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NOTA INTRODUTÓRIA
Atendendo aos fins da intervenção penal podemos agrupar as penas em principais,
acessórias e de substituição. As primeiras estão expressamente previstas para sancionar os
vários tipos de crimes, sendo fixadas em sentença, independentemente de outras.
As penas acessórias não resultam de uma aplicação ope legis, mas de uma decisão ponderada
do juiz, atendendo a vários fatores como as circunstâncias concretas da infração, a
personalidade do agente e os interesses públicos a preservar com a sua aplicação, pressupondo
sempre a fixação na sentença condenatória de uma pena principal ou de substituição.
Quanto às penas principais aplicam-se tanto às pessoas singulares como às coletivas e
englobam penas de prisão e multa, no primeiro caso (art. 131 e ss.) e de multa e dissolução, no
segundo (art.s 90-A, n. 1, 90-B e 90-F).
A aplicação da pena de prisão, «servindo a defesa da sociedade e prevenindo a prática de
crimes, deve orientar-se, [como vimos], no sentido da reintegração social do recluso, preparando-
o para conduzir a sua vida de modo socialmente responsável, sem cometer crimes» (art. 42, n.
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Em contrapartida a pena de multa, pena pecuniária paga ao Estado, não implica a quebra de
laços do condenado com o meio social envolvente e afasta o efeito estigmatizante da pena de
prisão. A sua execução revela-se mais elástica, pois permite o pagamento diferido ou em
prestações (art. 47, n. 3) e, ao mesmo tempo, reduz os custos administrativos e financeiros do
sistema de justiça penal, possibilitando o financiamento de outras áreas, através da afetação do
produto das multas, contribuindo, assim, para uma maior eficiência do sistema. Além disso,
como, correlativamente, a uma maior aplicação de penas de multa corresponde uma diminuição
de prisões, existe a possibilidade de melhorar as condições do sistema penitenciário e, por
consequência, melhorar as condições de trabalho com o condenado, visando a sua
ressocialização.
Não obstante, esta pena apresenta alguns inconvenientes, como o impacto desigual em
pobres e ricos e a eventual recidiva para compensar a perda pecuniária que ela acarreta. A
superação destes problemas passa pela determinação adequada e concreta da multa, atenta a
situação económico-financeira do condenado.
Quanto às penas de prisão e atendendo ao caráter humanista do ordenamento jurídico
português, verifica-se que tem sido objeto de particular atenção por parte do legislador que,
reconhecendo que a atribuição de uma pena traduz um «conteúdo de reprovação ética», não
olvida «as finalidades de prevenção geral e especial, nem muito menos, (...) [a] recuperação do
delinquente».
Estes pressupostos, associados, por um lado, aos “efeitos criminógenos (…) pacificamente
reconhecidos” das penas curtas de prisão, por outro, à necessidade de “concentrar esforços no
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combate à grande criminalidade” conduziram ao alargamento do campo de aplicação das penas
de substituição.
Contudo, a aplicação destas medidas tem de obedecer ao critério geral orientador da escolha
das penas, previsto no art. 70, o qual prescreve que «se ao crime forem aplicáveis, em alternativa
pena privativa e pena não privativa da liberdade, o tribunal dá preferência à segunda sempre que
esta realizar de forma adequada e suficiente as finalidades de punição», ou seja a proteção dos
bens jurídicos e a reintegração do agente na sociedade referidos no art. 40.
A consecução desta finalidade implica, quer o envolvimento do delinquente, cuja “verdadeira
participação, real, dialogante e efetiva (…) só se consegue, fazendo apelo à sua autonomia,
liberdade e responsabilidade”, quer a adoção de medidas não institucionais, quer mesmo a
intervenção ativa das instâncias auxiliares da execução das penas privativas e não privativas de
liberdade: estabelecimentos prisionais, serviços de reinserção social, etc.
Pese embora a pena de substituição seja hoje um instrumento jurídico usual, a sua aplicação
não foi isenta de dificuldade, como a que se prende com a jurisprudência contra legem que, na
passada década de 80, a fazia depender da culpa, tendo sido necessário um acórdão do STJ,
de 21 de Março de 1990, para repor a sua aplicação de acordo com a intenção do legislador: a
aplicação da pena de substituição depende, não da culpa, mas das razões de prevenção geral,
sob a forma de satisfação do jurídico da comunidade e das razões de prevenção especial de
ressocialização.
Há, portanto, um critério geral, radicado nas razões históricas, que deve estar sempre na
mente do juiz: «são finalidades exclusivamente preventivas, de prevenção especial e de
prevenção geral, não finalidades de compensação de culpa que justificam (e impõem) a
preferência por uma pena alternativa ou por uma pena de substituição e a sua efetiva aplicação».
PENAS DE SUBSTITUIÇÃO
As penas de substituição, aplicadas e executadas em vez de uma pena principal de prisão,
denominador comum a todas elas, têm subjacente um conteúdo político-criminal próprio, com
«um regime em larga medida individualizado».
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No entanto, esta diversidade não impede o seu agrupamento de acordo, quer com as suas
características internas, quer com o critério geral da escolha ou de substituição da pena, visando
a harmonização dos critérios jurídicos que presidem à sua aplicação.
No entanto, quer a designação seja substituição em sentido próprio, quer na aplicação judicial,
esta categoria apresenta um traço comum: um caráter não institucional ou não detentivo, sendo
cumpridas em liberdade, pressupondo, por isso, a determinação prévia da pena de prisão, em
vez da qual são aplicadas, cumprindo as finalidades de prevenção geral e especial que a politica
criminal consagra na sua luta contra a pena curta de prisão.
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critérios de conversão entre as penas de prisão e de substituição, quer à previsão legal referente
ao incumprimento da pena de substituição e sua repercussão na prisão, suscita alguns receios
pela efetivação do princípio político-criminal da preferência por reações criminais não detentivas.
1ª Posição Jurisprudencial
Nos termos do art. 70º do CP, e na alternativa, como é o caso, de ao crime de condução sem
habilitação legal ser aplicável pena privativa ou não privativa da liberdade, o tribunal deve dar
preferência à segunda sempre que esta realizar de forma adequada e suficiente as finalidades
da punição, isto é, «a proteção de bens jurídicos e a reintegração do agente na sociedade» (art.
40º, nº 1 do CP).
PROFESSOR FIGUEIREDO DIAS, «culpa e prevenção são assim os dois termos do binómio
com auxilio do qual há de ser construído o modelo da medida da pena (em sentido estrito ou de
determinação concreta da pena».
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cidadãos, não se pondo, porém, em questão a especificidade da comarca a quo relativamente a
condutas.
PROFESSOR FIGUEIREDO DIAS – à pena privativa da liberdade, o tribunal deve preferir «uma
pena alternativa ou de substituição sempre que, verificados os respetivos pressupostos de
aplicação, a pena alternativa ou a de substituição se revelem adequadas e suficientes à
realização das finalidades da punição. O que vale por dizer que são finalidades exclusivamente
preventivas, de prevenção especial e de prevenção geral, não finalidades de compensação da
culpa, que justificam a preferência por uma pena alternativa ou por uma pena de substituição e
a sua efetiva aplicação».
Assim, na alternativa estabelecida pelo art. 3º, nº 2, do DL nº 2/98, sempre será, no caso,
de optar pela pena de prisão.
Em que termos?
Questão diversa, mas com aquela relacionada, é a opção pela execução de uma tal pena de
prisão ou, designadamente, pela suspensão da sua execução.
Esta última, define-a o PROFESSOR FIGUEIREDO DIAS, como «a mais importante das penas
de substituição», não apenas pela frequência com que é aplicada, mas também pelo lato âmbito
de aplicação que comporta.
Para a sua aplicação, a lei (art. 50º, do CP), define um requisito objetivo – condenação em
pena de prisão não superior a 3 anos – e estabelece pressupostos subjetivos, determinados por
finalidades político – criminais – os que permitam concluir pelo afastamento futuro do delinquente
da prática de novos crimes, através da sua capacidade de se reintegrar socialmente.
Trata-se neste caso de alcançar a socialização, prevenindo a reincidência.
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É neste âmbito que sempre que o julgador formular um juízo de prognose favorável à luz de
considerações de prevenção especial sobre a possibilidade de ressocialização do arguido,
deverá deixar de decretar a execução da pena.
Estão aqui em questão, não considerações sobre a culpa, mas prognósticos acerca das
exigências mínimas de prevenção.
Depois de se optar por uma pena detentiva, à luz das considerações e com os critérios legais
sobre-expostos, há que determinar se existe a esperança fundada de que a socialização em
liberdade pode ser alcançada.
E aqui a partir de razões fundadas e sérias que levem a acreditar na capacidade do
delinquente para a auto-prevenção do cometimento de novos crimes, deve negar-se a
suspensão sempre que, fundadamente seja de duvidar dessa capacidade.
Nos termos prevenidos no art. 50º do CP, a averiguação de tal capacidade deve ser feita em
concreto, através da análise da personalidade do arguido, das suas condições de vida, da
conduta que manteve antes e depois do facto e das circunstâncias em que o praticou.
Se, dessa análise, resultar que é possível esperar que a ameaça da pena de prisão e a censura
do facto são idóneos a permitir a formulação do referido juízo de confiança na capacidade do
arguido para não cometer novos crimes, deverá ser decretada a suspensão da execução da
pena.
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os três meses de prisão, medida que foi estabelecida, com adequado sentido da proporção, pelo
Tribunal recorrido.
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Por outro ado, o arguido tem vindo a ser condenado, sucessivamente, pela prática do mesmo
tipo de crime, em penas que têm vindo a endurecer, progressivamente,
Revelando uma personalidade insensível não só ao bem jurídico violado, como ainda às
sucessivas penas que lhe têm sido aplicadas.
Assim atentos os critérios referidos e a progressividade das sucessivas penas aplicadas têm-
se por ajustada a pena de 12 meses de prisão.
Finalidades da punição que são as estabelecidas no art.º 40.º, n.º 1, do Código Penal: a proteção
de bens jurídicos e a reintegração do agente na sociedade.
Ora é evidente que, no caso dos autos e sendo o arguido delinquente primário, a pena de
multa chega para alcançar as finalidades da punição – mantendo-se assim a coerência com as
demais penas que lhe foram fixadas na 1.ª Instância. Coerência que também será mantida, sem
necessidade de outros considerandos, no tocante ao montante diário da multa (neste caso e
desde logo, por nenhum dos sujeitos processuais dele ter recorrido).
Pelo que, tudo visto e ponderado, se tem por justa e adequada a fixação da pena concreta
ao arguido pela prática do aludido crime de condução sem habilitação legal, p. e p. pelo art.º 3.º,
n.º 1, do Decreto-Lei n.º 3/98, de 3-1, em 70 (setenta) dias de multa à razão diária de 5 (cinco)
€.
1. Regra da substituição
Esta pena de substituição, regulada pelo art. 43, n.1 e 2, que se aplica a pena de prisão
não superior a um ano, não se confunde com a pena principal de multa a que alude o art.
47, no sentido de pena prevista em cada um dos tipos de crime que a comina em
alternativa à pena de prisão.
A não aplicação desta pena de multa só pode ser justificada com o sentimento da comunidade
de reprovação social do crime, ou então, «se a execução da prisão for exigida pela necessidade
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de prevenir o cometimento de futuros crimes». Daqui se infere que o critério da substituição por
multa é o critério geral estabelecido no art. 70º.
Este critério geral, valendo tanto para a escolha entre uma pena de prisão e uma pena de
multa principal alternativa, como ainda para a aplicação de uma multa em substituição de uma
pena de prisão, impõe-se como um poder-dever para o tribunal na ponderação a fazer, com a
inerente obrigação de fundamentar em ambos os momentos a não aplicação da pena não
privativa da liberdade, mesmo afigurando-se distintos os critérios que determinam a aplicação
de uma pena de multa principal e alternativa à pena de prisão - conveniência ou maior adequação
- e uma pena de substituição da pena de prisão - necessidade.
E dominando estes pressupostos, não parece contraditório que, no âmbito da pequena e
média criminalidade, sendo os crimes punidos com pena de prisão ou, em alternativa, com pena
de multa, o tribunal, escolha a primeira em detrimento da segunda e, efetuada essa escolha e
estipulada, com base na culpa, a sua duração não superior a um ano, acabe por substitui-la pela
pena de multa substitutiva, aqui já recorrendo a critérios de prevenção geral e especial.
2ª Posição Jurisprudencial
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deveres. Aliás sofreu duas condenações transitadas em julgado pouco mais de um mês antes
da prática do crime dos autos.
Todas as referidas penas se revelaram insuficientes para prevenir a prática de novos crimes,
da mesma natureza, pelo arguido. Demonstrando a prática do crime dos autos que nem a
suspensão da prisão constituiu advertência suficiente para prevenir a comissão deste novo
crime.
Não se justificando, assim, aplicar nem substituição por prestação de trabalho nem a
suspensão, por já aplicadas e porque a sua ineficácia preventiva, para o arguido, se mostra
comprovada pela prática do presente crime.
Consentimento que, sendo aplicada pena não superior a 12 meses, devia ter sido indagado.
Daí que a pretensão formulada no recurso seja tida como evidenciadora desse consentimento.
Importa assim averiguar a aplicabilidade de um regime de cumprimento que, fazendo sentir o
efeito da prisão, permita ao arguido o exercício de uma atividade, o único fundamento
identificável invocado pelo recorrente como suporte da sua pretensão.
Ora esse fundamento afasta, desde logo, a aplicação ao caso da permanência em habitação,
por incompatível com o mesmo. Aliás, verdadeiramente, nem o recorrente pretende a sua
aplicação.
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preferência por uma pena alternativa ou por uma pena de substituição e a sua aplicação” – cfr.
Figueiredo Dias, Consequências, § 497.
“A prevenção geral deve aqui surgir unicamente sob a forma do conteúdo mínimo de
prevenção de integração indispensável à defesa do ordenamento jurídico, como limite à atuação
das exigências de prevenção especial de socialização. Quer dizer: desde que impostas ou
aconselhadas à luz das exigências de socialização, a pena alternativa ou de substituição só não
serão aplicadas se a execução da pena de prisão se mostrar indispensável para que não sejam
postas irremediavelmente em causa a necessária tutela dos bens jurídicos e estabilização contra
fáctica das expectativas comunitárias” – cfr. Figueiredo Dias, cit., § 501 e Anabela Rodrigues,
Critérios de Escolha de Penas de Substituição no Código Penal BFDUC, 1988, p. 30.
A aplicação de sucessivas penas pela prática do mesmo tipo de crime, não surtiu o efeito
preventivo espacial desejado.
Acresce que tal regime, além da socialização, é compatível com o exercício de uma atividade
que o recorrente diz pretender desenvolver.
Constituindo assim um regime educativo e prospetivo que salvaguarda todos os interesses
em conflito.
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Acresce que tal regime não inviabiliza, por efeito necessário ou automático, o efeito da ultima
pena aplicada ao arguido - suspensão condicionada da prisão.
É correta a opção pela de prisão, no âmbito do art. 70º do CP, no caso de arguido que
cometeu 4 crimes de condução sem habilitação legal depois de haver sofrido 4
condenações por esse mesmo tipo de crime, duas em pena de multa e duas em pena de
prisão suspensa na sua execução.
Sendo aplicada a pena única de 1 ano de prisão ao concurso desses crimes, deve essa
pena ser substituída por regime de permanência na habitação.
Tendo presente o caso dos autos e os critérios apontados no art. 44º, nº 1-a) do CP na versão
atual, determina-se que a pena única de 1 (um) ano de prisão seja cumprida em regime de
permanência na habitação (por regime ser, neste caso, o adequado e preferível dentro do leque
das penas de “substituição” detentivas disponíveis, sendo essa pena “ainda comunitariamente
suportável à luz da necessidade de tutela de bens jurídicos e da estabilização das expetativas
comunitárias na validade da norma violada”).
A prisão deve ser reservada aos crimes mais graves e a situações em que já não é possível, por
outros meios, dissuadir o agente da prática de novos crimes.
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Ac. TRL de 05-05-2004 – Tribunal da Relação (recurso)
- 2 condenações no ano 2002 pela prática de crimes de condução de veículos sem habilitação
legal, não sendo inteiramente correta, porquanto uma das condenações a que se alude foi já
proferida em 22.5.2003;
- condenado em 1998 em pena de multa pela prática de um outro crime de condução ilegal de
veiculo a moto por falta de habilitação.
Pede que seja imposta, em substituição da pena de prisão decretada na 1ª instância, a pena de
prestação de trabalho a favor da comunidade.
Trata-se de um jovem com 25 anos de idade, que exerce uma profissão e cujo percurso de
delinquência está confinado a ilícitos cometidos na condução de automóveis, que demandam a
efetiva ponderação da utilização de medidas penais que não passem (ainda) pela prisão.
Esta ponderação não deverá confundir-se com qualquer aligeiramento da gravidade dos ilícitos
cometidos no exercício da condução, tao importantes e patentes so as razoes de política criminal
que determinaram a criminalização da condução sem habilitação legal.
Trata-se realmente de procurar responder ao mal cometido com uma proposta positiva que
tem aptidão para ser aceite pelo condenado como sanção condicionada ao desempenho cabal
da prestação de trabalho e, ao que se crê e é voz corrente, goza ainda de boa aceitação social.
E da vantagem para o condenado e para a sociedade em geral que, com grande probabilidade,
resultará de não ingressar no meio prisional, fala também a voz corrente informada pela dolorosa
realidade transmitida pelas avaliações do desempenho das prisões efetuadas por diversos e
recentes estudos.
É assim que, com plena consciência de que não se trata de situação nitidamente impositiva
da substituição pretendida, atento o percurso delitivo do recorrente, se entende que corresponde
satisfatoriamente ainda às finalidades retributivas e ressocializadoras da punição, a prestação
de trabalho a favor da comunidade.
Atento o circunstancialismo agravativo que no caso ocorre, entende-se que a medida punitiva
deverá fixar-se um pouco para além do ponto médio da moldura sancionatória contida no art.
58º, nº 3 do CP, porquanto se não crê que tenha que existir uma exata correspondência entre a
medida da pena substituída e a da pena efetivamente aplicada, uma vez que se trata de sanções
de natureza muito diversa.
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Critério de conversão entre a prisão e a multa
O CP de 1982 oferecia um critério «automático» de conversão dos dias de prisão no número
de dias de multa correspondente para as penas de prisão não superiores a seis meses.
No entanto, a aplicação deste critério constituía na interpretação do Prof. Figueiredo Dias um
erro, sob o ponto de vista político-criminal, que entrava em contradição com a regra geral do art.
46 do referido código que, além disso, previa 300 dias como limite da pena de multa.
Interpretava o Prof. Figueiredo Dias a mencionada correspondência como sendo, não
aritmética, mas normativa, advogando que, nos casos em que o tipo legal cominasse multa em
alternativa, o tribunal deveria ater-se a essa moldura; caso não a cominasse deveria remeter-se
ao limite geral da multa constante do art. 46 do CP/82 (atual art. 47).
Aquando da revisão de 1995 a palavra “correspondente” foi suprimida, deixando- -se de fazer
expressa menção ao número de dias de multa correspondente, tendo a respetiva Comissão de
Revisão discutido, em 30 de Janeiro de 1989, relativamente à determinação da multa de
substituição, a hipótese de incluir um número no normativo que expressamente remetesse para
os critérios fixados nos art. 46 e 47, então previstos, de forma a explicitar a opção de abandonar
o critério da correspondência.
Apesar da Comissão de Revisão ter regressado, posteriormente, à ideia de correspondência
automática entre os dias de prisão e de multa, atenta a «tradição e por isso mais convidativa à
substituição», tendo, inclusive, aprovado uma nova redação, consagrando expressamente a
substituição da prisão por «igual número de dias de multa», tal não veio a constar do CP de 1995.
A este propósito a revisão de 2007, que alargou o âmbito temporal da sua aplicação para
pena de prisão até um ano, nada refere quanto ao critério de conversão, embora o anterior critério
de correspondência - um dia de prisão/um dia multa -, pudesse aqui funcionar, quase na
plenitude, atendendo aos 360 dias de limite máximo da pena.
Pese embora, haja defensores do critério de substituição de dias de prisão por igual dias de
multa, e grande parte da jurisprudência de primeira instância se socorra deste critério, confirmado
até pelas instâncias superiores, a sua não previsão no texto legal de 2007 e a remissão para o
art. 47, sem limitação aos números aplicáveis, justificam, em nosso entender, a conclusão que o
legislador entendeu que a substituição deveria operar-se no quadro dos limites constantes do
art. 47 e a partir dos critérios estabelecidos no seu art. 71, ou seja, de uma forma autónoma, sem
equivalência entre os dias de penas de prisão e de multa.
Se a fixação do montante de dias da pena de multa de substituição suscita controvérsia, o
mesmo se verifica relativamente aos efeitos do seu não pagamento.
Não existe, no nosso entendimento, uma hierarquia legal das penas de substituição
não detentivas, o que permite ao julgador aplicar, entre a diversidade dessas penas não
superiores a 5 anos, aquela que mais se ajustar às finalidades preventivas do condenado.
Não se trata, pois de um critério abstrato e geral, mas de encontrar, entre as várias
possibilidades, aquela que melhor satisfaz as finalidades de prevenção geral e especial da
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pessoa em concreto que se está a julgar. Consequentemente, a diferenciação do regime,
especialmente no que concerne à repercussão do cumprimento parcial da pena de substituição
no tempo de prisão, não deveria existir, pois nada justifica que o critério de opção por uma dessas
penas seja o mesmo - o que melhor satisfaça as finalidades de prevenção especial de
socialização - mas já os regimes apresentem diferenças entre si.
Neste sentido:
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