DIREITO DO TRABALHO
DIREITO DO TRABALHO
DIREITO DO TRABALHO
www.iesde.com.br
9 788538 732457
EXAME DE ORDEM
DIREITO
DO TRABALHO
5.a edição
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
__________________________________________________________________________________
S696d
6.ed.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-3245-7
12-7581.
CDU: 349.2(81)
Teoria geral
do Direito do Trabalho
37 Terminologia da disciplina
37 Autonomia do Direito do Trabalho
39 Taxonomia
39 Relações com outros ramos do Direito
40 Divisão interna
Empregador
99 Conceito
104 Grupo econômico ou grupo de empresas
105 Sucessão de empregadores
107 Estado como empregador
108 Terceirização
Remuneração e salário
113 Remuneração
114 Salário
116 Salário mínimo
118 Salário profissional
ou piso salarial profissional
118 Salário normativo
ou piso salarial normativo
119 Salário contratual
119 Elementos do complexo remuneratório
120 Elementos do complexo salarial
(salário lato sensu)
123 Elementos não integrantes
do complexo remuneratório
Duração do trabalho
131 Regras: aspecto ativo
135 Contrato a tempo parcial
136 Regras: aspectos ativo e passivo,
intervalos, repouso semanal e férias
Terminação do
contrato de trabalho
151 Generalidades
151 Extinção do contrato de trabalho (caducidade)
152 Dissolução do contrato de trabalho
Obrigações decorrentes
da admissão e da terminação
do contrato de emprego
161 Admissão do empregado
162 Indenização por tempo de serviço
e evolução da proteção à relação de emprego:
fundamento jurídico
164 Indenização nos contratos a termo
165 Iniciativa do empregador
166 Indenização adicional
e despedida discriminatória
166 Procedimentos e direitos
concernentes à terminação do contrato
167 Estabilidade e garantia de emprego
Normas especiais
de tutela do trabalho
171 Trabalho da mulher e do menor
174 Contratos de trabalho especiais
Flexibilização:
terceirização e cooperativas
179 Flexibilização
180 Terceirização
183 Cooperativas
Relações coletivas
de trabalho
185 Relações individuais e coletivas
186 O modelo sindical na ordem
jurídica trabalhista e na Constituição
188 Estrutura sindical, conflitos coletivos
e suas soluções
Referências
Anotações
O vocábulo trabalho
Dissentem os autores acerca da etimologia do vocábulo trabalho, ora perseguin-
do-a com base em tripalium, “instrumento de tortura, constituído de cavalete de pau
(tres ‘três’ + palu ‘pau’)” (OLIVEIRA, 1994, p. 30), ora a partir do latim trabs, trabis,
“viga, de onde se originou em primeiro lugar um tipo trabare, que deu no castelhano
trabar, etimologicamente obstruir o caminho por meio de uma viga”, conforme lições do
professor Evaristo de Moraes Filho, citado por Irany Ferrari (1998, p. 30).
De Plácido e Silva (1987, p. 1.573) conceitua trabalho como: “todo esforço físico,
ou mesmo intelectual, na intenção de realizar ou fazer qualquer coisa”. Poderíamos
adotar esse conceito enquanto gênero, para buscar dentro dele vários sentidos: religioso,
econômico, jurídico, sociológico. Quanto ao aspecto econômico do fenômeno trabalho,
Doutor em Direito do Trabalho pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Membro da Academia Nacional
de Direito do Trabalho (ANDT). Professor da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Juiz do Trabalho da 20.ª Região.
afigura-se como toda atividade humana destinada à produção de um bem ou serviço, en-
quanto, sob a óptica do Direito do Trabalho, a ênfase se encontra, sem dúvida alguma,
no trabalho subordinado (relação de emprego ou contrato individual de trabalho), em
torno do qual gravita a grande maioria de seus institutos.
Daí em diante, a escravidão se alastra quer pelas guerras, quer pelo nascimento,
pois os que nasciam de pais escravos em geral preservavam tal condição. A praxe disse-
minada durante a Antiguidade teve na Grécia e em Roma ampla utilização.
Era exíguo, na Grécia e em Roma, o trabalho prestado por homens livres. Não
havia regulamentação que se assemelhasse, em seus contornos, à construção doutri-
nal do Direito Laboral. Daí porque não se nos afigura qualquer referência técnica a
Direito do Trabalho na Antiguidade, não obstante se reconheçam, mesmo em alguns
códigos de então, esparsas disposições sobre o trabalho humano.
[...] o Direito Romano o regulou como fruto de um contrato denominado – locatio conduc-
tio. Era um contrato que se realizava quando “se prometia, por certa paga, uma coisa para
fruir, um serviço para prestar, uma obra para fazer”. Este contrato podia apresentar-se sob
três modalidades: a) locatio rei; b) locatio operarum; c) locatio operis faciendi.
O trabalho não era livre, uma vez que somente se permitia o exercício da profissão
aos que fizessem parte da corporação. Nela se organizavam três níveis hierárquicos pre-
cisos: abaixo, os aprendizes, seguidos dos companheiros, todos submetidos ao mestre.
As corporações foram extintas em 17 de junho de 1791, pela Lei Le Chapelier, que, pre-
conizando a liberdade de trabalho, entendia que elas eram atentatórias aos direitos do
homem e do cidadão. Estamos, então, na Primeira Revolução Industrial.
1 Noticia Amauri Mascaro Nascimento (1996. p. 16) “que a primeira máquina a vapor saiu das fábricas de Soho, em 1775,
destinando-se a uma mina de carvão. Depois, outra máquina foi feita para mover altos-fornos, em Broseley. Assim, a produção
mecânica do movimento punha-se em substituição à produção hidráulica. As suas aplicações subsequentes foram muitas, ser-
vindo para o abastecimento de águas de Paris, para as empresas industriais da Inglaterra, para as atividades dos moinhos, para a
indústria cerâmica e, também, para a indústria de tecelagem. Na Inglaterra, em 1800, podiam-se contar 11 máquinas a vapor em
Birmingham, 20 em Leeds e 32 em Manchester”.
2 O conceito de fonte material pode ser apreendido a partir das lições de Maria Helena Diniz (1998, p. 573-574): “Fonte material
ou real que aponta a origem do direito, configurando sua gênese, condicionando seu desenvolvimento e determinando o conteúdo
das normas. Fontes materiais ou reais são não só os fatores sociais, que abrangem os históricos, os religiosos, os naturais (clima,
solo, raça, natureza geográfica do território e constituição anatômica e psicológica do homem), os demográficos, os higiênicos,
os políticos, os econômicos e os morais (honestidade, decoro, decência, fidelidade, respeito ao próximo), mas também os valores
de cada época (ordem, segurança, paz social, justiça), dos quais fluem as normas jurídico-positivas”. E prossegue: “Tais fatores
decorrem das convicções, das ideologias e das necessidades de cada povo, em certa época. Atuam como fontes de produção do
direito positivo, pois condicionam o aparecimento e as transformações das normas jurídicas. As fontes materiais, portanto, não
são o direito positivo, mas o conjunto de fatos sociais determinantes do conteúdo do direito e dos valores que o direito procura
realizar fundamentalmente sintetizados no conceito amplo de justiça”.
3 Mais à frente veremos que a proteção consiste em técnica ou quando muito função secundária do Direito do Trabalho.
Quanto ao trabalho, era reconhecido como livre, sendo qualquer restrição aten-
tatória aos direitos do homem e do cidadão – tanto assim que foram abolidas as cor-
porações de ofício. As partes (empregado e empregador) poderiam, então, contratar da
forma que melhor lhes aprouvesse. Eis a sutileza da construção: qualquer interferência
do Estado se afigurava como ilegítima e violadora das liberdades individuais.
Surgem, então, as primeiras revoltas, que se dirigiam quase que de maneira ino-
cente contra o que parecia aos trabalhadores o causador da miséria em que viviam: as
máquinas. A solução pensada era a destruição destas, e com isso retornariam os empre-
gos e viria a melhoria da sua condição social: eram os ludistas. Com formas diversas, as
crescentes revoltas desestruturavam a produção, atingiam em cheio o lucro e chamavam
a atenção do antes impassível Estado.
Impendia uma revisão das ideias liberais, para as quais influíram vários aspec-
tos. A Doutrina Social da Igreja exerceu papel determinante no surgimento do Direito
do Trabalho; a visão de solidariedade e sentimento cristão para com os trabalhadores
e a justiça social, todas reveladas nas encíclicas papais desde a Rerum novarum, serão
determinantes para justificar uma nova postura por parte do Estado.
4 É o que se verifica na Lei contra a Conjura (1799/1800), em que o sindicalismo é tido como movimento criminoso.
5 Reconhece Segadas Vianna (1993, p. 55-56) que, em quase todo o mundo, as normas em Direito do Trabalho tiveram tal
origem, e assim se reporta: “Os movimentos ascendentes, que deram origem às legislações trabalhistas do México, Inglaterra
e França, caracterizavam-se pela sua coexistência com uma história social marcada pela luta de classes, com trabalhadores for-
temente apoiados por suas organizações profissionais, com o espírito de classe bem nítido e com a existência de indústrias ou
atividades produtivas arregimentando grandes massas de trabalhadores”.
que: “Entre o forte e o fraco, entre o rico e o pobre, é a liberdade que escraviza, é a lei
que liberta” (apud VIANNA, 1993, p. 37).
6 Preferimos, todavia, augurando maior precisão terminológica, utilizar o termo flexibilização ou quando muito adaptabilidade.
de proteção, na medida em que não se pode apartar o trabalho da pessoa que o presta. A
constitucionalização do Direito Laboral foi seguida de igual sorte no mundo e no Brasil.
Análise descritiva
do campo normativo da CF/88
Pela importância da matéria, faremos a seguir a análise dos principais pon-
tos de conteúdo normativo próprio que se encontram espraiados nos artigos 7.º a 11;
114 da CF; e no artigo 10 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT).
Direito individual
Em várias passagens, o legislador extraordinário de 1988 inovou em relação à
ordem jurídica pretérita, a principiar pelo caput do artigo 7.º da novel Carta Constitu-
cional. Dispôs o legislador que: “São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além
de outros que visem à melhoria de sua condição social”, e elencou de pronto extenso
rol de direitos nos 34 incisos que seguem e em seu parágrafo único. Todavia, ao repor-
tar-se a direitos de trabalhadores urbanos e rurais, procedeu o legislador à equiparação
quanto aos direitos das duas categorias de empregados antes referidas, fulminando de
morte a histórica distinção e exclusão disposta originalmente na Consolidação das Leis
do Trabalho (CLT) em seu artigo 7.º, “b” 1. Por conseguinte, após o advento da Cons-
tituição, restou prejudicado o citado artigo que não mais se afigura aplicável, sendo
assegurados os mesmos direitos a trabalhadores urbanos e rurais.
Frise-se que não se pode confundir igualdade de direitos com direito a igual regu-
lamentação, ou seja, embora os direitos das duas espécies de empregados sejam os mes-
mos, pode haver diferença quanto à regulamentação destes no nível infraconstitucional;
por exemplo, urbanos e rurais fazem jus a adicional noturno, por aplicação do artigo 7.º,
IX 2, da CF. Todavia, os percentuais podem ser, como de fato são, distintos (20% e 25%,
respectivamente), sem que com isso se incida em vício de inconstitucionalidade.
1 Dispõe o referido artigo 7.º, “b”, da CLT que: “Os preceitos constantes da presente Consolidação, salvo quando for, em cada
caso, expressamente determinado em contrário, não se aplicam: b) aos trabalhadores rurais, assim considerados aqueles que,
exercendo funções diretamente ligadas à agricultura e à pecuária, não sejam empregados em atividades que, pelos métodos de
execução dos respectivos trabalhos ou pela finalidade de suas operações, se classifiquem com industriais ou comerciais”.
2 “Remuneração do trabalho noturno superior à do diurno.”
3 A CLT assegurava em seu artigo 492 a chamada estabilidade decenal, ou seja, que o empregado que contasse mais de dez anos
de serviços para o mesmo empregador não poderia ser despedido, regra geral, senão pela prática de justa causa especialmente
qualificada (CLT, art. 493) e através do vetusto inquérito para apuração de falta grave. A norma era aplicável plenamente até o
advento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (Lei 5.107/66), e após esta data apenas para os não optantes pelo FGTS.
Após essa data, não há que se falar mais em opção, isso porque o Constituinte
estendeu genericamente aos trabalhadores o regime agora único de FGTS9.
tempo de serviço. Típico dos contratos por prazo indeterminado, o que, regra geral, se
dá com o contrato de trabalho, houve por bem o constituinte indicar que o comunicado,
uma das dimensões do aviso prévio10, deve ter por medida a maior ou menor antigui-
dade do obreiro, respeitado um mínimo de 30 dias. Tal dispositivo é regulamentado
pela Lei 12.506/2011, que assim dispõe:
Art 1.º O aviso prévio, de que trata o capítulo VI do Título IV da consolidação das Leis
do trabalho – CLT, aprovada pelo Decreto – Lei n.º 5.452, de 1.º de maio de 1943, será
concedido na proporção de 30 (trinta) dias aos empregados que contém até 1 (um) ano de
serviço de serviço na mesma empresa.
Parágrafo único. Ao aviso prévio previsto neste artigo serão acrescidos 3 (três) dias por
ano de serviço prestado na mesma empresa, até o máximo de 60 (sessenta) dias, perfa-
zendo um total de até 90 (noventa) dias.
Nos incisos IV e V do artigo 7.º da CF, cogita o legislador dos conceitos de salá-
rio mínimo e piso salarial, introduzindo profundas modificações no primeiro na medida
em que amplia as prestações em que se desdobra o salário mínimo, incluindo novas, a
exemplo do lazer. Além disso, amplia o espectro do instituto ao transformá-lo em salário
de família, pois não se destinaria apenas ao trabalhador, mas também à subsistência da
referida unidade familar. Por fim, de modo a suprimir a utilização do salário mínimo
como parâmetro de indexação da economia, proíbe a sua vinculação à outra finalidade
que não a de especificar o menor valor de retribuição passível de ser pago pelo empre-
gador a qualquer empregado como contraprestação de trabalho (conceito de salário
mínimo). Não se pode olvidar que, sendo piso salarial o menor valor que pode ser pago
pelo empregador aos empregados que pertençam a determinada categoria ou profissão,
os conceitos são essencialmente distintos, pautando-se o primeiro pela generalidade,
aplicável que é a qualquer trabalhador, e o último pela especialidade, incidindo apenas
sobre parcela dos empregados, quais sejam, os que integram uma determinada categoria.
Retira-se dos conceitos a inconstitucionalidade das leis estaduais na medida em que,
afastando-se do conceito de piso salarial, o qual implica especificidade conforme dito
acima, pretenderam trazer valor mínimo de retribuição para o referido estado, violando
a Constituição por penetrar em esfera diversa, qual seja, o inciso IV ao invés do V do
artigo 7.º da CF, que diz ser o salário mínimo nacionalmente unificado.
O legislador consagrou no artigo 7.º, VI, da CF, a ideia, para muitos, do princípio
da irredutibilidade salarial ou, como preferimos, da irredutibilidade salarial relativa, na
medida em que introduz a impossibilidade de diminuição do estipêndio, permitida a
flexibilização por tutela sindical, por meio de acordo ou convenção coletiva.
Assim, fica prejudicada em parte a Lei 4.923/6511 que previa duas hipóteses de
redução de salário, por acordo ou convenção coletiva, hipótese recepcionada e, por auto-
rização da Justiça do Trabalho, esta última fração derrogada pela nova dicção Constitu-
cional.
A norma consagrada no inciso VII do artigo 7.º da CF12 apenas reforça a previsão
abstrata do salário mínimo da qual tratamos acima, na medida em que espanca dúvidas
sobre a aplicação do mínimo mesmo que o empregado não tenha salário com valor fixo.
Rememore-se as formas de estipulação do salário por unidade de tempo, por produção e
por tarefa; podem implicar salário variável, verbi gratia, o comissionista, sendo que, se o
empregado não atinge o valor do mínimo legal, terá direito à complementação paga pelo
empregador, que, por evidente, não poderá se compensar com valores a serem pagos a
posteriori em meses subsequentes, pois isso implicaria transferir ao empregado o risco da
atividade econômica, vedado pelo artigo 2.º da CLT13.
11 Discussão relevante e não pacificada reside na recepção e consequente vigência da Lei 4.923/65 após a CF de 1988, que estatui
limites percentuais máximos para a diminuição do salário e a necessidade de proporcional redução da jornada.
12 Artigo 7.º, VII, da CF: “Garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebam remuneração variável.”
13 Vem a propósito do tema o conceito amplamente aceito em doutrina e jurisprudência de alteridade.
14 Artigo 7.º, X, da CF – “proteção ao salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção dolosa”.
15 Fala-nos do princípio em questão o professor Paulo de Souza (1998, p. 121-122): “Por outra parte, o legislador, para fazer
valer o princípio constitucional da reserva legal, formula taxativamente esquemas, modelos, tipos, em que se descreve, com pos-
sível clareza, precisão e brevidade os comportamentos humanos passíveis de repressão penal. Criam-se, assim, os tipos penais:
materialização, concretização do princípio nullum crimen nulla poean sine lege. Não sem razão, afirma-se que o legislador trabalha
com tipos e pensa com tipos. É só delituosa a conduta humana que se lhe amolde rigorosamente. O tipo penal, pois, exerce – pre-
tende exercer – importante função de garantia, já que somente se tem por delituoso o fato, prévia e taxativamente descrito como
tal, numa norma penal; que se ajuste, enfim, àquele esquema abstratamente concebido pelo legislador.” E explica por fim que: “É
por isso que as consequências básicas do princípio ‘não há pena sem lei’ se projetam sobre o tipo legal. Nulla poena sine lege scripta:
exclusão de tipos extralegais, em especial de origem consuetudinário. Nulla poena sine lege stricta: proibição da analogia fundante
ou agravante da pena. Nulla poena sine lege praevia: exclusão de efeito retroativo de tipos novos e agravados.”
O inciso XII do artigo 7.º da CF nos fala em salário-família. A doutrina deixa ine-
quívoca a índole previdenciária do benefício. Nesse sentido o magistério do saudoso
Valentin Carrion (2005, p. 81):
[...] apesar da denominação, não se trata de salário, mas de benefício de caráter previden-
ciário, adiantado pela empresa vinculada ao sistema geral da previdência social, ao empre-
gado (salvo ao doméstico), de acordo com o número de filhos, ou equiparados.
16 Referimo-nos, por exemplo, ao que a CLT chama de empregador por equiparação (CLT, art. 2.º, §1.º).
17 Hipótese possível seria a ocorrência de estado pré-falimentar e como forma de buscar sua reversão.
18 Ao tratar do tema ao que se dessume da nomenclatura dos capítulos da obra, prefere o professor Amauri Mascaro Nascimento
(2005) a expressão jornada de trabalho. Assim justifica: “A segunda (referindo-se às denominações), duração do trabalho, é consi-
derada extensa demais, porque teria de abranger o estudo do repouso semanal e das férias além de todo descanso.”
19 O conceito pode ser extraído das lições de Godinho Delgado (2004, p. 883). “Enquadra-se no tipo legal em exame o sistema
de trabalho que coloque o empregado, alternativamente, em cada semana, quinzena ou mês, em contato com as diversas fases do
dia e da noite, cobrindo as 24 horas integrantes da composição dia/noite”.
20 Lei 605/49.
21 Artigo 143 da CLT.
22 A respeito, algumas edições da CLT trazem, em flagrante atecnia, modificados os dispositivos com os percentuais de adicio-
nal de horas extras, v.g., artigo 59, parágrafo 1.º. Vale lembrar que para se alterar uma lei é necessário norma da mesma hierar-
quia, ou seja, a redação da CLT não mudou; apenas o intérprete deve, na aplicação dos dispositivos da CLT, atentar para o limite
mínimo de 50% previsto na Constituição.
23 Não se deve confundir licença-maternidade, que é o direito de a gestante se afastar do trabalho sem prejuízo do salário pelo
período imediatamente anterior e posterior ao parto (CLT, art. 392), contando 120 dias, com a estabilidade da gestante, que é a
proscrição de exercício pelo empregador do direito potestativo de despedida da empregada gestante, da confirmação da gravidez
até cinco meses após o parto (ADCT, art. 10).
24 Gestante. Estabilidade provisória. I. O desconhecimento do estado gravídico pelo empregador não afasta o direito ao paga-
mento da indenização decorrente da estabilidade (TST, Súmula 244).
25 Segundo a nova redação da Súmula 244 do TST, a estabilidade da gestante não assegura reintegração, apenas salários e van-
tagens do período, exceto se esta se der durante o período estabilitário.
26 A expressão deficiente físico, de nítido cunho pejorativo, vem sendo substituída pela presente, reconhecida pelos psicólogos
como mais indicada.
A prescrição pode ser conceituada como a perda do direito de ação pela inação do seu
titular, sendo tratada no artigo 7.º, XXIX, da Carta Magna. Pode ser de dois tipos: total
ou parcial; a primeira fulmina por completo o direito de ação, e a última apenas fração
deste.
27 Artigo 189 e seguintes. Exige-se, quando discutida em Juízo a questão, que se realize perícia, sendo hipótese de prova legal,
consoante artigo 195, parágrafo 2.º, da CLT.
Após o extenso rol de direitos referido acima, finaliza o legislador com o trato do
doméstico (CF, art. 7.º, parágrafo único). Em relação a ele, e mantendo injustificável tra-
tamento desfavorável à aludida categoria30, indica o legislador expressamente os incisos
e os consequentes direitos aplicáveis ao doméstico, quais sejam: salário mínimo; irredu-
tibilidade salarial; décimo terceiro salário; repouso semanal remunerado; licença-mater-
nidade e paternidade; aviso prévio; aposentadoria e integração à Previdência Social.
Direito coletivo
Tratou o legislador, nos artigos de 8.º a 11 da CF, do Direito Coletivo do Trabalho.
A CF fraciona em parte o sistema anterior em matéria de liberdade sindical, ao proceder
relativa desvinculação do sindicato em relação ao Estado. Dizemos relativa, eis que se
tornou despicienda autorização estatal para a existência do sindicato (antiga carta de
reconhecimento sindical), e proibiu a interferência do Estado nos sindicatos, no que foi
28 O avulso é espécie de trabalhador portuário que presta serviços por meio do sindicato ou do órgão gestor de mão de obra.
29 Após longos debates doutrinários e jurisprudenciais, o Supremo Tribunal Federal (STF) entendeu em controle concentrado
de constitucionalidade que a aposentadoria não extingue o contrato de trabalho.
30 Vide a previsão do artigo 7.º, “a”, da CLT.
Tudo isso nos leva a falar na existência de uma liberdade sindical mitigada.
Terminologia da disciplina
Sistematizando o que vimos, no momento posterior à Revolução Industrial o
Direito do Trabalho desponta como disciplina autônoma.
Dos três pressupostos, talvez o mais relevante seja o terceiro. Nos princípios,
ter-se-á a unificação e a sistematização das normas de determinada disciplina jurídica,
revelando-lhes o sentido latente. Célebre se tornou a classificação do uruguaio Amé-
rico Plá Rodriguez, que elenca os seis princípios basilares do Direito Laboral, a saber:
proteção, consubstanciado em três regras (in dubio pro misero, norma mais favorável e
condição mais benéfica); irrenunciabilidade dos direitos; continuidade da relação de
emprego; primazia da realidade; razoabilidade e boa-fé.
Taxonomia
Questão que não pode ser ignorada consiste em proceder à localização do Direito
do Trabalho no âmbito da ciência jurídica, ou seja, exercitar a taxonomia.
classificações, que não passam, portanto, de categorias ideais. Daí a necessidade, para
minorar os efeitos das classificações, de enfatizar a inter-relação dos diferentes ramos
do Direito.
Divisão interna
É pertinente fixar, a esta altura, a divisão interna do Direito do Trabalho. Os auto-
res apresentam múltiplas classificações, sendo possível divisar, entrementes, dois grandes
ramos: Direito Individual do Trabalho e Direito Coletivo do Trabalho. Poderíamos mesmo falar
em subdividir o fenômeno laboral, em sentido estrito, na forma acima proposta.
No Direito Individual, viceja a preocupação com cada uma das relações de traba-
lho verificadas entre empregado e empregador. Estão compreendidos nele o trato dos
sujeitos do contrato de trabalho, seus elementos, alteração, suspensão ou interrupção e
terminação. Ocupa-se, ainda, da duração do trabalho e da remuneração, dentre tantos
outros temas, voltados, em perspectiva mais específica, para disciplinar cada um dos
ajustes que envolvem as condições de trabalho subordinado.
1 Muitos autores advogam a utilização de Direito Sindical, como Mascaro Nascimento. Outros preferem Direito Sindical e Coletivo,
como Rodrig ues Pinto (2003).
2 Sobre a distinção entre normas de ordem pública e normas indisponíveis, conceitos inconfundíveis, ver acima o que falamos
em sede de taxonomia.
associações que conjugam seus respectivos interesses e destes com o Estado, gravitando
sobre o trabalho subordinado e eventualmente sobre outros tipos de relações de labor
(SOUSA, 2002).
cia, que, por se enquadrarem no conceito proposto de fonte, detêm tal qualidade, pois
delas surge direito, como veremos à frente.
Ainda se pode falar a partir e dentro das fontes formais, notadamente a partir do
tipo de norma nelas consagrada, em fontes autônomas ou heterônomas. Nas primeiras, tería-
mos aquelas que provêm da vontade de ambas as partes envolvidas na relação de traba-
lho, de que são exemplos o contrato individual de trabalho, o acordo e a convenção coleti-
va. Heterônomas são aquelas que provêm da vontade de apenas uma das partes ou de um
terceiro e stranho às partes, nas quais se identifica e sobreleva a Lei (sentido formal).
Fontes residuais ou extraordinárias podem ser garimpadas dentre aquelas de que
cogita o artigo 8.º da CLT.
Expliquemo-nos. Se fonte é o repositório de onde surge o Direito, será subsumível
ao referido conceito e, portanto, fonte, qualquer local de onde o Direito possa nascer,
seja tal nascimento corriqueiro, usual (fontes ordinárias), ou excepcional, ipso facto,
incomum (fontes extraordinárias), critério que se pauta na frequência de sua utilização.
Assim, empreende-se derradeira classificação, em fontes ordinárias, albergando princípios3
e regras de Direito (norma em sentido estrito) e fontes extraordinárias ou residuais, que
são passíveis de serem retiradas em sua maioria do artigo 8.º da CLT, e que seriam: dou-
trina, jurisprudência, analogia, equidade e o Direito Comparado. Identificam-se, assim,
dentro das fontes extraordinárias ou residuais, as formas de integração do Direito.
Ora, se ausente a norma (sentido amplo), existe determinação expressa de perse-
cução nos aludidos institutos da solução para as lides laborais; esses institutos, assim,
hão que ser, a toda evidência, reconhecidos como fontes.
Falemos agora das fontes em espécie.
Lei será, em sentido amplo, sinônimo de norma jurídica, mas, em sentido próprio,
restrito, representa toda norma que passa por um processo formal de elaboração legislativa pre-
visto pelo legislador extraordinário de 1988 em seu artigo 59 e seguintes. São enquadráveis no
conceito as emendas à Constituição (cada dia mais numerosas) leis complementares, leis
ordinárias, delegadas e medidas provisórias – emanações que seguem, portanto, o pro-
cesso formal previsto na Constituição, o qual se revela uma sucessão preestabelecida de
fases, culminado com sua promulgação, publicação e início de vigência.4
São traços característicos das leis: a generalidade, a abstratividade, a impesso-
alidade e a obrigatoriedade ante a possibilidade de coerção a ela inerente. É pródiga a
atuação da Lei no Direito do Trabalho.
3 O reconhecimento de conteúdo normativo aos princípios aceitos pela doutrina a partir das lições da moderna Filosofia do
Direito implica classif icá-los como fontes ordinárias.
4 Vigência, validade e eficácia são conceitos distintos.
5 A utilização imprópria do cheque enquanto título de crédito espelha a problemática: sendo ordem de pagamento à vista, foi
em tempos recentes utilizado largamente como instrumento de obtenção de crédito e pagamento parcelado. Nesse sentido, a
jurisprudência reconhece o costume jurídico, como se percebe nas decisões do STJ.
6 O que revela sua natureza jurídica híbrida, misto que é de acordo de vontades (contrato) e veículo de criação de condições de
trabalho (norma).
7 Abrange os sindicatos da categoria profissional (empregados) e econômica (empregadores).
8 Para seguir a expressão do legislador. Deve-se observar a distinção entre pessoa, empresa e estalecimento, que nos permite
separar o sujeito celebrante da convenção ou acordo (pessoa) de um objeto de direito, que é a empresa.
Regulamento
Sentença normativa
Convenção coletiva
Acordo coletivo
Costume
Regulamento de empresa
9 A expressão é de Orlando Gomes (2005, p. 33) para quem “A fonte primária, ou fonte de criação, comum a todo Direito Privado,
é a vontade das partes.”
10 Teoria contratualista moderna.
Quanto aos princípios gerais do Direito e aos princípios especiais do Direito do Traba-
lho, o legislador reservou, principalmente aos últimos, atuação enquanto co-partícipes
na atividade supletiva ou de integração deste ramo do Direito.
11 O vocábulo apresenta outros sentidos possíveis, significando até mesmo uma única decisão. Mas jurisprudência como fonte
tem conceito, como visto, restrito.
Assim sendo, para que a norma atue retroativamente, há que existir declaração
expressa, ficando, para muitos autores de Direito do Trabalho, tal atuação restrita à
implementação do princípio da proteção, ou seja, em proveito do empregado. Não há
previsão para a repristinação; assim, a revogação de lei revogadora de norma anterior não
tem o condão de ressuscitá-la.
Trata o autor do princípio da proteção com o escopo nítido de compensar uma de-
sigualdade econômica, outorgando ao trabalhador superioridade jurídica.
4 A obra em questão, Princípios de Direito do Trabalho, sintetiza a concepção tradicional do Direito do Trabalho que tomaremos como
mote, ao lado de Ruprecht e Pinho Pedreira, para efetuarmos digressão sobre as modificações posteriores verificadas.
5 Assim, anota-se que “A nosso juízo, cabe aplicar a regra dentro desse âmbito em casos de autêntica dúvida, para valorar o alcance
ou significado de uma prova. Não para suprir omissões, mas para apreciar adequadamente o conjunto dos elementos probatórios,
tendo em conta as diversas circunstâncias do caso.”
valecerá a que for mais favorável ao trabalhador. Isso caracteriza a chamada hierarquia
dinâmica das normas.
Por primazia da realidade, entende Plá Rodriguez (1997) que “em caso de discor-
dância entre o que ocorre na prática e o que emerge de documentos ou acordos, deve-se
dar preferência ao primeiro, isto é, ao que sucede no terreno dos fatos.”
Sem dúvida, foi essa a concepção primeira do Direito do Trabalho, a qual, não
obstante tenha se mostrado adequada aos primeiros idos de nossa disciplina, colide com
a nova sociedade que se descortina, dita pós-industrial, tecnológica. As transformações
foram plurais (políticas, econômicas, sociais), e o seu reflexo jurídico é inarredável,
consistindo a razão de ser de uma completa reelaboração do Direito Laboral. Sobre elas
falamos com mais vagar no capítulo precedente. Cumpre-nos incorporar dois princípios
especiais do Direito do Trabalho, derivados do novel panorama mundial.
6 Em abono de tal assertiva, citamos Romita (1998, p. 112): “Antes, o que surpreende é que se estude o Direito do Trabalho como se
constituído por um conjunto de normas destinadas a reger institutos fixos e imutáveis no tempo e no espaço, verdadeiras categorias
universais produzidas pela razão, isentas de influência da história e dos fatores culturais encontrados na sociedade!”
A importância dos princípios na ciência do Direito, entretanto, não tem obviamente o con-
dão de os transformar em axiomas absolutos e imutáveis. Ao contrário, sua validade se
preserva apenas caso considerados em seus limites conceituais e históricos específicos,
enquanto sínteses de orientações essenciais assimiladas por ordens jurídicas em determi-
nados períodos históricos. Os princípios jurídicos emergem, assim, como sínteses concei-
tuais de nítida inserção histórica, submetendo-se a uma inevitável dinâmica de superação
e eclipsamento, como qualquer outro fenômeno cultural produzido.
Combatida por uns, defendida por outros, foi a flexibilização sem dúvida consa-
grada pela Carta Constitucional de 1988, v.g., no artigo 7.º, incisos VI, XIII e XIV, dentre
outros. Na legislação infraconstitucional, pululam os exemplos, como a Lei 9.601/98 e
as inovações aos artigos 58 e 59 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
Nessa seara, renasce a importância da autonomia privada, não tanto em nível indi-
vidual, mas coletivo. Por meio da negociação coletiva, viabiliza-se o mais das vezes a flexi-
bilização, sempre que esta possa redundar em limitação de direitos. Em nível individual,
ela incidiria residualmente no que toca ao exercício do jus variandi.
Por ulterior, não se deve esquecer que a flexibilização comporta limitações de-
rivadas, quer pela indisponibilidade de certas normas, quer por seu caráter de ordem
pública ou daquelas que são derivação dos direitos da personalidade.
7 Sobre o reconhecimento da quinta fase do Direito do Trabalho, reportamo-nos em nosso Nova Teoria Geral do Direito do Trabalho.
São Paulo: LTr, 2002.
Teorias contratualistas
Os autores, ao se depararem inicialmente com o contrato de trabalho, intenta-
ram enquadrá-lo em um dos modelos contratuais típicos e nominados já conhecidos.
Teorias anticontratualistas
Os asseclas das teorias anticontratualistas veem a vontade como elemento com-
pletamente irrelevante, principalmente na vertente institucional. Assim, o querer subje-
tivo – ou seja , a vontade – seria de nenhum efeito, uma vez que a legislação trabalhista,
as normas, desabariam sobre as partes no instante da admissão.
Podemos dizer, então, que se equivalem duas hipóteses, quando alguém não se
opõe quando poderia fazê-lo, e desse comportamento se consegue retirar que se con-
sentiu (contrato tácito) ou, então, contrato expresso por inequívoca manifestação de
vontade. De um jeito ou de outro, há contrato, porque há vontade. O contrato, assim,
faz nascer a relação de emprego.
Caracteres e classificações
do contrato individual de trabalho
Aponta a doutrina como principais caracteres do contrato de trabalho a sua bila-
teralidade, a onerosidade, a comutatividade e o traço puramente consensual.
Passemos às classificações.
Então, podemos concluir que só existem contratos por tempo determinado nas
hipóteses do artigo 443, parágrafo 2.º, da CLT?
Por último, temos a mais usual forma de contrato por tempo determinado: o
contrato de experiência. O que significa contrato de experiência? Esse contrato é um
ajuste revestido de uma finalidade específica, qual seja, a de que ambos os contratantes,
empregado e empregador, aquilatem as recíprocas qualidades. Ao empregador permite
o contrato de experiência verificar se o empregado possui as habilidades que apregoou
no instante da contratação e, quanto ao empregado, descortina-se a possibilidade de
averiguar se a empresa oferece de fato todas as vantagens prometidas.
O contrato por tempo determinado difere em regra do contrato por tempo inde-
terminado, principalmente quanto a dois direitos, que derivam da própria natureza do
primeiro, ou seja, a existência de limitação temporal.
Fiquemos com um modelo simples. Digamos que Josué celebrou contrato de ex-
periência por 30 dias. Pergunta-se: sabe Josué quando o contrato findará? Claro que
sim, despicienda comunicação (aviso prévio) de fato já conhecido. Por tal motivo, não
caberá, em regra, aviso prévio nos contratos por tempo determinado, pois as partes, ao
concluírem o contrato, detêm o conhecimento de quando o contrato terminará.
indeniza o valor correspondente, determina a CLT, em seu artigo 487, parágrafo 1.º, a
sua contagem e justaposição ao tempo de serviço.
indenização prevista no citado artigo foi substituída pelo FGTS a partir de 1988, do que
ousamos discordar. Rememore-se que não se cogita aqui de indenizar tempo de serviço:
a indenização prevista no artigo 14 da Lei de Trabalho Rural não se fixa em qualquer
razão objetiva, deriva apenas da atuação do legislador no sentido de conceder a benesse,
pelo que não se cogita da mesma matéria, pois, enquanto o FGTS é causal, o mesmo não
se pode afirmar da norma em estudo, concessa venia. Importante notar que o artigo 14-A,
acrescentado recentemente à Lei 5.889/73, cria novo contrato rual por tempo determi-
nado, chamado de contrato de trabalho rural de pequena duração.
Regras do contrato
por tempo determinado
A atenta leitura do artigo 445 da CLT permite concluir que nenhum contrato por
tempo determinado poderá exceder dois anos, exceto o contrato de experiência, que não
pode exceder 90 dias, e o contrato da Lei 9.601/98, que não se sujeita a prazo máximo
ex vi legis, pela possibilidade de múltiplas prorrogações (art. 1.º, §2.º).
A regra é a de que o contrato por tempo determinado, com as ressalvas acima,
não pode ultrapassar dois anos de duração, entendida como duração total, incluídas
eventuais prorrogações.
Além disso, os contratos por tempo determinado comportam uma única prorro-
gação, previsão agora do artigo 451 da CLT, que enuncia a regra em forma inversa.
Segundo o artigo 451 da CLT, se o contrato por tempo determinado for prorroga-
do mais de uma vez, passa a vigorar por tempo indeterminado – logo, nada ocorrerá com
a natureza do ajuste se sujeito a prorrogação única, que resta autorizada.
Inexiste, ainda que usual na prática, qualquer regra legal que estabeleça ou limi-
te a prorrogação por igual período. Procedida mais de uma prorrogação, a consequência
automática é que o ajuste se transforme em contrato por tempo indeterminado. Aliás,
qualquer conduta que escape aos estritos contornos legais do contrato por tempo de-
terminado implica proscrição do limite, e transformação em contrato por tempo indeter-
minado, mesmo sua continuidade executiva além do termo fixado, conhecida agora por
recondução tácita.
Alguns contratos, por exceção, comportam múltiplas prorrogações e desconhe-
cem limites máximos, sendo exemplos o atleta profissional de futebol, o técnico estran-
geiro e a Lei 9.601/98.
Por fim, afirma-se a regra de que um contrato por tempo determinado não pode
s uceder a outro contrato por tempo determinado em menos de seis meses, interstício
mínimo que, acaso ausente, traz como efeito imediato que o segundo contrato, preten-
samente determinado, transmuda-se em ajuste por tempo indeterminado, exceto se o
Rescisão antecipada do
contrato por tempo determinado
Podemos distinguir o término normal do anormal. As restrições enumeradas an-
teriormente – aviso prévio, indenização fundiária e estabilidades provisórias – referem-
-se ao término normal.
O contrato cumpre um ciclo de vida: nasce, desenvolve-se e morre. Ele pode co-
meçar sua vida, desenvolver-se e ser interrompido bruscamente, abruptamente. Nesse
caso, pode surgir direito à reparação.
Art. 479. Nos contratos que tenham termo estipulado, o empregador que, sem justa causa,
despedir o empregado será obrigado a pagar-lhe, a título de indenização, e por metade, a
remuneração a que teria direito até o termo do contrato.
I - agente capaz;
II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
III - forma prescrita ou não defesa em lei.
Capacidade
Durante a vigência do CC de 1916, vigorou distinção entre as capacidades civil
e trabalhista. Assim, no período de antanho, tínhamos os seguintes limites etários: até
16 anos, absolutamente incapaz; de 16 a 21 anos, relativamente incapaz; e, aos 21 anos,
adquiria-se a capacidade plena (art. 9.º). Aos 18 anos, permitia-se a emancipação nas hi-
póteses listadas no parágrafo 1.º do artigo 9.º do CC anterior, que hoje se pode verificar
a partir dos 16 (CC, art. 5.º, parágrafo único).
Em sede de prática de ato jurídico pelos que não atingiram a plena capacidade,
opera a assistência ao relativamente incapaz, que assim participa do ato jurídico, mas
tem sua vontade complementada pelo assistente (maiores de 16 e menores de 18 anos),
ao passo que o absolutamente incapaz (menor de 16 anos), sendo representado, nem
sequer participa do ato jurídico.
Poder-se-ia pensar, talvez, apenas na exclusão dos que firmam contrato a tempo
parcial (CLT, artigo 58-A), mas mesmo aqui se observa o respeito ao salário mínimo,
ainda que em dimensão horária. Lembre-se que mesmo ao menor aprendiz se assegura
o salário mínimo – artigo 428, parágrafo 2.º, da CLT.
Qual o efeito, então? Sem dúvida ocorre a repercussão da regra do artigo 5.º,
V, do CC sobre a capacidade trabalhista, determinando assim que os que trabalham a
partir dos 16 anos, por força de contrato de trabalho, tornam-se maiores. A repercus-
são, todavia, aparta-se em duas esferas distintas e inconfundíveis, segundo nosso atual
pensamento.
A se entender de modo diverso, teríamos que alguém com 16 anos e que celebras-
se contrato de trabalho, portanto, adquirindo economia própria (eis que o salário míni-
mo se apresenta ipso facto como menor valor de estipêndio permitido), poderia efetivar
compra e venda de imóvel, ceder direito de imagem, celebrar contrato de casamento,1
negócios jurídicos a toda evidência de enorme gravidade, mas, para simplesmente fir-
mar a rescisão do contrato de trabalho e dar a respectiva quitação necessitária, devesse
recorrer aos pais ou ao responsável legal.
1 Divergem os autores sobre a natureza jurídica do casamento, se contrato ou instituição. Sobre o tema, nos reportamos em
nosso débito conjugal e suas vicissitudes, nos seguintes termos: ultrapassada sua conceituação, urge voltarmos nossa atenção
à natureza jurídica. Não são acordes os autores, ora vislumbrando negócio complexo, ora contrato de Direito de Família (Silvio
Rodrigues); ora ato-condição (Duguit); contrato especial (Orlando Gomes); instituição (Mazeaud). Sem embargo das renomadas
opiniões em contrário, mais se amolda o casamento à ideia institucional, pela qual as partes aderem ao estatuto imperativo pre-
viamente existente por sua livre manifestação de vontade.
2 A neoplasia é definida nos manuais médicos da seguinte forma: “‘uma neoplasia é uma massa anormal de tecido, cujo cresci-
mento excede aquele dos tecidos normais e não está coordenado com ele, persistindo da mesma maneira excessiva após o término
do estímulo que induziu a alteração’. A essa caracterização poderíamos acrescentar que a massa anormal carece de propósito,
é predadora do hospedeiro e praticamente autônoma. É predadora do hospedeiro no sentido de que o crescimento do tecido
neoplásico compete com as células e tecidos normais quanto ao suprimento de energia e substrato nutricional” (COTRAN et al,
2000, p. 234).
3 Nesse diapasão, firma-se a Orientação Jurisprudencial 199 da SDI-1 (Seção de Dissídios Individuais), senão vejamos: Jogo do
bicho. Contrato de trabalho. Nulidade. Objeto ilícito. Arts. 82 e 145, do Código Civil [de 1916, correspondendo aos arts. 104 e
166, do novo Código].
inidôneo são ainda os bens sobre os quais o titular não tem o poder de dispor (inaliená-
veis). A inidoneidade do objeto é estabelecida, geralmente em termos absolutos, mas há
formas de inidoneidade relativa. Uma vez que a inidoneidade do objeto é pressuposto de
validade, a consequência de sua falta é a nulidade do contrato.
Assim, na ampla maioria das vezes, são as partes que determinam a forma de
celebração do contrato, ou seja, vigora, em toda sua força, o princípio da liberdade das
formas. Leia-se: a forma é livre, salvo quando o legislador determinar forma especial.
Em Direito Privado, a fixação de forma especial constitui verdadeira exceção. A Conso-
lidação afirma a regra acima em seu artigo 443, nos seguintes termos:
Art. 443. O contrato individual de trabalho poderá ser celebrado, tácita ou expressamente,
verbalmente ou por escrito, e por prazo determinado ou indeterminado.
Então, não existe, em regra, forma especial. Exceções são, dentre outros, o con-
trato do aprendiz, artigo 428 da CLT, e do marítimo.
Erro engendra a ideia de falsa percepção da verdade, que parte da doutrina busca
extremar da ignorância: ausência de qualquer percepção. Sobre a distinção se reporta
Cristiano Chaves de Farias (2005, p. 479-480):
Alguns autores propõem uma distinção entre o erro e a ignorância. Aquele (o erro) resul-
taria da falsa noção sobre as circunstâncias de um negócio, enquanto esta (a ignorância)
decorreria do completo desconhecimento das circunstâncias que viciam o ato negocial.
A distinção é puramente teórica. A franca maioria doutrinária e a própria legislação uti-
lizam-se das expressões como sinônimas, não distinguindo o erro e a ignorância. [...]
Importante atentar para o fato de que no erro o agente incorre sozinho em lapso, sem
qualquer ação de terceiro ou da parte contrária. Por isso, se, porventura, houver indução
ao erro, caracterizar-se-á o dolo.
Dolo se verifica na utilização de artifícios por uma das partes para induzir ao erro
o outro contratante: é o erro provocado.
A coação se apresenta sob forma absoluta ou relativa, sendo física ou moral, che-
gando, assim, em alguns casos, a afastar a própria vontade, que deixa de ser a do coato,
passando a se expressar vontade do coator.
Por fim, são novos vícios os previstos nos artigos 156 e 157 do CC, a saber:
Elementos acidentais do
contrato de trabalho: condição e termo
Em Direito Civil, em sede de negócio jurídico, pode existir manifestação acessó-
ria de vontade que subordina a respectiva eficácia a acontecimento futuro, emergindo
do conceito proposto condição e termo.
Em Direito Civil, percebe-se que condição e termo, ambos, são eventos futuros,
sendo a diferença específica que, enquanto a condição é evento futuro e incerto, o termo
é um evento futuro e certo. Certo quanto a quê? A certeza a que se refere a doutrina e
que se presta a diferenciar termo de condição é a certeza quanto à ocorrência do evento,
quanto a saber se o evento vai ou não se verificar.
vai se verificar, estamos diante de termo; caso contrário, ausente a certeza da efetivação
do evento, condição.
Quais são os efeitos do termo inicial e de uma condição suspensiva sobre o res-
pectivo contrato? Dissemos que são manifestações de vontade que subordinam a efi-
cácia do negócio jurídico. Agora nos incumbe aclarar a assertiva. No termo inicial e
na condição suspensiva, o negócio jurídico não produz efeitos, pois tem a sua eficácia
sobrestada até que se implemente a condição suspensiva ou advenha o termo inicial.
Quando diante de um termo inicial ou de condição suspensiva, o negócio jurídico se
comporta da mesma forma, qual seja, não principiam seus efeitos se não implementada
a condição, ou quando advém o termo. Desse momento em diante, descongelam-se o
ajuste e se espraiam seus efeitos no panorama jurídico.
4 A doutrina sobre a classificação assim se reporta: “por abreviação, diz-se que há termo certo e incerto. A incerteza diz respeito
ao momento em que deve começar ou cessar a eficácia do negócio. Sabe-se que esse momento chegará, mas, às vezes, se ignora
quando” (GOMES, 2000, p. 402).
Obrigações decorrentes
do contrato de trabalho
A doutrina distingue as obrigações decorrentes do contrato de trabalho, de
empregados e empregadores.
Nulidade e anulabilidade
no Direito do Trabalho
Trata-se de negócio jurídico, ainda e uma vez mais. Estudamos, em sede de Di-
reito Civil, as distinções entre nulidade e anulabilidade.
O ato é nulo se ele recair, discordâncias à parte, em uma das hipóteses do artigo
166 do CC, preceituando que:
Também será anulado o ato quando o agente for incapaz de forma relativa.
Estudamos em Direito Civil a distinção das duas categorias de atos (nulos e anu-
láveis), principalmente com base nos efeitos. Se o ato é nulo, declarada judicialmente
sua nulidade, os efeitos da declaração retroagem – diz-se ex tunc –, tal qual em análise
figurada sói acontecer se utilizássemos verdadeiro apagador por sobre todos os efeitos
que o negócio jurídico houver gerado.
Dúvida existe sobre a prescritibilidade do ato nulo, eis que, para autorizados
doutrinadores, o ato nulo não deveria se sujeitar à prescrição.
No Direito do Trabalho, a distinção procedida acima cai por terra por um simples
mas contundente motivo: tanto o ato nulo quanto o ato anulável no Direito do Trabalho
produzem os mesmos efeitos porque, para a doutrina, temos por princípio desse ramo
do Direito a irretroatividade das nulidades, ou seja, a declaração de invalidação não retroa-
giria, como regra. Assim, nulo ou anulável, os efeitos pretéritos são preservados.
Nos contratos com objeto ilícito, ao que nos parece, nenhum efeito pretérito pode
ou deve ser reconhecido. Estão abrangidos nessa hipótese a faxineira do jogo do bicho
e o garçom do prostíbulo, dentre outros. Remetemos o leitor, quanto à intelecção dos
tribunais majoritariamente no sentido acima indicado, ao que foi exposto no trato
dos pressupostos do contrato de trabalho.
Assim, carece de qualquer tutela trabalhista a última espécie de trabalho por nós
acima referida.
Nova Teoria Geral do Direito do Trabalho, de Otávio Augusto Sousa, editora LTr.
O empregado
É imprescindível o estudo da figura do empregado, por ser o centro de irradiação
da tutela trabalhista.
São múltiplos os conceitos legais de empregado (CLT, Lei 5.859/72, Lei 5.889/73,
dentre outros), encontrando-se na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em seu ar-
tigo 3.º, nos seguintes termos:
Art. 3.º Considera-se empregado a pessoa física, que presta serviços de natureza não even-
tual a empregador, sob dependência deste e mediante salário.
A alteridade costuma ser indicada como requisito por alguns autores, para significar
quer o fato de que o empregado presta serviços em proveito de outrem (empregador), quer
que assume o risco da atividade econômica.
Normas especiais disciplinam o contrato de trabalho do índio. Nesse sentido,
Valentin Carrion (2005, p. 38):
Não há discriminação possível entre trabalhadores indígenas e os demais, sendo permitido
a adaptação de condições de trabalho aos usos da comunidade a que aqueles pertençam;
são nulos os contratos com silvícolas isolados, sendo incentivada pela lei a contratação por
equipe para fins de preservação de sua identidade cultural (Lei 6.001/73).
Peculiar, ainda, a mãe social, que em casa lar cuida de menores, tendo alguns
direitos trabalhistas preestabelecidos (Lei 7.644/87).
A jurisprudência costuma dar trato diferenciado a algumas situações de fato.
Assim, quanto à pequena reforma residencial, em regra, nega-se a possibilidade de exis-
tência e reconhecimento de vínculo de emprego.
Peculiar, também, a situação jurídica dos que prestam serviços em cartórios não
oficializados, os quais se reconhecem como empregados, ressaltando-se que somente
perdem e se afastam da tutela trabalhista se enquadráveis no artigo 7.º, “c” e “d”, da
Consolidação.
Empregado rural
O legislador disciplinou o trabalho rural por meio da Lei 5.889/73, hoje combi-
nada com a Constituição Federal (CF) de 1988, que, em seu artigo 7.º, caput, procedeu à
equiparação dos direitos de urbanos e rurais, derrogando assim o artigo 7.º, “b” da CLT.
Dispõe o artigo 2.º do referido diploma legal que
Lei 5.889/73, art. 2.º Empregado rural é toda pessoa física que, em propriedade rural ou
prédio rústico, presta serviços de natureza não eventual, a empregador rural, sob a depen-
dência deste e mediante salário.
é agrícola (trato com a terra), pecuária (trato com animais) ou de agroindústria, temos
então que o trabalho é rural.
Por exemplo, “X”, residente na cidade de São Paulo, delibera comprar o prédio
do Tribunal Regional do Trabalho (situado na Consolação, parte central da cidade) e o
destrói, coloca estacas ao redor do terreno, algumas cabeças de gado e contrata um em-
pregado encarregado de vender o leite. Que tipo de empregado se configura? Empregado
rural, pois não interessa o local onde a propriedade se situa, tal qual dissemos alhures,
mas o tipo de atividade ali exercida.
Deve-se atentar ainda que, quando incidem duas leis especiais sobre idêntica situ-
ação de fato, a mais específica prevalece sobre a menos específica, ou seja, o advogado da
fazenda, regido que é pela Lei 8.906/94, não se perfaz enquanto rurícola, aproximando-
-se, mutatis mutandi, da categoria diferenciada, conhecido conceito de Direito Coletivo.
A resposta há que ser negativa. Se é verdade que os direitos são os mesmos (CF,
art. 7.º), a regulamentação dos direitos pode cambiar, notadamente em razão da regra
hermenêutica de que a lei especial prevalece sobre a geral. Assim, por exemplo, ambos
fazem jus a adicional noturno, todavia, o percentual difere: 20% para urbanos e 25%
para rurais.
Trabalho noturno
A CLT reconhece como trabalho noturno aquele que se desenvolve das 22h de
um dia até as 5h do dia seguinte. Nesse período, por ficção jurídica, a hora de trabalho
não possui 60 minutos, mas 52 minutos e 30 segundos. Por fim, na CLT, o adicional
noturno equivale a 20% do salário contratual. Na Lei 5.889/73 (Lei do Trabalho Rural),
o trato é inteiramente diverso.
Primeiro, a Lei do Trabalho Rural criou dois horários noturnos: das 21h às 5h, e
das 20h às 4h, conforme o trabalho se desenvolva na agricultura ou na pecuária.
Intervalos intrajornada
Dispõe o artigo 71 da CLT que:
Art. 71. Em qualquer trabalho contínuo, cuja duração exceda de seis horas, é obrigatória
a concessão de um intervalo para repouso ou alimentação, o qual será no mínimo de uma
hora e salvo acordo escrito ou contrato coletivo em contrário, não poderá exceder de duas
horas.
Qual a consequência jurídica? Sem dúvida, o direito à retribuição por hora extra-
ordinária, baseado no próprio artigo 71, caput, da CLT. Ora, tendo laborado mais de seis
horas, faria o empregado jus a intervalo que deve estar compreendido entre mínimo e
máximo, ambos preestabelecidos, salvo ajuste escrito ou norma coletiva em contrário. O le-
gislador visa evitar que o empregado tenha sua liberdade tolhida no período do dia não
reservado ao labor. No exemplo em questão, o intervalo intrajornada será compreen-
dido como o tempo à disposição do empregador, merecendo retribuição como trabalho
extraordinário, pois já está superado o limite máximo diário (jornada) de oito horas em
tudo quanto exceda ao limite do intervalo legal estatuído.
O intervalo do trabalhador urbano que labore mais de seis horas por dia será de
uma a duas horas, enquanto para o rurícola em idêntica situação o intervalo observará
os usos e costumes.
Salário in natura
Por derradeiro, distinção graça, ainda, quanto ao salário in natura. Dispõe o arti-
go 9.º, parágrafo 5.º, da Lei de Trabalho Rural que:
§5.º A cessão pelo empregador, de moradia e de sua infraestrutura básica, assim como
bens destinados à produção para sua subsistência e de sua família, não integram o salário
do trabalhador rural, desde que caracterizados como tais, em contrato escrito celebrado
entre as partes, com testemunhas e notificação obrigatória ao respectivo sindicato de tra-
balhadores rurais.
Quando se questiona ao leigo, em regra geral, o que ele entende por salário,
a resposta é de que salário é o pagamento em dinheiro (pecúnia), feito pelo empre-
gador. O conceito posto nesses termos se apresenta equívoco por ser excessivamente
restrito. O conceito doutrinário de salário restou fixado em termos amplos, enquanto
contraprestação de trabalho. Portanto, tudo que se concede ao empregado como con-
traprestação de trabalho nele se enquadra. Dispõe o artigo 458 da CLT que:
Art. 458. Além do pagamento em dinheiro, compreende-se no salário, para todos os efeitos
legais, a alimentação, habitação, vestuário ou outras prestações in natura que a empresa,
por força do contrato ou do costume fornecer habitualmente ao empregado [...].
Art. 458. [...] Em caso algum será permitido o pagamento com bebidas alcoólicas ou dro-
gas nocivas.
Verdade que ante a realidade do trabalho rural, que mais das vezes se perfaz
em contrato tácito, e sequer se observam regras comezinhas, a exemplo da prevista no
artigo 464 da CLT, pretender que uma cláusula do ajuste se implemente na forma do ar-
tigo 9.º, parágrafo 5.º, soa risível, senão uma ficção. Se pretendesse de fato o legislador
implementar tal efeito, bastaria declarar a natureza não salarial, como faz em outras
normas, a exemplo do vale-transporte.
contrato de trabalho rural de curta duração para atividades de caráter temporário, com
duração de até dois meses e com empregador rural pessoa física. (Lei 5.889/73, art.
14-A1).
Empregado doméstico
(Lei 5.859/72 c/c CF, art. 7.º, parágrafo único)
Da exegese do artigo 1.º da Lei do Trabalho Doméstico, pode-se perceber que,
à semelhança do que se fez em relação ao rurícola na Lei do Trabalho Rural, deliberou
o legislador conceituar o que se deve entender por empregado doméstico. Formulou,
assim, conceito alicerçado em quatro diferentes aspectos a serem estudados, aos quais
se deverão somar as ideias já apreendidas de pessoalidade, onerosidade e subordinação.
Dispõe o artigo 1.º da Lei 5.859/72 que:
Art. 1.º Ao empregado doméstico, assim considerado aquele que presta serviços de natu-
reza contínua e de finalidade não lucrativa à pessoa ou à família, no âmbito residencial
destas, aplica-se o disposto nesta lei.
1 Art. 14-A. O produtor rural pessoa física poderá realizar contratação de trabalhador rural por pequeno prazo para o exercício
de atividades de natureza temporária. (Incluído pela Lei 11.718, de 2008)
§1.º A contratação de trabalhador rural por pequeno prazo que, dentro do período de 1 (um) ano, superar 2 (dois) meses fica
convertida em contrato de trabalho por prazo indeterminado, observando-se os termos da legislação aplicável. (Incluído pela
Lei 11.718, de 2008)
§2.º A filiação e a inscrição do trabalhador de que trata este artigo na Previdência Social decorrem, automaticamente, da sua
inclusão pelo empregador na Guia de Recolhimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço e Informações à Previdência
Social – GFIP, cabendo à Previdência Social instituir mecanismo que permita a sua identificação. (Incluído pela Lei 11.718, de
2008)
§3.º O contrato de trabalho por pequeno prazo deverá ser formalizado mediante a inclusão do trabalhador na GFIP, na forma do
disposto no §2.º deste artigo, e: (Incluído pela Lei 11.718, de 2008)
I - mediante a anotação na Carteira de Trabalho e Previdência Social e em Livro ou Ficha de Registro de Empregados; ou
II - mediante contrato escrito, em 2 (duas) vias, uma para cada parte, onde conste, no mínimo: (Incluído pela Lei 11.718, de
2008)
a) expressa autorização em acordo coletivo ou convenção coletiva; (Incluído pela Lei 11.718, de 2008)
b) identificação do produtor rural e do imóvel rural onde o trabalho será realizado e indicação da respectiva matrícula; (Incluído
pela Lei 11.718, de 2008)
c) identificação do trabalhador, com indicação do respectivo Número de Inscrição do Trabalhador – NIT. (Incluído pela Lei
11.718, de 2008)
§4.º A contratação de trabalhador rural por pequeno prazo só poderá ser realizada por produtor rural pessoa física, proprietário
ou não, que explore diretamente atividade agroeconômica. (Incluído pela Lei 11.718, de 2008)
§5.º A contribuição do segurado trabalhador rural contratado para prestar serviço na forma deste artigo é de 8% (oito por cento)
sobre o respectivo salário de contribuição definido no inciso I do caput do art. 28 da Lei 8.212, de 24 de julho de 1991. (Incluído
pela Lei 11.718, de 2008)
§6.º A não inclusão do trabalhador na GFIP pressupõe a inexistência de contratação na forma deste artigo, sem prejuízo de com-
provação, por qualquer meio admitido em direito, da existência de relação jurídica diversa. (Incluído pela Lei 11.718, de 2008)
§7.º Compete ao empregador fazer o recolhimento das contribuições previdenciárias nos termos da legislação vigente, cabendo à
Previdência Social e à Receita Federal do Brasil instituir mecanismos que facilitem o acesso do trabalhador e da entidade sindical
que o representa às informações sobre as contribuições recolhidas. (Incluído pela Lei 11.718, de 2008)
§8.º São assegurados ao trabalhador rural contratado por pequeno prazo, além de remuneração equivalente à do trabalhador
rural permanente, os demais direitos de natureza trabalhista. (Incluído pela Lei 11.718, de 2008)
§9.º Todas as parcelas devidas ao trabalhador de que trata este artigo serão calculadas dia a dia e pagas diretamente a ele mediante
recibo. (Incluído pela Lei 11.718, de 2008)
§10. O Fundo de Garantia do Tempo de Serviço – FGTS deverá ser recolhido e poderá ser levantado nos termos da Lei 8.036, de
11 de maio de 1990. (Incluído pela Lei 11.718, de 2008)
Cogita a norma, então, que o serviço prestado pelo doméstico deve ter natureza
contínua, enquanto a CLT utiliza terminologia diversa, aludindo a serviços não even-
tuais. Há aqui uma forçosa constatação. Se o legislador afirma na CLT em seu artigo
3.º que o empregado presta serviços de natureza não eventual, e em outra norma (Lei
5.859/72) exige que eles sejam de natureza contínua, partindo-se da premissa herme-
nêutica necessária de que a lei não comporta palavras desnecessárias ou inúteis em seu
texto, a única conclusão autorizada e possível é a de que os conceitos de continuidade
e não eventualidade, de fato, são distintos e inconfundíveis. Contínuo é conceito mais
restrito do que não eventual. O trabalho contínuo demanda reiteração, repetição quase
diária, ou seja, o empregado doméstico tem que trabalhar quase todos os dias. Afora
isso, deve haver uma maior fixação em relação ao tomador de serviço, o que redunda em
trabalho quase exclusivo.
2 O Decreto-Lei 326/56, que regula as relações de trabalho doméstico na Argentina, subtrai de sua égide – a teor do artigo 1.º
– aqueles que “presten sus servicios por tiempo inferior a un mes, trabajen menos de cuatro (4) horas por día o lo hagan por menos de cuatro
(4) días a la semana para el mismo empleador”.
presta serviços uma, duas ou até três vezes por semana não se subsume ao conceito, v.g.,
a diarista (lavadeira, faxineira).
Repita-se, então, que qualquer pessoa que preste serviço de natureza contínua,
não envolva finalidade de lucro, que trabalhe para empregador pessoa física e esse tra-
balho seja direcionado à residência, se enquadrará no artigo 1.º da Lei 5.859/72 e, por-
tanto, será, em princípio, empregado doméstico.
Se por serviço de natureza contínua temos que o doméstico se deve fixar a deter-
minado tomador de serviço, e seu trabalho tem que ser executado quase diariamente,
para muitos autores toda essa construção doutrinária ocultaria a espúria finalidade de
excluir de qualquer tutela a diarista, como procede a jurisprudência majoritária
(entendida como diarista a pessoa que trabalha para múltiplos destinatários, uma ou
duas vezes por semana para cada um deles). A diarista se enquadra assim como tra-
balhador eventual, porque lhe falta continuidade, fixação a determinado tomador de
serviço e repetição diária nos moldes exigidos na norma em comento.
3 Entendemos, todavia, que ressalva se deve impor às ativ idades as quais envolvam categorias com normas próprias, v.g., profes-
sores, dentre outros que permanecem infensos ao enquadramento da Lei 5.859/72.
muitos cômodos, e o proprietário delibera locar parte destes para estudantes univer-
sitários. Assim procedendo, iniciou o proprietário o exercício de atividade lucrativa,
sendo que aquele empregado que antes era doméstico passou a ser disciplinado agora
pela CLT enquanto empregado urbano. O enquadramento jurídico trabalhista cambia
conforme se alterem os fatos, pois, ao se desenrolar o exercício de atividade lucrativa
na residência, a relação de emprego escapa à disciplina da Lei do Trabalho Doméstico e
recai na vala comum da CLT. Atividade lucrativa e emprego doméstico não combinam,
mas a jurisprudência admite como exceção que o exercício de uma atividade econômica
absolutamente esporádica e economicamente insignificante pelo empregado em pro-
veito do empregador não inibe a aplicação da Lei 5.859/72, não desnaturando, assim, a
relação de emprego doméstico.
Questão curiosa se pode figurar com o exemplo de alguém que logra aprovação
em vestibular e passa a residir em outra cidade. Cansado da solidão, delibera comparti-
lhar o apartamento com pessoa do mesmo sexo. Afastada a hipótese de união homoafe-
tiva, ausente do caso proposto, tem-se que as aludidas pessoas não formam núcleo fa-
miliar. Seria possível aos dois conviventes contratar empregado doméstico, isso sabendo
que o legislador afirma ser o trabalho doméstico prestado a pessoa ou família?
O que dizer do empregado que labora em múltiplas atividades para uma mesma
pessoa (por exemplo: trabalha na residência entre segunda e quinta-feira e às sextas-
-feiras e sábados em loja comercial)? Existe firmada in casu presunção ordinária de exis-
tência de um único contrato de emprego. Em tese, poder-se-iam firmar dois contratos
distintos: o primeiro, sujeito à Lei 5.859/72 e o outro, regido pela CLT, mas tal fato se
afigura incomum. Reconhecida, todavia, a existência de um único contrato que deverá
comportar subsunção, portanto, a uma única norma jurídica, recairemos em conflito de
normas no espaço, solucionável pelo recurso ao princípio da proteção, em sua regra da
aplicação da norma mais favorável. Do confronto de qualquer outra legislação trabalhis-
ta com a Lei do Trabalho Doméstico, prevalecerá sempre a primeira (no caso em tela, a
CLT), em razão da aguda restrição de direitos ao doméstico na sua legislação especial.
Art. 1.º Estágio é ato educativo escolar supervisionado, desenvolvido no ambiente de tra-
balho, que visa à preparação para o trabalho produtivo de educandos que estejam frequen-
tando o ensino regular em instituições de educação superior, de educação profissional, de
ensino médio, da educação especial e dos anos finais do ensino fundamental, na modali-
dade profissional da educação de jovens e adultos.
§1.º O estágio faz parte do projeto pedagógico do curso, além de integrar o itinerário for-
mativo do educando.
§2.º O estágio visa ao aprendizado de competências próprias da atividade profissional e
à contextualização curricular, objetivando o desenvolvimento do educando para a vida
cidadã e para o trabalho.
Por derradeiro, entre o local onde se dará o estágio e a instituição onde estuda o
estagiário há que existir convênio.
A nova Lei de Estágio foi criada com uma finalidade específica, qual seja, permi-
tir que os estudantes tenham um primeiro contato com sua futura profissão, e propiciar-
-lhes, ao lado do conhecimento exclusivamente teórico, o conhecimento pragmático.
Quanto aos estudantes sem formação específica (Ensino Fundamental) visa pro-
piciar um primeiro contato com o ambiente profissional. Para evitar abuso na utilização
de estagiários a nova legislação limita seu número em relação ao de empregados, nos
termos do artigo 17 da Lei 11.788/2008. Ademais, fixou-se duração máxima de dois
anos ao estágio e a respectiva duração do trabalho em 20, 30 ou 40 horas semanais
conforme a espécie (art. 10). Assegurou-se, ainda, recesso de 30 dias a cada 12 meses,
gozado preferencialmente com as férias escolares. Trata-se de recesso e não férias (não
existe acréscimo de 1/3) pois, reitere-se, estágio não forma vínculo de emprego.
Altos empregados
A empresa, como estrutura, possui níveis de poder e decisão diversos e hierar-
quizados. Por conseguinte, v.g., o diretor transmite ordem ao gerente, que repassa ao
chefe de serviços e assim por diante. Existem, então, empregados que estão, se obser-
varmos a pirâmide hierárquica da empresa, mais próximos da cúpula que da base. Estes
são os altos empregados.
Diferem, ainda, dos demais na previsão expressa do artigo 468 da CLT (rever-
são), que é a possibilidade de retorno ao cargo efetivo anterior sempre que cesse a fidú-
cia confiança, não se configurando alteração ilícita do contrato de trabalho.
Na sociedade anônima, o diretor é órgão da empresa e a tanto só pode chegar pela vontade
de seu poder soberano, a assembleia geral dos acionistas. O único processo para galgar
esse status é o eletivo, que corresponde ao exercício de um mandato, de acordo com as con-
dições nos estatutos da empresa. Logo, nenhum diretor de sociedade anônima, enquanto
investido no respectivo mandato, poderá ser empregado.
Empregado em domicílio
O conceito pode ser apreendido à conta dos artigos 6.º e 83 da CLT. Dispõe o
artigo 6.º que, verbis:
Antes de prosseguirmos, porém, persiste uma pergunta: por que terceirizar? Por
que delibera o empregador transferir uma atividade que a empresa desempenha para que
empresa diversa a implemente?
O setor bancário, por exemplo, assim procedeu com a terceirização de áreas in-
teiras antes destinadas à limpeza, conservação e segurança, dentre outras.
Art. 2.º Trabalho temporário é aquele prestado por pessoa física a uma empresa, para
atender à necessidade transitória de substituição de seu pessoal regular e permanente ou
o acréscimo extraordinário de serviços.
Ainda assim, não se popularizou o trabalho temporário, isso porque seu custo
se tornou excessivamente elevado. Em verdade, o empregado da empresa de trabalho
temporário faz jus ao mesmo salário daquele que está substituindo ou acrescendo. Dis-
so resulta que, sopesados os impostos sobre prestação de serviço, custos operacionais
e lucro da empresa de trabalho temporário, o valor a ser pago pela tomadora ou cliente
será inevitavelmente mais elevado do que na contratação direta.
Contrato de Aprendizagem4
A Consolidação, reformulada no particular pela Lei 10.097, de 19 de dezembro
de 2000, disciplina a aprendizagem nos artigos 403 e do 428 ao 433.
4 Acerca do trabalho da mulher e do menor nos reportaremos ao tratarmos das normas especiais de tutela do trabalho.
5 A Lei 11.180/2005 alterou o limite máximo de idade de aprendizagem para 24 anos. O portador de necessidades especiais
foi excluído do limite máximo.
Conceito
No artigo 2.º da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), o legislador conceitua
o empregador nos seguintes termos:
Pergunta-se: para que alguém seja empregador, é preciso que tenha persona-
lidade jurídica? A resposta é negativa. Qualquer pessoa que contrate empregado será
empregador, independente de seu status jurídico – pessoa física, jurídica ou ente des-
personalizado. Repita-se: quem quer que esteja do outro lado da relação de emprego,
assim entendida a que se amolde ao artigo 3.º da Consolidação, será empregador, seja
quem for.
Por fim, para melhor visualização, temos que pessoa é quem tem aptidão para ser
titular de direitos e contrair obrigações, podendo explorar uma atividade profissional-
mente, conceito que identifica a empresa, atividade esta passível de ser implementada
por meio de estabelecimentos, compreensíveis enquanto unidades técnicas, em que se
reúnem organicamente capital, trabalho e recursos naturais.
1 Atualizada por este autor e pelo emérito professor José Augusto Rodrigues Pinto.
É digno de nota estabelecer que uma característica ou, para alguns, requisito
do contrato de trabalho reside justamente na assunção pelo empregador do risco da
atividade econômica, jamais o empregado, isso porque o contrato possui o que se con-
vencionou denominar de alteridade.
Alteridade pode ser entendida como abrangente de duas ideias. Primeira, de que
o empregado presta serviços que revertem em proveito de outrem que o remunera; se-
gunda, que esse alguém, empregador, assume o risco da atividade e conômica.
Será que as pessoas tratadas no parágrafo 1.º produzem bens ou serviços? Res-
posta peremptória: produzem. Exercem, então, atividade econômica?
Evidente que exercem. Por conseguinte, elas já estão abrangidas na previsão abs-
trata do caput do artigo 2.º da CLT, e portanto são empregadores, não se concebendo que
possa o legislador equiparar algo que já é igual.
dimensão cada um dos fatores, ou mesmo o seu resultado matemático de adição. A in-
teração dos fatores redunda em elemento verdadeiramente multiplicador que, em escala
exponencial, acresce valor ao conceito, entendido como produto final da operação.
O que significa o vínculo solidário? Dispõe o artigo 264 do Código Civil (CC)
que:
2 Por assemelhação nas universalidades como na força que anima o universo, a parte visível ou perceptível importa apenas visão
fracionária e parcial, inconf undível com o todo.
O grupo pode ser formalmente constituído como tal – nesse sentido, a previsão
da Lei dos Sociedades Anônimas, artigo 265. Será, todavia, necessário que o grupo
tenha existência de direito? A resposta é negativa. O simples fato do controle de uma
empresa sobre outras configura o grupo econômico para os efeitos do artigo 2.º, pará-
grafo 2.º, da CLT.
Inúmeras são as associações possíveis entre as empresas, pelo que nos restringi-
remos às mais relevantes.
A existência da holding company não foi exigida para o efeito de reconhecimento
da solidariedade passiva entre as empresas. Quanto ao consórcio, não implica grupo
econômico urbano – aliás, não só consórcio, mas qualquer espécie de arranjo econômico
que preserve a independência da vontade empresarial, não importa o grupo, v.g., joint
venture.
O consórcio está regulamentado na Lei das Sociedades Anônimas, nos artigos
278 e 279.
Frise-se que quanto ao grupo econômico, o TST reconhece que ele se comporta
como empregador único, conforme teoria da solidariedade ativa.
Sucessão de empregadores
Os artigos 10 e 448 da CLT disciplinam a sucessão de empregadores.
Alguns autores, pautados na CLT, aludem com desacerto à sucessão de empresas,
nomenclatura inadequada, mormente porque a empresa, em sentido técnico de ativida-
de, sempre continua nas hipóteses de sucessão, cambiando apenas o seu titular.
O que é sucessão de empregadores, então? Para obtermos a resposta, façamos a
análise dos dispositivos referidos.
Art. 10. Qualquer alteração na estrutura jurídica da empresa não afetará os direitos adqui-
ridos por seus empregados.
Nas hipóteses anteriores, ocorre mudança na propriedade, mas qual o efeito des-
sa mudança no contrato de trabalho do empregado? Para ilustrar, pensemos em um con-
trato que principiou em 1970, com a empresa “A”. Em 1998, a empresa “A” é adquirida
pela empresa “C” e, finalmente, em 2000, Tristão é despedido sem justa causa.
Art. 9.º Serão nulos de pleno direito os atos praticados com o objetivo de desvirtuar, impe-
dir ou fraudar a aplicação dos preceitos contidos na presente Consolidação.
Terceirização
Ao lado da relação bilateral entre empregado e empregador, é usual estudar as
novas relações angulares, entre empregado, empresa terceirizada e tomador de serviço,
o que justifica o trato do tema lado a lado com o estudo dos sujeitos do contrato de
trabalho.
Mesmo a subempreitada de que cogita a CLT no artigo 455 pode ser pensada
como espécie.
A Súmula 331 do TST costuma ser invocada como substrato à disciplina jurídica
da terceirização. Frise-se que inexiste uma norma geral sobre terceirização, querendo
nos parecer que a referida súmula colide de frente com o artigo 5.º, II, da Constituição, o
qual reza que “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em
virtude de lei”. Não existindo uma norma geral, então, a rigor, vigora a lógica kelseniana
de que o que não se encontra juridicamente proibido estaria permitido. O TST sustenta
o inverso, ao afirmar ilegal a intermediação de mão de obra, não a distinguindo da ver-
dadeira terceirização e, por via transversa, confundindo terceirização com marchandage.
Por fim, no que concerne à fonte das obrigações solidárias, contraria o CC, que assim
dispõe:
Art. 265. A solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes.
De todo modo, a Súmula 331 representa entendimento tão infeliz quanto majo-
ritário, assim afirmado:
Breve referência merece o status jurídico do subempreiteiro. Fixa o artigo 455 da CLT
a solidariedade passiva entre empreiteira principal e subempreiteiro. Exemplifiquemos.
Digamos que a universidade “A” celebra contrato de empreitada com a construtora “X”,
que subcontrata a execução da colocação de esquadrias à empresa “Z”. Em acordo com
a dicção legal, os empregados da empresa Z, caso verificada inadimplência de parcela de
seus direitos, possuem ação direta contra a Construtora “X”, se assim deliberarem, para
cobrar os haveres devidos. Cogita-se, portanto, de solidariedade e não subsidiariedade.
A responsabilidade prevista no artigo 455 da CLT não atinge o dono da obra (uni-
versidade “A”), por ausência de previsão legal – nesse sentido, a jurisprudência,3 que cor-
retamente reconhece a impossibilidade de vínculo de solidariedade sem previsão legal.
3 Consoante a Orientação Jusrisprudencial 191 da SDI-1 do TST: “Contrato de empreitada. Dono da obra de construção civil. Res-
ponsabilidade. Diante da inexistência de previsão legal específica, o contrato de empreitada da construção civil entre o dono da
obra e o empreiteiro não enseja responsabilidade solidária ou subsidiária nas obrigações trabalhistas contraídas pelo empreiteiro,
salvo sendo o dono da obra uma empresa construtora ou incorporadora.”
Remuneração
Conceito de remuneração
Conceito legal
CLT, art. 457. Compreendem-se na remuneração do empregado, para todos os efeitos le-
gais além do salário devido e pago diretamente pelo empregador, como contraprestação do
serviço, as gorjetas que receber.
Conceito doutrinário
Remuneração corresponde à soma de todos os elementos que o empregado per-
cebe em decorrência do labor prestado em face do contrato de trabalho, incluindo tanto
a contraprestação paga diretamente pelo empregador (salário lato sensu) como os valores
auferidos de terceiros em virtude dos serviços prestados (gorjetas).
Dessa forma, toda verba salarial revela natureza remuneratória, mas nem toda
verba remuneratória revela natureza salarial.
Salário
Conceito
Conceito legal
Art. 457. [...]
§1.º Integram o salário não só a importância fixa estipulada, como também as comissões,
percentagens, gratificações ajustadas, diárias para viagens e abonos pagos pelo emprega-
dor.
Conceito doutrinário
Em sentido amplo (lato sensu), salário corresponde ao montante global pago pelo
empregador ao seu empregado a título de contraprestação pelos serviços realizados,
incluindo todas as verbas de natureza salarial.
O vale para refeição, fornecido por força do contrato de trabalho, tem caráter sala-
rial, integrando a remuneração do empregado para todos os efeitos legais.
Decreto 5/91, art. 6.º Nos Programas de Alimentação do Trabalhador (PAT), previamente
aprovados pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social, a parcela paga in natura
pela empresa não tem natureza salarial, não se incorpora à remuneração para quaisquer
efeitos [...]. [Vide OJ-133 do TST]
Salário mínimo
Conceito
CLT, art. 76. Salário mínimo é a contraprestação mínima devida e paga diretamente pelo
empregador a todo trabalhador, inclusive ao trabalhador rural, sem distinção de sexo, por
dia normal de serviço, e capaz de satisfazer, em determinada época e região do país, as
suas necessidades normais de alimentação, habitação, vestuário, higiene e transporte.
CF, art. 7.º São direitos dos trabalhadores [...]
IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas ne-
cessidades vitais básicas e às da sua família com moradia, alimentação, educação, saúde,
lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe
preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim;
Salário mínimo corresponde à contraprestação mínima que o empregador pode
CLT, art. 78. Quando o salário for ajustado por empreitada ou convencionado por tarefa
ou peça, será garantida ao trabalhador uma remuneração diária nunca inferior à do salário
mínimo por dia normal.
Desde que sejam parcelas in natura, concedidas pelo trabalho prestado (e não para
Conceito
É o salário previsto em lei profissional.
Fundamento
CF, art. 7.º São direitos dos trabalhadores [...]
V - piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do trabalho;
Conceito
É a contraprestação mínima prevista em acordo coletivo, convenção coletiva ou
sentença normativa.
Modalidades
Salário normativo voluntário é a contraprestação mínima para determinada catego-
ria ou coletividade de empregados, fixado em convenção coletiva ou acordo coletivo de
trabalho, como fruto da negociação coletiva.
Salário contratual
Conceito
Corresponde à contraprestação que as próprias partes contratantes estipularam
como salário-base do contrato.
Forma de estipulação
Pode ser estipulado em quantia fixa ou percentual.
Gorjetas
Conceito
CLT, art. 457. [...]
§3.º Considera-se gorjeta não só a importância espontaneamente dada pelo cliente ao
empregado, como também aquela que for cobrada pela empresa ao cliente, como adicional
nas contas, a qualquer título, e destinada à distribuição aos empregados.
A gorjeta deve ser estimada por aproximação média para fins de anotação na
arteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) e cálculo das demais verbas que lhe
C
são consequentes.
Espécies de gorjeta
■■ Gorjeta própria: valor pago diretamente pelo cliente ao empregado.
■■ Gorjeta imprópria: valor decorrente do rateio do percentual cobrado pela em-
presa ao cliente como taxa de serviço.
Salário-base
Salário-base é o valor fixado a título de contraprestação direta pelos serviços
normais prestados, servindo de base para o cálculo das demais verbas de natureza
salarial.
Comissões e percentagens
Comissões e percentagens correspondem a retribuições com base em percentuais
sobre a produtividade do empregado, quer em quantidade de bens produzidos ou vendi-
dos, quer em qualidade desses mesmos bens.
Gratificações
São espécies de gratificação:
■■ a de tempo de serviço;
■■ a de função;
■■ a de balanço; e
■■ aquela paga periodicamente por mera habitualidade (semestral, anual etc.).
No mês de dezembro de cada ano, a todo empregado será paga, pelo empregador,
uma gratificação salarial, independente da remuneração a que fizer jus, correspondendo
a 1/12 (um doze avos) da remuneração devida em dezembro, por mês ou fração igual ou
superior a 15 dias de serviço do ano correspondente (Lei 4.090/62, art. 1.º).
Prêmios
Prêmios são valores pagos pelo empregador a seu empregado, vinculados a fatores
de ordem pessoal, ou seja, em virtude de elementos subjetivos, como, por exemplo, a
destacada qualidade do serviço ou o nível de produção de determinado empregado em
determinado mês.
Abonos
Abonos correspondem a adiantamentos salariais, antecipações em dinheiro pagas
ao empregado. Podem ser posteriormente compensados, ou mesmo absorvidos pelo salá-
rio em face de aumento salarial.
Adicionais compulsórios
São os adicionais previstos em lei como forma de compensar o trabalho pres-
tado em condições desfavoráveis para o empregado: adicional de horas extras, adicional
noturno, adicional de transferência, adicional de insalubridade, periculosidade e peno-
sidade.
Elementos in natura
Desde que correspondam a verdadeiro salário-utilidade: habitação, alimentação,
vestuário, transporte e higiene e outros benefícios marginais (fringe benefits).
Quebra de caixa
TST, N. 247. QUEBRA DE CAIXA. NATUREZA JURÍDICA.
A parcela paga aos bancários sob a denominação “quebra de caixa” possui natureza sala-
rial, integrando o salário do prestador de serviços, para todos os efeitos legais.
Ajuda de custo
■■ Conceito: corresponde a um valor pago de forma não habitual pelo empregador
a seu empregado, visando ressarcir gastos do obreiro para estabelecimento em
nova sede por conta de transferência provisória ou definitiva.
■■ Fundamento legal: “Não se incluem nos salários as ajudas de custo [...].” (CLT,
art. 457, §2.º).
Outros
■■ Diárias para viagens, quando o valor não excede 50% do salário: Vide “Diárias
para viagens, quando o valor excede 50% do salário” (página anterior).
■■ Abono do Plano de Integração Social (PIS): o abono pago a título de participa-
ção do empregado no PIS (um fundo formado por depósitos mensais efetuados
pelas partes, sendo parcialmente deduzido do imposto de renda por elas devi-
do) não tem natureza trabalhista. O PIS corresponde a uma forma de partici-
pação do empregado no montante global do produto nacional.
■■ Vale-transporte.
■■ Refeição fornecida no Programa de Alimentação do Trabalhador.
Conceito
O princípio da igualdade salarial veda a discriminação, e assegura aos emprega-
dos o direito de receber salário igual ao do colega, desde que preenchidos determinados
requisitos objetivos.
Fundamento legal
CF, art. 7.º São direitos dos trabalhadores [...]
XXX - proibição de diferenças de salários [...] por motivo de sexo, idade, cor ou estado
civil.
CLT, art. 5.º A todo trabalho de igual valor corresponderá salário igual, sem distinção de
sexo.
CLT, art. 461. Sendo idêntica a função, a todo trabalho de igual valor, prestado ao mesmo
empregador, na mesma localidade, corresponderá igual salário, sem distinção de sexo,
nacionalidade ou idade.
§1.º Trabalho de igual valor será [...] o que for feito com igual produtividade e com a mes-
ma perfeição técnica, entre pessoas cujas diferenças de tempo de serviço não for superior
a 2 (dois) anos.
§2.º Os dispositivos [...] não prevalecerão quando o empregador tiver pessoal organizado
em quadro de carreira, hipótese em que as promoções deverão obedecer aos critérios de
antiguidade e merecimento.
[...]
§4.º O trabalhador readaptado em nova função por motivo de deficiência física ou mental
atestada pelo órgão competente da Previdência Social não servirá de paradigma para fins
de equiparação salarial.
Identidade de função
entre paradigma e equiparando
■■ Mesma função (conjunto de atribuições) não exige mesmo cargo (posto ocupa-
do na escala hierárquica da empresa).
■■ Deve ter mesma responsabilidade dentro da estrutura empresarial.
Mesmo empregador
■■ Deve pertencer à mesma empresa.
■■ Não é admissível equiparação entre empregados de empresas diferentes, salvo
se pertencentes ao mesmo grupo econômico (teoria do empregador único).
Mesma localidade
■■ Normalmente, significa mesmo município.
■■ Pode ser região metropolitana.
Mesma produtividade
■■ Quantidade.
■■ Rendimento do empregado.
TST, N. 6. [...]
II - Para efeito de equiparação de salários em caso de trabalho igual, conta-se o tempo
de serviço na função e não no emprego.
TST, N. 6. [...]
IV - É desnecessário que, ao tempo da reclamação sobre equiparação salarial, reclamante
e paradigma estejam a serviço do estabelecimento, desde que o pedido se relacione com
situação pretérita.
Conceito
Princípio segundo o qual o salário do empregado não pode ser reduzido, devendo
ainda ser reajustado periodicamente para manter o seu poder aquisitivo.
Fundamento
CF, art. 7.º São direitos dos trabalhadores [...]
VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo coletivo;
Conceito
Princípio segundo o qual o salário do empregado é intocável, sendo vedada a rea-
lização de descontos fora das hipóteses previstas em lei.
§1.º Em caso de dano causado pelo empregado, o desconto será lícito, desde que esta pos-
sibilidade tenha sido acordada ou na ocorrência de dolo do empregado.
Possibilidade de descontos
■■ Quando resulta de antecipação ou adiantamento salarial.
■■ Quando houver expressa autorização legal.
■■ Quando houver expressa autorização em instrumento normativo.
■■ Quando existir dano causado culposamente (por negligência, imperícia ou im-
prudência) pelo empregado, desde que haja expressa previsão contratual.
■■ Quando existir dano causado dolosamente (propositalmente) pelo empregado,
independentemente de previsão contratual.
■■ O pagamento será feito mediante recibo, assinado pelo empregado, ou, se este
for analfabeto, mediante impressão digital, ou, não sendo possível, a seu rogo
(CLT, art. 464).
■■ O salário terá que ser pago de forma discriminada, ou seja, com a expressa
indicação de cada verba salarial, sendo vedado pagar de formar global todos os
elementos integrantes do complexo salarial.
Por fim, permitiu flexibilização por tutela sindical do número de horas trabalhadas
em sistema de revezamento, para diminuir ou acrescer a jornada, desde que respeitada a
duração máxima de 44 horas semanais, regra que se pode inferir até mesmo da posição
topográfica dos dispositivos contidos no artigo 7.º em sua repartição e ordenação em
incisos, que ante olhar mais atento, fixa, primeiro no inciso XIII o limite de 8 horas/
dia e 44 horas semanais e, apenas em seguida, estatui o sistema especial de turno de
revezamento. Vide Súmula 423 do Tribunal Superior do Trabalho (TST).
1 Ao tratar do tema ao que se dessume da nomenclatura dos capítulos da obra prefere o professor Amauri Mascaro Nascimento
a expressão jornada de trabalho. Assim justifica: “A segunda (referindo-se às denominações), duração do trabalho, é considerada
extensa demais, porque teria de abranger o estudo do repouso semanal e das férias além de todo descanso.” (NASCIMENTO,
2005).
2 O conceito pode ser extraído das lições de Godinho Delgado (2004, p. 883): “Enquadra-se no tipo legal em exame o sistema
de trabalho que coloque o empregado, alternativamente, em cada semana, quinzena ou mês, em contato com as diversas fases do
dia e da noite, cobrindo as 24 horas integrantes da composição dia/noite”.
3 A expressão contrato coletivo de trabalho equivale no texto do artigo 59 da CLT ao que conhecemos como convenção cole-
tiva.
Por exceção, foram excluídos da duração do trabalho aqueles que exercem ati-
vidade externa incompatível com fixação de horário, v.g., em regra, o trabalho em do-
mícílio; motoristas interestaduais, devendo constar ante a excepcionalidade da situação
dos aludidos empregados tal informação da Carteira de Trabalho e Previdência Social
4 A respeito, algumas edições da CLT trazem, em flagrante atecnia, modificados os dispositivos com os percentuais de adicional
de horas extras, v.g., artigo 59, parágrafo 1.º. Vale lembrar que, para se alterar uma lei é necessário norma da mesma hierarquia,
ou seja, a redação da CLT não mudou, apenas o intérprete deve, na aplicação dos dispositivos da CLT, atentar para o limite
mínimo de 50% previsto na Constituição.
(CTPS) do empregado. Também excluídos os empregados que ocupem cargos de con-
fiança imediata do empregador, gozem de amplos poderes de mando e gestão, e rece-
bam retribuição diferenciada (gratificação de função superior a 40% dos demais em-
pregados, se houver, ou ao menos recebam estipêndio superior aos demais em mesma
proporção). No primeiro caso, é clara a impossibilidade de aferir o tempo efetivamente
destinado ao trabalho e, no último, na maioria das vezes são os obreiros altos emprega-
dos que controlam os horários dos demais; todavia, não sofrem controle de quem quer
que seja. Frise-se que se possível a aferição da jornada, mesmo externa (CLT, art. 62, I)
ou se presente controle da jornada na hipótese do artigo 62, II, da Consolidação, óbice
algum subsistirá para a aplicação das regras de duração do trabalho, assim entendidas,
principalmente, horas extraordinárias, trabalho noturno e intervalos.
A Lei 4.923/65 prevê a redução do salário até o limite de 25% (art. 2.º), com a
redução proporcional da jornada. Hoje, a redução referida somente se pode verificar por
acordo ou convenção coletiva, encontrando-se a referida norma, para muitos doutos,
parcialmente em vigor.
Saliente-se que as regras acima valem para o trabalhador urbano; ao rurícola não
se aplica a redução ficta, e existem dois horários noturnos, das 20 às 4h ou das 21 às 5h,
conforme se esteja pensando em pecuária ou agricultura, respectivamente. Por fim, o
rurícola possui adicional noturno de 25%.
Para espantar dúvidas, deve-se rememorar que nada obsta mesmo a celebra-
ção do contrato a tempo parcial, com base na proporcionalidade salarial calcada no
estipêndio mínimo, que pode ser compreendido e pago enquanto salário mínimo-hora,
este sim, limite inferior que demanda acatamento.
ser assim resumida: até quatro horas, não existirá intervalo; de quatro a seis horas,
quinze minutos; e acima de seis horas, mínimo de uma hora, redutível com autorização
do Ministério do Trabalho ao limite de trinta minutos, quando presentes refeitórios e
não houver prestação de horas extraordinárias, e máximo de duas horas, passível de
majoração por acordo escrito, individual ou coletivo.
6 Lei 605/49.
7 As faltas de que se cogita aqui são as injustificadas. As justificadas, v.g., artigo 473 da CLT, não acarretam qualquer prejuízo ao
empregado, muito menos quanto ao repouso semanal remunerado.
Quanto ao pagamento das férias, deverá se verificar até dois dias antes do gozo
e urge ressaltar que a Constituição criou o acréscimo de um terço sobre a remuneração
das mesmas, em evidente tentativa de evitar a “venda” de férias ou, tecnicamente, a
conversão de 10 dos 30 dias de férias em pecúnia9, leia-se, 10/30 = 1/3; tendo, por lapso
de memória, esquecido o legislador infraconstitucional de revogar a previsão do artigo
143 da CLT, permanecendo concomitantes hoje tanto o abono de férias (CLT, art. 143)
quanto o acréscimo Constitucional de um terço (CF, art. 7.º, XVII). Ademais, presente
na CLT pagamento de férias proporcionais, excepcionada a hipótese de despedida por
justa causa e inclusive em razão da nova redação da Súmula 171 do TST.
8 Empregados da mesma família podem pleitear gozo conjunto se desejarem e não houver prejuízo ao serviço. O empregado
estudante tem direito a fazer coincidir suas férias com as escolares (CLT, art. 136 e seus parágrafos).
9 Artigo 143 da CLT.
Alteração contratual
O contrato de trabalho é comutativo e, em regra, por tempo indeterminado (prin-
cípio da continuidade). A toda evidência não sendo um contrato de execução instantâ-
nea, mas sim um contrato concebido para durar, comporta alterações das prestações
recíprocas pactuadas inicialmente, tanto em relação às obrigações do empregado como
do empregador. Constitui-se, assim, em contrato extremamente complexo, porque,
sendo executado em lapso temporal longo e comportando direitos e obrigações tanto
para o empregado quanto para o empregador, torna-se extremamente propício a sofrer
modificações executivas, alterando os termos em que foi originalmente estabelecido,
de modo a adequá-lo às mudanças que ocorrem, seja na empresa, seja quanto à pessoa
do empregado ao longo do tempo.
Toda alteração ilícita automaticamente gera um efeito cogente, qual seja, a nuli-
dade dela decorrente (CLT, arts. 9.º e 468), mas se existe, então, esse efeito obrigatório,
outro efeito existe que depende, agora, da vontade das partes, que é a possibilidade de
se postular que sejam desconstituídos todos os efeitos produzidos pela inovação contra-
tual com o retorno das partes ao statu quo ante ou à própria terminação do ajuste, que
alguns autores cognominam, no último caso, de efeito disciplinar ou resolutivo.
Transferência do empregado
A transferência, a princípio, é permitida desde que consentida. Somente conside-
rou o legislador transferência a que acarreta necessária mudança de domicílio, o que se
verifica, em regra, na determinação que altere o município em que trabalhe o emprega-
do. O preceito fundamental, portanto, encontra-se previsto no artigo 469 da Consolida-
ção, que disciplinou tal modalidade de alteração contratual.
1 A juízo dos referidos autores (2005, p. 326), “a suspensão pode ser total ou parcial. Dá-se, totalmente, quando duas obrigações
fundamentais, a de prestar o serviço e a de pagar o salário, se tornam reciprocamente inexigíveis. Há suspensão parcial quando
o empregado não trabalha e, não obstante, faz jus ao salário”.
■■ férias;
Art. 473. O empregado poderá deixar de comparecer ao serviço sem prejuízo do salário:
I - até 2 (dois) dias consecutivos, em caso de falecimento do cônjuge, ascendente, descen-
dente, irmão ou pessoa que, declarada em sua Carteira de Trabalho e Previdência Social,
viva sob sua dependência econômica;
II - até 3 (três) dias consecutivos, em virtude de casamento;
III - por 1(um) dia, em caso do nascimento de filho, no decorrer da primeira semana;
IV - por 1 (um) dia, em cada 12 (doze) meses de trabalho, em caso de doação voluntária
de sangue devidamente comprovada;
V - até 2 (dois) dias consecutivos ou não, para fim de se alistar eleitor, nos termos da lei
respectiva;
VI - no período de tempo em que tiver de cumprir as exigências do Serviço Militar referi-
das na letra c do art. 65 da Lei 4.375, de 17 de agosto de 1964 (Lei do Serviço Militar);
VII - nos dias em que estiver comprovadamente realizando prova de exame vestibular para
ingresso em estabelecimento de ensino superior;
VIII - pelo tempo que se fizer necessário, quando tiver que comparecer a juízo;
IX - pelo tempo que se fizer necessário, quando, na qualidade de representante de enti-
dade sindical, estiver participando de reunião oficial de organismo internacional do qual
o Brasil seja membro.
O inciso VIII do artigo 473 da CLT sanou situação jurídica teratológica, pois a
falta ao trabalho para depor como testemunha figurava na legislação processual, inexis-
tindo previsão, antes da aposição do inciso, para a ausência na qualidade de parte na
lide, o que hoje resta sanado.
Locaute (do inglês lockout) é cessação da atividade da empresa para frustrar nego-
ciação coletiva e pressionar a categoria profissional, sendo proscrito em nosso direito,
razão porque assegura direito ao salário, amoldando-se como interrupção.
O artigo 476-A cogita, por fim, da suspensão negociada, a ser fixada por acordo
ou convenção coletiva, e dependente de aquiescência do empregado, que se mostra forma
de flexibilização, na qual o empregado, por dois a cinco meses, participa de cursos de
retreinamento ou qualificação profissional, prevista também a manutenção volun-
tária de vantagens pelo empregador, inclusive pagamento de natureza não salarial
(cujo montante incumbe ao acordo ou convenção coletiva fixar). O parágrafo 7.º
possibilita a prorrogação por tempo superior ao prazo máximo estabelecido (cinco
meses), desde que paga bolsa de qualificação. A aludida suspensão foi pensada como
alternativa, ainda e mais uma, a minorar os nefastos efeitos do desemprego.
A Lei Maria da Penha permite ao juiz suspender por 6 meses o contrato de tra-
balho da mulher em situação de violência doméstica. Trata-se de suspensão e não inter-
rupção, pois não cogitou o legislador de pagamento no respectivo período.
Generalidades
Em sede de doutrina, são múltiplas as classificações sobre a terminação do con-
trato. Segundo De Plácido e Silva (1987), o vocábulo provém do latim terminatio, adu-
zindo que na linguagem jurídica, além da equivalência comum, é empregado no sentido
de extinção e dissolução.
Eis a razão da nossa preferência pelo termo, que não guarda consenso entre os
autores, para significar o conjunto das formas pelas quais um contrato pode encontrar
seu epílogo.
Extinção do contrato
de trabalho (caducidade)
O contrato cumpre seu ciclo de vida, tendo por natural extinção o cumprimento
de seus efeitos e consequente esgotamento. Assim, a morte do empregado e o advento
do termo ou condição impõem sua terminação sob a forma de caducidade. Enquadram-
-se, aqui, acontecimentos previstos ou previsíveis com força suficiente para pôr termo
ao acordo de vontades.
Resilição
Na resilição, temos a dissolução por iniciativa de uma ou de ambas as partes, o
que nos permite qualificá-la em unilateral ou bilateral.
Seu exercício pelo empregado (demissão) pode suscitar ônus pecuniários (CLT,
art. 480) ou eliminar direitos (por exemplo, indenização fundiária nos casos de contra-
tos indeterminados).
1 Reportamo-nos ao término antecipado do contrato por tempo determinado no capítulo referente ao contrato de trabalho, ao
qual remetemos o leitor.
possibilidade de atuação na esfera jurídica de outrem sem que o ex adverso possa legiti-
mamente se opor.
Resolução
A resolução vislumbra-se quando presente culpa executiva de um dos contratantes
(CLT, arts. 482 e 483) ou de ambos (culpa recíproca). Falemos em breves linhas das
justas causas do empregado. Dispõe o artigo 482 da CLT:
Art. 482. Constituem justa causa para rescisão do contrato de trabalho pelo empregador:
a) ato de improbidade;
b) incontinência de conduta ou mau procedimento;
c) negociação habitual por conta própria ou alheia sem permissão do empregador, e
quando constituir ato de concorrência à empresa para a qual trabalha o empregado, ou for
prejudicial ao serviço;
d) condenação criminal do empregado, passada em julgado, caso não tenha havido suspen-
são da execução da pena;
e) desídia no desempenho das respectivas funções;
f) embriaguez habitual ou em serviço;
g) violação de segredo da empresa;
h) ato de indisciplina ou de insubordinação;
i) abandono de emprego;
j) ato lesivo da honra ou da boa fama praticado no serviço contra qualquer pessoa, ou
ofensas físicas, nas mesmas condições, salvo em caso de legítima defesa, própria ou de
outrem;
k) ato lesivo da honra ou da boa fama ou ofensas físicas praticadas contra o empregador e
superiores hierárquicos, salvo em caso de legítima defesa, própria ou de outrem;
l) prática constante de jogos de azar.
Parágrafo único. Constitui igualmente justa causa para dispensa de empregado a prática,
devidamente comprovada em inquérito administrativo, de atos atentatórios contra a segu-
rança nacional.
O ato de improbidade representa a mais grave justa causa prevista na CLT, alber-
gando o sentido de atos que denotam má-fé por parte do empregado, em regra, atentan-
do contra o patrimônio do empregador ou de terceiros.
reconhecida como justa causa, uma vez que a evolução médica atestou seu caráter pato-
lógico, sendo hipótese de suspensão contratual (doença: nesse sentido a jurisprudência,
em oposição à expressa dicção legal).
A prática de jogos de azar, assim entendidos os jogos não chancelados pela or-
dem jurídica, aliás, cada dia mais numerosos, são equivocadamente apostos como justa
causa pelo legislador. A compulsão, por jogos ou drogas, revela comportamento que,
quando irresistível, sendo patológico, implica suspensão contratual, segundo nos parece.
A jurisprudência é rara e vacilante.
O efeito da culpa recíproca é o de reduzir por metade as indenizações (CLT, art. 484).
Rescisão
A rescisão se encontra jungida à ocorrência de nulidade, estando as principais
discussões atreladas ao absolutamente incapaz; contratos com objeto ilícito e Súmula 363
do Tribunal Superior do Trabalho (TST), tratados, todos, no tópico pertinente (nulidade
e anulabilidades).
O ato é nulo se ele recair, discordâncias à parte, em uma das hipóteses do artigo 166
do Código Civil (CC), preceituando que é nulo o negócio jurídico quando:
■■ for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para sua validade;
Das hipóteses nos interessa em primeiro plano a anulação quando o ato sofre
um vício de vontade, seja erro, dolo, coação, fraude, lesão ou estado de perigo. Reme-
more-se que a simulação passou com o CC em vigor a ser hipótese de nulidade; nesse
sentido o artigo 167.
Também será anulado o ato quando for incapaz de forma relativa o agente.
todavia, o empregador não teria como restituir a energia de trabalho despendida pelo
obreiro, sendo inviável tal conclusão, pois o próprio CC, no artigo 182, veda o enrique-
cimento sem causa. Os efeitos pretéritos hão que ser preservados, portanto.
Algumas situações particulares demandam estudo.
Nos contratos com objeto ilícito, ao que nos parece, nenhum efeito pretérito
pode ou deve ser reconhecido. Estão abrangidos nessa hipótese a faxineira do jogo do
bicho e o garçom do prostíbulo, dentre outros. Remetemos o leitor, quanto à intelecção
do móvel do entendimento dos tribunais majoritariamente no sentido acima indicado
ao que foi exposto no trato dos pressupostos do contrato de trabalho.
Admissão do empregado
O legislador, no artigo 13 e seguintes da Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT), cogita da Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) como um documento
de identificação do trabalhador, sendo obrigatória ao exercício de qualquer profissão.
Traça minucioso procedimento de emissão da CTPS pela Superintendência Regional do
Trabalho e Emprego (SRTE) ou órgãos conveniados.
Pergunta assaz comum diz respeito ao valor das anotações. Primeiro, saliente-se
que as anotações na CTPS gozam de presunção legal de veracidade; a presunção, entre-
mentes, é relativa, ou seja, admite prova em contrário.
A recusa nas anotações pode ensejar postulação pela via administrativa, junto ao
Ministério do Trabalho ou diretamente na Justiça do Trabalho. Em qualquer hipótese,
se administrativamente as partes contenderem sobre a existência do vínculo, o proce-
dimento administrativo será sobrestado, e as partes encaminhadas à Justiça Especiali-
zada, que irá solver a controvérsia, aplicando-se, acaso reconhecido o vínculo, ao fim e
ao cabo, as multas cabíveis. Recente alteração do capítulo (Lei 10.270/2001) esclareceu
fato já indicado pela doutrina, qual seja, a vedação de anotações desabonadoras.
Por fim, cogita o legislador ainda do livro de registro de empregados. Aqui, seja
por meio físico ou eletrônico, cria-se um novo documento, agora com o escopo de via-
bilizar a fiscalização do trabalho. O livro de registro de empregados será previamente
autenticado pela SRTE e em cada admissão de empregado deverá o empregador anotar,
afora os lançamentos na CTPS, no livro respectivo, dados da admissão, duração do tra-
balho e férias (CLT, art. 41, parágrafo único).
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A.,
mais informações www.iesde.com.br
DIREITO DO TRABALHO
Após essa data, não há que se falar mais em opção, porque o Constituinte estendeu
genericamente aos trabalhadores o regime, agora único, do FGTS.3
c onceitos como despedida arbitrária e despedida sem justa causa, sabidamente distintos, e
que, por conta da inércia do legislador, ensejam hoje a mesma consequência jurídica, a
saber, a incidência da indenização prevista no artigo 10, I.6
Existe abuso de direito quando ele é exercido de forma anormal e contrária à sua
finalidade. Equiparado o abuso de direito ao ato ilícito, teria a outra parte, empregado,
direito de haver uma indenização.
Por fim, alguns pregaram mesmo que não se deveria perquirir culpa, porquan-
to o simples exercício da atividade econômica pelo empregador atrairia o consequente
risco a fundar o direito de indenização ao empregado quando da ruptura do vínculo de
emprego pelo empregador.
6 Vide o prazo de vigência da alteração de percentuais, à luz da Lei Complementar 110/2001. Esta mesma lei elevou para 50% o
depósito do FGTS na despedida sem justa causa, 10% reverte ao patrimônio do FGTS, alteração esta que continua em vigor.
7 Vide o prazo de vigência da alteração de percentuais, à luz da Lei Complementar 110/2001.
8 Remuneração é o total de ganho dos empregados, exceto a participação dos lucros.
Art. 443. O contrato individual de trabalho poderá ser acordado tácita ou expressamente,
verbalmente ou por escrito e por prazo determinado ou indeterminado.
§1.º Considera-se como de prazo determinado o contrato cuja vigência dependa de termo
prefixado ou da execução de serviços especificados ou ainda da realização de certo acon-
tecimento suscetível de previsão aproximada.
§2.º O contrato por prazo determinado só será válido em se tratando:
a) de serviço cuja natureza ou transitoriedade justifique a predeterminação do prazo;
b) de atividades empresariais de caráter transitório;
c) de contrato de experiência.
Iniciativa do empregador
A primeira regra será efetivar atenta leitura dos termos do contrato, em busca
da cláusula autorizando o término, ante tempus ou a qualquer instante, como em regra
indicada. Presente tal cláusula, aplicar-se-á o artigo 481 da CLT e, em se verificando,
partiremos então para incidência do artigo 479.
Assim, a cláusula assecuratória do direito recíproco de rescisão antecipada nada
mais é do que cláusula prevendo que o empregado ou o empregador possa encerrar o
contrato de trabalho a qualquer momento.
A rescisão antecipada do contrato por tempo determinado sem culpa do outro
contratante cambia, assim, conforme tenha provindo a iniciativa do empregado ou do
empregador.
Se o empregador rescinde o contrato por tempo determinado sem motivo, ques-
tiona-se, faz o empregado jus à indenização? O legislador indica que sim; a medida da
indenização, entrementes, pode variar, calcando-se no artigo 479 ou no artigo 481
da CLT.
Dispõe o artigo 479:
Art. 479. Nos contratos que tenham termo estipulado, o empregador que, sem justa causa,
despedir o empregado será obrigado a pagar-lhe, a título de indenização, e por metade, a
remuneração a que teria direito até o termo do contrato.
Procedimentos e direitos
concernentes à terminação do contrato
O contrato de trabalho se apresenta como contrato de trato sucessivo e por tem-
po indeterminado. Nesse diapasão, a parte desejosa de pôr termo ao liame deverá pré-
-avisar o outro contratante. A regra provém do Direito Civil nos contratos por tempo
indeterminado, sendo plenamente aplicável ao Direito Laboral. Frise-se que o aviso pré-
vio se apresenta como integrante do rol da proteção constitucional à relação de emprego
(aviso prévio proporcional, CF, art. 7.º, XXI). A CF de 1988 trouxe como novidade a
proporcionalidade ao tempo de serviço do aviso prévio. Integra-se em sede de conceito o
aviso prévio em três elementos: comunicação, decurso do tempo e pagamento. Assim,
para encerrar o ajuste, o contratante deve pré-avisar a outra parte (obrigação bilateral,
logo, de ambos os contrantes); permitir a continuidade executiva por período que muda
de legislação a legislação; e efetivar pagamento do período consectário.
Durante o aviso prévio, vigora redução da jornada em duas horas por dia ou
sete dias corridos. Integra-se o pré-aviso ao tempo de serviço para todos os efeitos,
mesmo e ainda quando indenizado. A ausência de concessão pelo empregador atrai
obrigação de indenizar o período consequente e, quanto ao empregado, se olvidada
a obrigação de pré-avisar, enseja possibilidade ao empregador de retenção de salário
como forma de indenização. Dissente a doutrina sobre a natureza jurídica do aviso
prévio: para alguns autores, salário, mas majoritariamente indenização, notadamente
nas hipóteses em que ausente estiver a correlata prestação de trabalho.
Por fim, após a concessão do aviso prévio é cabível a reconsideração, desde que
aceita pela outra parte, sendo o instituto, ademais, irrenunciável, em princípio, com os
temperamentos da Súmula 276 do TST.
Existia em nosso Direito previsão de estabilidade geral, que se obtinha aos dez
anos de trabalho, desde que não houvesse opção pelo FGTS, antes de 1988. A Carta
Principais formas de
Prazos
estabilidades especiais
9 Observado o número máximo previsto no artigo 522 da CLT, segundo a jurisprudência. A jurisprudência entende aplicável a
necessidade de inquérito para apuração de falta grave para sua despedida. O artigo 659, X, prevê possibilidade de reintegração
liminar.
10 Apenas detêm estabilidade os representantes dos empregados na comissão interna de prevenção de acidentes.
11 Independe do conhecimento do empregador, sendo fato objetivo, passível de prova por atestado médico.
12 Conselho Nacional de Previdência Social (CNPS) – representantes dos empregados.
Quanto ao menor, para efeitos trabalhistas, pode ser reconhecido como aquele
entre 14 e 18 anos de idade. O tema se encontra afeto aos pressupostos do contrato de
trabalho, como descrevemos a seguir.
Qual o efeito, então? Sem dúvida, ocorre a repercussão da regra do artigo 5.º, V,
do CC, sobre a capacidade trabalhista, determinando assim que os que trabalham a partir
dos 16 anos, por força de contrato de trabalho, tornam-se maiores. A repercussão, todavia,
aparta-se em duas esferas distintas e inconfundíveis, segundo nosso atual pensamento.
Quanto aos atos jurídicos que envolvam manifestação de vontade ou sua comple-
mentação por assistência, a exemplo da quitação da rescisão final do contrato, não mais
são exigíveis. A interpretação do direito não pode conduzir ao absurdo – neste sentido
pontificou Carlos Maximiliano (1998).
A se entender de modo diverso, teríamos que alguém com 16 anos e que cele-
brasse contrato de trabalho, portanto adquirindo economia própria – eis que o salário
mínimo se apresenta ipso facto como menor valor de estipêndio permitido – poderia
validamente efetivar compra e venda de imóvel, ceder direito de imagem, celebrar con-
trato de casamento,1 negócios jurídicos a toda evidência de enorme gravidade, mas para
simplesmente firmar a rescisão do contrato de trabalho e dar a respectiva quitação ne-
cessitaria recorrer aos pais ou responsável legal.
Derrogada, então, a proteção ao menor? Evidente que não.
A repercussão não se verifica nos atos que extrapolam o interesse meramente indi-
vidual e desembocam em conteúdo de ordem pública, ou seja, interesse geral da coletivi-
dade, de que são exemplos as normas de higiene e segurança do trabalho. A proibição de
trabalho noturno, insalubre, perigoso ou em sobrejornada ao menor, nenhuma referên-
cia guarda à alusão feita sobre a vontade, mas deriva do interesse público na preservação
da mão de obra futura e da higidez dos menores, persistindo vigentes tais limitações.
A tutela ao menor é complementada com o trato da aprendizagem. A Consolida-
ção, reformulada no particular pela Lei 10.097, de 19 de dezembro de 2000, disciplina a
aprendizagem nos artigos 403 e 428 ao 433.
O conceito de menor aprendiz se encontra estatuído no artigo 428 da norma con-
solidada 2.
Atento à necessidade de preparação prévia ao exercício de determinadas ativida-
des, houve por bem o legislador estatuir a previsão em comento. Em sua origem, previa
a CLT, no artigo 83, que o menor aprendiz poderia receber a título de estipêndio valor
1 Divergem os autores sobre a natureza jurídica do casamento, se contrato ou instituição. Sobre o tema, reportamo-nos em
nosso “Débito conjugal e suas vicissitudes” (1998, p. 113) nos seguintes termos: ultrapassada sua conceituação, urge voltarmos
nossa atenção à natureza jurídica. Não são acordes os autores, ora vislumbrando negócio complexo, ora contrato de direito de
família (Silvio Rodrigues); ora ato-condição (Duguit); contrato especial (Orlando Gomes); instituição (Mazeaud). Sem embargo
das renomadas opiniões em contrário, mais se amolda o casamento à ideia institucional, em que as partes aderem ao estatuto
imperativo previamente existente por sua livre manifestação de vontade.
2 A Lei 11.180/2005 alterou o limite máximo de idade de aprendizagem para 24 anos. O deficiente físico foi excluído do limite
máximo.
inferior ao salário mínimo, previsão hoje suprimida pela incorporação do parágrafo 2.º ao
artigo 428, e a revogação consequente da norma anterior (CLT, art. 83).
O artigo 431 criou figura especial de menor aprendiz não empregado, a saber,
aquela prevista no artigo 430, inciso II (entidades sem fins lucrativos de assistência ao
adolescente e educação profissional, inscritas no Conselho Municipal dos Direitos da
Criança e do Adolescente).
Encontra-se o conceito legal de empregado fixado na CLT, em seu artigo 3.º, nos
seguintes termos:
Art. 3.º Considera-se empregado a pessoa física, que presta serviços de natureza não even-
tual a empregador, sob dependência deste e mediante salário.
Do conceito por nós proposto de pessoalidade, podem ser retirados dois atribu-
tos: primeiro, ser o empregado pessoa física e, segundo, que o contrato é intuitu personae,
ou seja, o empregado não pode se fazer substituir por outro na execução do contrato. A
não eventualidade pode ser enunciada como necessidade de repetição periódica da pres-
tação de trabalho e atendimento à finalidade normal da empresa. Inconfundíveis a não
eventualidade, referida na Consolidação, e a continuidade (Lei 5.859/72).
Contratos outros, todavia, apresentam-se com suas peculiaridades, mas por re-
presentarem universo mais hermético e reduzido, costumam ser tratados sob a pecha
de contratos especiais de trabalho. Dentre eles; advogado, aeronauta, aeroviário, bancário,
digitador, médicos, mineiro e professor.
Flexibilização
Vislumbra-se na flexibilização a quinta fase da evolução do Direito do Trabalho.
Em se tratando de institutos novos, nem sequer se augurou fixar a exata nomenclatura
a ser adotada. Autores como Mascaro Nascimento (apud SOUSA, 2002, p. 39) adotam o
vocábulo, não obstante se reportem em algumas obras ao Direito do Trabalho de Crise.
Robortella rememora, inclusive, que essa última expressão foi utilizada pelo professor
Mario Pasco.
A expressão Direito do Trabalho de Crise deve, ao que nos parece, ser evitada, pois
não aclara com inteireza a fase atual da evolução do Direito do Trabalho, ao conduzir à
equívoca ideia de que se estaria tão somente diante de medidas conjunturais voltadas
a enfrentar a crise econômica inaugurada com as crises do petróleo, quando, em ver-
dade, mais que da crise econômica, deriva a flexibilização das mudanças econômicas,
sociais e políticas fomentadas pela Revolução Tecnológica.
Assim, hão de ser abandonadas duas noções tão usuais quanto equívocas.
Todas as medidas que busquem dar maior plasticidade à norma laboral, afastan-
do sua rigidez, englobam-se no conceito de flexibilização.
Inexiste norma geral sobre flexibilização, que costuma assim ser tratada pelo
legislador ponto a ponto. Todavia, urge esclarecer que dela foram objeto os tópicos mais
essenciais do contrato de emprego, salário e jornada.
Terceirização
O vocábulo terceirização, assim como o instituto jurídico em comento, estão longe
de galgar o consenso entre os juristas. A própria terminologia é tida por alguns doutos
como equívoca.
que reza que: “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em
virtude de lei”. Não existindo uma norma geral, então, a rigor, vigora a lógica kelseniana
de que o que não se encontra juridicamente proibido, estaria permitido. O TST afirma
o inverso ao considerar ilegal a intermediação de mão de obra, não a distinguindo da
verdadeira terceirização e, por via transversa, confundindo terceirização com marchan-
dage. Por fim, no que concerne à fonte das obrigações solidárias, contraria o Código Civil
(CC) o qual assim dispõe:
Art. 265. A solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes.
De todo modo, a Súmula 331 representa entendimento tão infeliz quanto majo-
ritário, assim afirmado:
A responsabilidade prevista no artigo 455 da CLT não atinge o dono da obra (uni-
versidade “A”) por ausência de previsão legal – nesse sentido a jurisprudência1, que cor-
retamente reconhece a impossibilidade de vínculo de solidariedade sem previsão legal.
Cooperativas
As cooperativas representaram historicamente um esforço dos trabalhadores
em perseguir, em proveito próprio, as vantagens do modelo capitalista de produção.
A celeuma em torno das cooperativas no direito brasileiro se tornou aguda após a
incorporação pela Lei 8.949/94 do parágrafo único do artigo 442 da CLT, que negou
peremptoriamente a possibilidade de formação de vínculo entre os cooperados e a
cooperativa, e entre associados das cooperativas e tomadores de serviço. Em verdade,
segundo hoje se pensa, não se cogita senão de presunção favorável ao cooperativismo.
Ou seja, se presentes os requisitos identificadores da verdadeira atividade cooperativa,
v.g., dupla qualidade e retribuição pessoal diferenciada (DELGADO, 2004), ambos reco-
nhecidos pela doutrina, não se forma vínculo de emprego. Acaso ausentes os requisitos,
é possível a invocação do artigo 9.º da CLT e do princípio da primazia da realidade para,
ultrapassada a forma, quando fraudulenta, ser reconhecido o liame empregatício.
1 Consoante a Orientação Jusrisprudencial 191 da SDI-1 do TST: “Contrato de empreitada. Dono da obra de construção civil.
Responsabilidade. Diante da inexistência de previsão legal específica, o contrato de empreitada de construção civil entre o dono
da obra e o empreiteiro não enseja responsabilidade solidária ou subsidiária nas obrigações trabalhistas contraídas pelo emprei-
teiro, salvo sendo o dono da obra uma empresa construtora ou incorporadora.”
Inexiste aqui unanimidade: muitos entendem que o correto seria falar em direito
coletivo; para outros, sindical e coletivo. Preferimos, concessa venia, a primeira expressão,
que goza de maior prestígio na doutrina.
Sendo a empresa uma unidade em si, pode ser titular de relações de direito cole-
tivo, a exemplo do acordo coletivo de trabalho.
Evidencia-se em direito coletivo o que a doutrina nomina de poder normativo dos grupos.
Dois são os sistemas legais: unicidade sindical, em que somente poderá existir
um sindicato na mesma base territorial, e pluralidade sindical, em que persiste livre a
criação de quantos sindicatos deliberem as partes. Esse último sistema, em regra, atri-
bui legitimidade para negociar coletivamente ao sindicato mais representativo.
O sistema ideal para os autores é a unidade, ou seja, unicidade na pluralidade,
vale dizer, possível a criação de mais de um sindicato (não havendo vedação legal), mas
os interessados deliberam voluntariamente criar apenas um.
Tudo isso nos leva a falar na existência de uma liberdade sindical mitigada, que não
se amolda à Convenção 87 da OIT.
Outorgou-se ao sindicato o monopólio da negociação coletiva e se assegurou o
direito de greve, restando vedado o locaute.
Em nossa sistemática, a greve é vista como um direito, enquanto em outros
países, sendo apenas tolerada, a doutrina se inclina a tratá-la como um fato.
Ainda asseguraram-se outras formas não sindicais de representação dos traba-
lhadores, de que é bom exemplo o artigo 11 da CF. Por fim, reconheceu-se o direito
de participação dos obreiros nos órgãos públicos em que se discutam seus interesses
profissionais ou previdenciários (CF, art. 10).
Quanto à aplicação do direito material do trabalho, reconheceu a Carta Magna
a autonomia jurisdicional do Direito do Trabalho ao disciplinar, no seu artigo 114, a
competência da Justiça do Trabalho, talhada para litígios entre trabalhadores e empre-
gadores e cuja competência restou sensivelmente ampliada pelo advento da Emenda
45/2004 (Reforma do Poder Judiciário), que, afora a ampliação da competência para
todas as formas de relação de trabalho, trouxe novas matérias, a exemplo das multas
aplicadas pela fiscalização do trabalho e dissídios de legitimidade entre sindicatos.
O poder normativo foi mitigado, passando-se a exigir comum acordo para o ajui-
zamento dos dissídios coletivos de natureza econômica, a teor da nova redação do artigo
114, parágrafo 2.º, da CF de 1988, ressalvando-se apenas o dissídio coletivo de greve
(CF, art. 114, §3.º).
Quanto aos sindicatos, sua criação hoje é livre, adquirindo personalidade desde os
registros dos seus atos constitutivos, exigindo-se, todavia, depósito dos atos constitutivos
no Ministério do Trabalho para se verificar a infringência ou não à regra de unicidade.
A ampla maioria das normas acerca de administração sindical presentes na CLT
se encontra revogada, merecendo destaque o entendimento da súmula 369 do TST1 de
Muito são discutidos os efeitos das cláusulas dos acordos e convenções coletivos.
Certo é que possuem cláusulas normativas e obrigacionais. As primeiras envolvem a
criação de norma jurídica nova e as últimas, como o dever de paz e de influência, apenas
vinculam os celebrantes.
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cional. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000.
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DIREITO DO TRABALHO
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