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9 de Setembro de 2017

TJ-SC - Apelacao Civel : AC 45580 SC 2005.004558-0 - Inteiro Teor

Inteiro Teor
Dados do acórdão
Classe:Apelação Cível
Processo:
Relator:Monteiro Rocha
Data:2005-10-13
Apelação cível n. , de Lages.

Relator: Des. Monteiro Rocha.

DIREITO CIVIL - FAMÍLIA - MENOR - DESISTÊNCIA DO PODER FAMILIAR -


VALIDADE - IMPROCEDÊNCIA - IRRESIGNAÇÃO - ARREPENDIMENTO DOS
GENITORES ANTES DA ADOÇÃO - ALEGAÇÃO AFASTADA -
IRRENUNCIABILIDADE E INDELEGABILIDADE - NULIDADE RECONHECIDA
- TERCEIRO NA GUARDA PROVISÓRIA DA CRIANÇA - PROTEÇÃO DESTA -
RECURSO PROVIDO - SENTENÇA REFORMADA.

Nula é a desistência do poder familiar dos pais sobre a menor pela


irrenunciabilidade e indelegabilidade dos encargos inerentes àquele poder/dever.

Mantém-se a guarda provisória da criança com a pretendente à sua adoção, em


decorrência da finalidade protecional do direito do menor.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de apelação cível n. , de Lages, em que são
apelantes N. da S. V. e V. A. S., sendo apelado o representante do Ministério
Público:

ACORDAM , em Segunda Câmara de Direito Civil, à unanimidade de votos,


conhece do recurso e, ex-officio, decreta nula a "desistência do poder familiar" dos
autores sobre a menor M. dos S. V., a qual deverá ser mantida sob a guarda e
responsabilidade provisória de M. C. V..
RESUMO INTEIRO TEOR  EMENTA PARA CITAÇÃO

Custas na forma da lei.

I -RELATÓRIO:

N. da S. V. e V. A. dos S., representando a menor M. dos S., ajuizaram Ação de


Anulação de Ato Jurídico, objetivando a anulação da desistência de paternidade
realizada pelos mesmos.

Alegam arrependimento, no tocante à decisão por eles tomada, postulando revogar


a colocação da filha menor em família substituta e, ao final, a procedência da ação
para anular a desistência de paternidade, revogando a adoção da menor,
devolvendo-a ao convívio familiar.

Interlocutório de fls. 08 indeferiu a recolocação da criança na família biológica.

Estudo social e avaliação psicológica dos autores, foram elaborados,


respectivamente, às fls. 09/13 e 14/18.

O Ministério Público de Primeiro Grau, às fls. 19/24, opinou pela improcedência


da ação.

Sentença de fls. 30/33, julgou improcedente o pedido inicial:

"Ante o exposto, julgo improcedente o pedido formulado na inicial, e por


conseqüência declaro válida a renúncia do poder familiar manifestada no termo
007/03 em anexo".

Irresignados com a prestação jurisdicional, os autores interpuseram recurso,


objetivando a reforma da sentença para julgar procedente o pedido inicial.

Às fls. 41/47, contra-razões ao recurso foram ofertadas pelo Ministério Público de


Primeiro Grau, postulando a manutenção da sentença.

A douta Procuradoria Geral de Justiça, em parecer elaborado pelo Dr. Tycho Brahe
Fernandes, opinou pelo conhecimento e provimento do recurso, com aanulação da
desistência do poder familiar firmada pelos apelantes/genitores da criança,
mantendo-se a guarda provisória da menor em favor da adotante e o
processamento da destituição do poder familiar dos genitores.

É o relatório.

II -VOTO:
Tratam os autos de Ação de Anulação de Ato Jurídico, ajuizada por N. da S. V. e V.
RESUMO INTEIRO TEOR  EMENTA PARA CITAÇÃO
A. dos S., buscando a invalidação da desistência do poder familiar sobre a filha
menor M. dos S. V., que ambos assinaram perante o Serviço Social do Juizado da
Infância e Juventude, da Comarca de Lages.

Observa-se dos atos de desistência da menor M. dos S. V. pelos seus genitores, a


ausência do procedimento judicial de destituição do poder familiar, não tendo os
pais da criança perdido o poder familiar.

O ordenamento jurídico pátrio estabelece que a perda do poder familiar se dará


por decisão judicial, devendo ser assegurado aos réus o princípio do contraditório e
da ampla defesa.

Neste sentido, Sílvio de Salvo Venosa, in Direito Civil, Direito de Família, volume
6, 3ª edição, São Paulo, Editora Atlas, 2003, pág. 370:

"Os procedimentos de perda ou suspensão do poder familiar terão início por


iniciativa do Ministério Público ou de quem tenha legítimo interesse, conforme o
art. 24 e art. 155 do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n. 8.069/90).Trata-
se de processo, pois há que se assegurar ao réu o princípio do contraditório e da
ampla defesa.A competência para essas ações será dos juizados da infância e do
adolescente (art. 148, parágrafo único, b, da mesma lei).O procedimento é
regulado pelos arts. 155 ss do ECA.A sentença que decretar a perda ou suspensão
do poder familiar deverá ser averbada no registro de nascimento no menor (art.
164 do ECA e art. 102, § 6º, da Lei dos Registros Publicos)".

A sentença que se busca reformar julgou improcedente o pedido de anulação de


desistência de filiação, declarando válida a renúncia do poder familiar.

Lecionando sobre o poder dos pais sobre os filhos, atualmente poder familiar, J.
V.Castelo Branco Rocha, in O Pátrio Poder, 2ª edição, São Paulo, LEUD, 1978, pág.
40/41, ensina:

"O pátrio poder é um officium , um encargo de ordem pública, que o Estado


comete ao pai, cabendo"à la societé de defendre, même contre lui, la raison d"être
de cette puissance: la sauvegarde et le bien de l" enfant "(René Savatier, Les
Métamorphoses Économiques et Sociales du Droit Civil D"Aujourdhui, pág. 117,
Librairie Dalloz, Paris, 1948).

"O Código Civil Português, art. 1.880, menciona expressamente a


irrenunciabilidade do pátrio poder.

" No direito brasileiro não há menção expressa, a respeito do assunto, mas a


irrenunciabilidade é uma resultante do nosso sistema legal.Só quando se trata de
adoção, é que se pode falar de renúncia do pátrio poder.Mas aqui estão em jogo
outros princípios.Acolhendo o direito brasileiro o instituto da adoção, não poderia
deixar de conceder ao pai adotivo a autoridade paternal.Com a adoção há uma
transferência do pátrio poder.Perde-o, realmente, o pai natural;adquire-o, para
todos os efeitos, o pai adotivo.A renúncia do pátrio poder, que neste caso é uma
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exceção, resulta em benefício de outro instituto, admitido em nosso direito
positivo.

"Constituindo as relações familiares, matéria que interessa a ordem pública, torna-


se inadmissível que o titular do pátrio poder se desfaça de seus encargos, por
arbítrio próprio.Se o pátrio poder resulta de uma imposição legal, em razão do
status familiae , temos que a esse status aderem as obrigações correspondentes.Se
ninguém pode renunciar a condição de pai ou mãe, torna-se evidente que não pode
renunciar as obrigações correlatas.A ninguém é dado abrir mão do pátrio poder,
seja em razão de renúncia, transferência ou delegação.Não há delegação de pátrio
poder" .

Na mesma esteira segue Sílvio de Salvo Venosa, in Direito Civil, Direito de Família,
volume 6, 3ª edição, São Paulo, Editora Atlas, 2003, pág. 359, quando aborda o
tema poder familiar:

"Cabe aos pais dirigir a educação dos filhos, tendo-os sob sua guarda e companhia,
sustentando-os e criando-os.O poder familiar é indisponível.Decorrente da
paternidade natural ou legal, não pode ser transferido por iniciativa dos titulares,
para terceiros.Como vimos, os pais que consentem na adoção não transferem o
pátrio poder, mas renunciam a ele.Também, indiretamente, renunciam ao pátrio
poder quando praticam atos incompatíveis com o poder paternal.De qualquer
modo, contudo, por exclusivo ato de sua vontade, os pais não podem renunciar ao
pátrio poder.Trata-se, pois, de estado irrenunciável.Cuida-se de condição
existencial entre pai e filho".

O Superior Tribunal de Justiça ao julgar caso análogo ao dos autos, decidiu:

"O pátrio poder, por ser"um conjunto de obrigações, a cargo dos pais, no tocante à
pessoas e bens dos filhos menores"é irrenunciável e indelegável. Em outras
palavras, por se tratar de ônus, não pode ser objeto de renúncia.

"As hipóteses de extinção do pátrio poder estão previstas no art. 392 do Código
Civil e as de destituição no 395, sendo certo que são estas exaustivas, a
dependerem de procedimento próprio, previsto nos arts. 155/163 do Estatuto da
Criança e do Adolescente, consoante dispõe o art. 24 do mesmo diploma.

"A entrega do filho pela mãe pode ensejar futura adoção (art. 45 do Estatuto), e,
conseqüentemente, a extinção do pátrio poder, mas jamais pode constituir causa
para a sua destituição, sabido, ademais, que"a falta ou a carência de recursos
materiais não constitui motivo suficiente para a perda ou a suspensão do pátrio
poder"(art. 23 do mesmo diploma)

" Na linha de precedente desta Corte, "a legislação que dispõe sobre a proteção à
criança e ao adolescente proclama enfaticamente a especial atenção que se deve
dar aos seus direitos e interesses e à hermenêutica valorativa e teleológica na sua
exegese" "(STJ, 4ª Turma, Rel. Min. Salvio de Figueiredo Teixeira, Resp.
RESUMO INTEIRO TEOR  EMENTA PARA CITAÇÃO
158920/SP).

Verifica-se, portanto, que o magistrado a quo , até por excesso de serviço, não
andou bem ao julgar improcedente o pedido inicial, sob o argumento de validez da
renúncia do poder familiar.

Se é verdade que o pedido inicial deveria ter sido julgado improcedente, como na
realidade o foi, o fundamento para essa improcedência deveria estar na nulidade
da desistência dos apelantes ao poder familiar sobre a menor.

Diante do exposto, conheço do recurso e, ex-officio , declaro nula a susposta"


desistência do poder familiar "dos apelantes N. da S. V. e V. A. S. sobre a menor M.
dos S. V., a qual é mantida sob a guarda e responsabilidade provisória de M. C. V.,
pessoa que pretende adotar a infante.

É o voto. III -DECISÃO:

Nos termos do voto do relator, esta Segunda Câmara de Direito Civil, à


unanimidade de votos, conhece do recurso e, ex-officio , decreta nula a" desistência
do poder familiar "dos autores sobre a menor M. dos S. V., a qual deverá ser
mantida sob a guarda e responsabilidade provisória de M. C. V..

Participou do julgamento o Exmo. Sr. Desembargador Luiz Carlos Freyesleben.

Lavrou parecer pela douta Procuradoria Geral de Justiça o Exmo. Dr. Tycho Brahe
Fernandes.

Florianópolis, 13 de outubro de 2005.

MAZONI FERREIRA

Presidente c/voto

MONTEIRO ROCHA

Relator

Disponível em: http://tj-sc.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/5383129/apelacao-civel-ac-45580-sc-2005004558-0/inteiro-teor-11706925

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