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A origem da vida por evolução: um

obstáculo ao desenvolvimento da
ciência

FERNANDO DE ANGELIS
NO ENCONTRO INTERNACIONAL CRIACIONISTA

INTRODUÇÃO

Na Itália me dizem que escrevo melhor do que falo, e agora há também a dificuldade
de dever traduzir em três línguas, por essas duas razões pensei em fazer um resumo
escrito, que entreguei com antecedência aos tradutores. Isso deverá me permitir
ganhar tempo e ter assim mais espaço para responder às perguntas, durante as quais
será possível dialogar com mais espontaneidade.

Desejo retomar alguns conceitos básicos de meu livro que, tendo acabado de ser
lançado, penso que poucos de Vocês terão lido (o livro está disponível, em fotocópias
ou disquete de computador, também em língua inglesa e espanhola. Finalmente,
desejo fazer referência também a um outro escrito meu que se intitula "Diálogos leigos
sobre uma visão bíblica da História", disponível por enquanto só em Italiano.

Temos aqui o propósito de examinar a teoria da evolução com base na História, porém
antes de entrarmos no assunto, são necessários alguns esclarecimentos o primeiro dos
quais destaca a importância que a História tem, na Bíblia.

1. A BÍBLIA É PRINCIPALMENTE HISTÓRIA

Na Bíblia a história é como a estrutura de concreto de um palácio: constitui a sua


infra-estrutura fundamental. Darwin sabia disto porque havia feito estudos para ser
pastor protestante, e por isso, tornando-se ateu, passou a atacar a Bíblia
aparentemente no plano científico, mas na realidade tendo em vista sobretudo a
História. Por isso, é necessário responder a ele também no plano histórico.

O segundo esclarecimento, por sua vez, tem a ver com a atitude cultural prevalecente
nos países de cultura latina.

2. PRESSUPOSTOS PREVALECENTES NA CULTURA LATINA


Nas nações de cultura latina (ou seja, de língua portuguesa, espanhola, italiana e
francesa) o criacionismo é visto preponderantemente como uma idéia velha, medieval,
de origem religiosa. A Bíblia é freqüentemente considerada como "o livro dos padres",
do obscurantismo e da Inquisição, Darwin, por outro lado, é visto como uma espécie
de "novo Galileo" e a evolução aparece como a idéia nova, que faz triunfar a ciência.

No centro da História Moderna é colocada a Revolução Francesa, através da qual a


razão teria triunfado sobre a religião.

A minha intenção é rever completamente essa posição, propondo uma alternativa


defensável também externamente ao mundo evangélico.

O terceiro e último esclarecimento tem a ver com o significado que desejo dar às
palavras "micro", "macro" e "mega-evolução".

3. MICRO, MACRO E MEGA-EVOLUÇÃO

Entende-se por "micro-evolução" em geral aquelas pequenas alterações


quantitativas, que não comportam o surgimento de estruturas novas e mais complexas
(por exemplo, no caso da diversidade entre as raças de cães). Esta variabilidade é
evidente, e não deve ser desprezado o acordo existente sobre este ponto. A micro-
evolução, de qualquer modo, não é considerada como verdadeira evolução, pelo que
aqui não nos deteremos nela.

Por "macro-evolução", por sua vez, entendem-se aquelas alterações que


acrescentam complexidade ao ser vivo, e o reorganizam (por exemplo, do
camundongo ao morcego). Penso que por "evolução" deveria ser entendida somente
esta macro-evolução.

Finalmente introduzamos o termo "mega-evolução", para indicar aquela que mais


comumente é chamada de "geração espontânea", ou "abiogênese" (isto é, a passagem
de substâncias minerais a seres vivos).

Estes termos tornam evidentes as conexões que existem entre crer na geração
espontânea e crer no evolucionismo.

Tem-se crido sempre na mega e na macro-evolução em conjunto, mas enquanto


antes de Darwin o debate se concentrava na mega-evolução (isto é, na geração
espontânea), depois de Darwin (e depois da falência da geração espontânea com o
trabalho de Pasteur) o debate deslocou-se para a macro-evolução.

Postas estas premissas, consideraremos agora alguns protagonistas da história da


Biologia, para ver se é verdade ter sido fundado por evolucionistas esse ramo da
Ciência.

4. A BIOLOGIA MODERNA FUNDADA POR CRIACIONISTAS


A Biologia moderna foi iniciada por Francesco Redi (1626-1698), cujos trabalhos se
desenvolveram na segunda metade dos anos 1600. Redi demonstrou que a carne em
putrefação não gera vermes, que são gerados, sim, dos ovos das moscas (esses
vermes, depois, por metamorfose, tornam-se moscas). Redi afirmou, assim, que um
ser vivo somente pode provir de um outro ser vivo, dando um primeiro golpe à
geração espontânea e aos evolucionistas, que até então predominavam também entre
os religiosos.

Que Redi acreditasse no relato bíblico da criação pode-se deduzir de um seu escrito no
qual disse que tudo, portanto, vem de "sementes", sementes geradas pelas primeiras
plantas e pelos primeiros animais, surgidos por ordem do soberano e onipotente
Criador: isto é, ele interpretava literalmente o Gênesis. [p. 21].

Mesmo que todos reconheçam em Redi o iniciador da Biologia, alguns vêem mais em
Lazzaro Spallanzani o fundador dessa Ciência, porque Spallanzani fixou um método
experimental que constituiu depois a base de todas as mais válidas pesquisas
posteriores.

Spallanzani (1729-1799) desenvolveu seus trabalhos na segunda metade dos anos


1700 e cuidadosamente evitou falar sobre questões teológicas (o que era perigoso
fazer, na Itália), pelo que podemos intuir a sua visão de mundo somente de modo
indireto. Spallanzani lutou forte e constantemente contra a geração espontânea: não
conseguiu derrotá-la definitivamente, mas preparou o caminho para a vitória final de
Pasteur (Pasteur retomou, um século mais tarde, o trabalho de Spallanzani). Outro
indício é que Spallanzani, monge católico, encontrava-se em Genebra, onde tinha
como amigos, entre outros, dois criacionistas: o fervoroso protestante Bonnet, e o
pastor evangélico Senabier.

Resumindo, Spallanzani fazia parte daquele movimento criacionista do século XVIII


sobre o qual é necessário dar alguma notícia.

5. O CRIACIONISMO DOS ANOS 1700

O Criacionismo dos anos 1700 pode ser definido com três adjetivos: científico, fixista e
histórico. "Científico", porque suas convicções eram objeto de argumentação racional,
e porque representou mais uma corrente científica do que teológica. "Fixista" porque
cria na fixidez das espécies (destacando-se assim de um criacionismo evolucionista
que também então, como agora, era muito difundido). "Histórico", porque
desempenhou um grande papel em seu tempo, e porque não é igual ao de nossos
tempos modernos (embora mantenham entre si grandes semelhanças).

Resumiremos a função que teve esse criacionismo, nas palavras de um evolucionista


muito conhecido e respeitado na Itália: Pietro Omodeo. Em um livro de sua autoria,
intitulado Criacionismo e Evolucionismo, diz ele com muita honestidade:

"O criacionismo, que na perspectiva moderna aparece como uma antiga e


enraizada doutrina teológica, na realidade foi formulado em torno do fim dos
anos 1600, e foi aceito pelo magistério eclesiástico só em torno de 1740,
depois de meio século de indagações eivadas de suspeições" [p. 24].

Acrescente-se, ainda, que esse criacionismo teve a função de livrar a Biologia dos
conceitos de magia existentes ainda no Renascimento e livrá-la também de um
"milagrismo" que obrigava Deus a intervir continuamente [p. 26-27].

O evolucionismo, por isso, é também em parte uma forma moderna da mentalidade


mágica, enquanto a verdadeira crença no Deus da Bíblia faz cessar todas as formas de
superstição.

Ao criacionismo dos anos 1700 pertence também Lineu [Carl von Linné, (1707-1778)],
que imprimiu grande progresso à Biologia (sentido até hoje). Por sua vez, no outro
lado, encontramos Buffon (1707-1788), e, mais tarde, Lamarck (1744-1829).
Evidentemente esses dois evolucionistas fizeram progredir a filosofia da Evolução, mas
no plano estritamente científico os seus trabalhos são geralmente ignorados pelos
livros-textos.

Em seguida, algo sobre Darwin (1809-1882), que, como se sabe, desenvolveu seus
trabalhos principalmente na segunda metade dos anos 1800.

6. DARWIN, UM FRACASSO CIENTÍFICO

Darwin estava inserido na cultura inglesa do século XIX, que, como é sabido, era
influenciada pela Bíblia. Além do mais, como já dissemos, Darwin havia terminado os
estudos para tornar-se pastor protestante. Acredito que tenha sido esta formação de
Darwin que o tornou muito mais preparado do que os evolucionistas que o precederam
e o sucederam. Não podendo aqui adentrar em todo o trabalho de Darwin, poremos
em destaque somente alguns aspectos que se relacionam mais de perto com a
argumentação que estamos desenvolvendo.

É claro que Darwin, ao relançar a macroevolução, não introduziu uma nova concepção,
mas se posicionou contra a melhor Biologia que o havia precedido. Foi também contra
a melhor Biologia de seu tempo, representada, entre outros, por Mendel (1822-1884)
e por Pasteur (1822-1895). De fato, vinte anos depois de Pasteur haver
demonstrado a inconsistência da geração espontânea, Darwin obstinou-se,
ainda, a crer nela!

Darwin tinha em sua biblioteca um livro que falava amplamente dos trabalhos de
Mendel, mas não lhe deu atenção. ["La Scuola", p. 36]. E é lógico, porque Mendel
(também um monge) demonstrou que os caracteres novos em realidade não são
novos, mas representam o reaparecimento de genes já presentes nas gerações
precedentes, sendo nova a combinação e não a produção.

Utilizando ervilhas, Mendel podia escolher entre a autofecundação e a fecundação


cruzada, podia também obter muitas sementes de um só indivíduo, prevendo já a
partir das sementes as características da descendência (sementes lisas ou rugosas,
amarelas ou verdes).
Darwin enfrentou os mesmos problemas que Mendel, mas escolheu trabalhar com os
seus pombos, e não conseguiu chegar a nenhuma regra, contentando-se em ficar
numa confusão que lhe permitisse imaginar todas as transformações que desejasse.

Para sermos breves, submetido a um exame rigorosamente científico, o volumoso livro


de Darwin sobre "A Origem das Espécies" resulta cheio de erros e imprecisões,
enquanto que as poucas páginas de Mendel e de Pasteur conservam intacto o seu valor
até hoje. Vale a pena agora acrescentar alguma coisa sobre a mentalidade de Pasteur.

7. PASTEUR: UNIÃO E SEPARAÇÃO ENTRE FÉ E CIÊNCIA

Quando perguntavam a Pasteur como se formaram os primeiros micróibios, ele


respondia que o problema das origens não é um problema científico, mas
metafísico [ pp. 56-57]. Se fôssemos nós que o disséssemos, seríamos acusados de
sermos "anticientíficos", mas se citamos Pasteur, é difícil que lhe dirigissem também a
mesma acusação!

Há uma manifestação de Pasteur que nos permite intuir suas concepções íntimas. Diz
ele [p. 37]: "A grandeza das ações humanas mede-se através da inspiração que as faz
nascer. Feliz, de fato, é quem leva dentro de si um deus, um ideal, e permanece fiel a
ele - ideal artístico, científico, cívico, ideal de virtudes evangélicas. São estes os
mananciais vivos dos grandes pensamentos e das grandes ações. E todos eles são
iluminados como reflexos do infinito."

Pasteur amava muito a ciência, mas apreciava também a virtude do Evangelho, e


deixava-se iluminar pelos reflexos do infinito. Einstein, que entendia de ciência e de
cientistas, disse: "Dificilmente se encontrará um espírito profundo na indagação
científica sem a presença de uma religiosidade característica". ["Como Vejo o Mundo",
p. 23].

Não é a fé que constitui um obstáculo à ciência, portanto, mas sim o modo


incorreto de ser religioso. Quando a ciência e a fé lutam entre si, ou se intrometem,
acabam por prejudicar-se reciprocamente; se, pelo contrário, permanecem distintas e
aliadas, poderão fazer muito bem. Tem-me sido de grande ajuda o exemplo do
profeta Daniel, que, além de seu nome hebraico, tinha um outro nome babilônico
(Beltessazar) [Dan. 1:7]. Certamente é difícil estar no mundo sem comprometer-se
com o mundo, aguardar ardentemente o reino de Deus e ser colaborador de um
grande rei, usar a linguagem do mundo sem transmitir os conteúdos do mundo, mas
Deus deu força a Daniel para combinar ambos estes elementos opostos, e Deus pode
dar também a nós a sabedoria e a força para a missão a que formos chamados.

Esse registro da História da Biologia que fizemos reveste-se de maior força se o


estendermos a toda a História Geral: coisa que desejamos fazer, mediante breves
acenos, mas depois de precisar como a Bíblia conta a História.
8. ACENOS DE UMA VISÃO BÍBLICA DA HISTÓRIA

A História se desenvolve na Bíblia ao longo de um eixo genealógico que parte de Adão


e chega a Cristo (passando por Sete, Noé, Abraão, Moisés, Davi, etc.). Deste eixo
central partem "ramos laterais", que dão certa contribuição à civilização (Caim, por
exemplo, não pertence ao eixo central, mas funda a primeira cidade, enquanto os seus
descendentes são os primeiros a construir instrumentos musicais e a trabalhar os
metais).Estes ramos laterais, entretanto, logo deixam de ser criativos e não mais
fazem História. O desenvolvimento da História, assim, assemelha-se ao crescimento de
um pinheiro: o vértice representa aqueles que mais se aproximam de Deus e de sua
Palavra, enquanto que os ramos laterais representam aqueles que se afastam cada vez
mais do povo de Deus.

Freud, Marx, e o próprio Darwin, por exemplo, podem ser considerados como "ramos
laterais" e creio que a sua força depende de um "resíduo bíblico" que permaneceu
neles.

A História leiga inicia-se também no Oriente Médio (onde a Bíblia coloca o Éden) e
continua crescendo sobre si mesma até finalmente chegar a nós. A atual civilização
"ocidental" deriva de uma cadeia ininterrupta que se liga ao "Crescente Fértil" (isto é,
Egito, Palestina e Mesopotâmia, três regiões não por acaso familiares a Abraão, o Pai
da Fé).

Do que foi dito, portanto, a História pode ser vista também como a história da
"semitização" do mundo. É possível, de fato, sustentar que a História nasce
semítica e continua como tal. Tenho discutido esse posicionamento com colegas
não evangélicos e, em alguns casos, também ateus, os quais freqüentemente têm
considerado seriamente as teses propostas. Juntei os resultados desses colóquios no
escrito que mencionei no início, e que agora só posso resumir em frases telegráficas
que se referem à Grécia, Roma e à Revolução Francesa.

Toda a ascenção da cultura grega está ligada a um influxo proveniente do este ou do


sul (isto é, do mundo semítico). O alfabeto grego, por exemplo, é uma adaptação do
fenício, que por sua vez é aparentado ao hebraico.

Existem diversos motivos para deduzir que, na fundação de Roma houve fortes
influências hebraicas. Acenamos com três desses motivos:

1. Roma surge no tempo da dispersão das dez tribos de Israel e era um porto
freqüentado pelos Fenícios (os Fenícios provinham da Palestina, e, como
dissemos, falavam uma língua semelhante ao Hebraico); [nascimento de Roma
no ano 753 A.C.; e invasão assíria e primeira diáspora hebraica em 721];

2. Roma não surge como uma comunidade étnica, isto é, não era constituída de
pessoas ligadas por vínculos sangüíneos, mas surge como federação de
vilarejos diversos, um dos quais poderia muito bem ser hebraico;

3. O romano Tertuliano, primeiro grande escritor cristão em latim, afirma


publicamente que em Roma, no início, não existiam imagens de deuses, e diz
também que os primitivos romanos assemelhavam-se aos cristãos e que os
romanos antigos (como todos reconhecem) não eram corrompidos como os
cidadãos de seu tempo [Apologeticum, 200 D.C.].

Não é verdade que coube à Revolução Francesa idealizar a modernidade, porque a


Revolução Francesa copiou a modernidade das revoluções puritanas precedentes
(inglesa e americana) fortemente influenciadas pela Bíblia. Por isso, não é por acaso
que o maior responsável pela cultura no período napoleônico era um protestante
criacionista: o famoso Cuvier, (Cuvier foi vulto dominante da cultura francesa também
depois de Napoleão) [ Cuvier (1769-1823); fim de Napoleão em Waterloo em 1815].

9. CONCLUSÃO

Concluindo, Darwin procurou falsear sobretudo a Pré-história enquanto outros,


apoiando-se também nele, falsearam toda a História. É mais difícil discutir a Pré-
história, por isso creio que seja melhor contestar primeiro a falsificação da História
(que é documentável), para depois contestar a falsificação da Pré-história e o
evolucionismo (baseados sobre elementos muito mais incertos).

Buffon e Lamarck logo caíram em declínio. Também Darwin cada vez mais é
abandonado pelos próprios evolucionistas. Hoje são outros que estão saindo da moda,
mas durante quanto tempo ainda permanecerão?

Disse Jesus: "Passarão o céu e a terra, porém as Minhas palavras não passarão."
[Mateus 24:35]. Estamos convencidos disto, e também estamos prontos a discutir esse
assunto com quem perguntar sobre as nossas razões.

Fernando De Angelis.

FERNANDO DE ANGELIS

A EVOLUÇÃO POSTA À PROVA PELA


HISTÓRIA

Trabalho de Fernando De Angelis preparado para o Encontro


Internacional de Criacionistas, São Paulo, Brasil, janeiro de 1999.
TRADUÇÃO DE RUY CARLOS DE CAMARGO VIEIRA

Fernando De Angelis, vive na Itália, onde nasceu, em Cascia (Úmbria)


em 1946. Depois de conseguir seu doutorado em Ciências Agrárias na
Universidade de Perugia, dedicou-se preponderantemente ao ensino de
Ciências Naturais, Química e Geografia em escolas de 2º grau.

Enquanto freqüentava a Universidade teve a oportunidade de ter


contato primeiramente com o Evangelho, e logo depois com os
evangélicos, o que produziu uma mudança radical em seu modo de
pensar e viver.

Tem-se empenhado no estudo da Bíblia e na defesa de seu valor


cultural, preocupando-se com a difusão do criacionismo na Itália. Foi um
dos fundadores da Associazione Culturale Evangelica "Daniele-
Baltazzar". Casado com Gilda desde 1970, ambos vivem atualmente em
Cortona, na Toscânia.

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