Você está na página 1de 209

00 1 4 46 9 8

000 29 90
11 11 111 1111111 11111111
A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS
AArte de

Uma solução espiritualpara vencer as


grandes adversidades da vida

Tradução de
Pedro JOsé Maria Bianco

Jl
THOMAS NELSON BRASIL

Rio de Janeiro
2007
Título original
How to handle adversity

Copyright © 1989 by Charles Stanley


Edição original por Thomas Nelson, Inc. Todos os direitos reservados.
Copyright da tradução © Thomas Nelson Brasil, 2006.
SUPERVISÃO EDITORIAL
N ataniel dos Santos Gomes

ASSISTENTE EDITORIAL
Clarisse de Athayde Costa Cintra

TRADuçÃo
Pedro José Maria Bianco

CAPA
Valter Botosso Jr.

COPIDESQUE
Norma Cristina Guimarães Braga

REVISÃO
Margarida Seltmann
Magda de Oliveira Carlos

PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO


Julio Fado
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

S791a

Stanley, Charles F.
A arte de superar problemas: uma solução espiritual para vencer as grandes ad-
versidades da vida! Charles Stanley ; tradução Pedro José Maria Bianco. - Rio de Janeiro
:Thomas Nelson, 2007

Tradução de: How to handle adversity


ISBN 978-85-6030-313-7

1. Sofrimento - Aspectos psicológicos. 2. Consolação. 3.Vida cristã.


I. Título.

06-4616. CDD 248.86


CDU 248.153

Todos os direitos reservados à Thomas Nelson Brasil


Rua Nova Jerusalém, 345 - Bonsucesso
Rio de Janeiro - RJ - CEP 21402-325
Te!.: (21) 3882-8200 Fax: (21) 3882-8212 I 3882-8313
www.thomasnelson.com.br
Dedicado aSra, Ralph Sauls
Minha constante inspiração em um
tempo de grande adversidade,

(\1\, ,', I \ '\ (\f\.


.. \ I J W -. /)
/"
,
Indice

Prefácio 9
Introdução 13
,
CAPITULO UM Adversidade: Quem está por trás de tudo? 15
,
CAPITULO DOIS O poder da perspectiva 31
, 1\
CAPITULO TRES Quando Deus está em silêncio 51
,
CAPITULO QUATRO Justiça para todos 67
,
CAPITULO CINCO Avançando em meio à adversidade 77
.'
CAPITULO SEIS Sua atenção, por favor! 93
,
CAPITULO SETE Um lembrete não muito gentil 103
,
CAPITULO OITO Auto-exame 115
,
CAPITULO NOVE Uma lição de humildade 125
,
CAPITULO DEZ O poder da fraqueza 135
,
CAPITUlO ONZE °
Fiel é que vos chama 145
,
CAPITULO DOZE Consolado para consolar 155
,
CAPITULO TREZE Não eu, mas Cristo 167
,
CAPITULO QUATORZE A história de um homem 181
,
CAPITULO QUINZE Reagindo à adversidade: A escolha é sua 201

Agradecimentos 21 5
I IH " ~
Prefácio

o princípio bíblico da compreensão, da aceitação e do aco-


lhimento dos tempos difíceis em nossa vida é o tema que nor-
teia A arte de superar problemas. Esse importante conceito fez
com que este livro fosse acrescentado à Série Discipulado, de
Charles Stanley, recém-revisada. Esta série especial foi criada
como apoio na formulação de uma base bíblica de fé e como
guia a uma maior maturidade espiritual. Alguns outros livros
da série são Segurança eterna, O dom do perdão, Vencendo a guerra
interior e Como ouvir a Deus. Encorajamos a que se utilize esses
livros como ferramentas para o estudo da Bíblia e para o tes-
temunho.
Depois de ter concluído a Série Discipulado, temos ou-
tras novidades a apresentar. No In Touch Mínístries, existem ou-
. tros estudos contínuos disponíveis on-líne. Gostaríamos de con-
10: A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

vidar a todos para que explorem nosso endereço na Internet


UlWW.intouch.org. As páginas de nosso endereço estão repletas de
ferramentas inspiradoras e de estudos bíblicos estimulantes para
toda a família. Separe um tempo ainda hoje para navegar pelas
páginas de nosso índice tópico das Escrituras, para aprender mais
a respeito dos heróis da Bíblia em nossa seção especial Mighty in
Spírit [poderoso no Espírito], ou para iniciar sua hora tranqüila
com nossos devocionais diários on-line.Visite também nossas pá-
ginas de PrayerTOuch [Toque de Oração], com dicas sobre oração,
auxílio para a hora tranqüila, sobre como orar as Escrituras, e o
nosso newsletter; boletim eletrônico mensal centrado na oração.
Crianças de todas as idades podem amadurecer na fé
com as ferramentas disponíveis em Next Generation [A Próxi-
ma Geração], um espaço que contém uma seção de lições bí-
blicas e páginas de atividades para serem impressas, o Kids Cor-
ner [Espaço das Crianças] e a seção Teen Connectíon [Conexão
Adolescente], com estudos bíblicos e estimulantes devocionais
diários. Esta parte do endereço eletrônico também hospeda o
Parents' Cafe [Café dos Pais], um inestimável recurso de inspi-
ração divina para as mamães e os papais.
Que Deus os abençoe, ajudando-nos a crescer nas dis-
ciplinas de sua Palavra e a perseverar rumo à formação de um
caráter semelhante ao de Cristo.
- In Touch Ministries.

In Touch Ministríes são os ministérios de ensino do Dr.


Charles E Stanley, pastor da Primeira Igreja Batista de Atlanta,
Geórgia, nos EUA, com quinze mil membros. In Touch Minis-
tries possuem atualmente duzentos funcionários nos Estados
Unidos e inúmeros associados que trabalham espalhados pelos
escritórios internacionais.
PREFÁCIO ! 11

Averdadeira ênfase dos In Touch Ministries, contudo,


não tem aver com estat~ticas. Está centrada, porém, em pe-
netrar aalma humana com aP~avra de Deus, de modo que
todos os que alerem ou aouvirem possam chegar àmaturi-
dade espiritu~, vindo acausar um impacto ilivino no mundo
I

em 'que vIvem.
11

\' '111',,: I' :l I ,',I" I I


11' I: 1,I I' ,
"111 \
11: I I~I 11
1
I 1I
Introdução

Meus irmãos, considerem motivo de grande alegria o fato


de passarem por diversas provações, pois vocês sabem que a
prova da sua fé produz perseverança. E a perseverança deve
ter ação completa, a fim de que vocês sejam maduros e
íntegros, sem lhes faltar coisa alguma.
Tiago 1:2-4

Conheço diversas pessoas que estão de mal com Deus' por


causa da adversidade que interferiu em seus caminhos. Um
certo homem se recusa a colocar os pés na igreja porque não
conseguiu a promoção que julgava merecer. Uma mulher está
zangada com Deus por ele não ter impedido ·sua filha de se
casar com um incrédulo. A tragédia em cada um desses casos
é que essas pessoas deixaram a espiritualidade do lado de fora
de suas vidas. Não poderão avançar nem um centímetro espi-
ritualmente até que tenham mudado suas perspectivas acerca
14 i A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

da adversidade. O próprio elemento que Deus permitiu pene-


trar em suas vidas, como um incentivo para o seu crescimento,
levou-os a um estado de coma espiritual. Por quê? Porque se
recusaram a aceitar que "a perseverança deve ter ação completa
[até a maturidade]", como se observa na passagem de Tiago
transcrita acima.
A menos que se esteja comprometido com o proc~sso
de amadurecimento e de crescimento espiritual, não se pode
experimentar a paz e a sabedoria divina que Tiago conhecia,
nem pode haver nenhuma alegria em meio ao sofrimento.
Eu os encorajo a que, durante a leitura deste livro,
abram seus -olhos para a fidelidade de Deus, e os seus corações
para todas as lições que ele anseia por lhes ensinar em meio às
circunstâncias em que estão vivendo. Que possam saborear a
vitória, à medida que descobrem a perspectiva de Deus para
esta vida e para a por vir.
ADVERSIDADE: QUEM ESTÁ POR TRÁS DE TUDO? 17

assunto é a adversidade. Pensar de forma muito linritada sobre


este terna abre espaço para que as pessoas se sintam culpadas
sem necessidade. E, assim corno no caso dos discípulos de Jesus,
deturparem sua perspectiva com relação ao sofrimento alheio.
Jesus respondeu:

Nelll ele nelll seus pais pecaram, mas isto aconteceu para
que a obra de Deus se manifestasse na vida dele (joão 9:3).

Esta afirmação traz implicações surpreendentes. A frase


"isto aconteceu para que" expressa propósito. Havia um pro-
pósito para a cegueira daquele homem. Os discípulos viam sua
cegueira como o resultado de algo. Na verdade, eles viam todas
as enfernridades em terrnos de resultados. Jesus, entretanto, fez
com que soubessem, de forma muito clara, que aquela ceguei-
ra não era o resultado de nada que o homem fizera. Que a
cegueira daquele Irornerri era parte do propósito de Deus. Em
outras palavras: a cegueira daquele homem vínha da parte de Deus.
Isto já seria algo bem dificil de se escrever, quanto rnais de se
acreditar.
,
E possível que uma adversidade tenha sua origem em
Deus? Todos nos sentiríamos mais confortáveis se Jesus tivesse
dito: "Este homem está cego porque pecou, porém Deus irá
usá-lo assim mesmo". Isto seria algo bem mais fãcil para dige-
rir. Mas Jesus não nos deixou nenhum escape. O pecado não
foi a causa direta da cegueira daquele homem, e sim Deus.

Um exemplo característico
Estou ciente de que uma declaração destas vai direto contra
a teologia da prosperidade, tão predotninante eIll nossos dias.
Entretanto, uma afirmação como a do Evangelho de João dei-
18 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

xa perfeitamente claro que Deus é o arquiteto de algumas ad-


versidades. Não podemos perrrritir que nossas tendências teo-
lógicas (que todos possuímos) interfiram no cristalino ensino
das Escrituras. Felizmente para nós, esse homem cego não é
o único exemplo nas Escrituras onde Deus é o arquiteto da
adversidade. Em 2 Coríntios 12 o apóstolo Paulo descreve sua
luta contra a adversidade. Claramente ele identifica Deus corno
o arquiteto por trás de seu sofrimento:

Para impedir que eu. me exaltasse, por causa da grandeza dessas


revelações, foi me dado um espinho na carne, um mensageiro de
Satanás, para me atormentar (2 Coríntios 12:7, ênfase minha).

Alguém poderia argumentar: "Mas lá diz que era um


mensageiro de Satanás". Está certo! Note, porém, o propósito da
adversidade de Paulo: "Para impedir que eu me exaltasse" .Você
àcha que Satanás iria arquitetar um plano para evitar que Paulo
,
se exaltasse? Obvio que não. O alvo de Satanás é o de levar-nos
a nos exaltar. Corn certeza ele não irá agir contra seus próprios
propósitos destrutivos. Portanto, como tudo isto se encaixa? Pa-
rece que Deus desejava infligir algum sofrimento em Paulo a
fim de que ele se mantivesse humilde. Para conseguir realizar
este propósito, Deus enviou um rnensageiro de Satanás na vida
de Paulo. O que era isso exatamente, não sabemos. Uma coisa é
certa no entanto: a idéia originou-se em Deus. O plano foi dele
e ele utilizou seus próprios recursos para irnplementá-lo.
Por mais difícil que seja de cornpreerrder, a Bíblia apre-
senta Deus como sendo alguém que prOillove certas adversi-
dades. Nos próximos capítulos, vamos trabalhar de modo mais
amplo esta relação entre Deus e a adversidade. Reconheço que,
para algumas pessoas, suscitei até aqui mais perguntas do que
respostas. Está tudo bem, desde que continuem lendo!

....,,"l-__~,l.L_ .• l..; ,j., l.ÜLl&.I.lai."iLJ.:.IL •. ijl i • . "I~lilll1 ,I 11.1. ,1,1, Ui" ,IUili _1"l.1 J "IÜlIAoua~: ~ l .. l.~ 1.111 .......
ADVERSIDADE: QUEM ESTÁ POR TRÁS DE TUDO? 19

Nossos próprios atos


Deus não é a única fonte das adversidades. Muitas ve-
zes as adversidades surgem corno resultado de nossas próprias
atitudes. A abordagem. dos discípulos de Jesus não estava COD1-
pletarnente fora da realidade com relação à causa por trás da
cegueira daquele homem. A adversidade, com freqüência, é
resultado do pecado. Na verdade, o pecado sempre conduz a
algum. tipo de adversidade. Tiago escreve:

Cada um., por êrn, é tentado pelo próprio rnau desejo,


sendo por este arrastado e seduzido. Então esse desejo,
tendo concebido, dá à luz o pecado, e o pecado, após ter se
consumado, gera a morte (Tiago 1:14-15).

o pecado sem.pre resulta em algum tipo de morte.


Algumas vezes é a rrrorte física, rnas geralrrierrte é algo rnais
sutil. O pecado causa a morte· de nossos relacionamentos.
Causa a morte de nossa auto-estima. Alguns pecados matam
as nossas aspirações e a nossa determinação. Todas estas for-
mas de morte produzem adversidade em algum níveL
O caso clássico é a história de Adão e Eva. Eles se en-
contravam livres de adversidades. Não existia a doença, a morte,
a deterioração física, ou qualquer outro tipo de sofrimento no
Jardim do Éden. Não havia tensões no relacionamento entre os
dois. Nem rnesrno conflitos entre eles e o meio ambiente. Não
poderiam ter desejado mais. Não sabemos ao certo por quanto
,
telllpo Adão e Eva viveram no Jardilll do Eden. Sabernos com.
certeza, p orêrn, por que tiverarn de sair de lá: devido ao pecado..
Depois de terem desobedecido a Deus, por cornerern
do fruto proibido, tudo rnudo'u. Eva passou a sentir dores ao
dar à luz filhos. Surgiu o potencial para o conflito entre o ho-
20 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

mem e a mulher. Passou a existir conflito até mesmo entre os


seres humanos e o meio ambiente. Para completar, o ser huma-
no passaria a experimentar á morte e, em decorrência, a viver
sua vida à sombra deste inimigo monumental. A morte trouxe
consigo o medo, a tristeza, a dúvida e a insegurança. Tudo isso
resultou do pecado. A partir daquele instante, para Adão e Eva,
a vida seria repleta de adversidades. E tudo devido ao pecado.

As raizes do mal
Esta narrativa bíblica faz mais do que simplesmen-
te ilustrar a possível conexão entre pecado e adversidade. Ela
serve de fundamento para responder a muitas, dentre algumas
das mais difíceis perguntas da vida. Deixa claro, até mesmo a
partir de uma leitura superficial destes primeiros capítulos da
Bíblia, que Deus nunca teve a intenção de que os seres hu-
manos passassem pelas adversidades e tristezas causadas pelos
nossos primeiros pais. A morte não era parte do plano original
,
de Deus para a humanidade. Ela é uma interrupção. E inimiga
,
de Deus tanto quanto é do homem. E o oposto de tudo o que
ele desejou realizar.
A enfermidade e o sofrimento com certeza não são
amigos de Deus. Não havia doença no Jardim do Éden. Não
eram parte do plano original de Deus para a humanidade. O
ministério de Cristo dá testemunho acerca desta verdade. Em
todo lugar que ia ele curava os enfermos. Deus compartilha de
nosso desprezo pelas doenças. A enfermidade é uma intrusa.
Não tinha lugar no mundo de Deus no princípio; não terá
lugar em seu mundo futuro.
A morte, as doenças, a fome, os terremotos e as guerras:
todos eles não faziam parte do plano original de Deus. Ainda
assim são parte de nossa realidade. Por quê? Teria Deus per-
ADVERSIDADE: QUEM ESTÀ POR TRÁS DE TUDO? 21

dido O controle? Ou teria ele nos abandonado? Teria deixado


de ser um Deus bom? Não. Nossa realidade foi moldada pela
escolha de Adão pelo pecado. E o pecado sempre resulta em
adversidade.
A bondade e o poder de Deus não podem ser medidos
à luz da tragédia e da adversidade que experimentamos dia
sirn, dia não. Caso sua bondade deva ser questionada, que o seja
à luz de seu propósito original, bem corno de seu supremo e
derradeiro plano:

Ouvi urna voz forte que vinha do trono e dizia:"Agora o


tabernáculo de Deus está COlll os b.ornens, COlll os quais ele
viverá. Eles serão o seu povo; o próprio Deus estará com eles
e será o seu Deus. Ele enxugará dos seus olhos .toda lágr-ima.
Não haverá mais rnorte, nelll tristeza, nem choro, nem dor,
pois a antiga ordem já passou" (Apocalipse 21 :3-4).

'" . ,
E Deus que enxugará toda lágrirna. E Deus que fará
desaparecer a morte, o choro, a dor e a tristeza. Por que fará
tudo isso? Porque ele é um Deus bom e fiel. Corno poderá fa-
zer essas coisas? Pela força do seu poder. Ele é o Todo-poderoso
Soberano do universo. Nada é difícil demais para ele.

Um exemplo atual
A idéia de que a adversidade é algumas vezes resultado
do pecado dific:ilm.ente necessita de suporte bíblico. Todos nós
podemos testemunhar em favor deste princípio. Cada multa por
excesso de velocidade que já pagamos serve corno prova. A últi-
ma discussão que tivemos com o nosso cônjuge, com os nossos
pais ou COIll os nossos filhos, provavelmente brotou do pecado,
de urna forma ou de outra. A tristeza e o sofrimento causados
22 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

por um divórcio, ou mesmo por uma separação, estão sempre re-


lacionados de algum modo ao pecado.Algumas vezes é o pecado
pessoal que introduz a adversidade em nossa vida. EIn outras
circunstâncias é o pecado de terceiros que nos causa dificuldades.
Os discípulos de Jesus não estavam totalmente errados: a adversi-
dade e o pecado reahnente andam de mãos dadas.
Por mais evidente que seja, é impressionante como al-
gumas vezes não conseguimos ver, ou nos recusamos a ver, essa
relação. RecenteInente, certa rnâe trouxe seu filho adolescente
para rne ver. O problema, de seu ponto de vista, era o en-
volvimento do filho com "as pessoas erradas". Ela prosseguiu
explicando como a interação do filho com aquele grupo o le-
vou a desenvolver rirna atitude ruim COIn relação à autoridade.
Corno resultado, tornou-se impossível de se conviver com ele.
Após vários encontros, a verdade finalmente veio à
tona. A situação era que a mãe do garoto havia deixado o rria-
rido (o pai), e não estava nem Ulll pouco disposta a trabalhar
com a possibilidade de trma reconciliação. O adolescente que-
ria rrrorar COlll o pai, entretanto sua mãe não queria nern ouvir
a respeito do assunto. Conversei COIn o pai ern diversas ocasiões.
Ele reconheceu sua cota de responsabilidade nos conflitos fa-
rniliares. E estava disposto a fazer o que "fosse necessário para
conseguir reunir sua família novamente. Sua mulher, por outro
lado, não estava disposta a mover urna palha.
Quando expliquei à mãe como urna separação hostil
gerahnente afeta os filhos envolvidos, ela ficou zangada: ''Já lhe
expliquei por que ele está agindo desta maneira", reagiu. "São
os seus amigos". Nada do que eu dissesse faria diferença. Ela não
conseguia (ou não queria) ver nenhuma conexão entre o COIn-
portamento do filho em casa e sua reação ao marido. No que
dizia respeito a ela, o problema era COIn seu filho. Por diversas
ocasiões ela se dispôs a pedir publicamente oração por si rriesrna,

L l.'.t"t ..L.I 1< .. I~ I i. lMi,LM..j..l& .•l.....a..,L iJj; .. L" •• J..Ijll.liI .J I 1,1. ,.lI;;, l clillt 111 -',-,_.l._ol< L, ~ 1,_ L •• 11. "., ..
ADVERSIDADE: QUEM ESTÁ POR TRÁS DE TUDO? 23

com relação à tristeza que o filho vinha lhe causando. No entan-


to, jamais compreendeu o fato de que o conflito que vivenciava
com o filho tinha relação direta com. seu próprio pecado.
É difícil se estabelecer UITl percentual, mas eu diria que
entre 60 e 70 por cento das pessoas que aconselhei estão so-
frendo as conseqüências de seus próprios pecados ou os de
terceiros. Algumas das situações m.ais difíceis com que lido no
aconselhamento são aquelas nas quais uma parte inocente so-
fre por causa da desobediência de outra. Parece sempre tão
injusto. No entanto, faz parte, para que se enfrente este tipo de
adversidade, a conscientização de sua origem: o pecado. Tenho
que admitir que esta não é uma resposta rnuito satisfatória em
alguns casos. Llrna das razões é que, se estou sofrendo devido
ao pecado de outra pessoa, não há nada realmente que possa
fazer a não ser sofrer! Caso esteja sofrendo em função de meu
próprio pecado, posso ao menos rne consolar, de alguma for-
ma, com o fato de que, se não tivesse cometido algum. erro, não
estaria sofrendo. Mas se de fato a responsabilidade é de outra
pessoa, a situação pode ser extremamente frustrante.
Mais adiante vamos discutir como reagir aos diferentes
tipos de adversidades. O que desejo salientar aqui é que algu-
rnas vezes não existe explicação para a adversidade, a não ser
pelo fato de que estamos sofrendo as conseqüências do pecado
de outra pessoa.

o próprio adversário
Existe uma terceira fonte para a adversidade: Satanás.
Em. certo sentido, ele está, fundam.entalmente, por trás de toda
a adversidade. Foi o responsável direto por influenciar no des-
vio de Adão e Eva e, portanto, para toda a calamidade que se
seguiu. Entretanto, o seu envolvim.ento com. respeito às adver-
24 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

sidades vai muito além de sua atividade no Jardim do Éden. Ele


está vivo e ativo hoj e em dia.
Diversos relatos bíblicos ilustram o papel de Satanás na
adversidade. O exemplo mais claro é a história de Jó. Aqueles
que atribuern toda a adversidade a algum tipo de pecado ou à
falta de fé têm sérias dificuldades com esta narrativa. Eles atri-
buem os problemas enfrentados por Jó ao seu orgulho ou ao
pecado de seus filhos. O autor, porém, lança essas teorias por
terra já no primeiro versículo do livro.

Na terra de U z vivia um homem chamado J ó. Era hornern


integro ejusto, temia a Deus e evitavafazer o mal (Ió 1:1, ênfase
minha).

Mais tarde, no rnesrno capítulo, o próprio Deus faz sua


avaliação com respeito a J ó:

Disse então o Senhor a Satanás: "Reparou em meu servo Já?


Não há ninguém na terra como ele, irrepreensível, íntegro,
homem que teme a Deus e evita o mal" (Ió 1:8).

Não pode restar dúvidas a respeito.Já era Ulll homem


justo. A adversidade que enfrentou não era devida a seu or-
gulho. A conversa que se seguiu entre Deus e Satanás relata
exatamente por que Já sofreu daquela forma.

"Será que J ó não tem razões para temer a Deus?" , respondeu


Satanás. "Acaso não puseste uma cerca em volta dele, da
fanúlia dele e de tudo o que ele possui? Tu mesmo tens
abençoado tudo o que ele faz, de modo que os seus rebanhos
estão espalhados por toda a terra. Mas estende a tua mão e
fere tudo o que ele tem, e com certeza ele te amaldiçoará
ADVERSIDADE: QUEM ESTÁ POR TRÁS DE TUDO? 25

na tua face." O SENHOR disse a Satanás: "Pois beIll, tudo


o que ele possui está nas suas rnãos, apenas não toque nele".
Então Satanás saiu da presença do SENHOR (Ió 1:9-12).

E assim Satanás se propõe a destruir tudo o que Já pos-


sui. E rriesrrio assim.Jó continua servindo a Deus e andando em
seus cam.inhos. Então Satanás faz um.a outra solicitação a Deus.

"Pele por pele!", respondeu Satanás. "UITl hornern dará tudo


o que tern por sua vida. Estende a mão e fere a sua carne e os
seus ossos, e COIll certeza ele te amaldiçoará na tua face." O
SENHOR disse a Satanás: "Pois bem, ele está nas suas mãos;
apenas poupe a vida dele". Saiu, pois, Satanás da presença do
SENHOR e afligiu Jó COIll feridas terríveis, da sola dos pés
ao alto da cabeça" (Ió 2:4-7).

A adversidade de J ó veio de Satanás. O escritor faz um.a


clara distinção neste livro. Satanás desafia Deus a que introduza
a adversidade na vida deJó. Deus, no entanto, diz a Satanás que
faça o trabalho sujo. A perm.issão veio de Deus. A adversidade
veio de Satanás.
Pedro diz-nos que Satanás está rugindo à nossa volta
corno Ull1 leão, procurando a quem possa destruir pela adver-
sidade. Ele escreve:

Estejam alertas e vigrem. O Diabo, o iniITligo de vocês, anda


ao redor como leão, rugindo e procurando a quelll possa
devorar. Resistalll-lhe, permanecendo firrnes na fé, sabendo
que os ir mãos que vocês têrri ern. todo o mundo estão
passando pelos mesmos sofrimentos (1 Pedro 5:8-9).

Com muita freqüência este texto é usado para se falar


sobre o errvolvirnerrto de Satanás ern nossas tentações. O ver-
26 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

dadeiro contexto, no entanto, é o do sofrimento. Satanás ruge


em volta procurando por meios de introduzir a adversidade em
nossa vida. Ele deseja que soframos, pois o sofrimento mui-
tas vezes leva à destruição de nossa fé em Deus. Pedro instrui
aqueles cristãos a estarem alertas de modo que, em meio ao so-
frimento, não percam de vista quem. o está causando, e também
em como Deus irá usá-lo,

Como saber?
Em nossa experiência do dia-a-dia, é difícil algumas
vezes identificar a fonte de nossa adversidade. A adversidade re-
lacionada a. nosso pecado pessoal, em geral, é fácil de ser iden-
tificada. Saindo desse âmbito, no entanto, as coisas começam a
ficar confusas. Com certeza não gostaríamos de repreender o
Diabo por algo cuja responsabilidade é de Deus. Nem quere-
mos simplesmente dar de ombros, se existe algo que podemos
fazer para acabar com o nosso sofrimento.
A Bíblia não nos fornece três passos simples para nos
ajudar a determinar a fonte de nossa adversidade. Isto real-
mente costumava me incomodar. Durante UITl longo tempo,
quando enfrentando adversidades, eu orava e orava a Deus para
que me desse alguma indicação da razão de meu sofrimento.
Foi então que percebi por que este tipo de oração raramente
parece ser respondido. Havia e ainda há UITla questão muito
mais importante envolvida.
Bem mais importante do que a fonte da adversidade é
a reação diante da adversidade. Por quê? Porque a adversidade,
não importa a fonte, é o instrumento mais eficaz de Deus para
aprofundar a fé e o compromisso com ele. As áreas onde se ex-
perimenta a maior adversidade são as áreas em que Deus está
atuando. Quando alguém diz: "Deus não está fazendo nada em
minha vida", minha resposta é sempre: "Quer dizer então que
ADVERSIDADE: QUEM ESTÁ POR TRÁS DE TUDO? 27

. você não tern rierrhurn problema?" Por quê? Porque a rnellror


maneira de se identificar o envolvimento de Deus na vida de
alguém é verificar sua resposta com relação à adversidade. Deus
usa a adversidade independente da fonte. No entanto, sua reação
diante da adversidade determina se Deus poderá ou não usá-la
para realizar o seu propósito. Na verdade, a adversidade pode
destruir a fé que uma pessoa possui. Caso não se tenha a reação
correta, ela pode levar a uma queda espiritual sem controle, da
qual dificilmente alguém consiga se recuperar. Tudo depende
de sua reação.
Muito embora todos desejem saber a resposta para o
porquê, esta realm.ente não é a questão mais significativa. A ver-
dadeira pergunta que cada um deve fazer é: "Como devo rea-
gir?" Ao desperdiçar tempo demais procurando responder o
porquê, corre-se o risco de se perder o que Deus deseja ensinar.
Ironicamente, concentrar-se no porquê quase selllpre nos im-
pede de até rnesrno descobrir o porquê. Caso seja da vontade
soberana de Deus revelar a resposta para esta pergunta ao longo
desta vida, isto acontecerá na medida em que se reaja da ma-
neira apropriada.
Urna das maiores lutas de minha vida girou ern torno
de minha decisão de mudar de Bartow, na Flórida, para Atlanta,
na Geórgia. Bartow é uma cidadezinha no centro da Flóri-
da. Nossa casa ficava a distância de UITla caminhada, passando
por três lagos. A vizinhança era segura. Conhecíamos todos os
nossos vizinhos. Bartow parecia ser o ambiente perfeito para
se criar os filhos. Para cornplicar a situação ainda mais, morá-
vamos lá há apenas cerca de um ano, quando urri amigo meu
me convidou a mudar para Atlanta para ser o pastor auxiliar da
Prirneira Igreja Batista. Agradeci seu voto de confiança, rnas
deixei claro não estar riern um pouco interessado.
28 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

Algumas semanas depois, um comitê de pastores apa-


receu para me ouvir pregar. Mais uma vez fui delicado, entre-
tanto lhes disse não estar interessado. Então me pediram que
orasse a respeito. Disse-lhes que iria orar. Que mais poderia
dizer? Assim, certo dia, ao anoitecer, minha mulher Anna e eu
começamos a orar sobre se era ou não da vontade de Deus
que nos mudássemos para Atlanta. A coisa mais estranha então
aconteceu. Quanto mais orávamos, mais ficávamos conven-
cidos de que deveríamos ir. Quando falávamos a respeito do
assunto, aquilo não fazia o menor sentido. Por que Deus iria
querer que eu me tornasse um pastor auxiliar, quando eu já
tinha sido o pastor sênior de três igrejas? Por que Deus haveria
de nos mudar, uma vez que estávamos em Bartow há apenas
treze meses? Por que um Deus bom haveria de desejar que eu
me mudasse com minha família para um lugar como Atlanta?
Dois meses depois nos mudamos. E cerca de dois anos
depois disso entendi o porquê. O que quero dizer é o seguinte:
Muitas vezes as explicações que buscamos de modo tão deses-
perado ficarão claras quando reagirmos de maneira adequada
frente à adversidade.
Certamente os discípulos pararam diante do Calvário
se questionando o porquê de tal coisa ter sido permitida. Do
ponto de vista humano, não fazia sentido algum. Mas em pou-
cos dias todas as peças se encaixaram. Muitas vezes ficamos
como os discípulos diante do Calvário. Observamos nossas es-
peranças e sonhos sendo despedaçados diante de nossos olhos.
Vemos nossos queridos sofrendo. Vemos pessoas da família
morrerem. E tal qual os discípulos nos perguntamos o porquê.
Precisamos lembrar que a morte, o enterro e a ressur-
reição de Cristo servem de contexto para todo nosso sofri-
mento. Deus, através daqueles acontecimentos, pegou a maior
tragédia da história mundial e a usou para realizar o seu maior
ADVERSIDADE: QUEM ESTÁ POR TRÁS DE TUDO? 29

triunfo: a salvação do ser humano. Se o assassinato do Filho


perfeito de Deus tem uma explicação, será que não podemos
confiar que Deus está realizando os seus propósitos através da
adversidade que enfrentamos todos os dias?
A fonte de nossa adversidade não deve ser nossa pri-
meira preocupação. Pense a respeito. Qual foi a fonte da ad-
versidade que Cristo enfrentou? O pecado, Satanás, ou Deus?
Na realidade, todas as três fontes estavam envolvidas. Contudo,
a reação de Cristo permitiu que nosso Pai celestial pegasse essa
tragédia e a usasse para o bem maior. Este é o padrão. Esta é
a meta de Deus para nós em meio a todas as adversidades da
vida.
Já aconteceu de você estar tão preso procurando enten-
°
der porquê da adversidade ter-se introduzido em seu caminho,
que talvez tenha perdido Deus de vista? A adversidade em sua
vida já fortaleceu a sua fé? Ou ela a enfraqueceu? A adversida-
de é uma realidade que nenhum de nós pode evitar. Portanto;
é de seu maior interesse começar a reagir para que o que é ne-
gativo sirva para realizar por completo a vontade de Deus em
sua vida. E, na medida em que você começar a reagir de forma
adequada, talvez comece também a entender o porquê!
Capítulo Dois
o poder da perspectiva

Enquanto escrevo este capítulo, um de meus bons amigos está


observando sua mulher morrer de câncer. Os médicos disseram
não haver mais esperança. Oramos e oramos, contudo parece
não haver sinal da mão de Deus operando a cura.Jim senta-se
ao lado de sua esposa durante o dia todo, todos os dias. Tudo o
que pode fazer para que ela se sinta mais confortável, ele o faz
de todo o coração. E mesmo assim continua impotente para fa-
. -
zer a única coisa que deseja acima de tudo: curar sua mulher.
Já ouviJim orando.Já o vi magoado. Sua fé não se aba-
lou, mas sofreu um forte ataque. Ele vai se recuperar. Porém a
pergunta sempre estará lá: Por que isso aconteceu? Qual foi a
razão? Qual foi o resultado? Por que uma dor tão profunda foi
imposta sobre uma família temente a Deus?
Jim e sua família sem dúvida não foram os primeiros
a fazer tais perguntas tão dolorosas e complexas. E eles sabem
muito bem disso. Conhecendo antecipadamente as perguntas
32 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

levantadas por circunstâncias semelhantes a esta., Deus nos deu,


no Evangelho de João, uma narrativa que nos ajuda a obter a
perspectiva necessária para nos capacitar a sobreviver a tragé-
dias como as enfrentadas por Jim.
O problema com o estudo de qualquer texto familiar
é que raramente nos permitimos sentir o que os personagens
devem ter sentido. Por que deveríamos? De modo geral, sabe-
mos como a história termina.
Infelizmente, esta familiaridade com as Escrituras mui-
tas vezes nos impede de usufruir os resultados pretendidos. É
dificil sentir o medo que Davi deve ter sentido quando en-
frentou Golias, quando já se sabe desde o início que ele acaba
vencendo. Não captamos a sensação de abandono que Moisés
deve ter sentido quando fugiu para o Egito a fim de preservar
sua vida. Afinal de contas, ele termina sendo o herói. Assim, ao
se aproximar desta narrativa familiar em João 11, procure es-
quecer-se do fim da história. Faça o que puder para se colocar
no lugar, sem dúvida humilde, das pessoas envolvidas. Ao ler o
que aconteceu, deixando de considerar o que os personagens
provavelmente sentiram, deixa-se de captar alguns dos aspectos
mais ricos da narrativa.

"Aquele a quem amas está doente"


Havia um homem chamado Lázaro. Ele era de Betânia, do
povoado de Maria e de sua irmã Marta. E aconteceu que
Lázaro ficou doente. Maria, sua irmã, era a mesma que
derramara perfume sobre o Senhor e lhe enxugara os pés
com os cabelos. Então as irmãs de Lázaro mandaram dizer
a Jesus: "Senhor, aquele a quem amas está doente" Goão
11 :1-3).
o PODER DA PERSPECTIVA 33

A residência de Maria e de Marta é o lugar. onde Jesus


e os seus discípulos eram recebidos com hospitalidade sempre
que se encontravam na região daJudéia.Aparentemente, Lázaro
era urn homem de posses, e usava seus bens para apoiar o mi-
nistério de Cristo. O fato de Maria e de Marta terem enviado
alguém para chamar Jesus, tão logo Lázaro adoeceu, comprova
sua fé no poder dele. Sem dúvida pensaram: SeJesus está disposto
a curar pessoas totalmente estranhas, com certeza virá correndo diante
da oportunidade de curar alguém que tem sido seu amigo. Porém, não
foi isso que aconteceu:

Ao ouvir isso, Jesus disse: "Essa doença nao acabará ern


rnorte; é para a glória de Deus, para que o Filho de Deus seja
glorificado por meio dela". Jesus amava Marta, a irrnã dela
e Lázaro. No entanto, quando ouviu falar que Lázaro estava
doente, ficou rnais dois dias onde estava (Ioão 11 :4-6).

Esses versículos não fazem o menor sentido, do ponto


de vista hurnano. E é por isso que gosto tanto dessa história.
Porque a maioria das adversidades também não faz nenhum
sentido vistas de nossa própria perspectiva. Declara-se de modo
claro que Jesus ama aquela fam.ília; e a seguir que ele não rnove
um dedo para aliviar o sofrimento deles. Eu me identifico corn
isso. Sempre que o chão parece ter sumido de debaixo de meus
pés, corro depressa para os versículos da Bíblia que me fazern
lembrar do amor de Deus; mas, mesmo assim, algumas vezes
parece que Deus não está disposto a entrar em ação.
Precisamos fazer trma pausa aqui, porque neste ponto
da narrativa é onde travamos nossas maiores lutas. Refiro-me
àquele intervalo de tempo entre o instante em que pedimos
ajuda a Deus e o momento em que ele entra em ação. É rrurito
fácil ler: ','Oesus) ficou rnais dois dias". Entretanto, a demora
34 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

foi como uma eternidade para Marta e Maria. A Escritura in-


forma-nos de que elas conheciam a região como um todo e
quanto tempo levaria para que ele completasse a viagem até
Betânia. Por isso, esperaram. E à medida que as horas corriam,
elas viam seu irmão ficando cada vez mais fraco.
Finalmente chegou o dia em que, considerando o tem-
po normal de viagem, Jesus deveria estar lá. Sem dúvida elas
se revezaram no cuidado de Lázaro. Desse modo, uma delas
poderia ir até a estrada para procurar por Jesus. Posso imaginar
Maria ou Marta perguntando a todos os homens e mulheres,
procedentes da região da Peréia, se tinham visto um grupo de .
mais ou menos doze homens vindos daquela direção. Cada
vez que acenavam negativamente, as esperanças das irmãs se
reduziam ainda mais. - Por que ele não veio? Talvez nunca
tenha recebido a mensagem. Quem sabe saiu da Peréia sem nos
avisar? Onde ele está? Depois de tudo o que fizemos por ele é
o mínimo que poderia fazer por nós! - Mesmo assim, ele não
apareceu quando elas mais esperavam.
Lázaro morreu. Talvez Maria tenha ido bem cedo, logo
pela manhã, para verificar como ele estava e já o tenha en-
contrado morto. Quem sabe foi à tarde, quando tanto Maria
quanto Marta estavam a seu lado e ele deu seu último suspiro.
Qualquer que fosse a situação, as duas mulheres tiveram aque-
la sensação de vazio, de impotência que sempre acompanha a
morte. Terminara. Ele se fora. Logo seus pensamentos se volta-
riam para Jesus: Por que ele não veio? Como ele poderia saber pelo
que estávamos passando e ainda assim ficar longe?
Estas, sem dúvida, são algumas das perguntas que você
já fez enquanto clamava a Deus em meio a uma adversidade
em sua vida. Como pode um Deus de amor se afastar e ficar
observando meu amigo e sua mulher sofrendo sem fazer nada a
respeito? Como pode ficar assistindo da sacada dos céus enquan-
o PODER DA PERSPECTIVA 35

to mulheres são agredidas fisica ou sexualmente? Corno pode


ficar simplesmente olhando maridos abandonarem sua mulher e
filhos? Será que ele sabe o que acontece aqui embaixo?
Mais uma vez esta narrativa nos é útil.Jesus sabia exa-
tamente o que estava acontecendo. Sabia o que Maria e Marta
estavam passando. Sabia que a condição de seu amigo estava
piorando. E sabia o instante em que Lázaro morreu:

Depois de dizer isso, prosseguiu dizendo-lhes: "Nosso amigo


Lázaro adormeceu, mas vou até lá para acordá-lo" (Ioão
11:11).

Mesmo assim nada fez! Lembre-se de que Lázaro não


era um qualquer. Ele convidara Jesus para se hospedar em sua
casa. Lázaro demonstrara fé em Cristo e 'em seu ministério. Era
um bom homem. Sern dúvida possuía mais fé do que a maioria
das pessoas que Jesus curara. Alguns nem mesmo sabiam quem
Cristo era (veja João 9). Mas Jesus não pôde ser encontrado
quando Lázaro mais precisava. Como que para ofender, além
de prejudicar,Jesus teve a audácia de dizer a seus discípulos:

Lázaro morreu, e para o bem de vocês estou contente por não


ter estado lá" (loão 11:14-15, ênfase minha).

Jesus estava "contente"? Como pôde dizer algo assim?


Duas de suas melhores amigas ficam transtornadas emocional-
mente; outro amigo morre de urna doença, e Jesus diz que está
contente? O que ele poderia estar pensando? O que passava
em sua cabeça?
Amigo, a resposta a essa pergunta é a chave que reve-
la o mistério da tragédia nesta vida. Cornpreender o que se
passava na mente de Cristo, e na economia divina ern uma
36 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

situação como aquela, significa descobrir o princípio universal


que reúne e sustenta unido tudo na vida; tanto agora quanto na
eternidade. Cristo tinha um objetivo em tudo isso, um objetivo
tão importante que valia a pena a agonia emocíonal que Maria e
Marta teriam que suportar.Valia arriscar a destruição de sua fé.
Valia até mesmo a morte de seu fiel amigo. O que Jesus,junto
com seu Pai celestial, tinha em mente era tão incrível, que até
.fnesmo em meio à dor que envolveu todo o evento ele pôde
dizer: "Estou contente que isso tenha ocorrido", em outras
palavras, "Pessoal, o que vocês estão prestes a ver é algo tão fan-
tástico, que vale a pena o sofrimento e a morte de meu querido
amigo". Se eles eram como nós, provavelmente pensaram: O
que poderia valer tudo isso?

"Se estivesses aqui"


Betânia distava cerca de três quilômetros de Jerusalém,
e muitos judeus tinham ido visitar Marta e Maria para
confortá-las pela perda do irmão. Quando Marta ouviu que
Jesus estava chegando, foi encontrá-lo, mas Maria ficou em
casa. Disse Marta a Jesus: "Senhor, se estivesses aqui meu
irmão não teria morrido." (...) E depois de dizer isso, foi para
casa e, chamando à parte Maria, disse-lhe: "O Mestre está
aqui e está chamando você".Ao ouvir isso, Maria levantou-
se depressa e foi ao encontro dele. (...) Chegando ao lugar
onde Jesus estava e vendo-o, Maria prostrou-se aos seus
pés e disse: "Senhor, se estivesses aqui meu irmão não teria
morrido" (joâo 11:18-21,28-29,32).

Maria e Marta, apesar de todo o tempo que passaram


junto ao Filho de Deus, eram humanas em todos os senti-
dos. Queriam saber de uma coisa: "jesus, onde foi que você
se meteu?" Não tinham a menor dúvida de que Jesus poderia
o PODER DA PERSPECTIVA 37

ter curado seu irm.ão; Marta indica até rnesrno crer que ainda
havia esperança (vejaJoão 11:22). Mas o fato de ele ter aparen-
temente ignorado sua súplica deixou-as confusas e frustradas.
Por que ele se atrasou?

Ao ver chorando Maria e osjudeus que a acompanhavarn,)esus


agitou-se no espírito e perturbou-se. "Onde o colocaram?",
perguntou ele. "Vem e vê, Senhor", resporideram eles. Jesus
chorou. Então os judeus disseram: "Vejam como ele o
amava!" Ooão 11:33-36).

Naquele momento crítico, todas as dúvidas sobre o


amor e o afeto de Jesus por Lázaro se dissiparam. "Jesus cho-
rou". No entanto, sua dem.onstração pública de afeto por seu
amigo Lázaro acrescentava um. novo mistério à história. Se Je-
sus se preocupava tanto, por que' não veio ao auxílio de Lázaro?
Por que o deixou morrer?
Llrna vez rnais estamos diante do que parece ser um.
mistério sem solução. Fica claro, não importa o que Cristo
tivesse ern rriente ou estivesse tentando realizar, que valia o
sacrificio errrociorial daqueles a qucrn amava, assim corno os de
seus próprios sentirnentos. Jesus chorou quando chegou para
encontrar Lázaro morto. Pense a respeito. Seu conhecimento
acerca do futuro não o itnpediu de se identificar com a tristeza
aguda daqueles à sua volta.

Fazendo as perguntas certas


Se há algo claro a respeito dessa história é que algumas
coisas são tão importantes para Deus, que fazem valer a pena inter-
romper a felicidade e a saúde de seus filhos para que sejam realiza-
das. Essa é uma idéia impressionante. Para algumas pessoas, isto
pode parecer um indício contra o caráter de Deus. Entretanto,
38 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

esse princípio ficará mais claro nas páginas e capítulos seguin-


tes. Apesar de algumas pessoas conseguirem encaixar essa idéia
em sua teologia e outras não, permanece o fato de que o Filho
de Deus permite, àqueles a quem ama, sofrerem e morrerem a
bem de um propósito superior.
Alguns podem pensar que uma declaração dessas impli-
caria sermos apenas fantoches sendo movidos ou mesmo abu-
sados continuamente segundo os caprichos divinos. Lembre-se,
porém, de que "Jesus chorou". Ele estava comovido diante da
tristeza de Maria e de Marta. Estava tocado pelo amor que elas
tinham por seu irmão. E estava isolado emocionalmente da dor
sofrida por aqueles cuja perspectiva era diferente da sua.
Quando você sofre, Deus sofre. Independente de que
processo ele esteja desenvolvendo no momento, não importa
o quanto seus propósitos sejam nobres, ele está em contato
com nossos sentimentos. Não é como o treinador técnico que
zomba de seus atletas quando eles reclamam de dor. Não é
como o treinador de boxe que fica sussurrando ao ouvido de
seu lutador: "Sem dor, sem dor". Nem é como os pais que riem
e dizem aos seus filhos quando perdem o seu primeiro amor:
"Não se preocupe.Você superará isso".
Em meio a toda dor e à adversidade que Deus talvez
permita que enfrentemos, duas coisas são sempre verdadeiras.
Primeiro, ele é sensível ao que sentimos:

Pois não temos urn SUlllO sacerdote que não possa COlllpa-
decer-se das nossas fraquezas (Hebreus 4:15).

Jesus chorou por Lázaro. E também chora por nossas


tristezas de igual modo.
Segundo, não importa que processo ele esteja desen-
volvendo em meio ao nosso sofrimento, sempre será em nos-
so melhor interesse. O grau em que esse processo realmente
o PODER DA PERSPECTIVA 39

surtirá efeito etn nosso beneficio será determinado por nossa


reação. À rrredida que confiarmos erri Deus em meio a nossa
adversidade, depois que tudo tiver terminado, iremos crer sin-
ceramente que tudo valeu a pena.
- Corno? - você poderá perguntar. - Corno o que
estou passando em casa poderia resultar no meu melhor inte-
resse? Corno poderia Deus de algurn rnoclo usar a m.orte de
minha rnulher (ou filho)? Com.o poderia o abandono e a dor
que estou sentindo agora valer a pena?
Quando eu ainda era rnerrino, costumava fazer algumas
dessas rnesrnas perguntas. Meu pai morreu quando eu tinha
sete rneses de idade, portanto cresci sem. pai. Lernbro-xne de
ficar olhando m.eus amigos corn seus pais e rne perguntar por-
que eu tarnbêrn não podia ter um. Não fazia sentido. Minha
mãe tinha que trabalhar muito, por muitas horas seguidas ern
trrna tecelagem. Quando eu acordava para ir à escola, ela já
estava no trabalho. Tive que aprender a fazer rrreu próprio café
da rnanhã e a me armrrnar sozinho para a escola aos seis anos
de idade.
Pela graça de Deus, minha reação a tudo isso foi dife-
rente da de rnuitos jovens que perderam seus pais. Em vez de
me rebelar contra Deus por ter levado meu pai, decidi desde
muito cedo que faria dele o rneu Pai. A morte de meu pai não
fez COll1. que rne desviasse de Deus; ao contrário, fez com que
me' voltasse para ele. Aprendi cedo na vida sobre a suficiência
de Cristo no dia-a-dia. Aprendi a orar. Aprendi a andar pela
fé.A morte prematura de rrietr pai foi, na verdade, o que Deus
usou corno catalisador para rrie ensinar as lições rnais irnpor-
tantes da vida - as lições que rrie permitiralll sobreviver diante
de uma imensa rejeição quando adulto, tanto no nível profis-
sional quanto no pessoal. Entretanto, aos sete ou oito anos, não
conseguia discernir os planos de Deus. Naquele tempo não fa-
40 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

zia O menor sentido. Não havia nada para compensar a solidão


que eu sentia. O fato .é que foram necessários mais de quarenta
anos para que fizesse sentido a adversidade que enfrentei quan-
do criança. E as lições prosseguem.
Há pouco tempo, meu filho Andy me disse:
- Sabe, pai, provavelmente Becky e eu é que colhe-
mos os verdadeiros beneficios pelo fato de você não ter tido
um pai durante a sua infância.
- ' O que você quer dizer? - perguntei.
- Bem - ele respondeu - quando chegou a hora
de criar os seus próprios filhos, você não tinha um padrão em
que se espelhar. Teve que depender por completo do Senhor
para tudo.
Depois que pensei a respeito, cheguei à conclusão de
que ele estava certo. Quando percebi o quanto eles são com-
prometidos com o Senhor, e quando vi o quanto são diferentes
dos filhos de muitos pregadores, consegui até rnesrrio agradecer
ao Senhor por não ter me dado um pai. Se isso foi necessário a
fim de me preparar para criar meus próprios filhos, então tudo
valeu a pena!

Uma doença que não resulta em morte


o que, portanto,]esus tinha em mente quando atrasou
o seu retorno a Betânia, e deste modo permitiu que Lázaro
morresse? O que havia de tão importante, para que estivesse
disposto a permitir que suas arrrigas mais próximas passassem
pela agonia de ver seu irmão morrer? A resposta a esta pergun-
ta nos permite aprender bastante sobre o caráter e a economia
de Deus. O próprio Jesus nos fornece a resposta quando pri-
rncirarnerite foi informado sobre a enfermidade de Lázaro, e
depois quando ficou diante do seu túmulo.
o PODER DA PERSPECTIVA 41

Então as irmãs de Lázaro mandaram dizer a Jesus: "Se-


nhor, aquele a quem amas está doente". Ao ouvir isso, Jesus
disse: "Essa doença não acabará em morte; é para a g16ria de Deus,
para que o Filho de Deus seja glorificado por meio dela".Jesus amava
Marta, a irmã dela e Lázaro" (joão 11:3-5, ênfase minha).

Então tiraram a pedra. Jesus olhou para cima e disse: "Pai,


eu te agradeço porque me ouviste. Eu sei que selllpre rne
ouves, rnas disse isso por causa do povo que está aqui, para
que creia que tu me enviaste" (joão 11:41-42, ênfase minha).

Desde o princípio, Jesus tinha dois propósitos específi-


cos em mente. Seu propósito não era o de levar Lázaro à morte.
Nem era o de gerar em. Maria e sua irmã angústia m.ental e
emocional. Ao contrário, seus objetivos, em tudo o que ocor-
reu, eram os de glorificar a Deus e °
de levar outros a crerem
nele. A oportunidade de realizar essas duas coisas fez valer a
pena a dor e o sofrimento que Maria, "Marta e Lázaro tiveram
que experimentar. Para Cristo, pela oportunidade de demons-
trar publicamente o poder de Deus, valia a pena correr o risco
de ser rejeitado por alguns de seus amigos rnais próximos.Valia
a pena até mesmo a morte de alguém a quem ele amava.

É para a glória de Deus


Glorificar algo é dispor as coisas de tal modo que se
concentre a atenção neste algo, trazendo-lhe honra. Glorifica-
mos um quadro quando o penduramos em um lugar central
do ambiente. Podemos glorificá-lo ainda mais, dando-lhe uma
iluminação direta. Glorificamos um cantor quando o coloca-
mos em um palco e concentramos nossa atenção em sua atu-
ação. Quando nos levantamos e aplaudimos no final, estamos,
mais uma vez, glorificando o artista.
42 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

Jesus disse que o propósito daquela aparente tragédia


era a sua glorificação e a de seu Pai. Lázaro morreu para que,
por um breve espaço de tempo, a atenção pudesse estar con-
centrada em Deus e em seu Filho.Jesus estava tão determinado
em ver seu Pai ser glorificado, que ficou "contente" por Lázaro
morrer, se isso era necessário. Isso não contrariava o caráter de
nosso Salvador. Ele passou toda a sua vida tentando concentrar
a atenção dos homens em seu Pai. Fez tudo com esse propósito
em mente. Ao fim de seu ministério terreno resumiu o traba-
lho de sua vida ao dizer:

Eu te glorifiquei na terra, completando a obra que me deste


para fazer (Toão 17:4).

Tanto quanto Jesus temia a cruz, sabia que sua própria


morte era parte do plano de seu Pai .para atrair a atenção sobre
si mesmo. Contudo, saber o que seria realizado através de sua
morte e ressurreição de forma alguma apagava a dor da cruz.
N em minimizava sua angústia emocional ter que assistir a seus
seguidores o abandonarem no momento em que mais neces-
sitava deles. Quando pronunciou as palavras "Não seja feita a
minha vontade, mas a tua", em essência estava dizendo: "Tudo
° que for necessário, independente do sacrificio envolvido, que
seja feito!" E então ele foi para a cruz, determinado a glorificar
seu Pai, mesmo à custa de sua própria vida.

Muitos creram nele


A segunda razão por trás da demora de Jesus era para
que muitos depositassem sua confiança nele como sendo o
Messias. Mais importante que manter todos com saúde era
conduzi-los à fé. Por isso Cristo esperou de propósito até que
o PODER DA PERSPECTIVA 43

fosse tarde demais: para que pudesse realizar um milagre de


tal magnitude, que muitos viriam a crer nele. E foi exatamen-
te isso o que aconteceu (veja João 11 :45). Assim como ele
perrnitiu àqueles a quelll arriava que sofressern pelo bem dos
que não criam, ele irá perrnitir que venhamos a sofrer hoje.
Nada atrai tanto a atenção de um incrédulo quanto um santo
que está sofrendo de verdade. E" fácil falar de Cristo quando
tudo vai bem. No entanto, nossas palavras carregam muito
mais significado quando são ditas a partir de uma vida cheia
de sofrimento.
Posso ouvir os céticos dizendo: "Você quer dizer que
Deus permitiria que seus filhos sofressem pelo bem dos que
não crêem?" E" exatamente o que estou dizendo. Mas não se
esqueça, foi seu Filho quem preparou este canrinho. Se o Deus
Todo-poderoso julgou conveniente permitir que o seu pró-
prio Filho sofresse injustamente para que fôssemos salvos, por
que haveríamos de pensar que não é certo sofrermos dessa
forma para que outros possam vir a crer?
O falecido Dr. Barnhouse passou por urna experiên-
cia durante o seu ministério que ilustra esse ponto de modo
perfeito. Ele estava realizando uma sernana especial de cultos
em certa igreja. O pastor da igreja e sua mulher estavam para
ter seu prirneiro filho. Ao longo da semana, o Dr. Barnhouse
brincou com o pastor sobre a ansiedade de futuro pai.
N a última noite de cultos, o pastor não apareceu.
O Dr. Barnhouse entendeu que ele estava corn sua rnulher no
hospital e, portanto, prosseguiu com o culto. Quase no fim do
encontro, reparou que o pastor entrou em silêncio e sentou-
se no último banco do santuário. Terminado o culto, o pastor
então se encaminhou à frente, e depois de despedir a todos
perguntou ao Dr. Barnhouse se poderiam conversar ern seu
gabinete.
44 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

- Claro que sim - respondeu, e se dirigiram para os


fundos.
Ao fechar a porta atrás deles, o pastor voltou se e des-
pejou tudo de uma vez:
- Dr. Barnhouse, nosso filho tem Síndrome de Down.
Ainda não contei para a minha mulher, Não sei COITlO lhe dizer.
- Amigo, isto é do Senhor - respondeu o Dr. Barn-
house. E em seguida abriu na seguinte passagem do Antigo
Testamento:

Disse-lhe o SENHOR [a Moisés]: "Quem deu boca ao


homem? Quem o fez surdo ou mudo? Quem lhe concede
A

vista ou o torna cego? Não sou eu, o SENHOR?" (Exodo


4:11).

- Deixe-me ver isto - pediu o pastor. Então leu no-


vamente.
Enquanto o pastor analisava o texto, o Dr. Barnhouse
lhe disse:
- Meu amigo, você conhece a prOll1essa em Romanos
8. Todas as coisas contribuem juntamente para o bem, inclusive
esta criança especial, dos que amam a Deus.
a pastor fechou a Bíblia. Calmamente deixou o es-
critório e foi direto para o quarto do hospital onde estava sua
mulher.
-.- Eles não me deixam ver o bebê - contou-lhe ela.
Tem alguma coisa errada? Pedi para ver o rneu bebê e eles não
querem deixar.
a jovem pastor segurou as mãos de sua mulher:
- Quem fez o surdo ou mudo? Quelll lhe concede
vista ou o torna cego? Não sou eu, o Senhor? Amor, o Senhor
nos abençoou com um filho com sindrorne de Down.
Ela chorou por urn longo tempo. Depois, à medida que
foi se acalmando, perguntou:
o PODER DA PERSPECTIVA 45

- De onde você tirou isso?


- Da própria Palavra de Deus, ele respondeu.
- D'eixo-rne ver. - E então ela também leu.
Enquanto isso, notícias sobre o nascirnerito percor-riam
o hospital. A notícia interessava especialmente à telefonista da
instituição. Ela não era cristã. Na verdade, era Ullla mulher cruel,
que se divertia vendo cristãos suournbirrdo ernociorialrnente e
ficando aos frangalhos. Estava convencida de que, quando sob
pressão, não havia diferenças significativas entre os cristãos e
todos os dernais. Assirn, quando a rnulher do pastor telefonou
para sua mãe a firn de lhe dar as notícias, a telefonista ficou
escutando a conversa, esperando que a joveIll rnãe se partisse
ern pedaços.
- Mãe, o Senhor nos abençoou com Ulll filho com
Síndrome de Down.Ainda não sabemos qual é a natureza des-
ta bênção, rnas saberrros com certeza ser uma bênção. - Não
houve Iâgrirnas, rrern histeria, nem colapso.
A telefonista estava em estado de choque. Mas, depois
de absorver o que acabara de ouvir, passou a contar a todos.
Logo o hospital inteiro estava corneritando a história sobre a
reação do pastor e de sua rmrlher. No domingo seguinte, o
pastor retornou ao púlpito. Na congregação, sem que soubesse,
encontrava-se a telefonista corri setenta enfermeiras e outros
funcionários do hospital. Ao final do culto, o pastor fez urn
apelo.
- Se você nunca teve urn encontro corn jesus Cristo,
quero convidá-lo a vir até aqui a fazê-lo.
Naquela manhã, trinta enfermeiras daquele hospital
v ierarn à frente e receberam a Cristo. Tudo por causa de uma
criança- especial e da fé do jovem pastor e sua mulher.
Será que Deus iria permitir que aquele bebê nascesse
deficiente pelo bem de trinta enfermeiras? Com toda a certeza.
46 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

Exatamente como perrrutru que um homem nascesse cego


para que seu Filho o curasse. Exatamente como veio a permitir
que alguém a quem amava morresse a fim de que pudesse ser
ressuscitado. E do mesmo modo porque permitiu que seu pró-
prio Filho fosse assassinado para que muitos recebessem a vida
eterna. Deus permite o sofrimento de maneira a que outros
possam vir a crer em seu filho.

o papel da dor
Existe um ditado que diz: Não se conquista nada sem
sofrimento. Essa frase se aplica tanto ao universo dos esportes
quanto ao espiritual. O padrão que observamos no ministério
terreno de Cristo e em sua peregrinação pessoal confirma essa
idéia. O sofrimento é o meio pelo qual Deus traz glória a si
mesmo e a seu Filho. Embora geralmente seja a última coisa
a ser considerada como tal, o sofrimento é a ferramenta mais
útil de Deus. Nada se compara quando se trata de glorificar a
Deus, porque nada mais põe em destaque a nossa dependência,
a nossa fraqueza e a nossa insegurança quanto ao sofrimento.
Entretanto, também é através do sofrimento que Deus
concede honra e glória a seus filhos. Em sua segunda carta aos
Coríntios, Paulo deixa isso muito claro ao escrever:

Pois os nossos sofrimentos leves e momentâneos estão


produzindo para nós uma glória eterna que pesa mais do
que todos eles. Assim, fIXamos os olhos, não naquilo que
A· A " • , • ........... ,
se ve, pOIS o que se ve e transito rIO, mas o que nao se ve e
eterno (2 Coríntios 4:17-18).

A adversidade nesta vida, quando se lida com ela de


modo apropriado, produz para o cristão glória e honra"na vida
o PODER DA PERSPECTIVA 47

por vir. Nessa passagem, Paulo fala de glória como se fosse algo
. ,
tangível, que se pode aumentar progressivamente. E como se
cada cristão tivesse uma conta eterna, onde a glória está sendo
aplicada em proporção ao sofrimento pessoal neste mundo.
Ele encerra essa parte do texto nos dando a motiva-
ção de que necessitamos para adotar essa perspectiva. Dito de
modo simples, nossos sofrimentos são temporários. Mas as re-
compensas, que acumulamos enquanto estamos nestes corpos
temporários, são eternas. Que investimento magnífico! Que
sistema maravilhoso! Deus permitiu-nos participar de um sis-
tema onde o que é temporal pode ser usado para se adquirir o
,
que e eterno.
Esta verdade tem importância especial à medida que
nos concentramos no final da história de Lázaro. Muitas pes-
soas podem se sentir tentadas a dizer: "Bem, sempre termi-
na tudo bem para as pessoas na Bíblia, mas meu marido não
foi ressuscitado dentre os mortos". Ou: "Minha mulher nunca
voltou para mim". Ou ainda: "Não vi Deus ser glorificado de
forma alguma a partir da minha situação".Ao que Deus acres-
centaria urna palavra essencial: "Ainda!" Lembre-se de que um
dia Lázaro morreu de vez e não ressuscitou mais. O milagre
realizado por Cristo foi, nesse sentido, somente temporal. A
glória vinculada ao fato de Lázaro ter retornado à vida teve
vida curta. Todas as vezes que Deus nos livra de uma adver-
sidade, como costuma fazer muitas vezes, a glória vinculada a
esse livramento é até certo ponto temporária. No entanto, ele
estabeleceu um meio pelo qual nosso sofrimento pode resultar
em glória eterna, uma glória que não exalta somente a ele mas
também àqueles que sofrem.
48 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

"Tirem a pedra"
"Tirem a pedra", disse ele. Disse Marta, irmã do morto:
"Senhor, ele já cheira mal, pois já faz quatro dias". Disse-
lhe Jesus: "Não lhe falei que, se você cresse, veria a glória de
Deus?" (João 11 :39-40).

Caso tivessem se recusado a remover a pedra, teriam


sofrido por nada. Nenhum bem teria resultado de tudo aquilo.
Maria e sua irmã teriam deixado de ver a glória de Deus. En-
contro pessoas todos os dias que estão lidando com tragédias
pessoais dos piores tipos.Algumas vezes devido a seus próprios
erros. Outras vezes elas são as vítimas. Muitas vezes, pior do
que as próprias tragédias são as suas reações. Por não conse-
guirem ver nenhum bem imediato, concluem que não existe
bem a ser encontrado, que Deus as abandonou, ou talvez nunca
tenha se interessado realmente por elas. Recusam-se a remover
a pedra. Recusam-se a confiar em Deus quanto a algo que não
conseguem ver.
Se Deus pode obter glória para si mesmo através do
assassinato injustificado de seu Filho, será que não podemos
confiar que ele de algum modo irá obter glória para si nas
situações, ou por meio das situações, com as quais lutamos dia-
riamente? Se Deus pôde encontrar glória para si mesmo na
morte do amigo íntimo de seu Filho, não deveríamos confiar
que fará o mesmo em meio inclusive das maiores tragédias de
nossa vida? Deus se especializou em pegar as tragédias e fazer
com que se transformem em triunfos. Quanto maior a tragé-
dia, maior o potencial para o triunfo.
Sempre haverá coisas que não poderemos explicar. No
tempo certo algumas respostas ficarão claras, enquanto outras
permanecerão um mistério. Uma coisa sabemos ao certo: Deus
o PODER DA PERSPECTIVA 49

está no ramo de atividade de glorificar a si mesmo. Ele deseja


a atenção de todo o mundo, e seguidamente a adversidade é
o meio de consegui-la. Corno cristãos, somos seus represen-
tantes. Somos urna extensão do m.inistério de Cristo na terra.
Sornos, portanto, os instrumentos através dos quais Deus atrai-
rá a atenção de todo o mundo. Ele trabalha através de nossas
conversas, de nosso caráter, de nossa pregação e de nossa ad-
versidade. Seu sucesso elll todas essas áreas depende em parte
de nossas reações.

Se você crer, verá a glória de Deus


Marta creu em Cristo e retirou a pedra. Creio que Jim
tarnbérn confiará que Deus irá obter glória para si mesmo em.
rneio à tragédia da doença terminal de sua mulher. E você?
Existem pedras em sua vida que estão bloqueando o talento do
Senhor em obter, para si mesmo, a glória que lhe é devida por
direito e por justiça? Será que você não irnpediu sua fé de fluir,
exatamente no ponto em que as coisas deixaram de fazer sen-
tido? Ou não vinculou sua fé somente ao que pode ser visto?
Não se recusou a olhar alêrn da sua perda? Não permitiu que
sua dor o consumisse de tal modo, a ponto de se esquecer de
que pode haver algo que Deus ainda deseja realizar?
Você só tem duas opções. Pode confiar que Deus irá
glorificar a si mesmo através de sua adversidade. Ou pode se
concentrar em sua perda e gastar seu tempo procurando pelas
respostas. Caso faça isso, poderá fazer com que o meio pelo
qual Deus planejou realizar algo grandioso tenha um fim. trá-
. .
gico elll SI mesmo.
Um antigo santo, ao contemplar sua vida, resumiu a
questão principal deste capítulo de modo perfeito:
50 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

E posso retornar em uma debilitada armadura


Cheia de remendos, retorcida e envelhecida.
E posso enfrentar o calor da batalha,
Para libertar os condenados e libertar os escravos.
E posso conhecer tanto a dor quanto a rejeição,
A traição de meus amigos.
Mas a glória que me espera,
Fará valer a pena no final - no final.

Amigo, independente da adversidade que você enfren-


ta, se confiar em Deus, você também irá dizer um dia: "Tudo
isso valeu a pena!"
Capítulo Três
Quando Deus está em silêncio

Um dos aspectos que mais nos frustra com respeito ao Cris-


tianismo é o fato de nosso Deus ficar tantas vezes em silêncio.
Quando acabo de derramar meu coração ao Senhor, gostaria
de receber alguma resposta, ainda que breve. Qualquer coi-
sa serviria, porém ele permanece em silêncio. Estou certo de
que você já sentiu a mesma frustração. O mais estranho é que
fico atento ao silêncio de Deus com maior intensidade quando
mais preciso dele. Houve inúmeras vezes, depois de ter lamen-
tado em função de uma crise em minha vida ou na de alguém
a quem amo, que apenas uma simples palavra do Senhor teria
me consolado. Contudo, ele ficou em silêncio.
Lembro-me de situações de aconselhamento em que
fiquei aturdido e sem fala. São tantas as situações que surgem
hoj e em dia e que parecem ultrapassar os limites do que as
Escrituras tratam. Uma palavra que fosse da parte de Deus te-
52 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

ria sido tão oportuna, de tanta ajuda aos envolvidos; e mesmo


assim ele se calou. Existem momentos em que desejo que ele
apenas envie um anjo a fim de responder a algumas de minhas
questões mais básicas. Enfrentei adversidades que pareciam, na
hora, ser urn desperdício: crianças rnor'rendo, homens aban-
donando suas mulheres piedosas, urn amigo íntimo ficando
repentinamente doente. Se ao menos o Senhor tivesse apareci-
do e simplesmente dito:"Ainda estou no controle". Qualquer
coisa teria ajudado, mas ele permaneceu quieto.

Sem comentários
Para piorar as coisas, quando lemos a Bíblia, parece que
Deus estava sempre falando corn os homens de cuj as histórias
suas páginas estão. repletas. Quando Pedro foi lançado na prisão,
um anjo apareceu a ele para lhe contar que tudo ficaria bem.
Quando Abraão foi explorado por Ló, o Senhor deu-lhe urna
palavra de consolo. Paulo estava com algumas dúvidas teológicas
e foi levado até o terceiro céu a fim de ter urna conversa com
Deus. Não nos parece justo. Afinal de contas, rninha fé também
seria forte se, cada vez que eu tivesse urnaadversidade, um anjo
de Deus aparecesse para me dizer o que fazer. No entanto, não
é dessa forma que funciona conosco. Deus fica incrivelmente
silencioso algumas vezes; e não faz nenhum comentário para
nos ajudar.
Para os cristãos, o silêncio de Deus faz com que as
adversidades se torriern ainda mais difíceis de suportar, porque
nossa cosmovisão inclui um Deus amoroso que se apresentou
como Pai. Quando ocorre uma tragédia, ou quando surgem
momentos difíceis em nossos carninhos, nossa cosrnovisâo fica
abalada. As perguntas vêm à tona em nossa consciência. Pas-
samos a duvidar. Então, mais do que nunca, necessitamos de
QUANDO DEUS ESTÁ EM SIL~NCIO 53

uma palavra da parte de Deus. Ainda assim, ele permanece ern


silêncio C(;>tll tanta freqüência.
Quem sabe você não é um dos milhares de solteiros
neste país que procuram pelo cônjuge certo. Tem feito o me-
lhor que pode para ser fiel a suas convicções. Mantém o com-
prornisso de esperar pelo melhor de Deus. Entretanto, nada
acontece. Por isso você começa a se questionar se existe mes-
mo este negócio de "esperar em Deus".
Pode ser que tenha um emprego ou uma carreira pro-
fissional na qual se sente muito infeliz.Você ora, ora e ora, mas
não sente paz quanto a ficar ou sair. Está disposto a fazer a coisa
certa, seja lá o que isso signifique. Mas parece que Deus não diz
absolutamente nada.
Ou talvez esteja lidando com a morte de um ente que-
rido ou qualquer outra tragédia que o tenha tomado de sur-
presa. Está fazendo o melhor que pode para crer que Deus tem
um propósito por trás de tudo, que ele. não o abandonou. Mas
no seu coração você pensa: Tà/vez não exista Deus, ou: Talvez: ele
não se interesse por mim. Lentamente sua fé começa a se corroer.
Se ao menos Deus dissesse algo, qualquer coisa.

Perguntas e mais perguntas.. .


Tudo isso levanta duas perguntas furrdarnentais: Pri-
meiro, qual é o propósito de Deus quando estamos sofrendo e ne-
cessitando tão desesperadamente ouvir algo de sua parte? Segundo,
o que devemos fàzer enquanto isso? As respostas a essas perguntas
são indispensáveis caso desejemos obter sucesso ao lidar com as
adversidades. Enquanto não soubermos a respeiro do paradei-
ro de Deus e qual é a sua resposta para nossa situação, sempre
haverá espaço para dúvidas. Mas somente a certeza de seu en-
volvimento por si só não é suficiente. Necessitamos também
de orientação.
54 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

o propósito deste capítulo é o de responder a essas


duas perguntas. Fazendo isso, oro para que Deus apague de seu
coração o terrível medo de que talvez ele não esteja interessado
em seu sofrimento, de que tenha outras coisas mais importan-
tes com as quais se preocupar.
A fim de responder a essas perguntas, vamos dar uma
olhada na vida de José. Permita-me lembrá-lo novamente a
não permitir que sua rnerite voe para o fim destas narrativas. Se
fizer isso, perderá o que Deus está querendo dizer. Quando a
Bíblia apresenta a vida de algum personagem em particular, o
autor se concentra nos eventos que são relevantes ao tema que
está tratando. Isso dá a impressão, muitas vezes, de que a vida
desses personagens é cheia de eventos sobrenaturais, urn atrás
do outro. Mas este não é de forrna algurna o caso. Havia serna-
nas, meses, e até mesmo anos nos quais nada de especial parecia
acontecer. À rnedrda que estudamos esta história do Antigo
Testamento, procure colocar-se no lugar do personagem. Assirn
corrio nós,José foi forçado a lidar COlll o silêncio de Deus em
meio a uma grave adversidade.

Exatamente quando mais necessitava dele


Os problemas de José começaram quando ainda era Ulll
adolescente. Aos dezessete anos de idade era o filho favorito de
seu pai, e isso não parecia nada born para seus dez irmãos mais ve-
lhos. Eles tinham ciúme, e o ciúme deles se transformou em ódio
(veja Gênesis 37:4). Como se isso não bastasse,José teve uma série
de sonhos significando que um dia toda a sua família se curvaria
e o serviria. Por ser jovem, e talvez indiferente,]osé descreveu os
sonhos a seu pai e a seus irrnãos. O texto parece indicar que, ao
compartilhar os sonhos, seus irmãos chegaram ao limite.
QUANDO DEUS ESTÁ EM SIL@NCIO 55

Algum. tempo depois disso, José foi enviado a Siquém


por seu pai para averiguar seus irmãos e os rebanhos que es-
tavam tom.ando conta. José foi informado por um estranho
que seus irmãos haviam se mudado para Dotã. Deternrinado
a currrprir sua missão, preparou-se para ir ao encontro de seus
ir-mãos erri Dotã, a cerca de quarenta quilôrnetros de distância.
Quando seus irmãos o viram se aproxim.ando, tramaram sua
1110rte. Quando chegou, eles o despojaram e o lançaram ern
um poço. A seguir se prepararam para o jantar.
Neste ponto da narrativa, pode ser que esperemos por
uma intervenção divina. Se não· um Iivrarnerito, certamente
alguma indicação de que tudo acabaria terminando bem. En-
tretanto, nada acontece. Deus estava em silêncio. José sentou-
se no fundo do poço, sozinho, sem a rnerror garantia de que
sobreviveria àquela noite. Sem. dúvida ele procurou lernbrar-se
dos eventos que o conduziram até o seu aprisionamento: sua
obediência a seu pai, sua disposição de seguir rnais uma milha,
e agora isso. Não fazia o rnerior sentido; não era culpa sua que
seu pai o amasse rnais que aos outros. Não era justo. E, rnesrno
assirn, parecia que Deus não se encontrava em parte alguma.

Rumo ao Egito
D e acord o corri sua " " ,uma caravana d e COlller-
sorte
ciantes ismaelitas estava de passagell1.. Para evitar ter o sangue
de um membro da família em suas próprias mãos, os rrrnãos de
José o venderam aos isrnaelitas. Durante muitos dias, talvez por
sernariaa.Tosê viajou como escravo na companhia dos ismaeli-
tas. Noite após noite ele se deitava sob as estrelas e ficava ima-
ginando, sem dúvida, por que tudo aquilo estaria acontecendo.
Conhecia as histórias de seu bisavô.Já ouvira C01l10 Deus fa-
lara a Abraão em diversas ocasiões. Com certeza se perguntava:
56 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

Por que Deus não fila comigo agora? Deus, porém, permanecia
em silêncio.
No Egito, José foi vendido a Potifar, o capitão da guar-
da do Faraó. Seu senhor percebeu que José era especial. Todo
projeto que assumia prosperava. Finalmente Potifar o nomeou
administrador de toda a sua casa. A Bíblia relata que Potifar não
se preocupava com nada a não ser com a sua própria comida.
(Gênesis 39:6).
Ora, isso pode nos levar a pensar: Bem, aconteceu exa-
tamente como em todas as histórias bíblicas: tudo terminou bem para
José. Mas o que nos esquecemos é que José não se apresen-
tou na segunda-feira para ser promovido a administrador na
sexta-feira! Na melhor das hipóteses ele serviu a Potifar por
algo entre cinco a dez anos. E podemos deduzir pelo texto
que a carreira de José como administrador foi reahnente curta.
Quem sabe por quantos anos ele teve que limpar os estábulos
ou distribuiu lavagem aos porcos? Quem sabe em que tipo de
alojamento vivia ou com quem teve de compartilhá-los? E,
apesar de sua posição final na casa de Potifar, continuava sendo
um escravo. Ainda estava muito longe de casa. E, em meio a
tudo isso, Deus manteve-se em silêncio!

Nada dura para sempre


o autor do Gênesis prepara-nos para o capítulo se-
guinte da vida de José ao escrever:

José era atraente e de boa aparência (Gênesis 39:6).

Certamente não era culpa de José ser bonito. Como


também não foi escolha sua ter se tornado o administrador da
casa de Potifar. Entretanto, a combinação desses dois fatores foi
demais para que a mulher de Potifar pudesse agüentar:
QUANDO DEUS ESTÁ EM SIL~NCIO 57

(...) e, depois de certo tempo, a mulher do seu senhor começou


a cobiçá-lo e o convidou: "Venha, deite-se cornigo!" (Gênesis
39:7).

Mais urna vez José fez a coisa certa. A coisa certa, po-
rém, trouxe-lhe problemas. Ele se recusou a se envolver com a
mulher do seu senhor. Ela se zangou e o acusou de tentar vio-
lentá-la. Exatamente quando as coisas começavam a melhorar,
José viu-se na prisão.

Consegue se identificar?
Espero que a esta altura você esteja começando a se
identificar comJosé. Eu corn certeza estou. Não há nada rnais
desconcertante do que se fazer o que é certo e então descobrir
que tudo está dando errado. Ou o que dizer da adversidade
que surge COll1.0 resultado de fatores sobre os quais não se tern
nenhurn controle? A cada vez que lido corn alguém que sofre
por causa de alguma coisa que ocorreu durante a sua infância,
fico pensando: Senhor; não foi escolha desta pessoa nascer naquela fa-
mília. Por que tinha que sofrer? Quando estou ao lado da cama de
pessoas que sofrem de câncer ou de outra enfermidade, pego-
rne fazendo a rriesrna pergunta.
Não escolhemos os pais; contudo,· podernos padecer
por algo que teve sua origern nos probleITlas deles. Podernos
perder o erriprego em função de algo de que não tivem.os culpa
de forrna alguma e, no entanto, ainda sornos nós que sofrernos,
assim COlllO a mulher que interage adequadamente com urn
marido de personalidade difícil, e que acaba abandonada junto
com os filhos. Situações corno essas levantam perguntas difi-
ceis. Elas parecelll justificar, erri nosso pensarnerito, a linha de
raciocínio que diz: Se houvesse um Deus nos céus, ele não ficaria
58 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

ocioso enquanto eu fico aqui sojrendo. Muitas pessoas sofreram da-


,-
nos irreparáveis na fé como resultado da adversidade. E por isso
que esta história é tão importante.

Um passo à frente} dois passos atrás


Não há como saber exatamente quanto tempo José fi-
cou na prisão. Sabemos que ficou lá por mais de dois anos (veja
Gênesis 41: 1). Pode ter sido até oito ou nove anos. Imagine
só passar anos de sua vida ern uma prisão estrangeira, sem a
esperança de nenhum tipo de julgamento. José era um escravo.
Não tinha direitos ou vias de apelação. Não existia ninguém
que pudesse pleitear sua causa junto ao faraó. Não havia famí-
lia que pudesse visitá-lo. Fora enviado à prisão para apodrecer
ali. E por que razão? Lealdade a um Deus que com certeza
não parecia estar demonstrando muita lealdade a ele.José falou
abertamente acerca de sua fé (veja Gênesis 39:9). Fazia o me-
lhor que podia para permanecer fiel. No entanto, não foi aben-
çoado em retribuição. As coisas só pioraram. E Deus guardava
um silêncio agonizante.
Com o passar do tempo, José foi de novo tido como
alguém responsável e confiável. Como resultado, o chefe dos
carcereiros nomeou-o encarregado de toda a prisão. Lembre-
se, entretanto, de que não sabemos por quanto tempo ele foi
tratado como um criminoso comum. Em dois versículos o es-
critor do Gênesis considera José como encarregado da pri-
são em vez de prisioneiro. Mas não é irreal supor que meses,
possivelmente até mesmo anos, tenham se passado antes que
José fosse tido como alguém confiável. E, mesmo então, Deus
permaneceu em silêncio.
De uma forma bastante abrupta, somos apresentados a
dois novos personagens: o padeiro e o copeiro do rei. Aparen-
QUANDO DEUS ESTÁ EM SIL~NCIO 59

terricnte, não existe conexão entre estes dois e José, a não ser
pelo fato de tererri sido lançados na rnesma prisão. E segundo
os desígnios de Deus, aqueles homens teriam um. papel crucial
no curnprimcnto de seu plano.
Não nos é relatado por que os dois foram feitos prisio-
neiros, apenas que o foram.. Por ordem. do "destino", o capitão
da guarda deixou-os aos cuidados de José. O escritor diz-nos
que eles ficaram lá por"certo tempo". Esta é outra indicação
de que os eventos ali relatados tiveram longos hiatos, talvez de
meses ou mesmo anos. Certa noite, depois de já. estarem lá por
algum tempo, cada um dos dois teve um sonho. Quando acor-
daram, traziam UlTIa expressão na face que deixou claro para
José que algurna coisa estava errada. José perguntou:

Por que hoje vocês estão corn o semblante triste? (Gênesis


40:7).

Eles resporideram:

'Tivemos sonhos, rnas não há quern os interprete (Gênesis


40:8).

Uma vez mais, a fé inequívoca de José se expressa:

Não são de Deus as interpretações? (Gênesis 40:8).

Depois de tudo o que passou e sern esperança de ja-


mais ser libertado da prisão, a fé de José permanecia sólida, e
ele estava disposto a expressar esta fé em Deus.
José ouviu atentamente enquanto cada hOlTIelTI descre-
via seu sonho. E em seguida lhes disse o que significavam, O
padeiro seria executado. O copeiro, entretanto, seria restaurado
60 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

a sua posição de honra anterior. A resposta de José ao copeiro


mostra-nos que ele era tão hurnano quanto todos nós:

Quando tudo estiver indo bem corn você) lembre-se de


rnirn e seja bondoso comigo; fale de mim ao faraó e tire-rne
desta prisão) pois fui trazido à força da terra dos hebreus,
e tambêrn aqui nada fiz para ser jogado neste calabouço
(Gênesis 40:14-15).

José podia ter fé em Deus) mas desejava sair daquela


prisão tanto quanto qualquer um de nós desejaria. Porém) mais
urna vez, era corno se Deus tivesse se esquecido de José. Depois
que o copeiro foi restaurado, as Escrituras nos dizem:

o chefe dos copeiros) porém, não se lernbro'u de José; ao


contrário) esqueceu-se dele (Gênesis 40:23).

Você já se sentiu C01l10 se Deus o tivesse esquecido?


Talvez tenha pedido a Deus que transformasse o seu cônjuge)
no entanto não vê mudança algurna. Talvez seja viciado ern al-
gurna espécie de droga, e é COlllO se as suas orações não passas-
sem do teto. Não consigo deixar de acreditar que todo cristão
já se sentiu esquecido ern algurn ponto de sua vida ou outro,
que sentiu como se Deus estivesse ocupado dernais ou tivesse
sua atenção voltada para qualquer outra coisa.

Uma família esquecida


o Dr.WA. Criswell, pastor da Primeira Igrej a Batista de
Dallas, conta tirna história sobre urna fanúlia que foi visitar anos
atrás, na época em que a indústria petrolífera estava ern rápida as-
censão.Aquela farnília ern particular residia ern urna área onde as
QUANDO DEUS ESTÁ EM SIL~NCIO 61

empresas de petróleo estavam comprando direitos sobre o óleo


encontrado nas propriedades por toda parte. EITl toda a região as
farrúlias estavam enriquecendo da noite para o dia, à rriedida que
descobriam petróleo erri seus terrenos. Quando o Dr. Criswell se
dirigiu à propriedade daquela fanúlia, contudo reparou erri algo
peculiar: lá não havia poços de petróleo. Nas terras adjacentes,
havia vários poços sendo bombeados, rnas ncrihurn na proprie-
dade da fanúlia que viera visitar.
Ele foi saudado à porta por trrna senhora de aparência
rmrito abatida, que presumiu acerradarnerrte ser a rnulher da
casa. Seu marido entrou, convidou o Dr. Criswell a se sentar, e
contou sua "triste" história.
- Pastor - disse ele, Deus se esqueceu de nós. O
senhor veja só que, há cerca de urn ano, ertcoritrararn petróleo
nesta região. Os engenheiros vieram e gararrtirarn a todos de
nossa comunidade que, elll razão disso, ficaríamos rnais ricos
do que jalllais Iiaviarrros sonhado. Bern, entendem.os que isso
era obra de Deus. Poucas semanas depois, algumas equipes vie-
rarri e corneçararn a escavar por todas as propriedades da área.
Surgirarn poços por toda a parte. Sabíarnos que era só questão
de tempo até que corneçassern a escavar em nossa propriedade.
Porêrn, isso nunca aconteceu. Dr. Criswell, Deus nos deixou
de lado. Acharalll petróleo nos dois lados de nossa propriedade
e até rnesrno na que fica atrás da nossa; po rérn, riern urna gota
sequer erri nossas terras. Nossos vizinhos estão vendendo suas
casas e se rnudando para a cidade, e nós estamos sendo deixados
aqui sozinhos.
Posso imaginar que José deve ter se sentido rnuito só
sentado naquela masmorra egípcia. Não sabernos ao certo, rnas
provavelmente também se sentiu traído. Pelo que ele pôde saber,
o copeiro, propositahnente, nada disse ao faraó a seu respeito.
Novalllente José sofria por procurar fazer o que era certo. E por
~
62 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

mais dois anos manteve-se como um prisioneiro dó Egito. Dois


anos se questionando por que Deus estava deixando isso lhe
acontecer. Dois anos lutando em seus pensamentos quanto a se
o copeiro o havia esquecido ou simplesmente não se importava.
Dois anos para reviver mentalmente as coisas que aconteceram
com seus irmãos, com Potifar, com a mulher de Potifar, e por
último aquilo. Dois longos anos. E Deus guardava silêncio.

Entretanto
Ao final de dois anos, o faraó teve um sonho. (...) Pela
manhã, perturbado, mandou chamar todos os magos e sábios
do Egito e lhes contou os sonhos, mas ninguém' foi capaz de
interpretá-los (Gênesis 41:1 e 8).

Foi nesse momento que o copeiro finalmente se lem-


brou de José. Tiraram-no do calabouço, barbearam-no, deram-
lhe roupas novas e o trouxeram diante do faraó.

o faraó disse aJosé:"Tive um sonho que ninguém consegue


interpretar. Mas ouvi falar que você, ao ouvir um sonho, é
capaz de interpretá-lo" (Gênesis 41: 15).

Coloque-se no lugar de José por um instante. Como


teria respondido ao faraó? Eu sei o que eu teria respondido:
"Antes de' interpretar qualquer sonho, precisamos chegar a um
pequeno acordo. Em primeiro lugar, chega de prisões! Em se-
gundo, onde está aquele copeiro miserável; quero lhe...".
Mas as palavras pronunciadas por José desafiam toda ex-
plicação humana. Não havia amargura, embora ele tivesse boas
razões para estar amargurado. Não falou com raiva, embora creia
que eu estaria extremamente irado. Não mencionou os erros
QUANDO DEUS ESTÁ EM SIL~NCIO 63

que corrieteram contra ele. Simplesmente olhou para o faraó, o


hornern mais poderoso da terra naqueles dias, e respondeu:

Isso não depende de rnirn, mas Deus dará ao faraó urna


resposta favorável (Gênesis 41: 16).

E Deus de fato deu ao faraó urna resposta. O faraó ficou


tão irnpressioriado corn josé que o tornou o segundo hornern
no comando. Em. um breve instante,]osé saiu da posição de um
escravo estrangeiro sern esperanças para ser o segundo homem
no cornando da nação m.ais poderosa da terra. Depois de treze
anos miseráveis, alguma coisa boa finalmente aconteceu.

Em silêncio, f!las não parado


O que ocorreu, entretanto, foi muito mais fantástico
do que qualquer coisa que José pudesse ter jamais esperado.
Ele não sabia que Deus estava preparando o cenário para tirna
ação decisiva, dentro de seu plano de trazer a salvação ao Ulun-
do. Porque Deus havia decidido edificar o seu povo escolhido,
através de queIll o Messias haveria de vir mais tarde, COUlO
escravos de urna nação pagã. Depois, ao libertá-los de forrna
miraculosa de um poderio rnundialmente conhecido, iria de-
monstrar a todas as nações ser o único verdadeiro Deus vivo.
Em paralelo a isso, o seu povo teria UITla herança de fé, e UIll
retrato antecipado do que o Messias haveria de fazer a todas as
nações quando chegasse a hora.
O problema (falando do ponto de vista humano) seria
como retirar o seu povo da terra de uma nação estrangeira. Em
segundo lugar, eles teriam. que ser recebidos lá de início e, taIll-
bém, possuir liberdade suficiente para viverem juntos e se mul-
tiplicarern, Assim, Deus escolheu realizar tudo isso através de
A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

um único homem:josé. Depois de ter sido designado segundo


no comando, não havia praticamente nada que não pudesse fa-
zer, inclusive convidar toda a sua família para se estabelecer no
Egito durante o período da fome, que simplesmente aconteceu
"por acaso" alguns anos mais tarde. Enquanto estivesse vivo,
poderia garantir a segurança e a liberdade deles.josé era a peça
principal em um dos mais estratégicos episódios na história da
salvação, e ele nunca ficou sabendo disso!
Se uma coisa fica clara da história de josé, é isto: o
silêncio de Deus não serve, de modo algum, como indicativo
de sua falta de atividade ou de seu não envolvimento em nossa
vida. Ele pode estar em silêncio, mas não está parado. Presumimos
que, uma vez qqe não estamos escutando nada, ele não deva
estar fazendo nada. julgamos o interesse e o envolvimento de
Deus pelo que vemos e ouvimos.
Na mesma linha, somos culpados por julgar o envolvi-
mento de Deus em nossa vida pelo quanto favoráveis ou desfa-
voráveis forem as nossas circunstâncias. Enquanto as coisas estão
indo maravilhosamente bem, não temos dúvidas de que Deus
está conosco, tomando conta de nós, e fornecendo o que preci-
samos. Mas, tão logo surge a adversidade, pensamos: Senhor; onde
está? Por que não faz alguma coisa? Está prestando atenção?
O envolvimento e o interesse de Deus por nossa vida
não pode ser julgado pela natureza de nossas circunstâncias.
Seu envolvimento é medido por duas coisas: primeiramente,
pelo desenvolvimento de nosso caráter e, em segundo lugar,
pelo cumprimento de seu plano.josé passou treze anos enfren-
tando uma adversidade após a outra. E Deus estava envolvido
em cada passo de seu caminho. Foi através daquelas adversida-
des que ele estava realizando a sua vontade. E Deus irá usar as
adversidades a fim de realizar a sua vontade em nossa vida do
mesmo modo.
QUANDO DEUS ESTÁ EM SIL~NCIO 65

Enquanto isso...
"Então, o que devo fazer enquanto isso?" pode ser que
você pergunte. A resposta é sirnples, ernbora não necessaria-
rnerite fici!: Confie elll Deus. Talvez a resposta seja simplista
demais para o seu intrincado conjunto de circunstâncias. E as-
sim, no restante deste livro, pretendo elaborar rnais a questão.
Mas, rnesmo que este fosse o últilllo capítulo, considere suas
opções. Se você não pretende confiar elll Deus, o que vai fa-
zer? Resolver as coisas à sua própria rnancira é correr o ris- .
co certo de pular da frigideira quente para dentro do próprio
fogo. Quando você já experirnerrtou voltar suas costas para o
plano de Deus e se saiu vitorioso?
Você pode dizer: "Mas você não compreende as rni-
nhas circunstâncias". E pode ser que estej a certo. Pense, p orérn,
a respeito de José. Sern amigos, sern fam.ília, serri igreja, sern
liberdade, sern dinheiro, sem Bíblia, sern respostas perceptíveis
de Deus. Contudo, perrnarieceu fiel. E assim perll1.aneceu o seu
Pai celestial.
Quando Deus está ern silêncio, você só possui tirna op-
ção razoável: confiar nele; apegar-se a isso; esperar e descansar
nele. Pode ser que ele esteja quieto, rnas não desistiu de você.

De volta ao rancho .
Agora eu quero lhe contar o que aconteceu afinal à
família que não tinha petróleo ern suas terras. Poucos anos
depois, o Dr. Criswell encontrou por acaso o pai da fam.ília.
Ele era todo sorrisos. O Dr. Criswell entendeu que finalrnerite
tinham encontrado petróleo na propriedade deles.
- Bem ao contrário - o homem respondeu, nunca
acharam petróleo rierihurn, e eu estou feliz por isso. - Isso
COlll certeza surpreendeu o pastor.

r
66 i A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

- Uma coisa muito estranha aconteceu - prosseguiu


.-
ele. Todos os nossos vizinhos se mudaram para a cidade e com-
praram casas' grandes e caras além de carros novos. Colocaram
seus filhos nas melhores escolas. A maioria entrou como sócio
de country clubs. Não demorou muito para que esse estilo de
vida passasse a cobrar o seu preço. Um a um, seus casamentos
começaram a se desfazer. Seus filhos se rebelaram. Não sabe-
mos de nenhuma família que ainda participe de uma igreja
regularmente. Pastor, Deus nos fez um grande favor não pondo
nenhum petróleo em nossas terras. Ainda estamos juntos e nos
amamos mais do que nunca. Agradecemos a ele todos os dias
por nos dar o que é importante e por nos proteger das coisas
que não importam.
Deus não se esqueceu daquela família, Mas levou al-
gum tempo para que viessem a compreender isso. Meu amigo,
minha amiga. Deus não se esqueceu de você. Ele pode estar em
silêncio, mas não está parado. E lembre-se: O silêncio de Deus é
sempre amplificado pela angústia da adversidade. No entanto, atra-
vés da mais grave adversidade, ele trabalha a fim de desenvolver
° seu caráter e de realizar a vontade dele para a sua vida.
Capítulo Quatro
Justiça para todos

Se Deus é todo-poderoso, ele com certeza possui a capacidade


de pôr um fim a toda a injustiça. Se ele é um Deus íntegro e
justo, sem dúvida alguma deve desejar fazê-lo. Ainda assim vi-
vemos em um mundo repleto de injustiças. Por quê?
Esta pergunta aparece sob muitas formas, em geral não
,
de um modo assim tão simples. E a pergunta por trás do choro
,
angustiado de uma mulher abandonada. E o motivo do olhar
cheio de dúvidas de uma criança que foi abusada sexualmente.
,
E a razão para a incerteza do homem que foi demitido de seu
emprego por uma causa trivial qualquer, a poucos meses de sua
aposentadoria.
"Se Deus é justo, por que permite que a injustiça atinja
a vida daqueles a quem ama?" Todos já nos fizemos essa per-
gunta uma vez ou outra. Se não em razão própria, a bem de
um amigo ou de um parente. Mas não somos os primeiros a
68 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

apanhar da realidade fria e dura das injustiças deste mundo. No


primeiro século, a nação de Israel foi saturada por injustiças
de toda a sorte. Tendo sido dominados pelo Império Roma-
no, ficaram à mercê de um poderio estrangeiro. Os romanos
cobravam impostos pesados dos judeus, com a finalidade de
financiar suas campanhas militares em outras partes do mundo.
Confiscaram as suas melhores terras. Ficavam com o melhor
das produções. Estabeleceram o seu próprio governo e esco-
lhiam seus próprios governadores e magistrados.
Em um tempo em que o povo necessitava desespera-
damente 'de orientação de seus líderes religiosos, não encon-
travam nenhuma. Aqueles haviam se vendido aos romanos. Em
troca de posições de honra e de privilégios, os fariseus pro-
meteram estimular os judeus a trabalharem com Roma, e não
contra ela. Os líderes religiosos tornaram-se marionetes que os
romanos usavam a fim de manterem a paz.
Em meio a essa atmosfera opressiva de injustiças, mes-
.
clada a frustrações de longa data, vivia o Senhor Jesus. A me-
dida que as notícias de seu ministério se espalhavam, também
se divulgavam rumores de que aquele, na verdade, podia ser o
Messias.As expectativas elevavam-se, porque o povo tinha a es-
perança de que o Messias traria com ele reforma social, política
e religiosa. Buscavam no Messias o restabelecimento da justiça
na terra. E assim Jesus trabalhou no proj eto de seu Pai, saben-
do da pressão para que empreendesse uma grande reforma.
As expectativas e os desejos das pessoas nos dias de Jesus eram
muito similares aos nossos. Queriam justiça. Estavam cansados
de sofrer injustamente. Estavam aguardando que Deus fizesse
alguma coisa a respeito.
Em resposta à frustração e ao desespero que pressentia
entre o povo,Jesus contou a seguinte parábola:
JUSTIÇA PARA TODOS 69

EITl certa cidade havia UITl juiz que não temia a Deus nern
se im.portava COITl os horriens. E havia naquela cidade UITla
viúva que se dirigia continuamente a ele, suplicando-lhe:
"Pazc-rne justiça contra o llleu adversário". Por algum
tempo ele se recusou. Mas finahnente disse a si rnesrno:
"Embora eu não terna a Deus e rrerri rne importe COlll
os hornens, esta viúva está me aborrecendo; vou fazer-lhe
justiça para que ela não venha rnais rne irnporruriar". E o
Senhor continuou: "Ciuçam o que diz o juiz injusto. Acaso
Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que clamam a ele
dia e noite? Continuará fazendo-os esperar? Eu lhes digo:
Ele lhes fará justiça, e depressa. Contudo, quando o Filho do
horriern vier, encontrará fé na terra?" (Lucas 18:2-8).

Jesus apresenta o pior cenário possível, sobre um juiz


que não se irnporta com ninguém, e sobre urna viúva com
poucos, se é que tinha algurn, direitos. Ela precisa de justiça.
E aparentem.ente esse juiz iníquo é a sua única esperança. Dia
após dia ela vai até ele suplicando ajuda e não a encontra. Fi-
nalrnerite o juiz pensa consigo mesmo: Se eu não fizer alguma
coisa, esta mulher vai me enlouquecer. E não s6 isso, como também
poderia arruinar a minha reputação. Então ele dá o braço a torcer
e ajuda a viúva.
Urna leitura desatenta poderia indicar que a questão
nesta parábola é: se alguém. incomodar a Deus por um. bom
tempo, ele lhe fará justiça. Mas não é nada disso que Cristo quis
dizer. A parábola é apresentada de tal maneira que se estabeleça
urna comparação entre um juiz iníquo e um Deus íntegro.
A questão que Jesus levanta é: Se umjuiz injusto pode ser con-
vencido a fazer justiça para uma viúva a quem mal conhece e
por quem não nutre interesse algurn, quanto rnaior não deveria
ser nossa confiança de que 'urn Deus justo fará justiça para seus
eleitos. Para o caso de seus ouvintes não terem entendido o
70! A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

que estava dizendo, Jesus então afirma abertamente: "Eu lhes


digo: Ele (Deus) lhes fará justiça, e depressa".
O essencial de sua mensagem é que Deus fará justiça aos
eleitos, sendo os eleitos aqueles que expressaram fé em Cristo.
Imagino que isso trouxe algum consolo à sua audiência, como
o faz para aqueles dentre nós que se perguntam de tempos em
tempos se haveria ou não, algum dia, justiça sobre a terra. Mas
também imagino que eles tinham a mesma importante per-
gunta que sobrou para você e eu fazermos: Quando? Quando
Deus irá fazer justiça aos eleitos? Quando os injustos serão
punidos? Quando aqueles que foram tratados de forma injusta
serão vingados?

Um problema de cronograma
Jesus sabia que as suas palavras suscitariam dúvidas
quanto ao tempo da prometida justiça. Ele nos conhece tão
bem que previu a nossa reação à sua resposta. Por isso, ele apre-
senta a sua resposta na forma de uma pergunta, deste modo
devolvendo a bola para nós antes que pudéssemos discutir o
assunto. Ele diz: "Quando o Filho do homem vier, encontrará
le
L'''
na terra.?"
Haverá justiça para os eleitos quando Cristo vier pela
segunda vez. Sem dúvida havia pessoas confusas e outras de-
sanimadas entre aqueles para quem ele falou naquele dia. De-
viam estar pensando: Quando o Filho do homem vier? Mas ele
já está aqui! Para nós, sua resposta não provoca tanta confusão
quanto desapontamento, porque não queremos esperar até que
Cristo venha pela segunda vez para vermos a justiça prevalecer.
Queremos isto agora!
Não é de se admirar. Nos últimos vinte e poucos anos,
uma ênfase crescente tem sido posta sobre o que Deus irá fa-
zer a nosso favor agora. Procure pelos títulos de livros de sua
JUSTiÇA PARA TODOS 'I

livraria cristã local; ouça as pregações que ocupam os canais de


TV todos os domingos pela manhã: "Creia hoje e será curado
amanhã. Dê hoje e Deus o abençoará amanhã". Em nossa bus-
ca para ver Deus fazer alguma coisa em nossa vida, perdemos
o rnais irnportante, esquecemos o que Deus está realizando no
âmbito da história rriurrdial. Negligenciamos o fato de que vi-
vemos em uma era pecaminosa, má, que está sob uma maldição
de Deus. Até mesmo a natureza geme e sofre esperando para
ser libertada (veja Romanos 8:18-25).
A suprema resposta para o problema do sofrimento e da
injustiça no mundo é a volta do Senhor Jesus Cristo. Quando
ele voltar, todos os homens e mulheres se levantarão e prestarão
contas do que fizeram, No livro do Apocalipse, o apóstolo João
faz a seguinte descrição:

Depois vi Ulll grande trono branco e aquele que nele estava


assentado. A terra e o céu fugiram da sua presença~ e não se
encontrou lugar para eles. Vi também os rnortos, grandes
e pequenos, elll pé diante do trono, e livros foram abertos.
Outro livro foi aberto, o livro da vida. Os mortos foram
julgados de acordo com o que tirrharn feito, segundo o que
estava registrado nos livros. (...) e cada Ulll foi julgado de
acordo COlll o que tinha feito (Apocalipse 20:11-13).

João deixa claro que aqueles que se colocarem de pé


diante do grande trono branco do jrilgamento serão julgados
de acordo com os seus feitos. O apóstolo Paulo faz ecoar a
mesma idéia quando escreve:

Pois todos nós devemos comparecer perante o tribunal de


Cristo, para que cada urn receba de acordo COlll as obras
72 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

praticadas por meio do corpo, quer sejam boas quer sejam


más (2 Coríntios 5: 10).
Esta passagem é especialmente interessante por duas
razoes. Primeiro, os cristãos estão incluídos neste julgamen-
to. Segundo, a expressão receba de acordo significa "recompensa"
ou "retorno de investimento". Seremos recompensados pelos
nossos feitos, sejam eles bons ou maus. Isto quer dizer todo
vendedor trapaceiro, todo empregador ou empregado desones-
to, todo marido ou mulher infiel, ou o que quer que possamos
nomear. Naquele dia virá a justiça para os eleitos de Deus. Eles
serão vingados!

Tem mais ainda!


Mas isto é só metade da história. Não apenas os injus-
tos serão tratados de acordo com o que tiverem feito, como os
íntegros também serão recompensados. No Sermão do Monte,
Jesus disse que aqueles que são tratados injustamente terão uma
"grande" recompensa nos céus (veja Mateus 5:10). Os elei-
tos que tiverern sido injuriados, abandonados, roubados, ou de
quell1 tiverem se aproveitado, todos serão recornpensados por
seus sofrimentos.

Porque é louvável que, por motivo de sua consciência para


com Deus, alguém suporte aflições sofrendo injustamente.
Pois, que vantagem há em suportar açoites recebidos por
terem cometido o mal? Mas se vocês suportam o sofrimento
por terern feito o bem, isso é louvável diante de Deus. Para
isso vocês foram chamados, pois também Cristo sofreu no
lugar de vocês, deixando-lhes exemplo, para que sigam os
seus passos (1 Pedro 2:19-21, ênfase minha).
JUSTIÇA PARA TODOS 73

Pedro diz que, quando somos tratados de maneira in-


justa, Deus olha lá dos céus para baixo e sorri; ele considera
isso "louvável". Deus fica animado quando sofremos de modo
injusto. Por quê? Porque é isso que fornos chamados a fazer.
Não deveríamos ficar surpresos quando somos tratados injus-
tamenre. Na verdade, deveríamos ficar surpresos quando não
somos tratados assim! Exatarrrente corno Cristo sofreu trata-
mento injusto, assirn deve acontecer conosco.

Quanto ao rnais, teriharn todos o rnesrno rrrodo de


pensar, sejam compassivos, amem-se fraternalmente, sejam
misericordiosos e hum.ildes. Não retribuam mal COll1 mal,
nem. insulto com. insulto; ao contrário, bendigam; pois para
isso vocês foram. charriados, para recobcrcrn bênção por
herança (1 Pedro 3:8-9).

Aqueles que sofrem. por razões mjustas, não só terão


suas causas vingadas por Deus, COIIlO tambérn herdarão trrna
bênção. Tiago refere-se a esta bênção como sendo a "coroa da
vida" (veja Tiago 1: 12). Ninguélll sabe com exatidão o que é
isso. No entanto, o contexto desses versículos parece indicar
que, seja o que for, será rnuito mais do que a injustiça que ti-
vermos sofrido.

As primeiras coisas em primeiro lugar


Reflita urn rniriuto sobre uma coisa: Querelllos justiça
agora. Não desejamos esperar pela volta do Senhor. Mas sabia
que nern mesmo o assassinato do Filho de Deus já foi vinga-
do? O crirne rnais hediondo na história da humanidade ainda
pede por um julgarnento. Em algum lugar aguarda o grupo
de homens responsável pela morte de Cristo. Embora o crime
tenha ocorrido há muitos anos, o caso contra eles ainda não
74 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

foi julgado. Deus optou por aguardar o retorno de Cristo a fim


de julgar aqueles que crucificaram seu Filho. Amigo, se Deus
escolheu adiar a justiça nesse caso, quem somos nós para exigir
que o nosso caso tenha precedência?
Deus sabe quando sofremos injustamente. Não apenas
sabe como também toma nota, pois as Escrituras prometem
que seremos julgados de acordo com as nossas obras. Sendo
este o caso, então alguém, em algum lugar, deve estar registran-
do tudo! Deus não nos abandonou aos caprichos e desejos dos
mais poderosos. Ele sabe quando seus filhos são negligencia-
dos para uma promoção ou melhoria qualquer, devido a suas
perspectivas religiosas. Moça, ele sabe quando uma mulher de
menos talento foi promovida antes de você, porque você se re-
cusou a fazer concessões morais. Ele vê a mãe abandonada, que
nunca sabe se seu marido, agora um estranho, irá enviar ou não
o cheque todos os meses. Deus anota tudo. Ele já selecionou
um advogado de acusação, umjúri e umjuiz. E eles são todos a
mesma pessoa: o Senhor Jesus. Naquele dia do julgamento, ele
fará justiça aos seus eleitos.

Até lá ...
Então, o que devemos fazer enquanto isso? A esta altu-
ra, a pergunta de Jesus tem um alto significado:

Contudo, quando o Filho do homem vier, encontrará fé na


terra? (Lucas 18:8).

Jesus estava perguntando se algum dos eleitos perma-


neceria ou não fiel enquanto a justiça tardasse. Quando vol-
tasse encontraria os eleitos fazendo justiça com suas próprias
mãos? Quando voltasse descobriria que haviam abandonado
JUSTIÇA PARA TODOS 75

toda a esperança e junto com. ela a fé? O próprio fato de Je-


sus ter feito essa pergunta nos revela o quanto realmente está
sintonizado conosco. Ele sabe o quanto é difícil para nós ter
que esperar. Está ciente do nosso sentirnerito de im.potência e
de prostração quando percebemos que fomos usados ou que
alguém se aproveitou de nós de alguma forma.
Ao fazer essa pergunta, Jesus nos delega nossa atribui-
ção: permanecer fiéis; orar pela justiça; colocar nossa expectati-
va e esperança no juiz. Por fé ele quer simplesmente dizer que
façamos tudo o que sabernos fazer à rnedida que confiamos
nele com relação a tudo o mais. Para algumas pessoas, isso sig-
nifica juntar os pedaços de um casamento destruído e recons-
truí-lo de dentro para fora. Para outras, significa dar início a
.
urna nova carreira.
Se olharmos para além dos detalhes de nosso mundo
circunstancial, fé e fidelidade vão ainda mais longe. Para alguns,
significa se arrepender das dúvidas e da ira contra Deus. Tal-
vez, em. algum. ponto de seu passado, você tenha lidado com.
uma situação errrociorial ou mesmo física devastadora. Naquele
m.om.ento não conseguiu conciliar o conflito da injustiça social
com a existência de um. Deus amoroso, e, assim, se afastou do
Senhor.
Amigo, ele o compreende. Não é por coincidência que
você agora está lendo estas linhas.Agora mesmo Deus está pro-
curando trazê-lo de volta para ele. Fidelidade, no seu caso, pode
significar restabelecer sua fé em Deus, confessar sua dúvida, e
aprender novamente a viver pela fé.

Abra mão
Para algurnas pessoas, fé irá significar abrir mão de anos
de amargura e de sentimento de vingança arrnazenados no seu
76 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

interior. Talvez ao se deitar à noite você mantenha conversas


imaginárias com sua ex-esposa. Ou tem devaneios sobre ter
uma conversa séria com seu chefe. Ou fica esquematizando
meios de deixar envergonhados aqueles que te trataram de for-
ma injusta. Perceba que, ao alimentar coisas desse tipo, está na
verdade dizendo para Deus: "Não confio que você irá me fazer
justiça quanto a este assunto sem a minha ajuda." Deus não
necessita de sua ajuda. Ele nomeou a Cristo para julgar os maus
e defender os inocentes. Caso armazene ódio e animosidade
com relação àqueles que o feriram, a injúria só irá aprofundar-
se. Aqueles que estão à sua volta irão sofrer, pois a amargura é
como um veneno. Faz mal a tudo o que tocar.
Não existe sentido em permitir que as pessoas que o
maltrataram continuem a fazer-lhe mal. Libere toda a raiva
para o Senhor. Diga-lhe agora mesmo que você o reconhece
corno o seu juiz e o seu vingador. Peça a ele que lhe mostre
como recompor sua vida da forma mais adequada. Isso não vai
ocorrer da noite para o dia. Entretanto, ele é fiel. E tudo o que
ele pede de você é que permaneça fiel de igual modo, sabendo
que ele fará justiça para os eleitos!

Quando o Filho do homem voltar para reclamar os


seus,
Será fiel.
Quando o Juiz de toda a humanidade assurrur o seu
trono,
Será verdadeiro.
E quando eu ficar sem justificativas diante da sua pre-
sença,
Julgado pelo que fiz e pelo que não fiz,
Que me encontre fiel,
Que me considere verdadeiro.
Capítulo Cinco
Avançando em meio à adversidade

Narrativas bíblicas tais como a de Lázaro e a de José deixam


um ponto muito claro: Deus usa a adversidade na vida de seusfilhos.
A adversidade, contudo, não é um instrumento qualquer. Ela é
o instrumento mais eficaz de Deus para a promoção de nossa
vida espiritual. As circunstâncias e os eventos que vemos como
revezes são.muitas vezes os próprios meios que·nos impulsionam
a períodos de intenso crescimento espiritual. Uma vez que co-
mecemos a ter esta compreensão, e passemos a aceitá-los como
fatos espirituais da vida, será mais fácil suportar as adversidades.
Foi no contexto desse princípio que· Paulo pôde
afirmar:

Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem


daqueles que o amam, dos que foram chamados de acordo
com o seu propósito (Romanos 8:28).
78 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

Essa é uma promessa condicional. Para a pessoa que


não ama a Deus e, portanto, não está interessada em conhe-
cê-lo e em crescer espiritualmente, todas as coisas não agem
necessariamente para o seu bem, porque algurnas vezes este
"belll" é a lição ou o aprofundarnenro no deserrvolvirnerito do
caráter resultante da adversidade. Da perspectiva divina, é bom
se apreriderrnos a ser pacientes. É bom se aprendermos a amar
as pessoas que não nos são atraentes. Deus valoriza o caráter
muito rnais do que os bens, a proerrrinêrrcia, a saúde, ou muito
do que apreciamos tanto.

o bem de quem?
o "bem" de Romanos 8:28 não telll a ver necessaria-
rrierrte com a história de um Irornern que perde seu emprego e
no fim consegue um rnellror. Pode ser a história de Ulll Irornern
que perde seu emprego e obtém urna compreensão maior do
que significa confiar em Deus dia após dia. O "bem" de Ro-
rnanos 8:28 não tem a ver necessariamente com a história de
urna mulher que perde seu amor apenas para encontrar um
rnelhor partido mais tarde. Ern vez disso, poderia ser a história
de urna mulher que, através da tragédia de urn arrror perdido,
descobre o chamado de Deus para o serviço cristão de tempo
integral.
A razão por que tantos de nós ainda se debatem tão
intensamente contra as adversidades é que não assimilamos até
agora a perspectiva e as prioridades divinas. Quando se lê sobre
a vida dos personagens bíblicos, nota-se rapidarnerrte que suas
histórias não terrniriarn com: "E viveram felizes para sempre".
Em muitas delas, suas vidas parecem terminar exatamente ao
contrário. Moisés morreu no deserto, a apenas alguns quilôllle-
tros da Terra Proructida. Paulo, de acordo com a tradição, foi
AVANÇANDO EM MEIO À ADVERSIDADE 79

decapitado por ordem de Nero. Muitos dos discípulos foram


martirizados.
Será que podemos concluir a partir desses exemplos
que Deus não se interessa pela felicidade de seus filhos? Não!
Somos informados de que os céus serão um lugar de grande
regozijo e felicidade. No entanto, Deus deseja muito mais para
nós do que simplesmente vivermos uma vida livre de proble-
mas. A verdade é que as pessoas que não têm problemas, como
de um modo geral os consideramos, estão entre algumas das
mais infelizes do mundo. Na maioria das vezes estão entedia-
das. Com o tempo seu tédio as conduz a atitudes que lhes cau-
,;

sam problemas. E um erro pensar que uma vida sem problemas


é uma vida feliz.

Definição de felicidade
Felicidade, segundo definida por Deus, "é um estado de
bem-estar encontrado no fundo da alma de um homem ou
mulher". Seu contexto é muito mais amplo que meras cir-
cunstâncias. Seus efeitos sobre as emoções vão além de uma
sensação momentânea. E o meio pelo qual se chega a ela não
é pela aquisição de mais coisas. Nem mesmo pela alteração das
circunstâncias. A felicidade que Deus deseja para os seus filhos
e filhas vem somente através do processo de crescimento e
...
amadurecimento espiritual. A parte disso não existe felicidade
duradoura.
Deus quer que sejamos felizes, mas não com a felici-
dade propagada no mundo. Seu desejo por nossa felicidade é
expresso através de seu desejo para que "cresçamos" espiritual-
mente. O apóstolo Paulo coloca desta maneira:
80 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

o propósito é que não sejamos mais como crianças, levados


de um lado para o outro pelas ondas, nem jogados para cá e
para lá por todo vento de doutrina e pela astúcia e esperteza
de homens que conduzem ao erro.Antes, seguindo a verdade
em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo
(Efésios 4:14-15).

Perrnariecer irnaturo espiritualrnente é correr o rISCO


de acabar abandonando a fé. Adotar urna cosrnovisão ou filo-
sofia de vida diferente da que Deus possui é abraçar urna rnerr-
tira. Ninguétn jamais conseguiu ser "feliz" por rnuito ternpo
sustentando utna mentira. Portanto, o crescimento espiritual é
irnperativo do ponto de vista divino, não apenas para o nosso
berrr-estar espiritual, mas tarnbérn para a nossa felicidade de Ulll
modo geral. O crescimento espiritual contínuo, portanto, é o
meio através do qual Deus nos rnantêrn sintonizados COlll seus
propósitos para nossa vida.
Llrna vez que a adversidade é o mstrurncnto mais efi-
caz de Deus no que se refere ao crescimento espiritual, a pro-
porção em que desejarnos crescer espiritualrnerrte corresponde
à nossa habilidade ern lidar corn a adversidade de maneira po-
sitiva. Flornens ou mulheres apenas superficialmerite interessa-
dos erri amadurecer corno cristãos passarão rnorneritos difíceis
diante da adversidade. Sua tendência será a de culpar a Deus e
ficar amargurados. Em vez de ver a adversidade COITlO algo que
Deus está fazendo por eles, eles a verão como algo que ele está
fazendo com eles. Tudo é urna questão de prioridade e perspec-
tiva. Caso nossas prioridades sejam a tranqüilidade, o conforto
e o prazer, serernos pouco tolerantes COlll a adversidade. Irernos
vê-la COlllO urna interrupção ern vez de corno UITla parte do
plano de Deus para nossa vida.
Entretanto, quando permitirnos que Deus seja o mo-
delo de nossas prioridades, a adversidade passa a ter urn signifi-
AVANÇANDO EM MEIO À ADVERSIDADE 81

cado completamente novo. Passamos a vê-la como parte inte-


grante do que Deus está realizando em nossa vida. Começamos
a compreender que a adversidade pode ser, algumas vezes, um
veículo de uma alegria e uma paz ainda mais profundas. Não
entramos rnais ern pânico ou pensamos que Deus se esqueceu
de nós. Ao contrário, p odernos nos regozijar. Por quê? Porque
Deus está no processo de produzir um novo bem em nossa
vida.
Homens e mulheres espirituais saem da adversidade en-
tusiasmados sobre o que Deus lhes tem ensinado. Homens e
mulheres carnais quase sempre saem amargurados e com raiva
de Deus pelo que ele "os fez passar". São rápidos erri salientar
que "Deus não age em todas as coisas para o bem", ignorando de
modo bastante conveniente a segunda metade do versículo.

Uma" lição anual


Parece que preciso aprender esta mesma lição ao menos
uma vez por ano. Sou urna pessoa orientada por resultados; gosto
de ver os projetos iniciados e completados. E gosto de ter vários
proj etos ern andatnento ao rnesrno tempo. Gosto de estabelecer
objetivos. Estou sempre preparando listas de tarefas a serem rea-
lizadas. Devido à minha personalidade e ao meu estilo de vida
rnuito ativo e acelerado, nada me frustra mais do que ficar doen-
te. Que perda de tempo! Primeiro, fico zangado: "Senhor, acaso
sabe tudo o que tenho para fazer? Não tenho tempo para ficar
doente". Em seguida, lembro-rne de que estou no ministério e
procuro parecer espiritual: "Senhor, o seu trabalho não é fãcil! Se
eu não melhorar rápido, o que será do ministério?"
Finalmente me dou conta de que Deus não está im-
pressionado com o. meu grau de compromisso para com o
seu trabalho, e de que ele não pode ser subornado nem ma-
82 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

nipulado. Somente então começo a fazer as perguntas certas:


"Senhor, o que está querendo me dizer? O que deseja que eu
aprenda? O que preciso modificar ou eliminar em meu estilo
de vida?" Por alguma razão, somente depois que me deito é
que me disponho interiormente a fazer esse tipo de perguntas.
N o restante do tempo, estou ocupado demais fazendo" o tra-
balho do Senhor".
. Durante esses períodos, Deus me ensinou algumas das
verdades mais estimulantes de que já ouvira falar. Quando vol-
to ao púlpito, apresento muitas novas percepções e um novo
entusiasmo. Isso já aconteceu tantas vezes até agora, que mi-
nha congregação fica animada toda vez que fico doente. Não
porque querem me ver doente, mas por causa da bênção que
recebem quando retorno com saúde e com a capacidade de
compartilhar o que o Senhor me ensinou.

Isso éfácil para você falar


Admito que a adversidade que você talvez esteja en-
frentando em sua vida possa ser uma enfermidade muitr: ~.~~5
grave. E também estou dolorosamente ciente acerca da tendên-
cia de se simplificar em demasia, na literatura e em pregações,
quando se trata da questão da adversidade. Mas a verdade é que
Deus deseja usar a adversidade que você está enfrentando neste
exato momento para impulsionar o seu crescimento espiritual.
A Bíblia fornece-nos inúmeras razões para crer que Deus po-
deria apagar toda a adversidade de nossa vida com uma simples
palavra. A experiência, porém nos diz que esta não é a sua
escolha. Muito mais importante que nossa tranqüilidade, nosso
conforto e nosso prazer é o nosso crescimento espiritual.
Se somos cristãos, isto é, colocamos nossa confiança na
morte de Cristo na cruz como pagamento por nossos pecados,
AVANÇANDO EM MEIO À ADVERSIDADE 83

Deus nos considera como estando em UITla escola. Ele está nos
ensinando acerca dele mesmo: sua fidelidade, sua bondade, sua
compaixão e sua santidade. Assim como em todas as escolas, al-
gumas aulas são mais atraentes que outras. E, se formos honestos
para admitir, "Adversidade 101" não é uma de nossas aulas prefe-
ridas. Entretanto, é essencial para que "cresçamos" no Senhor.

o velho apoio
o versículo mais citado da Bíblia quando o assunto
é adversidade é Tiago 1 :2. Infelizmente, versículos como este
acabam se tornando tão familiares que perdem seu impacto
depois de certo tempo. Como é este o caso, esperei de propó-
sito até o presente capítulo para introduzi-lo aqui:

Meus Irrnãos, considerem rnotivo de grande alegria o fato


de passarern por diversas provações, pois vocês sabern que a
prova da sua fé produz perseverança. E a perseverança deve
ter ação c ornpleta, a fim de que vocês sejam maduros e
íntegros, sem lhes faltar coisa alguma (Tiago 1 :2-4).

Precisamos tomar nota de várias coisas nesses versícu-


los. Antes de mais nada, nossa primeira reação às provações deve
...
ser a alegria. A primeira vista, Tiago parece estar demonstrando
urna incrível falta de sensibilidade. Quando estou enfrentando
uma crise elll minha vida, a última coisa que quero é algum
pregador me dizendo para que me regozije! Entretanto, Tiago
não está dizendo para que nos alegremos devido à provação.
Não há nada de alegre com respeito às provações, em si mes-
mas ou de si mesmas. Só estaremos nos enganando se disser-
mos por obrigação e sern nenhum entusiasmo real: "Louvado
seja o Senhor", cada vez que sair algo errado.
84! A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

Tiago é muito claro sobre com o que precisamos nos


regozijar em meio à adversidade. Ele faz essa declaração, con-
tudo, na forrna de uma suposição em vez de nos apresentar
uma razão. Tiago supõe que seus leitores estão tão compro-
missados com o crescimento espiritual que, quando entende-
rem que as provações levam a um crescirne.nto ainda rna.ior,
eles se alegrarão em função do resultado final: crescimento! A
"prova" da nossa fé produz "perseverança". Perseverança é um
fator de amadurecirnerito. O termo completa denota a idéia de
maturidade. Sempre que as pessoas são forçadas a suportar di-
ficuldades, elas amadurecem sob algum aspecto. Tiago diz que
a perseverança pode gerar um bom grau de maturidade nos
indivíduos.
Ele adverte também que existe uma forrna de se in-
terromper este processo de rnatur idade, Instrui seus leitores a
permirirern que a "perseverança" tenha "ação completa". Isso
implica elll que, ao reagir de maneira inadequada à adversidade,
provocamos um curto-circuito no processo de arnadtrrecirrierr-
to. Ao resistir à adversidade, estamos roubando a nós mesmos
da obra que Deus deseja realizar em nossa vida. Protelamos
exatamente o que Deus tinha em vista realizar ao enviar a ad-
versidade em nossa vida.
Conheço diversas pessoas que estão com raiva de Deus,
por causa da adversidade que se interpôs em seus caminhos.
Um lrornern em particular se recusa a pôr os pés na igreja,
porque não conseguiu a-promoção que pensava merecer. Uma
mulher está irada porque Deus não impediu sua filha de se
casar com um descrente. A tragédia nesses dois casos é que
essas pessoas se colocaram às margens da espiritualidade. Não
conseguirão avançar nem um centímetro espiritualmente, até
que tenham mudado sua perspectiva com relação à adversida-
de. Aquilo que Deus permitiu acontecer em sua vida, corno
AVANÇANDO EM MEIO À ADVERSIDADE 85

um incentivo para que crescessem, colocou-os em uma espécie


de corria espiritual. Por quê? Porque se recusaram a admitir que
"a perseverança deve ter ação completa (até a maturidade) ".
Até que estejamos cornprorneridos com o processo de
amadurecimento e de crescirnento espiritual, não serernos ca-
pazes de levar Tiago a sério. Não haverá nenhuma alegria no
sofrimento. Tiago supôs que, quando a maioria de seus leitores
aprendesse que estas provas de fé produziriarn perseverança,
ficar'iam radiantes e cheios de entusiasmo.

Regozijo?
Pode ser que esteja pensando: Isso é ridículo. Como alguém
poderia ficar tão entusiasmado com respeito ao crescimento espiritual a
ponto de se regozijar, quando confrontado com uma adversidade? Caso
essa seja sua atitude, então os seguintes versículos do meSITlO
_ A

texto sao para voce:

Se algurn de vocês tern falta de sabedoria, peça-a a Deus, que


a todos dá livrem.ente, de boa vontade; e lhe será concedida.
Peça-a, porém, COlll fé, sem duvidar, pois aquele que duvida
é semelhante à onda do mar, levada e agitada pelo vento.
Não pense tal pessoa que receberá alguma coisa do Senhor,
pois tern rnerite dividida e é instável em tudo o que faz
(Tiago 1: 5-8).

Tiago não estava desvinculado do mundo real. Ele ti-


nha consciência do quanto soava estranho dizer às pessoas que
se alegrassem intensamente em rrieio às provações. Por isso, ele
prosseguiu dizendo: "Olhem aqui, se vocês acham difícil de-
mais de aceitar, peçatll ao Senhor que lhes dê esclarecimento".
E" isso que ele queria dizer por pedir sabedoria. Sabedoria é a
86 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

habilidade de ver as coisas a partir da perspectiva de Deus; o


que geralmente se trata de ter uma compreensão mais ampla
da realidade. A compreensão mais ampla neste caso é o desejo
central de Deus a seus filhos: maturidade espiritual.
Por muito tempo eu tive dificuldades em aceitar esta
conexão entre a adversidade e o crescimento. Conseguia en-
tender o vínculo racionalmente, no entanto, no campo emo-
cional era complicado admitir. Pensava que toda essa conversa
sobre o uso que Deus faz da enfermidade e da tragédia, ou de
outras formas de adversidade a fim de ensinar às pessoas coisas
novas, era apenas uma maneira de tentar explicá-lo. As pessoas
gostam de poder dar explicações a tudo, e eu imaginava que
essa era simplesmente uma outra maneira de lidar com o que
de outra forma permaneceria incompreensível.
Descobri que meu problema, quando o levei realrrien-
te a sério, era falta de fé. Era difícil aceitar que Deus está tão
determinado a nos levar à maturidade que está disposto a nos
deixar sofrer. Na economia divina, a adversidade é um preço
muito pequeno a se pagar em troca dos beneficios do cresci-
mento espiritual. A" medida que estudava textos como os que já
examinamos, ficava cada vez mais claro para mim que a ques-
tão não era se eu considerava a adversidade como um preço
necessário a ser pago pelo crescimento espiritual ou não. A
questão era se eu iria crer na palavra de Deus e se passaria a
compreender a adversidade a partir da sua perspectiva.
Creio que minha hesitação, avançando e recuando, era
exatamente o que Tiago queria dizer quando escreveu que
precisamos pedir "com fé". Isto é, quando Deus revela a res-
posta, precisamos aceitá-la, não simplesmente debatê-la ou re-
fletir sobre o que ele nos disse. Precisamos crer exatamente no
que Deus diz em sua palavra e viver de acordo com ela. Até
estarmos dispostos a fazer isso, as coisas nunca ficarão claras.
AVANÇANDO EM MEIO À ADVERSIDADE 87

o rnars estranho é que não foi a adversidade que eu


enfrentava em minha vida que fez com que esse princípio fosse
tão difícil de aceitar. Eu conseguia ver de imediato o benefício
espiritual proveniente da adversidade em minha vida. O que
m.e perturbava era o que eu observava quando confrontando
outras pessoas: divórcios, doenças graves, a perda de amigos, de
fam.iliares e de bens. Olhava para suas circunstâncias e pensava:
Senhor, está vendo ísso? Estas pessoas não mereciam isso! O que o
Senhor está fazendo?
Vez após outra, entretanto, eu me achegava a essas pes-
soas a fim de lhes oferecer consolo, e descobria que Deus estava
ministrando a elas de modo tão poderoso, que se tornavam UTIl
estímulo para mim. Mulheres cujos maridos as abandonaram
louvavam a Deus por sua misericórdia e provisão. Conversei
com homens que perderam seus empregos, mas que com isso
redescobriram suasfamílias e louvavam a Deus pelo que lhes
aconteceu. Nunca vou me esquecer de um casal que acaba-
ra de perder tudo o que possuía em UITl incêndio. Depois de
passado o choque inicial, eles começaram a compreender por
que Deus permitira que acontecesse aquilo. Não muito depois,
já estavam testem.unhando .acerca da fidelidade de Deus, e se
regozijando por serem capazes de compreender melhor o que
realm.ente importa e o que não tem importância.
Certo dia, eu estava em um restaurante e observei que
a garçonete usava uma cruz. Perguntei se ela era cristã. Seus
olhos se encheram de lágrimas. "Com. certeza", respondeu ela.
Enquanto conversamos, contou-me um.a das histórias mais
tristes que já ouvira antes. A apenas quatro dias do Natal, seu
marido a deixou por uma outra mulher. Para piorar as coisas,
seus dois filhos haviam brigado com ela e planejavam passar
o N ataI com o pai e a sua namorada, deixando aquela mulher
sem ninguém com quem compartilhar o feriado. Porém, o que
88 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

saiu de seus lábios não foram palavras de críticas ou de ressen-


timento. Ao contrário, ela louvava a Deus por seu poder que
a sustentava. Ela prosseguiu contando sobre as pessoas a quem
pôde testemunhar. Eu fiquei admirado.
Histórias como essa, juntamente com o ensino claro
da Palavra de Deus, acabaram me convencendo de que se pode
confiar em Deus em meio às adversidades, porque ele realmen-
te pode agir em todas as coisas para o bem, caso acolhamos a
sua definição de bem e aceitemos o seu sistema de prioridades.
Compreendi que Deus sabe exatamente de quanta pressão cada
um de nós necessita, a fim de avançarmos em nossa vida espiri-
tual. Era difícil para mim me aquietar e ficar observando outras
pessoas sofrendo, porque não estava a par de tudo o que Deus
estava realizando por e no interior delas. Minha perspectiva era
limitada pelo que estava acontecendo do lado externo.

Olhando atentamente
Lidar com a adversidade é como se preparar para uma
cirurgia. Ao colocarmos nossa confiança no que o médico diz,
_cremos que ficaremos melhor se formos operados. No entanto,
isso não torna a cirurgia menos dolorosa. Ao nos colocarmos
nas mãos de um cirurgião, estamos dizendo que nosso princi-
pal objetivo é a saúde, ainda que ao custo da dor. Acontece o
mesmo com a adversidade. É um meio para se chegar a um fim.
É o instrumento de Deus para o desenvolvimento de nossa
vida espiritual.
Talvez você simplesmente não consiga abraçar esse
ponto de vista. Diante da adversidade que você ou alguém que
ama já enfrentou, o que digo pode parecer uma tentativa de
adoçar a situação, um argumento utilizado pelos cristãos para
desculpar Deus. Se for isso o que pensa, gostaria que refletisse
AVANÇANDO EM MEIO À ADVERSIDADE 89

na seguinte questão: Se a adversidade não é um instrumento


nas rnãos de Deus, o que é? Quais são as alternativas?
Poderia se adotar a filosofia de algumas pessoas que
dizem que Deus está lutando em uma batalha cósmica. Nesta
maneira de ver as coisas, quando surge a adversidade é porque
Deus perdeu trrn round. Abraçar esse tipo de religião, entretan-
,
to, significa abandonar o Cristianismo. E impossível reduzir o
Deus da Bíblia fazendo com que se encaixe nessa cosmovisão.
As duas são mutuamente excludentes.
Poderia se argumentar que Deus não se importa e,
portanto, não está preocupado COll1 as adversidades que en-
frentamos. Porém, este questionamento - se Deus se irnporra
ou não, se ama ou não - foi resolvido há dois mil anos, quan-
do Deus sacrificou o que tinha de mais precioso pelo bem da
humanidade. A cruz encerra toda e qualquer questão quanto
a seu amor.
Alguém pode argumentar que Deus não existe. Mas o
sirnples fato de Deus não se cornportar da forma que esperamos
com toda a certeza não prova que ele não exista. Seria como se
eu pudesse determinar a existência de minha mulher com base
na forma corno penso que uma mulher deveria se comportar.
a grande problema da injustiça no mundo foi o que
impediu por muito tempo que C.S. Lewis abraçasse o Cristia-
nisrno. Ele entendia, como rnuitos outros, que não seria possí-
vel a existência de urn Deus born à luz de todo o mal existente
no mundo. Em seu livro Cristianismo puro e simples, ele descreve
sua peregrinação tentando superar sua perplexidade com rela-
ção ao assunto:

Minha alegação contra Deus era que o universo parecia ser


muito cruel e injusto. Mas de onde eu teria tirado esta idéia
de justo e injusto? Ninguélll chama urna linha de torta a
A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

não ser que tenha alguma idéia do que seja urna linha reta.
A que eu estaria comparando o universo chamando-o de
injusto? Se tudo o que existe é r'uirn e sern sentido de A
até Z, por assirn dizer, por que eu, que devo fazer parte
de tudo o que existe, rne encontro reagindo de forrna tão
violenta contra o que existe? (...) É claro que eu poderia ter
desistido de minha idéia de justiça, dizendo que não passava
de uma concepção particular rniriha. Mas, caso fizesse isso,
niinha alegação contra a existência de Deus tarnbérn estaria
arruinada. Porque rneu argtrrrierrto dependia da constatação
de que o mundo era rrresrrio injusto, e não sirrrplesrnerite
que não conseguia satisfazer minhas fantasias pessoais.

Negar a existência de Deus com base na existência da


adversidade e do sofrimento é afirmar que, de modo a validar
sua existência, Deus deve se comportar de acordo com os meus
desejos. Obviamente existem diversos problernas quanto a essa
abordagem. Realmente não existem boas alternativas quando
se trata da questão da adversidade. Ela é o instrumento de Deus
para promover crescirnerito entre seus filhos. Resistir a esse
princípio é resistir a tudo que Deus quer realizar em sua vida;
é dizer não ao crescimento espiritual.

A coroa da vida
Tiago encerra este assunto com uma interessante pro-
messa:

Feliz é o hornern que persevera na provação, porque depois


de aprovado receberá a coroa da vida, que Deus prometeu
aos que o amam ('Tiago 1:12).
AVANÇANDO EM MEIO À ADVERSIDADE 91

A adversidade não nos conduz apenas à maturidade


espiritual nesta vida, mas também adquire para nós uma coroa
da vida para a próxima. Deus compreende o trauma que é lidar
com a adversidade. Ele não ignora os sacrifícios que somos for-
çados a fazer quando a adversidade penetra em nosso caminho.
Portanto, ele providenciou uma recompensa especial para todo
aquele que "persevera na provação". Mais uma vez estamos
diante de uma promessa condicional. Esta recompensa está re-
servada para aqueles que aceitaram de boa vontade Cristo em
suas vidas. Estes são aqueles que compreenderam que Deus
planeja algo, que a adversidade que enfrentam era o meio pelo
qual algo bom iria entrar em suas vidas.
<-

Você está perseverando? Está suportando? Ou está re-


sistindo? Está· com raiva de Deus por causa do que ele está
fazendo? Amigo, Deus deseja que você progrida através do uso
da adversidade. Ele deseja que você cresça e amadureça até o
ponto em que o seu caráterseja uma imagem refletida do cará-
,
ter de Cristo. E esse o objetivo dele para você. E a adversidade
,
é o meio pelo qual irá realizá-lo. Por que não confiar nele? E
inútil resistir. Sua tristeza só será multiplicada, porque não exis-
te nada pior do que uma vida repleta de adversidades da qual
nunca sai nada de bom.'
Por que não dizer ao Senhor: "Não gosto disto, mas
pela fé me alegro que o Senhor esteja preparando algo bom
para mim"? Provavelmente irá começar a ver este algo "bom".
Passará a experimentar paz. Começará a avançar e a superar a
adversidade.
Capítulo Seis
Sua atenção, por favor!

Um velho conto fala de um fazendeiro que tinha uma mula


à venda. Ele afirmava que aquela mula obedeceria a qualquer
ordem que lhe fosse dada. Um possível cliente estava um tanto
desconfiado de sua afirmação, e decidiu colocar o fazendei-
ro e a mula à prova. E assim disse à mula: "Sente-se". Mas a
mula ficou lá parada. "Sente-se", gritou o cliente. Porém, nada
aconteceu. Então se voltou para o fazendeiro e lhe disse: "Você
afirmou que esta mula faria tudo o que lhe dissessem, mas não
consigo nem mesmo fazer com que ela se sente". O fazendeiro
apenas sorriu. A seguir, abaixou-se e apanhou uma régua de
medir madeira, andou até a mula e deu com ela na cabeça da
mula. "Senta", mandou ele. E a mula sentou-se imediatamente.
Voltando-se ao surpreso cliente, explicou: "Primeiro você pre-
cisa obter a atenção dela".
94 i A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

Receio que alguns de nós sejamos corno aquela velha


mula. Às vezes, Deus permite que a adversidade entre em nossa
;

vida para conseguir nossa atenção. E fácil nos encontrarmos tão


concentrados em nossas próprias atividades e agendas cheias,
que perdemos Deus de vista. Quando nos concentramos em
nossos objetivos, em nossas carreiras, em nossas famílias e ou- .
tras preocupações pessoais, nós o negligenciamos e não damos
a Deus a devida prioridade em nossa vida. Como resultado,
perdemos nossa sensibilidade espiritual.
O processo de nos tornar insensíveis espiritualmente
não é algo de que geralmente estejamos conscientes. Vamos
deslizando para ele lentamente. Comigo, geralmente bastam
uma agenda superlota~a e ocupações em excesso. Seja qual for
o caso, Deus está totalmente ciente de quando é que nos tor-
namos preocupados em demasia conosco mesmos e com nos-
sos próprios interesses. Sabe quando é o momento de planejar
uma interrupção para conseguir a nossa atenção.

Será que não existe outro jeito?


A questão surge imediatamente: Será que não há outro
modo de chamar nossa atenção? Precisa ser de forma dolorosa
ou trágica? Teoricamente a resposta é não! Com certeza exis-
tem outras maneiras de se obter a atenção de alguém além da
adversidade. Pense, entretanto, por alguns instantes. A quantas
pregações você já assistiu sabendo que o tema se aplicava a
você, e depois saiu sem fazer nada a respeito? Quantas vezes
ouviu testemunhos que mexeram com a sua alma e fizeram
irromper um desejo no seu interior para viver por um padrão
mais elevado? Mas, de novo, mal saiu pela porta do santuário e
uma preocupação terrena qualquer encheu a sua mente, lim-
pando-a de todas as suas nobres intenções e planos.
SUA ATENÇÃO, POR FAVORI 95

Com muita freqüência, é necessário mais do que uma


pregação para chamar a nossa atenção. Nem mesmo a convic-
ção sincera, de coração, é o suficiente. Geralmente é preciso
um solavanco de algum tipo para nos trazer de volta à realida-
de. C.S. Lewis, em seu maravilhoso livro O Problema do sofri-
mento, coloca a questão deste modo:

Deus nos sussurra através de nossos prazeres, fala através de


nossa consciência, mas berra através de nossa dor: ela é o seu
rnegaforie para despertar Ull1 rnurrdo surdo.

Quando as coisas estão do jeito que gostamos, algumas


vezes é dificil voltar riossos pensamentos para Deus. Ah, sim,
todos sabemos que deveríamos. N.o entanto, isso se torna um
sacrifício. Quando tudo vai bem, rapidamente nos deixamos
levar a um estado de autoconfiança e altiva presunção. Nossas
orações ficam sem vida. A Palavra de Deus começa a não ser
atraente a ouvidos complacentes, satisfeitos consigo mesmos.
E, para piorar as coisas, corneçarnos a confundir nossa sensação
de bem-estar com espiritualidade. Quando não há nada de errado,
enganamos-nos acreditando que tudo está bem.
Quem teve uma longa experiência com evangelização
,
pessoal sabe muito bem do que estou falando. E quase impos-
sível para um incrédulo, que não está sendo pressionado por
nenhum tipo de problema, enxergar sua necessidade de um
Salvador. Quando tudo vai maravilhosamente bem, por que
atrapalhar colocando Deus no meio? Por que pensar sobre a
morte? Pensando bem, por que até mesmo se preocupar com
o amanhã?
Mas pense de novo naquele homem ou naquela mulher
passando por uma experiência de adversidade e irá .encontrar
uma atitude totalmente diferente. O que antes era apenas urna
96 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

pequena preocupação passou a ser a única. O que, por sua vez,


tinha grande importância, agora não exerce o menor atrativo.
De repente, Deus passou a ter a atenção daquele indivíduo.
Recentemente, meu filho Andy foi convidado para um
encontro dos CocaineAnonymous (CA) , para entregar uma ficha
de um ano limpo a um amigo seu, que vinha lutando com o
vício das drogas há anos. Seu comentário depois da apresen-
tação chamou minha atenção. Ele disse: "Não existem ateus
no CA". Um dos princípios fundamentais sobre os quais os
Alcoólicos Anônimos (AA), os Narcóticos Anônimos (NA), e
os Cocaine Anonymous (CA) se baseiam é o de que os adictos
necessitam da ajuda de um poder superior para conseguirem se
livrar das drogas ou do álcool. Os grupos permitem aos mem-
bros descobrirem por si mesmos o quê ou quem é este poder
superior.Vários deles confessaram ter pouco ou nenhum tem-
po para Deus antes de assumirem e enfrentarem de frente seu
vício. Depois de terem assumido, entretanto, Deus, ou "o poder
superior", passou a exercer um papel significativo em suas vi-
das diárias. Todos reconheciam sua necessidade de ajuda.
Assim é o poder da adversidade. Ela coloca até mesmo
o mais forte e mais obstinado dentre nós de joelhos. E nos
leva a afrouxar nossas mãos das coisas de menor valor e a nos
...
apegar de modo firme Aquele que sabemos ter o poder de nos
libertar.

Cegos pela luz


Uma das melhores ilustrações deste princípio é o que
aconteceu ao apóstolo Paulo. Ele estava plenamente com-
prometido em fazer o que julgava ser o certo ~ destruir a
existência da Igreja. Já ouvira a verdade acerca de Jesus sendo
SUA ATENÇÃO, POR FAVORI 97

pregada em diversas ocasiões. Sem dúvida vira os sinais sendo


realizados pelos seguidores de Cristo. Isto,. no entanto, não ca-
~

tivou sua atenção. Testemunhara o apedrejamento de Estêvão.


Ficou parado lá assistindo enquanto Estêvão orava por aqueles
que atiravam as pedras. E" de se supor que ele tenha sido um
dos que notaram a aura angelical no rosto de Estêvão (veja Atos
6:15). Entretanto, riern mesmo isso foi o bastante para atrair a
atenção de Paulo.
N o nono capítulo de Atos, Lucas registra o inciden-
te que finalmente chamou a atenção do apóstolo Paulo, que
àquela altura ainda era conhecido por Saulo de Tarso. Ele estava
a caminho de Damasco a fim de procurar e prender todos os
homens e mulheres que seguiam a Cristo, ou "o Caminho",
como se referiam a ele então. Esta não era uma tarefa que ele
realizava com suavidade. Lucas informa-nos que Saulo "respi-
rava ameaças de morte contra os discípulos do Senhor" (Atos
9:1). Saulo era tão dedicado à sua missão que fora descrito
como alguém cujo mero hálito era uma ameaça de destruição.
Seu objetivo o consumia internamente.
Em meio à sua viagem em direção a Damasco, con-
tudo, Deus conseguiu sua atenção. Lucas registra o fato da se-
guinte forma:

Ern sua viagem, quando se aproximava de Damasco, de


repente brilhou ao seu redor uma luz vinda do céu. Ele
caiu por terra e ouviu uma voz que lhe dizia: "Saulo, Saulo,
por que você me persegue?". Saulo perguntou: "QueIll és
tu, Senhor?" Ele respondeu: "Eu sou Jesus, a quem você
persegue. Levante-se, entre na cidade; alguérn lhe dirá o que
você deve fazer". (...) Saulo levantou-se do chão e abrindo
os olhos, ~ão conseguia ver nada. E os homens o levaram
pela mão até Damasco (Atos 9: 3-6,8).
98 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

Ern Ull1 rnornerito inesperado, Deus ganhou a total


atenção de Saulo ao derrubá-lo ao chão com uma luz ofuscan-
te, hunlllhando-o na frente de seus companheiros de viagerrl.
Irnagine os pensamentos que lhe ocorreram de modo súbito, à
medida que entendia a realidade de sua situação. Cego! Procu-
re visualizar aquele homem, proeminente e prestigiado, caído
ao chão e recoberto de poeira, procurando sentir se os seus
olhos estavam de fato abertos. Sem. dúvida Saulo pensou estar
cego para sempre. E isso deve tê-lo paralisado de medo.
Deus tinha Saulo exatamente onde desejava. E Saulo esta-
va rriais do que pronto para ouvir: "Por que você rne persegue?",
perguntou o Senhor. Saulo ainda não havia pensado no que an-
dava fazendo a partir dessa perspectiva.Ja.m.ais itnaginara estar per-
...
seguindo Jesus; ele estava morto! Ou não estava? A medida que a
verdade caía sobre ele, Saulo reconhecia o seu erro. E alguns dias
depois estava proclamando Jesus nas sinagogas (veja Atos 9:20).
Quando Ierrros ou OUVilllOS urna história COlTIO essa,
fica fácil perceber o valor da adversidade. Se de fato foi ne-
cessária a cegueira temporária e a humilhação para se obter a
atenção de Paulo, com certeza valeu a pena, pois através dele
o Evangelho foi pregado e igrejas foram plantadas por todo o
rnundo rornano de seus dias. Paulo foi o primeiro a levar a sé-
rio a Grande Cornissão. E foi urri dos primeiros a cornpreerrder
que o Evangelho devia ser pregado tanto a gentios quanto a ju-
deus. Quando pensamos ern tudo o que ele realizou, podemos
cornpreerider COlTIO Deus poderia ter justificado praticamente
qualquer coisa a firn de conseguir sua atenção.

Um olhar para o futuro


Mas, e quanto a você? O que Deus poderia realizar
através de você, caso tivesse sua completa atenção e lealdade?
Nós esquecemos algumas vezes que, quando Deus olha em
SUA ATENÇÃO, POR FAVORI 99

direção a nossa vida, ele vê não apenas o nosso passado, como


também nosso potencial para o futuro. Ele sabe o que poderia
realizar através de nossos dons e talentos se fôssemos totalmente
dele. Está ciente das pessoas que observam. nossa vida, que jul-
gam os méritos do Cristianismo pela consistência e coerência
de nosso estilo de vida. Ele enxerga aquela alrna perdida com
quem teremos a oportunidade de compartilhar, caso estejamos
no caminho certo espirituahnente no momento do encontro.
Ele sabe quem são os potenciais grandes pregadores, escritores,
oradores e professores. Ele está ciente do que poderia ocorrer
através de nós se estivéssemos disponíveis para os seus propósi-
tos. E, da perspectiva da eternidade, tudo o que fosse necessário
para conseguir nossa atenção valeria a pena.

Eu me lembrei de ti, Senhor


A ilustração mais óbvia deste princípio nas Escrituras
é a história de Jonas. Enquanto Paulo era ignorante acerca da
verdade, Jonas a conhecia bem demais, no entanto decidiu por
fugir dela. Provavelmente, a maioria de nós se identificará com
Jonas com mais facilidade do que poderia fazê-lo com Paulo.
Raramente ignoramos o que Deus espera de nós. Não sofre-
mos por falta de informação. O que nos falta é a disposição
para obedecer. Quando Deus utiliza a adversidade para obter
a minha atenção, raramente é com o propósito de me contar
algo novo. Geralmente, ele está querendo me lembrar de algu-
ma coisa que eu esqueci ou escolhi ignorar de propósito.
No caso de Jonas, Deus usou a adversidade a fim de
redirecionar a sua atenção para o que ele havia sido solicitado
a fazer originalmente. Enquanto se debatia no ventre do peixe,
lutando por sua vida,Jonas lembrou-se!
100 : A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

Quando a minha vida já se apagava,


Eu me lembrei de ti, Senhor,
E a minha oração subiu a ti (Jonas 2:7).

Com certeza subiu! E ele prosseguiu:

Aqueles que acreditam em ídolos inúteis


desprezam a misericórdia.
Mas eu, com um cântico de gratidão,
Oferecerei sacrifício a ti.
O que eu prometi cumprirei totalmente Ganas 2:8-9).

Colocando a questão de maneira suave, Jonas reconsa-


grou sua vida ao Senhor. Por quê? Por ter sentido compaixão
pelo povo perdido em Nínive? Não. Na verdade ele não gos-
tou quando eles se arrependeram. Jonas decidiu obedecer a
Deus porque dentro do ventre do peixe ele recebeu uma forte
dose de realidade. Em outras palavras: Deus está no comando!
Isto é razão suficiente para obedecer.
Esta semana recebi uma carta de um velho amigo. Ouvi
sua história muitas vezes ao longo de meu ministério. Aos de-
zessete anos ele se sentiu chamado para ser pregador. Ele resistiu.
Lutou com isso durante a faculdade até se graduar. Sua luta final-
mente o levou a se afastar do Senhor por completo. Foi durante
o tempo em que se encontrava fora da vontade de Deus que
escolheu a sua mulher e a sua carreira. Com o tempo perdeu
os dois. Agora, quase vinte e cinco anos depois, ele está pronto
para servir ao Senhor. Creio que Deus irá usar esse homem, as-
sim como fez com tantos outros com histórias similares. Mas foi
som.ente após ter tirado tudo o que esse homem mais valorizava
que finalmente conseguiu ter a atenção de meu amigo.
SUA ATENÇAo, POR FAVORI '101

Para muitas pessoas toda esta noção pode parecer cruel


e injusta. E, para ser honesto, em meio às. situações em que
Deus operava a fim de obter a minha total atenção, também
tive as minhas dúvidas. Entretanto, nós é que somos os injustos,
se por um instante sequer considerarmos Deus cruel. Nossa
obstinação e falta de sensibilidade a seu Espírito o leva a lan-
çar mão destas coisas que consideramos desagradáveis. Nossa
preocul?ação e obsessão com as coisas deste mundo reduzem
nossa sensibilidade espiritual. Se formos realmente honestos,
admitiremos que não deixamos escolha para Deus.
Caso esteja enfrentando adversidades em sua vida,
Deus pode estar tentando conseguir a sua atenção. Ele pode
estar tentando obter a sua atenção com relação a um pecado
específico. Ele pode estar em meio a um processo para afastar
os seus afetos para longe das coisas deste mundo. Deus pode
saber que você está prestes a cometer um grave erro com a sua
vida; talvez esteja desejando intensificar o seu relacionamento
com ele durante este período de tomada de decisões. Não im-
portam quais sejam as circunstâncias, fique certo de que Deus
não realiza nada sem ter um propósito. Se ele permitiu que a
adversidade penetrasse em seu mundo, é porque tem algo mui-
to bom reservado para você!
Capítulo Sete
Um lembrete não muito gentil

Era um sábado à tarde, por volta das cinco horas, quando ouvi
o barulho de uma porta batendo com força. Pelo som dos
passos sabia que era o meu filho. Ele estava com sete apos na-
quela época. Larguei minha caneta, fui até o seu quarto e fiz
uma pausa do lado de fora da porta a fim de organizar os meus
pensamentos. Esta é a parte desagradável em ser pai ou mãe: ter
que disciplinar os filhos. Sempre havia aquele temor, teimando
em incomodar, de que o sofrimento infligido pela disciplina os
faria se voltar contra mim algum dia. Entretanto, esses pensa-
mentos eram sempre encobertos pelo receio de que crescessem
pensando que poderiam sair livres de todas as situações, com o
sentimento de que não haveria conseqüências para o pecado.
Assim que entrei no quarto de Andy, ele reagiu como
sempre fazia: "Espera aí, deixa eu falar só uma coisa". Era uma
evasiva. Ele estava cansado de saber disso, mas era uma rotina
104 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

inevitável por que passávamos toda a vez que ele se metia em


encrenca. Se eu não estivesse tão incomodado pela sua deso-
bediência, tenho certeza de que teria visto a cena toda como
um tanto cômica. Eu, parado à porta pronto para lhe dar umas
palmadas. Ele, olhando ao redor do quarto procurando por
uma saída, falando pelos cotovelos: "Espera, pai, só quero dizer
uma coisa". A essa altura ele já estava certo de que o inevitável
aconteceria. "O que você quer dizer?", eu sempre perguntava.
E enquanto lágrimas começavam a encher os seus olhos, ele
deixaria .escapar: "Não me bate!"
Existe uma segunda maneira com que Deus usa a ad-
versidade em nossa vida. Ele a usa para nos lembrar de seu
grandioso amor; ele a usa como uma forma de disciplina. E,
como o processo é utilizado nas relações humanas, poderia
se pensar que em nossa vida espiritual não teríamos dificul-
dade de aceitar o mesmo princípio. Ao longo dos anos, no
entanto, tenho observado que esse é um conceito difícil para
muitas pessoas aceitarem. Elas não conseguem imaginar um
Deus amoroso infligindo dor em seus filhos. Em sua forma de
entender as coisas, os conceitos de amor e de sofrimento são
diametralmente opostos.
Mas na economia divina os dois andam lado a lado,
exatamente como ocorre nas relações humanas, associação fei-
ta pelo autor de Hebreus:

Vocês se esqueceram da palavra de ânimo que ele lhes dirige


como a filhos: "Meu filho, não despreze a disciplina do
Senhor, nem se magoe com a sua repreensão, pois o Senhor
disciplina a quem ama, e castiga todo aquele a quem aceita
como filho" (Hebreus 12:5-6).

Não existe conflito algum na mente do autor, quan-


do se trata de conciliar sofrimento e amor. O amor necessita
UM LEMBRETE NÃO MUITO GENTIL 105

da possibilidade e até mesmo da probabilidade do sofrimerito.


Note que ele diz: "castiga a todo aquele a quem aceita como
filho.".
Se consideramos isso como uma afirmação forte para
se fazer em nossos dias, podemos apenas imaginar a reação que
essa declaração deve ter causado no primeiro século. Sugerir
que Deus "castiga" aos que ama deve ter sido de arrepiar a co-
luna dos membros da igreja primitiva. A palavra usada aqui para
castigá é literalmente "flagelo", urn chicote de couro ou uma
vara utilizada para punir escravos e criminosos. Os romanos
seguidamente usavam um açoite acrescido de pedaços de ossos
ou metal. Essa forma de punição era tão severa que seria contra
a lei açoitar um cidadão romano com esse instrumento. Não
era incomum que homens viessem a morrer como resultado
dessas surras.
Apesar das fortes imagens que esse termo deve ter evo-
cado, o autor de Hebreus sentiu-se à vontade em usá-lo para
se referir à disciplina de Deus. Esta é uma afirrnação para le-
varmos muito a sério, ou ao rnerios deveria ser, Não estamos
falando de uma leve surra aqui. Isto é realmente sério!
O escritor de Hebreus conhecia muito bem a nossa
tendência de não levar tão a sério a disciplina de Deus quanto
deveríamos. Por isso nos adverte: "não despreze a disciplina do
Senhor". Em outras palavras, o potencial do grau de severidade
da disciplina de Deus deveria ser o bastante para nos manter na
linha. Uma das razões por que caímos em pecado de modo tão
fãcil é por esquecermos que Deus irá nos disciplinar quando pas-
sarmos dos linútes. Esquecemos que o seu pleno corihecirnento
do pecado e de suas conseqüências destrutivas o compele a tomar
medidas drásticas a nosso respeito. Por mais que não goste de ter
que usar a adversidade para nos fazer lembrar de viver trma vida
íntegra, o fato é que ele o fará se souber que é necessário,
106 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

Até que ponto?


A pergunta que me ocorre enquanto reflito sobre esta
intrigante doutrina é: "Até que ponto Deus está disposto a ir?"
Quanto sofrimento ele se dispõe a infligir? Existe algum lirni-
te para a adversidade que ele possa enviar? Ele deixou Paulo
cego. Levou Jonas a um passo de perder a sua vida. Creio que a
resposta é Deus fàrá o que for necessário. Por mais que deva odiar
infligir dor, odeia ainda mais o pecado. Por maior que seja a sua
aversão ao sofrimento, seu amor por nós é ainda maior,
Para aqueles de nós que não prestam a devida aten-
ção a essa advertência quanto à disciplina, o escritor apresenta
outra: "Nem se magoe com a sua repreensão". A implicação
aqui é que, quando estamos passando pela disciplina do Senhor,
teremos a tendência de ficarmos desanimados. Estaremos, de
maneira perigosa, abertos a sugestões de outros, que podem
lançar dúvidas sobre a bondade e a justiça de Deus. Se não
tomarmos cuidado, poderemos interpretar a disciplina de Deus
como sendo o oposto do que é na realidade.
Costumamos esquecer que Deus nos trata como a fi-
lhos e filhas. Em vez de esperarmos a disciplina de nosso Pai
celestial, somos tomados de surpresa. Interpretamos mal esse
gesto de amor supremo. Vemos como uma ameaça o que foi
planejado para o nosso bem. Mas, na verdade, a disciplina de
Deus é um sinal de propriedade. Ela serve como uma garantia
de nossa relação Pai-filho com Deus. Por isso o escritor diz:

Suportem as dificuldades, recebendo-as como disciplina;


Deus os trata corno filhos. Ora, qual o filho que não é
disciplinado por seu pai? Se vocês não são disciplinados, e a
disciplina é para todos os filhos, então vocês não são filhos
legítimos, mas sim ilegítimos (Hebreus 12: 7-8).
UM lEMBRETE NÃO MUITO GENTIL 107

Lembrando que Deus irá nos tratar com.o seus filhos,


podemos suportar a dor da disciplina. Esquecer-se disso é cor-
rer o risco de perder toda a esperança, de ficar desanirnado, de
desistir de tudo.

Uma questão de respeito


Agora que os meus filhos já estão crescidos, compre-
endo mais do que nunca a importância da disciplina. Os re-
ceios que eu possuía naqueles primeiros anos realmente não
tinham qualquer firrrdarrierrto. Disciplinar os rrieus filhos não
fez com que se voltassem contra mim. Ao contrário, não tenho
nenhuma dúvida de que a disciplina que apliquei fomentou
o catninho da relação harmoniosa de que desfrutamos atu-
almente. A disciplina desenvolve o respeito. Ela aprofunda os
relacionamentos. O mesmo se aplica a nosso relacionamento
corn Deus.

Além disso, tínhamos pais humanos que nos disciplinavam,


e nós os respeitávamos. Quanto mais devemos nos subrrreter
ao Pai dos espíritos, para assim viverrnos! Nossos pais nos
disciplinavam por curto período, segundo lhes parecia
melhor; mas Deus nos disciplina para o nosso bern, para que
parricipernos da sua santidade (Hebreus 12:9-10).

Se podemos compreender o valor da disciplina no


contexto de um pai terreno e de seus filhos, com certeza po-
deremos apreciar em algum nível o imenso valor de um Pai
celestial que investe ternpo para disciplinar os seus filhos. Todos
já estivemos com crianças que são pouco ou nunca são disci-
plinadas. Não apenas não gostamos de tê-las por perto, como
também os seus comportamentos, de um modo geral, giram
108 ! A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

em torno de COIsas destrutivas. Já reparei, entre os jovens de


nossa igreja, que os adolescentes que têm uma queda por ci-
garro, drogas e álcool geralmente são os que vêm de famílias
onde há pouca disciplina. Onde existe uma deficiência na área da
disciplina, existe uma propensão em direção ao comportamento des-
trutivo. Não estou bem certo de compreender totalmente qual
a relação entre os dois, mas tenho visto esse padrão o bastante
para saber que existe uma relação.
Deus também está ciente dessa relação. Ele sabe que, se
não nos disciplinar, existe a probabilidade de permitirmos que
o pecado siga seu rumo de destruição (veja Tiago 1:15). Ele
I

está muito atento às conseqüências drásticas do pecado, quando


se permite que prossiga sem nenhum controle. O seu amor por
nós não permitirá que relaxe e fique apenas observando a nossa
vida ser destruída, e por isso ele intervém com a disciplina.

Opa!
Todo pai conhece a dor e o embaraço que é reconhe-
cer ter cometido o erro de ter sido duro demais ao disciplinar
ou, pior ainda, de disciplinar urn filho que não tinha culpa.
Contudo, rnesrno com essas possibilidades sempre presentes,
um bom pai manterá a rotina da disciplina, porque o valor da
disciplina supera o risco de se errar ocasionalmente.
.
Se acreditamos que um pai terreno deva continuar dis-
ciplinando os seus filhos, mesmo sabendo que vez por outra
sua disciplina será injustificada ou administrada de maneira im-
perfeita, quanto mais apoio deveríamos dar a um Pai celestial
perfeito e onipotente que disciplina os seus filhos? Se respeitá-
vamos os nossos pais terrenos quando nos disciplinavam, quan-
to não deveríamos respeitar ainda mais o nosso Pai celestial?
UM LEMB"-ETE NÃO MUITO GENTIL 109

Enquanto os nossos pais terrenos nos disciplinavam. de acordo


com o que sabiam, podemos estar certos de que a disciplina de
nosso Pai celeste se encaixará perfeitamente às nossas necessi-
dades individuais.

Participando da ·sUa santidade


Existe outra grande diferença entre a disciplina de nos-
sos pais e a disciplina de Deus. E esta tem a: ver com propósito.
Muitas vezes a razão principal por que éramos disciplinados
por nossos pais era para fazer com que nos "comportássemos"
ou para sermos "bonzinhos". Algumas vezes os seus motivos
erarn egoístas; só não queriam se sentir envergonhados. O nos-
so Pai celestial possui uma agenda diferente. O autor de He-
breus coloca da seguinte maneira:

(.~.) mas, Deus nos disciplina para o nosso bem, para que
participemos da sua santidade. (...) produz frutos de justiça e
de paz para aqueles que por ela foram exercitados (Hebreus
12:10-11).

o objetivo de Deus na disciplina não é simplesm.ente


para que nos comportemos. Seu propósito é o de nos tornar
santos, para nos levara ser conforme o seu Filho. Ele deseja
nos edificar através da experiência, até que odiemos o pecado
tanto quanto ele próprio, ódio esse que nos levará a nos separar
não somente da prática do mal, mas até de sua aparência. Atra-
vés desse processo, o nosso caráter ficará sintonizado a fim de
refletir o caráter do próprio Cristo. Porque Deus nos conhece
por dentro e por fora, ele pode nos disciplinar sob medida, de
tal modo que alcance precisamente esse objetivo.
110 i A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

Organizando tudo
Quando parei à porta do quarto do meu filho já pre-
parado para lhe dar um castigo, ele não tinha nenhuma dúvida
sobre o que estava para acontecer. Nem havia dúvida alguma
sobre por que iria acontecer. Sempre fiz o que pude para ad-
ministrar a disciplina tão logo ocorresse a ofensa.
A disciplina do Senhor não é sempre tão visível quanto
a disciplina humana. O resultado é que existe muita confusão a
respeito. O Senhor não aparece durante a noite para nos contar
como e por que seremos disciplinados. Na verdade, algumas
vezes até parece que o nosso pecado passou despercebido. Não
acontece nada! Por outro lado, assim que ocorre algo de ruim
com alguns cristãos, imediatamente começam a se examinar
para ver se descobrem algum pecado não confessado. Ao che-
gar ao fim deste capítulo, gostaria de lhe dar alguma orientação
que ajude a identificar a adversidade que procede de Deus
como forma de disciplina.
1. Deus quer que saibamos quando estamos sendo discipli-
nados. Não nos faz bem algum se somos disciplinados, porém
permanecemos alheios ao que está acontecendo. Que bem fa-
ria a um pai, caso desse umas palmadas em um de seus filhos
sem lhe contar a razão? Será que esse pai poderia realmente es-
perar que o filho mudasse o seu comportamento, uma vez que
a criança não foi informada sobre a causa do castigo? É óbvio
que não. Do mesmo modo, Deus sabe que, para a disciplina
alcançar o seu desejado fim, precisamos ser informados.
2. A disciplina na qual incorremos estará de alguma forma
vinculada ao pecado que cometemos. Este aspecto está relacionado
ao princípio de se colher o que se planta. Paulo escreveu:

Pois o que o homem semear, isso também colherá (Gálatas


6:7 - ênfase minha).
UM LEMBRETE NÃO MUITO GENTIL 111

Repare nas palavras em. itálico. Há uma aparente rela-


ção entre o que um.a pessoa faz e as conseqüências que se se-
guem.. Quando nossos filhos voltavam para casa depois da hora
de recolher que estabelecemos para eles, Anna e eu os discipli-
návamos .estabelecendo uma hora de recolher ainda m.ais cedo
da vez seguinte. Caso as crianças abusassem de seus privilégios
com relação a assistir à T~ ficavam sem eles por algum tempo.
A disciplina é mais eficaz quando existe uma relação óbvia
entre a desobediência e o seu resultado.
Algumas mulheres cristãs não podem ter filhos hoje
em dia, porque abusaram de seus corpos com o uso de drogas
ou álcool em excesso, ou mesmo por um estilo imoral de vida,
que envolvia diversos parceiros sexuais quando eram mais jo-
vens. Isso é a disciplina de Deus. Alguns hornens e mulheres,
cristãos, foram flagrados elll adultério e perderam suas farrrílias
e carreiras como resultado. Isso tarnbêrn é disciplina de Deus.
Quando um. executivo cristão é apanhado furtando drnrreiro
de sua em.presa e perde o seu elllprego e a sua reputação, é por
causa da disciplina de Deus.
Jonas tentou fugir de Deus, e Deus irrrpediu-o de pros-
seguir em. sua fuga. Israel foi infiel a Deus na terra que ele lhes
deu, e assim ele os disciplinou retirando-os daquela terra. Davi
destruiu a família de Bateseba através de sua falsidade e adul-
tério. Deus destruiu sua família pela falsidade e deslealdade de
seu filho Absalão.
3. Afalta de sensibilidade espiritual pode obstruir a habilidade
de um cristão em perceber que Deus está exercendo disciplina. Tenho
conversado o tempo todo com pessoas que estão zangadas com
Deus pela adversidade que pernritiu entrar em suas vidas. Ao
conversarmos descubro que elas não têm andado com Deus.
Estão envolvidas em todo tipo de pecado. E mesm.o assim não
conseguem ver a ligação. Elas vêm até rnirn na esperança de
112 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

que eu possa apertar um "botão mágico" e lhes dar alívio para


os seus sofrimentos.
Deus não irá afrouxar a pressão sobre um cristão até
que tenha realizado tudo o que planejou. Caso um homem
ou uma mulher se recuse a se render, Deus simplesmente au-
mentará esta pressão. Lembre-se: o seu alvo final para você e
para mim não é a tranqüilidade, o conforto e o prazer. E sim a
conformidade com a imagem de seu Filho. E ele está disposto
a ir bem longe a fim de realizar os seus propósitos.
O autor de Hebreus sintetizou bem a questão ao es-
crever:

Nenhuma disciplina parece ser motivo de alegria no


momento, mas sim de tristeza. Mais tarde, porém, produz
fruto de justiça e paz para aqueles que por ela foram
exercitados (Hebreus 12:11).

Dizer que "nenhuma disciplina parece ser motivo de


alegria" é suavizar bastante o caso. Na verdade, nós a despre-
zamos na hora. Tal como o meu filho aos sete anos de idade,
todos procuram por urna rota de fuga, uma desculpa com que
escapar. Ninguém gosta de ser disciplinado. Contudo, aqueles
que já a suportaram sabem que o fruto que produz, e o so-
frimento do qual ela principalmente rios poupa faz com que
valha a pena a agonia.
Você está experimentando a disciplina de Deus em sua
vida? Está sofrendo as conseqüências do pecado? Onde você
estaria hoje, caso Deus permitisse que continuasse escapando
sem interferência com a sua rebelião e a sua desobediência? Ao
olhar à sua volta para outras pessoas que continuam "escapando
sem interferência" com os seus pecados, será que realmente os
UM LEMBRETE NÃO MUITO GENTIL I IB

inveja? Ou será que consegue compreender que oamor de


Deus por você olevou ainterromper oseu caminho repenti-
namente, eaatrair asua atenção de volta para ele?
I

. Everdade que "nenhuma disciplina parece ser motivo


de ~egria no momento, mas sim de tristeza", Mas, se relaxar e
permitir que Deus termine oseu trab~ho, você experimenta~
rá o"fruto de justiça epaz" que ele prometeu para aqueles a
quem ama.
Capítulo Oito
Auto-exame

Linda reparou que o assoalho fazia um barulho irritante ao


andar sobre uma parte específica de seu quarto. Durantes al-
gumas semanas ela tentou ignorá-lo. O seu condomínio era
°
novíssimo, e ela presumiu que barulho era uma questão de
-adaptação do piso. Com o passar das semanas, no entanto, o
barulho ficava cada vez pior. Finalmente ela chamou a cons-
trutora e pediu que dessem uma olhada. O representante não
parecia muito preocupado. "Todo prédio novo tem os seus
próprios barulhos", ele afirmou. Mas para se certificar, ele pu-
xou o carpete para trás e abriu um buraco no assoalho a fim
de examinar mais atentamente. Para a sua surpresa, descobriu
que as vigas projetadas para unir o piso às paredes que o sus-
tentavam haviam sido cortadas curtas demais. Elas mal tinham
o comprimento necessário para serem encaixadas às colunas de
sustentação. E, como se isso não bastasse, nada havia sido feito
em termos de fixação das vigas do piso a seus suportes.
116 : A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

o rangido que Linda ouvia era o som das vigas do


assoalho escorregando lentamente, cada vez mais próxirnas do
limite de seus suportes. Se o problell1a não tivesse sido desco-
berto, o chão sob os seus pés acabaria finalmente desabando.
Urna equipe começou a trabalhar irnediatarnertte para reme-
diar a situação. Mais uma vez, a fim de se garantir, a construtora
mandou checar cada unidade. O problema foi encontrado exa-
tamente do mesmo rriodo ern outros três edifícios. Se não fosse
pelo incômodo do rangido no piso, Linda jamais teria desco-
berto o erro da construtora. Aquele barulho irritante pode ter
salvado a sua vida.

Olhando abaixo da superfície


Muitas vezes, Deus irá perrnitir surgirem rangidos no
chão de nossa vida. Circunstâncias ou pessoas que nos irritarão
constantemente. No entanto, assirn como no caso de Linda,
estas perturbações são a forrna de Deus atrair a nossa atenção
para coisas que nos passalll despercebidas, COlllO hábitos ou
bagagens emocionais de nosso passado. Através delas, somos
levados à força a realizar urn auto-exame. Esta é a terceira razão
por que Deus permite ao cristão passar por adversidades.
N o capítulo seis, discutimos o fato de Deus enviar
a adversidade a fim de obter nossa total atenção. Existe urna
certa relação entre esse princípio e o que vamos discutir nes-
te capítulo. A diferença primordial neste caso é que não esta-
1l10S falando aqui de um cristão que desenvolveu urna falta de

sensibilidade espiritual, ou que está tentando fugir de Deus.


O presente princípio se aplica àqueles que estão cOlllprorneti-
dos ern fazer a vontade de Deus. Ele pressupõe um desejo por
crescimento. No capítulo seis, concentramos-rios elll cristãos
que estavam cientes do pecado ou rebelião, rnas que não esta-
AUTO-EXAME 117

varn dispostos a fazer nada a respeito. O princípio que estare-


mos examinando neste capítulo vai um passo adiante.

Passo a passo

-
o crescimento espiritual parece-se muito com o cres-
.
cimento físico. Existern estágios de deserrvol'virnenro. Cada es-
tágio traz consigo novas expectativas e maior liberdade. Nin-
guérn esperaria que um bebê recém-nascido andasse.Entretan-
to, ficaríamos rrruito preocupados com alguém que aos doze
anos ainda engatinhasse. Não consideramos trrn bebê de dois
anos inferior por não saber ler. Contudo, nossa expectativa é a
de que adultos tenham alguma capacidade nessa área.
Com o crescimento espiritual se dá o mesmo. As ex-
pectativas de Deus para com os cristãos recém-convertidos são
diferentes das que ele nutre por pessoas que já são cristãs há
muitos anos. Não entenda mal o que estou tentando dizer.
O padrão -moral de Deus é o rriesrrio para todos os cristãos.
Refiro-m.e aqui a questões como o desenvolvirnerrtó do cará-
ter, do discernimento e da rendição quanto a direitos e posses.
Estas são áreas da espiritualidade que levam uma vida inteira a
firn de se desenvolverem. A natureza mostra-nos muito clara-
mente que as coisas que crescem mais fortes são, de um modo
geral, as que crescem mais lentamente. Apenas ervas daninhas e
cogumelos venenosos brotam de repente da noite para o dia.
Quando as pessoas se tornam cristãs, são levadas a
atentar para algurnas questões quase que itnediatatnente: coisas
como a melhor rnarieira de lidar com os antigos arrrigos e COlllO
explicar para a família o que aconteceu a elas. Geralmente são
desafiadas a tratar de alguns hábitos pecaminosos também irne-
diatarnerrte, Para a m.aioria, essas questões são óbvias. Não é
preciso pensar muito a fundo para identificá-las.
118 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

Com o passar do tempo, porém, depois que esses as-


suntos mais aparentes já foram resolvidos, Deus encontra es-
paço para começar a tratar das questões que não são assim tão
óbvias. Ele não se satisfaz com simplesmente nos censurar e
repreender por nossos atos de desobediência. Ele deseja atingir
a raiz: o orgulho, os preconceitos, o egoísmo, o materialismo.
A lista prossegue incluindo a ira, a amargura, os ciúmes, a inveja
e um espírito dado a julgamentos; o tipo de coisas que costu-
mam vazar sutilmente de nossas conversas, de nossos comentá-
rios reservados e de nossas "brincadeirinhas". Juntamente com
isso, ele deseja curar as feridas emocionais que porventura car-
regamos, como mágoas, medos e inseguranças, resultantes de
situações por que passamos no passado. Ele quer pôr um fim
às atitudes erradas. Quer chamar a nossa atenção para idéias
incorretas que nos foram ensinadas quando éramos crianças,
coisas que nos levaram a interpretar equivocadamente as ações
dos outros. Quer corrigir a forma como pensamos a nosso
próprio respeito, como também a nossa percepção acerca dele.
Essas questões não são tratadas quando simplesmente confessa-
mos os nossos pecados. É preciso mais.

Fazendo-nos perceber
Muitas vezes nem mesmo nos damos conta de que
esses problemas existem. Por isso Deus vê como sendo ne-
cessário permitir alguma adversidade em nossa vida, a fim de
nos motivar a fazer um auto-exame. Os ventos da adversidade
dispersam as questões mais superficiais, forçando-nos a enfren-
tar a realidade em um nível mais profundo. Deus pode operar
através de um conflito entre você e um amigo. Pode ser que
use a sua mulher. Deus pode usar as suas finanças ou mesmo
um de seus filhos.
AUTO-EXAME 119

Deus sabe como chamar a nossa atenção. E no fim das


contas acabarnos percebendo os rangidos irritantes no chão
de nossa vida. As coisas não são mais tão suaves como antes.
A vida não é mais tão tranqüila quanto costumava ser. Quan-
do a estrutura de nossa vida corneça a ruir, pode ser que seja
a forrna de Deus nos dizer: ') á é hora de dar urna boa e longa
olhada no seu interior. É hora de descobrir o que realmente
motiva você e o leva a reagir da forrna como reage".
Isso nunca é divertido. Não é o tipo de crescimento
espiritual que procuramos ou pelo qual oramos. No entanto,
durante tempos de auto-exame, fazemos os maiores avanços
em nosso relacionamento COlll Deus e corn os outros. Durante
períodos de auto-análise, Deus é capaz de chegar à causa de
grande parte de nossa incoerência e obstinação. Durante esses
tempos, nós nos vemos corno de fato SOlllOS e não como fin-
girnos ser. Se perrnitirrnos que Deus revele tudo o que deseja
revelar, seremos alvo de mudanças perrnarientes.

Examinem a si mesmos!
o apóstolo Paulo ordenou aos rriernbros da igreja de
Corinto que examinassem a si mesmos. Eles estavam experi-
mentando urna taxa elevada e iricornurn de doenças e rnorte
em sua corrmrihão. Paulo deixou claro que essa adversidade
fora enviada para revelar algo a respeito do caráter dos en-
volvidos naquela igreja na cidade de Corinto. Havia divisões
entre eles, agiam com glutonaria e desrespeito para com a
Mesa do Senhor (veja 1 Coríntios 11: 19-30). Para conseguir
a atenção deles, Deus começou a discipliná-los, atingindo-os
com enfermidades e até m.eSITlO corn a rnorte! Paulo respon-
deu dizendo:
120 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

Examine-se cada um a si mesmo (1 Coríntios 11:28).

Em outras palavras: "Dê uma olhada sincera no seu in-


terior, realmente procurando descobrir o que está levando vo-
cês a um comportamento tão desrespeitoso como este". Deus
não tinha a intenção de permitir que aquela confusão continu-
asse, por isso lhes enviou algumas doenças fisicas para' colocá-
los de volta no caminho.
Deus não quer que elementos negativos de nosso pas-
sado fiquem rondando a nossa vida, e nos conduzam a uma de-
.generação. Somos o templo do Espírito Santo. Ele deseja que
sejamos vasos limpos e usáveis. Não há razão nenhuma para se
permitir que o entulho do passado permaneça em nossa vida
por anos a fio. Quando ele sabe que já somos capazes de lidar
com isso, interfere para chamar a nossa atenção a respeito. E
por mais doloroso que possa parecer, visto a partir da perspec-
tiva divina, sempre vale a pena.

A pessoa certa
Eu conversava com uma moça de nosso departamento
.de solteiros que acabara de ser dispensada pelo namorado. Ela
estava arrasada. Carla tinha certeza de que Ben era o cara" cer-
to" para ela. Ela vinha orando pelo melhor que Deus tinha para
a sua vida desde o ensino médio.: E durante um bom tempo
sentiu como se ele fosse a resposta de suas orações. Já haviam
falado a respeito de casamento e até procurado as alianças. En-
tão, de repente, aparentemente sem qualquer aviso, ele rompeu
o relacionamento por completo.
...
A medida que conversávamos, senti-me com liberdade
para cavar um pouco mais a fundo o assunto. Fiz-lhe muitas
perguntas sobre o relacionamento. Quanto mais conversâva-
AUTO-EXAME ]21

mos, mais transparente ela ia ficando. Finalmente admitiu que


ela é que fora a parte agressiva" na relação. Pressionara tanto
Ben, que ele acabou pulando fora. Admitir isso foi muito do-
loroso para Carla. Mas com Iâgrirnas nos olhos assurniu que a
culpa foi sua por ele ter tertninado corn ela.
As 'coisas estavam indo bem, então tornei a liberdade de
cavar um. pouco mais fundo:
- Por que você acha que pressionou tanto? - per-
guntei.
Ela deu de ombros.
- Não sei. Sempre fui desse jeito.
- Sempre? - indaguei.
-"- Até onde consigo rne Iernbrar, Meus rrrnâos selllpre
rrie diziam que eu era "rnaridoria". E, agora que voltei a pensar
no assunto, eles estavam certos.
...
A rncdida que prosseguimos ern nossa conversa, notei
alguns padrões conhecidos ern sua vida com a família. Carla
veio de urn lar onde colocavam urn rrivel rnuito alto de expec-
tativas sobre ela. Essas expectativas elevadas, casadas com. a falta
de derrioristraçâo de afeto por parte de seus pais, produziram.
nela Ull1. espírito agressivo. Ela aprendeu a agir para obter acei-
tação. Sernpre se saía bern ern tudo o que tentasse realizar.A sua
reCOlllpensa, entretanto, não era um abraço afàvel e arnoroso
de seu pai rodeando os "seus ornbros. Ao contrário, era para-
benizada corn urn aperto de rnâo ou algum tipo de, prêrriio
financeiro.
No fim., o centro da conversa deixou de ser ela e Ben.
Passei a ajudar Carla a se desvencilhar de algum.as em.oções
corn as quais vinha lutando durante anos: o desejo de ser amada
por quelll ela era e não pelo que podia fazer; sentimentos de
solidão e isolamento; urna falta de capacidade de esperar no
Senhor. Ela percebeu rapidarnente a ligação entre esses padrões
crnocioriais e o meio am.biente no qual fora criada.
122 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

Nos meses que se seguiram, observava Deus transfor-


mando Carla. Sua fria agressividade desaparecera. Tornou-se
mais sensível com relação aos outros e mais acolhedora. Mais
tarde admitiu a uma amiga que terminar com Ben foi a melhor
coisa que já lhe acontecera. E eu tive que concordar, pois foi
através dessa tragédia que Deus permitiu que ela percebesse a
camada de imaturidade que ele estava prestes a remover.

Por que o sofrimento?


Alguém pode estar se perguntando se trazer este tipo
de coisa à tona vale realmente a pena a angústia emocional.
Tenho que admitir que algumas vezes não parece valer. No
entanto, precisamos lembrar que o alvo de Deus para nós é o
amadurecimento espiritual. O apóstolo Paulo disse que se es-
pera que "cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo"
(Efésios 4:15).Além do fato de ser da vontade de Deus, existern
outros beneficios práticos ao se tratar de conflitos do passado.
O mais óbvio de todos é que protege futuros relacio-
namentos de serem inundados pela eventual carga negativa
advindas de conflitos sem solução. Por mais que tentemos su-
primi-los, os pecados não tratados de nosso passado acabarão
emergindo. Pode ser que leve um bom tempo, mas acabarão
escapando pelas frestas. E geralmente isso traz sofrimento a
nossas famílias. Portanto, quanto mais cedo Deus nos revelar
essas coisas, melhor. Toda sessão de aconselhamento de fanúlia
com que me envolvi centrava-se em problemas que brotavam
do passado de algum de seus membros. Por causa disso, come-
çava todas as sessões com perguntas sobre os primeiros anos da
vida em fanúlia.
AUTO-EXAME 123

Colocando para fora


Quanto rnais ternpo p-errrutrr mos que essas coisas fi-
quem sem solução, rnaior o seu potencial negativo; qtrantornais
profundas as raízes, rnais doloroso será o processo de escavação
e maior a nossa resistência para abrirmos mão delas. É por essa
razão que Deus mantém a pressão sobre nós. Ele sabe que, se
nos deixar livres, retornaremos a nossos velhos hábitos. Preci-
sarnos de incentivo para olhar dentro _de nós. Ninguém deseja
enfrentar o que está realmente lá dentro. Mas, até que possa-
mos obter uma boa dose de realidade, farerrios rrruito poucas
mudanças. Os ventos da adversidade farão desaparecer nossos
meticulosos disfarces. A adversidade remove a capa do "deve-
ríamos ser" para revelar a verdade do que SOlllOS. E, por mais
sofrido que possa parecer, sornerite então é que Deus pode
completar o que cOll1eçou.

Um check-up regular
Fazer um check-up médico é urna ótirna idéia, porque
praticamertte garante que qualquer ameaça à saúde poderá ser
detectada rnuito antes da vida de alguérn ficar em perigo. As
pessoas que têrn rrredo do que o m.édico poderá dizer, e por
isso descartam a realização dos exames, são as que acabam se
,;

rrieterrdo erri complicações. E tolice ignorar os avisos enviados


,;

pelo corpo. E ainda rnais tolo ignorar os avisos enviados por


Deus.
Caso Linda não tivesse charnado a construtora a firn
de exarrrinar o seu assoalho, nem se pode dizer o que poderia
ter acontecido a ela ou rnesrno a terceiros, ou qual teria sido a
dimensão do prejuízo de todos. Da rriesrna forrna, se não reagi-
rnos às adversidades que cruzam o nosso carniriho clamando ao
124 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

Senhor por entendimento, também incorreremos em grande


risco. Através dos ventos da adversidade, Deus deseja revelar
coisas ocultas: as características e os padrões de comportamen-
to que têm o potencial de arruinar futuros relacionamentos,
e
prejudicar o nosso testemunho, algum dia destruir a nossa fa-
mília. Não fuja. Não procure ignorar o que Deus está fazendo.
Colocar Deus de lado irá apenas ferir você mesmo.
Examinar o interior pode ser uma experiência dolo-
rosa. Mas lembre-se, seja o que for que descubra, não importa
o quanto possa doer, o próprio Jesus está lá para ajudá-lo a
carregar esse fardo até a cruz, e a tratar dele de uma vez por
todas. Ele deseja o melhor para você. Ele sabe que o sofrimento
algumas vezes prepara o caminho a fim de completar a cura e
a restauração do homem interior.
Em seu livro Alfliction [Aflição], Edith Schaeffer, esposa
do falecido Francis Schaeffer, inclui uma oração por aqueles
que estão lutando com o sofrimento, que tantas vezes está en-
volvido no processo da santificação:

Por favor, permita-me sair disso mais íntimo de ti, mais


maduro como seu filho, com a eliminação de algumas das
impurezas que estragam o reflexo da sua face quando se
volta para mim.

Se você está disposto a permitir que Deus traga à tona


as incoerências e mágoas, ocultas e sempre tão sutis em sua
vida, e se está disposto-a enfrentá-las do modo que ele orientar,
realmente irá emergir do processo todo mais íntimo de Cristo,
rnais maduro corno filho de Deus e com um. potencial muitas
vezes maior de refletir o seu amor.
UMA LIÇÃO DE HUMILDADE 127

imediatamente como pregador e professor talentoso. Sua igreja


começou a crescer rapidamente. Passado muito pouco tempo
como pastor, foi proclamado como um dos jovens pregadores
que mais se destacavam nos Estados Unidos.
Algo, porém, aconteceu. Ele começou a confundir
quem realmente merecia os aplausos. Instalou-se o orgulho.
Era como se nunca tivesse deixado o campo de futebol. Passou
a agir em função da multidão. Foi ficando dependente do lou-
vor e da aceitação dos homens. Sua perspectiva distorcida co-
meçou a afetar a sua capacidade de tomar decisões. Logo, tudo
o que fazia passaria a depender do que todos os outros iriam
pensar. Após uma série de decisões descabidas, foi convidado a
deixar a igreja. Foi a última coisa que ouvi sobre Ben.
Deus odeia o orgulho. Foi o orgulho que fez do pe-
cado uma realidade na criação de Deus. E foi o orgulho que
introduziu o pecado neste mundo:

Temer o SENHOR é odiar o mal;


odeio o orgulho e a arrogância,
o mau cornportamcnto
e o falar perverso (Provérbios 8:13).

Deus odeia tanto o orgulho que está disposto a permi-


tir que a adversidade entre na vida de seus filhos de modo a ar-
rancá-lo de lá. Como veremos, Deus despreza tanto o orgulho,
que está até mesmo disposto a ir tão longe quanto enviar uma
adversidade, a fim de evitar que o orgulho venha sequer a ser
um problema. Portanto, a quarta razão por que Deus permite a
adversidade em nossa vida é para vencer o nosso orgulho.
128 : A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

Por que eu?


Em sua segunda carta à igreja de Corinto, Paulo fa-
lou sobre o seu "espinho na carne". Aparentemente, isso era
um tipo de adversidade, talvez física, que lhe' causava muito
desconforto e ansiedade. Essa adversidade o levou a ficar de
joelhos e a fazer um sério auto-exame. Depois de suplicar ao
Senhor para rernover aquele espinho, descobriu algo sobre si
rnesrrio. Durante aquele período de intensa investigação de sua
alma, Deus revelou a Paulo a razão para aquele "espinho".
Paulo a descreve da seguinte forma:

Para impedir que eu me exaltasse por causa da grandeza


dessas revelações, foi-me dado um espinho na carne, um
mensageiro de Satanás, para me atormentar (2 Coríntios
12:7 - ênfase minha).

Antevendo a possibilidade de Paulo se tornar orgulho-


so, Deus permitiu um mensageiro de Satanás a fim de "ator-
rnentá-lo". O espinho na carne era a maneira de Deus realizar
uma espécie de manutenção preventiva. Era o seu rnodo de
garantir que a popularidade e o privilégio espiritual especial
de Paulo não o conduziria a pensar rnais elevado de si rnesrno
do que deveria. Deus conhecia o potencial de Paulo para o seu
Reino, e faria tudo o que pudesse para assegurar que o ego
dele não interferisse em seu ministério.

Reconhecendo o seu potencial


Deus conhece o seu potencial para o Reino dele. Sabe
que tipo de influência você poderia exercer. A maioria dos
cristãos subestima o seu potencial espiritual. Eles pensalll assim:

J lo I..... ..U I •• , • , ..
UMA LIÇÃO DE HUMilDADE 129

o que eu poderia fazer para Deus? Ele não precisa de mim. Mas
não é urna questão de Deus precisar ou não de você, meu caro.
A questão é que Deus escolheu você para representá-lo dentro
de sua esfera de influência. Sua esfera pode ser a sua casa. Pode
ser o escritório ou a equipe com a qual trabalha. O tamanho
não é irnp ortante, Você pode ser a única pessoa no mundo a
quem alguém em especial do seu trabalho daria ouvidos. E se
você for a diferença entre o céu e o inferno para uma só alma,
já tem um. potencial trem.endo!
Existe uma outra área cujo potencial espiritual é fre-
qüentemente ignorada. Nossa tendência é a de nos concentrar
no trabalho público e notório do Reino. Mas um aspecto re-
servado e privado do trabalho do Reino de Deus se faz igual-
m.ente (se não mais) importante: a oração.Todos possuím.os um
grande potencial através da oração, pois a essência da vida es-
piritual é a luta que ocorre nas regrões celestiais (veja Efésios
6: 12). A oração é a participação do cristão nesta batalha celes-
tial. Somente os céus irão revelar os verdadeiros heróis espiritu-
ais. Creio que haverá muitas pessoas que serão altam.ente hon-
radas e que permaneceram desconhecidas nesta vida; que, no
entanto, deram. apoio em oração com toda a fidelidade àqueles
dedicados ao ministério público.

o lado negativo
Deus não é o único que reconhece °
seu potencial.
Satanás também está de olho nele. Ele adora pegar o sucesso
de alguém para usá-lo contra a própria pessoa. Ele se regozija
ao convencer pregadores, professores e cantores de que são re-
almente tão "maravilhosos" quanto as pessoas andam dizendo
que são. Ele é especialista em. desenvolver um. espírito altivo
e crítico naqueles que vêem a oração corno sendo o seu cha-
130 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

mado, pessoas que dizem:"Aposto que o pastor nem ora tanto


quanto eu." Ele é mestre em confundir conselheiros quanto à
fonte de sua sabedoria e discernimento. Satanás sabe que nada
pode levar um homem ou uma mulher a perder a sua utilidade
para Deus como o orgulho. Nenhum outro pecado neutraliza
um ministério tão rápido quanto o orgulho.
Deus usou Jonas não obstante a sua rebelião. Usou Davi
a despeito de sua imoralidade. Usou até mesmo Abraão depois
que ele demonstrou falta de fé quando mentiu ao faraó. No
entanto, onde quer que se encontre um homem nas Escrituras
inflado de orgulho, lá se encontra o princípio do fim.
Nabucodonosor é um exemplo perfeito. Um dia era
o rei da Babilônia; no outro, se tornara um louco (veja Daniel
4:30-33). Por quê? Orgulho. Foi o orgulho de Salomão que
acabou por destruir o seu reinado também. O orgulho fará
com que Deus ponha um homem ou mulher na geladeira mais
rápido do que qualquer outra coisa, porque Deus se recusa a
dividir a sua glória com quern quer que seja:

o orgulho vem antes da destruição; o espírito altivo, antes


da queda (Provérbios 16: 18).

Deus se opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos humildes


(Tiago 4:6).

Um cristão que se torna orgulhoso vive em oposição


a Deus. A vida cristã é uma vida projetada para ser vivida em
dependência. Quando o orgulho se instala na vida de alguém,
lentamente perde o senso de dependência, porque a essência
do orgulho é a auto-suficiência. Ao permitir que o orgulho se
infiltre em sua personalidade, o cristão desenvolve uma atitude
com a vida que está diametralmente oposta ao propósito de
UMA LIÇÃO DE HUMILDADE 131

Deus. Deus não ajuda os orgulhosos, não encoraja os orgulho-


sos, não ampara os orgulhosos. Ele resiste aos orgulhosos.

Não é de se admirar
Diante de nosso potencial para o Reino, e do efeito
devastador que o orgulho possui em relação ao nosso relacio-
namerito com o Pai celestial, é compreensível por que Deus
é capaz de ir tão longe, e de forma tão dolorosa, a firn de nos
rnanrer hum..i1des. Irnagine o quanto Deus deve ter amado o
apóstolo Paulo. Ele permitiu que Paulo escrevesse rnetade do
Novo Testarnento!
Ainda assim lhe infligiu tribulação corn um espinho na
carne, que perlllaneceu corn ele por toda a sua vida. A única
forma de conciliar um privilégio desses com um sofrimento
dessa dimensão, é reconhecendo-se o quanto Deus odeia o
orgulho; sendo, no caso de Paulo, até rnesm.o o potencial para
o orgulho.
Se Deus estava disposto a cortar definitivam.ente o or-
gulho de Paulo, fazendo-o passar por uma adversidade, não
seria razoável supor que ele faria o mesmo conosco? Não seria
o nosso potencial para o Reino de Deus tão irrrporrante para o
nosso Senhor quanto o de Paulo? Estaria Deus menos interes-
sado eIT1 desenvolver um relacionamento íntimo conosco, do
que esteve com. o apóstolo? Claro que não. Portanto, a adver-
,
sidade que você pode estar enfrentando neste exato momento
pode ser a form.a de Deus dornar o seu orgulho.
Pense nisso do seguinte modo: Caso você soubesse que
o seu orgulho possui o potencial de irnpcdi-Io de ser tudo o
que Deus deseja que venha a ser, estaria disposto a pedir a Deus
que fizesse o que fosse necessário para mantê-lo sob controle?
Bem, se a idéia de fazer urna oração como esta o leva a estre-
132 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

rrrecer, então tenho boas e rnás notícias. As boas notícias são


que você não precisa pedir a Deus para enviar algo elll sua vida
que clorrie o seu orgulho. As más são que ele rrruiro provavel-
rrierite o fará por sua própria iniciativa!
A tragédia é que algtrrrias pessoas são espertas o bas-
tante para sair pela tangente, escapando da adversidade que
Deus tencionava usar. Usando de sua própria ingenuidade e
deterrninação, elas rnanrpularn as situações de tal rnarieira que
acabam saindo por urri atalho, fugindo assirn do plano de Deus
para mantê-las huITlildes. Pode ser que isso funcione por curtos
períodos, rnas rririgu.érn é capaz de passar a perna ou ser rnais
sábio do que Deus! Por algurn tempo essas pessoas são capazes
de continuar vivendo ou rniriistrando COIllO se nada tivesse
rrrudado. Po rérrr, Ierrtarrrerrre, a verdade corrreça a vir a público.
As pessoas corneçarn a perceber certas rrmdanças, UITla falta de
autoridade, certa presunção e, algrrmas vezes, até rnesrrio sern se
darem conta, Deus as põe na geladeira.

A história de Sheila
Havia trma rrrulb.er muito talentosa erri nossa igreja há
rrmitos anos, que era particularrnenre boa no lidar COITl osjovens.
As crianças de nossa igreja eram atraídas por ela corno jamais
vira acontecer a algiaérn antes. A sua personalidade agradável,
j uritarnerrte com a sua habilidade para se corrruriicar, faziam com
que fosse urna professora excelente e urn rnodelo a ser seguido.
Porérn, COlllO na verdade acontece COIn freqüência a pessoas ta-
lentosas, tinha urna inclinação por confiar UITl tanto exagerada-
rrierrte nos elogios de terceiros. COIllecei a notar urna mudança
ern sua atitude para COUl o seu trabalho e rninistério.A aprovação
dos outros se tornou mais irrrpor'tante do que a aprovação silen-
ciosa de Deus. O orgulho passou a assumir o controle.
UMA LIÇÃO DE HUMILDADE I 133

Enquanto ocorria essa mudança, pude observar Deus


tentando por duas vezes fazer com que Sheila se humilhasse.
Sua primeira tentativa foi através de um de seus filhos, Sua
filha mais velha nasceu com uma condição física que causava
a Sheila muitas situações embaraçosas. Em vez de acolher a
dificuldade de sua filha, e de assumir o compromisso de amá-
la independente do custo social ou financeiro, Sheila rejeitava
Mindy. Ela a criticava em público por situações que não podia
controlar Mindy. No fim das contas, Sheila provocou uma situa-
ção para que outras pessoas passassem a tomar conta de Mindy
até que ela adquirisse mais independência. E Sheila sempre
justificava seu comportamento falando da alta importância de
. . , .
seu nurusterio.
Poucos anos depois, o marido de Sheila perdeu o em-
prego. Em decorrência disso, perdeu também a autoconfiança.
Ficou um bom tempo sem trabalho até finalmente conseguir
um emprego na prefeitura. Sheila não estava acostumada nem
com o tipo de trabalho que ele fazia, nem com o salário que
trazia para casa. Mais uma vez ela deu um jeito de escapar do
que acredito ter sido outra tentativa de Deus para que voltasse
a ser humilde. Em vez de apoiar o marido quando ele realmen-
te precisava dela, ela o deixou.
Não vejo Sheila já há um bom tempo. Depois que dei-
xou o marido, começou um negócio por conta própria. Não
muito tempo depois, desistiu de todas as suas responsabilidades
com o ministério na igreja. A última coisa que ouvi a seu res-
peito foi que ela estava indo bem nos negócios, mas que estava
.
completamente longe do Senhor. Um sucesso aos olhos do
mundo, mas de modo algum aos olhos de Deus. '
134 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

Amor sofrido
Exatamente do mesmo modo por que Deus tinha
grandes planos para o apóstolo Paulo, ele tem grandes planos
para você. Existem pessoas não salvas que só você pode alcan-
çar. Existem santos sofrendo que só você pode consolar. Deus
não irá deixar seu potencial ser reduzido, mas agirá.
Como Sheila, você também pode resistir. Entretanto,
só irá ferir a si mesmo. Por mais dolorosa que seja, a adver-
sidade é urna demonstração do amor de Deus. Ao agir para
vencer o seu orgulho, Deus age de maneira a preservar o seu
potencial e a sua vida. O orgulho é sempre seguido por algum
tipo de destruição. Pode ser a destruição da família, da carreira,
da própria vida.
Você está enfrentando algum tipo de adversidade? Tal-
vez Deus tenha permitido uma situação difícil em sua vida a
fim de vencer o seu orgulho. Se for este o caso, você estaria
disposto a lhe agradecer? Não pela adversidade em si mesma,
mas por seu grande amor e cuidado por você e por sua família.
Se você puder louvá-lo com sinceridade,' de coração, por seu
cuidado e envolvirnento atuante em sua vida,já terá dado um
gigantesco passo em direção à superação de sua adversidade.
Capítulo Dez
o poder da fraqueza

Uma de minhas histórias favoritas do Antigo Testamento é


a história de Davi e Golias. Do ponto de vista do narrador,
um estranho poderia achar todo o incidente um tanto cômico.
.Parecia que todas as manhãs os israelitas se alinhavam em um
dos lados da colina preparando-se para a batalha. Exatamente
quando estavam prontos para pelejar contra os filisteus, Golias
surgia caminhando pelo vale. Parado, vestido para a batalha,
tendo o seu escudeiro a seu lado, começava a gritar aos israe-
litas, desafiando-os a virem pegá-lo. Neste ponto, todo o exér-
cito de Israel dava meia-volta e retornava rapidamente ao seu
acampamento (veja 1 Samuel 17:1-24).
Aparentemente, essa rotina de eventos vinha ocorren-
do já há algum tempo, quando Davi surge em cena. Depois de
passar algum tempo com os seus irmãos, catou cinco pedras e
desceu o vale a fim de desafiar Golias. Outra vez, para qualquer
136 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

observador do alto da colina, isso deve ter sido divertido. Ima-


gine só: Davi e sua atiradeira indo ao encontro do gigante com
as suas armas de guerra. Mas, para a surpresa de todos (incluin-
do a do próprio Golias), Davi foi o vencedor.
Muitas lições importantes podem ser extraídas dessa
conhecida narrativa. E muitas mensagens inspiradoras e emo-
cionantes já foram pregadas sobre Davi, concernentes a sua fé e
coragem. Entretanto, vamos olhar a história apenas por alguns
instantes pela perspectiva divina. Fazendo isso, obtemos uma
compreensão valiosa do modo de Deus pensar e descobrimos
uma outra maneira com que ele usa a adversidade em nossa
vida.
Por que Deus escolheu usar Davi no encontro com
Golias? Ele não fora treinado, era despreparado e inexperiente,
e era muito jovem. De uma perspectiva puramente humana,
não havia nada a seu favor. Havia no local milhares de solda-
dos israelitas, bem treinados, que seriam candidatos muito mais
promissores. Não obstante, Deus escolheu Davi. Por quê?

E se... ?
Imagine por alguns instantes que você fosse o estranho
de quem falei a alguns parágrafos atrás. Está assentado sobre um
dos lados da colina e observa tudo isto acontecendo. Você vê
Golias entrando no vale em sua visita diária. E então observa
uma agitação entre os soldados israelitas. Um grito de aclama-
ção se eleva de suas fileiras quando um dos seus empunha sua
espada e escudo e se dirige vale abaixo. Embora esse camarada
não seja tão grande quanto Golias, com certeza também não
está nem um pouco inseguro. Quando se posiciona para lutar,
fica claro que já esteve em muitas batalhas, e que provavelmen-
te já enfrentou grandes desafios.
o PODER DA FRAQUEZA 137

Então, de repente os dois guerreiros se lançam um con-


tra o outro. Por vários rnorneritos parece que o valente lutador
israelita encontrou o seu destino. Mas, em seguida, mais rápido
do que um piscar de olhos, nosso herói executa uma manobra
incrível que apanha Golias de surpresa. Enquanto o gigante se
esforça para retomar a sua vantagem, o israelita atravessa seu
peitoral com a espada e cai com ele ao chão. Por alguns ins-
tantes os dois se engalfinham em uma luta junto ao chão. No
entanto, a estocada revela-se fatal, e logo o corpo de Golias jaz
inerte. O soldado israelita ergue-se leritamente, apanha a espa-
da do gigante e, com um só golpe, separa a cabeça do filisteu
de seu corpo. Os homens do exército israelita festejam entu-
siasticamente enquanto os seus inimigos fogem.
Estimulante, não? Porém não tão surpreendente assim.
Já vimos alguém em aparente desvantagem vencendo antes.
Além do mais, Golias cometeu um erro tático e Davi apro-
veitou a vantagem.. Não foi grande coisa. Poderíamos falar no
assunto em termos tão-somente de habilidade militar e deixar
Deus completamente fora da situação. Deus não optou por
enviar um soldado exatamente por essa razão. Em lugar disso,
escolheu um jovem pastor de ovelhas. Ele procurou por al-
guém que visivelmente não tivesse a menor chance de sucesso.
Alguém que dependesse plenamente dele. Um instrumento
através do qual ele pudesse demonstrar o seu grandioso poder,
de tal forma que recebesse todo o crédito. Quando Davi ma-
tou o gigante naquele dia, não havia nenhuma dúvida em sua
mente quanto a quem o entregou em suas mãos (veja 1 Samuel
17:37). E não houve dúvidas na cabeça de mais ninguém, de
igual modo.
138 : A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

A escolha de Deus
o fato é sirnplesrnerite o seguinte: Quanto maior o de-
safio} melhor para Deus. Nosso Pai celestial recebe rnuito maior
atenção e~ corno conseqüência, maior glória quando age por
rrieio de pessoas que o mundo considera fracas. O apóstolo
Paulo coloca a questão coriforrne a seguir:

Mas Deus escolheu o que para o rriurrdo é loucura para


envergonhar os sábios, e escolheu o que para o Inundo é
fraqueza para envergonhar o que é forte. Ele escolheu o
que para o rnundo é insignificante, desprezado e o que nada
é, para reduzir a nada o que é, a fim de que ninguém se
vanglorie diante dele (1 Coríntios 1 :27-29).

Repare na segunda frase. Deus escolhe usar as coisas


fracas do rnurido. Ele não tem que fazer isso. Ele o faz por es-
colha. Quando usa o que é fraco, seu poder e majestade ficam
muito mais evidentes.
Mas COIllO tudo isso se encaixa em nossa discussão so-
bre a adversidade? Llrna das razões para que Deus permita a ad-
versidade ern nossa vida é para nos levar a confiar em. sua força,
e não na nossa. Ao fazerrnos isso, ele aperfeiçoa o seu poder erri
nós (veja 2 Coríntios 12:9). Confiar em seu poder rnanifesta
sua suficiência conosco e com todos que estão familiarizados
com a nossa situação. A vitória de Davi foi uma fonte de rego-
zijo e de estímulo para toda a nação de Israel. E assim ocorre
quando Deus age através de um de seus filhos, independente
da sua fraqueza individual.
o PODER DA FRAQUEZA 139

Deficientes
As adversidades sempre nos deixam de alguma for-
ma deficientes. Ou elas nos enfraquecem fisicamente, ou
nos drenam tanto ernocionahnente quanto rnentalrnente.
As adversidades impedem-rios de funcionar cem por cento.
Nossa mente fica dividida. Nosso nível de energia se reduz.
E até mesmo as tarefas m.ais simples se transform.am em grandes
provações. Atividades que antes nos tom.avam algumas poucas
horas passam a levar o dia inteiro, Diminuem. o nosso humor e
a nossa disposição. Ficamos com.pletamente irritados diante da
menor provocação.
Recentemente tive que lidar com. um.a situação fami-
liar muito sensível. Meu padrasto é cego e não pode mais cui-
dar de si m.esmo. Isso estava deixando a minha mãe seriamente
extenuada. Apesar da pressão que tê-lo em casa representava
para ela, não queria que eu colocasse John ern uma casa de
repouso. Não conseguíamos chegar a um acordo sobre o as-
sunto. No fim das contas, depois de muita oração e conversa,
coloqueiJohn na melhor casa de repouso para idosos que pude
encontrar. Depois de visitá-lo no sábado, mam.ãe resolveu que
eles não estavam tomando conta dele corno dever'iam e assim
arrumou suas coisas e o trouxe de volta para casa. Pobre John.
Por algum. tempo ele ficou sern saber, de uma semana para
outra, onde haveria de morar.
Lembro-me de sentar para estudar e de ficar tentando
rne concentrar em. meu trabalho. A minha rnerite ficava diva-
gando; me pegava olhando fixamente para fora da janela, pen-
sando em. mamãe e John.Vê-la sofrer me angustiava. Entretan-
to, não queria forçá-la a fazer algo contra a sua vontade. Aquele
incidente serviu para me deixar deficiente tanto mentalmente
quanto ernociorialrnente.
140 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

Esta é a natureza de toda adversidade. Ela nos rouba os


recursos de que necessitamos para funcionar de maneira apro-
priada. As áreas onde costumamos ser fortes se torriam as nos-
sas maiores fraquezas. A adversidade nunca é esperada ou bem
.-
recebida. E urna intrusa e UITla ladra. Ainda assim, nas mãos de
Deus, a adversidade transforma-se no rneio através do qual o
seu poder sobrenatural é demonstrado.

Poder peifeito
o apóstolo Paulo sern dúvida alguma entendeu esse
princípio. Depois de pedir a Deus por três vezes que retirasse
aquele seu espinho na carne, afinal recebeu UITla resposta. Não
era a que ele estava esperando. Deus disse-lhe com todas as le-
tras que não retiraria o espinho. No entanto, iria supri-lo com
a força extra necessária para dar continuidade ao trabalho a que
fora chamado.

Mas ele me disse: "Minha graça é suficiente para você, pois


o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza." Portanto, eu me
gloriarei ainda mais alegremente em minhas fraquezas, para
que o poder de Cristo repouse eITl mim. (...) Pois, quando
sou fraco é que sou forte (2 Coríntios 12:9-10).

Assim como todos nós, Paulo desejava que as suas cir-


cunstâncias fossem boas. Por isso, ele orou desta forma: "Se-
nhor, livra-me deste espinho". Mas Deus queria que Paulo
convivesse com uma deficiência. Era de sua vontade que ele
permanecesse fraco. Contudo, não pela fraqueza em si. O pro-
pósito de Deus era o de reduzir a dependência de Paulo em
sua própria força, em sua própria sabedoria e em seu próprio
raciocínio. Deus queria que Paulo exercesse o seu ministério e
o PODER DA FRAQUEZA 141

vivesse a sua vida a partir de suas próprias fraquezas, e não de


suas forças. Essa é a idéia que está por trás da expressão "poder
(que) aperfeiçoa na fraqueza".
O termo aperfeiçoa não significa perfeição no sentido
moral, como em perfeito contraposto a imperfeito; a idéia aqui
é a de ser "completado" ou de ser "manifestado plenamente".
Deus estava apresentando a Paulo um princípio geral: quanto
mais fraco for algo, mais será a sua necessidade de ser fortaleci-
do. Quando o que se encontra fraco for finalmente fortalecido,
a presença desta força renovada será melhor notada, quando
comparadas. Uma das melhores rnarieiras para Deus demons-
trar o seu poder é manifestando-o através de um vaso fraco
ou deficiente. Por essa razão, Deus permite que a adversidade
adentre a nossa experiência: não para o propósito de nos deixar
fracos ou incapacitados de darmos continuidade a nossa vida,
mas com O objetivo de nos capacitar por meio de sua força a
realizar o que, de outro modo, seria impossível.

Uma dolorosa prioridade


Da perspectiva divina, era mais importante para Paulo
experimentar do poder sobrenatural do que continuar vivendo
urna vida livre de sofrimentos ou de adversidades. Quanto mais
de perto se observa a vida de Paulo, rnais difícil é de se aceitar
isso. Ele foi apedrejado e dado como morto, passou por nau-
frágios, foi espancado, picado por serpente, e finalmente feito
prisioneiro - tudo pela causa de Cristo. Depois de tudo ter
acontecido, a reação de Paulo foi a seguinte:

Por isso, por amor de Cristo, regozijo-me nas fraquezas, nos


insultos, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias.
Pois, quando sou fraco é que sou forte (2 Coríntios 12:10).
142 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

Tenho visto homens e mulheres saírem de situações


muito menos extenuantes do que as de Paulo cheios de ira e
de hostilidade. Estavam com raiva pelo que Deus havia feito
com eles. Mas Paulo não. Por quê? Porque reconhecia tudo que
Deus permitia ser feito com ele como sendo apenas a prepara-
ção do que desejava realizar por ele.. Quanto mais Paulo depen-
dia da força do Senhor, mais ela se tornava como uma segunda
natureza sua. Sua fé em Cristo cresceu até o ponto que ele
pôde dizer com toda sinceridade: "Estou muito satisfeito com
as fraquezas".
A idéia de alguém ficar satisfeito com suas fraquezas
contradiz a mensagem que a sociedade nos envia regularmente.
N estes tempos de grandes almoços de negócios e de relações
poderosas, não é comum que as pessoas se entusiasmem com a
perspectiva de viver em uma condição de fraqueza. Entretanto,
depois que se examina a vida do apóstolo Paulo, dificilmente
se fica com a impressão de que ele era um homem fraco. Pelo
contrário, ele debateu com os apóstolos de Cristo sobre a ques-
tão da salvação dos gentios, e saiu vitorioso! Passou sua vida
pregando sob as circunstâncias mais hostis. Plantou igrejas em
todas as maiores cidades da Ásia Menor e nas cidades portuá-
rias ao longo do Mar Egeu. Paulo treinou os primeiros pasto-
res e presbíteros dessas congregações iniciais. E, para completar
tudo, escreveu metade do Novo Testamento!
Não sei quanto a você, mas isso COITl certeza não me
parece a descrição de UITl homem fraco. Se Paulo tivesse sido
um lrornern de negócios, teria sido extremamente bem-suce-
dido. Sabia como estabelecer objetivos e como concretizá-los.
Conhecia os princípios envolvidos na rrrotivação de pessoas.
Era UITl motivador de influência.
Sendo assirn, como podemos conciliar a reivindicação
de Paulo sobre a fraqueza e as suas surpreendentes realizações?
o PODER DA FRAQUEZA 143

Sirriples..A resposta encontra-se na expressão: "quando sou fra-


co é que sou forte". Urna paráfrase de seu comentário seria:
"Quando eu, Paulo, corn e pela minha força sou fraco, então
eu, Paulo, confiando no poder de Cristo eITl rnirn, me torno
forte, capaz de tudo o que o Senhor demandar de mim, pleno
de energia e de zelo para realizar e cumprir a sua vontade".

Em busca dos fracos


Deus quer operar através de nossas fraquezas da rnes-
ma forrna que operou através das fraquezas do apóstolo Paulo.
Pode ser que você tenha nascido COITl características que con-
I

sidera fraquezas. Ou pode ter nascido ern urna família que não
• A , •

o proveu COll1 as COIsas que voce pensa sererri riecessarras para


alguém ser bern sucedido. Quem sabe urna tragédia recente ou
trrna enferrrudade o tenha feito questionar-se a respeito de sua
utilidade ou sua dignidade.
Caso quaisquer dessas situações lhe soell1. fan1.iliares,
regozije-se!Você é exatamente o tipo de pessoa que Deus pro-
cura. Ele quer pessoas através de quell1. possa dcrnorrstrar o
seu rnajestoso e rnaravilh.oso poder, pessoas que conhecem as
suas fraquezas e estão dispostas a permitir que ele controle e
dirija as suas vidas. Deus busca Irorneris e rnulheres que estejam
dispostos a prosseguir ern rrie.io a desafios difíceis dernais para
suportarern, mas que confiem nele para levar a carga. Quer
pessoas que corrheçarn através da experiência o que Paulo quis
dizer quando escreveu: "Minha (de Deus) graça é suficiente
para você". Ele quer cristãos que se habituern COITl a fraqueza,
rnas que retiram dia-a-dia a sua suficiência e poder de Cristo!
Por mais vezes do que consigo me lemhrar, enfrentei
desafios que sabia estarem além de minhas habilidades. Já sofri
a rejeição de homens que considerava meus rnelhores amigos.
144 : A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

Houve ocasiões em que fui tão magoado e em que chorei


com tamanha intensidade que cheguei a dizer a Deus que me
encontrava pronto para morrer. Mas em meio às minhas ma-
nifestações de autopiedade, enquanto eu descrevia para o Pai
celeste o que eu podia e não podia fazer, ele sempre enviava
um lembrete gentil: "Charles, eu não estava interessado em sua
força e em sua habilidade quando o chamei. E continuo não
tendo interesse nelas agora. O que preciso saber é: você está
disponível? Se estiver, então vamos lá. Pois a minha graça é o
suficiente" .
Quero que reflita sobre algo neste ponto. A sua maior
fraqueza é a maior oportunidade para Deus. Em vez de ficar
reclamando e de suplicar a Deus que altere as suas circunstân-
cias, por que não pedir que ele preencha este vácuo com a for-
ça dele? Deus permitiu a adversidade em sua vida para afrouxar
a sua dependência sobre a sua própria força. É desejo dele que
você aprenda a viver na dependência dele para todas as coisas
de que tem falta. Na medida em que for se habituando com
esta situação, irá de fato passar a sentir-se contente. O poder
dele será aperfeiçoado em você. E à medida que se colocar à
disposição, o seu poder será demonstrado através de você na
vida dos outros. E juntamente com o apóstolo Paulo você será
capaz de se gloriar em suas fraquezas. Pois quando você é fraco,
então ele é forte!
Capítulo Onze
Fiel é o que vos chama

V ocê já deve ter ouvido alguém declarar que não sabia real-
mente quem eram os seus amigos até que tudo tenha ido por
água abaixo. Creio que há uma grande verdade nisso. Todos
nós já experimentamos a dor de descobrir que as pessoas que
pensávamos permanecer leais, não importando o que aconte-
cesse, foram amigos só para os bons momentos.Você sabe, ami-
gos cuja lealdade depende do clima das circunstâncias. Desde
que o relacionamento seja agradável, elas estão dispostas até o
fim. Entretanto, basta que a amizade comece a demandar certo
sacrifício da parte deles, fica difícil encontrá-los. A principal
medida da amizade está na escolha sobre de que lado os amigos
ficarão em tempos difíceis e controversos. Sendo esse ocaso,
sem algum tipo de adversidade jamais poderíamos saber quem
são os nossos amigos verdadeiramente leais.
146 : A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

De igual rnoclo, nunca cortheoerernos, de rnaricira pes-


soal, a fidelidade de Cristo à parte das adversidades. O resultado
seria que nossa fé nele jamais se desenvolveria, mas permane-
ceria estática. Deus permite-nos enfrentar adversidades princi-
palrriente para nos mostrar a sua fidelidade e~ em decorrência,
aurneritar a nossa fé. Se você é cristão, então torrrou a decisão
de confiar a Cristo o seu destino eterno. No entanto, não irá
experimentar a sua fidelidade neste aspecto em particular até
que venha a rnorrer, Deus quer mais de você e para você do
que um simples aquiescer intelectual quanto à fidelidade dele.
O seu desejo é que você a experimente na prática agora.
Caso nossa vida fique livre de sofrirnerrto, de aborreci-
mentos e de aflições, o nosso conhecimento de Deus perma-
necerá meramente acadêmico. O nosso relaci.oriarnerrto com
ele poderia, então, ser comparado ao de um tataravô, a respei-
to de quelll ouvirnos histórias, contudo nunca o encontramos
pessoalmente. Teríamos grande admiração por ele, porém sern
intimidade, e sern companheirismo. Haveria sell1pre trma sen-
sação de distância e de mistério.
Esse não é o tipo de relacionamento que Deus .-.:~~~~.i
ter com os seus filhos. Por rneio da morte de Cristo, Deus
abriu caminho para que tivésserrios acesso direto a ele. Deus
não mediu esforços para remover os obstáculos, de maneira a
que nada ficasse entre ele e os seus filhos. Agora existe a pos-
sibilidade de haver iritirriidade entre nós e o nosso Criador.
Cristo foi até o ponto de declarar que SOIllOS seus amigos (veja
João 15:14-15).
Deus atua criando circunstâncias através das quais possa
se revelar a cada urn de nós. E a história, assim como os nossos
testemunhos pessoais, testificam o fato de que é em tempos de
adversidade que adquirimos maior conscientização da incrível
fidelidade de Deus conosco.
FIEL É O QUE VOS CHAMA 14'

Por exemplo.. .
Im.agine com.o a cornpreerisão de N oé quanto à fide-
lidade de Deus deve ter aumentado depois de ter sido salvo do
Dilúvio. Pense em com.o a fé que Davi possuía aumentou de-
pois de sua luta com. um leão e com um urso que vieram. para
devorar as suas ovelhas: Não consigo nem rnesrno im.aginar o
que se passava na cabeça de Gideão, quando Deus lhe disse que
ele tinha soldados demais, e que precisava se livrar da maior
parte deles (veja Juízes 7)! Porêrn, depois da vitória, sua fé al-
cançou as alturas. Deus usou o Mar Vermelho e )ericó a fim.
de demonstrar a sua fidelidade a Israel. Usou o egoísm.o de Ló
na vida de Abraão. E poderíamos prosseguir citando exem.plos
sem. fim. Em todas as situações, a adversidade foi o meio através
do qual Deus revelava a sua fidelidade a seus servos.
O salmista expressou esta realidade do seguinte modo:

Busquei o SENHOR, e ele rrie respondeu;


Iivrotr-rne de todos os meus temores.
(...) Este pobre homem clamou,
e o SENHOR o ouviu;
e o libertou de todas as suas tribulações.
(. _.) O justo passa por muitas adversidades,
rnas o SENHOR o livra de todas.
(Salmo 34:4, 6-7, 19)

Eis a descrição de alguém. que está provando da fide-


lidade de Deus. Um.a experiência que seria impossível à parte
de "temores", "tribulações" e "adversidades". Repare que o es-
critor não está deprim.ido ou zangado com Deus. Ao contrário,
,
a disposição revelada no salmo é bastante positiva e otim.ista. E
um. salmo de louvor e ação de graças. Onde existe adversidade,
148 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

existe sempre o potencial para o louvor. As mais elaboradas


celebrações descritas nas Escrituras sempre se seguiam a um
evento no qual Deus demonstrava a sua fidelidade através .da
adversidade.
Procure recordar-se da última vez em que louvou ao
Senhor de forma genuína por algo que ele tenha feito. Os
acontecimentos que o deixaram entusiasmado não foram de
algum modo afetados por alguma adversidade ou conflito de
qualquer natureza? É mais do que provável que sim. A fideli-
dade de Deus decorrente da adversidade geralmente é o que
catalisa o louvor. E, ao longo deste processo, a fé é aumentada
e fortalecida.

Meu últímo motívo de louvor


A série de acontecimentos que culminaram em minha
mais recente experiência de louvor foi repleta de adversidade.
. I

Durante a última semana estive envolvido em um diálogo con-


tínuo com uma moça que tomara a decisão de pôr fim à sua
gravidez através de um aborto. Ela sabia que era errado, entre-
tanto não conseguia suportar a idéia de contar à família e aos
amigos sobre a gravidez. Além do mais, acabara de dar início a
-uma nova carreira, e um bebê não se encaixava em seus planos
imediatos. Encontrei-me com ela e o seu namorado por cerca
de uma hora, sem chegar a nenhuma conclusão. Ao anoitecer,
depois que conversamos, ambos contaram a um amigo em co..;.
mum que não gostaram de minha tentativa de assustá-los.
Passados vários dias, sem saber que rumo estavam to-
mando, finalmente recebi notícias de que a moça decidira
prosseguir e ter o seu bebê. Ela me telefonou e se desculpou
por sua atitude, e até mesmo agradeceu por minha ajuda. Te-
nho louvado a Deus por sua fidelidade desde então. Não que

j. , ,.#', •• d.. ,.to· .


FIEL É O QUE VOS CHAMA 149

ele tenha sido rnerios fiel antes disso, rnas, ao pertnitir-ll1e tes-
termrrihar e experimentar a sua fidelidade em ação, a minha fé
foi aumentada.

No mundo real
Infelizmente, nem sempre as coisas saern tão bem as-
situo Algumas vezes as circunstâncias não terminam nem perto
do que gostaríamos. Pessoas por quelll orarnos morrem. Mari-
dos abaridonarn as suas mulheres e nunca rnais retornam. Filhos
afundam e arruínam as suas vidas independente da influência
de pais piedosos. Empresas abrern falência. Cristãos perdell1 os
\

seus empregos. E rrrilhares de rrmlh.eres levam a efeito abortos.


N o entanto, Deus não é rncnos fiel nessas situações do
que nas demais. A sua fidelidade, contudo, assume forrnas di-
ferentes. Não obstante, rnuitos cristãos são rápidos em duvidar
de Deus quando as adversidades não se resolvern do modo por
que consideram. apropriado. Como conseqüência, duvidam de
Deus.Alguns ficam COlll raiva e lhe dão as costas por com.pleto.
Não seria capaz de dizer quantos homens e mulheres estive
aconselhando que vrverarn anos erri rebelião contra Deus exa-
tamente por essa razão. Corno Deus não pôs fim às dificuldades
da forma que eles entendiam que deveria, eles o declararam.
infiel e foram embora.
Deus sempre é fiel às suas promessas. Em nenhum lugar,
entretanto, ele prometeu fazer com que as situações se resolves-
sern da maneira que entendernos que deveriarn ser resolvidas.
Se fosse assirn, ele não seria mais do que Ulll gênio ou rnâg'ico.
Os caminhos de Deus não são os nossos caminhos. E na mesma
linha, os seus objetivos rnuitas vezes não são os nossos objetivos.
N o entanto, ele é sempre fiel.
150 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

Igualmente fiel
A fidelidade de Deus nem sempre assume a forma de
livramento da adversidade. Freqüentemente Deus demonstra
sua fidelidade ao nos sustentar em meio à adversidade. Imagine,
por exemplo, um homem abandonado em uma ilha deserta.
Enquanto ele explora a ilha procurando por alimento, descobre
uma lancha levada pelas águas até a praia. Depois de examinar
um pouco mais, descobre que o tanque da lancha está cheio de
gasolina. Então dá a partida no motor e se manda de lá. Ele foi
livrado de ficar desamparado.
Vamos tomar o mesmo exemplo de novo. Apenas que,
desta vez, o homem não encontra um barco, e sim uma casa
deserta e um pomar de frutas. Dentro da casa ele encontra
todas as ferramentas de que necessitará para cultivar o pomar.
Embora ainda esteja abandonado e sozinho na ilha, possui tudo
. o que necessita para a sua sobrevivência. Poderá continuar com
a sua vida.
Sem dúvida todos irão concordar que a primeira si-
tuação parece ser muito melhor. Mesmo assim, o homem do
segundo cenário poderia ter ficado muito pior. Em ambas as
ilustrações o homem recebeu aquilo' de que necessitava para
sobreviver. Deus não muda as nossas circunstâncias dolorosas.
Ele nos sustenta em meio a elas. É a isso que o autor de He-
breus se referia quando escreveu:

Assim, aproximemo-nos do trono da graça com toda a confiança,


a fim de recebermos misericórdia e encontrarmos graça que
nos ajude no momento da necessidade (Hebreus 4: 16).

oescritor faz uma promessa muito interessante. Quan-


do estamos necessitados, Deus nos proverá com misericórdia e
FIEL É O QUE VOS CHAMA 15 t

graça. Esse versículo não promete urna mudança nas circuris-


tâncias, ou o Iivrarnerito do sofrimento e de nossos irrirnigos. O
texto simplesmente afirma que, quando passamos necessidade,
Deus derramará sobre nós nrisericórdia e graça. Por certo irí-
amos preferir que Deus nos livrasse em vez de nos sustentar,
ell1 rneio a nosso sofrirnento. Porém, ele não tern obrigação
nenhurna de fazer isso. E não deixa de ser inteirarnente fiel de
qualquer rnodo.
Paulo corn certeza não deixou de confiar na fidelidade
de Deus. Ainda assirn Deus não optou por retirar o seu espinho
da carne. Em vez disso, optou por sustentar Paulo em meio a
ele. Quando Paulo pediu por alívio, a_ resposta que recebeu
foi sim.ples: "Minha graça é suficiente para você" (2 Coríntios
12:9). Em outras palavras, "Paulo, você irá continuar sofrendo,
rnas se permanecer firme junto a mim, você conseguirá".

Graça sem medida


Em. seu fascinante livro A Shepherd's Look at Psalm 23}
Phillip Keller descreve a rnaravilhosa fidelidade de Deus du-
rante a enfermidade e a rnorte de sua mulher. Apesar do tanto
que Phillip deve ter desejado ver a sua esposa curada, ela não o
foi. MeSIllO assim ele escreveu:

Fico me lembrando repetidas vezes: "O '" Deus, isso parece

terrivelmente difícil, mas eu sei que, em verdade, ao fim de


tudo se comprovará ser o meio rnais fácil e suave de alcançar
UITla compreensão rnais elevada." Em seguida, depois de
agradecer pelas coisas difíceis, pelos dias de trevas, descubro
que ele está lá comigo em rriiriha aflição. Neste ponto, o
rneu pânico, o meu medo, as minhas apreensões, dão lugar a
UITla confiança serena e tranqüila em seu cuidado. De algum
rnodo, de urna forma suave e tranqüila, tenho certeza de que
152 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

tudo redundará para o meu bem, porque ele está comigo no


vale e tudo está sob o seu controle.
Chegar a uma convicção como esta na vida cristã é ter adquirido
uma atitude de serena aceitação de toda a adversidade. É ter
se mudado para um novo patamar de relacionamento com
Deus. Conhecê-lo desta nova e íntima maneira faz com que
a vida seja mais tolerável do que era antes.
Durante a enfermidade de minha mulher e após a sua morte,
eu fui surpreendido com a força, o consolo e o cuidado
amoroso comunicado a mim, praticamente hora após hora,
sem intervalo, pela própria presença do gracioso Espírito
de Deus. Era como se eu fosse revigorado e restaurado
repetidamente, apesar das circunstâncias tremendamente
desesperadoras à minha volta.

Poderia alguém negar a fidelidade de Deus a Phillip?


Embora Deus tenha escolhido não curar a sua mulher, foi
identificado como sendo fiel antes, durante e depois daque-
la dolorosa provação. Assim como fez com o apóstolo Paulo,
Deus escolheu responder ao clamor de Phillip por ajuda, com
sua graça e misericórdia sustentadora.

Uma observação pessoal


Não sou nem um pouco diferente da maioria das pesso-
as, quanto a preferir que Deus me livre das adversidades do que
me sustente em meio a elas. As maiores lições da minha vida, no
entanto, foram-me ensinadas durante períodos de adversidades
prolongadas. Um fato específico tem sido um fardo para mim
por doze anos. Já orei, já jejuei, e algumas vezes literalmente
gritei para que Deus removesse este peso dos meus ombros. En-
tretanto, a sua resposta tem sido sempre: "Charles, minha graça
é suficiente para você". E, louvado seja Deus, realmente é! Em
todos os momentos de todos os dias, ela é.
FIEL É O QUE VOS CHAMA 153

Existem horas em que ajo por minhas próprias forças.


Quando faço isso, sinto-me sob pressão _o tempo todo. Em se-
guida começo a reclamar de novo: "Senhor, como espera que
eu seja um bom marido e um bom pai, prepare as pregações ~
mantenha tudo em ordern na igreja, quando ainda tenho que
suportar esta carga extra?" Quando afinal me aquieto o sufi-
ciente para escutar, ele me faz recordar através de sua Palavra
ou na privacidade de meu coração que não espera que eu faça
qualquer coisa por conta própria. E, quando o permito, ele
provê graça e força em minha hora de necessidade.
Em rneio a toda esta situação, eu tenho saído com uma
maior percepção de quem Deus é. Compreendo de uma rna-
neira bem mais profunda o seu compromisso com os seus fi-
lhos. Sei, sem a menor sombra de dúvidas, que servimos a um
Deus fiel, UITl Deus em quem podemos confiar até mesmo
em meio aos mais sombrios vales, alguém cuja graça sempre é
suficiente e oportuna.
Querido amigo, não conheço a natureza da adversida-
de que você está enfrentando desta vez. Mas o que realmente
sei é que, se você o permitir, Deus usará esta provação para
aumentar a sua fé em sua fidelidade. Ele irá se revelar a você
de maneira que só lhe é possível em tempos de dificuldades e
de sofrimento.
Sob rierrhurna outra circunstância somos forçados a
depender tão cornpletamerite da misericórdia e da graça de
Deus. E é somente quando somos levados a descansar em seu
poder sustentador que aprendemos o quanto ele é apropriado;
e é somente então que ficamos sabendo por experiência pró-
pria o quanto ele é fiel.
Talvez Deus tenha escolhido deixar as suas circunstân-
cias da forma em que se encontram. Talvez nunca mais venha
a se sentir rnclhor. Pode ser que a sua mulher jamais retorne.
154 ' A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

Quem sabe nunca mais se recupere financeiramente a ponto


de voltar ao nível econômico que possuía anteriormente. En-
tretanto, Deus não ficou menos fiel, e irá provê-lo de miseri-
córdia e graça nas horas de necessidade.
O Senhor não disse a Paulo: "Minha graça será sufi-
ciente para você", ou "Minha graçajáfoi suficiente para você".
Ele disse: "Minha graça é suficiente para você". O verbo está
no tempo presente; o que significa neste exato instante. E assim
pode ser na sua experiência caso decida confiar nele. Então,
você será capaz de dizer com o apóstolo Paulo:

Portanto, eu me gloriarei ainda mais alegremente em minhas


fraquezas, para que o poder de Cristo repouse em mim (2
Coríntios 12:9).
Capítulo Doze
Consolado para consolar

Tão logo Bill Jackson entrou em meu escritório e se sentou,


soube que estava sofrendo. Bill era o pastor de uma igreja de
outro estado. Ele e a sua família chegavam ao fim de suas férias
de verão, e decidiram no último instante passar por Atlanta e
visitar a nossa igreja. Aquela decisão de última hora acabou se
comprovando providência divina.
Bill fora chamado para pastorear a Igreja Batista de Ri-
ver Park, cerca de um ano e meio antes de sua visita. Durante
o primeiro período em que Bill esteve lá, Deus abençoou ri-
camente a igreja. Pessoas estavam sendo salvas, famílias estavam
se reconciliando e a igreja vinha crescendo numericamente
em todos os segmentos. Alguns "líderes", porém, não estavam
satisfeitos com o que vinha acontecendo. Eles ficaram no con-
trole por muito tempo, e agora viam este controle escorrendo
de suas mãos. Em vez de se alegrarem com o que Deus estava
156 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

realizando, passaram a criticar Bill e a sua família. Diziam que


ele estava negligenciando os mais velhos.Acusaram-no de fazer
pregações evangelísticas em excesso. E que não gostavam de
seu estilo de liderança, seja lá o que quisessem dizer com isso.
...
A rnedida que Bill derramava o seu coração, tive uma
profunda empatia com tudo que ele vinha sentindo. Já tinha
enfrentado circunstâncias muito similares quando cheguei à
Primeira Igreja Batista de Atlanta. Quando rerrnirrou , contei-
lhe a minha história. Expliquei da melhor forrna que encontrei
a dor experim.entada durante aquele período de rniriha viela.
Descrevi a rniriha raiva e frustração, o meu desejo de falar a
toda aquela m.ultidão tudo o que pensava deles. Contei-lhe
sobre as vezes erri que pensei ern Iargar tudo.
A seguir, descrevi as surpreendentes maneiras que Deus
usou para dem.onstrar a sua fidelidade à m.inha fam.ília e a rnirn,
Mostrei-lhe as passagens das Escrituras que me sustentaram.
Relatei os acontecimentos que acabaram, no fim das contas,
mudando o curso da maré, Depois o deixei atualizado quànto
a tudo o que Deus tem feito em nossa comunhão desde então.
Quando terminamos, a sua atitude mudara por completo. Fi-
cou entusiasmado com relação a tudo o que Deus estava para
fazer em River Park.
Quando estava para sair, voltou-se e confessou: "Sabe,
não creio realmente que teria sido capaz de vir até aqui para
visitá-lo. E, para ser franco, não acreditava realmente que você
pudesse compreender pelo que eu estava passando. Graças a
Deus, eu estava errado nos dois aspectos! Fico muito feliz".
Esta não foi a prirueira vez em que ouvi uma história
COITlO a de Bill. Nem foi a última. E não tenho a menor dúvida

de que Deus continuará trazendo pastores desanimados a fim


de se encontrarem c o rnigo, para que eu possa cornparcilhar
com eles e encorajá-los. Como sei disso? Porque Deus per-

j II ....- ..'" •
CONSOLADO PARA CONSOLAR 157

mitru que eu passasse por aquela terriporada de adversidades


tambérn para rne preparar para isso: consolar e encorajar outros
que estivessern passando por circunstâncias sitnilares.
Deus quer cada um de nós envolvido no ministério de
consolar os outros. No entanto, antes que você se apresse em
ser voluntário, lembre-se de trrna coisa: quem nunca precisou
ser consolado é UIll consolador rmrito pobre. Assim chegamos a
mais UITla razão por que Deus pcrrnite que a adversidade che-
gue a nossa vida: para nos capacitar para consolarmos outras
pessoas.

Aprendendo da forma mais diflcil


Como tantas outras lições, tive que aprender esta da
forma mais difícil. Durante anos eu tive urna abordagem muito
simplista do aconselhamento com relação ao casamento. Eu
acreditava que, se as pessoas apenas confessassem os seus pe-
cados, iriarn viver felizes para selllpre. Assirn um casal vinha e
me contava a sua história. Eu apontava o seu pecado, instruía-
os a confessá-lo, dava-lhes alguns versículos para rnernoriza-
rem, orava COIll eles e os despedia. Era urn sisterna rnaravillaoso,
porque raramente tinha que agendar' urn segundo encontro.
O motivo disso, entretanto, não era a minha alta taxa de su-
cesso, rnas a relutância das pessoas em desperdiçar mais de seu
ternpo conversando corrrigo.
Meu problema era que eu nunca tinha visto um casal
tratando seus problemas de urna perspectiva cristã. Meu pa-
drasto não era cristão. Ele e a minha mãe nunca resolveram. ne-
rrhurna de suas divergências com sucesso enquanto eu crescia.
Até aquele momento, Anna e eu nunca havíamos discordado
de nada de grande rmportância. Eu realmente pensava que, se
UITl casal amasse a Deus e mantivesse os seus pecados confessa-
158 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

dos, tudo iria bem. Imagine só que grande" consolador" devo


ter sido para maridos e mulheres que estavam sofrendo.
Foi então que Deus aproveitou uma mudança nas cir-
cunstâncias a fim de aumentar a minha sensibilidade. Em 1970,
mudamos-nos para Atlanta, e eu fiquei muito ocupado. Casei-
me com o ministério e passei a negligenciar a minha família.
Levei vários anos para que pudesse perceber o quanto estava
errado e para colocar tudo de volta no lugar. Anna ficou muito
magoada e se sentiu muito rejeitada durante aquele período.
Houve momentos em que eu não estava certo se qualquer um
de nós conseguiria prosseguir.
Mas, em meio àquele doloroso processo, Deus fez de
nós consoladores, porque em nossos piores momentos ele nos
ministrava das formas mais doces. Algumas vezes por meio de
amigos compreensivos, outras vezes através de sua Palavra. Em
diversas ocasiões, simplesmente havia uma paz inexplicável a
permear a minha alma. Deus foi o nosso Consolador, o nosso
Encorajador e, literalmente, o nosso Salvador.
Hoje eu consigo sentir a dor de um homem ou de uma
mulher que entram em meu escritório e choram. Consigo me
identificar com o marido que deseja mudar de forma desespera-
da, mas não sabe ao certo por onde começar. Conheço em pri-
meira mão a frustração de uma mulher que ama o seu marido,
no entanto sente que o seu amor não é correspondido. E, mais
importante ainda do que ser capaz de me identificar com as suas
dores, aprendi a consolá-los e não apenas a dar conselhos.

o Deus de toda consolação


Por muito tempo eu acreditei que a capacidade de
consolar era apenas um subproduto do seu próprio sofrimen-
to. Mas repare no que o apóstolo Paulo diz em sua carta aos
Coríntios:
CONSOLADO PARA CONSOLAR 159

Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo,


Pai' das misericórdias e Deus de toda a consolação, que nos
consola em todas as nossas tribulações, para que, com. a
consolação que recebemos de Deus, possam.os consolar os
que estão passando por tribulações. (...) Se sornos atribulados,
é para consolação e salvação de vocês; se somos consolados,
é para consolação de vocês, a qual lhes dá paciência para
suportar os mesmos sofrimentos que nós estamos padecendo
(2 Coríntios 1 :3-4, 6).

De acordo com Paulo, Deus não consola o cristão so-


mente pelo próprio bem deste. Sua razão, em parte, para nos
consolar em tempos de tribulação, é que possam.os consolar a
outros de maneira mais eficaz. O apóstolo apresenta-se como
alguém que está passando adiante aos demais cristãos o mesmo
consolo que Deus usou para consolá-lo.
Ele vai além, entretanto, fazendo uma forte declaração
com relação ao propósito do sofrimento de um modo geral.
Ele diz: "Se somos atribulados, é para consolação (...) de vo-
cês". Isto implica em que parte do propásito para. a adversidade
que ele estava enfrentando consistia na capacitação para me-
lhor consolar os cristãos de Corinto. Em outras palavras, Deus
enviou a adversidade em sua vida apenas para fazer dele um
consolador mais eficaz. Isso significa mais do que um subpro-
duto do sofrimento; era parte do propósito de Deus.
O que foi verdade para o apóstolo Paulo é verdade
para todos os cristãos. Deus permite que a tragédia irrompa
em nossa vida de modo a poder nos consolar. Uma .vez que já
tenhamos tratado de nossas feridas, ele trará alguém para nosso
caminho com quem poderemos nos identificar e, em conseqüên-
cia, consolar. Por mais estranho ou desnecessário que possa pa-
recer à primeira vista, isso é parte da estratégia de Deus para
nos levar à maturidade. Deus está na atividade de desenvolver
160 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

consoladores. E o melhor consolador é aquele que já enfrentou


dor e tristeza de algum tipo, e que saiu dessa experiência vito-
rioso através do consolo de outra pessoa.

Definindo termos
Consolar outros significa "comunicar força e esperan-
ça". Por força, quero dizer a força de Cristo. Pois, como já disse
em um capítulo anterior, Deus deseja usar a adversidade a fim
de nos ensinar a confiar nele. O trabalho de um consolador,
portanto, é o de fazer com que a outra pessoa mude da con-
fiança em sua própria força para a de Cristo. Ao sermos usados
para fazer isso, comunicamos força.
Sempre que leio a biografia de um grande santo, acabo
encorajado pela graça de Deus para com aquela pessoa em
tempos de adversidade e dificuldade. Saio pensando:' Se Deus
sustentou este indivíduo em meio a tal provação, também irá me sus-
tentar da mesma forma. Desse rriodo, o testemunho comunicou
força a mim. Deu-me motivação para seguir em frente, e a
parar de pensar em desistir.
Comunicar esperança é capacitar os outros a mudarem
sua atenção das circunstâncias imediatas e a colocarem em coi-
sas eternas. Muito do nosso sofrimento não será plenamente
compreendido ou totalmente justificado em nossa mente até
vermos Jesus. Em sua presença, tudo o que foi compreendido
apenas parcialmente passará a ter pleno sentido. Todas as per-
guntas serão respondidas. O apóstolo Paulo descreveu a nossa
esperança ao escrever:

Por isso não desanimamos. Embora cxteriorrnente estejamos


a desgastar-nos, interiormente estamos sendo renovados dia
após dia. Pois, os nossos sofrimentos leves e momentâneos
CONSOLADO PARA CONSOLAR 161

estão produzindo para nós uma glória eterna que pesa rnais
do que todos eles. Assim, fixamos os olhos, não naquilo que
A _ A-. A.., -,-

se ve, mas no que nao se ve, pOIS o que se ve e transrtorro,


rnas o que não se vê é eterno (2 Coríntios 4:16-18).

Por que Paulo não desanimava quando enfrentava


grande dificuldade? Por causa da glória eterna, devido àquilo
que não se vê. A esperança de Paulo era aquela que está ainda
por vir. Era daí que ele extraía grande consolo. Assim. também
ocorre conosco, quando as perguntas provocadas pela adversi-
dade suscitam respostas excessivam.ente superficiais. Não é por
pretexto que falamos em encontrar respostas no céu. Indicar
a eternidade para alguém não é um ato de desespero; e com
certeza tam.bém não é como um último recurso.
N as Escrituras, o retorno do Senhor Jesus Cristo e o
julgamento que se seguirá quando de sua volta são quase sem-
pre apresentados com.o estímulo para aqueles que estão passan-
do por dificuldades ou provações. Na verdade, João escreveu
o livro todo do Apocalipse tendo esse propósito em. rnerite.
Os cristãos de seus dias se encoritravam desesperados, por causa
da perseguição física que estavam sofrendo por parte de Roma.
Como a pressão sobre eles continuasse aumentando, o Espírito
Santo conduziu João a escrever um instigante relato acerca dos
últimos dias. Através da apresentação da queda de Satanás e do
derradeiro e eterno reinado de Cristo, os cristãos de seus dias
foram encorajados a se anirnar e a perseverar até o fim. João
comunicou esperança a eles!

Só a experiência não basta


Apenas passar pela adversidade não prepara alguém, de
maneira autornâtica, a consolar outras pessoas. Somente aque-
les que foram consolados são capazes de consolar. Simplesmente
162 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

ter passado por tempos dificeis não é o suficiente. Consolar


alguém é mais do que dizer: "Eu compreendo" ou "Aconte-
ceu a mesma coisa comigo". Paulo disse ter consolado outras
pessoas com o mesmo consolo que recebera de Deus (veja 2
Coríntios 1 :4). Somente as pessoas que permitiram que Deus
as consolasse estão prontas para consolar a outras.
A sua reação à adversidade determinará se Deus poderá ou
não usá-lo para consolar a outros. Muitos cristãos estão tão fora de
rumo quando a adversidade os alcança que, em vez de se volta-
rem para Deus a fim de obterem consolo, eles se voltam contra
Deus e com raiva. Quando isso ocorre, perdem o motivo para
o qual Deus permitiu que a adversidade os alcançasse, em pri-
meiro lugar. E não somente isso, como também se desqualifi-
cam como consoladores. As pessoas que abrigam raiva em seus
corações não podem na verdade consolar ninguém. Enquanto
suas mágoas não estiverem resolvidas, não poderão comunicar
a força de Cristo a outras pessoas. Enquanto estiverem enter-
rados sob o peso de suas próprias circunstâncias, não poderão
oferecer esperança.
Os cristãos que permitiram ou estão permitindo Deus
a andar com eles em meio às provações são aqueles que se
encontram preparados a consolar os outros. São os que enfren-
taram as suas dores com toda a franqueza, movidos pelo poder
de Cristo dentro deles, e então puseram tudo na perspectiva
adequada e seguiram adiante. Estes homens e mulheres estão
prontos para oferecer consolo a outros.
Permita-me esclarecer uma coisa. Quando me refiro a
consoladores como tendo tratado de suas dores, não quero di-
zer que jamais serão incomodados por elas de novo. Conheço
pessoas que são forçadas a lidar com aflições todos os dias de
suas vidas. Não estou querendo dizer que pessoas nestas condi-
ções devem chegar ao ponto de tratarem de suas dores de uma

,I, U·" lU, j •. ,~, ......


CONSOLADO PARA CONSOLAR 163

vez por todas. Nem quero dizer que não existem lembranças
dolorosas de feridas passadas. Ainda me iricomoda falar de cer-
tos fatos de rniriha infância. Tanto aqueles que experrrnentam
contínua adversidade COlllO aqueles que sofreram no passado
po dern ser usados por Deus, caso tenham. perrrritido ou perm.i-
tiam Deus consolá-los e fortalecê-los.

\.
A procura de consoladores
.
Deus atua no processo de torná-lo urn consoladoro Ele
estrutura a sua experiência de modo a preparar você para um
ministério na vida de uma outra pessoa. Como Edith Schaeffer
diz em Ajfliction [Aflição]:

Ninguéll1 pode consolar de fato qualquer outra pessoa,


a não ser que tenha passado por certa medida da rnesma
aflição, ou do mesmo sofrimento, tendo sido levado a uma
certa compreensão através da qual exper-imerrtou o consolo
do Senhor.

Você está auxiliando no processo valendo-se do poder


de Deus? Ou está atuando contra ele, questionando sua bon-
dade e seu amor? Resistir é perder não apenas a lição que ele
deseja ensinar, como tarnbêm o ministério que ele está prepa-
rando para você na vida de outra pessoa. Não é uma questão
de se ter as palavras certas para dizer. Nem é apenas se ter
experimentado a mesma dor ou decepção. Um consolador é
alguém que conhece a dor, porém junto com a dor vem a cura,
a graça consoladora de Deus que ministra força, esperança e
encoraj amento para se prosseguir!
Em rncu livro How to Keep Your Kids on Your Team
[Como Manter os Seus Filhos ern Seu Time], utilizei urna
.-
ilustração que acredito cabe repetir aqui. E um retrato perfeito
164 : A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

da atitude que precisamos ter, diante das adversidades que en-


frentamos e à luz do desejo de Deus elll fazer de cada um de
nós um consoladoro
Um fazendeiro tinha alguns cachorrinhos que preci-
sava vender. Então pintou uma placa anunciando os filhotes
e se pôs a pregá-la em um poste que ficava no limite de seu
quintal. Enquanto fixava o último prego, sentiu um puxão em
seu casaco. Virou-se para baixo e os seus olhos deram com os
de um menino.
- Senhor, - disse o menino - quero comprar um
de seus cãezinhos.
- Bem, - respondeu o fazendeiro, esfregando o suor
detrás de seu pescoço - estes filhotes vieram de pais puros e
custam muito dinheiro.
O menino abaixou sua cabeça por alguns instantes. A
seguir, enfiando a mão no fundo de seu bolso, retirou-a cheia
de trocados e a ergueu para o fazendeiro.
- Eu tenho trinta e nove centavos. Isto é o bastante
para dar urna olhadinha?
- É claro, - disse o homem, e logo deu um assobio
- Aqui, Dolly! Dolly saiu da casinha de cachorros e correu
pela rampa abaixo seguida de quatro bolinhas de pêlos. O ga-
rotinho cornprimiu o seu rosto contra a cerca de arames tran-
çados. Os seus olhos dançavam de puro deleite.
Enquanto os cachorros corriam até a cerca, o garoti-
nho notou que tinha mais alguma coisa se remexendo dentro
da casinha. Lentamente surgiu uma outra bolinha, visivelmen-
te menor. Ela deslizou rampa abaixo. Depois, de um modo
um tanto desajeitado, o filhotinho aproximou-se dos outros
mancando, fazendo muito para alcançá-los. Era realmente o
tampinha da ninhada.
- Eu quero aquele - resolveu o garotinho, apontan-
do para o tampinha.
CONSOLADO PARA CONSOLAR 165

ofazendeiro ajoelhou-se ao lado do menino: - Filho,


você não vai querer aquele cãozinho. Ele nunca poderá correr
ebrincar com você como estes outros poderiam.
Ao ouvir isso, o garotinho afastou-se da cerca, abai-
xou-se ecomeçou aenrolar uma perna de suas calças. Quando
terminou, deixou aparecer um par de peças de aço fixadas nos
dois lados de sua perna, eatadas aum sapato feito especialmen-
te para ele.Voltando aolhar para o fazendeiro, explicou:
- Veja só, senhor, eu mesmo não corro tão bem assim,
e ele vai precisar de alguém que o compreenda.
Caro amigo, o mundo está repleto de pessoas que ne-
cessitam de alguém que as compreenda. Este é o ministério
para o qual Deus chamou cada um de nós.
Capítulo Treze
Não eu, mas Cristo

Quando nossos filhos estavam nos primeiros anos do ensino


fundamental,Anna e eu decidimos que já era hora de lhes ensi-
nar a tomar decisões por si próprios. Começamos com peque-
nas coisas, tais como o que vestir, onde a família deveria comer,
onde deveríamos passar as nossas férias. De vez em quando,
°
porém, nosso sistema esbarrava em um empecilho. Como
a maioria das crianças, os nossos filhos também tinham um
interminável desejo de agradar a sua mãe e a seu pai - quer
dizer, na maior parte do tempo. Em conseqüência, havia horas
em que deixávamos a decisão por conta deles, e sua resposta
era: "O que vocês querem que a gente faça?" Nossa tendência
natural era a de lhes dizer. Entretanto,percebemos que ao fazer
isso estávamos interferindo no desenvolvimento de seu proces-
so decisório; portanto, deixávamos com eles a decisão final,
Com freqüência isso criava uma situação frustrante para
as crianças. "Por que vocês simplesmente não dizem o que que-
168 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

rem que eu faça?" ~ perguntavam. "Porque queremos que aprenda


a tomar decisões por você mesmo" era a nossa resposta. "Eu não
quero decidir.' Quero fazer o que vocês querem que eu faça",
reagIam.
Quando olho para trás, para aquelas trocas um tanto
cômicas, penso em nosso relacionamento com o Pai celestial.
O que nos fazia dar tantas voltas em torno do assunto mais
simples nos faz ficar confusos com relação às coisas que nosso
Pai celestial nos permite. Tínhamos objetivos diferentes. Anna
e eu estávamos tentando preparar os nossos filhos para a vida.
Eles só queriam orientação. Dar-lhes sempre as respostas teria
facilitado as coisas para eles no curto prazo, no entanto os te-
ria deixado incapacitados mais tarde. Havia a possibilidade de
conflito de qualquer forma. Se, contudo, as crianças tivessem
compreendido na época o quanto era importante aprender a
tomar decisões, e se de algum modo, enquanto ainda jovens,
pudessem ter desenvolvido a mesma perspectiva e objetivos
que Anna e eu compartilhávamos, as coisas teriam sido bem
mais fáceis.
Nossos objetivos e perspectivas na vida determinam a nossa
reação para com as adversidades. Se o seu principal alvo na vida de
algum modo conflita com o do nosso Pai celestial, a confusão é
inevitável. Em algum rnornento, ele irá estruturar a sua experi-
ência de urna forma tal, que parecerá estar agindo contra você,
em vez de a seu favor. A sua reação natural será se perguntar se
por acaso ele está prestando atenção ou se teria se esquecido de
você. Mas, na verdade, ele só está envolvido na próxima etapa
de seu desenvolvimento. O que para ele é progresso parecerá
abandono para você.
Nessa última semana, estive falando com uma mulher
de nossa comunidade, que está se tratando com quimioterapia.
Em decorrência disso, ela perdeu quase todos os seus cabelos.
NÃO EU, MAS CRISTO 169

Depois de cada seção do tratamento, ela passa de quinze a de-


zesseis horas vorriitando. Fica completamente sem forças. Todas
as áreas de sua vida foram. afetadas. Qual foi a sua reação?

.- Pastor, eu pensei que com certeza conseguiria mi-


nistrar aos pacientes na sala de espera. Mas percebo agora que
Deus quer que eu fale é com a minha enfermeira. Ela não con-
segue entender corno é que meu marido e eu conseguimos ter
urna atitude tão boa a respeito de toda essa situação. Tivem.os
urna excelente oportunidade de explicar com.o Deus usa os
profissionais da saúde corno seus instrumentos enquanto ele é
quelll realiza a cura de fato.

Eu fiquei lá, pasmo. Nenhuma amargura. Nenhuma dú-


vida. Apenas a fé pura, corno a de uma criança, de que Deus
continuava no controle. Sua perspectiva estava perfeitamente
alinhada com a do Pai celestial. Ela contemplava o bern que ele
sern dúvida faria surgir de toda aquela provação. Não negava a
dor e o temor esporádico que experirnentava. Mas se recusava
a permitir que os seus pensamentos perlllanecessern lá. Ao con-
trário, olhava para a m.ão de Deus atuando em meio à sua adver-
sidade, da mesma forma que sempre olhara a mão dele durante
os tempos de saúde e de prosperidade. É importante lembrar
sernpre que os seus objetivos e a sua perspectiva para com a vida
irão determinar as suas reações para com. as adversidades.

Qual é a questão central?


Conforme já afirmei anteriormente, o alvo de Deus
para você e para mim não é a tranqüilidade, o conforto ou o
prazer. N~m é, de igual modo, apenas evitarmos a condena-
ção eterna. Muitos. cristãos acreditam, no entanto, que essas
170 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

duas idéias sintetizam a vontade de Deus para com suas vidas.


Ouça as suas orações. Elas estão repletas de referências à saúde,
à proteção, à orientação e à segurança. E, para culminar, elas
orarri: "Senhor, fique conosco por onde quer que forrnos ". O
que pensam que ele poderia fazer? Ficar lá parado, esperando
até que voltassem? A idéia aqui continua sendo a mesma: "Se-
nhor, sabernos que a sua preocupação principal é com a nossa
segurança, a nossa saúde e a nossa proteção. Fica conosco e
guard a-nos " .
Nos ú'ltirrios capítulos discorri sobre diversos motivos
por que Deus perrrute a vinda da adversidade. Cada um daque-
les rnorivos pode ser visto como urn dos raios de urna roda. No
presente capítulo desejo rne concentrar no eixo central. O que
será que Deus está realrnerite querendo realizar com tudo isso?
Por que tratar de nosso orgulho e de nossa independência?
Por que nos disciplinar? Por que fazer de nós melhores con-
soladores? A resposta remonta mais uma vez à rnera de Deus
para corn seus filhos. O apóstolo Paulo descreve essa meta da
seguinte forma:

Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que


nos abençoou COlTI todas as bênçãos espirituais nas regiões
celestiais em Cristo. Porque Deus nos escolheu nele antes da
criação do rnurido, para sermos santos e irrepreensíveis em sua
presença (Efésios 1:3-4, ênfase minha).

Qual é a sua meta conosco? Que sejarrios "santos" e


"irrepreensíveis". Paulo faz trrna declaração sirnilar ern Co-
lossenses:

Antes vocês estavam separados de Deus e, na rnerrte de vocês,


eram inimigos por causa do rnau procedirnento de vocês. Mas
NÃO EU, MAS CRISTO 171

agora ele os reconciliou pelo corpo físico de Cristo, rrrediante


a morte, para apresentá-los diante dele santos, inculpáveis e livres de
qualquer acusação, desde que continuern alicerçados e firmes na
te (Colossenses 1:21-23, ênfase minha).

E de novo em Romanos:

Pois aqueles que de antemão conheceu, tarnbêrn os


predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de
que ele seja o prim.ogênito entre rmritos irrnãos (Rolllanos
8:29, ênfase minha),

oalvo primordial de Deus para nós é para que sejamos


conforme a "imagem" de seu Filho; ern outras palavras, à serrie-
I ,

lhança de Cristo. E para isso que fomos criados. Mas, o que isso
significa? Eu já ouvi dizer que ser semelhante a Cristo é simples-
rncnte fazer o que Cristo faria ern todas as situações. Na rnesma
linha de pensamento, alguns afirmam que é uma questão de se

imitar a Cristo. Creio que há espaço para esse tipo de noção e
aplicação na vida cristã. Entretanto, Paulo refere-se a algo rruri-
to mais profundo. Uma pessoa perdida poderia írnitar a Cristo.
Muitos hornens e mulheres, bons e virtuosos, tiveram uma vida
que faz muitos cristãos se envergonharem e, no entanto nunca
depositaram a sua te em Cristo. Com certeza não eram santos e
irrepreensíveis na presença de Deus.A que Paulo se refere, então?

Imitação versus Comunicação


o alvo de Deus para nós não é que meramente imite-
mos a vida de Cristo. O seu desejo é que a vida de Cristo seja
vivida através de nós. Eis a diferença: Podemos fazer muitas
coisas boas, semelhantes a Cristo, e ainda assirri sermos contro-
172 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

lados pelo nosso "ego". Pense a respeito de nossas motivações


algumas vezes, COll1 relação às coisas "semelhantes a Cristo"
que fazernos. O'rarnos quando ternos necessidade. Lernos a
Bíblia procurando por consolo e direção. S01l10S gentis com
as pessoas para que sejam gentis conosco. Doamos porque o
pregador nos pediu. 'Testernurrharnos apenas quando altamente
motivados. Freqüentamos a igreja por hábito. Isso se parece
com Cristo? Contudo, todas estas atividades são coisas que ele
fez na terra. Algurna coisa está errada.
O problema é que podemos ser totalmente contro-
lados pelo "ego" e ainda estarmos ocupados com a "obra do
Senhor". Raramente separamos tempo para olhar abaixo da
superfície e examinar o porquê de fazermos o que fazemos
e na força de quelll estamos atuando. Pense sobre as suas ora-
ções. Em quem elas são centradas? Muitas vezes é em nosso
"ego". Deus torna-se urn meio para alcançarmos os nossos fins.
Em vez de nos envolvermos na agenda de Deus, gastamos a
nossa energia tentando fazer com que ele se envolva COIll aqui-
lo que nos é importante: prosperidade, paz, aceitação e assim
por diante. Como resultado, nos tornamos muito religiosos
rnas não semelhantes a Cristo.
Lernbra-se de como Cristo orou?" Seja feita a tua vonta-
de, assirn na terra C01l10 nos céus". Quando foi a última vez em
que você fez urna oração tão aberta quanto esta? "Deus, seja
o que for que o Senhor quiser fazer, faça-o. COlUO quiser me
usar, usa-me. Seja o que for que o Senhor deseja realizar através
de rnirn, seja feita a tua vontade!" O "ego" não gosta de orações
como esta. Há muito a perder, muito sacrifício envolvido. O
"ego" tern sempre tirna agenda em seu próprio beneficio.
A agenda de Cristo era a de agradar o Pai e de cumprir
a vontade dele a qualquer custo. As " vésperas de sua rrrorte o

encontramos dizendo:
NÃO EU, MAS CRISTO 173

Meu Pai, se for possível, afasta de rnirn este cálice; contudo, não
seja como eu quero, mas sim. corno tu queres (Mateus 26:39).

Esta é a atitude que Deus deseja desenvolver em. cada


um de seus filhos. Rendição total à vontade revelada de Deus.
Ull1a atitude que diz: "Srm, sim, sim. E agora, o que quer que
eu faça?" Ser sem.elhante a Cristo não é camuflar o "ego" corn
,-
atividades semelhantes às de Cristo. E uma atitude que flui da
própria vida de Cristo à m.edida que ele habita no cristão.

E a adversidade?
N este ponto, provavelmente você está se perguntando
o que tudo isso ·tem a ver corn a adversidade. Deus não está sa-
tisfeito com um "ego" bem comportado e respeitável ocupan-
do o trono de nossa vida. Ele deseja remover todos os vestígios
de "ego" para que possarnos ser apresentados a Cristo santos e
irrepreensíveis. Urna das formas de Deus fazer isso é enviando
adversidades à nossa vida. As adversidades rriexern conosco e
nos levam a olhar para a vida de um modo diferente. Somos
forçados a lidar corn as coisas em um. nível mais profundo.
Nada pode fazer corn que o "ego" vá mais fundo do que o
sofrimento. E, uma vez que a nossa fachada religiosa cornece a
se desgastar, Deus entra em cena e começa a nos ensinar corno
é a verdadeira semelhança a Cristo.
A pr.irrieira reação do" ego" diante da adversidade é a de
começar a procurar por pecados a confessar. Mas não é porque
o "ego" está preocupado com. a santidade. Ele está preocupado
é com a autopreservação. E se a confissão de pecados puder in-
fluenciar Deus a reduzir a pressão, que assimseja, Quando isso
não funciona, o "ego" entra em desespero. Com freqüência,
ele então irá se enterrar no serviço religioso, dizendo: "Com.
174 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

certeza Deus não iria permitir que um servo diligente como


eu sofresse". No entanto, Deus só aumenta a pressão.

Morte ao ego
o alvo de Deus com relação ao "ego" está claramente
delineado nas Escrituras. O apóstolo Paulo sintetiza do seguin-
te modo:

Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive,


mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo,
vivo-a pela te no Filho de Deus, que me amou e se entregou
por mim (Gálatas 2:20).

Deus quer a vida do "ego" crucificada. Não a quer


toda vestida, toda remendada, sob controle, decorada ou toda
arrumadinha. Ele a quer crucificada. Paulo disse que em certo
sentido ele estava crucificado com Cristo. E a vida que vivia
não era mais a sua vida. Isto é, a vida que' se expressava por
meio dele não era seu "ego" procurando imitar Cristo. Ele dis-
se que Cristo estava vivendo através dele. A vida real de Jesus
Cristo estava sendo expressa por meio do seu corpo, através da
sua carne e do seu sangue. Ele descreve a mesma experiência,
de um modo um pouco diferente, em Romanos:

Ou vocês não sabem que todos nós, que fomos batizados em


Cristo Jesus, fomos batizados em sua morte? Portanto, fomos
sepultados na morte com ele por meio do batismo, a fim de
que, assim como Cristo foi ressuscitado dos mortos mediante
a glória do Pai, também nós vivamos uma vida nova. (... )
Pois sabemos que o nosso velho homem foi crucificado
com ele, para que o corpo do pecado seja destruído, e não
m.ais sejamos escravos do pecado, pois quem morreu, foi
justificado do pecado (Romanos 6:3-4,6-7).
NÃO EU, MAS CRISTO 175

Paulo diz que o nosso "velho hornem" foi crucificado


corn Cristo. COnlO conseqüência, agora temos o privilégio de
viver "uma nova vida" .Vida de quem? De Cristo. Ser semelhante
,
a Cristo não é simplesmente imitar uma vida. E a comunicação de
uma nova vida - a vida dele!
Esta é a experiência para dentro da qual Deus quer
trazer todos os seus filhos: identificação pessoal com Cristo, e,
mais especificamente, corn a morte e a ressurreição de Cristo.
N o fim das contas, basicamente, isto é alcançado em urn pro-
cesso diário pela fé. Os cristãos Ievam a termo as suas respon-
sabilidades diárias, confiando que Cristo estará se expressando
por meio de suas personalidades individuais.

De volta à prancheta de desenho


Muitos cristãos igriorarn esta doutrina. Depois de crer
em Cristo como o seu Salvador, buscam imediatamente cris-
tianizar o "ego". Como conseqüência, muitos cristãos bern in-
tencionados passam anos tentando fazer corn que o seu "ego"
se pareça e aja COlllO Cristo. Camadas e mais camadas de boas
obras são ernpilhadas.Acrescenta-se a isso horas e mais horas de
oração. Tudo isso é fortalecido por pregações, seminários, CDs
e livros, prosseguindo indefinidamente.
Sob muitos aspectos eles estão, na realidade, obstruindo
a vontade de Deus em suas vidas. Cedo ou tarde, devido a seu
firrne propósito de terminar o que iniciou, Deus corneça a
remover as camadas do "ego". Esse, de um modo geral, é um
processo doloroso, porque envolve expor as suas deficiências e
irriperfeições. Isso implica em fracasso naquelas coisas que eram
consideradas os pontos fortes da pessoa.
Corn freqüência esse processo envolve privar a pessoa
de sua autoconfiança. Algumas vezes Deus atinge o "ego" de
176 j A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

alguém através das suas finanças pessoais. Outras vezes é por sua
saúde. As pessoas são diferentes, e a vida do "ego" de cada um
tem a sua própria constituição. Deus, porém, sabe exatamente
como remover as camadas, de maneira a forçar os seus filhos
a lidarem com as suas vidas cristãs em um nível totalmente
diverso. O "ego" sempre tem o seu tendão de Aquiles. E Deus
sabe precisamente onde ele fica.

Perdendo para ganhar


Através dos anos tenho observado Deus realizar a re-
moção radical de "egos" das pessoas. Embora as circunstân-
cias variem, o padrão é praticamente o mesmo. Deus está em
processo de quebrantar um homem em nosso setor de manu-
tenção agora mesmo. Quando encontrei Phillip da primeira
vez, ele estava prestes a se tornar uma das muitas pessoas de
rua em Atlanta. Seus recursos financeiros haviam se esgotado,
e não tinha para onde ir a não ser a rua. A princípio ele fora
um comerciante bem-sucedido. Lentamente sua sorte escorreu
pelo ralo. Primeiro perdeu o seu negócio. Para tentar pagar os
seus compromissos, foi trabalhar para uma empresa fazendo a
mesma coisa na qual obteve sucesso durante anos. Fracassou
de maneira lamentável e foi demitido. Em decorrência de sua
situação financeira, sua mulher o deixou e mudou-se para um
outro estado. Phillip devolveu o carro da empresa, empacotou
os seus poucos pertences e pegou carona até Atlanta. Até hoje
ele não sabe ao certo por que escolheu esta cidade.
Encontramos um lugar para Phillip morar e lhe de-
mos um emprego. Depois de conversar com ele algumas vezes,
percebi que estava passando por uma profunda depressão em
função de todo o sucedido. Também percebi a mão de Deus
operando na vida de Phillip. Ele estava pregando o seu "ego"
NÃO EU, MAS CRISTO 177

na cruz. Toda vez que eu passava por Phillip no saguão, per-


guntava como estava indo. Durante os dois primeiros rneses,
ele inclinava a sua cabeça e rne contava COlllO se sentia solitá-
rio, COlll raiva e frustrado: "Não sei se consigo suportar mais.
Parece que não consigo fazer nada certo. Nada funciona. Eu
costurnava ser responsável por prédios o dobro do tamanho
deste. E aqui estou de volta, fazendo o mesmo trabalho que
fazia há dez anos".
Nos meses seguintes, Deus começou a operar UITla
transformação ern Phillip. Através do aconselhamento, ele pas-
sou a cornpreender o que significava se identificar COlll a rrrorte
de Cristo. Corneçou a fazer sentido para ele que ganhara uma
vida nova. Durante algtirn tempo, quando lhe perguntava, ele
sorria e respondia: "Não entendo tudo o que está acontecendo
ainda, mas pela fé, Cristo é a minha vida".
Pouco depois, recebi a notícia de que a rnulher de
Phillip telefonara dizendo que nunca rnais voltaria. Sabia que
isso o deixaria arruinado. Estivéramos orando para que Deus
amolecesse o coração dela e restaurasse o seu casarrierrto. Agora
parecia não restar rnais esperança.
Encontrei Phillip ocupado trabalhando na cozinha. Pus
o meu braço em volta de seus ombros, pronto para lhe oferecer
o consolo de que precisaria. No entanto, a expressão ern seus
olhos rne dizia outra coisa. "Eu compreendo agora", disse ele.
"Cristo é a miriha vida. Ainda não cornpreerrdo tudo, mas, lou-
vado sej a Deus, não preciso compreender para experimentar".
Perguntei-lhe COnIO estava depois da úlrirna conversa COnI sua
,
rrrulher. "Citirno!", respondeu. "Não sei por que, IT1as estou me
sentindo órirrio. Tudo está nas rnãos do Senhor agora, e ele é a
minha vida". .
Somente o Senhor sabe o que acontecerá ao casamerr-
to de Phillip. Sua esposa não rmrdou de posição. Mas Phillip
178 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

chegará lá. Em nossa última conversa, ele admitiu que nunca


conseguiria compreender a sua identificação com Cristo sem
que tivesse perdido tudo aquilo de que era dependente.

o caminho da cruz
"E então", pergunta você, "as pessoas podem ir para a
cruz sem terem as suas vidas inteiras destruídas?" Sem dúvida
alguma. O caminho da cruz não é igual para todos. É muito
mais fâcil para alguns do que para outros. O que é preciso ter
em mente é que martelar o "ego" pregando-o na cruz é o alvo
número um de Deus, no que diz respeito à santificação de uma
pessoa. Uma vez que ele tenha iniciado, não irá parar até que
O "ego" seja destronado e crucificado. Então e somente então

você estará livre para experimentar a própria vida de Cristo


fluindo através de sua personalidade. Toda a sua experiência
cristã será radicalmente diferente. Deus não será mais um meio
para alcançarmos os nossos próprios fins, mas será o próprio
fim. Conhecê-lo será o bastante.
A idéia de rendição e entrega total não o deixará mais
paralisado de medo. Ao contrário, se tornará o mais estimulante
desafio de sua vida. Cada dia trará consigo novas oportunidades
para que a própria vida do Salvador seja derramada através de
você. "Novidade de vida" não será mais um conceito teológi-
co; será a sua experiência. O Cristianismo nunca pretendeu ser
uma espécie de autodesenvolvimento. Deus não está interessa-
do em aprimorar o nosso "ego"; sua preocupação é com a sua
crucificação.
Caro amigo, Deus está pregando você na cruz? Caso
esteja, será que ele precisa segurá-lo à força, debatendo-se e
gritando, ou você está indo de boa vontade? Recusar-se a se
render só prolonga a dor. Lembre-se de que, Aquele que pla-

~ 11.LI, .•.•. JJ..L.iI ~ . ,...,... 1


NÃo EU, MAS CRISTO 179

nejou O que parecem ser condições insuportáveis é o mesmo


que deu o seu Filho unigênito para morrer pelos seus pecados.
Por mais que pareça que ele tenha se voltado contra você, não
é este o caso. A situação pode ser comparada a de um pai ter-
reno que se pôs a rem.over cacos de vidro do pé de seu filho.
Correr significaria ter a ferida irifíamada. Gritar para protestar
iria sornente adiar o inevitável.
Em seu clássico livro Cristianismo puro e simples, C.S.
Lewis diz o seguinte a respeito de Cristo e da vida do "ego":

o rnais terrível, o que chega a ser quase irnpossível, é entregar


todo o seu eu - com todos os seus desejos e cuidados - a
Cristo. No entanto, é rnuito mais fácil do que aquilo que
gerahnente se tenta fazer: continuar a ser ° que denomina
"eu mesmo", para assegurar a felicidade pessoal como o
rnaior alvo na vida, e ainda assim, ao rriesrno ternpo, serrnos
"bons". Estamos todos procurando deixar a nossa mente e
coração segurrern os próprios caminhos - centrados em
dinheiro, prazer ou ambição - na esperança, apesar disso,
de nos corriportarrnos de maneira honesta, pura e humilde.
E isso é exatamente o que Cristo nos alertou que não se
poderia fazer. Como ele disse, um espinheiro não pode
produzir figos. Se sou urn campo que só contém sernenres
de grama, não poderei produzir trigo. Cortar a grama pode
rnanrê-Ia aparada: mas ainda assirn produzirei grallla e não
trigo. Se desejo produzir trigo, a mudança precisa ser mais
profunda. Preciso ser arado e serrreado de novo.

Será que Deus está arando você? Caso esteja, não ofe-
reça resistência. O seu Pai celestial o ama dernais e pagou urn
preço rnuito alto para deixar você seguir seu próprio caminho.
Ele deseja que você chegue ao fim de si mesmo. Que você
admita a derrota. Que você confie a sua vida, o seu futuro,
180 i A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

os seus bens, os seus relacionamentos, tudo o que é seu, a ele.


E então, exatamente quando você pensar que tudo está perdido,
ele deseja substituir o que tomou, não com coisas, mas com
ele mesmo. C. S. Lewis interpretou a intenção de Deus desta
forma:

Entregue todo o seu eu natural, todos os desejos que julga


serem inocentes, bem como os que considera maus ~ todo
o conjunto. Eu lhe darei um novo eu no lugar. Na verdade,
eu lhe darei eu mesmo.

Amém!

~.~'"I·lj·II."!,11 ·'1, 1~'14I."I·-liI,.II' 11'1.111"~·,III'~'I'" ll··.~' """1 I,,~. '·~,,,,IIl·\II,"'I,.~1


Capítulo Quatorze
A história de um homem

D e ,um modo geral, olho com desconfiança para autobiogra-


fias. E praticamente impossível para alguém interpretar a sua
própria experiência com tanta objetividade. A história de um
indivíduo descrita por alguém que o conheceu, em geral apre-
senta um retrato mais realista. Por outro lado, uma vez exposto
à experiência de outra pessoa e por ela' encorajado, conforme
retratada em uma biografia, com freqüência desejo poder fa-
zer uma entrevista pessoal, uma oportunidade de conhecer em
primeira mão quem influenciou aquela pessoa, que pensamen-
tos lhe ocorreram durante situações críticas e como ela lidou
com os seus sucessos e fracassos.
Depois de ler a biografia de C.T. Studd, fiquei com o .
desejo ardente de saber como ele lidou com o sentimento de
solidão, por ter ficado longe de sua mulher todos aqueles anos
em que serviram a Deus em continentes separados. Lembro-
182 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

me de Jim Eiliot e da coragem que demonstrou quando se


defrontou com os índios Auca. O que se passava em sua mente
nos momentos que precederam sua morte, quando em mãos
daqueles a quem fora servir?
A situação ideal seria ter uma biografia escrita por um
observador objetivo,juntamente com um comentário autobio-
gráfico sobre o que o personagem estaria sentindo e 'pensando
durante os eventos de sua vida. Com dois relatos teríamos um
esboço histórico confiável, assim como uma perspectiva pessoal
do interior do homem ou da mulher em questão.

Uma situação ideal


Deus foi gracioso o bastante para nos prover exatamen-
te com um relato ideal destes. No livro de Atos, Lucas dá-nos
uma narrativa das provações e tribulações de Paulo. Lucas era
um dos companheiros do apóstolo Paulo. Por todo o livro ele
faz referência à "nós" quando fala acerca dos acontecimentos
com que Paulo se deparou (veja Atos 16:10-17; 20:5-21; 27:1
a 28:16). Lucas acompanhou Paulo até a Macedônia, liderou
a obra em Filipos e, no fim, acabou por se juntar a Paulo em
Roma durante a prisão domiciliar do apóstolo. Foi provavel-
mente durante esse tempo que escreveu o livro de Atos.
Quando Paulo falava sobre aflições, provações e per-
seguições, não é apenas com base em suas palavras que temos
que prosseguir. Lucas foi testemunha ocular de muito do que
Paulo reivindicou ter passado e não havia nenhuma razão
para que mentisse. A motivação de Lucas para anotar esses
acontecimentos era para que existisse um registro histórico
acurado (veja Lucas 1: 1-4). À luz disso tudo, podemos confiar
que o sofrimento que Paulo reivindica ter experimentado foi
bem real.
A HISTÓRIA DE UM HOMEM 183

Mas isso é só urna parte das boas notícias. Deus não nos
deixou apenas COIl1 o relato de urna testemunha ocular sobre
as provações de Paulo, como também permitiu que tivéssemos
urn comentário do próprio Paulo acerca desses me Sll1.0S even-
tos. Não precisamos ficar procurando o porquê de Paulo tê-los
suportado. Não precisamos só ficar especulando a respeito de
como ele teria perrnanecido fiel em meio a tantas provações
diferentes. Nem S0ll10S forçados a aceitar tão-somente a in-
terpretação de um terceiro, com relação às batalhas interiores
de Paulo contra a dor e o sofrimento. Temos o seu próprio
testemunho pessoal.
Deveríamos aproveitar a combinação única de docu-
mentos que possuímos, e extrair cada pérola de verdade no que
concerne à adversidade. COll1. Paulo, conhecemos urn Irornern
°
que provou sofrimento de maneira ampla, em todos os níveis
possíveis, contudo permaneceu fiel até o fim - algo que ainda
não pode ser creditado a rnirn ou a você.
O que Paulo tem a dizer sobre a adversidade? O que
ele aprendeu? Qual era o seu segredo? Corno ele conseguiu
levantar-se de novo, vez após outra sem parar, quando a maio-
ria já teria desistido? As respostas a praticamente todas essas
perguntas p odcrn ser encontradas em urn trecho da segunda
carta de Paulo à igreja ern Corinto:

Para im.pedir que eu rne exaltasse por causa da grandeza


dessas revelações, foi rne dado UITl espinho na carne, 'urn
rnensageíro de Satanás, para rne atorrnentar, Três vezes roguei
ao Senhor que o tirasse de rnirn, Mas ele rne disse: "Minha
graça é suficiente para você, pois o rrieu poder se aperfeiçoa
na fraqueza" . Portanto, eu rrie gloriarei ainda mais alcgrernerite
em minhas fraquezas, para que o poder de Cristo repouse ern
mirn, Por isso, por amor de Cristo, regozijo-me nas fraquezas,
184 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

nos insultos, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias.


Pois, quando sou fraco é que sou forte (2 Coríntios 12:7-10).

De todas as dificuldades que Paulo enfrentou, o "espi-


nho na carne" o incomodava mais. Conforme já afirmado an-
tes, ninguém sabe ao certo a que Paulo se referia aqui. Alguns
já disseram que era a sua esposa. Outros que era a tentação
sexual. Eu creio que era algum tipo de problema físico.
O termo em si é utilizado na literatura da rnesma épo-
ca para se referir a um estilhaço. Quando usado literalmente,
essas palavras fazem referência a qualquer coisa que age como
uma contínua perturbação. No contexto da argumentação de
Paulo, isso se parece com uma declaração algo um tanto sua-
vizada. Embora o seu espinho estivesse lá continuamente, era
mais do que um simples e leve incômodo. O espinho em sua
carne era urna fonte de grande aflição.

As descobertas de Paulo
Conforme observamos nos capítulos anteriores, Deus
optou por não remover o seu espinho, e Paulo aprendeu a
conviver com ele. Durante esse processo, entretanto, Paulo fez
umas descobertas fantásticas com respeito à adversidade, que o
capacitaram a não apenas sobreviver às circunstâncias, mas a se
"gloriar" nelas e a sair vitorioso. Portanto, o que foi que Paulo
descobriu?

1. Existe um propósito divino por trás de toda adversidade.


Para impedir que eu me exaltasse por causa da grandeza dessas
revelações, foi me dado um espinho na carne (2 Coríntios
12:7, ênfase minha).
A HISTÓRIA DE UM HOMEM 18S

Paulo compreendeu que Deus estava sempre usando.


as adversidades para promover a sua causa; havia seITlpre um
propósito. Nos capítulos precedentes, analisamos detalhada-
mente diversos propósitos de Deus em permitir a entrada da
adversidade em nossa vida. Infelizmente, eles não são sempre
facilmente identificáveis, e isso muitas vezes cria urna separação
entre a nossa experiência e nossa compreensão. Podemos passar
dias, sernanas, anos, e algumas vezes a vida toda sem conhecer
o propósito de Deus.
Jó foi para o túmulo sern jamais conhecer a razão de
seu sofrirnento. Paulo conta que irrrplorou ao Senhor três vezes
antes de receber trma resposta. Da forma que os versos foram
escritos, parece que Paulo suplicou a Deus UITla vez pela ma-
nhã, outra após o almoço e, então, mais urna vez ao anoitecer.
Porém, não sabemos qual foi o intervalo entre as suas petições.
Assirn corno nós, Paulo conhecia a frustração de tentar manter
a fé em Deus, enquanto, ao rrresrno ternpo.. nos pergrmtarnos
por que não há resposta.
O que Paulo aprendeu, e que tarnbêrn precisarnos
aprender, é que, quando Deus não retira o nosso "espinho",
existe uma boa razão. Deus não nos deixaria sofrer apenas po~
sofrer. Sempre existe um. propósito.

2. Deus pode escolher revelar o propósito de nossa adversídade.


No caso de Paulo, Deus decidiu indicar o porquê do
.-
"espinho": era para rmpedir que ele se tornasse orgulhoso. E
interessante que Deus não tenha decidido revelar isso a Paulo
da primeira vez que ele orou.
Existe UITla razão para isso. Repare que Paulo orou:
"Três vezes, roguei ao Senhor que o tirasse de mim" . Paulo não
perguntou a Deus o porquê. Estava pedindo que o retirasse.
186 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

Não é incomum que Deus revele a razão do sofrimen-


to. Ele revelou a Moisés a razão por que não lhe permitiu entrar
na Terra Prometida. Deus disse
, a ]osué por que ele e seu exêr-
cito foram derrotados em Ai.Jesus contou a seus discípulos que
deveriam esperar problemas e o motivo para isso. João escreveu
às igrejas de seus dias explicando a razão de estarem passando
por provações. E Tiago utilizou a primeira parte de sua epístola
para explicar por que os cristãos de seus dias experimentavam
sofrimento. Deus não fica necessariamente em silêncio com
relação à questão do porquê. No entanto, ele responde de acor-
do com a sua agenda, que em geral está levemente atrasada em
comparação à nossa.

3. Deus' nunca nos repreende por perguntarmos por que ou


por pedirmos que a adversidade seja retirada.
Não existe evidência de que Deus tenha repreendi-
do Paulo por ele pedir que seu espinho fosse retirado. Deus
compreende as nossas fraquezas. Ele espera que clamemos a
ele quando estamos experimentando aflição ou frustração. De-
seja que lancemos as nossas preocupações sobre ele. Por quê?
Porque ao fazermos isso dan;os expressão à nossa fé, e a fé é o
fundamento de toda o nosso relacionamento com ele.
Paulo não foi o primeiro a clamar a Deus por ajuda. O
próprio Filho de Deus encontrava-se enfrentando dor e rejei-
ção dos piores tipos. A seu próprio modo ele também pediu
que um espinho fosse removido - a cruz.

Indo um pouco mais adiante, prostrou-se com o rosto em


terra e orou: "Meu Pai, se for possível, afasta de mim este
cálice" (Mateus 26:39).
A HISTÓRIA DE UM HOMEM 187

Você nao precisa se sentir culpado por pedir a Deus


que retire a adversidade de sua vida. Ele espera por isso. Ao
rriesrno tempo, C01l1.0 já vimos, a sua oração pode não ser res-
pondida da rnarieira ou no rrrorrierrto de sua preferência. Mas,
não obstante, você deve pedir, pois foi durante o processo de
suplicar por alívio que Paulo recebeu uma resposta de Deus.
Do ITleSIIlO rn.odo, não cleverrios ficar ternerosos de
perguntar a Deus o porquê. Tantas vezes ouço pessoas dizcrern:
"Não estou perguntando por que Deus permitiu isso; estou
apenas confiando que ele está no controle". Ccrmpreerrdo a
motivação por trás de Ull1.a declaração COIllO esta. E'" feita com.o
um.a expressão de fé e confiança na soberania e na presença de
Deus. E eu nunca criticaria alguêrn por sua fé. Contudo, em
rierrlrurn lugar das Escrituras somos admoestados a nos refrear
de perguntar o porquê. COIIlO já 'virnos, existem muitos exerrr-
plos nas Escrituras onde Deus estava mais do que disposto a
responder a essa pergunta.
Tiago, na verdade, instrui os cristão s a pedirem a Deus
que responda a essa pergunta: por quê? Depois de encorajar os
seus leitores a se concentrarem eITl COlllO Deus está usando as
adversidades em suas vidas, ele afirma:

Se algurn de vocês teIll falta de sabedoria, peça-a a Deus, que


a todos dá Iivrerriente, de boa vontade; e lhe será concedida
(Tiago 1 :5).

Na realidade, ele está dizendo: "Se em meio a todas es-


tas provações vocês tiverem qualquer pergunta, vão em frente
e perguntem a Deus". Repare a seguir na segunda metade do
versículo: "que a todos dá livremente, de boa vontade". Deus é
generoso! E não som.ente isso, como também não ficará mal-
lrurnorado se o questionarmos acerca do que está acontecendo.
188 : A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

A questão do porquê torna-se um problema quando é


perguntada com dúvidas. Quer dizer, concluímos, por nós não
"
vermos propósito no sofrimento, que não existe nenhum. Aque-
le que pergunta por quê tendo esse ponto de vista, Tiago diz:

Não pense tal pessoa que receberá coisa alguma do Senhor,


pois tem mente dividida e é instável em tudo o que faz
(Tiago 1:7-8).

Exatamente como um pai terreno deseja consolar os


seus filhos em tempos de angústia, assim nosso Pai celestial deseja
nos consolar. E, quando em sua sabedoria, ele crer que a resposta
à pergunta do porquê for importante, ele a revelará a nós.

4. A adversidade pode ser um presente de Deus.


Quando pensamos na adversidade, ficamos propensos
muitas vezes a vê-la como algo que Deus faz a nós. Nossas
orações refletem esta atitude: "Senhor, por que isto aconteceu
comigo?" Orações como esta refletem a convicção básica sin-
cera de que a adversidade é no mínimo ruim. E por isso ela é
vista como algo que ocorre conosco.
Paulo de forma alguma a via desse jeito. Repare na cons-
trução de suas frases quando se refere ao espinho na sua carne:

. Para impedir que eu me exaltasse por causa da grandeza


dessas revelações, foi-me dado um espinho na carne (2
Coríntios 12:7, ênfase minha).

Paulo tinha fé para crer que aquela irritação constante


fora um presente. Por mais piedoso que um camarada como
o apóstolo Paulo possa ter sido, duvido que sua atitude tenha
A HISTÓRIA DE UM HOMEM 189

sido positiva desde o início. Mas, à medida que ele foi compre-
endendo o que Deus estava fazendo em sua vida, sua atitude
começou a mudar. E em meio a esse processo, passou a perce-
ber o espinho corno o que de fato era ~ um presente.
Era um presente na medida em que, através daquela
irritação, Deus protegeu Paulo daquilo que ele mais temia - a
desqualificação espiritual (veja 1 Coríntios 9:27). Paulo tinha
um desejo ardente de acabar bem, de completar o curso que
Deus estabelecera diante dele. Ele sabia, através de sua obser-
vação dos outros, que nada podia destruir a eficácia de um ho-
mem ou de urna mulher para Deus, tão depressa e tão comple-
tamente, como o orgulho. Desse modo, se aquele espinho na
carne o protegesse do orgulho, seria de fato um dom de Deus.
Poderia com toda a sinceridade vê-lo como alguma coisa que
Deus fez por ele, em vez de a ele.

5. Satanás pode ser o agente da adversidade.


As coisas com certeza ficam confusas neste ponto. Pau-
lo simplesmente acabara de dizer que Deus foi quem. arru-
mou tudo para ele viver com aquele espinho na carne. Depois
explicou que era realmente um presente, à luz do resultado
pretendido. Exatamente quando as coisas corrreçavarn a fazer
sentido, ele declara:

(...) foi-me dado um. espinho na carne, um mensageiro de


Satanás, para rne esbofetear (2 Coríntios 12:7, ênfase minha).

Espere um pouco, é Deus que está por trás disso, ou


é Satanás? Como pode agora um mensageiro de Satanás estar
trabalhando pelo bem de um dos servos de Deus? Isso parece
totalmente contraditório. Todo mundo tem a sua opinião neste
190 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

ponto. Entretanto, permanecemos em terreno teológico firme


se tomarmos este texto de forma literal. E isso implica em que
Deus utiliza mensageiros de Satanás na vida de seus servos.
Que mais poderíamos dizer?
Na verdade, isso deveria nos servir de consolo. Se fi-
zermos paralelo entre essa declaração e a vida de Jó, obtemos
um retrato claro da soberania de Deus.Até mesmo os esquemas
do diabo podem ser usados em nosso benefício e além disso
ao Reino de Deus. Pense a respeito. Até mesmo as hastes de
Satanás operam debaixo do olhar atento de nosso Pai que está
,
nos ceus.

6. Deus nos consolará em nossa adversidade.


A resposta que Paulo recebeu da parte de Deus, con-
cernente ao espinho na sua carne, não foi a que ele esperava.
Sabemos por sua oração que não era a que ele realmente de-
sejava também. Ainda assim Paulo foi capaz de extrair grande
consolo pelo fato de ter recebido uma resposta. A resposta de
Deus para Paulo serviu para assegurar que não fora abando-
nado. Ele não estava sofrendo sozinho. Deus continuava no
controle e ainda atuante na vida de Paulo.
O nosso Senhor prometeu nunca nos deixar ou nos
abandonar. Ele fez essa promessa no momento em que aqueles
que o seguiram e lhe foram fiéis estavam prestes a iniciar uma
obra de grande dificuldade. Deus demonstrou a sua fidelidade
àqueles homens; e fará o mesmo na sua vida e na minha.
A principal razão para não estarmos conscientes do
consolo de Deus durante os tempos de adversidade é que não
procuramos por esse consolo. Nós desistimos. Começamos a
duvidar de sua sabedoria, de sua bondade, e algumas vezes até
da sua existência. A dúvida reduz a nossa capacidade de reconhecer
A HISTÓRIA DE UM HOMEM t 91

a mão consoladora de Deus. Obscurece a nossa visao espiritual.


Depois que duvidarmos da bondade e da fidelidade de Deus,
dcixarerrios de perceber os seus esforços para nos consolar.

7. A graça de Deus é suficiente em tempos de adversidade.


Deus não deu a Paulo o que ele pediu. Porém., o que
lhe deu foi muito m.elhor a longo prazo. Deus concedeu a
Paulo a graça de que necessitava para suportar a pressão gerada
pelo espinho na carne. Dizer que Paulo foi rnerarnerite capaz
de suportar a pressão, no entanto, é subestirnar a realidade. Pau-
lo perseverou em meio a toda a sua aflição de forma vitoriosa!
Note como ele descreve a sua situação:

Mas ele rne disse: "Minha graça é suficiente para você, pois
o rneu poder se aperfeiçoa na fraqueza". Portanto, eu rne
gloriarei ainda mais alegremente ern minhas fraquezas, para
que o poder de Cristo repouse ern rnirn (2 Coríntios 12:9).

Essa declaração não parece vir de um Irorriern que está


sirnplesrnerrte sobrevivendo. Não encontram.os Paulo convi-
vendo com. suas aflições e provações de uma maneira depres-
siva. Ao contrário, o encoritrarnos se regozijando nas fraquezas.
Ele não fica entusiasmado pelas fraquezas ern si mesmas, mas
exultante no fato da graça de Deus lhe conferir o poder de
administrá-las de modo vitorioso.
Paulo descobriu o que rnuitos cristãos igriorarn duran-
te toda a vida: que o poder de Deus se evidencia mais em nós
quando estamos fracos. Fica rnais evidente nos outros também.
Paulo compreendeu que era muito filais eficaz quando as fra-
quezas o forçavam a confiar no poder de Deus agindo através
dele, e por isso diz que ainda rnais alegrem.ente se gloriaria em.
suas fraquezas.
192 ! A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

o testemunho de Paulo é encorajador para mim nesta


área, muito mais do que qualquer outro. Se a graça de Deus foi
suficiente para um homem que deixou a sua família, a sua casa
e os seus amigos para plantar igrejas em ambientes hostis; que
sofreu naufrágios, foi feito prisioneiro, foi apedrejado e tido
como morto; posso confiar que a sua graça é ainda mais que
suficiente para qualquer situação que eu possa vir a passar.

8. Deus pode não achar conveniente remover a adversidade.


Este é o princípio mais dificil dentre todos de se aceitar,
não apenas no contexto de nossa própria vida, como também
na vida daqueles a quem amamos. Quantas vezes você já viu
alguém sofrendo e pensou: Deus, por que o Senhor nãofaz alguma
coisa? Uma mulher de nossa comunidade possui depósitos de
cálcio ao longo de toda a sua coluna espinhal. Suas costas são
encurvadas a tal ponto que ela não consegue sequer olhar para
cima. Todos os domingos um de nossos homens mais piedosos
e sua filha a trazem até a igreja. Enquanto eles a conduzem
°
pelo corredor até local onde costuma se sentar, sempre fico
pensando: Senhor, como sería maravilhoso se tu curasses esta querida
irmã em Cristo. E, contudo, esta parece ser uma adversidade que
ele escolheu não remover.
Muitos cristãos têm a idéia de que, se orarem e crerem
o bastante, poderão forçar a ação de Deus. Pensam que ele se
sentirá constrangido a remover as suas adversidades. Interpre-
tam erroneamente as Escrituras promovendo um caso de cura
divina para todas as situações de enfermidade ou de angústia.
As Escrituras, no entanto, não fazem tal reivindicação. Sem dú-
vida eu acredito em cura divina. Na verdade, toda cura é divi-
na. Mas em nenhum lugar na Bíblia recebemos a promessa de
estarmos isentos de doenças ou enfermidades nesta vida. Este

l j; J..oA. li.'!,.,L I.t ".,.


A HISTÓRIA DE UM HOMEM 193

mundo continua debaixo de urna maldição. E estes nossos cor-


pos sujeitos à morte e à decornposição são tão amaldiçoados
quanto todo o resto.
Lembro-rue de Joni Eareckson Tada, urn belo testemu-
nho da graça de Deus. Se existe algo que ela não tem é falta
de fé. E" preciso muito mais fé para suportar o confinamento a
urna cadeira de rodas do que para se crer que Jesus pode curar.
Joni reconhece quejesus poderia curá-la em urna fração de se-
gundos. Mas ela tambérn percebe que, no rnorrienro, ele optou
por usá-la corno está.
Jesus nunca prometeu remover a nossa dor e sofrimen-
to nesta vida. Com certeza existem casos em que ele faz isso.
Alguns são bem miraculosos. Entretanto, são exceções, e não a
regra. Jesus disse a seus discípulos:

Neste mundo vocês terão aflições; contudo, teriharn ânirno!


Eu venci o rrrundo (Ioão 16:33).

Paulo sabia o que era corrvrver com a adversidade.


Conhecia a frustração de saber que o alívio jamais viria, pois,
tendo pedido por três vezes, o alívio lhe foi negado. Mesmo
assirn não reclarriou e não ficou amargurado. Ele não duvidou
da bondade e da misericórdia de Deus. Ernvez disso, experi-
rrrerrto'u o poder de Deus. Aprendeu a depender dia após dia
da graça de Deus. Foi capaz até mesmo de aceitar o fato de
que Deus estaria lhe prestando um desserviço, caso removesse
o espinho da sua carne. E, portanto, aprendeu a viver contente,
rnesrno em meio ao sofrirnento contínuo.
Ninguém gosta de sofrer. Em nosso coração todos
desejamos alívio irnediato da dor e da aflição. Deus compre-
ende as nossas fraquezas e tristezas. Há rnornenros, contudo,
que, independente de nossa conveniência, ele permite que a
194 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

adversidade persista. O melhor que podemos fazer nestas horas


é simplesmente nos submetermos às suas soberanas decisões,
. sabendo que a sua graça será suficiente para qualquer coisa que
venhamos a enfrentar.

9. O contentamento não depende da natureza de nossas


circunstâncias.
Já encontrei muitas pessoas insatisfeitas pela vida. Estão
sempre mudando. Organizando e desorganizando as suas vidas,
sem fazer uma pausa sequer. Nunca estão contentes consigo
I

mesmas ou com as circunstâncias que as cercam. O conceito


básico subjacente à maioria das suas decisões é que o con-
tentamento pessoal está vinculado, de maneira inextricável, às
circunstâncias à sua volta. Em outras palavras, o que está à volta
de uma pessoa, como emprego, cônjuge, renda, moradia, é o
que determina o seu grau de paz de espírito e de satisfação. Em
conseqüência, quando ficam insatisfeitas com a vida, começam
a trocar tudo. Largam o emprego. Vendem a casa. Trocam de
carro. E, em alguns casos, procuram um novo cônjuge para se
casarem. Logo, no entanto, aquela mesma sensação volta a con-
sumi-los. E lá vão elas trocando tudo de novo.
Mas, pensando bem, ninguém necessitava de uma mu-
dança de cenário mais do que o apóstolo Paulo. Sua vida pare-
cia estar indo de mal a pior. Na mesma carta ele faz uma lista
dos perigos que enfrentou tentando divulgar o evangelho:

Cinco vezes recebi dos judeus trinta e nove açoites. Três


vezes fui golpeado com varas, urna vez apedrejado, três vezes
sofri naufrágio, passei urna noite e um dia exposto à fúria do
mar. Estive continuamente viajando de urna parte à outra,
enfrentei perigo nos rios, perigos de assaltantes, perigos
dos meus compatriotas, perigos dos gentios; perigos na
A HISTÓRIA DE UM HOMEM 195

cidade, perigos no deserto, perigos no mar, e perigos dos


falsos irmãos. Trabalhei arduamente: rmritas vezes fiquei sem
dormir, passei fOD1e e sede. E muitas vezes fiquei ern jejum;
suportei frio e nudez (2 Coríntios 11:24-27).

Depois de ter passado por tudo isso, ainda consegue


dizer:

Por isso, por arrror de Cristo, regozijo-zne nas fraquezas, nos


insultos, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias.
Pois, quando sou fraco é que sou forte (2 Coríntios 12: 10).

Ele faz reverberar a rnesma idéia em sua carta aos cris-


tãos filipenses:

Não estou dizendo isso porque esteja necessitado, pois


aprendi a adaptar-rue a toda e qualquer circunstância; sei o
que é passar necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi o
segredo de viver contente elll toda e qualquer situação, seja
bem alimentado, seja com fo rne, tendo muito, ou passando
necessidade (Filipenses 4: 11-12).

Se Paulo foi capaz de ficar contente em meio de todos


aqueles ambientes hostis, creio que podemos afirmar com certa
segurança que o contentamento não depende das circunstân-
cias em que alguém está vivendo. Paulo enfrentou adversidades
de todos os níveis; tudo, desde prisão e doenças até a rejeição
pelo seu próprio povo. Ainda assim declara "viver contente".
O "segredo" de Paulo, tal com.o ele se refere em Fi-
lipenses, era o seu relacionamento com. Cristo. Ele descobriu
que o verdadeiro e duradouro contentamento é encontrado
não em coisas, mas em UITla Pessoa. Conseguia estar contente
nas circunstâncias mais adversas, porque a sua meta na vida era
a de agradar ao Senhor (veja 2 Coríntios 5:9). Saber que estava
196 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

onde o seu Senhor queria que estivesse era o bastante. Ele não
necessitava de amparo rnater ial para se sentir satisfeito.
Você poderia dizer: "BeITl, isso soa trernendarnente espi-
ritual, mas seria realista pensar que podemos obter satisfação fora
do âmbito das circunstâncias?" Eu creio que é e~treITlaITlente

realista. E não acredito ser Ulll princípio aplicável apenas a UITl


grupo especial de cristãos. Este tipo de contentamento é para to-
dos os cristãos. Caso contrário, iríamos desperdiçar a maior parte
de nosso tempo e energia tentando melhorar as nossas circuns-
tâncias, ern vez de servir a Cristo. Não sou contra o desenvolvi-
mento pessoal. Contudo, tenho um problema sério corn cristãos
tão ocupados com a elevação do nível de seu estilo de vida, que
lhes sobra muito pouco tempo para Deus e sua igreja.
Para Paulo, aprender a estar contente em todas as cir-
cunstâncias era uma questão de necessidade. Ele não teria so-
brevivido caso esse princípio não funcionasse. No entanto,
como vimos, Paulo fez mais do que simplesmente sobreviver:
ele "reinou" em vida por meio de Cristo (veja Romanos 5:17).
O contentamento está disponível a todos, independente de
nossas circunstâncias, se tão-somente a nossa vida estiver com-
prometida com os propósitos e planos de Deus.

10. A chave para avançar em meio à adversidade é compreendê-la


como sendo por amor a Cristo.
Paulo compreendia que o seu propósito na vida era o
de glorificar a Deus pela pregação do evangelho de Cristo. Por
essa razão, qualquer coisa que acontecesse a ele no processo de
sua obediência a Deus era realrnerite por causa de Cristo. Ou
seja, as pessoas não estavam rejeitando a ele, Paulo. Estavam re-
jeitando a sua rnerisagern e, por conseguinte, a Cristo.
A HISTÓRIA DE UM HOMEM 197

Por isso, por amor de Cristo, regozijo-rue nas fraquezas, nos


insultos, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias.
Pois, quando sou fraco é que sou forte (2 Coríntios 12: 10
- ênfase minha).

Paulo não tornava o que acontecia a ele de maneira


pessoal. Ele compreendia que o seu sofrimento era o resulta-
do direto de sua missão de vida. Até rnesrno o seu espinho na
carne era por arrior a Cristo. Foi-lhe dado para irnpecli-Io de
macular o seu ministério, prejudicando assim a causa de Cris-
to. Paulo não estava se gloriando no sofrimento por causa do
sofrimento ern si. Era por amor a Cristo. Havia propósito em.
tudo que vivenciava.
A sua missão na vida é a de glorificar a Deus pela divul-
gação do Evangelho de Cristo. Talvez você nunca suba em um
púlpito. Talvez nunca saia de sua cidade natal. Independente de
onde for ou das oportunidades que tenha, a sua missão con-
tinua sendo a rnesrna, Quando você se deixar consunrir pelo
chamado de Deus para a sua vida, tudo passará a ter um novo
significado e) importância. Você começará a ver cada faceta da
sua vida - inclusive o seu sofrimento - como meios através
dos quais Deus pode conduzir outros a si mesmo. Quando
Deus usa a adversidade ern sua vida para atrair pessoas para si,
você está sofrendo por arrror a Cristo.
Sabemos que Deus pode usar o nosso tempo, o nosso
dinheiro e o~ nossos talentos. Por que não os nossos sofrimen-
tos? Já ouvi rnuitos apelos de pregadores pedindo que os ou-
vintes consagrassem os seus filhos, suas casas e seus trabalhos ao
serviço do Senhor.Ainda estou para ouvir algum pregador de-
safiando o seu povo a consagrar as suas adversidades ao Senhor.
Entretanto, nada chama mais a atenção de um mundo perdido
do que um santo bell1 sucedido, ainda que sofrendo. Angústia e
aflição são ferramentas poderosas nas mãos certas.
198 ! A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

Por amor a quem você está sofrendo? A maioria das


pessoas sofre por amor próprio. Em decorrência disso, se tor-
nam amarguradas, irascíveis e são difíceis de se conviver. Paulo
tinha consciência de que sofria por causa de Cristo. Era apenas
,
mais uma forma de expressar a glória e a graça de Deus a um
mundo perdido. Pode ser que Deus queira aliviá-lo da adver-
sidade em que se encontra. Também pode escolher adiar o seu
livramento de modo a usar o seu sofrimento em sua causa. Isso
seria cruel, você poderia dizer. Pode ser que pareça assim agora.
N o entanto, lembre-se de que ele não poupou o seu próprio
Filho. Você e eu temos a vida eterna hoje, porque Cristo sofreu
e morreu por amor a seu Pai. Foi através da dor de nosso Se-
nhor que muitos se reconciliaram com Deus. E aqueles de nós
que afirmam conhecê-lo precisam andar como ele andou. Isto
é, deveríamos disponibilizar a dor para que Deus a use como
melhor desejar. E, então, nós também estaremos suportando
estas coisas por amor de Cristo.

Olhando para trás


Quando volto a pensar nas dez lições que Paulo apren-
deu a respeito da adversidade, ele quase parece surreal. Faz tudo
parecer muito simples. Isso acontece porque, na época em que
escreveu a carta à igreja de Corinto, Paulo já tinha assimilado
esses princípios em seu estilo de vida. É exatamente como ob-
servar tenistas profissionais jogando uma partida. Os jogadores
fazem parecer muito fácil. Fico querendo ir para casa, apanhar a
minha raquete e começar a bater nas bolas de tênis o mais forte
que puder. Porque parece que é só isso que eles estão fazendo.
O que não vejo são as horas a fio de treinamento e prática por
que passam antes de cada disputa.
A HISTÓRIA DE UM HOMEM 199

Quando lemos a respeito da vida de Paulo em Atos e


em suas diversas epístolas, estamos visualizando-o em sua me-
lhor forma, ao fim de uma vida inteira de aprendizado. Isso não
significa que devemos dar um desconto no que ele escreve.Ao
contrário, o que lemos em 2 Coríntios 12 deveria nos esti-
mular, e muito. Lá somos apresentados às nossas possibilidades
quando estamos sob pressão. O texto serve para nos lembrar
constantemente da graça sempiterna de Deus. Ele se levanta
como uma advertência para aqueles que pensam em sacudir
os punhos contra Deus quando chega a adversidade. Na vida
de Paulo havia tanto e tremendo sofrimento, que cada um de
nós deveria pensar: Se Deusfoi capaz de sustentá-lo através de tudo
aquilo, não tenho nada com que me preocupar.
Você realmente não tem nada com que se preocupar.
A graça de Deus é, mesmo agora enquanto você está lendo,
suficiente para o que for que esteja enfrentando. A sua respon-
sabilidade é a de se submeter ao senhorio de Cristo e dizer:

Que tudo, Senhor, seja feito ao modo teu;


Tu és o oleiro, o vaso sou eu;
Molda e faça de mim segundo a tua vontade;
Enquanto aguardo, com toda a serenidade.

Quando essa for a oração sincera do teu coração, você


também ficará contente com a fraqueza. E terá dado um gran-
de passo no avançar em meio à adversidade.
I 1

1 I
I

I
1

I 1
1 11 III1 i
1
11
1

II Il ! I
1: ~
1
Capítulo Quinze
Reagindo à adversidade:
A escolha é sua . . ' "

Começamos no Capítulo 1 focando as possíveis fontes da


adversidade. Descobrimos que existem três: Deus, Satanás e o
pecado. Mas nem sempre é fácil discernir as fontes de nossa
adversidade.Vimos até mesmo casos na Bíblia onde parecem se
,
sobrepor. E evidente que o principal interesse de Deus não é
que sempre saibamos a fonte de nossa adversidade. Caso con-
trário ele teria deixado isso claro. Deus está, porém, tremen-
damente interessado em como reagimos à adversidade, porque
a nossa reação determinará se ela levará a efeito os resultados
almejados ou não.
A natureza de nossa adversidade por si não é determi-
nante de seu valor espiritual em nossa vida. E sim a nossa reação
a ela, a forma como a tratamos, que faz com que o sofrimento
tenha valor. Todos já vimos pessoas que ao passarem por tem-
202 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

pos difíceis cederam sob a pressão. Algumas delas conseguiram


se recompor e foram em frente, procurando aprender o que
Deus tinha para lhes ensinar. Outras jamais se recuperaram.

o jogo da culpa
Quando chega a adversidade, nossa primeira reação é
de, muitas vezes, culpar alguém. Lembro-me de um acidente
de carro, em que um estudante universitário tentava explicar
ao policial por que havia capotado em frente a urna rrrulher.
Ele tinha certeza de que não fora sua culpa, mas alguma coisa
com relação ao ângulo do sinal de trânsito o levara a perder a
direção. Não se podia culpá-lo por nada. No entanto, aquele
jovem estava com tanta raiva por ter acabado com o seu carro
que não poderia suportar a idéia de ser culpado pelo acidente.
Todos temos a tendência de descarregar nos outros à
nossa volta quando as coisas saem errado, ou quando somos
feridos. Lembre-se da reação de Maria e de Marta: "Senhor,
se estivesses aqui ..." Algumas pessoas culpam a Deus. Outras
culpam Satanás. Em geral, porém, colocamos a culpa em outra
pessoa na tentativa de nos livrar de nossa responsabilidade.
Se culpar outros não nos leva a lugar nenhum, pode-
mos nos encontrar lutando com o problema. Tentamos mani-
pular ou modificar as circunstâncias de maneira a nos ver livres
da dor ou de qualquer inconveniência. Esta é a razão de muitos
processos na justiça. As pessoas que são demitidas ou preteridas
em uma promoção podem querer processar a empresa. Sen-
tem-se compelidos a lutar por seus direitos.
Outra forma de reagir à tragédia é a negação. As pesso-
as simplesmente não enfrentam o que aconteceu. Agem como
se não houvesse nada errado. Vejo isso em situações ern que
alguém perdeu um ente querido. E um dos pais ou amigos

f I, <~" ,,, !/,< .,,,toI


REAGINDO À ADVERSIDADE: A ESCOLHA ~ SUA 203

se recusa a aceitar que a separação seja para sempre. Em geral,


essa é uma situação temporária. Corn o tempo, a maioria das
pessoas é capaz de aceitar o que aconteceu.
Qualquer uma das reações anteriores pode facilmen-
te se transformar ern amargura - amargura contra a pessoa
ou instituição através da qual veio a adversidade, ou rnesrno
amargura contra Deus. Quando as pessoas ficam amarguradas,
a simples lembrança de quem lhes causou a mágoa lhes revira
o estômago. A amargura força as pessoas a reagirem de modo
exagerado diante de circunstâncias que as façam lembrar-se
daqueles que os feriram.
Quando isso ocorre, as pessoas podem pensar em vin-
gança.Todos nós poderíamos confessar ter alimentado em. pen-
samentos o que poderíam.os fazer a alguém se pudéssemos sair
ilesos. Imaginamo-nos indo até a sala de nosso chefe e descar-
regando em cima dele. Ou quem sabe telefonando a nossos
pais e deixando-os saber exatamente o que pensam.os. Seja qual
for o caso, quando confrontos im.aginários surgem de modo
rotineiro, é uma boa indicação de que estamos acolhendo a
amargura.
A amargura contra Deus é muito semelhante. Llrna
pessoa que está amargurada com. Deus não consegue conversar
sobre telllas religiosos de maneira objetiva. A em.oção sempre
está envolvida. Conheci um casal que se autoproclamava ateu.
Eles ficaram. tão aborrecidos quando o assunto sobre Deus foi
levantado, que chegaram a ficar verm.elhos! Poderia se pensar
que conversar sobre algo que não existe acabaria em. UlTI. debate
de nível intelectual elevado. Mas, para essas pessoas, o ateísmo
originou-se não de pesquisas ou de reflexões intelectuais, m.as
de m.ágoa.Até certo tempo eles criam em Deus. Mas, como ele
não agiu da form.a que eles enrerrdiarn que deveria, decidiram
que ele não existia. Tal é o poder da amargura.
204 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

A autopiedade
Uma outra forma comum de se lidar com a adversida-
de é com a autopiedade: "Oh, meu, Deus, o que eu vou fazer?
Ninguém se importa mais comigo. Olha só a minha situação. Eu
não tenho mais nenhuma esperança. Logo, eu não terei mais
nenhum amigo. Eu vou ficar sozinho..." A autopiedade é o
resultado de se concentrar exclusivamente em si mesmo, em
vez de em Deus. Os que sofrem de autopiedade criaram um
círculo imaginário em torno de si mesmos e de suas circuns-
tâncias. As únicas pessoas que permitem entrar são aquelas que
desejam se unir em sua situação miserável. Em conseqüência,
muitas vezes terminam sozinhas. Ninguém deseja ficar muito
tempo em volta de pessoas assim. Essa solitude reforça as suas
perspectivas negativas, e então pendem de maneira ainda mais
firme para elas.
Não é incomum que tais pessoas se tornem depressivas.
A falta de esperança as domina, e já não vêem sentido em con-
tinuar vivendo. As pessoas deprimidas são incapazes de inter-
pretar de modo acurado os acontecimentos à sua volta. Desse
modo, se deixadas sozinhas, tendem a piorar.
Reagir de forma errada diante da adversidade sempre
terá um efeito devastador. Aqueles que reagem de qualquer
uma dessas formas que descrevemos sempre sairão perdendo.
A reação de quem se sente ferido é sempre compreensível; po-
, ......" _." .
rem, nao Importa o quanto suas reaçoes sejam compreensíveis,
se forem reações erradas, sofrerá do mesmo modo.
Guardar rancor ou amargura é sempre autodestruti-
vo. Ambos são venenos. Envenenam seus relacionamentos, sua
capacidade de tomar decisões, seu testemunho. Não se pode
guardar rancor ou amargura e ainda sair-se vitorioso da ad-
versidade. A reação incorreta à adversidade somente prolonga
REAGINDO À ADVERSIDADE: A ESCOLHA É SUA 205

a agonia. Isso é especialmente verdade se existe algo específico


que Deus queira lhe ensinar. Ele não irá desistir até que tenha
cumprido a sua vontade.
Houve situações em que me senti como que andando
em um carrossel. Dando voltas e mais voltas sem parar, expe-
rimentando as mesmas mágoas vez após outra, como quem
exclamasse: "Deus, o que o Senhor está fazendo? Eu já passei
por isso antes!" E era como se ele me respondesse: "Você está
certo, e, quando reagir da maneira correta, eu o liberarei".
Deus quer usar a nossa dor e angústia para algo positi-
vo. Quando reagimos de forma incorreta, podemos estar certos
de que ele encontrará um jeito de nos dar uma segunda ou
terceira chances de fazer do modo certo.
Em seu livro Don't Waste Your Sorrows [Não Desperdice
as Suas Angústias], Paul Bilheimer expõe o mesmo princípio
.
da seguinte forma:

Entregar-se à autopiedade, à depressão e à rebelião é um


desperdício de angústia. Aqueles que buscaram cura sem
sucesso e se rendem ao ressentimento, à 'insatisfação, à
impaciência e à amargura contra Deus, estão desperdiçando
o que ele planejou para o seu crescimento em amor e, por
conseguinte, para uma posição elevada no Reino eterno.

Deus deseja usar a adversidade em nossa vida. Sendo


assim, o mais sábio que podemos fazer é aprender a reagir de
modo correto.Ao fazermos isso, trabalhamos com Deus ao in-
vés de contra ele.
206 A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

A REAÇÃO CERTA

Dividi esta parte em duas. Primeiro, vamos tratar de


como reagir à adversidade resultante do pecado. Em seguida,
nos concentraremos em como deve ser a nossa reação quando
a adversidade se origina em Deus ou em Satanás.

o salário do pecado
o pecado sempre resulta em alguma forma de adver-
sidade. Alguns tipos são visivelmente mais óbvios que outros. E
alguns são mais devastadores em seus efeitos. Entretanto, sem-
pre existe algum tipo de conseqüência, mesmo que seja so-
mente culpa. A seguir estão alguns passos que considero úteis
para se lidar com as conseqüências do pecado.

1. Assuma a responsabilidade. Não procure outro cul-


pado. Não fique pensando no que poderia ter acontecido se
alguém tivesse feito algo de forma diferente. Aceite a respon-
sabilidade; admita para si mesmo -que está enfrentando circuns-
tâncias -adversas devido a algo que você mesmo fez ou deixou
de fazer.

2. Confesse e arrependa-se de seu pecado. Confessar é


concordar com Deus. Dizer a Deus que pecou. Não que co-
meteu um erro. Não que sofreu um acidente. Apenas concor-
dar com ele que é pecado. A seguir, arrependa-se do seu peca-
do. Torne a decisão de não mais voltar a ele. Isso pode requerer
o rompimento de um relacionamento. Pode significar deixar
o lugar onde está empregado. Pode ser que tenha que voltar
às pessoas com quem errou e se desculpar. Talvez tenha furta-
REAGINDO A ADVERSIDADE: A ESCOLHA É SUA 207

do algo de alguém. O arrependimento envolveria devolver o


que tirou. Arrepender-se é fazer todos os acertos necessários
para que não se volte mais àquele mesmo pecado. Desse modo,
Deus saberá que você o está levando a sério.

3. Não reclame. Se você está sofrendo devido a algo


que você mesmo fez, não tem o direito de reclamar.Você mes-
mo trouxe isso sobre si. Não perca tempo tentando obter a
simpatia das pessoas. Utilize a sua energia para acertar as coisas
COll1 Deus.

4. Peça a Deus que o ajude a descobrir a fraqueza através


da qual o pecado se infiltrou em sua vida. Existe alguma falha
no seu m.odo de pensar? Você acolheu idéias em sua filosofia
de 'vida que são contrárias às Escrituras? Existe alguma área em
que se sente inseguro e com a qual nunca lidou antes? Você
tem amigos que o põem para baixo? Há alguém. em sua vida
que é urna constante fonte de tentação? Perguntas como essas
podem. ajudá-lo a identificar a porta por onde o pecado entrou
e achou um espaço confortável para se alojar em sua vida.

5. Reconheça que Deus deseja usar esta adversidade em


sua vida. Independente da fonte, a adversidade sempre é um
instrum.ento quando posta nas mãos do Senhor. Diga a ele:
"Pai, sei que estou sofrendo pelo que eu mesm.o fiz. Porém,
confio em que o Senhor usará este tempo de adversidade para
aprofundar a minha fé ·e fortalecer o meu compromisso para
contigo".

6.Agradeça a Deus por não ter permitido que você pros-


seguisse com seu pecado. Arrependimento verdadeiro é seguido
de gratidão genuína. Quando você vê o seu pecado pelo que
208 i A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

de fato ele é, e crê que Deus disciplina àqueles a quem ama,


então faz sentido agradecer a Deus por enviar a adversidade
em sua vida, se isso foi o necessário para evitar que você con-
tinuasse se ferindo mais ainda. Ninguém gosta de adversidades.
Mas você pode e deve ficar grato por aquilo que a adversidade
realiza.

A adversidade do alto e a de baixo


Reagir à adversidade que se origina em Deus ou em
Satanás é diferente da mera reação às conseqüências do pecado.
Contudo, o modo como se reage quando Deus está por trás da
adversidade, ou quando Satanás está por trás, são idênticos. Isso
pode lhe causar surpresa. Mas, pense no assunto. Na maioria
das vezes, você realmente não sabe quem está por trás. E, de
fato, não importa. O que é importante é a sua reação.
Além disso, no entanto, outro princípio se torna um
fator. Você sabe que, se Deus está por trás da adversidade, ele a
usará para o seu bem. Se Satanás é quem está por trás, você sabe
que ele opera sob a supervisão de Deus. Como você já viu na
vida de Paulo, Deus usa até mesmo os esquemas de Satanás a .
fim de realizar a sua vontade. Não existe pressão para que você
descubra a origem, mas se espera que reaja corretamente.
Pode ser que pense: Mas eu não deveria resistir ao diabo?
Não deveria me colocar contra ele pela Escritura e pela oração? Com
certeza! Quando ele se aproxima de você para tentá-lo. Porque
você sabe que Deus não tem parte alguma na tentação. Entre-
tanto, não estamos falando de tentação. O foco é a adversida-
de, a tragédia inesperada, e o sofrimento. Quando estas coisas
ocorrem, e você está certo de que não é como conseqüência
direta de seu pecado, eis como deve reagir:

\ \. U ,4",." ,I '.. '


REAGINDO À ADVERSIDADE: A ESCOLHA É SUA 209

1. Reafirme a sua posição em Cristo. Reletnbre-se de


quetn você é e do que possui ern Cristo. Ajuda se fizer em voz
alta.Você pode dizer algo COll1O:

Sei que sou UITl filho de


,.
Deus. Estou salvo. Estou unido a
Cristo. Fui selado COITl o Espírito Santo. Meu destino eterno
já está deterrninado e nada pode rnudar isso. O Senhor nunca
irá rne deixar ou rne abandonar. O anjo do Senhor acaITlpa-
se à rninha volta. Nada pode rne atingir além do que o rrieu
amoroso Pai celestial permite. Todas as coisas contribuirão
para o rrieu bem., pois arrio a Deus e fui chamado de acordo
COITl o seu propósito ern Cristo Jesus.

Ern seu livro God's New Creation [A Nova Criação de


Deus], Jack Taylor relaciona 365 afirrnações verdadeiras sobre
o cristão. Ele as chama "Confissões da Nova Criação". Elas
surgiram ern urn rnornenro de sua vida erri que lutava corn
adversidades. Ele escreve:

Certo dia, rmrito distante de casa e sozinho, eu parecia ter


sido encoberto por trrna rruvern de ansiedade, de incertezas,
e de depressão. Não conseguia identificar precisam.ente a
origern de meu problema, m.as os serrtirneritos tinham a ver
COITl a rniriha posição real diante de Deus. Quanto mais eu
pensava, rnais exasperado ficava. Afinal dirigi estas palavras a
Deus: "Gostaria realm.ente de saber o que o Senhor pensa
a rrreu respeito". O Senhor corrteçou a se cornurricar COlll
o llleu coração abalado, mstando-rne a ir à Palavra COITlO se
a dizer: "Eu já deixei muito claro o que penso de você ern
. h a Palavra. . . I ela.
nun . I"

A partir dessa experiência, Jack desenvolveu as 365


confissões.Verdades COITlO essas são essenciais para que se tnan-
tenha a perspectiva correta acerca da adversidade. O motivo é
210 j A ARTE DE SUPERAR PROBLEMAS

que a auto-estima e a confiança em Deus são em geral as duas


coisas mais afetadas pela tragédia:" Como Deus poderia permi-
tir que isso acontecesse a mim?" Em momentos de desespero
é preciso uma boa e forte dose da verdade para aliviar o seu
coração atribulado.

2. Peça a Deus que retire a adversidade da sua vida. Em


geral é por aqui que começamos. E tenho certeza de que o Se-
nhor compreende. No entanto, é melhor pedir isso depois de
termos readquirido alguma perspectiva apropriada. Paulo pe-
diu que a sua adversidade fosse removida. Deus não o castigou
por essa solicitação. Deus não ficará ofendido pelo seu pedido,
de igual modo. Até mesmo a sua oração por misericórdia é
uma expressão de dependência e de fé. Deus sempre se agrada
quando demonstramos a nossa fé.

3. Reafirme a promessa da graça sustentadora de Deus.


Como já vimos, Deus pode escolher não retirar a adversidade
da sua vida de maneira imediata. Quando isso ocorrer, é impe-
rativo que você descanse confiantemente em sua graça em vez
de em suas próprias forças. As pessoas que procuram suportar
o sofrimento em suas próprias forças desabam sob o peso de
toda a situação. Admita franca e diretamente que você não tem
o poder para agüentar a pressão. Clame a Deus por misericór-
dia. Ele o ouvirá. A sua graça será suficiente, momento após
momento, para que você atravesse por tudo.

4. Agradeça a Deus por esta oportunidade única de cres-


,-
cimento espiritual. E preciso procurar pela parte que concerne
a Deus na sua adversidade, ou você a deixará escapar. Não se
espera que você simplesmente suporte o sofrimento, mas que
você cresça e amadureça em meio a ele. Desde o princípio você
REAGINDO À ADVERSIDADE; A ESCOLHA É SUA 211

deve procurar pelas lições que Deus deseja lhe ensinar. A melhor
forrna de desenvolver esta atitude é agradecendo a ele todos os
dias pelo crescimento espiritual que está trazendo à sua vida.

s. Receba a adversidade como advinda de Deus. Não


importa se a adversidade que você está enfrentando se originou
com. Satanás. Receba-a como se viesse da parte de Deus.Você
sabe que nada pode acontecer a você salvo se ele o permitir. E:>
se ele o perrnite, certamente tem um. propósito nisto. Portarrto,
desde que Deus esteja realizando o seu propósito através da
adversidade em. sua vida, você pode recebê-la corno se dele
proviesse. Quando você reage à adversidade como advinda de
Satanás, a tendência é lutar contra ela. Se ela se demorar, você
pode corrieçar a duvidar de Deus.
Eu aprendi esse princípio durante um dos períodos
mais difíceis de minha vida. Depois de estar na Prrrneira Igreja
Batista de Atlanta por apenas UITl ano, vários diáconos corneça-
ram um movimento para me retirar da igreja. Enquanto orava,
soube sem sornbra de dúvidas que Deus queria que eu ficasse.
As coisas ficaram bem complicadas por um certo tempo. Pes-
soas que pensava sererri rnirrhas amigas voltaram as costas para
rnirn. De urna sernana para outra não sabia em quem confiar.
Por tirn lado, eu sabia que:> se Deus queria que eu ficasse
na PIB e eles queriam que eu saísse, com certeza não estavam
sendo conduzidos pelo Espírito. Isso só deixava trrna opção.
Satanás estava de modo inequívoco por trás da controvérsia.
Não obstante, por outro lado, eu sabia que de algum. modo o
Senhor tambérn estava lá, do rrresrrio jeito. Certo dia, eu estava
em rneu escritório orando, e rne ocorreu um pensamento que
agora sei ter sido do Senhor: A única maneira de lidar com isso é
não olhando para os homens} mas mantendo os seus olhos em mim.
Não importa quem diz o quê} quando} onde ou como. Vócê deve ver
tudo isso como advindo de mim.
212 A ARTE DESUPERAR PROBLEMAS

A partir daquele instante, eu passei a agradecer a Deus


pelo que ele estava fazendo. As coisas pioraram antes de me-
lhorarem. Mas Deus foi fiel. Ele realizou muitas grandes coisas
durante aquele período, tanto em minha vida quanto na vida
da igreja. A despeito de toda a rejeição e decepção, jamais fi-
quei amargurado. Até hoj e não guardei nenhum ressentimento.
O que me sustentou em meio a tudo foi confiar que de algum
modo Deus estava naquilo tudo, e que depois de ter realizado
o seu propósito, as coisas iriam mudar. Enquanto isso, a minha
responsabilidade era a de permanecer fiel.
Desde que você seja capaz de crer que Deus está en-
volvido na adversidade que está enfrentando, terá esperança.
Independente de quem a iniciou, Deus está nela! E se ele está
nela, a sua graça para você será suficiente. Não faz a menor-
diferença quem ê a fonte. Importa muito pouco quem ê o
mensageiro. Desde que você reaja como se fosse da parte de
Deus, sairá vitorioso!

6. Leia e medite nas Escrituras que descrevem as adver-


sidades dos servos de Deus. Leia a história de José. Coloque-se
no lugar de Moisés quando lhe foi dito que não poderia entrar
na Terra Prometida. Olhe a forma como Deus proveu Abraão,
quando lhe foi deixada a terra menos desejável. Imagine como
N oé se sentiu tolo construindo a arca. A Bíblia contém inú-
meras ilustrações acerca da fidelidade de Deus em circunstân-
cias adversas. Preencha a sua mente com essas verdades. Peça
a ele que abra os seus olhos para enxergar o lado humano
desses personagens, para que você seja capaz de se identificar
com suas dores e angústias. A seguir, repouse na promessa de
Cristo de cuidar daqueles que o amam (veja Mateus 6:25-34).
Exatamente como ele foi fiel àqueles cujas histórias estão no
Antigo e no Novo Testamentos, assim ele irá demonstrar a sua
fidelidade a você.
REAGINDO ÀADVERSIDADE: AESCOLHA ÉSUA 213

Uma palavrafinal. Osofrimento éinevitável. Ele che-


ga sem aviso; ele nos toma de surpresa. Pode tanto nos partir
aos pedaços quanto nos fortalecer. Pode ser afonte de grande
amargura ou de alegria transbordante. Pode ser o meio pelo
qual a nossa fé édestruída. Ou o instrumento pelo qual a nossa
fé se torna mais profunda. Oresultado não depende da natu-
reza ou fonte de nossa adversidade, mas do caráter e espírito
de nossa reação. Nossa reação àadversidade será em sua maior
parte determinada pela nossa razão de viver, nosso propósito
para estar neste planeta, em como ovemos.
Se você éum filho de Deus cujo desejo do coração é
ver Deus glorificado através de você, aadversidade não olevará
a nocaute. Haverá aqueles momentos iniciais de choque e de
confusão. Mas aquele que possui a perspectiva de Deus nesta
vida ena vida por vir sempre se sairá vitorioso!

Você também pode gostar