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ABORDAGEM ONTOLÓGICA
Resumo
Resumen
1
Graduando em Filosofia pela UFSJ. E-mail para contato: wesleysousa666@outlook.com.
Lukács, se procura también intervenir de manera consciente y cohesiva (explicitando lo
que el filósofo de Budapest pone como irracionalismo) en el mundo contra el
oscurantismo de la sociedad capitalista y el irracionalismo filosófico. Aunque las dos
ontologías hay entre sutiles afinidades y repulsivas latentes, como vamos a demostrar a
continuación, son inconciliables.
Introdução
2
Ver em LESSA, Sérgio. Para compreender a ontologia de Lukács. Instituto Lukács, 2015. 4°
edição. Lukács argumentou, em diversas oportunidades, que inúmeros atos humanos não podem ser
reduzidos a atos de trabalho, em que pese o fato de o trabalho ser a forma originária e o fundamento
ontológico das diferentes formas da práxis social. No decorrer do tópico posterior tratamos disso
diretamente.
fundamentação ontológica, vale ressaltar, numa época de ampla reprodução e aceitação
quase que unânime do expurgo da ontologia do campo científico, reivindicado pelo
neopositivismo que contaminou as ciências sociais. O enfoque de Lukács também se
conteve em superar a velha filosofia impregnada dentro do interior do marxismo, cujo
ápice teve no stalinismo (termo empregado aqui diferentemente à vulgata de Hannah
Arendt em seu livro amplamente divulgado: As Origens do Totalitarismo (1951)); no
materialismo mecanicista de Bernstein e dos mentores da Terceira Internacional
Comunista. Vemos que para Lukács a superação da tradicional filosofia burguesa deve
acompanhar o projeto de superação do capitalismo (onde também a filosofia tem sua
expressão). Na crítica dessa nova hegemonia, identifica-se que Lukács trabalhou em
fornecer esboços significativos contra novas concepções teóricas, como o pós-
estruturalismo, pós-modernismo e, posteriormente, como falaremos a fenomenologia
heideggeriana e a categoria de alienação (Entfremdumg) principalmente. Nesse sentido,
a filosofia lukácsiana se lê a crítica à recusa ontológica do marxismo.
A intenção de Lukács é, de certa maneira, fazer um ajuste de contas com a
tradição filosófica, muito em conta do peso do idealismo alemão de Hegel e seu
idealismo do Absoluto e Kant e sua filosofia transcendental – e da repulsão da
fenomenologia existencialista de Heidegger perante o trato com o marxismo. Embora o
autor alemão quase não fizesse referência a Marx em seus escritos, há uma clara luta no
campo intelectual contra o pensamento marxista e sua influência como tradição
filosófica de grande peso no período de publicação de Ser e Tempo (1927).
Aqui nos limitaremos a focar no que nos é pertinente: a restauração ontológica
da concepção de mundo fundada, pelo qual a teoria marxiana é expressamente
condutora dessa concepção, ancoradas em categorias primordiais, como a linguagem e o
trabalho. Isso se deve, com o surgimento e a consolidação do sistema capitalista, a
sociedade no seu desenvolver das forças produtivas, porém mais constitutivamente
social, assume medidas cada vez mais dominantes de ciências “parcelares” em sua
forma moderna (como exemplo a Sociologia). Lukács irá enfatizar que este romper das
ciências particulares com as “necessidades filosóficas e de concepção de mundo” é algo
diverso e decididamente amplo.
Todo posicionamento teórico de recusa à ontologia é tipicamente nominal.
Limitar a concepção ontológica é principiar uma forma acrítica e passiva das
concepções de mundo, vide o neopositivismo (cujo obteve resquícios no marxismo de
Bukhárin).
Ontologia de Lukács e a restauração da crítica ontológica nas ciências sociais
Se nosso agir tem por detrás um telos, isto é, uma finalidade de nossas ações,
por mais irrefletidas e impensadas racionalmente, podem elas ser falsas as realizações
práticas dessa falsidade. Nesse sentido, podemos identificar a preocupação do autor
enfatizada já no final de sua vida, quando ao escrever os Prolegômenos, um texto de
caráter introdutório à Ontologia, deu um verdadeiro testamento filosófico e conclusivo
sobre suas ideias. Como leremos:
3
Ver mais em LUKÁCS, György. Para uma ontologia do ser social. Vol. I e II. (mais
especificamente no capítulo sobre o trabalho, na segunda parte do Vol. I). Boitempo editorial, SP. É
indispensável a leitura cuidadosa destes dois volumes para a compreensão direta.
inovadores e revolucionários de Marx – para uma “desalienação” das formas de
dominações reais no mundo cotidiano, como pedra angular a divisão social do trabalho.
Claramente, temos em mente que permear numa crítica ontológica às ciências, em
especial as ciências humanas em geral, nos permite pensar de forma concreta as
transformações de mundo e na superação dos complexos de alienações e reificações
pelo qual também se têm contaminadas certas filosofias burguesas, como a analítica
existencial de Heidegger, embora ela tenha como pano de fundo uma crítica, porém
romantizada da sociedade industrial.
Portanto, nos próximos tópicos iremos discorrer sobre a questão que nos levou
até aqui: a filosofia heideggeriana como objeto de crítica ontológica pela qual Lukács
teve de forma aberta e direta. Algumas de nossas aproximações críticas acerca da
ontologia de Martin Heidegger se darão, com as intenções e objetivos decididos, a partir
de Nicolas Tertulian (filósofo italiano que inaugurou este debate ainda nos idos dos
anos 50) e Vitor Sartori, professor de Direito da UFMG, cuja sua tese doutoral é
expressa sobre o tema. Ao identificar o autor da tese “a relação entre os dois pensadores
estudados tem relevância em primeiro lugar para a real compreensão de suas filosofias
calcadas em distintos posicionamentos sobre a noção de ontologia” (SARTORI; 2013,
p. 11).
Compreendendo isso, temos em mente o caminho a ser explorado, visto que
uma tarefa por mais densa e cuidadosa que seja alguns pontos específicos precisam de
atenção.
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HEIDEGGER, Martin. Os conceitos fundamentais da metafísica: mundo – finitude – solidão.
Forense Universitária, 2006. É um livro de difícil compreensão, mas que para a temática se mostra
imprescindível. Também é um livro do autor da “segunda fase”. Aqui o seu uso se faz elementar para a
aproximação temática do exigido.
justificada, não que tal equivalência possa ser sustentada. No seu entender, vemos a
filosofia apenas num grau comparativo com outras áreas do saber e religiosa. Seria a
filosofia uma metafísica? É esta a pergunta. A filosofia é uma expressão e diálogo do
homem sobre si mesmo. E daí que temos a ontologia heideggeriana.
Para o autor de Ser e Tempo e da Carta ao Humanismo (1947), a ontologia é a
disciplina filosófica que estuda o ser dos entes. A palavra “ente” traduz o termo grego
“onta” que se designa entidades, aquilo que existe. Concernente, Ser e Tempo pensa o
modo de ser do homem, mas não por si mesmo, mas como dinâmica de articulação de
sua existência. Para o autor, no entanto, o ser só se realiza na presença; o ser-no-mundo
é estrutura de realização e nesta direção caminha boa parte do livro, com sua analítica
existencial. Mas, antes disso, a categoria central que permeia toda obra é o Dasein: uma
reflexão do ser-aí no campo ôntico (ser particular) para o caminho do ontológico (mais
geral). Então, o ser é “jogado” dotado de objetividade no mundo; depois o mundo se
torna uma categoria do próprio Dasein. Assim, não existe mundo sem o existente. Aí
reside a analítica existencial na concepção do filósofo. A realidade, portanto, é mera
presença. Podemos esclarecer um pouco usando uma citação da Carta ao Humanismo:
[...] por seu turno, é vista pelo autor como a perda do homem de si,
como sua imersão em meio à técnica e ao cotidiano moderno – no que
há de se explicitar: o posicionamento de Heidegger – ao colocar o
marxismo em meio à técnica e ao cálculo – se dá na medida em que,
quando diz que Marx atinge uma dimensão essencial da história
“enquanto experimenta a alienação”, há um confronto com o autor de
O capital, quem, para Heidegger, ficaria preso na dimensão que
experimenta ao não ser capaz de remeter para além dos entes e de
chegar ao próprio ser, [...] (SARTORI; 2010, p. 25).
Então, vejamos: a ênfase pela qual aparece sutilmente o fenômeno da alienação
em Heidegger é expressamente submissa em categorias pelas quais é apenas uma
categoria periférica, não na sua supressão para a “autenticidade” do ser dentro da
sociedade capitalista.
Com relação a “inautenticidade”, poderia ela ser uma espécie de alienação? No
entender de Heidegger, a inautenticidade marca o conjunto das atividades humanas que
afasta o si do seu poder-ser mais próprio. A inautenticidade impregna também tudo o
que afasta de si, da sua condição primordial de ser-jogado no mundo, sem os laços de
segurança da proveniência e do destino. Importante saber que Heidegger colocou em
causa a sociabilidade intra-mundana enquanto tal, as relações elementares de troca e
cooperação entre os seres, vendo exatamente aqui o lugar situado à inautenticidade.
El Asalto a la Razón (1959) é a análise do existencialismo alemão, enquanto
Existencialismo ou Marxismo?(1948) consta a minuciosa análise do existencialismo
francês. Lukács assinala nesta a diferença profunda que existe entre os dois
existencialismos, como demonstra com detalhes em A Destruição da Razão, ser uma
filosofia da pura subjetividade, do isolamento, pelo qual isenta de qualquer
comprometimento com a história efetiva, nessa tradição estaria como um dos centros da
crítica, Heidegger.
Nessa ausência, certamente, Heidegger cai nitidamente no que Lukács chamou
de “decadência filosófica” em seu grande e polêmico livro El Asalto a la Razón: é uma
manifestação ideológica própria do período do capitalismo imperialista, marcada por
um viés reacionário. Ele surgiria para combater a noção de progresso própria à
modernidade, deslegitimada constantemente devida às reiteradas crises endógenas do
capitalismo – inclusive dentro da filosofia, tendo por grande e quase único inimigo
filosófico, o marxismo.
[...] as considerações que aqui se seguem nada têm a ver com essas
tendências de nosso tempo. Essas tendências [...] partem
essencialmente do indivíduo isolado, entregue a si mesmo, cuja
“derrelição” no mundo habitual (natureza e sociedade) deve formar
seu verdadeiro ser, como a questão fundamental da filosofia
(LUKÀCS; 2010, p. 34-5).
5
TERTULIAN, Nicolas. Conceito de Alienação em Heidegger e Lukács. Artigo publicado em
Archives de Philosophie, Jul-Set de 1993. (NT) Tradução: Maria Augusta Tavares, mestranda em Serviço
Social pela UFPE.
esmiuçá-las de forma ímpar. Por outro lado, vemos que mesmo Heidegger reconhece o
mérito histórico de Marx como pensador da alienação e, em certo sentido, a
superioridade do marxismo frente às outras concepções da história, embora o reduzindo
a uma “historiografia”6.
Heidegger e Lukács são combatentes filosóficos dentro da ontologia, em seus
modos, cujos eles sofrem dessas tensões entre diálogos e críticas evidentes. Como
expõe Tertulian no seu ensaio A ontologia em Heidegger e Lukács: fenomenologia e
dialética, contida na publicação do livro György Lukács e a emancipação humana:
6
HEIDEGGER, Martin. Carta sobre o Humanismo. Trad. Rubens Eduardo Farias. Ed. Centauro,
SP, 2005. Um livro influente sobre a “segunda fase” do autor alemão, cujo se encontra, ainda que pouco
mencionado, o confronto direto contra o marxismo nomeando-o como parte da “tradição da metafísica
ocidental”. Ver nas páginas 48/9, por exemplo.
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LUKÁCS, György. Para uma ontologia do ser social I. A defrontação com a filosofia
heidegeriana só toma força quando Lukács vê méritos filosóficos em Husserl.
social, encontramo-nos na atmosfera atemporal da pura fenomenologia. No que partiu
de Husserl, com seus “desvios”, Heidegger trata esses objetos ontológicos exatamente
como aquele tratou os objetos puramente lógicos. (c.f. LUKÁCS; 2012, p. 84)
Esse método teológico adquire sua forma ontológica mais ampla em uma das
categorias mais famosas e influentes de Heidegger: derrelição (Geworfenhei), que
também pode ser entendida como ser-lançado-no-mundo, cujo nexo com a concepção
heideggeriana pode ser descrita como: a derrelição é o ato criador de um deus não
existente. Mas, de acordo com Lukács, em toda reflexão filosófica sobre a práxis
humana é preciso conhecer o seu de onde (gênese e desenvolvimento) e o seu para-
onde (perspectiva). Evidencia ontologicamente a essência totalmente estranhada do ser-
aí, mas converte isso – no quadro da vida real terrenal – em algo definitivo, irrevogável.
Assim veremos que não por menos, percebemos Lukács, ao caracterizar a
“fundamental de Heidegger de “teologia sem Deus”, escreveu: “Na medida em que a
angústia não é só um dos muitos afetos igualmente possíveis dentro do mundo
manipulado, ela não passa de um conceito teológico formalmente desteologizado”
(LUKÁCS; 2012, p. 98).
E nesse sentido, Sérgio Lessa explica o que seria, concisamente, a alienação
em Lukács:
Isso corrobora toda a argumentação de Lukács que traçamos até aqui. A pedra
angular de Heidegger, poderíamos dizer. É uma passagem, portanto, elementar das
pretensões de Ser e Tempo, pelo qual Lukács afirmou acerca deste tipo de pensamento:
Lista de referências
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Ver LESSA, Sérgio. Para compreender a ontologia de Lukács. Já citamos a obra como ponto
de partida para a aproximação do leitor para com a filosofia do pensador húngaro. No livro em questão
Lessa trabalha de forma palatável a categoria, de forma muito interessante aos iniciados no assunto.
___________________ Ser e Tempo. Tradução revisada e apresentação de Márcia Sá
Cavalcante Shuback; posfácio de Emmanuel Carneiro Leão. 4° edição. Petrópolis:
editora Vozes, 2009.
SARTORI, Vitor. Ontologia, Técnica e Alienação: para uma crítica ao Direito. São
Paulo: USP/Direito, 2013. 495 p. Orientadora: Jeannette A. Maman. (Tese de
Doutorado).
STEIN, Ernildo. Seis estudos sobre “Ser e Tempo”. 4° edição. Petrópolis, RJ; Editora
Vozes, 2008.