de interesse coletivo ou público, mas não
exclusivos do Estado”, tendo sido tirado do conceito “empresas públicas ou sociedade de economia
mista” e acrescentado “organizações sociais”.

- Organizações sociais: 6ª Turma STJ, RE 1519.662/DF – espécie de paraestatal.

- Funcionário público considera-se, para efeitos penais, quem exerce cargo, emprego ou
função em fundação pública, empresa pública e sociedade de economia mista.

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- STJ – considerou empregado de sociedade de economia mista, estagiário de autarquia e de órgão
público como funcionários públicos. Também considerou médicos de hospital particular
conveniado ao SUS.

O § 2º é uma causa de aumento de pena: A pena será aumentada da terça parte quando os autores
dos crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de
direção ou assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de economia mista,
empresa pública ou fundação instituída pelo poder público.

PARLAMENTARES: é incabível a causa de aumento de pena.


Quando o agente for ocupante de cargo em comissão; função de direção ou assessoramento em
órgãos da administração pública, em sociedade economia mista empresa pública ou em fundação
instituída pelo poder público.
Obs.: O legislador esqueceu a autarquia em geral. Não abrangência, grave omissão do legislador,
somente colocou a espécie de autarquia fundação.

O STF decidiu por 6 a 5 que os chefes do executivo (presidente da república, governadores e


prefeitos) exercem função de direção de órgão da administração pública, logo sempre irão
responder com a majorante.

EFEITOS DA CONDENAÇÃO: ART. 92, I, CP – perda do cargo, função ou mandado eletivo:


a) Quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos crimes
praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública.
b) Quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 anos nos demais casos.

- DOS CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO CONTRA A


ADMINISTRAÇÃO

Art. 312, e §1º - PECULATO

Existem 6 tipos de peculato:


1º) peculato apropriação – previsto no art. 312 , caput, 1ª parte do CP.
2º) peculato desvio – previsto no art. 312 , caput, 2ª parte do CP.
3º) peculato furto – previsto no art. 312, §1º do CP.
4º) peculato culposo – previsto no art.312, §2º do CP.
5º) peculato estelionato – previsto no art. 313 do CP.
6º) peculato eletrônico – previsto no art.313 A e B do CP.

PERG.: O que é peculato próprio ou propriamente dito?


O peculato próprio é o gênero do qual o peculato apropriação e peculato desvio são espécies. O
peculato impróprio é sinônimo de peculato furto.

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PECULATO PRÓPRIO

Art.312, caput do CP: Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem
móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito
próprio ou alheio:
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.

SUJEITO ATIVO
Funcionário público no sentido amplo do art. 327 do CP – crime próprio. O particular pode ser
coautor ou partícipe, desde que conheça a qualidade de funcionário do outro agente (elementar do
tipo – art. 30 CP)

Obs.: Admite concurso de pessoas, inclusive, de terceiros estranhos aos quadros da administração.

PERG.: “A” servidor auxiliado por “B” particular se apodera de bens públicos. Qual crime
eles praticaram?
A praticou peculato. Se B sabia que A era servidor (qualidade funcional) responderá também por
peculato na condição de partícipe, mas se não estiver ciente da condição profissional de A,
responderá por apropriação indébita.

Diretor de sindicato que se apropria dos bens da entidade sindical pratica peculato, conforme art.
552 da CLT, pois este dispositivo equiparou o fato ao peculato, não houve equiparação subjetiva,
mas objetiva. Apesar de o diretor de sindicato não é funcionário público típico, nem atípico os atos
que importem malversação ou dilapidação do patrimônio das entidades sindicais ficam equiparados
ao crime de peculato.

O art. 552 da CLT foi recepcionado pela CF/88 (a redação deste dispositivo se deu em 1969 em
época de ditadura)?
Há duas correntes:
1ª corrente: o art.552 da CLT não foi recepcionado pela CF/88, pois esta vedou, expressamente, a
ingerência estatal no sindicalismo. Julgados no TRF 4ª Região – Wladimir Passos de Freitas, Sergio
Pinto Martins.
2ª corrente: o art. 552 da CLT foi recepcionado pela CF/88. STJ.

Quando se fala em prefeito municipal tem o decreto Lei 201/67 que aparece como norma especial,
então esta prefere a norma geral (CP), se tiver comportamento específico no decreto lei responderá
por este delito, mesmo que a pena seja inferior.

SUJEITO PASSIVO
Primário – Estado, a administração.
Secundário – particular lesado pelo comportamento do agente.

CONDUTAS
 PECULATO APROPRIAÇÃO:
1º. Apropriar-se o funcionário público;
Inverter o animus da posse, agindo arbitrariamente como se dono fosse.

2º. De dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel;

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Móvel = qualquer coisa capaz de ser transportada sem perder a identidade (diferente do direito
civil).

3º. Público ou particular;


Quando se tratar de bem particular o seu dono figura como vítima secundária do crime.

4º. De que tem a posse;


A expressão “posse” abrange a mera detenção?

Há duas correntes:
1ª corrente: não abrange a mera detenção.
Conclusão: havendo mera detenção, o crime será de peculato furto. No TRF 1ª Região foi a corrente
adotada pelo STJ.

2ª corrente: abrange a mera detenção.


Conclusão: havendo mera detenção o crime será de peculato apropriação. Assim decidiu
recentemente o STJ.
A questão não está consolidada, pois encontra decisões do STJ nos dois sentidos.

5º. Em razão do cargo


A posse da coisa faz parte das atribuições naturais do cargo. A posse é funcional. A posse tem que
se em função do cargo, não basta por ocasião do cargo, meramente temporal.

 PECULATO DESVIO:
1º. Desviar o funcionário público;
Dar outra finalidade, diversa da prevista em lei.

2º. De dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel;


Móvel = qualquer coisa capaz de ser transportada sem perder a identidade.

3º. Público ou particular;


Quando se tratar de bem particular o seu dono figura como vítima secundária do crime.

4º. De que tem a posse;


A questão se a expressão “posse” abrange a mera detenção, não está consolidada, pois encontra
decisões do STJ nos dois sentidos.

5º. Em razão do cargo


A posse é funcional

TIPO SUBJETIVO
Dolo.
Obs.: é imprescindível o animus de apoderamento definitivo.

PERG.: PECULATO DE USO é crime?


Predomina o entendimento de que não configura o delito quando o funcionário público usa bem
infungível (não consumível) com a intenção de devolvê-lo. Isso porque o funcionário público não
estaria se apropriando e nem desviando a coisa, mas apenas a usando indevidamente, contudo,
poderá enquadrar-se em improbidade administrativa (Lei n. 8.429/92). Ex. funcionário utiliza
equipamento da Adm. para fins particulares.

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Se a coisa apoderada para o uso for consumível temos crime de peculato de uso + improbidade
administrativa.
Obs: embora a utilização de veículos, tratores e outras máquinas não configure o crime do art. 312
do CP, pode-se dizer que, em tese, o combustível (bem fungível) consumido é objeto material do
referido tipo.
Não abrange mão de obra, porque é serviço.
Obs.: No caso de prefeito municipal vai incidir o art.1º, II do Decreto Lei 201/67 que prevê o
peculato de uso, se ele usar bens, rendas e, inclusive, serviços públicos.

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
 Peculato apropriação – o crime se consuma no momento em que o agente, invertendo a
posse, passa a agir como se dono fosse. Basta exteriorizar demonstrar poderes de proprietário. Ex.
aliena a coisa e nega-se a devolvê-la.

 Peculato desvio – o crime se consuma no instante que o agente altera o destino normal da
coisa, independentemente de o agente obter qualquer proveito.

Obs.: Dispensa o enriquecimento do agente nas duas modalidades.

É perfeitamente possível a tentativa nas duas modalidades.

PECULATO IMPRÓPRIO (FURTO)

§1º. Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro,
valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio,
valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário.

Art. 312, caput Art.312, §1º


- apropriar-se. - subtrair ou facilitar a subtração.

- o agente tem a posse. - o agente não tem posse da coisa, por isso precisa
subtrair ou facilitar a subtração.
Obs.: A posse é legítima em razão do
cargo. Obs.: Valendo-se de facilidade que lhe proporciona a
qualidade de funcionário público, porque se não tiver
facilidade alguma o crime é de furto (art.155 do CP).

Condutas típicas:
a) O próprio agente subtrai;
b) O agente concorre para que terceiro subtraia.

- Facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário público: se não se valer disso, poderá
responder por Furto.
Ex. 1 – funcionário público, durante a madrugada, arromba a repartição pública e subtrai bem.
Responde por Furto, pois não se valeu de nenhuma facilidade por ser funcionário público.
Ex. 2 – o funcionário, durante o final de semana, identifica-se ao vigia, entra na repartição pública e
subtrai um bem sem ser percebido. Responde por peculato-furto, já que se valeu da facilidade que lhe
proporciona a qualidade de funcionário público.

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A coisa a ser subtraída deve se encontrar em poder da Administração Pública, mesmo que seja um
bem particular. Assim, imagine-se um oficial de justiça, em cumprimento a um mandado de penhora,
que aproveite dessa situação para subtrair para si coisa pertencente ao executado. Não configura
peculato-furto, pois o bem não estava em poder da Adm. Pública.

- Consumação: no peculato-furto, consuma-se quando o agente obtém a posse da coisa, mesmo que
por curto espaço de tempo.

PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA E PECULATO


Existe divergência sobre o tema:

1ª posição: inadmissível. “é pacífica a jurisprudência desta Corte no sentido de não ser possível a
aplicação deste princípio ao crime de peculato e aos demais delitos contra a Adm. Pública, pois o
bem jurídico tutelado pelo tipo penal incriminador é a moralidade adminstrativa, insuscetível de
valoração econômica” STJ – 5ª T, AREsp 1019890, j. 16/05/2017). Neste sentido foi editada a
Súmula 599 do STJ – “O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a Adm.
Pública”.

2ª posição: admissível. Nesse sentido: “tal como nos crimes contra o patrimônio, o objeto jurídico
do delito contido no art. 312 do CP deve ter expressão econômica, ou seja, a coisa móvel, assim
como o dinheiro e o valor, precisa ter significação patrimonial” STJ, RHC 23.500, j. 05/05/2011).

PECULADO NA LEGISLAÇÃO ESPECIAL:


- Lei dos crimes contra o Sistema Financeiro Nacional – Lei n. 7.492/86, art. 5º);
- CLT, art. 552;
- decreto lei de Prefeitos (DL 201/67, art. 1º).

PECULATO CULPOSO

Art. 312, §2º: Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem:


Pena - detenção, de três meses a um ano.

Crime de menor potencial ofensivo, de competência dos juizados criminais especiais.

CONDUTA
“se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem”. O funcionário público
negligentemente acaba concorrendo para o crime de outrem.
Ex.: servidor, negligentemente deixa a porta da repartição destrancada. Em razão disso, há um
crime.

PERG.: O “crime de outrem” corresponde a quais crimes?


1ª corrente: abrange qualquer lesão contra a administração, inclusive furto. A lei não restringiu.

2ª corrente: a expressão “crime de outrem” refere-se aos peculatos próprio e impróprio. Não
abrange furto. Prevalece.

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CONSUMAÇÃO
PERG.: Quando se consuma o peculato culposo?
O crime se consuma no momento em que se aperfeiçoa a conduta dolosa do terceiro. É
imprescindível o nexo da conduta do servidor.

Não é possível a tentativa, porque se trata de crime culposo.

BENEFÍCIOS EXCLUSIVOS DO PECULATO CULPOSO

§ 3º: No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível,


extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta.
Se a reparação do dano ocorre antes da sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se posterior
diminui a pena de metade.
Obs.: Quem vai diminuir é o juiz da execução.

PERG.: Como é que fica a reparação do dano no peculato doloso?


1ª corrente: se antes do recebimento da denúncia, aplica o arrependimento posterior; se após o
recebimento da denúncia, será mera atenuante de pena.

2ª corrente: pouco importa se antes ou depois do recebimento da denúncia, incide somente a


atenuante.

Não se aplica o art. 16 (arrependimento posterior), porque entende que não é crime contra o
patrimônio, mas sim contra a moralidade administrativa.

PECULATO ESTELIONATO

Art. 313: Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, no exercício do cargo, recebeu por
erro de outrem:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

- Bem Jurídico: Adm. Pública, no que se refere ao seu interesse material e moral.

- Sujeitos: Ativo é o funcionário público (crime próprio), o particular pode ser coautor ou partícipe,
desde que conheça a qualidade de funcionário público. Ex. depois de receber a coisa por erro de
terceiro, o funcionário público é induzido por particular a não restituí-la.

- Suj. passivo imediato é o Estado. De forma mediata ou secundária é a pessoa lesadas com a
conduta do autor.

- Tipo objetivo: a conduta típica consiste em apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, no
exercício do cargo, recebeu por erro de outrem.

- Relação com a função pública: o bem deve ser entregue ao funcionário em razão do cargo que
ocupa na Adm. Pública.

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- Exercício do cargo: o tipo penal exige que o funcionário público receba a coisa no exercício do
cargo. Assim, se o autor estiver fora do exercício de seu cargo, não se caracteriza Peculato
Estelionato, mas sim somente Estelionato.

- Erro: o erro no qual incorre o ofendido pode dizer respeito à coisa entregue (ex. é deixado um
valor maior, apropriando o funcionário do excesso) ou à pessoa responsável pela entrega (ex. o bem
é deixado com funcionário público que não tem atribuição para recebê-lo).

- Erro espontâneo – o ofendido deve incidir espontaneamente em erro. Se houver provocação ou


fraude por parte do funcionário, existirá outro crime (provavelmente estelionato).

- Tipo subjetivo: é o dolo. O agente público deve ter a consciência de que a coisa foi recebida em
virtude do erro de outrem e da função pública desempenhada.

- Consumação e tentativa: O crime estará consumado no momento em que o agente público se


apropria da coisa, agindo como se dono fosse. Portanto, para a consumação não basta o simples
recebimento do bem.

- A tentativa é possível (crime plurissubsistente). Ex. recebendo por erro, para registrar, uma carta
com dinheiro em seu interior, o funcionário postal, não competente para tal registro, é surpreendido
no momento em que está violando a carta.

- Forma majorada: §2º art. 327 – aumentada de 1/3 quando autores são ocupantes de cargos em
comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da adm. direta, sociedade de
economia mista, empresa pública ou fundação pública.

PECULATO ELETRÔNICO

ART.313 – A ART.313 – B
Inserção de dados falsos em sistema de Modificação ou alteração não autorizada de
informações sistema de informações
Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionário Art. 313-B. Modificar ou alterar, o funcionário,
autorizado, a inserção de dados falsos, alterar ou sistema de informações ou programa de informática
excluir indevidamente dados corretos nos sistemas sem autorização ou solicitação de autoridade
informatizados ou bancos de dados da Administração competente:
Pública com o fim de obter vantagem indevida para si Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, e
ou para outrem ou para causar dano: multa.
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
Parágrafo único. As penas são aumentadas de um
terço até a metade se da modificação ou alteração
resulta dano para a Administração Pública ou para o
administrado.
Sujeito passivo – somente o funcionário público
autorizado (sentido estrito).
Obs.: Caso o funcionário não seja autorizado, Sujeito ativo – funcionário público no sentido
pratica o crime do art. 299 do CP, falsidade amplo do art. 327 do CP, não precisa ser
ideológica. autorizado.

Sujeito passivo Sujeito passivo


Primário – estado, a administração. Primário – estado, a administração.
Secundário – terceiro prejudicado pelo Secundário – terceiro prejudicado pela ação do
comportamento do agente. agente.

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Conduta (Tipo objetivo) Conduta (Tipo objetivo)
 Inserir ou facilitar a inserção;  Modificar ou alterar o sistema/ programa.
 Excluir ou alterar dados. Objeto material do crime: próprio programa ou
Objeto material do crime: dados do sistema. sistema.

Tipo subjetivo – punido a título de dolo + Tipo subjetivo – dolo.


finalidade especial (enriquecimento próprio ou Sem finalidade especial.
alheio ou para causar dano).
Consumação e tentativa
Consumação e tentativa Consuma-se com a prática dos núcleos,
Se consuma com a prática dos núcleos, dispensando o dano.
dispensando o enriquecimento ou dano visado Ocorrendo o dano incide o 10parágrafo único,
pelo agente (CRIME FORMAL OU DE aumento de pena de 1/3 a ½.
CONSUMAÇÃO ANTECIPADA).
Admite tentativa.
Admite a tentativa.

(VUNESP – 2013 – TJ/SP – Escrevente Técnico Judiciário) Em relação ao crime de peculato, é


correto afirmar:
(A) a modalidade culposa é admitida por expressa previsão legal.
(B) a reparação do dano, no peculato culposo, se feita após a sentença irrecorrível, extingue a
punibilidade.
(C) a reparação do dano, no peculato culposo, se feita antes da sentença irrecorrível, reduz a pena.
(D) em recente alteração, as penas foram elevadas para reclusão de quatro a doze anos e multa.
(E) trata-se de um delito que pode ser praticado por qualquer pessoa.
Gabarito: A

EXTRAVIO, SONEGAÇÃO OU INUTILIZAÇÃO DE LIVRO OU DOCUMENTO

ART. 314 – Extraviar livro oficial ou qualquer documento, de que tem a guarda em razão do cargo;
sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou parcialmente.
Pena: reclusão de um a quatro anos, se o fato não constitui crime mais grave.

Sujeito Ativo: crime próprio, funcionário público. O particular pode ser coautor ou partícipe, desde
que conheça a qualidade de funcionário público do agente (art. 30 CP).

Sujeito Passivo: Estado ou particular a quem pertença o livro.

Conduta (tipo objetivo): extraviar livro oficial ou qualquer documento de que tem a guarda em
razão do cargo. É tipo misto alternativo (no mesmo contexto fático, se pratica todas as condutas
previstas no tipo, haverá crime único).
O objeto material é o livro ou documento público ou particular de interesse da Administração
Pública.
Princípio da Subsidiariedade: “se o fato não constitui crime mais grave”.

Tipo subjetivo: É o dolo, caracterizado pela vontade de praticar uma das condutas previstas no
tipo. Não há modalidade culposa.

Consumação e Tentativa: consuma no momento em que o agente extravia, sonega ou inutiliza o

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objeto material a que lhe foi confiado em razão do cargo, sendo desnecessário que cause danos à
Adm. Pública. Na modalidades de extraviar e sonegar, o crime é permanente (consumação se
protrai no tempo).
A tentativa é possível nas formas plurissubsitentes (extraviar e sonegar) e impossível na forma
unissubsistente (sonegar).

Forma majorada: §2º do art. 327 CP: aumenta a pena de 1/3 quando autores ocupantes de cargos
em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da Adm. direta, sociedade de
economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público.

Ação Penal: Pública Incondicionada.

EMPREGO IRREGULAR DE VERBAS OU RENDAS PÚBLICAS

ART. 315 CP: Dar às verbas ou rendas públicas aplicação diversa da estabelecida em lei.
Pena: detenção, de um a três meses, ou multa.

Sujeito Ativo: crime próprio, funcionário público com poder de disposição de verbas e rendas
públicas. O particular pode ser coautor ou partícipe, desde que conheça a qualidade de funcionário
público do agente (art. 30 CP).
-Presidente da República: crime de responsabilidade do art. 11 da Lei 1079/50.
-Prefeito: crime do art. 1º, III do DL 201/67.

Sujeito Passivo: Estado (União, Estados-membros, Distrito Federal, Municípios e demais entes
citados no art. 327, §§ 1º e 2º do CP).

Conduta (tipo objetivo): dar às verbas ou rendas públicas aplicação diversa da estabelecida em lei.
-Verbas Públicas: são os valores utilizados para pagamento das contas do Estado, tais como os
seus serviços públicos. Estão previstas na lei orçamentária.
-Rendas Públicas: são os valores arrecadados pelo estado, por meio da Fazenda Pública, como os
impostos ou contribuições de melhorias.
-Aplicação diversa da estabelecida em lei: trata-se de lei penal em branco homogênea ou em
sentido amplo, ou seja, o complemento do tipo penal deve ser emanado do Poder Legislativo.
-Diferença com o crime de Peculato: no peculato o autor visa benefício próprio ou de terceiros, e
no desvio de verbas, o interesse é da Adm. Pública.

Tipo subjetivo: É o dolo, caracterizado pela vontade de dar destinação diversa às verbas ou rendas
públicas. Não há modalidade culposa.

Consumação e Tentativa: consuma no momento em que o agente emprega a renda ou verba de


forma irregular, sendo desnecessário que prejuízos à Adm. Pública.
A tentativa é possível - plurissubsitente.

Estado de Necessidade ou inexigibilidade de conduta diversa: se comprovar a necessidade, não


responderá pelo crime (art. 23, I CP). Ex. diante de uma inundação, o agente usa o dinheiro
destinado à pavimentação de estradas no auxílio às vítimas e seus familiares.

Forma majorada: §2º do art. 327 CP: aumenta a pena de 1/3 quando autores ocupantes de cargos

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em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da Adm. direta, sociedade de
economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público.

Ação Penal: Pública Incondicionada.

CONCUSSÃO E EXCESSO DE EXAÇÃO

Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou
antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida:
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.

Excesso de Exação - § 1º - Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que sabe ou


deveria saber indevido, ou, quando devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a
lei não autoriza.
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.

Forma Qualificada: § 2º - Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de outrem, o que


recebeu indevidamente para recolher aos cofres públicos:
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.

SUJEITO ATIVO
Funcionário público (próprio) no exercício da função ou fora da função (de férias), mas age em
razão dela. Pode ainda ser o particular na iminência de assumir a função pública (faltam dados ou
procedimentos burocráticos, como por exemplo, a diplomação, falta o exame médico). O particular
pode ser coautor ou partícipe, desde que conheça a qualidade de funcionário público do agente (art.
30 CP).
JURADOS: podem ser responsabilizados criminalmente por concussão, conforme previsão no art.
445 CPP.
MÉDIDO DE HOSPITAL CREDENCIADO PELO SUS: o médico de hospital credenciado pelo
SUS que presta atendimento a segurado, pode ser considerado funcionário público para efeitos
penais, podendo responder por concussão. (STJ, 5ª T., HC 51054, j. 09/05/2006).

PERG.: E se o sujeito ativo da concussão for fiscal de rendas?


O crime vai ser do art. 3º, II da Lei 8.137/90, delito funcional contra a ordem tributária.
Não é crime contra a administração.

Se o agente for militar (policial militar) aplica-se o art.305 do CPM, competência da justiça militar.
É o mesmo tipo penal, mesma pena, a única diferença é que no CPM não tem multa na pena, como
tem no CP.

SUJEITO PASSIVO
Primário: administração em geral.
Secundário: pessoa constrangida pelo comportamento do agente. A pessoa pode ser particular ou
servidor público.

TIPO OBJETIVO
1) Exigir: trazer intimidação, coação (metus publicae potestatis, temor, receio, medo da função
pública que o funcionário exerce). Se houver emprego de violência ou grave ameaça será extorsão.

Professora Amanda Tavares Borges Página 12


Crimes Contra a Administração Pública
Não se confunde com mera solicitação, que significa pedido, gerando o crime de corrupção passiva.

2) Para si ou para outrem


PERG.: Esse outrem pode ser a própria administração pública?
1ª corrente: pode, pois a moralidade administrativa ficaria violada do mesmo modo. Prevalece.
Ex.: juíza exigia vantagem indevida de empresários para informatizar o Juizado.

2ª corrente: Paulo José da Costa Júnior discorda, ele entende que não abrange a própria
administração pública.

3) Direta ou indiretamente
Direta é a exigência pessoal, indireta o autor utiliza terceiro ou a fórmula implícita ou tacitamente.
Se o terceiro tem ciência, há concurso.

4) Explicita (clara) ou implicitamente (velada)

5) Vantagem indevida
PERG.: Qual é a natureza dessa vantagem?
Prevalece que essa vantagem indevida pode ser de qualquer natureza. Não precisa ser
obrigatoriamente econômica.

Se o servidor exigir vantagem devida?


 Se a exigência for de tributo ou contribuição social, pode estar diante do art.316, §1º do CP –
excesso de exação.
Obs.: Esse crime era inafiançável, porque a pena mínima suplantava 2 anos, não tinha direito a
defesa preliminar do art.514 do CPP. Com a Lei 12.403/11 só são os inafiançáveis os hediondos e
os equiparados a hediondos, todos os demais crimes passam a ser afiançáveis. Hoje esse crime
admite que o acusado tenha direito a defesa preliminar.
 A exigência de qualquer outra vantagem, responderá abuso de autoridade.

PERG.: E se for o particular simulando ser funcionário público exige vantagem indevida?
Extorsão – art.158 do CP.

PERG.: E servidor simulando exercer determinada função exige vantagem indevida?


Deve o agente deter competência ou atribuição para a prática do mal prometido. Faltando-lhe
poderes para tanto, mesmo que servidor, não configura crime funcional, mas sim extorsão.

Ex: Se o médico do SUS exige vantagem indevida ao paciente deve denunciá-lo por concussão; se
ele solicita a vantagem, será corrupção passiva; simulou ser devida a vantagem ou empregou fraude,
será Estelionato.

TIPO SUBJETIVO
Dolo + finalidade especial (obtenção da indevida vantagem). Não há modalidade culposa.

CONSUMAÇÃO e TENTATIVA
O tipo penal descreve conduta + resultado naturalístico.
A conduta descrita é exigir, o resultado naturalístico é obter vantagem indevida. A obtenção da
vantagem é mero exaurimento. Consuma-se com a exigência - CRIME FORMAL OU DE
CONSUMAÇÃO ANTECIPADA, não havendo necessidade de que o autor receba a vantagem

Professora Amanda Tavares Borges Página 13


Crimes Contra a Administração Pública
indevida.

Não há unanimidade sobre a possibilidade de tentativa.


- Alexandre Salim e Marcelo André de Azevedo (Direito Penal, parte especial, 6ª edição, 2018,
Juspodivm, p. 291) entendem que há tentativa porque o crime de concussão pode se apresentar na
forma plurissubsistente (ex. exigência por escrito através de carta (carta concussionária) ou e-mail,
ou na forma unissubsistente (ex. exigência verbal), sendo a tentativa possível na forma
plurissubsistente, já que é possível o fracionamento do inter criminis.
- Porém, Nelson Hungria afirma ser inadmissível: “ou é feita a exigência, e o crime se consuma; ou
deixa de ser feita, e nada mais poderá haver que uma intenção exteriorizada”, assim, a carta
concussionária seria mero ato preparatório. (Comentários ao Código Penal, vol. IX, p. 362).

PERG.: É possível flagrante de concussão?


O art. 302 do CPP diz que considera em flagrante delito:
I – está cometendo a infração penal: o agente está executando o núcleo no local do delito;
(EXIGINDO)
II – acaba de cometer a infração: o agente executou o núcleo e ainda permanece no local do delito;
(EXIGIU)
III – perseguido logo após: o agente executou o núcleo, mas não está mais no local do crime;
(EXIGIU)
IV – encontrado logo depois: o agente executou o núcleo e não está local do crime. (EXIGIU)
Pode prender em flagrante, desde que seja encontrado logo depois, em situação que se faz presumir
a exigência.

EXCESSO DE EXAÇÃO – ART. 316, §1º:

Condutas Típicas:
a) Exigência indevida – o tributo ou contribuição social não é devido, já foi quitado
anteriormente ou é devido a menor;
b) Cobrança vexatória ou gravosa, não autorizada por lei – o tributo ou contribuição social é
devido, mas o autor emprega, na cobrança, meio vexatório (humilhante, vergonhoso) ou grvoso (que
importa maior despesa) à vítima.

Sujeito Ativo: crime próprio, funcionário público, ainda que não tenha atribuição para arrecadar
tributos. O particular pode ser coautor ou partícipe, desde que conheça a qualidade de funcionário
público do agente (art. 30 CP).

Sujeito Passivo: é o Estado, e de forma secundária, o particular lesado.

Consumação e Tentativa:
a) Exigência indevida – no momento em que a vítima toma ciência da exigência,
independentemente do pagamento do tributo.
b) Cobrança vexatória ou gravosa - com o meio vexatório ou gravoso, independentemente do
pagamento do tributo.

FORMA QUALIFICADA – ART. 316, §2º

Pune-se de forma mais gravosa o agente público que, ao invés de recolher o tributo ou contribuição

Professora Amanda Tavares Borges Página 14


Crimes Contra a Administração Pública
social que recebeu indevidamente, desvia o objeto material em benefício próprio ou alheio.
A forma qualificada só se aplica ao art. 316. §1º - Concussão. Depois de o agente receber o tributo ou
contribuição, e antes de efetuar o recolhimento aos cofres públicos, desvia em proveito próprio ou
alheio. Se recolheu e DEPOIS desviou, poderá, em tese, configurar peculato.

Como esse assunto cai na prova:


FCC – 2013 – Oficial de Promotoria: Guilhermino, funcionário público estadual estável, exige de
Gabriel tributo que sabe ser indevido aproveitando-se da situação de desconhecimento do cidadão.
Neste caso, pratica crime de:
a) peculato culposo.
b) peculato doloso.
c) excesso de exação.
d) condescendência criminosa.
e) corrupção ativa.
GABARITO: “C”

Forma majorada: §2º do art. 327 CP: aumenta a pena de 1/3 quando autores ocupantes de cargos
em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da Adm. direta, sociedade de
economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público. A majorante incide
tanto em relação ao delito de concussão quanto em relação ao delito de excesso de exação.

Ação Penal: Pública incondicionada.

CORRUPÇÃO PASSIVA

Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da
função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal
vantagem:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.

FORMA MAJORADA: § 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em consequência da vantagem


ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica
infringindo dever funcional.

FORMA PRIVILEGIADA: § 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de


ofício, com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.

CORRUPÇÃO PASSIVA CORRUPÇÃO ATIVA


 Pune o corrupto.  Pune o corruptor.
 Art. 317 do CP.  Art. 333 do CP.
 Pena de 2 a 12 anos.  Pena de 2 a 12 anos.
Exceção pluralista à Teoria Monista

O Legislador erroneamente aplicou para crime mais grave pena menor do que crime menos grave,
porque na concussão a pena é de 2 a 8 anos (exigir), enquanto, que solicitar, corrupção passiva, pune

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Crimes Contra a Administração Pública
com pena de 2 a 12 anos.

SUJEITO ATIVO
Próprio. Funcionário público no exercício da função ou fora da função (de férias), mas age em razão
dela. Pode ainda ser o particular na iminência de assumir a função pública (crime funcional praticado
pelo particular).

PERG.: E se o sujeito ativo for particular?


Responde por Corrupção Ativa – Art. 333 CP.

PERG.: E se o sujeito ativo for fiscal de renda?


O crime vai ser do art. 3º, II da Lei 8.137/90, delito funcional contra a ordem tributária.
Não é crime contra a administração.

PERG.: E se o sujeito ativo for fiscal de jurado?


Corrupção Passiva – art. 445 CPP.

PERG.: E se o sujeito ativo for funcionário público que não possui atribuição para a prática do ato?
Não comete corrupção passiva, mas poderá praticar tráfico de influência (art. 332 CP).

PERG.: E se o agente for militar (policial militar)?


Aplica-se o art.308 do CPM.
ART.308 DO CPM ART.317 DO CP
Pune: Pune:
 Receber;  Receber;
 Aceitar promessa;  Aceitar promessa;
 --------  Solicitar.
E se o militar solicita?
Aplica-se a regra geral, ou seja, o art. 317 do CP,
justiça comum.

SUJEITO PASSIVO
Primário: administração em geral.
Secundário: pessoa constrangida pelo servidor, desde que não autora do art. 333 do CP (corrupção
ativa).

ART. 317 DO CP – CORRUPÇAO PASSIVA ART. 333 DO CP – CORRUPÇÃO ATIVA


Corrupto. Corruptor.
Pune: Pune:
 Solicitar  dar
 receber  oferecer
 aceitar promessa.  prometer.
Obs.: não pune “dar”, não é crime, porque a
conduta não partiu do corruptor, ele é encarado
como vítima, somente o funcionário será
processado.

Para a existência de crime de corrupção passiva, deve haver um nexo entre a vantagem solicitada,
recebida ou aceita e atividade exercida pelo corruptor. A vantagem pode ser de qualquer natureza,
desde que indevida.

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Crimes Contra a Administração Pública

ESPÉCIES DE CORRUPÇÃO
Corrupção passiva ou propriamente dita: tem por finalidade a realização de comportamento
injusto, ilegal ou ilegítimo. Ex.: solicitar vantagem para facilitar fuga.

Corrupção passiva imprópria: tem por finalidade a realização de comportamento justo, legal ou
legítimo. Ex.: oficial de justiça solicitar vantagem para concretizar ato citatório; magistrado recebe
dinheiro para dar celeridade ao processo, o que deve ser normalmente realizado.

Corrupção passiva antecedente: a vantagem é dada ou prometida em vista de um comportamento


futuro. O corrupto se corrompe para a prática de ato futuro.

Corrupção passiva subsequente: a vantagem é dada ou prometida tendo em vista um


comportamento já realizado. O corrupto se vende, age em face de um ato que já praticou ou omitiu.

- CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS CONRA A CORRUPÇÃO, adotada pela Assembleia-


Geral das nações Unidas em 31 de outubro de 2003 e assinada pelo Brasil em 09 de dezembro de
2003 (DL n. 5.687/06) – define conceito mais amplo de corrupção, alcançando, dentre outros, os
seguintes crimes: corrupção de agentes públicos nacionais e estrangeiros e de agentes das
organizações internacionais públicas; fraude, desfalque ou outros desvios, por parte de um agente
público, de qualquer bem público ou privado; tráfico de influências; abuso de funções e
enriquecimento ilícito.

PERG.: Agente penitenciário solicita vantagem indevida para facilitar a fuga de um preso, qual
crime ele responde?
Pelo crime de corrupção passiva própria e antecedente (porque solicita para a fuga amanhã).

TIPO OBJETIVO
Condutas Típicas:
a) solicitar - o agente público solicita a vantagem indevida, que pode ou não ser dada pela
vítima;
b) receber – o terceiro oferece a vantagem indevida, que é aceita e recebida pelo funcionário;
c) aceitar promessa – o agente público concorda em receber a vantagem indevida prometida
pelo terceiro.
O terceiro que “oferecer” ou “prometer” vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo
a praticar, omitir ou retardar ato de ofício, responderá por corrupção ativa (art. 333 CP).

TIPO SUBJETIVO
Dolo + finalidade especial (obter indevida vantagem). Não é prevista modalidade culposa.

- Tipo Misto Alternativo: ainda que o sujeito ativo, no mesmo contexto fático, pratique as três
condutas previstas no tipo, haverá crime único.

- Gratificações de pequena monta: devem ser analisadas no caso concreto. Muitas vezes a doação
de pequenos presentes, como um panetone de natal, como forma de agradecer a um bom atendimento
estará no âmbito de adequação social permitido, excluindo a tipicidade do fato.

- Ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela: o crime existirá mesmo

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Crimes Contra a Administração Pública
que o autor, depois de nomeado, ainda não tenha tomado posse, bem como se estiver de férias ou em
período de licença. É necessário, no entanto, que a solicitação ocorra em razão da função
exercida pelo sujeito ativo.
Ex. 1 – juiz que se encontra de férias solicita dinheiro do réu para absolvê-lo (crime de corrupção
passiva).
Ex. 2 – investigador de polícia solicita dinheiro de investigado para deixar de instaurar inquérito
contra ele (poderá configurar crime de extorsão, já que tal agente público não tem atribuição para
instauração de inquéritos policiais).

- Ato de Ofício: no delito de corrupção passiva (art. 347 caput) o tipo penal não contém
expressamente a expressão “aro de ofício”, embora esteja presente no seu §1º, como causa de
aumento. A jurisprudência interpreta que o que deve estar presente é uma relação entre a função
pública do agente e a solicitação, o recebimento ou a aceitação da vantagem indevida. Certo é que o
crime de corrupção passiva se realiza independentemente da prática de qualquer ato de ofício.

CONSUMAÇÃO e TENTATIVA
Há 3 núcleos:
 Solicitar – CRIME FORMAL.
 Receber – CRIME MATERIAL.
 Aceitar promessa – CRIME FORMAL.

É possível tentativa somente na conduta de solicitar, quando feito por carta e esta é interceptada antes
de chegar ao destinatário.

A corrupção passiva e ativa configuram crimes unilaterais, não são dependentes entre si.
Art. 317 Art. 333
Solicitar ----
Receber Pressupõe oferecer.
Aceitar promessa Pressupõe que o particular prometeu.

Nos dois últimos casos, a corrupção passiva pressupõe a corrupção a ativa, sendo, portanto, bilaterais.

ART.317, §1º - FORMA MAJORADA

§1º. A pena é aumentada de um terço, se, em consequência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de
praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional.

É causa de aumento de pena. A circunstância a ser considerada na 3ª fase da dosimetria da pena.

Só incidirá na corrupção passiva própria, não incidindo na imprópria.

ART. 317, caput ART. 317, §1º


Solicitar
Receber Concretizar o ato comercializado.
Aceitar promessa

Art. 317, caput: pena de 2 a 12 anos. Art. 317, caput c.c. §1º aumento de 1/3.

Ex.: juiz solicita dinheiro pra absolver réu Ex.: juiz efetivamente absolve réu culpado - além
comprovadamente culpado. da pena de 2 a 12 anos, terá um aumento de 1/3.

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Crimes Contra a Administração Pública
Obs.: Se a violação praticada pelo agente público constitui, por si só, um novo crime, haverá
concurso de delitos entre a corrupção passiva e a infração dela resultante, não se aplicando o §1º do
art. 317, para evitar “bis in idem”.
Ex.: facilitação de fuga, responde pela facilitação de fuga + art. 351 + corrupção passiva.

Forma majorada: §2º do art. 327 CP: aumenta a pena de 1/3 quando autores ocupantes de cargos
em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da Adm. direta, sociedade de
economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público.

ART. 317, § 2º - CORRUPÇAO PASSIVA PRIVILEGIADA


§2º. Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever funcional, cedendo a
pedido ou influência de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
- o tipo penal não é composto pela elementar “vantagem ilícita”. Aqui, o agente viola seu dever
funcional “cedendo a pedido de influência de outrem”. Existirá um corruptor, que não oferecerá
vantagem indevida ao funcionário, mas apenas pedirá, ou então se tratará de uma pessoa influente. O
corruptor não comete nenhum delito.
- Crime material. A consumação ocorrerá no momento em que o funcionário efetivamente praticar,
omitir ou retardar ato de ofício, com infração de dever funcional.

ART. 317, § 2º ART. 319 - PREVARICAÇÃO


O agente cede diante de pedido ou influencia de Não existe pedido ou influencia de outrem
outrem - corrupção provocada. (autocorrupção).
O agente não busca satisfazer interesse ou O agente busca satisfazer interesse ou sentimento
sentimento pessoal. pessoal.
Pune os famigerados favores administrativos.

- CORRUPÇÃO PASSIVA MILITAR – art. 308 CPM;

- CORRUPÇÃO PASSIVA DESPORTIVA - Os arts. 41 – C e D do ESTATUTO DO TORCEDOR


– Lei n. 12.299/10 - trazem corrupção passiva e ativa, respectivamente no âmbito dos esportes. Traz
o núcleo “dar”.

- AÇÃO PENAL: Pública Incondicionada.

ART. 318 – FACILITAÇÃO DE CONTRABANDO OU DESCAMINHO

Art. 318: Facilitar, com infração de dever funcional, a prática de contrabando ou descaminho (art. 334):
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa .

_________________________________________________________________________________
DESCAMINHO
Art. 334. Iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou
pelo consumo de mercadoria (Redação dada pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. (Redação dada pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)

§ 1o Incorre na mesma pena quem: (Redação dada pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)
I - pratica navegação de cabotagem, fora dos casos permitidos em lei; (Redação dada pela Lei nº 13.008, de
26.6.2014)

Professora Amanda Tavares Borges Página 19


Crimes Contra a Administração Pública
II - pratica fato assimilado, em lei especial, a descaminho; (Redação dada pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)
III - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio,
no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira que introduziu
clandestinamente no País ou importou fraudulentamente ou que sabe ser produto de introdução clandestina no
território nacional ou de importação fraudulenta por parte de outrem; (Redação dada pela Lei nº 13.008, de
26.6.2014)
IV - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou
industrial, mercadoria de procedência estrangeira, desacompanhada de documentação legal ou acompanhada
de documentos que sabe serem falsos. (Redação dada pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)

§ 2o Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio irregular
ou clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em residências. (Redação dada pela Lei nº
13.008, de 26.6.2014)

§ 3o A pena aplica-se em dobro se o crime de descaminho é praticado em transporte aéreo, marítimo ou


fluvial. (Redação dada pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)

CONTRABANDO
Art. 334-A. Importar ou exportar mercadoria proibida: (Incluído pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 ( cinco) anos. (Incluído pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)

§ 1o Incorre na mesma pena quem: (Incluído pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)


I - pratica fato assimilado, em lei especial, a contrabando; (Incluído pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)
II - importa ou exporta clandestinamente mercadoria que dependa de registro, análise ou autorização de órgão
público competente; (Incluído pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)
III - reinsere no território nacional mercadoria brasileira destinada à exportação; (Incluído pela Lei nº 13.008,
de 26.6.2014)
IV - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio,
no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira; (Incluído pela Lei nº
13.008, de 26.6.2014)
V - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial,
mercadoria proibida pela lei brasileira. (Incluído pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)

§ 2º - Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio irregular
ou clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em residências. (Incluído pela Lei nº 4.729,
de 14.7.1965)

§ 3o A pena aplica-se em dobro se o crime de contrabando é praticado em transporte aéreo, marítimo ou


fluvial. (Incluído pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)

No descaminho, o crime é relacionado ao (não) pagamento do imposto devido, como podemos observar: “Iludir, no
todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria”.
Perceba que nada tem a ver com a mercadoria ser proibida. É aqui que reside os maiores equívocos.
Tudo, principalmente para a imprensa televisiva, é “Contrabando”, quando na verdade é Descaminho.
Já no crime de Contrabando a relação criminosa é com a mercadoria, proibida no Brasil, ser importada ou exportada,
como observado no dispositivo: “Importar ou exportar mercadoria proibida”.
Se for proibida perante a nossa legislação, será tipificado o crime de Contrabando.
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Já foi crime inafiançável. Hoje admite defesa preliminar.

BEM JURÍDICO: tutela-se o patrimônio e a moralidade da Administração Pública. A Lei n. 8137/90


alterou a pena do art. 318, que era de 3 a 5 anos e multa.

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Crimes Contra a Administração Pública
SUJEITO ATIVO: crime próprio - servidor público que tem a missão de prevenção ou repressão ao
contrabando ou descaminho, como fiscais de fronteira.
- o particular pode ser coautor ou partícipe, desde que conheça a qualidade de funcionário do outro
agente (art. 30 CP).
- Exceção à teoria monista – ao invés de todos responderem pelo mesmo crime (teoria monista), o
legislador optou por criar uma exceção: o funcionário público que viola dever funcional não pratica
os delitos dos arts. 334 e 334-A, mas o crime do art. 318.

- Funcionário que concorre para o descaminho ou contrabando sem violar dever funcional:
responde por descaminho (art. 334) ou contrabando (art. 334-A), como partícipe.

COMPETÊNCIA: é da Justiça Federal, mesmo que o funcionário seja estadual ou municipal – ofende
o interesse da União.

SUJEITO PASSIVO: Estado ou a administração.

TIPO OBJETIVO
1) Facilitar: pode se dar por ação ou omissão.
2) Contrabando ou descaminho
Contrabando: importar ou exportar mercadoria absoluta ou relativamente proibida.
Descaminho: importar ou exportar mercadorias fraudando o pagamento dos tributos devidos.

É mais uma exceção à teoria monista (art. 318 e 334).

TIPO SUBJETIVO
O crime é punido a título de dolo. Não há modalidade culposa.

CONSUMAÇÃO
Consuma-se com a efetiva facilitação, não importando se completou ou não contrabando ou
descaminho – DELITO FORMAL ou de CONSUMAÇÃO ANTECIPADA.
Cabe tentativa na facilitação por ação, e inadmissível por omissão.

Forma majorada: §2º do art. 327 CP: aumenta a pena de 1/3 quando autores ocupantes de cargos
em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da Adm. direta, sociedade de
economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público.

- Armas e munições – Princípio da Especialidade – armas – Lei 10.826/03 – art. 18; drogas: Lei
11.343/03.

- Ação Penal: pública incondicionada.

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Crimes Contra a Administração Pública
ART. 319 - PREVARICAÇÃO

“Art. 319. Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra
disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal:
Pena — detenção, de três meses a um ano, e multa”.

- BEM JURÍDICO: Regular funcionamento da Administração Pública, lesada pela ação ou omissão
irregular do agente público.

SUJEITOS:
- Ativo: crime próprio – funcionário público. O particular por ser coautor ou participe, desde que
conheça a qualidade de funcionário do outro agente (art. 30 CP).
- Jurado: pode ser responsabilizado criminalmente por prevaricação, conforme previsão do art. 445
CPP.
- Passivo: é o Estado. Particular lesado será vítima secundária.

TIPO OBJETIVO: Condutas típicas:


a) Retardar ato de ofício (crime omissivo);
b) Deixar de realizar ato de ofício (crime omissivo)
c) Realizar ato de ofício contra disposição legal (crime comissivo)

TIPO SUBJETIVO: É o dolo. Além do dolo, o crime exige a especial finalidade de querer satisfazer
interesse pessoal. Não há previsão de forma culposa.

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
O crime se consuma com a omissão, retardamento ou realização do ato. Não é possível
a tentativa nas formas omissivas, pois ou o crime está consumado ou o fato é atípico. Na forma
comissiva, a tentativa é possível.

Forma majorada: §2º do art. 327 CP: aumenta a pena de 1/3 quando autores ocupantes de cargos
em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da Adm. direta, sociedade de
economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público.

A ação penal é pública incondicionada, de competência do Juizado Especial Criminal.

Distinção:
- Corrupção passiva privilegiada (art. 317, §2º) – o agente viola o dever funcional “cedendo a pedido
ou influência de outrem”, ou seja, existe a figura do corruptor no momento da prática do
comportamento.
- Prevaricação – o agente viola o dever funcional para “satisfazer interesse ou sentimento pessoal”,
de modo que não envolve um terceiro corruptor (aquele que faz o pedido ou que é influente).

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Professora Amanda Tavares Borges Página 22


Crimes Contra a Administração Pública
(FCC – 2015 – TCM/RJ) O médico chefe de hospital público que retarda a expedição de atestado de
óbito por animosidade com a família do falecido comete crime de:
(A) exercício arbitrário ou abuso de poder.
(B) falsa perícia.
(C) corrupção passiva privilegiada.
(D) prevaricação.
(E) falsidade de atestado médico.
Gabarito: D

(VUNESP – 2013 – TJ/SP – Escrevente Técnico Judiciário) Os crimes de falsificação de documento


público (297 CP) e de prevaricação têm em comum:
(A) apresentarem mais de uma conduta prevista no tipo.
(B) admitirem a punição também na modalidade culposa.
(C) ambos serem punidos com penas de detenção e multa.
(D) a qualificadora, tratando-se de crime praticado para satisfazer interesse pessoal.
(E) o fato de somente poderem ser praticados por funcionário público.
Gabarito: A
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ART. 319-A CP – PREVARICAÇÃO IMPRÓPRIA OU ESPECIAL

Art. 319-A. Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público, de cumprir seu dever de vedar ao
preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros
presos ou com o ambiente externo:
Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.

O legislador entendeu necessária a criação desse tipo penal em face da constatação de que presos têm
tido fácil acesso a telefones celulares ou aparelhos similares, e que os agentes penitenciários não vêm
dando o combate adequado a esse tipo de comportamento.
Assim, a Lei n. 11.466/2007, além de criar essa figura capaz de punir o agente penitenciário que se
omita em face da conduta do preso, estipulou também que este, ao fazer uso do aparelho, incorre em
falta grave — que tem sérias consequências na execução criminal (art. 50, VII, da Lei de Execuções
Penais, com a redação dada pela Lei n. 11.466/2007).
Com essas providências pretende o legislador evitar que presos comandem suas quadrilhas do interior
de penitenciárias e que deixem de cometer crimes com tais aparelhos, pois é notório que enorme
número de delitos de extorsão vem sendo cometidos por pessoas presas, por meio de telefonemas.

BEM JURÍDICO: regular funcionamento da Administração Pública.

SUJEITOS:
- Ativo: próprio – diretor de penitenciária ou agente público que, no exercício de suas funções, tenha
o dever de impedir que o preso tenha acesso a celulares, rádio ou similar, que permita a comunicação
entre presos ou com o ambiente externo.

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- Funcionários que não exerçam esta função poderão ser coautores ou partícipes, desde que conheçam
da função do agente.
- particular responde pelo art. 349-A CP.
- Passivo: Estado.

TIPO OBJETIVO: deixar de cumprir seu dever funcional.

Prevaricação imprópria ou especial: na falta de nomenclatura específica, o art. 319-A do CP tem sido
chamado de
a) Prevaricação imprópria já que o agente não precisa praticar o crime para “satisfazer interesse
ou sentimento pessoal”
b) Prevaricação especial – diz respeito à violação de um dever funcional específico.

Objetos materiais: aparelho telefônico, rádio e similares (computadores, smartphones) e quaisquer


aparelhos que possibilitem comunicação com o ambiente externo e interno. Também faz referência a
“chips”.

TIPO SUBJETIVO: Dolo, omissivo, caracterizado pela vontade de deixar de cumprir dever legal.
Não exige elemento subjetivo especial do interesse pessoal. Não há previsão de forma culposa.

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA: consuma-se no momento da omissão. Incabível a tentativa.

Forma majorada: §2º do art. 327 CP: aumenta a pena de 1/3 quando autores ocupantes de cargos
em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da Adm. direta, sociedade de
economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público.

Ação Penal Pública Incondicionada.

ART. 320 CP – CONDESCENDÊNCIA CRIMINOSA

Art. 320 CP - Deixar o funcionário, por indulgência, de responsabilizar subordinado que cometeu
infração no exercício do cargo ou, quando lhe falte competência, não levar o fato ao conhecimento
da autoridade competente.
Pena — detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.

BEM JURÍDICO: regular funcionamento da Adm. Pública.


SUJEITOS:
ATIVO: crime próprio, funcionário público hierarquicamente superior àquele que cometeu a falta
funcional. Outros agentes públicos, que não detenham a atribuição para a responsabilização do
infrator, poderão responder na forma dos arts. 29 e 30 CP.
PASSIVO: Estado.
TIPO OBJETIVO: O tipo penal contém duas condutas típicas:
a) deixar o funcionário público, por indulgência, de responsabilizar subordinado que cometeu
infração no exercício do cargo. Trata-se de crime omissivo puro. O agente, tendo o dever legal de

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apurar os fatos e responsabilizar o funcionário pela infração por este cometida, não o faz por
tolerância;
b) quando lhe falte competência, não levar o fato ao conhecimento da autoridade competente. Trata-
se de crime omissivo.

INFRAÇÃO: compreende tanto faltas disciplinares quanto aos crimes.

CONEXÃO COM O EXERCÍCIO DO CARGO: a infração praticada pelo subalterno deve guardar
conexão com o exercício do cargo (como faltas disciplinares, administrativas, corrupção passiva,
concussão, prevaricação) e não a fatos de sua vida particular, mesmo que imorais ou até criminosos.
Isso significa que, se o superior não denunciar o subordinado pela prática de um homicídio, por
exemplo, não estará caracterizada condescendência criminosa, pois tal delito não se relaciona com o
exercício do cargo.

TIPO SUBJETIVO: é o dolo, isto é, a vontade livre e consciente de praticar uma das condutas
típicas. Exige-se também o elemento subjetivo do tipo, contido na expressão “por indulgência”. O
agente, portanto, omite-se por tolerância, brandura.
- Haverá crime de prevaricação se o agente se omitir para atender sentimento ou interesse pessoal.
- Se o fim for a obtenção de vantagem indevida, o crime será de corrupção passiva.
- Se o agente, por culpa, não toma conhecimento da infração praticada pelo funcionário subalterno,
não há configuração do tipo penal. Não há previsão de forma culposa.

Forma majorada: §2º do art. 327 CP: aumenta a pena de 1/3 quando autores ocupantes de cargos
em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da Adm. direta, sociedade de
economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público.

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA: Consuma-se com a simples omissão, ou seja, ciente da infração,


o agente não toma qualquer providência para responsabilizar o funcionário; ou não comunica o fato à
autoridade competente, se não tiver atribuição para fazê-lo.
- Trata-se de crime omissivo puro, portanto a tentativa é inadmissível.
- é um crime de ação penal pública incondicionada. Lei dos Juizados Especiais Criminais -infração
de menor potencial ofensivo, estando sujeita às disposições da Lei n. 9.099/95.

ART. 321 – ADVOCACIA ADMINISTRATIVA

Art. 321 — Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração pública,
valendo-se da qualidade de funcionário:
Pena — detenção, de um a três meses, ou multa.
FORMA QUALIFICADA: Parágrafo único — Se o interesse é ilegítimo.
Pena — detenção, de três meses a um ano, além da multa”.

A ação nuclear do tipo consubstancia-se no verbo patrocinar, isto é, advogar, favorecer, no caso,
interesse privado perante os órgãos da Administração Pública. Pode também ocorrer indiretamente:

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terceira pessoa, no caso, um testa de ferro, encarrega-se de entrar em contato com a Administração
sob as orientações do funcionário. É necessário que o funcionário, ao patrocinar os interesses alheios,
se valha das facilidades que a função lhe proporciona.
Quanto ao sujeito ativo trata-se de crime próprio, pois somente o funcionário público poderá praticá-
lo. É possível a participação de particular mediante induzimento, instigação ou auxílio secundário.
O sujeito passivo é o Estado.
O elemento subjetivo é o dolo, isto é, a vontade livre e consciente de patrocinar interesse privado
perante a Administração Pública. Não importa o fim específico do agente na prática do delito. Na
forma qualificada, o agente deve ter conhecimento da ilegitimidade do interesse.
Trata-se de crime formal.
Consuma-se com o primeiro ato inequívoco de patrocínio, independentemente da obtenção do
resultado pretendido. A tentativa é admissível. Vejamos o seguinte exemplo, citado por Greco: “Uma
petição em que se advoga o interesse de terceiro, sendo, entretanto, o funcionário obstado de, no
momento preciso, apresentá-la a quem de direito”.
Trata-se de crime de ação penal pública incondicionada. Crime de menor potencial ofensivo, sujeito
às disposições da Lei n. 9.099/95.

ART. 323 – ABANDONO DE CARGO PÚBLICO

“Art. 323. Abandonar cargo público, for a dos casos permitidos em lei:
Pena – detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.

§1º Se do fato resulta prejuízo público:


Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa.

§2º Se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa de fronteira:


Pena – detenção, de um a três anos, e multa”.

Trata-se de crime omissivo puro.


A ação nuclear está consubstanciada no verbo abandonar cargo público.
Abandonar é afastar-se, largar. O abandono pode ocorrer de duas formas: pelo mero
afastamento do funcionário ou quando ele não se apresenta no momento devido. Exige-se que o
abandono se dê por tempo juridicamente relevante, pois o que caracteriza o delito é a probabilidade
de dano ou prejuízo para a Administração Pública. Não há abandono do cargo público se houver
anterior pedido de demissão, o qual tenha sido deferido. Enquanto não há o deferimento do pedido,
não é permitido ao funcionário abandonar o cargo público. Se o fizer, haverá a configuração do crime
em apreço.
O elemento subjetivo é o dolo, isto é, a vontade livre e consciente de abandonar o cargo. O
crime consuma-se com o abandono do cargo público por tempo juridicamente relevante, de forma a
criar probabilidade de dano ou prejuízo à Administração Pública. Não é necessária a efetiva causação
de dano à Administração Pública. Por se tratar de delito omissivo próprio, não admite a
forma tentada.

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O sujeito ativo é o funcionário público já nomeado e o sujeito passivo é o Estado.
A ação penal é pública incondicionada. O processo e julgamento será feito pelo Juizado
Especial Criminal na forma simples e qualificada pelo §1º e no §2º é possível a suspensão
condicional do processo.

DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM


GERAL

ART. 328 – USURPAÇÃO DE FUNÇÃO PÚBLICA

“Art. 328. Usurpar o exercício de função pública:


Pena — detenção, de três meses a dois anos, e multa.

Parágrafo único. Se do fato o agente aufere vantagem:


Pena — reclusão, de dois a cinco anos, e multa”.

Trata-se de infração penal cuja finalidade também é tutelar a regularidade e o normal


desempenho das atividades públicas. Usurpar significa desempenhar indevidamente uma atividade
pública, ou seja, o sujeito assume uma função pública, vindo a executar atos inerentes ao ofício, sem
que tenha sido aprovado em concurso ou nomeado para tal função.
O crime se consuma, portanto, no instante em que o agente pratica algum ato inerente à
função usurpada. É desnecessária a ocorrência de qualquer outro resultado.
A tentativa é admissível.
O sujeito ativo: o particular que assume as funções. Parte da doutrina entende que também
comete o crime um funcionário público que assuma, indevidamente, as funções de outro.
O sujeito passivo é o Estado.
Elemento subjetivo é o dolo, pressupondo-se, ainda, que o agente tenha ciência de que está
usurpando a função pública. Se da conduta o agente obtém lucro, vantagem material ou moral,
aplica-se a forma qualificada descrita no parágrafo único.
A ação penal é pública incondicionada. Na modalidade simples o crime sera processado e
julgado pelo Juizado Especial Criminal, não ocorrendo o mesmo para a modalidade qualificada.

ART. 329 – RESISTÊNCIA

Art. 329. Opor-se à execução de ato legal, mediante violência ou ameaça a funcionário competente
para executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio:
Pena — detenção, de dois meses a dois anos.


FORMA QUALIFICADA: §1º Se o ato, em razão da resistência, não se executa:



Pena — reclusão, de um a três anos.


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CÚMULO MATERIAL: §2º As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à
violência” CONCURSO MATERIAL

Objetividade jurídica: a autoridade e o prestígio da função pública.


Sujeito ativo: qualquer pessoa. Não importa se é a pessoa contra quem é dirigido o ato
funcional ou terceiro.
Sujeitos passivos: O Estado, que tem interesse no cumprimento dos atos legais, e de forma
secundária, o funcionário público contra quem é dirigida a violência ou ameaça.
Para a existência do crime é necessário que o funcionário público seja competente para o
cumprimento do ato, conforme exige a descrição típica do delito. Assim, o funcionário público
incompetente não pode ser sujeito passivo de resistência. Também haverá crime se for empregada
violência ou ameaça apenas contra terceiro que esteja ajudando o funcionário público a cumprir a
ordem. Nesse caso, não importa se houve solicitação de ajuda pelo funcionário público ou se houve
adesão voluntária.
Consumação. No momento em que for empregada a violência ou ameaça. Trata-se de
crime formal, pois, para a consumação, não se exige que o sujeito consiga impedir a execução do ato.
Nesse caso, o que seria exaurimento funciona como qualificadora.
Tentativa. É possível.
A ação penal é pública incondicionada.

ART. 330 - DESOBEDIÊNCIA

“Art. 330 - Desobedecer a ordem legal de funcionário público:


Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa”.

O núcleo do tipo é desobedecer, no sentido de desatender ou recusar cumprimento à ordem


legal de funcionário público competente para emiti-la. Não há emprego de grave ameaça ou de
violência à pessoa do agente público ou de outra pessoa qualquer, sob pena de desclassificação para o
crime de resistência.
Trata-se de crime comum, pois o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, desde que tenha o
dever jurídico de cumprir ou não a ordem legal.
O sujeito passivo é o Estado, titular do objeto jurídico protegido pela norma penal. É
também o funcionário público competente para emitir a ordem.
O elemento subjetivo é o dolo, isto é, a vontade livre e consciente de não obedecer a ordem
legal de funcionário público.
O crime se consuma no momento em que o agente pratica a ação de que deveria se abster.
A tentativa somente é possível na forma comissiva do descumprimento da ordem legal.
A ação penal é pública incondicionada. O processo e julgamento compete ao Juizado
Especial Criminal, já que se trata de crime de menor potencial ofensivo.

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- Análise crítica do crime de Desobediência


Começaremos pela análise das excludentes de ilicitude. Se o agente estiver acobertado por
alguma causa excludente da ilicitude, não há a caracterização do delito em apreço. Por exemplo:
advogado que se recusa a prestar depoimento para resguardar o sigilo profissional (exercício regular
do direito); médico que se recusa a fornecer informações relativas a seu paciente.

Faz-se necessário algumas distinções entre os seguintes crimes:


a) Desobediência e resistência: conforme já estudado, esse delito é semelhante ao crime de
resistência, uma vez que em ambos o sujeito ativo pretende subtrair-se à execução de ato legal;
contudo, no crime de resistência ocorre o emprego de violência ou ameaça contra funcionário
público.
b) Desobediência e exercício arbitrário das próprias razões: nas hipóteses em que o agente
tira, suprime, destrói ou danifica coisa própria, que se acha em poder de terceiro por determinação
judicial ou convenção, não há configuração do delito de desobediência, mas sim o delito previsto no
art. 346 do CP, cuja pena, inclusive, é mais severa.
c) Desobediência a decisão judicial sobre perda ou suspensão de direito: constitui crime
previsto no art. 359 do CP a ação de exercer função, atividade, direito, autoridade ou múnus de que
foi suspenso ou privado por decisão judicial.

ART. 331 - DESACATO

“Art. 331. Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela:


Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa”.

A ação nuclear consubstancia-se no verbo desacatar.


O desacato consiste na prática de qualquer ato ou emprego de palavras que causem vexame,
humilhação ao funcionário público. Como se trata de crime comum qualquer pessoa pode configurar
como sujeito ativo do crime em questão.
O sujeito passivo é o Estado titular do bem jurídico tutelado.
O elemento subjetivo é o dolo, isto é, a vontade livre e consciente de praticar os atos ou
proferir palavras ofensivas, isto é, humilhantes, desprestigiadoras.
Consuma-se no momento em que os atos ofensivos são praticados ou as palavras ultrajantes
são irrogadas contra o funcionário público.
Para Greco, dependendo do meio empregado, é possível a tentativa.
A ação penal é pública incondicionada.

ART. 332 - TRÁFICO DE INFLUÊNCIA

Art. 332. Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para ou- trem, vantagem ou promessa de
vantagem, a pretexto de influir em ato praticado por funcionário público no exercício da função:

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Pena — reclusão, de dois a cinco anos, e multa.
Parágrafo único. A pena é aumentada da metade, se o agente alega ou insinua que a vantagem é
também destinada ao funcionário”.

Tutela-se a confiança na Administração Pública, cujo prestígio pode ser afetado pelo agente
que, gabando-se de influência sobre funcionário público, pede, exige, cobra ou recebe qualquer
vantagem ou promessa de vantagem, mentindo que irá influir em ato praticado por tal funcionário no
exercício de sua função.
Causa de aumento de pena: O crime de tráfico de influência tem sua pena aumentada de
metade quando o agente diz ou dá a entender que a vantagem é também endereçada ao funcionário. É
evidente, mais uma vez, que, se a vantagem efetivamente se destina ao funcionário público, que está
mancomunado com o agente, há crimes de corrupção passiva e ativa.
Consumação: No exato momento em que o agente solicita, exige, cobra ou obtém a
vantagem ou promessa de vantagem.
Tentativa: a tentativa é possível, como, por exemplo, na hipótese de solicitação ou
exigência feita por escrito, que se extravia. Se o agente visa vantagem patrimonial a pretexto de
influir especificamente em juiz, jurado, órgão do Ministério Público, funcionário da justiça, perito,
tradutor, intérprete ou testemunha, o crime é o de exploração de prestígio, descrito no art. 357.

ART. 333 - CORRUPÇÃO ATIVA

Art. 333. Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo a
praticar, omitir ou retardar ato de ofício
Pena — reclusão, de dois a doze anos, e multa.
Parágrafo único. A pena é aumentada de um terço, se, em razão da vantagem ou promessa, o
funcionário retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional”.

De acordo com a teoria monista ou unitária, todos os que contribuírem para um crime
responderão por esse mesmo crime. Na modalidade “solicitar” da corrupção passiva, não existe,
entretanto, figura correlata na corrupção ativa. Com efeito, na solicitação a iniciativa é do
funcionário público, que se adianta e pede alguma vantagem ao particular. Em razão disso, se o
particular dá, entrega o dinheiro, só existe a corrupção passiva. O fato é atípico quanto ao particular,
pois ele não ofereceu nem mesmo prometeu, mas tão somente entregou, o que lhe foi solicitado.
Como tal conduta não está prevista em lei, o fato é atípico.
A tentativa é possível apenas na forma escrita.
Para que exista a corrupção ativa, o sujeito, com a oferta ou promessa de vantagem, deve
visar fazer com que o funcionário:
a) Retarde ato de ofício.
b) Omita ato de ofício.
c) Pratique ato de ofício.

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Análise normativa do crime de Impedimento, perturbação ou fraude de concorrência

“Art. 335. Impedir, perturbar ou fraudar concorrência pública ou venda em hasta pública,
promovida pela administração federal, estadual ou municipal, ou por entidade paraestatal; afastar
ou procurar afastar concorrente ou licitante, por meio de violência, grave ameaça, fraude ou
oferecimento de vantagem:
Pena — detenção, de seis meses a dois anos, ou multa, além da pena correspondente à violência.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem se abstém de concorrer ou licitar, em razão da
vantagem oferecida”.

Esse dispositivo foi revogado pelos arts. 93 e 95 da Lei n. 8.666/93 (Lei de Licitações), que
pune as mesmas condutas com penas maiores.

Análise normativa do crime de Inutilização de edital ou de sinal

Art. 336. Rasgar, ou de qualquer forma, inutilizar ou conspurcar edital afixado por ordem de
funcionário público; violar ou inutilizar selo ou sinal empregado, por determinação legal ou por
ordem de funcionário público, para identificar ou cerrar qualquer objeto:
Pena — detenção, de um mês a um ano, ou multa”.

Condutas típicas. A primeira figura se refere a edital afixado por ordem de funcionário
público, que pode ser administrativo, judicial ou legislativo. Abrange as condutas de rasgar, inutilizar
e conspurcar. A segunda figura consiste em inutilizar ou violar (transpor) o obstáculo que o selo ou
sinal representam. Estes visam, normalmente, dar garantia oficial à identificação ou ao conteúdo de
certos pacotes, envelopes etc. É necessário que tenham sido empregados por determinação legal ou
de funcionário público competente.
Consumação. No momento em que o agente realiza a conduta típica, independentemente da
produção de qualquer outro resultado.
Tentativa: é possível.

Análise normativa do crime de Subtração ou inutilização de livro ou documento

Art. 337 — Subtrair, ou inutilizar, total ou parcialmente, livro oficial, processo ou documento
confiado à custódia de funcionário, em razão de ofício, ou de particular em serviço público:
Pena — reclusão, de dois a cinco anos, se o fato não constitui crime mais grave”.

Condutas típicas:
a) subtrair: tirar, retirar;

b) inutilizar: tornar imprestável.
Sujeito ativo: pode ser qualquer pessoa.

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Sujeito passivo. O Estado e, em segundo plano, as pessoas prejudicadas pela conduta.
Objeto material. É o livro oficial, processo ou documento, que esteja confiado à custódia
de funcionário em razão de ofício, ou de particular em serviço público.. O delito do art. 337, caput, é
expressamente subsidiário.
Consumação. Com a subtração ou inutilização.
Tentativa: É possível.

Análise normativa do crime de Sonegação de contribuição previdenciária

Art. 337-A. Suprimir ou reduzir contribuição social previdenciária e qualquer acessório, mediante as
seguintes condutas:
I — omitir de folha de pagamento da empresa ou de documento de informações previsto pela
legislação previdenciária segurados empregado, empresário, trabalhador avulso ou trabalhador
autônomo ou a este equiparado que lhe prestem serviços;
II — deixar de lançar mensalmente nos títulos próprios da contabilidade da empresa as quantias
descontadas dos segurados ou as devidas pelo empregador ou pelo tomador de serviços;
III — omitir, total ou parcialmente, receitas ou lucros auferidos, remunerações pagas ou creditadas
e demais fatos geradores de contribuições previdenciárias;
Pena — reclusão, de dois a cinco anos, e multa”.

Condutas típicas. Trata-se de crime de ação vinculada, que só se configura quando a


sonegação se reveste de uma das formas descritas nos incisos I, II e III acima descritos.
Objeto material. As contribuições sociais, cujas hipóteses de incidência e respectivos
valores são definidos em lei, e seus acessórios.
Sujeito ativo. Somente o responsável pelo lançamento das informações nos documentos
endereçados à autarquia.
Sujeito passivo. O Estado.
Consumação: no momento em que o agente suprime ou reduz a contribuição social.
Tentativa: É incabível, pois as condutas são omissivas.
Extinção da punibilidade: As hipóteses previstas na nossa legislação que implicam a
extinção da punibilidade no crime em análise são as seguintes:
a) se o agente, espontaneamente, declara e confessa as contribuições, 
importâncias ou
valores e presta as informações devidas à Previdência Social, na forma definida em lei ou
regulamento, antes do início da ação fiscal (art. 337-A, § 1o). A ação fiscal se inicia com a
notificação pessoal do contribuinte a respeito de sua instauração;
b) se a pessoa jurídica relacionada com o agente efetuar o pagamento integral dos débitos,
inclusive acessórios, em qualquer momento da persecução penal.
Perdão judicial ou aplicação somente de multa: nos termos do § 2o, o juiz pode deixar de
aplicar a pena ou aplicar somente a de multa, se o agente for primário e de bons antecedentes, e desde
que o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior ao estabelecido pela

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Crimes Contra a Administração Pública
Previdência Social, administrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas
execuções fiscais.
Causa de diminuição de pena: estabelece o art. 337-A, § 3o, que se o empregador for
pessoa física e sua folha de pagamento mensal não ultrapassar R$ 1.510,00, o juiz poderá reduzir a
pena de um terço até a metade ou aplicar somente a multa. Esse valor será reajustado nas mesmas
datas e nos mesmos índices do reajuste dos benefícios da Previdência Social.

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