Esta é uma das matérias em que mais se nota a diferença de opiniões na Doutrina, porque, se em geral
todos concordam em considerar como elementos da relação jurídico-fiscal o sujeito, o objecto e as
garantias, já existem múltiplos modos de conceber e ordenar estes elementos, não faltando autores que
autonomizam o facto jurídico, mas também outros que autonomizam outros elementos.
Sujeitos:
Todas as relações jurídicas em geral - e também a relação jurídica fiscal – desenvolvem-se entre pessoas.
Estes sujeitos – os titulares – aparecem numa posição de titulares de direitos e deveres previstos na lei fiscal e o
exercício desses direitos e deveres visa a percepção do imposto.
A característica 1ª destes sujeitos é a personalidade tributária, isto é, a susceptibilidade de ser titular de
direitos e deveres de tipo tributário (art. 15/1 LGT).
Segundo o Dr. Soares Martinez, o conceito de personalidade jurídico-tributária é específica do Direito
Fiscal e diferencia-se do conceito de personalidade jurídica do Direito Civil. O Direito Fiscal, defende o mesmo
autor, personaliza certos centros de interesses que outros ramos de Direito não personalizam (p. ex., actividades
desenvolvidas por sociedades irregulares). O Prof. Miguel Vasconcelos concorda com esta posição.
O conceito de capacidade de exercício tributária coincide, de acordo com o Dr. Brás Teixeira, com o
conceito de capacidade de exercício em geral, no Direito Civil. De acordo com este autor, para termos uma relação
tributária é necessário que os respectivos sujeitos tenham personalidade jurídica e capacidade jurídica tributária
(titulares de direitos e deveres fiscais). O conceito de capacidade tributária de exercício, numa relação tributária, é
dispensável, pois os incapazes tendem a ser capazes tributariamente.
b) Autarquias locais:
Entende-se por autarquia locais, a pessoa de Direito Público cujos fins e atribuições se acham limitados a
uma circunscrição do território do Estado e à população que nela reside (art. 272/2 CRM).
Tem-se procurado distinguir o sujeito passivo - titular de uma situação jurídico-tributária passiva - do
contribuinte - pessoa em relação à qual se verificaram os pressupostos tributários - e do devedor de imposto - aquele
sobre quem recai o dever de prestar. Mas não parece que tal destrinça se justifique. A pessoa relativamente à qual se
verificaram os pressupostos tributários, ou o facto tributário, é necessariamente titular de uma situação jurídico-
tributária. E aquele sobre quem recai o dever de prestar não pode deixar de ser também uma pessoa relativamente à
qual se verificaram os pressupostos tributários, com cuja verificação essa mesma pessoa passou a ser titular de uma
situação jurídico-tributária.
Não deverá pretender-se que o substituto de imposto, ou que o responsável tributário sejam devedores, mas
não sejam contribuintes, nem sujeitos passivos, da relação de imposto. O substituto, como o responsável, como o
devedor solidário, como o sucessor devem o imposto, são devedores, porque são contribuintes, porque são sujeitos
passivos da relação jurídica de imposto (art. 14 LGT). Apenas não são sujeitos passivos, nem devedores originários.
O sujeito tributário passivo pode sê-lo por um débito originário ou por um débito não originário. O débito
do sujeito tributário passivo é normalmente originário. Alguém auferiu um rendimento, recebeu um património, ou
praticou um acto de que se presume certo benefício. Por essa razão constituiu-se um débito tributário, que é seu
próprio, originário, pois a presunção legal de benefício, de utilidade económica definitiva, respeita a essa pessoa.
Contudo, as leis de impostos mostram particulares cuidados em acautelar, e facilitar, a realização dos
créditos tributários. E um dos meios de que se servem para o fazer consiste na extensão do dever de prestar a
entidades que não são originários devedores. Porque em relação a elas se não estabelece uma presunção de
benefício, ou de beneficio definitivo, ou de beneficio total.
Alguns autores referem-se a obrigados por débitos tributários próprios e obrigados por débitos tributários
alheios. O CPT também se refere a “responsabilidade fiscal por dividas de outrem” (art. 11). Mas a destrinça não
parece inteiramente correcta. Desde que um preceito legal impõe a alguém, verificadas certas condições, o
pagamento de uma prestação tributária, o débito é seu próprio. Embora possa não ser originariamente seu.
i) A Solidariedade Fiscal:
Quando várias pessoas se acham na posição de sujeitos passivos de um mesmo vínculo tributário, é de
admitir que a lei fiscal as considere solidariamente obrigadas. E, nesse caso, o sujeito activo poderá exigir de uma o
pagamento da totalidade da prestação tributária, nos termos comuns do Regime de solidariedade (Código Civil,
arts. 521 e 524).
Para se falar em sucessão fiscal é necessário que o sucessor venha a ocupar, na mesma relação jurídica, o
lugar do sucedido (do de cujus). É necessário que, no momento em que se verifica a sucessão, a relação fiscal já
exista e ainda não se tenha extinguido, passando o lugar de sujeito passivo a ser ocupado por entidade diversa do
devedor originário.
Quanto à forma, a sucessão pode, em geral, realizar-se inter vivos, mortis causa, determinada por lei ou
determinada por um acto de autonomia privada.
No Direito Fiscal, a sucessão fiscal só é possível por morte, dado o carácter da indisponibilidade da
obrigação tributária, que decorre do facto das obrigações fiscais terem natureza de Direito Público.
cfr. arts. 42/2 LGT.
-
No que se refere ao âmbito da sucessão fiscal, há que distinguir entre dívidas fiscais e penas fiscais.
São de natureza muito diversa as pessoas colectivas que podem estar sujeitas ao cumprimento de deveres
tributários. A cada uma delas corresponderão, segundo essa natureza e a sua forma de constituição, um ou mais
órgãos próprios. Também aqui o Direito Fiscal se conforma com as normas de Direito Civil, Direito Comercial e
Direito Administrativo aplicáveis.
O órgão competente para manifestar a vontade de uma pessoa colectiva no desenvolvimento de outras
relações de Direito será também aquele que a legislação tributária como tal reconhece no plano das relações
jurídico-fiscais. Serão órgãos das entidades de Direito Público os que as leis administrativas assim admitirem; serão
órgãos das pessoas colectivas privadas os seus gerentes, directores, administradores, gestores, consoante o que for
determinado pelos respectivos pactos sociais ou outros instrumentos constitutivos.