1. INTRODUÇÃO
1
Zootecnista – Doutoranda – DZO – UFLA – e-mail:lgerasev@ufla.br
2
Prof. Doctor em Nutrição de Ruminantes – DZO – Universidade Federal de Lavras – Lavras,
MG - jroperez@ufla.br
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de serem determinadas, mas apesar das dificuldades encontradas, vários
experimentos têm sido realizados com esse objetivo.
Os primeiros sistemas de recomendação nutricional utilizavam relações
entre as quantidades de um nutriente e o desempenho do animal, as
exigências eram definidas a partir da quantidade do nutriente necessário para
maximizar o desempenho do animal, ou a eficiência de utilização dos
alimentos. Essas relações, empíricas, têm a utilização bastante limitada, pois a
medida que os animais, alimentos ou quaisquer condições ambientais são
alteradas, essas relações tornam-se inválidas (Costa, 1996).
Atualmente, os trabalhos têm utilizado o método fatorial para
determinação das exigências dos animais. Este método fraciona as exigências
em seus diversos componentes: mantença, crescimento, engorda, gestação e
lactação.
A exigência de mantença é a necessidade comum para manter os
processos fisiológicos normais, como circulação, respiração, digestão, etc. A
soma das necessidades de mantença com a de produção representa a
exigência líquida do animal (ARC, 1980).
A partir dessa exigência líquida é levado em consideração o que cada
alimento pode fornecer para o animal e assim é obtida a exigência dietética. A
essa exigência dietética ainda costuma-se acrescentar um fator de segurança
devido as diferenças entre os indivíduos; e a partir dessas exigências dietéticas
médias é calculada a quantidade de alimento que devera ser fornecida em
função da categoria, peso e produção do animal (Silva, 1996).
A seguir serão discutidas as exigências nutricionais de ovinos em
energia, proteína e macrominerais.
3. ENERGIA
A energia é o nutriente mais limitante na produção de ovinos. O
aporte energético insuficiente resulta em retardamento do crescimento,
aumento da idade a puberdade, redução da fertilidade, diminuição na produção
de lã e leite, além de aumentar a susceptibilidade dos animais a doenças e
parasitas (Susin, 1996).
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As principais fontes de energia para ovinos são: pasto, feno, silagens e
grãos, sendo o baixo conteúdo energético e a baixa qualidade dos volumosos a
principal causa de deficiência energética.
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Idade Peso Vivo Metabolismo de Jejum
(semanas) kg Kcal/Kg0,75
1 5,8 132
3 9,1 111
6 13,0 119
9 18,0 116
15 24,3 68
24 28,2 63
36 33,9 62
48 39,3 57
184 62,9 59
Fonte: Silva e Leão, 1979
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Peso Vivo (kg) Exigência de Mantença (kcal/dia)
Santa Inês Lanados
35 1006 815
40 1112 902
45 1214 985
Fonte: Geraseev et al., 2000; ARC (1980)
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eficiência na utilização da energia (Ferrel e Jenkins, 1985). Greenwood et
al.(1998) observaram que cordeiros em crescimento submetidos a uma
alimentação restrita apresentaram um menor crescimento dos órgãos internos,
maior eficiência de utilização da energia metabolizável e menor exigência de
mantença quando comparados com cordeiros recebendo alimentação à
vontade.
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21,23 25 2510
26,59 30 2590
31,14 35 2787
Fonte: Geraseev et al. (2000); Silva (1999)
Além do peso vivo, fatores como, por exemplo, raça e sexo, também
influenciam na exigência para o ganho. De modo geral, as fêmeas depositam
mais gordura do que os machos e, conseqüentemente, apresentam maiores
exigências para o ganho.
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principalmente nos últimos 45 dias ou último um terço da gestação, quando os
tecidos fetais têm maior desenvolvimento, já que neste período o feto se
desenvolve em torno de 70% do seu peso. De acordo com Kolb (1980), durante
essa fase, observa-se uma notável melhora nos processos de absorção, pelo
tubo digestivo, em particular no que se refere à assimilação de substâncias
minerais.
Segundo Annenkov (1982), para se estimar as exigências nutricionais de
ovelhas durante a fase de gestação, é fundamental o conhecimento do
crescimento pré-natal e a composição química do feto e das estruturas
uterinas. As exigências líquidas para gestação são obtidas pelo abate de
fêmeas em várias fases da gestação, seguido por análise da composição
mineral do feto e das estruturas diretamente relacionadas com o seu
desenvolvimento.
Para estimar o peso total, as quantidades de proteína, gordura e energia
depositadas no feto e no útero grávido de ovelhas, o ARC (1980), NRC (1985),
CSIRO (1990) e AFRC (1993) utilizam parâmetros da equação de Gompertz
(log Y= A - B e-ct), em que t= tempo de gestação em dias e Y= quantidades de
nutrientes depositados em g ou MJ.
O desenvolvimento mamário nas ovelhas é um complemento das
exigências de gestação, e de acordo com Bauman e Currie (1980), seu maior
crescimento coincide com o terço final da gestação, período em que o útero
gravídeo tem necessidade crescente de energia e a demanda de nutrientes é
máxima. Segundo Rattray et al. (1974), até os 70 dias de gestação, as
glândulas mamárias de ovelhas gestantes e não-gestantes apresentam pesos
muito próximos entre si, sendo que no final da gestação ocorrem mudanças
histológicas e aumento considerável de peso, proporcionado pelo acúmulo de
secreções.
De modo geral, as estimativas dos requerimentos de energia de animais
gestantes são determinadas nos dois últimos meses de gestação, sendo
ignorados os requerimentos do período inicial. Segundo o NRC (1985), para as
ovelhas no início de gestação, o requerimento total de nutriente não é
significativamente diferente dos nutrientes exigidos para mantença, uma vez
que o crescimento fetal é muito pequeno. Nos dois meses finais de gestação,
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as exigência são consideravelmente aumentadas, chegando a 175% dos
requerimentos de não-gestantes de mesmo peso corporal.
As estimativas de requerimentos de energia para a gestação em ovinos
tem sido muito variáveis. O ARC (1980) recomenda, para ovelhas de 75 kg de
peso vivo e aos 105, 119 e 147 dias de gestação, os respectivos valores de
11,8; 13,1 e 17,1 MJ/dia de energia líquida para gestação. Destacando-se que,
em ovelhas gestantes de dois fetos, os valores são, em média, 30% superiores
em comparação à gestação simples. O AFRC (1993), referindo-se aos
requerimentos de energia metabolizável de ovelhas de 60 kg de peso vivo e
aos 100 e 140 dias de gestação, foi de 10,1 e 16,3 MJ/dia de energia
metabolizável, respectivamente.
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D = dias de lactação
4. EXIGÊNCIAS EM PROTEÍNA
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As exigências de proteína variam com a idade, sexo, raça, estado
fisiológico, dentre outros fatores. Quanto às exigências de mantença, sabe-se
que ao fornecer uma dieta ao animal com adequado nível de energia para sua
mantença, é provável que a proteína microbiana sintetizada com base na
proteína degradada no rúmen seja suficiente para atender às necessidades
protéicas de mantença do animal. No entanto, Orskov (1990) adverte que se o
alimento fornecido contém nível energético abaixo da mantença, a produção de
proteína microbiana é insuficiente e, conseqüentemente, o organismo não só
perderá gordura, como também proteína. De acordo com Owens e Bergen
(1983), as exigências protéicas são maiores para cordeiros após a desmama e
para ovelhas em lactação com duas ou mais crias.
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e creatinina; enquanto a fase exógena seria o gasto de N nas reações
reversíveis de síntese e degradação.
24 73 161 234
34 73 128 201
Fonte: Silva, 1996
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Quanto às exigências para mantença, o NRC (1985) adotou o sistema
fatorial para estimar a exigência protéica de ovinos com o rúmen
adequadamente desenvolvido. A exigência de PB, em g/dia, é estimada pela
soma das frações correspondentes à proteína metabólica fecal (PMf), proteína
urinária endógena (Pue) e proteína gasta nas perdas de pêlo e secreções
dérmicas (PPD). Essa exigência líquida é transformada em exigência dietética
por um fator de correção do valor protéico líquido dos alimentos:
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A exigência em proteína para o ganho dos animais é função direta da
deposição de proteína corporal, sendo essa deposição dependente da taxa de
síntese e degradação da proteína por unidade de tempo. Vários fatores podem
afetar essa taxa de deposição e, conseqüentemente, as exigências dos
animais, dentre as quais podemos citar: peso do animal, idade, sexo, estado
fisiológico, nível de produção, quantidade de energia ingerida, etc. (Silva,
1996).
20 Macho 40 31
Fêmea 37 28
40 Macho 40 28
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Peso Vivo (kg) Sexo Exigência Total Exigência para o ganho
Fêmea 36 24
Fonte: ARC (1980)
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Peso Vivo Número de fetos Estágio da gestação (dias)
(kg) 105 119 147
40 1 55 60 90
2 65 80 115
75 1 90 100 130
2 100 115 175
Fonte: ARC, 1980
5 EXIGÊNCIAS DE MACROMINERAIS
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Os ovinos necessitam receber, durante todo seu ciclo de vida, além dos
demais nutrientes, macro e micro elementos inorgânicos em quantidades e
proporções adequadas para garantir seu desempenho máximo. O conteúdo e a
disponibilidade dos minerais e o conhecimento das exigências dos animais são
importantes para a efetiva formulação de dietas.
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Ca endógeno (g/dia) = 0,228 + 0,623 MSI (kg /dia)
P endógeno = 1,6 ( - 0,06 + 0,693 MSI ), quando qm for < que 0,7 e;
P endógeno = 1,0 ( - 0,06 + 0,693 MSI ), quando qm for > que 0,7.
Em que: P endógeno é expresso em g/dia, MSI em kg/dia e qm é a
metabolizabilidade da EB da dieta ( EM/ EB ).
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Tabela 15. Estimativas das perdas endógenas fecais de fósforo em ovinos,
segundo o AFRC (1991) e ARC (1980)
Peso vivo P endógeno ( mg / kg PV) P endógeno ( mg / kg PV)
(kg) AFRC ARC
20 13,4 14,0
30 12,7 14,0
40 12,3 14,0
Fonte: ARC(1980), AFRC(1991)
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o ARC (1980) considerou um requerimento absoluto de cálcio, fósforo,
magnésio, potássio e sódio para cordeiros em crescimento de 11 g de Ca, 6 g
de P, 0,41 g de Mg, 1,8 g de K e 1,1 g de Na/ kg de PV/dia, enquanto o NRC
(1985) estimou o requerimento de cálcio e fósforo como 183 mg de Ca e 103
mg de P/ kg de PV/dia.
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O AFRC (1991) utiliza o mesmo esquema e valores adotados pelo ARC
(1980), e as taxas de deposição de Ca, em g/dia, podem ser calculadas da
derivada da equação de Gompertz, em que:
Os valores calculados por essa equação para 63, 91, 119 e 147 dias de
gestação, respectivamente, são 0,05; 0,28; 0,75 e 1,20 g de cálcio por dia.
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ser calculadas da derivada da equação de Gompertz em relação ao tempo, em
que:
Os valores calculados por essa equação para 63, 91, 119 e 147 dias de
gestação, respectivamente, são 0,06; 0,23; 0,45 e 0,57 g de fósforo por dia.Os
valores recomendados pelo NRC (1985) são os mesmos do ARC (1980);
porém, admitindo que o recém-nascido tem 22,6% do peso metabólico da mãe
na época do parto para parto simples, e 36,1% para gêmeos.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
No Brasil, porém, ainda existe uma grande lacuna com relação à adoção
de práticas de alimentação adequadas, em virtude, principalmente, de poucas
informações sobre os requerimentos nutricionais dos ovinos sob nossas
condições climáticas.
De modo geral, os cálculos de rações têm sido baseados em normas
estrangeiras, como o National Research Council (NRC) e o Agricultural
Research Council (ARC), sem qualquer preocupação, até então, em adequá-
las às nossas condições, mesmo sabendo que esses requerimentos variam em
função de fatores genéticos, nutricionais e ambientais (Silva, 1996). Em
conseqüência da diversidade dessas condições, as tabelas estrangeiras podem
não ser as mais adequadas para as condições brasileiras, sendo necessário a
realização de estudos com o objetivo de estabelecer esses requerimentos para
nossas condições.
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7.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ruminantes em pastejo em regiões tropicais. Campo Grande,
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- 49 -
GEORGIEVSKII, V.I. Mineral feeding of sheep. In: GEORGIEVSKII, V.I.;
ANNENKOV, B.N.; SAMOKHIN, V.I. Mineral nutrition of animals. London:
Butterworths, 1982, p.321-354.
GERASEEV, L.C.; PEREZ, J.R.O.; SANTOS, Y.C.C., LIMA, A.L.; ASSIS, R.M.
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ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 37, Viçosa, 2000.
Anais... Viçosa: UFV, 2000.
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LOERCH, S.C., McCLURE, K.E., PARKER,C.F. Effects of number of lambs
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ovinos. In: SILVA SOBRINHO, A.G.; BATISTA, A.M.V.; SIQUEIRA, E.R.; et
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