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BOÉCIO. A consolação da Filosofia. Capítulo III, Livro 5. Tradução de Willian Li.

São Paulo: Martins


Fontes, 1998, p. 59-61.

Proposta de estrutura argumentativa,


por Patrícia Del Nero Velasco

Logo no início do fragmento há um primeiro argumento:

P1A1. A felicidade é o verdadeiro fim.


CfinalA1. Vossa inclinação natural vos leva ao verdadeiro bem e, por outro lado, vossa
cegueira quanto aos inumeráveis aspectos afasta-vos dele.

Na sequência, Boécio aponta uma hipótese inicial, qual seja, a de que as riquezas parecem
corresponder à felicidade. Passa, então, a investigar a hipótese, procurando saber se os meios pelos
quais as pessoas pensam em adquirir a felicidade são apropriados para se atingir aquilo que fixaram
como meta.

P1A2. Se o dinheiro, a honraria e afins levam a algo que pareça incluir todos os bens
existentes, então se admitiria que sua aquisição torna as pessoas felizes.
P2A2. Se esses bens não oferecem o que realmente foi prometido, a aparência de
felicidade é enganosa.
P3A2. Aqueles que têm riqueza não têm tranquilidade de espírito.
CIA2. A riqueza não pode fazer com que um homem não tenha necessidade de algo (que
é o que ela promete).
CfinalA2. A aparência de felicidade (quanto às riquezas) é enganosa.

E continua:

P1A3. O dinheiro não tem a propriedade de não poder ser roubado por outros.
P2A3. É sempre necessária uma ajuda externa para proteger o dinheiro.
P3A3. Se não corrêssemos o risco de perder o dinheiro que temos, então não teríamos
necessidade de proteção.
C1A3. Corremos o risco de perder o dinheiro que temos.
CfinalA3. As riquezas (que eram buscadas para se atingir a independência) tornaram seu
possuidor dependente de ajuda alheia.

Note que C1A3 foi obtida de P3A3 e P2A3 e o argumento assim constituído pode ser
identificado como um caso de modus tollens: P3A3 é a condicional; P2A3 é a premissa de negação do
consequente e a conclusão obtida, por sua vez, é a negação do antecedente.
Boécio apresenta ainda dois outros argumentos, sendo um deles, complexo, pois constituído
de subargumentos.

P1A4. Os ricos não passam sede, fome ou frio.


CfinalA4. As riquezas podem sempre tornar mais suportável a dependência – mas não a
suprimem.

P1A5. A necessidade encontra a sua satisfação nas riquezas, mas não é suprimida,
então resta sempre uma necessidade a ser satisfeita.
CfinalA5. = As riquezas não evitam a necessidade, mas, ao contrário, criam sua própria
P1A6. necessidade.
CfinalA6. Não podemos crer que as riquezas possam oferecer garantia de independência.

Finalmente, está o autor em condições de refutar a hipótese inicial, concluindo, pois, que a
riqueza não pode ser a Felicidade (o verdadeiro fim).

São Bernardo do Campo, 12 de março de 2013

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