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HERMENÊUTICA II

AUXÍLIO PARA INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS BÍBLICOS

Esteio
5. A LINGUAGEM DA BÍBLIA
“Delas também falamos, não com palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas
com palavras ensinadas pelo Espírito, interpretando verdades espirituais para os que
são espirituais” (1 Coríntios 2.13).

Quando nós estudamos a Palavra de Deus, nós estamos procurando seu significado natural. Nós
queremos compreender a mensagem que o Senhor deseja comunicar através da Bíblia. Mas, é
importante reconhecer que, como toda grande obra de literatura, a Bíblia frequentemente usa
figuras de linguagem para comunicar a verdade de Deus. Além disso, os escritores bíblicos
também usaram diferentes estilos literários. Assim, para que possamos interpretar corretamente as
Escrituras, nós precisamos reconhecer estas peculiaridades e abordar cada passagem de acordo
com o tipo de linguagem e literatura que foi usado.
Na apostila anterior, nós estudamos brevemente sobre a linguagem figurada da Bíblia. Nesta,
nós trataremos um pouco mais deste tema estudando outras figuras de linguagem e tipos de
literatura usada na Bíblia.

TIPOS DE LINGUAGEM FIGURADA NA BÍBLIA

SÍMILE
Uma símile compara duas coisas não similares, usando termos e palavras como “assim”, “assim
também”, “como”, ou “da mesma maneira”. O Salmo 1 compara o justo com uma árvore plantada
junto às águas; ambos frutificam e prosperam.
Outros exemplos: “A rua principal da cidade era de ouro puro, como vidro transparente”,
Apocalipse 21.21. “Como um pai tem compaixão de seus filhos, assim o SENHOR tem compaixão
dos que o temem”, Salmo 103.13.
METÁFORAS
Uma metáfora compara duas coisas não similares sem usar palavras óbvias tais como “assim”
ou “da mesma maneira”. Em Jeremias 1.18, o Senhor disse a Jeremias: “E hoje eu faço de você
uma cidade fortificada, uma coluna de ferro e um muro de bronze...”.
Outros exemplos: “Portanto, vocês já não são estrangeiros nem forasteiros, mas concidadãos
dos santos e membros da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos
profetas, tendo Jesus Cristo como pedra angular” (Efésios 2.19-20). Todas as palavras
sublinhadas são metáforas usadas para que nossa mente possa relacionar rapidamente a verdade
bíblica ao que já conhecemos naturalmente.
ALEGORIA
Uma alegoria é uma metáfora mais longa. Às vezes, ela assume uma personificação, ou seja,
utiliza coisas e/ou seres impessoais para ilustrar verdades que se aplicam às pessoas. Desta forma,
a mensagem se torna mais viva e assimilável. Veja, por exemplo, Juízes 9.8: “Foram, certa vez, as
árvores ungir para si um rei e disseram à oliveira: Reina sobre nós” (RA).
PARÁBOLAS
Uma parábola é uma símile em forma de uma longa história. Essas histórias são repletas de
coisas naturais que ilustram verdades morais/espirituais).
O Senhor Jesus freqüentemente usava as parábolas como, por exemplo, para ensinar aos Seus
discípulos sobre o Reino de Deus: “Eis que o semeador saiu a semear. E, ao semear, uma parte
caiu à beira do caminho, e, vindo as aves, a comeram... A todos os que ouvem a Palavra do reino

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e não a compreendem, vem o maligno e arrebata o que lhes foi semeado no coração. Este é o que
foi semeado à beira do caminho” (Mateus 13.3,4, 19).
HIPÉRBOLE
Uma hipérbole expressa alguma coisa em termos extremos para alcançar um objetivo. Quando
Jesus diz que uma pessoa que julga as outras tem uma trave em seu olho e não sabe, Ele está
dizendo alguma coisa que é fisicamente impossível. Seu objetivo, contudo, é ensinar que uma
pessoa inconsciente de seus próprios pecados é totalmente incapaz de avaliar os pecados de outra
pessoa.
SARCASMO
O sarcasmo critica por usar elogio ridículo ou desmerecedor. Paulo critica o orgulho dos
coríntios por escrever, “Vocês já têm tudo o que querem! Já se tornaram ricos! Chegaram a ser
reis - e sem nós!” (1 Coríntios 4.8).
METONÍMIA
Relação mental, quando se emprega a causa pelo efeito, ou o símbolo pela realidade que ele
indica, isto é, quando a relação não é visível, ou é só formada pela mente.
Exemplos: “Eles têm Moisés e os Profetas: ouçam-nos” (Lc 16.21); em vez de dizer: “eles têm
os escritos de Moisés e dos profetas, ou seja, o Antigo Testamento”.
“O sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo o pecado” (1João 1. 7 ). Sangue, aqui
significa toda a paixão e morte expiatória de Jesus.
ANTÍTESE
Figura, onde aparecem, na mesma frase, duas palavras ou pensamentos que fazem oposição
entre si, como por exemplo: Dt 30. 15 - “Vejam que hoje ponho diante de vocês vida e
prosperidade, ou morte e destruição”.
PROSOPOPÉIA
Personificação de objetos inanimados ou princípios abstratos, atribuindo-lhes feitos e ações de
pessoas.
Exemplos – Isaías 55. 12 ”...os montes e colunas irromperão em canto...e as árvores do campo
baterão palmas”.
1Co 15. 55 “Onde está, ó morte, o seu aguilhão”?
Estas figuras ocorrem com freqüência na linguagem poética do Antigo Testamento, dando-lhe
uma formosura, vivacidade e animação extraordinárias. Em alguns casos, além da personificação
das coisas inanimadas, encontramos também uma simbologia, como neste texto: os montes e
outeiros representam pessoas eminentes, e as árvores, pessoas humildes; uns e outros, de regozijo,
estão louvando ao Redentor ante seus mensageiros.
Outro exemplo de prosopopéia tem no texto dos Salmos 85. 10 e 11, que diz:
“O amor e a fidelidade se encontrarão; a justiça e a paz se beijarão. A
fidelidade brotará da terra, e a justiça descerá dos céus.”

Graça, Justiça, Verdade e Paz são termos abstratos; portanto, não têm olhos, não se beijam,
etc... Neste texto estão sendo atribuídas a justiça e a paz como feitos e ações de pessoas, por isso
esta figura de linguagem chama-se PROSOPOPÉIA.

SINÉDOQUE
Faz-se uso desta figura quando se toma a parte pelo todo ou o todo pela parte; o plural pelo
singular, o gênero pela espécie ou vice-versa.
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Exemplo 1: (Todo pela parte) Em Atos 24. 5, quando acusadores de Paulo dizem: “Verificamos
que este homem é um perturbador, que promove tumultos entre os judeus pelo mundo todo”, na
verdade se referiam aquela parte do mundo ou do império romano que o apóstolo havia alcançado
com sua pregação.
Exemplo 2: (Parte pelo todo) Gn 3.19 –“ Com o suor do seu rosto você comerá o seu pão”;
Exemplo 3: (Gênero pela espécie) Mt 3.5 – “A ele vinha gente de Jerusalém, de toda a Judéia e
de toda a região ao redor do Jordão”.
IRONIA
Quando se expressa o contrário do que se quer dizer, mas, sempre de tal modo que se faz
ressaltar o sentido verdadeiro.
Exemplo: O profeta Elias no Carmelo dizendo aos sacerdotes do falso deus Baal: ”...gritem
mais alto”, dizia, “já que ele é um deus, quem sabe está meditando, ou ocupado, ou viajando.
Talvez esteja dormindo e precise ser despertado.” (1Reis 18.27).

Decidir quando os escritores bíblicos estavam usando uma linguagem figurada ou literal é uma
obra séria. Seria um erro grave ignorar um dos mandamentos de Deus por reivindicar que ele é
uma linguagem figurada. Por outro lado, dizer que cada versículo na Bíblia deve ser interpretado
literalmente também leva alguns a sérios problemas. Quando o Senhor se referiu a Jeremias como
“uma cidade fortificada, uma coluna de ferro e um muro de bronze...” (Jeremias 1.18), obviamente
Ele não estava falando num sentido literal. O mesmo é verdade quando o Senhor disse que Ele
estava apontando Jeremias para “despedaçar, arruinar e destruir” (Jeremias 1.10).
Como nós podemos saber a diferença entre linguagem literal e figurada? Você pode fazer
algumas perguntas simples como:
 A passagem declara que ela é figurada? (“Ouçam outra parábola...”, Mateus 21.33).
 A passagem se torna absurda ou impossível se ela for interpretada literalmente? (“A palavra
do SENHOR veio a mim pela segunda vez, dizendo: „O que você vê‟? E eu respondi: Vejo
uma panela fervendo; ela está inclinada do norte para cá...”, Jeremias 1.13-14).
 A passagem descreve Deus, que é Espírito, como se Ele tivesse um corpo físico e outras
qualidades estritamente humanas? (“O SENHOR estendeu a mão, tocou a minha boca...”,
Jeremias 1.9).
Se as questões acima não se aplicam, então o versículo provavelmente deve ser interpretado
literalmente.

TIPOS DE LITERATURA NA BÍBLIA

HISTÓRIA
A Bíblia está cheia de relatos históricos e biografias. Por exemplo, o livro de Juízes conta a
história de Israel entre o tempo da conquista da terra por Josué e o reino de Saul. O livro de
Neemias é o diário de Neemias a respeito da reconstrução dos muros de Jerusalém. Os Evangelhos
são biografias de Jesus e incluem Seus ensinamentos. O livro de Atos registra significativos
acontecimentos na história da igreja primitiva.
INSTRUÇÃO
Através de toda a Bíblia você encontrará diretrizes, mandamentos, princípios, provérbios,
doutrinas e conselhos práticos. A maior parte do livro de Levítico contém instruções detalhadas
para os sacerdotes israelitas. O livro de Provérbios dá conselhos sobre finanças, relacionamentos, e

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trabalho. As cartas de Paulo para igrejas específicas estão cheias de doutrina e de diretrizes
práticas para a vida cristã.
PROFECIA
Grande parte da literatura profética é um relato escrito de sermões originalmente pregados pelo
povo de Deus. Isaías, Jeremias e Ezequiel, os livros proféticos mais extensos, são coleções de
sermões que cercaram a carreira destes profetas. Estes livros não foram dados para serem lidos do
começo ao fim como uma unidade simples. O segredo para compreender estes livros se encontra
no começo e no fim dos sermões individuais e na leitura de um sermão para o outro.
Aproximadamente todos os sermões tratam com os períodos históricos dos escritores. Alguns dos
sermões tratam com o futuro além do tempo de vida dos profetas.
POESIA
Na literatura poética da Bíblia cada emoção humana é expressa. Muitos livros bíblicos contêm
poesia. Os Salmos e o Cântico dos Cânticos são inteiramente poéticos e muitos dos livros
proféticos são predominantemente poéticos.
APOCALIPSE
Algumas profecias foram escritas num tipo especial de literatura conhecida como „apocalíptica‟.
A palavra „apocalíptica‟ significa „revelação‟, porque ela revela eventos que acontecerão no futuro.
O livro de Daniel e o livro de Apocalipse são bons exemplos desta literatura. As passagens do
Apocalipse são altamente simbólicas e é necessário compreender o simbolismo para interpretar a
mensagem. A mensagem central na literatura apocalíptica é a segunda vinda de Cristo e Sua vitória
final sobre Satanás. Tipicamente, o todo da criação está envolvido nos eventos vindouros.

6. PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO
“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para
a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e
plenamente preparado para toda boa obra” (2 Timóteo 3.16-17).

Nós já estudamos diversos pontos importantes e introdutórios que lhe darão uma boa
compreensão da importância da hermenêutica para uma correta interpretação das Escrituras.
Agora estudaremos alguns princípios gerais da interpretação.

PRINCÍPIO 1 – A INTERPRETAÇÃO MAIS SIMPLES


A interpretação normal e mais simples tem precedência sobre as interpretações complexas.
Como regra geral, os autores das Escrituras não pretendiam ocultar o significado de suas
palavras em linguagem complexa. Eles escreveram com a intenção de serem compreendidos. Por
exemplo, a interpretação mais simples de João 14.6 é que Jesus é o único caminho de salvação.

PRINCÍPIO 2 – O PÚBLICO ORIGINAL


O significado e a importância da passagem são primeiro e antes de tudo endereçados ao
público original do autor
Seu trabalho é tentar compreender a passagem como público original teria compreendido. A
situação histórica, cultural e o contexto do povo a quem o livro foi escrito são cruciais para
compreender o significado do texto. Você deve ter muito cuidado quando você transfere o que foi
dito para a audiência original hoje. Por exemplo, em 1 Coríntios 16.20 Paulo diz saudar “uns aos
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outros com ósculo santo”. Este é claramente um costume cultural dos dias de Paulo. O ponto para
Paulo é que nós devemos receber uns aos outros calorosamente, dentro dos costumes de nossa
cultura. Uma saudação calorosa pode ser um beijo, um entusiasmado aperto de mão, ou alguma
saudação costumeira.

PRINCÍPIO 3 – SIGNIFICADO SIMPLES


Uma dada passagem tem um significado e um significado apenas, embora ali possa haver
muitas aplicações dela.
Cuidar para não atribuir um duplo significado às palavras, frases ou ilustrações. A Bíblia não é
um livro misterioso com significados ocultos e profundos que estão disponíveis apenas para
aqueles espertos o suficiente para descobrir o „código‟. A Palavra de Deus é para cada um que lerá
e obedecerá às suas verdades. Tiago 1.21 diz, “Aceitem humildemente a palavra implantada em
vocês, a qual é poderosa para salvá-los”. A palavra „salvar‟ tem diversos significados no Novo
Testamento. Ela não pode significar todos eles aqui. Neste contexto, ela tem apenas um
significado.

PRINCÍPIO 4 – A INTERPRETAÇÃO DO AUTOR


A própria explanação do autor ou a interpretação de suas palavras (se é dada) determina o
significado da passagem.
Por exemplo, Jesus frequentemente interpretou Suas parábolas. Em João 20.31, o apóstolo João
declarou seu propósito para escrever o evangelho. Estas declarações simplificam grandemente o
processo interpretativo. Fique atento às interpretações do autor em sua passagem.

PRINCÍPIO 5 – PERSPECTIVA PESSOAL


Razão, senso comum, e sua própria experiência de vida têm uma importante posição em ajudar
o que o autor pode estar dizendo.
A Escritura dá a verdade sobre a vida. Você tem observado e experimentado as realidades da
vida. Quando as Escrituras falam, sua experiência e raciocínio frequentemente podem confirmar a
verdade do que ela está falando.
Por exemplo, por causa de sua própria experiência, você compreende o que Paulo escreveu em
Romanos 3.23: “Pois todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus”. Mas se uma pessoa
interpretou outro versículo para dizer que algumas pessoas nunca pecam, esta interpretação seria
falsa. Interpretações que parecem irracionais ou não observáveis na vida podem ser falsas
interpretações.
Tenha cautela: Porque este é um elemento subjetivo, ele não pode ser a autoridade final para a
interpretação de uma passagem. A Palavra de Deus não está limitada por nossa experiência, nem é
ela julgada por seu senso de razão, moralidade ou filosofia. Mas o senso comum e/ou nossa
experiência e raciocínio frequentemente podem confirmar a verdade do que ela está dizendo e
ajudar-nos a compreendê-la intuitivamente.
PRINCÍPIO 6 – O MELHOR AJUSTE
A melhor interpretação é aquela que se ajusta na maioria das peças da maneira mais suave.
Considere, por exemplo, Lucas 5: 33 – 39. Jesus fala sobre vinho novo e vinho velho. Todos
nós concordamos que Jesus é o novo, isso até nos depararmos com o versículo 39 que diz: “E
ninguém, tendo bebido o vinho velho, prefere o novo, porque diz: O velho é excelente”. Como
assim? Foi isso mesmo que ele disse? O vinho velho é melhor? A explicação que melhor se
encaixa aqui é que no contexto em que os judeus estavam inseridos, eles não estavam abertos para

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o “novo”. Estavam tão aprisionados e enraizados a tradição da Velha Aliança que foram capazes
de rejeitar a Nova. Jesus não está dizendo que o velho é melhor. Está dizendo que aquela geração
que experimentou o velho não está disposta a trocá-lo
.
PRINCÍPIO 7 – O CONTEXTO IMEDIATO
Cada versículo deve ser interpretado à luz de seu contexto imediato.
Um versículo nunca existe por si mesmo. Você deve saber como o texto em questão se
relaciona com o texto anterior e o texto que segue. Ignorar este princípio resulta em incontáveis
erros de interpretação. Por exemplo, em Romanos 6.1 Paulo assegura-lhe que a resposta é um forte
“Não!”

PRINCÍPIO 8 – O CONTEXTO REMOTO


Cada versículo deve ser interpretado à luz de seu contexto remoto.
Este princípio é parecido com o anterior, porém, trata do contexto mais amplo. O Contexto
remoto de um versículo ou texto bíblico pode ser o próprio livro da passagem em estudo, como
também pode ser uma passagem de outro livro, mas que fala do mesmo assunto.
Onde encontrar a interpretação de Isaías 7.14? Em Mateus 1.23. Como entender Juízes 5.8, que
fala de guerra, mas também que não havia armas em Israel? Como eles guerrearam se não havia
armas? 1 Samuel 13.19,20 explica porque não havia armas em Israel e o que eles usavam para
guerrear. O que significa “aborrecer” em Lucas 14.26? Mateus 10.37 explica. Veja também
Deuteronômio 21.15 e encontre o significado de “aborrecida” em Gênesis 29.30.

PRINCÍPIO 9 – HARMONIA BÍBLICA


Sempre baseie suas interpretações no fato de que a Bíblia é um todo consistente e harmonioso.
Todas as porções da Bíblia se encaixam num sistema de verdade unificador. A interpretação
correta de uma passagem específica nunca contradiz o ensino total da Escritura. Por exemplo, João
10.28 e Hebreus 6.1-6 não pode ensinar simultaneamente a segurança e a insegurança do crente.
Da mesma forma, Romanos 4 e Tiago 2 não podem simultaneamente ensinar que nós somos
justificados apenas pela fé e que a justificação é por fé e obras.

PRINCÍPIO 10 – PASSAGENS MAIS CLARAS


Interprete as passagens obscuras através de passagens mais claras sempre que possível.
Desde que a Escritura é um todo consistente, as passagens concernentes ao mesmo ensino deve
concordar uns com os outros. Você deve refrear-se de fazer uma declaração doutrinária baseado
somente numa única e obscura passagem da Escritura. Uma pesquisa revela não menos do que
trinta diferentes interpretações de 1 Coríntios 15.29. Porém, os Mórmons construíram uma
complexa prática de batismo pelos mortos baseado neste único versículo. Você deve consultar as
passagens mais claras para determinar uma doutrina correta do batismo.

PRINCÍPIO 11 – OBJETIVIDADE
O intérprete objetivo deve permitir que a Escritura fale para ele mesmo.
Não importa o que você tem aprendido anteriormente, você não deve pré-julgar a passagem
com idéias preconcebidas. Você pode descobrir a verdade na Escritura que contradiz uma tradição
ou crença que você apóia. Tradições são valiosas, mas apenas quando elas se conformam ao claro
ensino da Escritura. Você deve deixar o texto, em seu contexto, determinar o seu pensamento.
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PRINCÍPIO 12 – INTEGRIDADE DOUTRINÁRIA
Não insira verdades teológicas numa passagem se a doutrina não é realmente ensinada ali.
Você pode ser teologicamente acurado, mas ainda ter a interpretação errada para a passagem à
mão se a doutrina não é ensinada ali. Você pode estar certo, mas para a passagem errada! Por
exemplo, em 2 Samuel 12.23 Davi, após a morte de seu primeiro filho, disse: “Eu irei até ela, mas
ela não voltará para mim”. Davi não afirmou claramente se as criancinhas vão ou não para o céu.
Ele meramente disse que, visto que o bebê não pode retornar a ele do túmulo, ele poderia apenas ir
até ela quando morresse também. Na melhor das hipóteses, ele deixou a porta aberta para uma
possível clarificação do Novo Testamento sobre esta doutrina em particular.

PRINCÍPIO 13 – VERIFICAÇÃO EM DOBRO


Um intérprete deve verificar a sua interpretação com outros intérpretes confiáveis.
Se homens piedosos discordam com sua interpretação, então há uma boa chance de que você
tenha errado em algum ponto. Se sua interpretação é lógica e saudável, então outros intérpretes
deverão vê-la também.

PRINCÍPIO 14 – INTERPRETAÇÃO HONESTA


Uma interpretação não deve ir além do que a passagem diz, nem ela deve parar antes do que
ela diz.
Você deve assegurar-se de não fazer com que a passagem diga muito ou pouco. Por exemplo, a
questão da confissão como expressada em 1 João 1.9 ilustra este ponto. Ir além da passagem é
dizer que a confissão deve incluir lágrimas, tristeza especial, auto-penitência e outras formas de
contrição. Mas seria parar cedo demais na interpretação da confissão torná-la meramente um ato
mecânico sem qualquer sentimento de como nosso pecado tem ofendido a Deus e talvez os outros.

PRINCÍPIO 15 – TEMA
Identifique as principais idéias que apontam para o tema da passagem.
Numa dada passagem há diversas idéias importantes. Mas nem todas elas têm alguma coisa
diretamente relacionada com o tema da passagem. É muito importante que você pense
cuidadosamente sobre quais idéias são importantes para o tema. Isso é particularmente
importante numa passagem onde há um versículo popular. Por exemplo, Filipenses 1.6 é um
versículo bem conhecido. Mas não é importante para o tema da passagem. Ao contrário, o foco do
pensamento de Paulo em Filipenses 1 está no versículo 5, que declara a participação dos Filipenses
no Evangelho.

PRINCÍPIO 16 – DESCRIÇÃO OU DECRETO


Um intérprete deve distinguir entre declarações descritivas e mandamentos.
Declarações descritivas contam o que aconteceu, o que foi feito, o que será feito ou o que tem
sido dito. Declarações descritivas não decretam que as coisas descritas são boas ou más. Por
exemplo, as passagens que dizem que Davi e Salomão tiveram mais de uma esposa. Estas
passagens são apenas declarações descritivas. Por contraste, os mandamentos devem ser
obedecidos. Por exemplo, Tito 1.6 diz que o presbítero deve ser marido de uma só esposa. Este é
um mandamento que limita aos presbíteros da igreja a uma esposa.

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PRINCÍPIO 17 – UNIVERSAL OU ESPECÍFICO
Um intérprete deve distinguir entre os princípios ou mandamentos universais e aqueles que são
específicos.
Os princípios ou mandamentos universais são sempre verdadeiros e tem grande peso em
determinar o significado e importância de uma passagem. Mas alguns princípios e mandamentos se
aplicam somente a poucas pessoas sob certas circunstâncias. Eles são menos importantes para a
mensagem geral de uma passagem. Por exemplo, quando o Senhor ordenou que Abrão deixasse Ur
dos Caldeus e fosse para a terra prometida, este mandamento foi apenas para Abraão. Ele não foi
um mandamento universal para todas as pessoas. Por outro lado, quando Cristo disse para os
discípulos amar uns aos outros, isso foi um mandamento universal.

PRINCÍPIO 18 – COMPARAÇÕES
Significados podem ser frequentemente clarificados através do uso de diferentes traduções da
Bíblia e dicionários na própria linguagem do estudante.
Quando comparando traduções de João 14.26, o Espírito Santo é chamado de “Confortador”,
“Ajudador”, “Conselheiro”, “Advogado” e “Intercessor”. Isto dá diferentes facetas do significado
do Grego.

PRINCÍPIO 19 – O PESO DA EVIDÊNCIA


A interpretação de passagens difíceis deve ser feita na base do peso da evidência a favor ou
contra as várias possíveis interpretações.
Um bom intérprete julga as diferentes e possíveis interpretações e faz a sua decisão de acordo
com esse julgamento. Isso incluiu evidências lexicais, gramaticais, teológicas, históricas e
culturais. Exemplos de passagens que requerem tais considerações são Gênesis 1.1-3, Gênesis 6.1-
4, e 1 Timóteo 2.8-15.

PRINCÍPIO 20 – AUTORIDADE FINAL


O Novo Testamento tem precedência sobre o Antigo Testamento como a autoridade final em
questões doutrinárias.
O Novo Testamento é a revelação final de Deus e cumpre e completa aquela que é encontrada
no Antigo Testamento. É a comunicação de Deus para Sua igreja. O Novo Testamento é a base
para tais doutrinas como a igreja, céu e inferno, a Trindade, e a Segunda Vinda de Cristo. O Novo
Testamento é necessário para uma clara declaração destas doutrinas. Onde quer que o Antigo
Testamento faça referência a essas doutrinas, elas devem estar em concordância com o Novo
Testamento.

PRINCÍPIO 21 – O PRINCÍPIO DA DECLARAÇÃO DIRETA


Aquilo que Deus diz em Sua Palavra é realmente aquilo que Ele quis dizer.
Quando Deus diz alguma coisa, Ele o diz no sentido mais natural daquilo que Ele falou. Natural
não significa “literal”. O Sentido natural é o sentido imediato, exato daquilo que foi falado.
Exemplo: Leia Mateus 5.29. Este texto não diz que devemos arrancar “literalmente” o olho que
nos fazer tropeçar, mas sim que, assim como arrancar um olho seria uma atitude extrema para
eliminar um olho que não serve mais, da mesma maneira nós devemos tratar radicalmente com o
nosso próprio pecado. O que o Senhor está ensinando não é devemos arrancar o olho ou cortarmos
um braço literalmente, mas sim que devemos tratar o pecado com seriedade, comprometidos
radicalmente em não pecarmos.
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PRINCÍPIO 22 – CORRELAÇÃO DE IDEIAS
Algumas vezes encontramos palavras diferentes em diferentes versículos, mas a idéia é a
mesma.
Exemplo: Nós encontramos freqüentemente nos Evangelhos, especialmente em Mateus, a
expressão “Reino dos Céus”. O que é o Reino dos céus? O Reino dos Céus é diferente de Reino de
Deus? As parábolas do Reino dos Céus em Mateus 13 são chamadas de parábolas do “Reino de
Deus” em Lucas, capítulos 8 e 13, ou seja, reino dos céus e reino de Deus é a mesma coisa. Leia
Romanos 14.17 e Mateus 6.10 e você terá o significado de “reino de Deus” ou “reino dos céus”.

PRINCÍPIO 23 – CORRELAÇÃO DE DOUTRINA


Quando nós reunimos certo número de idéias debaixo de um mesmo tópico, então nós temos
uma doutrina bíblica.
Por exemplo, o amor de Deus é uma idéia; a santidade de Deus é outra; quando juntamos estas
idéias nós temos “Os atributos de Deus”, que é uma doutrina bíblica.

PRINCÍPIO 24 – A PRIMEIRA MENÇÃO


Toda vez que um texto é escrito e o autor cria uma idéia ou palavra nova que ainda não
apareceu na Bíblia, ele tem que explicar o significado desta palavra no ponto em que ela é
mencionada pela primeira vez.
Exemplos: O que significa “amar”? Na primeira referência bíblica acerca do amor você
encontra o significado de amar. Gênesis 22.2 fala que Abraão amava seu filho e que ele iria
oferecer um sacrifício. Você tem a palavra amor e tem a idéia de sacrifício. O que é amar? É
sacrificar-se por outrem.
Digamos que você queria entender a história de Jerusalém, desde a sua fundação até o final dos
tempos, você precisa ver a primeira vez em que a palavra Jerusalém aparece na Bíblia. Leia Juízes
1.8 e você verá que a história de Jerusalém tem sido uma só: “pelejaram contra Jerusalém e,
tomando-a, passaram-na a fio da espada, pondo fogo à cidade”.

PRINCÍPIO 25 – A PRIMEIRA E A ÚLTIMA MENÇÃO


Toda vez que um texto é escrito e o autor cria uma idéia ou palavra nova que ainda não
apareceu na Bíblia, ele tem que explicar o significado desta palavra no ponto em que ela é
mencionada pela primeira e pela última vez.
Compare, por exemplo, a árvore, o rio e as pedras preciosas que aparecem pela primeira vez em
Gênesis 2 e pela última vez em Apocalipse 22. O Significado final geralmente explica o primeiro.

PRINCÍPIO 26 – A MENÇÃO PROGRESSIVA


É o princípio pelo qual Deus torna a revelação de uma dada verdade cada vez mais crescente e
clara na medida em que a Palavra prossegue até a sua consumação.
Exemplo: O Cordeiro em Gênesis 22.8 é o cordeiro profetizado; em Êxodo 12 é o cordeiro
tipificado; em Isaías 53.7 é o cordeiro personificado; em João 1.29 é o cordeiro identificado; em 1
Pedro 1.19 é o cordeiro crucificado e em Apocalipse 22.1 é o cordeiro satisfeito.

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PRINCÍPIO 27 – A MENÇÃO COMPLETA
É o princípio no qual Deus declara a sua mente completa acerca de um dado assunto vital para
a nossa vida espiritual.
Em um determinado lugar da Sua Palavra, o Senhor ajunta o maior número de ensinamentos
espalhados, que tenham a ver com alguma verdade particular e os coloca juntos em alguma
declaração exaustiva, e esta é o seu pensamento completo sobre o assunto.
Exemplo: A ressurreição dos salvos em 1 Coríntios 15; A língua (o falar) em Tiago 3; A
Restauração de Israel em Romanos 11.4; A Fé em Hebreus 11; Disciplina em Hebreus 12.6; A
Igreja em Efésios 1, 2, 3, 4; O Reino de Deus em Mt 5, 6, 7; os Dons espirituais em 1 Coríntios 12
a 14; A Palavra de Deus no Salmo 119; O novo nascimento em João 3.1-7, e etc.

PRINCÍPIO 28 – A MENÇÃO REPETITIVA


É o princípio sobre o qual Deus repete alguma verdade ou assunto já mencionado, geralmente
com acréscimo de detalhes não dados anteriormente.
Exemplos: Os Evangelhos Sinópticos (Mateus, Marcos e Lucas). Grande parte dos discursos do
Senhor, dos milagres e das parábolas, aparece nos três Evangelhos, mas sempre com algum
acréscimo de detalhes. Em Deuteronômio nós temos uma repetição das leis que foram dadas em
Êxodo, Levítico e Número, mas com alguns detalhes que não constam nos outros livros.
O estudante da Bíblia vai se beneficiar grandemente de estudar a Bíblia comparando estas
repetições. Em Mateus 7.24-27 nós encontramos a parábola dos “dois fundamentos”. Em Lucas
6.46-49 nós temos a mesma parábola, mas com detalhes diferentes. Se usar apenas uma delas, você
não terá uma visão global; mas se usar as duas parábolas você terá uma compreensão muito
melhor. Por exemplo, em Mateus o homem prudente edificou a sua casa sobre a rocha, mas em
Lucas nós temos os detalhes de como ele fez isto (Lucas 6.48).

PRINCÍPIO 29 – DISCRIMINAÇÃO
É o princípio pelo qual nós devemos dividir a Palavra de Deus de modo a fazer uma distinção
onde Deus mesmo faz uma diferença.
Exemplo: A Salvação é vista de três formas distintas na Bíblia. Ela é vista no passado, quando
nós cremos em Cristo e nisto a salvação é totalmente completa e não precisa de qualquer
acréscimo ou desenvolvimento (2 Timóteo 1.9). Mas a salvação também é visto como algo
acontecendo em nosso presente e em desenvolvimento (Filipenses 2.12b) e, por fim, a salvação
também é vista como algo ainda a se realizar no futuro (Romanos 13.11). Por que há três tempos
na salvação? Porque nós somos “espírito, alma e corpo”, e Deus enviou o Seu Filho para salvar
integralmente o homem. Nosso espírito foi salvo quando cremos (a salvação no passado), a nossa
alma (emoções, intelecto e vontade) está sendo salva, ou seja, transformada, santificada pela
Palavra de Deus (a salvação no presente) e o nosso corpo será transformado quando Cristo voltar
(a salvação futura ou redenção do Corpo - Romanos 8.23).

PRINCÍPIO 30 – AUTO-CONSISTÊNCIA
É o princípio que declara que a Palavra de Deus está sempre de acordo com ela mesma e não
pode errar.
Algumas passagens bíblicas, aparentemente, parecem se contradizer. No entanto, o problema é
somente aparente, porque não há erros na Bíblia (quanto aos originais) e qualquer contradição que
possa surgir é apenas uma questão de limitação mental de nossa parte.

11
Por exemplo, a questão da Justificação. Tiago 2.24 advoga que não é somente pela fé que
alguém é justificado, mas também por obras. Paulo, em Romanos 4.2-4 e Efésios 2.8-9, advoga
que o homem é justificado somente pela fé, sem obras. Parece que há uma contradição na Bíblia,
mas isto é somente o que aparenta ser.
Para entendermos a posição de Paulo e a de Tiago, precisamos ver o contexto de cada livro.
Primeiramente, Paulo argumenta segundo o que Deus vê e Tiago segundo o que o homem vê.
Perante Deus, tudo o que vale como a sua resposta ao dom da justificação é a fé; mas, perante os
homens, a fé manifesta-se através das obras.
Em segundo lugar, Paulo fala de obras mortas, tentativas e esforços humanos de alcançar a
justificação por conta própria. Mas para Tiago, as obras das quais ele fala são ações de fé, atos que
testemunham a autenticidade de sua fé em Deus. Não há nenhuma contradição entre o que Paulo
escreveu sobre a fé e o que Tiago escreveu sobre as obras. Cada um olhou o assunto de uma
perspectiva diferente e utilizando a palavra “obras” de um modo diferente.
Em Mateus 27.9 nós temos outra aparente contradição. O texto bíblico que Mateus cita como
tendo sido dito por Jeremias não se encontra no livro que leva o nome do profeta, mas sim no livro
de Zacarias (11.12,13). Como explicar esta aparente contradição? É bem simples. Note bem o que
Mateus escreve. Ele assegura-nos que algo foi dito pelo profeta Jeremias e não que tenha sido
escrito por ele. Quem escreveu foi Zacarias, mas quem disse foi o profeta Jeremias.
Na maioria dos casos em que encontrarmos “aparentes” contradições, a dificuldade poderá ser
resolvida com uma simples atenção ao que está escrito e como está escrito.

PRINCÍPIO 31 – ATITUDE HUMILDE


Finalmente, e o mais importante, as Escrituras devem ser abordadas com uma atitude humilde
e séria.
As palavras da Bíblia são as palavras de Deus. E Deus nos considerará responsáveis por como
nós as usamos ou mal usamos. As interpretações não devem ser casuais. O cuidado sério deve
sempre ser seguido. Nós podemos ensinar o que a Escritura diz com confiança, apenas devemos
fazer bem nosso dever de casa para certificar-nos de que nossa interpretação está de fato correta.

7. INTERPRETANDO OS TESTAMENTOS
“Pois tudo o que foi escrito no passado, foi escrito para nos ensinar, de forma que,
por meio da perseverança e do bom ânimo procedentes das Escrituras, mantenhamos
a nossa esperança” (Romanos 15.4).

INTERPRETANDO O ANTIGO TESTAMENTO


Quando nós interpretamos o Antigo Testamento, nós precisamos ter sempre em mente que,
embora o Antigo Testamento também seja a Palavra de Deus, inspirada por Deus, ele não contém
doutrinas cristãs diretas e explícitas. Não podemos criar ou formular doutrinas para a Igreja
tomando como base o Antigo Testamento.
Vejamos, então, como devemos interpretar e usar esta parte da Palavra de Deus.
ENCONTRE JESUS NO ANTIGO TESTAMENTO
Ao estudarmos o Antigo Testamento, devemos ter em mente que em todos os livros nós
podemos encontrar alguma referência implícita ou explícita acerca do Senhor Jesus Cristo,
conforme Ele mesmo exemplificou em Lucas 24.27,44.

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Podemos, então, procurar e achar o Senhor Jesus Cristo no Antigo Testamento através de
símbolos, tipos (de pessoas, cerimônias, objetos, festas, ofertas e etc.), profecias e alusões
espirituais.
TOME AS HISTÓRIAS E FATOS DO ANTIGO TESTAMENTO COMO EXEMPLOS
As histórias e fatos do AT devem ser tomados como exemplos e não como padrão doutrinário
para a Igreja. Porque as coisas escritas no Antigo Testamento foram registradas para a nossa
ADVERTÊNCIA (1 Coríntios 10.6,11).
Israel passou quarenta anos no deserto por causa da sua desobediência. Isto aconteceu com
Israel, mas não irá acontecer da mesma maneira com a Igreja ou com os crentes individualmente.
Nós podemos usar o que aconteceu com Israel no deserto para nos lembrarmos que a
desobediência e a incredulidade trazem conseqüências terríveis.
LEMBRE-SE QUE AS LEIS MORAIS DO ANTIGO TESTAMENTO SÃO ETERNAS
As leis morais do AT são eternas como o próprio Deus que as criou, pois elas derivam do Seu
caráter santo e justo. Mas as leis cerimoniais, os ritos religiosos, os estatutos nacionais de Israel –
tudo o que regulava a vida civil e religiosa do povo judeu (leis referentes à purificação do corpo e
de objetos, cultivo, criação de animais, alimentação, e etc.) – todas estas coisas devem ser
entendidas e aplicadas figuradamente, pois foram dadas por Deus com relação ao homem,
especialmente aos Seus filhos, para serem aplicadas às suas necessidades de direção espiritual,
moral e prática.
Nós podemos ver, por exemplo, que Paulo usou algumas leis referentes ao uso dos animais na
agricultura como exemplo do ensinamento sobre o sustento daqueles que vivem do Evangelho e na
liderança da igreja (ver 1 Coríntios 9.8-10 e 1 Timóteo 5.17,18). Se você é um fazendeiro que
ainda trabalha com bois na lavoura, você não deve se considerar obrigado pela lei do Antigo
Testamento quanto a deixar seu boi ir comendo enquanto faz o seu trabalho. Mas você deve sentir-
se obrigado a sustentar aqueles que trabalham para Deus de tempo integral.
TRATE AS FIGURAS COMO FIGURAS
As coisas do Antigo Testamento, especialmente as que estão relacionadas à vida religiosa do
povo judeu, são figuras e sombras das coisas celestiais, e devem ser entendidas e usadas desta
forma (Hebreus 8.5).
Muitas pessoas hoje em dia querem usar passagens do Antigo Testamento para justificar
ensinamentos legalistas nas igrejas. Algumas pessoas ensinam, por exemplo, com base em
Deuteronômio 22.5, que as mulheres não podem usar shorts ou calça comprida (roupas de
homem). Muitas das pessoas que defendem esta doutrina arduamente se esquecem que há outras
„leis‟ que elas mesmas não seguem e até explicam que não são mais necessárias para hoje, como a
lei para não cortar o cabelo redondo ou as extremidades da barba (Levítico 19.27) ou a lei dos
primogênitos do gado (Deuteronômio 15.19-23) ou a lei sobre os filhos desobedientes
(Deuteronômio 21.18-21). Não é coerente observar as partes do Antigo Testamento que mais nos
agradam e negligenciarmos as que não nos agradam.
Quando lermos o Antigo Testamento, devemos buscar sempre os princípios morais, e não as
leis acerca de coisas que dizem respeito exclusivamente a Israel e que realmente não são mais para
nós. Se alguém quer viver pela lei deverá cumprir toda a lei. Mas o Novo Testamento mostra
claramente que ninguém pode cumprir viver pela lei; daí a necessidade de viver pela fé.
Você deverá procurar entender o caráter de Deus através das leis do AT e não pretender seguir
tais leis como regra de vida, especialmente as de cunho religioso e civil. As leis morais, como já
mencionamos, permanecem inalteradas para nós até os dias de hoje e para sempre.
NOTE QUE O SISTEMA DE ADORAÇÃO ISRAELITA É UMA PARÁBOLA
O sistema de adoração do Antigo Testamento, assim como tudo que está relacionado a ele, é
uma parábola para a Igreja, iluminada pelo Espírito Santo (Hebreus 9.8-9).

13
O que é uma parábola? Uma parábola é uma estória que usa coisas naturais para ensinar
verdades espirituais. Por exemplo, o Senhor Jesus falou que o Reino dos Céus é como um grão de
mostarda. O Senhor não quis dizer que o Reino dos Céus é, literalmente, um grão de mostarda,
mas sim que podemos comparar o crescimento exterior do Reino dos Céus com o crescimento de
um grão de mostarda.
Da mesma forma, nós podemos comparar as coisas que aconteceram e fazem parte do sistema
de adoração do Antigo Testamento com verdades relacionadas à Igreja. Mas isto não significa que
a Igreja seja Israel ou tenha que passar, literalmente, pelas mesmas coisas que Israel passou.
RECONHEÇA QUE O ANTIGO TESTAMENTO É A SOMBRA, NÃO A REALIDADE
As ordenanças e cerimônias do Antigo Testamento são sombras das coisas que haviam de vir
com Cristo – a Realidade (Colossenses 2.16-19). Quando interpretarmos as cerimônias do Antigo
Testamento, tais como a unção dos Sacerdotes ou mesmo os sacrifícios, nós devemos aplicá-las
como sendo figuras de Cristo e não literalmente. Não é que elas não existiram ou não foram feitas
da maneira como encontramos no Antigo Testamento, mas simplesmente que não necessitamos
daquilo que foi passageiro e transitório. Nós temos a realidade de tudo o que foi colocado como
figura no Antigo Testamento, ou seja, Cristo.
CONSIDERE QUE TUDO O QUE FOI ESCRITO NO ANTIGO TESTAMENTO FOI ESCRITO
PARA O NOSSO ENSINO
O Antigo Testamento existe para o nosso ensino, para que pela paciência e consolação das
Escrituras tenhamos esperança (Romanos 15.4). O ensino é extraído do AT através de
comparações, ilustrações e exemplos, mas não há doutrinas para serem ensinadas à Igreja no AT.
SAIBA QUE MUITAS PASSAGENS DO ANTIGO TESTAMENTO POSSUEM DUPLO
SIGNIFICADO
Muitas passagens do AT possuem duplo significado ou dão espaço para uma aplicação
RESTRITA e também em sentido LATO. Por exemplo: em Oséias 11.1 nós vemos que Israel é
quem é chamado de filho de Deus, que foi tirado do Egito através do Êxodo sob a liderança de
Moisés. Mas em Mateus 2.15, o Senhor Jesus é quem é visto como o filho de Deus que foi trazido
do Egito. Uma mesma passagem foi aplicada a Israel e também a Jesus.
APLIQUE AS ESCRITURAS DO ANTIGO TESTAMENTO COMO JESUS E OS APÓSTOLOS
FIZERAM
Devemos aplicar as Escrituras do AT como Jesus e os apóstolos fizeram, ou seja, utilizando
passagens com sentido figurado, com flexibilidade, aplicando às necessidades diversas da vida
cristã. É um uso mais figurado, tipológico, adequado às lições morais e ensinos de princípios
básicos espirituais, porém, sem ser alegórico.

INTERPRETANDO O NOVO TESTAMENTO

O NOVO TESTAMENTO É PARA „GUARDAR‟


Se o Novo Testamento responde a todas as perguntas necessárias e básicas à compreensão e
prática de determinado assunto, então aí não há liberdade para se interpretar. A nossa obrigação
para o que está claramente revelado (que responde às perguntas: o que? quem? como? onde?
quando? e por quê?) é GUARDAR, e não interpretar.
AS NOSSAS OPINIÕES NÃO POSSUEM AUTORIDADE
As nossas opiniões sobre assuntos do Novo Testamento (assim como de toda a Bíblia) são
apenas opiniões, e não possuem qualquer autoridade divina. Mas podem conter „bom senso‟ e
„sabedoria‟, coisas dignas de serem consideradas seriamente.

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Não devemos, contudo, discutir opiniões diferentes sobre determinados temas (Romanos 14.1).
Cada um deve ter opinião bem definida em sua própria mente com relação às coisas que não são
essenciais à fé e conduta cristã como, por exemplo, alimentos, usos e costumes culturais, a guarda
de dias especiais como os feriados, aniversários, e etc. (Romanos 14.5).
INTERPRETE DE ACORDO COM O SENTIDO NORMAL
O Novo Testamento deve ser compreendido, tanto quanto seja possível, em seu sentido normal
ou restrito. É claro que este princípio não anula o outro princípio do uso de linguagem figurada.
Porém, é importante notarmos, nas diferentes divisões do Novo Testamento, que é preciso fazer
uma diferenciação entre FIGURA DE LINGUAGEM e VERDADE BÍBLICA ABSOLUTA.
Quanto aos ensinamentos do Senhor Jesus Cristo nos Evangelhos, é sabido que muito do que
Ele falou foi em estilo de parábolas, mostrando desta forma qual era, basicamente, o seu método de
ensino e como nós podemos entendê-lo.
Ele disse: Se alguém põe a mão no arado e olha para trás, não é apto para o Reino de Deus. É
claro que ARADO é usado simbolicamente, mas a aplicação deve ser prática. Noutras ocasiões, ele
mostrava que não estava usando metáforas, e dizia a todos: Se alguém não renunciar a sua própria
vida não pode ser meu discípulo. Isto não é figura de linguagem, mas um ensino direto e claro.
Quando Ele disse "ninguém pode servir a dois senhores", ele estava dando um princípio geral
em LINGUAGEM FIGURADA. A palavra „senhores‟ representa qualquer coisa ou pessoa com
quem tentamos dividir nosso amor e serviço ao Senhor. Então, podemos perceber que às vezes o
Senhor usava figuras de linguagem para enfatizar verdades básicas e que também falava
claramente aquilo que Ele esperava de seus discípulos.
Os Evangelhos falam da vida e Obra do Senhor Jesus. Assim, ao procurar compreendê-los e
usá-los devemos levar em consideração que eles são, em primeiro lugar, uma NARRAÇÃO
HISTÓRICA, e não livros de doutrina. Podemos encontrar muitos ensinamentos do Senhor (que
devem ser seguidos!), mas em primeira análise esses ensinamentos estão registrados como parte da
história e não como bússola doutrinária. Mas insistimos: todos os ensinamentos e mandamentos do
Senhor Jesus que estão revelados como princípios devem ser seguidos por seus discípulos em
todas as épocas da história da igreja (Mateus 28.19-20).
Atos dos Apóstolos é um livro que possui mais ensinamentos transmitidos pelo ORTOPRÁXIS
(prática correta e fundamental) do que pela ORTODOXIA (a doutrina correta e fundamental).
ATOS é um livro de experiências, do qual podemos colher exemplos de duas espécies:
1. Padronizados, ou seja, de acordo com o que foi ensinado e/ou praticado pelos apóstolos e
primeiros cristãos, como por exemplo, as reuniões da igreja (Atos 2.42; 20.7; 12.5,12 com 1
Coríntios 11.17 e ss.; 14.26; 1 Timóteo 2.1; e etc.), o ministério do Espírito Santo (Atos 2.1-4;
13.1-4; 4.31; 1.5,8 com 1 Coríntios 6.19; Efésios 5.18; Romanos 8.26, e etc.), e outros mais. Estes
exemplos transitem princípios de padrões gerais para a Igreja hoje.
2. Figurados – fatos verdadeiros, porém circunstanciais como, por exemplo, as reuniões „no
templo‟ (Atos 2.46; 5.42). O TEMPLO, na verdade era o „pátio‟ do templo, e não propriamente o
interior do templo. Mesmo assim, quando o Evangelho e a verdade sobre a Igreja foram mais
claramente revelados e a distinção entre o judaísmo e a Igreja ficou mais evidente, os cristãos
foram convocados a uma separação total de tudo que estava relacionado com a religião dos judeus.
Esta convocação foi atendida por muitos, e aqueles que não a atenderam sofreram as terríveis
conseqüências através de perseguições e correções.
Um fato interessante é que o Senhor mesmo tratou de destruir o templo através do Império
Romano em 70 d.C., acabando assim de vez com qualquer relação entre o templo material com a
casa ou templo espiritual que é a Igreja.
No entanto, nós podemos tomar „o templo‟ como FIGURA do tipo de reunião coletiva do povo
de Deus, que podemos chamar de GRANDE GRUPO, ou seja, quando todos os crentes de uma
igreja local se reúnem no mesmo lugar (1 Coríntios 14.23), assim como as reuniões de „casa em
15
casa‟ descrevem as reuniões do que podemos chamar de PEQUENO GRUPO, quando a igreja é
distribuída nos lares.
Nos Ensinos Apostólicos contidos nas Epístolas do NT não existem muitas figuras, exceto
aquelas que são usadas do ANTIGO TESTAMENTO e algumas analogias usadas apenas para
clarear as verdades ensinadas, e às quais seguem as devidas explicações.
Todos os ensinamentos apostólicos devem ser praticados como mandamentos do Senhor,
excluindo somente os detalhes culturais e históricos de algumas passagens cujos contextos nos
mostram que há uma verdade geral a ser aprendida e praticada e aplicável com flexibilidade em
cada cultura. Por exemplo, alguns conselhos de Paulo sobre o casamento em 1 Coríntios 7 ou sobre
o uso do véu em 1 Coríntios 11. Portanto, é importante observarmos uma clara divisão nos ensinos
apostólicos. Eles podem ser divididos em:
 Ensinamentos Ortodoxos – com relação aos assuntos para nós CRERMOS, como a
divindade e humanidade de Cristo, sua impecabilidade, seu nascimento virginal, sua
segunda vinda, a salvação pela graça mediante a fé, e etc. Não aceitar estes ensinamentos
significaria, em termos práticas, não ser da „fé cristã‟.
 Ensinamentos Práticos – com relação ao que devemos PRATICAR nas igrejas locais (ou
mesmo individualmente), como por exemplo, o batismo em Cristo, a ceia do Senhor, a
posição das mulheres nas reuniões, a oração, o estudo da Palavra, a adoração, e etc. Neste
caso, há alguns princípios gerais e alguns princípios práticos claramente expostos nas
Escrituras. Aí nós temos que diferenciar entre função e forma. Por exemplo, o batismo nas
águas é uma função claramente estabelecida na igreja, mas a forma como ele é praticado
não é claramente exigida. Assim, enquanto não podemos deixar de praticar o batismo,
também não podemos estabelecer biblicamente que só há um modelo válido.
 Ensinamentos morais e espirituais – com relação ao que devemos SER E TER: humildade,
mansidão, enchimento do Espírito, orar no Espírito, amor fraternal, perdão, renúncia,
santidade, boas obras, e etc. Essas são coisas que não exigem muita interpretação, antes,
muita prática.
O Apocalipse, como todo livro de profecia, é basicamente simbólico. Contudo, algumas de suas
verdades absolutas podem ser aplicadas livremente. Os símbolos são apenas símbolos, indicadores
de verdades que irão se cumprir sobre a terra nestes últimos dias. Um uso errado da profecia em
Apocalipse seria aplicar literalmente passagens como 16.15, e outras.
Quando o Novo Testamento responde somente algumas das perguntas básicas para a
compreensão de uma passagem (como por exemplo, as perguntas „o que‟, e „por que‟). As outras
perguntas deverão ser usadas e respondidas de acordo com todo o contexto das Escrituras e/ou do
assunto em foco, juntamente com a pesquisa de comparações de textos, ilustrações, palavras-
chave, pensamentos correlatos, figuras, símbolos, tipos e etc.
Se, após toda essa análise e o uso de todos os princípios, ainda não compreendemos ou não
temos uma resposta clara na Palavra às perguntas já mencionadas anteriormente, deve-se fazer
uso da liberdade de interpretação e aplicação, mas sem prejudicar o contexto da Palavra, pois de
outra forma seria ir contra a autoridade final e máxima das Escrituras.

8. O PROCESSO INTERPRETATIVO (1)


“Eu mesmo investiguei tudo cuidadosamente, desde o começo, e decidi escrever-te um
relato ordenado, ó excelentíssimo Teófilo, para que tenhas a certeza das coisas que te
foram ensinadas” (Lucas 1.3-4).

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Quando nós interpretamos uma passagem da Escritura, nós procuramos descrever claramente a
situação bíblica original e declarar a mensagem que Deus comunicou naquela situação. Nós
podemos, então, cuidadosamente e seriamente assumir que Deus falaria de uma maneira similar
numa situação similar – resultando num princípio bíblico geral.
Portanto, a interpretação envolve:
 Compreender o conteúdo e o contexto da passagem – a situação e as pessoas bíblicas
originais;
 Identificar a mensagem comunicada àquelas pessoas naquele tempo;
 Formular um princípio que resume esses fatos, e os quais seriam aplicáveis a uma situação
similar em qualquer era – especialmente hoje.
O princípio que resulta da interpretação pode ser uma advertência, uma promessa, um desafio,
etc. A coisa importante é compreender a situação original de maneira clara o suficiente para que
possamos dizer „assim diz o Senhor‟ com confiança quando nós a aplicarmos às nossas vidas e às
vidas dos outros.
Assim, para alcançar o objetivo final da interpretação – o princípio bíblico universal e
atemporal – nós precisamos usar o processo interpretativo para cada passagem bíblica. Você deve
usar estes passos para interpretar corretamente uma passagem bíblica:
 Examine o conteúdo.
 Pesquise o Contexto.
 Compare com outras Escrituras.
 Consulte as fontes secundárias.
 Determine o ponto principal do autor.
 Determine o fluxo de pensamento da passagem.
 Use os princípios de interpretação.
 Declare o princípio bíblico.
Nesta lição, nós estudaremos os quatro primeiros passos e os demais na lição seguinte.

EXAMINE SEU CONTEÚDO


Responda – se possível – as questões interpretativas que devem surgir da passagem que você
está estudando. Não comece com os comentários de alguém sobre o que a passagem significa.
Sempre comece com a Bíblia como a sua fonte primária. Enquanto você examina a passagem, o
que parece ser a resposta sensível e óbvia para suas questões? Se você tem apenas esta passagem e
nada mais, qual seria sua melhor suposição do significado?
Outro lugar útil para comparar o significado é através do uso de outras traduções. Outras
traduções bíblicas podem frequentemente adicionar à sua compreensão de uma passagem em
particular.
Enquanto você examina o conteúdo, preste atenção ao estilo literário. Interprete o texto tão
naturalmente quanto possível, porém observe se há poesia, prosa e profecia. Esteja atento a
qualquer figura de linguagem. Por exemplo, a poesia usa muitas formas de linguagem que são
usadas apenas para comparação. A profecia usa a linguagem simbólica (por exemplo, os
gafanhotos no livro de Joel). Os Evangelhos usam parábolas.

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PESQUISE O CONTEXTO
O que os parágrafos que vêm antes e depois da passagem adicionam à sua compreensão das
questões que você tem feito? O ensino de uma simples passagem deve ser visto dentro do ambiente
do livro inteiro no qual ele se encontra. Compreendendo o desenvolvimento do livro inteiro é
frequentemente essencial para interpretar o significado de um simples texto.

COMPARE COM OUTRAS ESCRITURAS


A Bíblia derrama luz sobre seu próprio significado. Você deve deixar as Escrituras interpretar
as Escrituras. A interpretação saudável em última análise leva em conta a Bíblia inteira. As
referências cruzadas nas margens de algumas Bíblias comparam os versículos numa página em
particular com versículos em outros lugares na Bíblia que contêm um tema ou idéia semelhante. Se
você tem referências cruzadas, procure esses versículos. Veja o que eles dizem sobre as questões
que você está estudando. Talvez você saiba de outras passagens de seu estudo pessoal que possam
ter pensamentos comparáveis.
Por exemplo, Efésios 5.18-19 exorta aos crentes para serem cheios do Espírito Santo, falando
uns aos outros com canções espirituais. Colossenses 3.16 diz, “Habite ricamente em vocês a
palavra de Cristo; ensinem e aconselhem-se uns aos outros com toda a sabedoria, e cantem
salmos, hinos e cânticos espirituais com gratidão a Deus em seu coração”. Note que “falando uns
aos outros” se relaciona com “aconselhem-se uns aos outros” e que “cânticos espirituais” está em
ambas as passagens. Portanto, o enchimento do Espírito Santo pode estar relacionado à palavra de
Cristo habitando em você.
Uma concordância é a melhor ferramenta usada para comparar diferentes Escrituras. Esse livro
de referências contém uma lista alfabética de todas as palavras na Bíblia e cada versículo na Bíblia
onde esta palavra é usada. Uma concordância ajuda você a encontrar outros lugares na Escritura
onde um ensino similar ou tópico é discutido, assim dando-lhe mais entendimento da passagem
que você está estudando atualmente.
O processo é relativamente simples. Primeiro, identifique as palavras-chave na passagem que
você está estudando. Depois, encontre estas palavras numa concordância assim como você faria
em um dicionário. Sob cada palavra haverá uma lista de referências bíblicas onde a palavra é
usada. Depois olhe essas referências em sua Bíblia para ver se elas ajudam. (Se você tem uma
concordância, assegure-se de ler o prefácio de modo que você compreenda como a sua
concordância específica funciona. Cada concordância é um pouco diferente em termos de arranjo e
detalhe).

CONSULTE AS FONTES SECUNDÁRIAS


Apenas quando você tiver completado um meticuloso estudo da Bíblia – sua fonte primária – é
que você estará pronto para procurar por ajuda em outro lugar. Não busque primeiro os
comentários! Pegar um comentário antes de fazer qualquer estudo pessoal da Bíblia possivelmente
o levará às conclusões inadequadas. Em adição, você priva a si mesmo da alegria de descobrir as
verdades eternas por si mesmo. Os estudiosos que escreveram os comentários estudaram o material
da mesma maneira que os estudantes da Bíblia podem fazer hoje. Os cristãos devem crescer à
maturidade, o que os capacitará a ir além da constante dependência da erudição de outros.
O que as fontes secundárias adicionam à sua compreensão? Elas lhe dão entendimentos de
outros homens sábios e piedosos para a passagem que você está estudando. Além disso, as fontes
secundárias podem dirigir-lhe a um erro ou descuido em sua própria interpretação. Muitos
comentários dão interpretações alternativas assim como aquelas do autor.
As fontes secundárias incluem Comentários bíblicos, Atlas, Dicionários, livros teológicos e
outros livros de referência sobre a Bíblia. Você deve usar todas as fontes secundárias com

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discernimento e lembrar Alguns comentaristas são mais hábeis do que outros ao interpretar a
Bíblia.

9. O PROCESSO INTERPRETATIVO (2)


“Eu mesmo investiguei tudo cuidadosamente, desde o começo, e decidi escrever-te um
relato ordenado, ó excelentíssimo Teófilo, para que tenhas a certeza das coisas que te
foram ensinadas” (Lucas 1.3-4).

A interpretação é mais do que uma arte; ela é uma ciência. Ou seja, ela é mais do que uma
questão de seguir certas regras – muito embora as regras e diretrizes existam.
Prática, oração e sensibilidade à direção do Espírito Santo são necessárias para desenvolver a
habilidade de examinar cuidadosamente o texto bíblico em busca dos fatos através da observação,
identificando os mais importantes e compreendendo a principal mensagem da passagem.

DETERMINE O PONTO PRINCIPAL DO AUTOR


Quando nos referimos ao autor da passagem, nós temos em mente tanto o escritor humano
quanto o divino, Deus, que dirigiu todo o processo de escrita. Com exceção de algumas profecias
onde o escritor humano não as compreende, o propósito do autor e o propósito de Deus devem ser
o mesmo.
Em alguns casos, o ponto principal deve ser claramente declarado na passagem. Normalmente,
contudo, será necessário procurar pelas dicas e observações chaves que ajudam a compreender um
assunto. O contexto normalmente é o mais importante indicador do tópico e ponto principal.
Palavras e frases repetidas também são indicadores valiosos. Cada passagem será diferente, mas
você está procurando pela seguinte informação:
 Sobre qual tema o escritor está falando?
 O que ele está dizendo sobre este tema?
A situação ideal é ser capaz de resumir estas duas coisas numa sentença concisa. Isto pode
exigir algumas tentativas antes de encontrar a correta. Usando o exemplo da edificação de uma
casa, isso seria como lançar o alicerce adequadamente. A plena descrição da mensagem da
passagem estará edificando esta declaração, assim como a aplicação.

DETERMINE O FLUXO DE PENSAMENTO NA PASSAGEM


Uma vez que o ponto principal do autor tem sido declarado, o próximo passo é descrever como
ele edifica este ponto na passagem. Qual estilo ele usa? Por quê? Qual método ou qual lógica? Por
que ele escolheu esse método de apresentá-lo? Deve ser possível notar tanto o conteúdo da
passagem como a atitude ou emoção sendo comunicada. O texto pode ser de encorajamento,
sarcástico, de ira, confrontador, de alívio, de desafio, etc.

USE OS PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO


Você aprendeu diversos princípios de interpretação nas lições anteriores. Use-os liberalmente
no processo interpretativo!

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O PRINCÍPIO BÍBLICO
O processo final no processo de interpretação visa declarar o significado de uma passagem
como um princípio bíblico conciso. Esta declaração deve ser muito similar ao “Ponto Principal”
que você já considerou. Contudo, o ponto principal era válido para a época em que ele foi escrito
ou à qual se refere. O que você precisa agora é formular um princípio que seja válido para qualquer
tempo, especialmente para hoje.
A forma do princípio seria alguma coisa como: “Nesse tipo de situação, nós devemos...” ou
“Quando algo assim acontece, Deus...”. O fraseado exato de um princípio para uma passagem
particular variará, é claro. O princípio também deve ser tão específico quanto possível. Este
processo não é fácil, mas ele é importante. E, com a ajuda de Deus, é possível.

AVALIE E CONCLUA
Em algum ponto de sua pesquisa você deve parar, avaliar suas informações, e chegar a uma
conclusão. Os limites do tempo podem forçar você a parar. Ou você pode ter exaurido todos os
recursos disponíveis à sua disposição. Você pode encontrar a si mesmo escrevendo conclusões até
mesmo enquanto você estuda, moldando interpretações inaceitáveis e pensando em outras
possibilidades para buscar.
Você agora já tem completado um minucioso estudo do processo de interpretar as passagens das
Escrituras! Agora você deve ter uma melhor compreensão do processo de interpretação. Você
agora deve saber como encontrar as respostas para a maioria das questões que surgem a partir do
texto. Sempre tenha em mente que suas conclusões podem mudar enquanto você aprender mais das
Escrituras e de outros que ensinam a Bíblia.

10. DOIS NÍVEIS DE AUTORIDADE


“Voltado para o teu santo templo eu me prostrarei e renderei graças ao teu nome, por
causa do teu amor e da tua fidelidade; pois exaltaste acima de todas as coisas o teu
nome e a tua palavra” (Salmos 138.2).

Por que há tanta confusão entre os pregadores e suas igrejas? Um diz uma coisa, outro diz
outra…
Para que possamos interpretar e aplicar bem a Palavra de Deus. Nós precisamos distinguir seus
mandamentos das tradições humanas. Temos que diferenciar entre dois níveis de autoridade nas
igrejas:
1° Nível de Autoridade: os Mandamentos de Cristo (Mateus 28.18-20).
2° Nível de Autoridade: Os costumes humanos – coisas que não são mencionadas ou ordenadas
na Bíblia.
Os mandamentos de Deus são tão evidentes que podemos encontrá-los claramente no Novo
Testamento. Não é uma questão de interpretação humana. Estes mandamentos são universais; são
para todos os crentes em todas as igrejas de todas as épocas.
Qual é a diferença na autoridade dos dois níveis? Simplesmente dito, um mandamento de Deus
tem mais autoridade do que uma tradição humana.

OS MANDAMENTOS
Um mandamento da Palavra de Deus é ordenado por Deus (não pelos homens). Assim,
devemos cumpri-los por amor e não com uma atitude legalista. Cumprir os mandamentos por

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obrigação é legalismo. A obediência tem que se por amor espontâneo ou então não é válida (João
14.15).
Os apóstolos escreveram outros mandamentos. Lemos sobre eles nas epístolas (a partir do livro
de Romanos). Eles são para as igrejas já organizadas. Estes possuem a mesma autoridade que as
coisas ordenadas por Jesus Cristo, pois os apóstolos receberam sua autoridade diretamente de
Cristo (João 15.26-27).

AS TRADIÇÕES HUMANAS
Não podemos obrigar que as pessoas sigam os costumes humanos. Podemos proibi-los quando
impedem a obediência aos mandamentos (Mateus 15.1-19).
As tradições possuem certa autoridade. Quando uma congregação decide voluntariamente fazer
uma coisa, Deus a reconhecer (Mateus 18.18-20). Por exemplo, os irmãos podem decidir
voluntariamente que vão se reunir cada domingo às 9 horas para a Ceia do Senhor. Reunir-se às 9
horas é um costume ou tradição que todos os membros daquela igreja devem obedecer.
Esta autoridade de uma tradição ou costume depende da vontade dos irmãos de um local. Não é
lícito impor os costumes de um local a outras igrejas. Devemos julgar nossos próprios costumes e
tradições para ver se ajudam ou impedem a obediência.
Somos responsáveis por investigar os costumes de nossa própria igreja. Não devemos criticar os
costumes das igrejas em outro campo; tampouco elas devem julgar as nossas. Cada igreja é
responsável diante de Deus para desenvolver suas próprias regras em seu próprio campo de
responsabilidade.

BONS E MAUS COSTUMES


Quais são os bons costumes e os maus costumes? Nós podemos dizer, figuradamente, que há
dois tipos de pecado: pecados vermelhos e pecados brancos. Quando cometemos um pecado
vermelho, uma luz vermelha se acende em nossa consciência e diz: Pare! Pare! Pare! Nós sabemos
que estamos pecados. Porém, nós cometemos um pecado Branco sem saber que é pecado.
Seguimos um costume humano que impede a obra de Cristo. Porém, pensamos que estamos
servindo a Deus!
Muitas igrejas possuem costumes que impedem e desanimam aos novos irmãos. Mas não
pensemos que somente as outras igrejas têm costumes. Quase toda a luta do Senhor Jesus nesta
terra foi contra tais costumes humanos. Os apóstolos também lutaram continuamente contra as
tradições humanas que impediam a obediência sincera a Cristo e ao Seu Evangelho.
Distinguir entre os mandamentos divinos e as tradições humanas resolve muitos problemas na
obra de Deus. Resolve discussões entre diferentes igrejas e obreiros. Ajuda-nos a obedecer a
Grande Comissão de Cristo simples e diretamente em nosso próprio campo de responsabilidade.
Qualquer coisa que impeça a obra deve ser examinada assim: a qual dos dois níveis de autoridade
pertence? Assim averiguamos se podemos ordená-lo ou proibi-lo.
Os mandamentos são obrigados e nunca devem ser proibidos. Os costumes das igrejas não são
obrigados e devemos proibi-los sempre que impeçam a obediência à Cristo e Sua Palavra.

COMO SABER QUE UM MANDAMENTO É UNIVERSAL


Como averiguamos se uma regra é um mandamento universal para toda a igreja? Há coisas que
são ordenadas no Novo Testamento que não são mandamentos para nós. Por exemplo, Paulo
ordenou a Timóteo que trouxesse sua capa (2 Timóteo 4.13). É óbvio que foi uma ordem
específica para Timóteo naquela ocasião. Assim, não são mandamentos universais as coisas cujo
cumprimento depende de circunstâncias temporais e/ou locais.
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Estas coisas tinham valor para o povo que as entendia e podiam cumpri-las. Por exemplo: Jesus
Cristo lavou os pés dos discípulos e lhes ordenou fazer o mesmo. O contexto da passagem (João
13) revela que Cristo lhes ensinava o serviço humilde. Era o costume naquele tempo que os servos
mais humildes lavassem os pés do hóspede viajante. Poucas igrejas crêem que Jesus Cristo estava
instituindo um ritual de lavar os pés. Porém, todos nós cremos que Ele nos deu um mandamento
para servirmos com humildade.
Outra coisa cujo entendimento dependia dos costumes da sociedade na época é a questão da
cobertura da mulher (1 Coríntios 11.2-16). Isso era feito para ter um sinal de autoridade sobre a sua
cabeça por causa dos anjos (1 Coríntios 11.10). Pouco se entende hoje acerca do significado disso.
Porém, os coríntios certamente o entenderam. Havia costumes e crenças que deram significado e
validez a este costume. Hoje em dia muitas igrejas não obrigam suas mulheres a cobrir-se (usar um
véu) nos cultos. Porém, todas as igrejas reconhecem o mandamento que ordena às mulheres a se
submeterem aos seus maridos e que não dominem igrejas (1 Coríntios 11.3; 1 Timóteo 2.12). Isso
é importante. Cobrir a cabeça naquele tempo mostrava a sujeição da mulher. Se uma mulher se
cobre, porém, sem submeter-se aos seus maridos, isso de nada serve.
Para averiguar estas coisas, devemos fazer um estudo indutivo de uma passagem da Bíblia,
como ensina o Curso O Ministério da Palavra I. A palavra „indução‟ significa „um modo de
raciocinar que consiste em tirar de fatos particulares uma conclusão geral‟. As investigações
científicas requerem a observação de experimentos para chegar às suas conclusões. O cientista não
começa com opiniões, mas sim com observações.
O estudo indutivo da Bíblia é o estudo científico da Palavra de Deus. O estudante esquece as
suas próprias opiniões para investigar os fatos na Palavra de Deus. Estuda uma passagem
observando todos os detalhes. Estes detalhes, quando bem meditados, esclarecem o significado da
passagem.
Observando os detalhes de uma passagem nós podemos encontrar o seu sentido. E isso afetará o
nosso ministério de pregação, pois não devemos pregar mensagens baseadas em nossas opiniões;
devemos deixar que as palavras de uma passagem bíblica falem por si mesmas.
Para interpretar bem uma passagem da Bíblia, devemos investigar várias coisas como já foi
aprendido. Portanto, ao interpretar uma passagem bíblica, faça a si mesmo algumas perguntas:
1. A quem o texto foi escrito?
2. Por quem foi falado?
3. Para qual Testamento foi ordenado?
4. Como qual motivo ou em qual ocasião foi escrito?
5. Qual é o sentido de seu contexto? (O que está escrito antes e depois).
6. Qual é o nível de autoridade?
7. Quais são os outros textos que tratam do mesmo assunto?
Para investigar o tema de uma passagem, medite nos detalhes até ver a relação de um com o
outro. Qual é a razão que une todos os detalhes? Qual é a linha que corre por toda a passagem?
Em resumo, se você não compreende uma passagem, não pregue a respeito dela. Deixemos as
passagens mais difíceis para quando tivermos mais luz; não ensinemos opiniões. Se uma tradição
está impedindo a obediência à Palavra de Deus, ela deve ser mudada ou abandonada.

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