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Curso de Direito
Rio de Janeiro
2017
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Rio de Janeiro
2017
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RESUMO
A decisão unânime do STF, em 10/06/15, pela liberação das biografias não autorizadas pode
influenciar na votação do Senado sobre o PL 393/2011. A ausência de obrigatoriedade da
autorização prévia para a publicação das biografias, não impede que a pessoa que foi atingida
em sua honra, boa fama ou respeitabilidade requeira a exclusão do trecho que lhe foi ofensivo
em edição futura da obra, além de indenização e da ação penal cabíveis. A emenda
correspondente ao novo §3º do art. 20, do Código Civil certamente aumentará a demanda de
ações de responsabilidade civil em face dos autores e respectivos editores de livros que
publiquem biografias cujo conteúdo seja ofensivo. Mas agora somente após a publicação da
obra é que o judiciário poderá intervir. O objetivo é analisar a questão da responsabilidade
civil nas biografias não autorizadas, após a decisão unânime do STF sobre a ADI 4.815/12,
ajuizada pela Associação dos Editores de Livros, questionando a constitucionalidade dos
artigos 20 e 21 do Código Civil.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO
jurisprudência sobre o assunto. Para isso, faz-se necessário determinar quais serão as fontes de
consulta que serão analisadas, para que as informações sejam interpretadas objetivando
embasar o desenvolvimento deste trabalho.
2. DESENVOLVIMENTO
2.1. HISTÓRICO
1
Poder Legislativo que desempenha as funções de representar o povo brasileiro, legislar sobre assuntos de
interesse nacional e fiscalizar a aplicação dos recursos públicos. A Câmara dos Deputados é composta de
representantes de todos os Estados e do Distrito Federal.
2
Conjunto de normas que determinam os direitos e deveres das pessoas, dos bens e das suas relações no âmbito
privado, com base na Constituição Nacional.
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As comissões permanentes são previstas pela Constituição Federal de 1988 em seu art. 58, cuja redação define
suas competências. Conforme determina o art. 53 do Regimento Interno da Câmara, antes de uma proposição ser
aceita, independentemente do tema, ela precisa ser apreciada pela CCJ, para que seja avaliada em relação à sua
constitucionalidade, bem como se ela se encontra em conformidade com os princípios de nosso sistema jurídico.
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Conjunto de normas que regem o funcionamento da instituição.
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Fase da sessão plenária destinada à discussão e à votação das propostas.
5
interesse nacional, a requerimento da maioria absoluta6 dos Deputados, desde que não estejam
em tramitação duas matérias em regime de urgência, em razão de requerimento aprovado pelo
Plenário7.
A proposta, cujo texto original visava ampliar a liberdade de expressão,
informação e o acesso à cultura, publicada no Diário da Câmara dos Deputados em
16/02/2011, foi despachada em 30/03/2011 pela Mesa Diretora da Câmara dos Deputados,
para apreciação conclusiva, em regime ordinário, pela Comissão de Educação e Cultura8
(CEC), nos termos do art. 24, II, do Regimento Interno, quanto ao mérito cultural da matéria,
e, também, pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) conforme art. 54
do Regimento Interno, quanto à constitucionalidade ou juridicidade da matéria. Nessa mesma
data, foi anexado o PL 395/2011, da deputada Manuela D'ávila (PC do B-RS), propondo que
o texto original da proposta fosse modificado visando garantir a liberdade de expressão,
informação e o acesso à cultura.
A proposição foi recebida pela Comissão de Educação e Cultura em
01/04/2011, com publicação do PL 395/2011 no Diário da Câmara dos Deputados, para que
fosse apenso ao PL 393/2011 a fim de que a proposta fosse apreciada conclusivamente pelas
Comissões, em tramitação ordinária. Em 19/05/2011 foi designado como relator da Comissão
de Educação e Cultura, o deputado Emiliano José (PT-BA). Em 01/06/2011 foi apensado o
PL 1.422/2011, do deputado Otavio Leite (PSDB-RJ), que visa garantir a liberdade de
expressão, informação e o acesso à cultura, reavivando o proposto no PL 3.378/08, arquivado
em 01/02/2011. Não foram apresentadas emendas dentro do prazo regimental (24/05/2011 até
07/06/2011).
Em 16/11/2011 o relator da Comissão de Educação e Cultura apresentou o seu
parecer favorável aos Projetos de Leis números 393/2011; 395/2011, e 1422/2011, com
substitutivo. Não foram apresentadas emendas dentro do prazo regimental (18/11/2011 até
29/11/2011). A Comissão de Educação e Cultura, em reunião ordinária realizada em
07/12/2011, aprovou, por unanimidade, o Projeto de Lei nº 393/2011, o PL 395/2011, e o PL
1422/2011, apensados, com substitutivo, nos termos do Parecer do Relator, Deputado
Emiliano José.
6
São 258 deputados, pois de acordo com o art. 1º, da LC nº 78/93, o número de deputados federais não
ultrapassará 513.
7
Órgão máximo de deliberação da Casa.
8
Além da CCJ, também deverá ser apreciada pela Comissão de Finanças e Tributação e pela Comissão a qual
corresponda o tema da proposição. A CEC opinará sobre a matéria, e só depois será submetida à discussão e
votação em Plenário. A opinião da CEC pode ser favorável, desfavorável ou com sugestão de modificações.
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9
Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais.
8
A Constituição Federal, no seu artigo 5º, inciso X, diz que são invioláveis a
intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a
10
O Poder Legislativo no Brasil é exercido pelo Congresso Nacional, em sistema bicameral, ou seja, é formado
por duas Casas: o Senado Federal e a Câmara dos Deputados. O Senado Federal compõe-se de representantes
dos Estados e do Distrito Federal, eleitos segundo o princípio majoritário.
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É o órgão de cúpula do Poder Judiciário, e a ele compete, precipuamente, a guarda da Constituição, conforme
definido no art. 102 da Constituição da República.
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Ação que tem por finalidade declarar que uma lei ou parte dela é inconstitucional, ou seja, contraria a
Constituição Federal. A ADI é um dos instrumentos daquilo que os juristas chamam de “controle concentrado de
constitucionalidade das leis”. Em outras palavras, é a contestação direta da própria norma em tese. Uma outra
forma de controle concentrado é a Ação Declaratória de Constitucionalidade. O oposto disso seria o “controle
difuso”, em que inconstitucionalidades das leis são questionadas indiretamente, por meio da análise de situações
concretas.
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Portal do Supremo Tribunal Federal.
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indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação. Em contraponto, tem-se
o art. 5º, IX, da Carta Magna, que proclama ser livre a expressão da atividade intelectual,
artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença.
Quando surge um conflito entre normas, utilizam-se os critérios clássicos de
solução das antinomias jurídicas, que são: hierárquico (lei superior revoga lei inferior);
cronológico (lei posterior revoga lei anterior) e de especialidade (lei especial revoga lei geral).
Entretanto, quando os conflitos encontram-se na Constituição, deve-se usar a Ponderação
entre Princípios Constitucionais.
Dentre os Princípios Fundamentais elencados nos incisos do art. 1º do texto
constitucional, está a dignidade da pessoa humana, que constitui um valor único e individual,
que não pode ser violado por conta de interesses coletivos. Esse princípio norteador do Estado
Democrático de Direito, impondo limites para que a pessoa não seja tratada de forma
desumana ou degradante, que a resguarde de atos arbitrários, não importando o agente, além
de conferir proteção para alcançar condições mínimas de sobrevivência. Tal princípio tem
como extensão os direitos e garantias fundamentais, onde estão os direitos individuais,
coletivos, sociais, políticos e econômicos.
Seguindo esse raciocínio, verifica-se que a proteção à imagem deve ser
ponderada com outros interesses constitucionalmente tutelados, especialmente no que diz
respeito ao acesso à informação e da liberdade de imprensa. No caso de conflito, leva-se em
consideração a notoriedade do retratado e dos fatos abordados e, também, a veracidade dos
mesmos, além da finalidade da sua utilização (comercial, informativa, biográfica),
favorecendo-se medidas que não restrinjam a divulgação de informações (Enunciado 279 do
CEJ – Centro de Estudos Judiciários - IV Jornada Direito Civil14 - CJF - Conselho de Justiça
Federal).
Analisando o inciso X do art. 5º da CF, tem-se a garantia da inviolabilidade da
vida privada, ou seja, onde a intimidade da pessoa está resguardada por lei. Entende-se que
imagem e honra são determinantes para a identificação do indivíduo na sociedade, logo
qualquer dano causado pela violação desses direitos, deverá ser indenizado.
Já o inciso IX preconiza a liberdade de expressão, sem necessidade de licença
especial e também diz ser inadmissível a censura, fato este que não afasta a responsabilidade
futura pelos eventuais abusos cometidos nas esferas civis e criminais.
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As Jornadas de Direito Civil são uma realização do Conselho da Justiça Federal e do Centro de Estudos
Jurídicos do CJF. Nestas jornadas, compostas por especialistas e convidados do mais notório saber jurídico, são
elaborados enunciados de Direito Civil, baseados sempre no Código Civil/2002 e que buscam uma melhor
interpretação de seus dispositivos.
10
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CF: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e
aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes: [...]
§ 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos
princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.
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É a Lei Maior de uma sociedade politicamente organizada. É o modo pelo qual se forma, se estabelece e
organiza uma sociedade.
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É o conjunto de leis que visa a um só tempo defender os cidadãos e punir aqueles que cometam crimes e
infrações.
11
Com a decisão unânime do STF pela liberação das biografias não autorizadas,
e a possível votação do Senado, sobre o PL 393-C/2011, alterando o artigo 20 do Código
Civil podem aumentar o número de biografias e, consequentemente, a demanda de ações por
biografados e por familiares destes.
O STF declarou a inconstitucionalidade parcial, afastando a interpretação que
possibilitava a censura prévia à publicação de qualquer obra literária ou áudio visual, mas o
biografado, ou qualquer pessoa citada em obra biográfica, continuará com a possibilidade de
buscar a reparação do dano causado a sua honra, mas o judiciário só poderá intervir após a
publicação de tal obra. Nesse caso, sobre a publicação de qualquer obra literária ou áudio
visual, o artigo 21 do Código Civil só terá aplicação para as edições futuras, ou seja, só
poderá impedir a publicação de edições futuras após a ocorrência do dano.
Não se pode, em nome do direito à privacidade, criar uma redoma protetora em
torno de uma pessoa para torná-la imune de qualquer veiculação sobre a sua imagem.
A liberdade de expressão foi garantida, mas cada caso será analisado
individualmente, a fim de verificar se as informações publicadas são falsas ou se foram
obtidas por meios ilícitos, casos em que cabem indenização e ação penal. Se as informações
forem públicas, verdadeiras ou ainda, se tiverem sido publicadas voluntariamente pelos
próprios agentes, não cabe apontar ofensa à intimidade ou a honra.
O fato de não ser mais necessária autorização prévia para publicar uma
biografia, indica que possivelmente ocorrerá o aumento de publicações, mas como não foi
afastada a possibilidade de ação por danos morais e até pelos crimes de calúnia, difamação e
injúria, certamente haverá um cuidado maior dos editores e biógrafos ao analisarem as fontes
de pesquisa, uma vez que no âmbito criminal, a pena pode chegar a dois anos de detenção.
Como exemplo, tem-se o caso da biografia “Roberto Carlos em detalhes18”, de
Paulo Cesar de Araújo19, lançada em 02/12/2006 pela Editora Planeta. Na véspera do
lançamento, Roberto Carlos se manifestou contra o livro: “Pra mim é muito estranho que
alguém lance mão desse patrimônio que é a minha história. A minha história é um patrimônio
meu!” Em janeiro de 2007, Roberto Carlos registra queixa-crime contra o autor e, dois dias
18
O autor, com base em pesquisa realizada ao longo de 16 anos, reuniu depoimentos de cerca de 200 pessoas
que fizeram parte da trajetória de Roberto Carlos, mas o artista não gostou de ver detalhes de sua vida íntima
publicados sem a sua autorização.
19
Jornalista, professor universitário, historiador, escritor e biógrafo brasileiro.
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depois, entra com processo civil contra o autor e a Editora Planeta. Em 22/02/2007 foi
concedida liminar determinando a imediata interrupção da publicação, da distribuição e da
comercialização da biografia em todo o território nacional. Em 27/04/2007, em audiência de
conciliação presidida pelo juiz Tércio Pires na 20ª Vara Criminal da Barra Funda, em São
Paulo, foi assinado acordo que culminou na proibição e apreensão da biografia. O caso é
reaberto em 25/06/2007 e a advogada Deborah Sztajnberg20 apresenta, na 20ª Vara Cível do
Rio, a contestação de Paulo Cesar de Araújo pedindo a cassação da liminar que proibiu o
livro. Em 20/05/2014 é lançado o livro “O réu e o rei: minha história com Roberto Carlos em
detalhes21”, de Paulo Cesar de Araújo. Dez dias depois, o advogado de Roberto Carlos
anuncia que o artista não irá tomar medida contra “O réu e o rei”, pois este livro não é uma
biografia sua, mas sim uma autobiografia do autor; e ao contrário do livro anterior, não
contém invasão de sua privacidade e/ou injúrias ou difamações a sua pessoa”. Embora o STF
tenha decidido pela liberação das biografias não autorizadas, passados mais de dez anos, da
concessão da liminar que proibiu a publicação, a distribuição e a comercialização da biografia
em todo o território nacional, o autor ainda está buscando a liberação do livro “Roberto Carlos
em detalhes”.
Antes da censura imposta a biografia “Roberto Carlos em detalhes”, outra obra
que foi censurada dias antes da publicação, é a biografia “Estrela Solitária – Um brasileiro
chamado Garrincha22”, de Ruy Castro23. Censurada em 1995, sob alegação de violação aos
direitos de personalidade, a sentença de 1º grau foi reformada e a obra foi publicada em 1996,
recebendo o Prêmio Jabuti24 naquele ano, na categoria Livro do Ano de Não-Ficção. Dez anos
depois, o STJ condenou a editora Companhia das Letras por dano moral, ao pagamento de
cem salários mínimos, com juros de 6% ao ano desde a data do lançamento do livro, para cada
um dos 11 filhos de Garrincha, e por dano material em 5% sobre o total das vendas do livro,
com juros de 6% ao ano, contados a partir da citação das partes do processo. O autor
informou, na época, que durante três anos entrevistou pelo menos dez filhos de Garrincha e,
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Advogada que reabriu o caso da biografia não autorizada do Roberto Carlos, autora do livro “Cala a boca já
morreu: a censura judicial das biografias”, lançado em 30/09/2015 pela Editora Multifoco.
21
Nessa obra, o autor defende a liberdade de expressão.
22
Manuel Francisco dos Santos, o Mané Garrincha ou Garrincha foi um jogador (ponta-direita) de futebol
brasileiro que se destacou por seus dribles desconcertantes apesar de ter suas pernas tortas.
23
É um jornalista, biógrafo e escritor brasileiro, reconhecido pela produção de biografias como O Anjo
Pornográfico (a vida de Nelson Rodrigues), Carmen (sobre Carmen Miranda) e de livros de reconstituição
histórica, como Chega de Saudade (sobre a Bossa nova), Ela é Carioca (sobre o bairro de Ipanema, no Rio) e A
Noite do Meu Bem (sobre o samba canção).
24
É o mais importante prêmio literário brasileiro. Lançado em 1959, foi idealizado por Edgard Cavalheiro
(escritor, editor, crítico literário e biógrafo brasileiro, sendo especialista em biografar o escritor Monteiro
Lobato) quando presidia a Câmara Brasileira do Livro.
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cinco dias antes da publicação, foi procurado por advogados dos herdeiros que alegavam
desconhecer a publicação. Castro disse ter perguntado a uma das filhas sobre qual trecho do
livro a teria ofendido, ao que ela respondeu não saber, pois não havia lido a obra.
Já os herdeiros de Carlos Imperial25, acompanham e aprovam todos os projetos
envolvendo o nome do pai. Maria Luíza e Marco Antônio, filhos de Imperial e de Rose
Gracie, já declararam que censurar qualquer coisa envolvendo Carlos Imperial é absurdo. Eles
deram carta branca para a biografia (“Dez! Nota Dez! Eu Sou Carlos Imperial, de Denilson
Monteiro26), o documentário e para o musical abordarem o lado bom e o lado ruim. Imperial
era um visionário, captava tendências do mundo artístico e identificava facilmente aqueles
que seriam sucesso. Também era conhecido por criar polêmicas, algumas de mau gosto, além
de cultivar, com orgulho, a fama de mulherengo devasso, portanto, não dava para, depois de
morto, transformar Carlos Imperial em santo.
25
Carlos Eduardo Corte Imperial, produtor artístico, produtor musical, personalidade do show business
brasileiro, compositor, jornalista, apresentador, marqueteiro, vereador pelo Rio de Janeiro nos anos 80.
26
Escritor e roteirista, autor de diversas biografias declarou em entrevista que sempre teve a autorização dos
familiares de seus biografados, embora só ficassem sabendo do conteúdo depois da noite de lançamento.
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podem ser violadas, pois tratam-se de direitos e garantias fundamentais. A autorização prévia
pelo biografado ou seus herdeiros, nada mais é do que uma censura privada, e tal prática é
inconstitucional. Depois de muitos anos de regime de censura, a Constituição brasileira de
1988 trouxe em seu texto garantias para o Estado Democrático de Direito pudesse ser seguido
por todos, impedindo, principalmente, a censura pública que tantos males causou ao país. A
liberdade de expressão e informação está regulada principalmente nos artigos 5º, incisos IV,
IX, XIV e 220, §§ 1º e 2º da Carta Magna de 88.
O parágrafo 1º do artigo 220 da Constituição Federal estabelece os limites
externos da liberdade de expressão e informação. A vedação ao anonimato assegura que o
agente que escreva ou publique qualquer coisa seja identificado, garantido, dessa forma, a
responsabilidade civil por danos materiais e/ou morais eventualmente causados a terceiros.
É lógico que os biógrafos e editores não podem abusar do direito de publicar as
biografias não autorizadas com informações falsas e ofensivas à honra dos biografados.
Nestes casos, caberá a aplicação da responsabilidade civil e penal daqueles que tenham escrito
e/ou publicado tais informações.
Todavia, não caberá qualquer ação indenizatória se tais informações forem
verdadeiras, mesmo que desabonadoras da imagem do biografado, bem como de versões
sobre fatos históricos controvertidos, que sejam divergentes dos defendidos pelo biografado
ou seus herdeiros. Também não cabe indenização por conta de opinião ou crítica sobre o
biografado, nem sobre qualquer situação que tenha sido divulgada pelo próprio ou seus
herdeiros. Tal raciocínio também deve ser aplicado às pessoas envolvidas nos acontecimentos
de interesse público ocorridos com o biografado.
3. CONCLUSÃO
Não importa se a pessoa é pública ou não, quando existe o conflito entre esses
direitos, o acesso à informação e a proteção à imagem, devem ser buscados no ponto de
equilíbrio entre esses princípios, a fim de que ocorra a convivência pacífica entre os mesmos.
A decisão pela inconstitucionalidade do art. 20 do Código Civil, proferida em
unanimidade pelo STF, foi parcial, pois foi afastada a interpretação que possibilitava a
censura prévia à publicação de qualquer obra literária ou áudio visual, mas o biografado, ou
qualquer pessoa citada em obra biográfica, continuará com a possibilidade de buscar a
reparação do dano causado a sua honra. A diferença após essa decisão reside no fato de que o
judiciário só poderá intervir após a publicação de tal obra. Nesse caso, sobre a publicação de
qualquer obra literária ou áudio visual, o artigo 21 do Código Civil só terá aplicação para as
edições futuras, ou seja, só poderá impedir a publicação de edições futuras após a ocorrência
do dano. A liberdade de expressão foi garantida, mas cada caso será analisado
individualmente, a fim de verificar se as informações publicadas são falsas ou se foram
obtidas por meios ilícitos, casos em que cabem indenização e ação penal.
É lógico que os biógrafos e editores não podem abusar do direito de publicar as
biografias não autorizadas com informações falsas e ofensivas à honra dos biografados.
Nestes casos, caberá a aplicação da responsabilidade civil e penal daqueles que tenham escrito
e/ou publicado tais informações. Todavia, não caberá qualquer ação indenizatória se tais
informações forem verdadeiras, mesmo que desabonadoras da imagem do biografado.
Desta forma, espera-se que o Senado vote o PL 393-C/2011 pela alteração do
parágrafo único e o acréscimo dos parágrafos 2º e 3º ao artigo 20 do Código Civil, para que o
entendimento se coadune com a Constituição Federal.
REFERÊNCIAS
BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 23 ed. São Paulo: Malheiros, 2008.
BRAGA NETTO, Felipe Peixoto. Danos morais e critérios de ponderação. Âmbito Jurídico,
v. 1, p. 1, 2011.
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científico Ministro Ruy Rosado de Aguiar Júnior. – Brasília: Conselho da Justiça Federal,
Centro de Estudos Judiciários, 2012.
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<https://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Imperial>. Acesso em: 07 abr. 2017.
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MARQUES, Marcio Luís. Privacidade e proteção de dados: breves aspectos jurídicos luso-
brasileiros. Terezina, ago. 2014. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/31379>. Acesso
em: 07 abr. 2017.
MONTEIRO, Denilson. Entrevista. Escrevendo histórias reais com Denilson Monteiro. In:
Boletim de Leituras. Rio de Janeiro, 31 ago. 2015. Disponível em:
<http://www.boletimleituras.com.br/escrevendo-historias-reais-com-denilson-monteiro>. Acesso
em: 08 abr. 2017.
PAULO Cesar de Araújo. In: Wikipédia: a enciclopédia livre. Wikimedia, 2017. Disponível
em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Paulo_Cesar_de_Araújo>. Acesso em: 07 abr. 2017.
RUY Castro. In: Wikipédia: a enciclopédia livre. Wikimedia, 2017. Disponível em:
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Ruy_Castro>. Acesso em: 07 abr. 2017.