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MAPA GEOLOGICO DO PRECAMBRIANO DA FAIXA SERIDO, NORDESTE DO BRASIL Emanuel Ferraz Jardim de Sé Departamento de Geologia - UFRN, bolsista CNPq. Maria Helena Bezerra Maia de Hollanda Curso de Geologia - UFRN, bolsista PIBIC-CNPq Contribuigao do Nucleo de Pesquisa em Geodinamica e Geofisica - NPGG/UFRN Apoio FINEP/PADCT INTRODUGAO. No inicio da década de 80, os principais documentos geocartogréficos na Faixa Seridé (RN-PB) correspondiam aos mapas dos projetos Leste da Paraiba e do Rio Grande do Norte (Barbosa et al. 1974) e Scheelita do Seridé (Lima et al. 1980), ambos executados por convénios DNPM/CPRM e incorporando informagées previamente obtidas em outros projetos daqueles érgaos, da SUDENE e da UFPE. Apés mais de uma década de trabalhos, fazia-se necessaria a compilagao de um outro documento de sintese regional, nao apenas atualizado com as novas contribuigses ao mapeamento sistemdtico mas também incorporando os resultados das pesquisas na regio, 0 que foi receriemente concluido (Jardim de Sé 1994). A PROPOSTA DO MAPA. O mapa objeto desta apresentagao foi preparado em escala 1:250,000. A atualizagao da cartografia geolégica foi feita com a incorporagao das informagées oriundas de relatérios de graduagéo do Curso de Geologia da UFRN, varias dissertagdes de Mestrado (pesquisadores e ex-alunos da UFRN, trabalhando na UFPE e UNESP) € alguns projetos de mapeamento e pesquisa mineral (convénio DNPMIJICA, 1990}, sobrepostos aos dzis documentos basicos acima referidos. O mapa se propée a registrar dois aspectos principais da geologia precambriana: (i) a estratigrafia, empilhando as diferentes unidades e cartografando a sua distribuigao na regio; (ii) a deformagao e evolugao crustal, corn énfase na representagao das diferentes estruturas. Com respeito ao item (ji), foi também elaborado um mapa estrutural (Jardim de Sa 1994) cuja concepeao per nite uma melhor visualizago das estruturas em macro-escala, incluindo feig6es de superposigao, zonas de cisalhamento e relagées com os pliitons brasilianos. Esse mapa foi objeto de apresentagdes prévias (Jardim de Sa et al. 1993a,b; Jardim de Sa & Hollanda 1393). No mapa geolégico referente a esta contribuigdo, a representagdo das estruturas teve sua énfase diminuida em favor da cartografia das diferentes unidades lito-estratigraficas. ASPECTOS METODOLOGICOS. A compilacao da documentagdo geocartografica pré- existente (a listagem completa das referéncias encontra-se em Jardim de Sa 1994) foi feita em paralelo com a interpretacao de produtos de sensores remotos (imagens analégicas SLAR em escala 1:250.000 e Landsat 5 TM, em especial da banda 5, em escalas 1:250.000 € 1.100.000) € em comparagao com os dados de campo entao disponiveis. As imagens de sensores remotos foram especialmente uteis para o mapeamento das estruturas, incluindo os padrées de fotolineagées, zonas de cisalhamento transcorrentes e grandes dobras. Medidas de parametros estruturais, obtidas em campo, e alguns perfis geolégicos, foram XVI Simpésio de Geologia do Nordeste - Recife, 1995 139 representados no mapa de modo a auxiliar na compreensdo da estrutura tridimensional. Os granitéides de idade brasiliana e a extensa unidade de micaxistos da regiao (Formagao Seridé), além de algumas rochas basicas, também se destacam nessas imagens. No tocante as demais unidades, as diferencas sao mais sutis e sua cartografia demanda 0 apoio dos mapas pré-existentes ou de informagdes de terreno. O mesmo ocorre com as zonas de cisalhamento tangenciais, ainda que uma foliagdo mais antiga, dobrada, seja bem visivel nos varios produtos de sensores remotos. Preparada a maquete inicial, os pontos mais criticos foram objeto de verificagses de campo. O mapa apresentado € entendido como uma primeira verso, a ser continuamente aperfeigoada nos proximos anos DISCUSSAO DE RESULTADOS. Um primeiro aspecto a ser incorporado na formulagao do mapa foi a propria delimitacao da Faixa Seridd. Utilizou-se para tanto a sua definigdo em termos de lito-estratigrafia e rochas pluténicas, historia deformacional e metamérfica, incluindo regimes cinematicos, e os dados geocronolégicos disponiveis. Combinando a lito- estratigrafia com a geocronologia, o Grupo Seridé, de idade Paleoproterozéica, constitui a unidade de referéncia desta faixa, sendo caracterizado por um empilhamento e litotipos especificos; da mesma forma, os ortognaisses G2, com idade ca. 1,9+0,1 Ga, sao também diagnésticos. A deformagao tangencial D2, com transporte predominante para S/SE, constitui uma outra caracteristica (ver adiante). Este conjunto de feigées contrasta com aquelas presentes nos dominios adjacentes. Como limites da Faixa Serid6, foram escolhidas algumas das zonas de cisalhamento mais importantes da regido, através das quais esté> registradas mudangas significativas em termos das feigdes acima enumeradas (ao contrario, © plutonismo e a deformagao brasiliana guardam muitas semelhancas com as regiées adjacentes). O limite oeste da Faixa Seridd € tomado como a zona de cisalhamento de Portalegre; a oeste da mesma, na Faixa Orés-Jaguaribe (incluindo o Extremo Oeste Potiguar), € desconhecida a ocorréncia da Formag&o Jucurutu (e outras do Grupo Seridé). Em adicao, os plutons G2 também estéo ausentes ou s4o representados por uma subfamilia mais jovem, datada ca. 1,8-1,7 Ga. O limite sul da Faixa Seridé é condicionado a zona de cisalhamento de Patos; a sul dessa estrutura (o Dominio da Zona Transversal), ocorre um importante conjunto de supracrustais de idade Mesoproterozéica, bem como granitéides similares ao tipo G2 porém datados ca. 1,0 Ga. A leste e norte, a Faixa Seridé é truncada pelas estruturas mesozdicas da margem Atlantica. A estratigrafia da Faixa Seridé, representada no mapa, segue os conceitos estabelecidos em diversas publicagdes precedentes. Uma sequéncia supracrustal (o Grupo Serid6) é definida como uma cobertura em relacdo a um complexo gndissico-migmatitico (Complexo Caicé6), com base em critérios como: a) metaconglomerados basais na cobertura, contendo seixos previamente deformados das rochas gndissicas; b) mais comumente, pela Presenca de diques de anfibolito truncando estruturas mais antigas no Complexo Caicé, estando ausentes ou constituindo suites pré-teciénicas nas dreas ocupadas pelo Grupo Seridé; c) datagSes geocronolégicas indicando uma idade mais antiga para os gnaisses Caicé. Por outro lado, tanto o Grupo Serid6é como o Complexo Caicé sao intrudidos por duas familias de rochas pluténicas, com idades e assinatura estrutural bem distintas: os granitéides G3, de idade Brasiliana, que truncam estruturas tangenciais impressas nos ortognaisses G2, estes de idade Paleoproterozéica. A subdivisto do Complexo Caicé em unidades supracrustais, intrudidas pelos ortognaisses pluténicos dominantes, nao péde ser adotada no mapa jA que a sua cartografia 140 XVI Simpésio de Geologia do Nordeste - Recife, 1995 esta restrita a algumas dreas (leste de Acu, Sdo Vicente-Florania, norte de Caicé), razao pela qual esse complexo foi representado como indiviso. Outra simplificagao adotada 6 a correlagdo do mesmo através da regio, procedimento até aqui justificado a partir das datagdes publicadas (U-Pb e Pb/Pb em zirc&o, isécronas Rb-Sr), no intervalo 2,3-2,15 Ga. Todavia, dados inéditos d&o conta da ocorréncia de nicleos mais antigos, em algumas. regides (E.L. Dantas e B.8. Brito Neves, com. verbal). A unidade de cobertura foi cartografada consoante a sua divis4o nas formagées (da base para 0 topo) Jucurutu, Equador e Serid6, reunidas num mesmo grupo (Grupo Seridé) ‘em fungéio de interdigitages e contatos gradacionais entre aquelas formagées. A Formagao Jucurutu, tipificada pelas lentes de mammore e calciossilicaticas intercaladas nos paragnaisses dominantes, tem ampla distribuigao nas porgbes central e ocidental da Faixa Serid6, enquanto os quartzitos da Formag4o Equador esto restritos 4 regiao classica, central. Os micaxistes da Formagao Seridé sao extensivos na zona central, estéo ausentes na pore ocidental e ocorem como fatias aléctones no bloco gndissico oriental (0 Macico ‘S&o José do Campestre). Os ortognaisses Go so intrusivos tanto a nivel do Complexo Caicé como no Grupo Seridé ainda que, neste Ultimo, as encaixantes sejam predominantemente da Formacdo Jucurutu. O diagnéstico mais seguro desta associagdo é obtido com as ocoréncias encaixadas nas supracrustais do Grupo Seridé. Nesta associag’o siio dominantes os plitons de augen gnaisses, de afinidade subalcalina a c4lcio-alcalina potassica; outros tipos conhecidos apresentam afinidades célcio-alcalina (tonalitos a granodioritos), shoshonitica e alcalina. Pela falta de conhecimento sistematico (ainda restrito a paucos corpos), uma diviséo tipolégica nado péde ser esbocada no mapa geoldgico. Em varias localidades, a ocorréncia de uma foliagao mais antiga (identificada como S2, com base nos dados de terreno), dobrada pela deformagdo transcorrente D3, estabelece uma diferenga importante na assinatura estrutural desses plutons, em comparacdo aos granitdides brasilianos. Os critérios de terreno e geocronolégicos indicam que esses plitons so intrusées sin a tardi- D2, com idade ca. 1,940,1 Ga. Os granitéides G3, brasilianos, sA0 de ocorréncia extensiva na regido. A combinagao dos dados de mapa e de terreno permite situa-los como de alojamento sincrono a tardio com Tespeito 4 deformagao transcorrente D3. A etapa principal desse evento e da intrusdo dos granitéides é estimada ca. 580+30 Ma. As ‘etagdes estruturais nessas diferentes escalas permitem identificar sitios de transtragdo, em muitos casos controladores do alojamento dos corpos; em outros, o mecanismo de intruso parece ser de tipo forgado. A falta de dados sistematicos ao longo da regido novamente conduziu 4 sua representagao simplificada, nao individualizando os varios tipos de suites, identificadas em bases petrograficas e/ou quimica. Aonde possivel, chamou-se atencao para alguns tipos mais peculiares, a exemplo do granitéide de Umarizai, tardi a pés-tect6nico, e outros de afinidade alcalina. Do ponto de vista estrutural, o mapa permite visualizar bem a deformagao transcorrente D3, expressa como zonas de cisalhamento, em geral transcorrentes dextrais, e dobras contemporaneas (0 plano axial das mesmas comesponde a foliago S dos cisalhamentos, identificada como S3 em campo). A incorporacaéo de parametros estruturais de campo (atitude da fotiagdo e da lineacdo de estiramento, incluindo critérios cinematicos quando possivel) conduz a uma maior precisdo na avaliacao desse contexto estrutural. O baixo Angulo entre os cisalhamentos (C3) e a foliagdo sincrénica (S3) 6 coerente com o regime transpressional comumente definido para D3. Dobras démicas F3, cavalos XVI Simpésio de Geologia do Nordeste - Recife, 1995, lal transcorrentes-contracionais e estruturas em flor positiva constituem outras: feicées maeroscépicas correlatas ao estilo transpressional. na porg4o central da Faixa Seridé. Por outro lado, a combinagao com os dados de terreno permitiu identificar detachments extensionais e estruturas em flor negativa na por¢ao oriental da faixa. O metamorfismo durante D3 é do tipo de baixas pressées. A superficie S3 trunca efou dobra uma foliagdo mais antiga. A combinagao com dados de terreno permite identificar essa estrutura mais antiga como a foliagao Sz, com atitude original em baixo Angulo, em muitos casos coincidente com o acamamento (So) nas supracrustais do Grupo Seridé, ou com um bandamento metamérfico antigo (S4) nos gnaisses do Complexo Caicé. No tocante ‘a deformago D2, e além do tragado de fotolineagées e a plotagem de parametros estruturais-cinemalicos, foram representadas no mapa algumas zonas de cisalhamento tangenciais, cuja identificagéo repousa’ sobremodo nas informagdes de campo. A cinematica contracional desse evento se reflete em paragéneses reliquiares de pressdes médias. OBSERVAGOES FINAIS. Embora contenha elementos interpretativos no tocante 4 evolugo crustal da regido (Jardim de Sa 1994), esse tipo de contetido pode ser abstraido na consideragao do Mapa Geolégico do Precambriano da Faixa Seridé. Isto aumenta a utilidade do documento. permitindo utilizato para teste de hipdteses alternativas. Do ponto de vista pratico, a conjugacao das informagées estruturais e lito-estratigraficas pode ser explorada a nivel prospective. A extensa area de cobertura, e o grau de detalhamento no> documentos que subsidiaram a sua elaboracdo, antecipam a necessidade de revisées € corregdes periédicas, atualmente j& em curso. Nesse sentido, a regio oeste da Faixa Serido, e em seguida a porcao oriental, parecem ser aquelas que demandam maior atengao em futuros programas de mapeamento regional. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS BARBOSA, A.J, BRAGA, AP.G., BEZERRA, M.A, GOMES, AV. (1974) Projeto Leste da Paraiba e do Rio Grande do Norte. DNPM/CPRM (inéd.). JARDIM DE SA, E.F. (1994) A Faixa Seridé (Provincia Borborema, NE do Brasil) e o seu significado geodinamico na Cadeia Brasiliana/Pan-Africana. Tese de Doutorado, Instituto de Geociéncias, Universidade de Brasilia, 804 p. JARDIM DE SA, E.F. & HOLLANDA, M.H.B.M. (1993) in 15° Simp. Geol. do Nordeste, Bol. Res.: 368-369. JARDIM DE SA, E.F., AMARO, V.E., HOLLANDA, M.H.B.M., DUARTE, M.L.M. (1993a) in Anais 7° Simp. Bras. de Sensor. Remoto: 221-225. JARDIM DE SA, E.F., AMARO, V.E.. HOLLANDA, M.H.B.M., DUARTE, M.1.M.(1993b) in Anais 7° Simp. Bras. de Sensor. Remoto: 226-229. LIMA, E.A.M. et al. (1980) Projeto Scheelita do Serid6. DNPM/CPRM ({inéd.). laz XVI Simposio de Geologia do Nordeste - Recife, 1995

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