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Escola Politécnica da Universidade de São Paulo

Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental – PHA

PHA2537 – Água em Ambientes Urbanos

Coleção Águas Urbanas


Fascículo 5: Medidas de Armazenamento Artificial
e Facilitadores de Infiltração para Controle de
Inundações Urbanas

Prof. Dr. Kamel Zahed Filho


Prof. Dr. José Rodolfo Scarati Martins
Profa. Dra. Monica Ferreira do Amaral Porto

Estagiária PAE: Maíra Simões Cucio

2012
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo - PHA2537 – Água em Ambientes Urbanos
Fascículo 5: Medidas de Armazenamento Artificial e Facilitadores de Infiltração para Controle de Inundações
Urbanas

Sumário

Introdução: problemas de enchentes em grandes cidades ................................................... 2


Medidas não Estruturais ......................................................................................................... 3
Medidas Estruturais ................................................................................................................ 3
Medidas estruturais de contenção na Fonte ...................................................................... 4
Medidas estruturais de contenção à jusante ..................................................................... 5
Soluções de engenharia para controle de inundações........................................................... 5
Diques e Polders ................................................................................................................. 5
Construção de Diques na Holanda: necessidade milenar .................................................. 5
Obras de controle de erosão .............................................................................................. 6
Dispositivos de infiltração................................................................................................... 7
Telhados armazenadores e telhados verdes .................................................................... 10
Recomposição vegetal ...................................................................................................... 11
Reservatórios domiciliares................................................................................................ 11
Reservatórios de controle à jusante ................................................................................. 12
Eficiência dos Reservatórios de Retenção e Detenção ..................................................... 16
Piscinão do Pacaembu ...................................................................................................... 16
Projeto G-Cans .................................................................................................................. 17
Dimensionamento dos reservatórios ............................................................................... 19
Problemas associados aos dispositivos de retenção e detenção: Resíduos Sólidos ........ 19
Qualidade da água ............................................................................................................ 20
Caso: Lei das piscininhas em São Paulo ................................................................................ 20
Referências Bibliográficas ..................................................................................................... 21

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Introdução: problemas de enchentes em grandes cidades

Um dos problemas relacionados à rápida urbanização é a sensibilidade às


enchentes, como resultado da concentração de pessoas em áreas suscetíveis à
inundação, falta de planejamento na gestão de águas urbanas, falta de planejamento
urbano, dentre outros (ZEVENBERGEN et al, 2008). Neste contexto, um dos maiores
problemas relacionados à urbanização é a impermeabilização do solo. A substituição
do solo exposto e da vegetação por edifícios e ruas pavimentadas fez com que o
ambiente urbano perdesse sua capacidade de armazenamento natural de água nos
episódios de chuva. Desta forma, as águas pluviais, que antes eram interceptadas pela
vegetação e armazenadas no solo e nas depressões do terreno passam a escoar
livremente através de superfícies impermeáveis, aumentando a vazão e a velocidade
do escoamento, ocasionando episódios de enchentes.
O Relatório Conjuntura 2012 da Agência Nacional de Águas traz definições
importantes do Glossário de Defesa Civil da Secretaria Nacional de defesa Civil. De
acordo com ele, o termo inundação se refere a um transbordamento de água da calha
normal de rios, lagos, açudes e mares, ou acumulação de água por drenagem
deficiente, em áreas que habitualmente não ficam submersas. Já o termo enchente se
refere à elevação do nível de água de um rio acima de sua vazão normal. Geralmente,
inundação e enchente são usadas como sinônimos. As enxurradas podem ser definidas
como os volumes de água que escoam na superfície do terreno, com grande
velocidade, em decorrência de fortes chuvas. Os alagamentos, por sua vez, são
resultantes do acúmulo de água no leito de ruas e no perímetro urbano, causado por
precipitações pluviométricas fortes, em cidades com drenagem deficiente (ANA, 2012).
Para controlar os episódios de inundações e alagamentos, foi desenvolvida a
drenagem urbana, que é constituída por um conjunto de obras e medidas cujos
principais objetivos são a minimização dos prejuízos causados por inundações em
áreas urbanas e a diminuição dos riscos aos quais a população e as propriedades estão
sujeitas, possibilitando o desenvolvimento urbano satisfatório.
As medidas de controle e adaptação às enchentes têm como objetivos
compensar os efeitos da urbanização no ciclo hidrológico urbano; garantir a
continuidade do desenvolvimento urbano sem gerar custos e impactos excessivos ao
ambiente e à sociedade; permitir a modulação do sistema de drenagem em função do
crescimento urbano; dar suporte a outras atividades urbanas (áreas verdes, circulação,
lazer, etc.) e, principalmente, proteger a população e as estruturas urbanas dos efeitos
das inundações (BAPTISTA, sd).
Neste contexto, as inundações urbanas podem ser combatidas através da
diminuição de sua ocorrência, por medidas estruturais, ou através da redução de
perdas e adaptação a estes episódios, através de medidas não-estruturais.

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Medidas não Estruturais

As medidas não estruturais podem ser preventivas ou corretivas. As primeiras


procuram evitar ou minimizar os prejuízos causados pelas inundações ou proporcionar
uma recomposição das várzeas de inundação para as condições pré-urbanização.
Pode-se citar como exemplos: regulamentação do uso do solo, compra de áreas
inundáveis com o objetivo de inibir a ocupação de áreas suscetíveis às inundações,
controle de redes de água para dificultar a ocupação de áreas de risco, programas de
informação e educação, sistemas de previsão e alarme, seguro contra inundações,
impostos municipais diferenciados para áreas inundáveis, com valores maiores em
comparação às demais áreas, também com o objetivo de inibir a ocupação de áreas
inundáveis.
As medidas corretivas são implantadas nas áreas urbanas que já foram ocupadas
indevidamente. São medidas mais caras e mais difíceis de serem aceitas pela
população. Cita-se, como exemplos: construções à prova de inundações, relocações ou
desapropriações, compra de terrenos, deslocamentos de população e ajuste de
ocupação gradual.
Medidas Estruturais

Medidas estruturais são aquelas que envolvem soluções físicas de engenharia, e


se referem a obras de engenharia hidráulica implantadas para mitigar os impactos
causados pelas enchentes (SOUZA, 2004).
Geralmente, medidas estruturais têm elevado custo, o que não significa que este
tipo de medida deve ser evitado. Na verdade, o controle de enchentes deve envolver a
integração entre medidas estruturais e não-estruturais (PISANI; BRUNA, 2011). Para
algumas situações, certamente soluções estruturais serão necessárias, mas elas devem
ser implantadas levando em conta o contexto da bacia, sendo racionalmente
planejadas (TUCCI, 1999).
Medidas estruturais podem ser classificadas em extensivas e intensivas. Medidas
estruturais extensivas são medidas físicas diretas, aplicadas no contexto da bacia, que
objetivam modificar as relações entre precipitação e vazão para reduzir a produção de
escoamento superficial, podendo diminuir também a ocorrência de erosão e
enchentes (SOUZA, 2004 apud TUCCI, 1993). Como exemplos de medidas estruturais
extensivas, é possível citar obras de microdrenagem, pavimentos permeáveis, valas de
infiltração, bacias de percolação, armazenamento em telhados e obras de controle da
erosão do solo (SOUZA, 2004).
Medidas estruturais intensivas são aquelas que agem diretamente no corpo
d’água, como construção de diques, muros de contenção, reservatórios de detenção e
retenção, canais de desvio, dragagens ou qualquer obra de engenharia com o objetivo
de alterar o escoamento natural de um curso d’água, de forma a atenuar os efeitos de
cheias (MACEDO, 2004; TUCCI, 2007).

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A figura 1 mostra um exemplo de medida estrutural intensiva, pois retrata o Rio


Pinheiros no final de 1930, ainda com meandros, antes da retificação (sombreada na
foto) e reversão de seu curso.

Figura 1: Rio Pinheiros em 1930, antes da canalização e reversão.


Medidas estruturais também se dividem em medidas de controle na fonte,
controle no sistema de drenagem e de controle a jusante, que serão vistas nos tópicos
a seguir.
Medidas estruturais de contenção na Fonte

As medidas de controle na fonte são aquelas que favorecem o armazenamento


próximo ao local de formação do escoamento direto, nos próprios lotes. Geralmente
são estruturas que funcionam como reservatórios pequenos ou estruturas que
promovem a infiltração do escoamento no solo. Em ambos os casos, o objetivo é a
desoneração do sistema de drenagem à jusante. Este tipo de medida tem efeito
localizado e não beneficia grandes áreas (CANHOLI, 2005).
Um dos princípios fundamentais associados aos mecanismos de controle no lote
é que o proprietário de um lote não tem o direito de provocar inundações para jusante
e passar os custos do controle do escoamento produzido em seu lote para a sociedade.
Sendo assim, entende-se que as vazões descarregadas no sistema de drenagem não
podem ser superiores àquela anterior à ocupação e construção no lote. Desta forma,
os custos associados à implantação de medidas de controle da fonte recaem sobre o
proprietário do solo, e não sobre a sociedade (BAPTISTA, sd).
São técnicas de controle da fonte as valas de infiltração, bacias de percolação, os
filtros de areia, os telhados armazenadores, os reservatórios domiciliares e os
pavimentos permeáveis.

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Medidas estruturais de contenção à jusante

Medidas de controle à jusante são aquelas com o objetivo de controlar os


deflúvios à jusante, provenientes de partes significativas da bacia (CANHOLI, 2005).
São soluções mais difíceis de ser aplicadas, pois geralmente consistem em grandes
obras hidráulicas, que necessitam de grandes áreas. Há também a questão da opinião
pública, que muitas vezes se opõe à instalação de tais estruturas devido ao possível
acúmulo de resíduos nestes reservatórios, o que pode levar à proliferação de vetores
de doenças, como roedores e insetos, além do impacto visual produzido pela
instalação destas estruturas, causando certa fragmentação paisagística.

Soluções de engenharia para controle de inundações

Este tópico tem como objetivo apresentar medidas estruturais extensivas e


intensivas, de controle na fonte ou à jusante. Trata-se, portanto, das soluções de
engenharia utilizadas no Brasil e no mundo para mitigação e adaptação aos impactos
das enchentes.
Diques e Polders

Diques e polders são medidas estruturais intensivas que objetivam o isolamento


de áreas com cota topográfica abaixo do nível d’água. A água de chuva eventualmente
acumulada nestas regiões de cotas baixas são removidas por bombeamento (CANHOLI,
2005). Um exemplo, na cidade de Hong-Kong (China) é mostrado na Figura 2.

Figura 2: Polder em Kiiu Tau Waii– Hong Kong. Fonte: Chu (2005)

Construção de Diques na Holanda: necessidade milenar

A Holanda localiza-se na região conhecida como “Nederland”, em holandês, que


significa “países baixos”. O nome não poderia ser mais propício, uma vez que a região
localiza-se em uma região pantanosa formada pelos estuários dos rios Reno, Mosa e
Waal. Além disso, trata-se de uma região que sofre influência de tempestades

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marítimas e do avanço do mar. A junção destes fatores com o baixo relevo faz com que
a Holanda seja um país frequentemente ameaçado de inundações de grandes
proporções. Por conta disso, a partir do século IX (1.200 anos atrás), uma série de
barreiras físicas contra inundações foram instaladas na região, visando especialmente
a contenção do avanço do mar sobre os feudos que na época ali existiam (CASTRO,
2010).
A capital do país, Amsterdam, encontra-se a alguns metros abaixo no nível do
mar e se não fossem estas grandes obras de contenção, a cidade não existiria.
Portanto, o trabalho desenvolvido pelo povo holandês para conviver com enchentes e
chuvas e, posteriormente, a construção de canais e diques proporcionando o convívio
com as águas e, mais ainda, o aproveitamento para transporte, constitui um grande
exemplo de adaptação de um povo às condições naturais às quais estão submetidos
(CASTRO, 2010).
Obras de controle de erosão

Obras de controle de erosão devem ser extensivas no sentido de não serem


aplicadas apenas em contexto local, de forma fragmentada. Elas devem ser pensadas
na bacia como um todo. A erosão é a maior causa de transporte de sedimentos, que
acabam causando assoreamento em corpos d’água e estruturas de micro e
macrodrenagem, diminuindo a capacidade de vazão destes condutos. Obras de
contenção de encostas, com plantio de gramíneas e arbustos, estabilização do corte de
encostas, muros de arrimo e terraceamento são alguns exemplos de medidas
estruturais de controle de erosão, permitindo que o solo resista à erosão causada pelo
escoamento, evitando a produção de sedimentos (SOUZA, 2004; TUCCI, 2007).
Exemplos de medidas de controle de erosão podem ser vistos nas imagens abaixo. A
Figura 3 mostra o plantio de grama para contenção de encostas muito íngremes. Já a
Figura 4 mostra as obras de retaludamento em uma área de encosta.

Figura 3: Plantio de grama para contenção de erosão.

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Figura 4: Obras de retaludamento.

Dispositivos de infiltração

Nos últimos anos, disseminou-se a pesquisa por medidas que favorecessem a


infiltração no solo, e não apenas o armazenamento e posterior descarga no sistema de
drenagem. Os mecanismos de infiltração podem ser do tipo dispersivos ou em poços.
Os métodos dispersivos são aqueles em que a água infiltra-se no solo de forma natural.
Já os métodos em poços são aqueles em que há recarga do lençol freático, com
infiltração em maior profundidade, promovida por poços de infiltração.
Trincheiras de Infiltração
As trincheiras de infiltração (Figura 5) são dispositivos construídos em áreas
particulares ou públicas para facilitar a infiltração. O terreno é preparado para
interceptar o escoamento superficial direto e permitir uma alta taxa de infiltração.
Para isso, o solo é substituído em uma área com material com granulometria
adequada, para favorecer a infiltração.

Figura 5: Trincheira de infiltração. Fonte: Matos et al. (2007)

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Poços de Infiltração
Os poços de infiltração (Figura 6) são estruturas que permitem a infiltração
direta de águas pluviais no solo a certa profundidade, vencendo a barreira importa
pela camada superior do solo, que é pouco permeável. Poços de infiltração podem ser
construídos com ou sem material de enchimento, podendo estar associados a outras
técnicas de infiltração, como trincheiras ou pavimentos porosos (MATOS, 2008).
Poços de infiltração requerem uma manutenção frequente, para evitar
colmatação. Há também o risco associado de contaminação de água subterrânea, uma
vez que a infiltração é promovida sem que haja melhoria da qualidade da água durante
a infiltração, como aconteceria naturalmente durante a infiltração natural pelo solo.

Figura 6: Corte de um poço de infiltração e Cilindro perfurado pré-fabricado. Fonte: Matos (2008)

Valas de Infiltração e Bacias de Percolação


As valas de infiltração (Figura 7) são dispositivos de drenagem lateral,
geralmente paralelos a ruas, estradas, estacionamentos ou condomínios. Os valos
concentram o fluxo das áreas adjacentes e criam condições de infiltração ao longo de
seu comprimento. Já as bacias de percolação são dispositivos semelhantes às valas de
infiltração, que permitem a infiltração em maior profundidade no lote, promovendo a
recarga de aquíferos, reduzindo o escoamento superficial (SOUZA, 2004).

Figura 7: Vala de infiltração. Fonte: Matos et al. (2007)

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Estas estruturas apresentam como vantagem a redução e até eliminação da rede


de drenagem local, ou também a integração com esta rede. No entanto, apresentam a
limitação de precisarem de manutenção para evitar colmatação, que prejudica a
capacidade de armazenamento e infiltração nestas estruturas. Há também o risco de
poluição do lençol freático, caso a água escoada carregue consigo poluentes
(BAPTISTA, sd).
Canteiros pluviais
O conceito de canteiros pluviais pode ser aplicado a áreas internas aos lotes ou a
calçadas públicas. Este tipo de estrutura precisa de uma manutenção constante, para
garantir um bom aspecto visual e a garantia da capacidade de infiltração (evitar
compactação excessiva do solo). A figura 8 apresenta um exemplo, em que o
escoamento pelas sarjetas é parcialmente desviado para os canteiros.

Figura 8: Calçada com canteiro pluvial, em frente ao New Seasons Market, Portland, OR.
(EUA). Fonte: Matos e al. (2007)

Pavimentos permeáveis

Os pavimentos permeáveis são medidas estruturais extensivas de controle na


fonte, e constituem uma medida que pode ser utilizada em estacionamentos, calçadas
e ruas de pouco tráfego Há vários tipos de pavimentos permeáveis, desde aqueles que
visam o armazenamento temporário da água, até os que promovem a infiltração no
solo (BAPTISTA, sd). Eles apresentam como vantagens a redução da produção de
escoamento superficial, a redução da lâmina d’água em estacionamentos e passeios e
a redução dos custos com o sistema de drenagem urbana. Os tipos mais comuns são os
pisos Intertravados (Figura 9), pisos em grelhas entremeadas com grama, concreto
poroso e asfalto poroso.

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Figura 9: Seção-Tipo de Pavimento intertravado permeável. Fonte: Marchioni e Silva (2011).

No entanto, este sistema precisa de manutenção constante para evitar a


colmatação, que é o preenchimento dos poros do pavimento por resíduos,
prejudicando a capacidade de infiltração do material (TUCCI, 1995 apud SOUZA, 2004).
Também é preciso um cuidado adicional com os aspectos construtivos, por ser um
pavimento não convencional (BAPTISTA, sd).

Telhados armazenadores e telhados verdes

O armazenamento em telhados é uma opção relativamente nova, ainda pouco


usada no Brasil, mas que já é bem difundida na Europa e Japão. Trata-se de telhados
projetados com pequenos reservatórios para armazenar água em episódios de chuva,
ou então, da coleta da água que cai por toda a extensão do telhado ou laje por um
conjunto de calhas, que direcionam a água para um reservatório, disponibilizando-a
para usos residenciais não potáveis. Apesar de promissor, tanto pela simplicidade
como pelo potencial econômico, já que pode reduzir gastos nas contas de água, o
sistema requer manutenção constante e reforço de estruturas, o que pode
desencorajar sua instalação (TUCCI, 1995 apud SOUZA, 2004). Os telhados
armazenadores (Figura 10) apresentam a vantagem de ter baixo custo que possibilita a
prática do reuso. No entanto, não é uma medida de fácil adoção, especialmente nos
telhados já existentes. Há também a necessidade de manutenção constante para que a
capacidade de armazenamento não seja prejudicada (BAPTISTA, sd).

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Figura 10: Telhado verde. Fonte: Aquafluxus (2011).

Recomposição vegetal

O reflorestamento de bacias pode ter um alto custo associado, mas causa


melhoria no sentido de interceptar parte da precipitação, retendo água nas copas
arbóreas e arbustivas, promovendo a evapotranspiração. Quanto mais cobertura
vegetal, menor o escoamento superficial produzido no terreno, pois a cobertura
vegetal também propicia a infiltração no solo (SOUZA, 2004; TUCCI, 2007).
Reservatórios domiciliares

As bacias de armazenamento domiciliares ou individuais têm como objetivo


compensar o escoamento direto superficial produzido que poderia ser armazenado
caso o terreno estivesse sob condições naturais. Trata-se de uma medida extensiva de
controle na fonte.
O objetivo da aplicação deste tipo de reservatório é de reduzir os picos de cheia
à jusante através do armazenamento do escoamento produzido no lote, para posterior
descarga no sistema de drenagem (CANHOLI, 2005). Um caso interessante de política
pública voltada ao uso de reservatórios domiciliares pra controle de enchentes será
visto adiante, no tópico sobre a Lei das Piscininhas do município de São Paulo.
Tanto as valas de infiltração, como as bacias de percolação, os telhados
armazenadores e os pavimentos permeáveis são medidas de controle na fonte que
permitem o aumento da recarga de aquíferos e a redução das vazões máximas a
jusante através da infiltração e percolação, além de reduzir a carga de poluição difusa
produzida na bacia. A tabela 1 resume as principais características das medidas
estruturais de controle na fonte apresentadas anteriormente.

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Tabela 1: Características das medidas estruturais de controle na fonte


Tipo Característica Variantes Função Efeito
Armazenamen Redução do escoamento
Concreto, asfalto
Pavimento Base porosa e to temporário superficial,
poroso, blocos
permeável reservatório. no solo e amortecimento,
vazados.
infiltração. melhoria da qualidade.
Armazenamen
Reservatório linear Redução do escoamento
Trincheira to no solo e
escavado no solo, Com ou sem drenagem superficial,
de infiltração,
preenchido com e infiltração no solo. amortecimento,
infiltração drenagem
material poroso. melhoria da qualidade.
eventual.

Gramadas e com Redução da Retardo do escoamento


Vala de Depressões lineares
proteção à erosão com velocidade e superficial, infiltração e
infiltração em terreno permeável.
pedras ou seixos. infiltração. melhoria da qualidade.

Faixas de terreno com Infiltração, melhoria da


Com ou sem Infiltração e
Plano de grama ou cascalho com qualidade da água e
drenagem, gramado ou armazenamen
infiltração capacidade de eventual
com seixos. to temporário.
infiltração. amortecimento.

Poço de infiltração ou Redução do escoamento


Reservatório cilíndrico
de injeção; Infiltração e superficial,
Poços de escavado no solo,
alimentação direta ou armazenamen amortecimento, possível
Infiltração preenchido ou não
com tubo coletor; com to temporário. piora da qualidade da
com material poroso.
ou sem enchimento. água subterrânea.
Telhados Cobertura de solo, Cobertura com solo e Infiltração e Infiltração, melhoria da
Verdes materiais sintéticos gramíneas; armazenamen qualidade da água e
alveolares e membrana Telhados marrons, to temporário. eventual
impermeável, com plantados com plantas amortecimento.
plantação de locais.
gramíneas.
Reservatór Reservatório que Reservatório Retenção do Amortecimento do
ios de ocupa o espaço Tradicional, volume volume escoamento superficial.
Detenção disponível no lote. disponível com temporário.
limitação de
drenagem.
Fonte: Adaptado de Tucci, I SIBRADEN. Simpósio Brasileiro de Desastres Naturais e Matos, 2008.

Reservatórios de controle à jusante

De forma geral, os reservatórios de controle à jusante são medidas estruturais


extensivas bastante eficientes no armazenamento de cheias, reduzindo problemas de
enchentes localizadas, reduzindo custos com as galerias de drenagem, com
possibilidade de melhoria da qualidade da água, desde que haja manutenção
adequada, e cria a oportunidade de reuso e recarga de aquíferos.
Os reservatórios ou bacias de controle à jusante podem ser classificados em
reservatórios de retenção, de detenção e de condução. Os reservatórios de detenção e
retenção tem como função a redução dos picos de enchente, amortecendo a onda de
cheia através do armazenamento de parte do volume escoado (CANHOLI, 2005) em
reservatórios. O armazenamento de condução consiste na construção de canais de

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baixa velocidade, com seções transversais largas ou com soleiras que ajudam nesse
armazenamento.
Os reservatórios de retenção são aqueles que têm um volume de água já
armazenado, mas que tem a capacidade de armazenamento além deste volume já
ocupado, podendo exercer controle de cheias (BAPTISTA, sd; CANHOLI, 2005). O
escoamento armazenado nestes reservatórios não é liberado no sistema de drenagem
durante o evento de chuva. A água pode ser utilizada para irrigação ou manutenção de
vazão mínima a jusante. São conhecidos também como reservatórios “molhados”. Um
exemplo deste tipo de reservatório é o lago do Parque do Ibirapuera (figura 11).

Figura 11: Lago do Parque do Ibirapuera. Fonte: SABESP, 2012.

Os reservatórios de detenção são aqueles que ficam vazios durante os períodos


sem chuvas. Trata-se de um armazenamento temporário, que ocorre apenas em
episódios de chuvas intensas. Durante as épocas de ano em que o reservatório fica
vazio, o espaço pode ser utilizado para recreação. Os reservatórios podem ser
subterrâneos ou ao ar livre. O custo dos subterrâneos é maior, mas em alguns casos, o
impacto visual pode exigir essa solução. Os reservatórios subterrâneos permitem que
se utilize a sua cobertura para fins de recreação (Figura 12).

Figura 12: Bacia de detenção de Tai Tai Hang Tung -100000 m³, em Hong Kong. Fonte: Chu, 2005.

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Os reservatórios de detenção podem ser ainda do tipo “in stream”, e “off-


stream”.
Reservatórios in-stream
Os reservatórios “in-stream” são aqueles construídos ao longo do curso de um
rio, interceptando o curso natural das águas no rio (Figura 13).

Figura 13: Bacia de detenção “In-stream”.

Os reservatórios “in-stream” são dotados de um dreno de fundo, que permitem


a passagem das vazões normais e de um vertedor de superfície ou de um bueiro, que
controlam a saída das vazões durantes os eventos de chuvas intensas.
A figura 14 mostra os hidrogramas afluente e efluente de um reservatório de
detenção “in-stream”. A área em azul indica o maior volume de água armazenado
durante o evento. O esvaziamento do reservatório é feito por gravidade, através do
dreno de fundo.

Figura 14: Hidrogramas afluente e efluente de um reservatório de detenção “in-stream”.

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Reservatórios Off-stream
Os reservatórios off-stream são aqueles que ficam ao lado do rio, e recebem
água do rio apenas quando a vazão é suficiente para que o nível de água ultrapasse a
soleira de um vertedor lateral no rio, durante um episódio de chuva. Após o evento da
chuva, o armazenamento é esvaziado com a ajuda de uma estação elevatória, pois o
reservatório fica em uma cota inferior a do rio, o que constitui uma desvantagem, uma
vez que há um gasto de energia elétrica para a operação deste tipo de reservatório.
A figura 15 mostra um exemplo de Reservatório Paralelo. Trata-se do piscinão do
Ribeirão dos Couros, que fica ao lado da Via Anchieta, em São Bernardo do Campo, na
Região Metropolitana de São Paulo.

Figura 15: Vista do vertedouro do piscinão do Ribeirão dos Couros. Fonte: Folha de São Paulo.

Este piscinão tem como função amortecer as cheias que possam ocorrer no
Ribeirão dos Couros em casos de chuvas intensas.
A figura 16 mostra os hidrogramas afluente e efluente de um reservatório de
detenção “off-stream”. A área em azul indica o maior volume armazenado. Pode-se
notar que esse volume é menor do que aquele exigido pelo reservatório “in-stream”.
Desta forma, os reservatórios “off-stream” precisam de um volume menor, o que exige
uma área para a localizaçâo do reservatório também menor. A desvantagem dos
reservatórios “off-stream” é a necessidade de uma estação de recalque, para retirar a
água acumulada, uma vez que ele fica em cota inferior a do canal.

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120

100
Afluente
Efluente ( In Line )
Efluente ( Off Line )
80

Vazões (m3/s) 60

40

20

0
0 5 10 15 20 25 30
Tempo ( horas)

Figura 16: Hidrogramas afluente e efluente de um reservatório de detenção “off-stream”.

Eficiência dos Reservatórios de Retenção e Detenção

Os reservatórios de retenção e detenção constituem-se em uma medida efetiva


para pequenos cursos d’água. Para cursos de água de grande porte, as obras de
represamento assumem um porte muito grande e só se justificam em casos especiais.
O efeito de redução de pico de um hidrograma de cheia é reduzido, na medida
em que se afasta para jusante do reservatório, uma vez que a contribuição da bacia
intermediária, a jusante do reservatório passa a ter uma contribuição significativa.
Quando os reservatórios são utilizados como medidas preventivas de controle de
inundação possuem menores custos, pois em geral, a área ainda não está densamente
ocupada, e em geral, os custos de investimento ficam por conta do empreendedor,
além de desencorajar desenvolvimentos indevidos.
Quando os reservatórios são utilizados como medida corretiva, apresentam
maiores custos, pois as áreas já estão ocupadas, legalidade de sua construção pode ser
contestada, exigindo a necessidade de se criarem novas, gerando desgastes políticos,
desapropriações mais caras e complexas. Nesses casos, os custos são assumidos pelo
governo.
Embora, a tendência seja a de conter o máximo possível os volumes de
escoamento superficial direto na fonte ou em reservatórios na bacia hidrográfica, isto
não significa que em vários casos não seja necessário associar essas medidas de
contenção com obras de canalização dos cursos naturais.

Piscinão do Pacaembu

O único piscinão subterrâneo da cidade de São Paulo é o piscinão do Pacaembu


(Figura 17). Ele fica localizado na frente do Estádio do Pacaembu, abaixo da Praça
Charles Muller. O piscinão tem capacidade de armazenamento de 75.000 m³. A

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localização deste piscinão se justifica pela confluência de três sistemas de drenagem


na área, três galerias com picos de vazão muito próximos, de cerca de 15 minutos após
o início das chuvas, com uma área de contribuição de 2,2 km². A confluência das
vazões destes três sistemas no momento do pico de vazão totaliza cerca de 43m³/s
para uma chuva com período de retorno de 25 anos. Portanto, o acúmulo de água
nesta área era inevitável, e os prejuízos eram sentidos pela população (CANHOLI,
2005).

Figura 17: a) representação esquemática; b) durante a construção; c) após conclusão (reservatório está
sob a praça).

Há relatos de ocorrência de cheias nessa região desde a década de 1960. Na


maior parte das vezes, estas cheias ocorreram de forma abrupta, sem que houvesse
tempo para que a população local pudesse se adaptar aos efeitos das enchentes.
Frequentemente a onda de cheia tomava as vias locais, ilhando passageiros de carros e
ônibus (CANHOLI, 2005).
A solução para o problema veio no ano de 1994, quando se optou pela
construção do reservatório subterrâneo, que teria a função de amortecer a onda de
cheia decorrente da confluência dos sistemas de drenagem. O custo para a construção
de uma galeria seria da ordem de 35 milhões de dólares, enquanto que o custo do
reservatório de detenção foi de 8 milhões de dólares. Para a construção do
reservatório, foram monitoradas as chuvas do período chuvoso entre dezembro de
1992 e março de 1993, e através destes dados, foi calibrado um modelo chuva x vazão
para determinar o hidrograma do projeto. A partir destes dados e da consideração da
capacidade de vazão do sistema de drenagem local, foi dimensionado o reservatório,
para que a vazão de saída não ultrapassasse a vazão de 12 m³/s, que á a capacidade da
galeria existente na Av. Pacaembu. A construção do reservatório se iniciou no final do
ano de 1993, e em novembro de 1994, o piscinão do Pacaembu já se encontrava
operante. Considera-se que a instalação do Piscinão do Pacaembu foi efetiva no
controle de cheias na região da avenida Pacaembu e arredores, sem maiores
transtornos à população e com segurança e confiabilidade.
Projeto G-Cans

O “Metropolitan Area Outer Underground Discharge Channel” (também


chamado de “Projeto G-Cans”) é uma enorme estrutura subterrânea localizada
principalmente em Saitama-ken, no Japão. Trata-se de uma enorme estrutura

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subterrânea construída para prevenir enchentes em Tóquio, durante eventos chuvosos


e de tufões.
O Conselho Central de Gerenciamento de Desastres de Tóquio projetou o
sistema para uma chuva de 550 mm em três dias sobre Tóquio (T=200 anos). Sem o
sistema, para esse evento, o Rio Arakawa extravasaria, com a possível inundação de 97
estações do metrô.
O sistema associa 5 reservatórios de detenção (cada um possui 32m de diâmetro
e 65 m de altura) localizados próximos dos 4 principais rios, conectados por túneis e
um grande reservatório (chamado de “A Catedral” ou “O Grande Templo”), conectado
a uma Estação Elevatória que recalca 200 m³/s para o Rio Edogawa (Figura 18).

Figura 18: Corte dos túneis, mostrando os rios interceptados; perspectiva esquemática do sistema.
Fontes: http://www.ktr.mlit.go.jp/edogawa/project/gaikaku/outline/index.html
http://www.ipmotor2011.com/g-cans.html
Os túneis possuem 10 m de diâmetro (com um volume de 495.000 m³), que
totalizam uma extensão de 6,3 km. O volume armazenado nos 5 silos é de 260.000 m³.
O grande reservatório possui 25,4 m de altura, 177 m de comprimento e 78 m de
largura (com 59 pilares). Possui um volume de 350.000 m³ (Figura 19).

Figura 19: Túnel; entrada dos reservatórios; grande reservatório (“ACatedral”).


Fontes: http://megastructure.org/post/show/36-tokyo-underground-storm-drain
http://planetoddity.com/g-cans-tokyo-storm-water-discharge-channel

O sistema conta com vários túneis de acesso de serviço e uma central de


controle. O grande reservatório é local de visitação de turistas. O projeto iniciou-se em
1992 e concluído em 2004. O custo total da obra ficou em US$ 2 bilhões.

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Dimensionamento dos reservatórios

De forma geral, o dimensionamento de reservatórios de detenção deve levar em


conta o hidrograma de entrada, o hidrograma de projeto, a pluviosidade local. É
preciso levar em conta também as estruturas de saída, como extravasores e bombas.
O dimensionamento é feito por tentativas, sendo que a dimensão ótima é aquela
que considere os custos de construção e os custos sociais e econômicos relacionados
às desapropriações e impactos ambientais gerados na vizinhança.
Problemas associados aos dispositivos de retenção e detenção: Resíduos
Sólidos

Allison et al (1998) apontam os fatores que influenciam no carreamento de


resíduos sólidos urbanos para os sistemas de drenagem, sendo eles o uso e ocupação
do solo, a população urbana, as práticas de gerenciamento da limpeza urbana, o
acondicionamento dos resíduos gerados na área urbana, a regularidade da coleta dos
resíduos, a existência de programas de triagem, educação ambiental e a coleta
seletiva, a localização e geometria das bocas de lobo e outras estruturas de
microdrenagem e as características dos eventos pluviométricos. Como resultado, há
acúmulo de resíduos nas seções canalizadas da rede de drenagem (Figura 20),
reduzindo a capacidade de escoamento destas estruturas, podendo agravar ainda mais
problemas de enchentes nas grandes cidades, além da questão sanitária, uma vez que
os resíduos carregam consigo poluentes que contaminam as águas pluviais (TUCCI,
2002).

Figura 20: Exemplo de gradeamento utilizado para separação de resíduos nas estruturas de
drenagem. Fonte: BAPTISTA, sd.

Tradicionalmente, busca-se evitar que os resíduos entrem nas estruturas de


drenagem, especialmente nos reservatórios, pois além da questão sanitária, os
resíduos podem obstruir as estruturas hidráulicas e ocupar volumes expressivos,
diminuindo a capacidade de armazenamento do reservatório.
Para evitar situações como esta, é comum a instalação de grades ou outras
estruturas que possam reter parte dos resíduos afluentes aos reservatórios. Estas

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estruturas podem agravar entupimentos o causar remanso, agravando situações


críticas de enchentes.
Recomenda-se a criação de uma área de armadilhamento dentro do
reservatório, para facilitar a remoção dos detritos, concentrando-os em uma área
menor.
Qualidade da água

A primeira parte da precipitação efetiva (~25 mm) possui 90% da carga poluente
carreada nos episódios de chuva. A esse tipo de carga poluente se dá o nome de
poluição difusa, que compreende todo aquele poluente carreado pelo escoamento
superficial em episódios de chuva. Estes poluentes e resíduos são carreados para os
reservatórios de retenção e detenção, podendo diminuir a capacidade de
armazenamento dos reservatórios e obstruindo estruturas hidráulicas importantes.
Reservatórios de detenção apresentam a vantagem de contribuírem para a
melhoria da qualidade da água no que se refere aos efeitos da poluição difusa e do
transporte de sedimentos e resíduos pelo escoamento superficial. Durante a
permanência das águas no reservatório, ocorre a sedimentação do material em
suspensão, que ficam no fundo do reservatório e podem ser removidos
posteriormente, através da limpeza (CANHOLI, 2005).
Medidas estruturais que visam a infiltração no solo também contribuem para a
melhoria da qualidade da água, uma vez que reduzem o escoamento superficial e,
consequentemente, o arraste de poluentes e resíduos do escoamento, reduzindo a
carga difusa de poluentes. A tabela 2 apresenta a eficiência de diferentes medidas
estruturais na redução da poluição hídrica.
Tabela 2: Eficiência das medidas estruturais na melhoria da qualidade da água
Porcentagem de redução
Alternativas de Controle Sólidos em Fósforo Nitrogênio Zinco Bactérias
suspensão Total total
Faixas gramadas 10-20 0-10 0-10 0-10 n.d.
Valetas gramadas 20-40 0-15 0-15 0-20 n.d.
Bacias de detenção secas 50-70 10-20 10-20 30-60 50-90
Bacias de detenção alagadas 60-95 0-80 0-80 0-70 n.d.
Alagadiços 40 9-60 9-60 60 n.d.
Pavimento poroso 80-95 65 65 99 n.d.
Fonte: Urban Drainage Flood Control, 1991, apud Campana,2007

Caso: Lei das piscininhas em São Paulo


Com o intuito de reduzir os prejuízos causados por enchentes urbanas, a
Prefeitura Municipal de São Paulo elaborou a lei 13.276, sancionada dia 04 de janeiro
de 2002, que foi regulamentada pelo Decreto nº 41.814 em 15 de março de 2002. A lei
dispõe sobre a execução de reservatórios domiciliares ou individuais para coletar a
água da chuva que venha a escoar em coberturas e pavimentos impermeáveis do lote.

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Esta lei incide sobre lotes edificados ou não, desde que tenham área impermeabilizada
maior que 500 m². Esta lei ficou conhecida como “lei das piscininhas”.
O dimensionamento dos reservatórios domiciliares previstos na lei leva em conta
a área impermeabilizada do terreno, o índice pluviométrico da região e o tempo de
duração da chuva. O cálculo é realizado de acordo com a equação 1:
V = 0,15 × Ai × IP × t Eq. 1
onde:
V = volume do reservatório (m³),
Ai = área impermeabilizada (m²),
IP = índice pluviométrico igual a 0,06 m/h
t = tempo de duração da chuva igual a uma hora.
A lei também recomenda que a água contida pelo reservatório deverá
preferencialmente infiltrar-se no solo, podendo ser despejada na rede pública de
drenagem após uma hora de chuva ou ser utilizada para finalidades não potáveis.
Sendo assim, a lei promove o reuso e a infiltração no solo, favorecendo a recarga do
lençol freático.
Apesar de ser uma legislação interessante que passa a responsabilidade também
ao dono do lote pelas questões relacionadas às enchentes nas cidades, existe uma
série de críticas associadas à lei das piscininhas. Caso não haja manutenção, existe o
risco de proliferação de vetores de doenças, como roedores e insetos. Há também a
questão do aumento de custos da construção civil, uma vez que a construção do
reservatório demandará mais material e mão-de-obra e também o custo com energia
elétrica para o caso de reservatórios que utilizem bombas para esvaziamento. Há ainda
a crítica relacionada à efetividade real das piscininhas. Diversos autores da área
questionam a efetividade da lei, uma vez que para que o efeito destes reservatórios
seja sentido na micro e macrodrenagem, seriam necessários milhares de reservatórios
como estes, o que não seria possível, uma vez que muitos lotes do município não têm
a área mínima impermeabilizada para construção do reservatório. Além disso, não há
fiscalização capaz de garantir adequada execução e operação destes reservatórios.
Portanto, a lei foi criada a partir de uma intenção bastante válida, mas ainda encontra
uma série de obstáculos para ser aplicada.

Referências Bibliográficas
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http://megastructure.org/post/show/36-tokyo-underground-storm-drain

Allison, R.A. et al. 1998. From roads to rivers - Gross pollutant removal from urban waterways. Research
Report for the Cooperative Research Centre for Catchment Hydrology, Australia, 98 f.

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