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APRESENTAÇÃO DO TEMA

Crime de condução sem habilitação legal: o critério de determinação da medida de substituição


da pena de prisão

NOTA INTRODUTÓRIA
Atendendo aos fins da intervenção penal podemos agrupar as penas em principais,
acessórias e de substituição. As primeiras estão expressamente previstas para sancionar os
vários tipos de crimes, sendo fixadas em sentença, independentemente de outras.
As penas acessórias não resultam de uma aplicação ope legis, mas de uma decisão ponderada
do juiz, atendendo a vários fatores como as circunstâncias concretas da infração, a
personalidade do agente e os interesses públicos a preservar com a sua aplicação, pressupondo
sempre a fixação na sentença condenatória de uma pena principal ou de substituição.
Quanto às penas principais aplicam-se tanto às pessoas singulares como às coletivas e
englobam penas de prisão e multa, no primeiro caso (art. 131 e ss.) e de multa e dissolução, no
segundo (art.s 90-A, n. 1, 90-B e 90-F).
A aplicação da pena de prisão, «servindo a defesa da sociedade e prevenindo a prática de
crimes, deve orientar-se, [como vimos], no sentido da reintegração social do recluso, preparando-
o para conduzir a sua vida de modo socialmente responsável, sem cometer crimes» (art. 42, n.
1).
Em contrapartida a pena de multa, pena pecuniária paga ao Estado, não implica a quebra de
laços do condenado com o meio social envolvente e afasta o efeito estigmatizante da pena de
prisão. A sua execução revela-se mais elástica, pois permite o pagamento diferido ou em
prestações (art. 47, n. 3) e, ao mesmo tempo, reduz os custos administrativos e financeiros do
sistema de justiça penal, possibilitando o financiamento de outras áreas, através da afetação do
produto das multas, contribuindo, assim, para uma maior eficiência do sistema. Além disso,
como, correlativamente, a uma maior aplicação de penas de multa corresponde uma diminuição
de prisões, existe a possibilidade de melhorar as condições do sistema penitenciário e, por
consequência, melhorar as condições de trabalho com o condenado, visando a sua
ressocialização.
Não obstante, esta pena apresenta alguns inconvenientes, como o impacto desigual em
pobres e ricos e a eventual recidiva para compensar a perda pecuniária que ela acarreta. A
superação destes problemas passa pela determinação adequada e concreta da multa, atenta a
situação económico-financeira do condenado.
Quanto às penas de prisão e atendendo ao caráter humanista do ordenamento jurídico
português, verifica-se que tem sido objeto de particular atenção por parte do legislador que,
reconhecendo que a atribuição de uma pena traduz um «conteúdo de reprovação ética», não
olvida «as finalidades de prevenção geral e especial, nem muito menos, (...) [a] recuperação do
delinquente».
Estes pressupostos, associados, por um lado, aos “efeitos criminógenos (…) pacificamente
reconhecidos” das penas curtas de prisão, por outro, à necessidade de “concentrar esforços no

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combate à grande criminalidade” conduziram ao alargamento do campo de aplicação das penas
de substituição.
Contudo, a aplicação destas medidas tem de obedecer ao critério geral orientador da escolha
das penas, previsto no art. 70, o qual prescreve que «se ao crime forem aplicáveis, em alternativa
pena privativa e pena não privativa da liberdade, o tribunal dá preferência à segunda sempre que
esta realizar de forma adequada e suficiente as finalidades de punição», ou seja a proteção dos
bens jurídicos e a reintegração do agente na sociedade referidos no art. 40.
A consecução desta finalidade implica, quer o envolvimento do delinquente, cuja “verdadeira
participação, real, dialogante e efetiva (…) só se consegue, fazendo apelo à sua autonomia,
liberdade e responsabilidade”, quer a adoção de medidas não institucionais, quer mesmo a
intervenção ativa das instâncias auxiliares da execução das penas privativas e não privativas de
liberdade: estabelecimentos prisionais, serviços de reinserção social, etc.

Pese embora a pena de substituição seja hoje um instrumento jurídico usual, a sua aplicação
não foi isenta de dificuldade, como a que se prende com a jurisprudência contra legem que, na
passada década de 80, a fazia depender da culpa, tendo sido necessário um acórdão do STJ,
de 21 de Março de 1990, para repor a sua aplicação de acordo com a intenção do legislador: a
aplicação da pena de substituição depende, não da culpa, mas das razões de prevenção geral,
sob a forma de satisfação do jurídico da comunidade e das razões de prevenção especial de
ressocialização.

É, aliás, este o entendimento presente no atual CP ao utilizar a expressão de “satisfação das


finalidades de punição”, que perpassa o capítulo II do título III do CP, plasmadas que estão essas
finalidades no art. 40 e em vários preceitos legais (v.g. art.s 43, n. 3, 44, 45, 50, 58).

Há, portanto, um critério geral, radicado nas razões históricas, que deve estar sempre na
mente do juiz: «são finalidades exclusivamente preventivas, de prevenção especial e de
prevenção geral, não finalidades de compensação de culpa que justificam (e impõem) a
preferência por uma pena alternativa ou por uma pena de substituição e a sua efetiva aplicação».

Em suma: enquanto a aplicação e a escolha de uma determinada pena de substituição


dependem de finalidades de prevenção, a culpa releva para a determinação da pena e na
medida da pena alternativa ou de substituição, se a lei não estabelecer um critério de
correspondência entre penas de prisão e de substituição.

PENAS DE SUBSTITUIÇÃO
As penas de substituição, aplicadas e executadas em vez de uma pena principal de prisão,
denominador comum a todas elas, têm subjacente um conteúdo político-criminal próprio, com
«um regime em larga medida individualizado».

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No entanto, esta diversidade não impede o seu agrupamento de acordo, quer com as suas
características internas, quer com o critério geral da escolha ou de substituição da pena, visando
a harmonização dos critérios jurídicos que presidem à sua aplicação.

Assim, a mais usual é a categorização em penas de substituição em sentido próprio (não


detentivas) e em sentido impróprio (detentivas). As primeiras agregam as penas de multa
substitutiva da pena de prisão (art.s 43 do CP, 489 e 490 do CPP), de suspensão da execução
da pena de prisão nas diversas modalidades (art. 50 a 57 do CP e 492 a 495 do CPP), de trabalho
a favor da comunidade (art. 58 do CP) e de proibição do exercício de profissão, função e
atividade, pública ou privada (art. 43, n. 3 do CP), que o Prof. Germano Marques da Silva integra
na categoria que denomina de aplicação judicial29. Quanto às segundas, abarcam o regime de
permanência na habitação (art.s 44, n. 1, al. a) do CP, art. 487 do CPP e Lei 33/2010, de 2 de
Setembro); a prisão por dias livres (art.s 45 do CP, 487 do CPP e 125 do CE) e o regime de
semidetenção (art.s 46 do CP, 487 do CPP e 125 do CE). Também neste caso a designação
atribuída pelo Prof. Germano Marques da Silva é diferente: na execução da pena de prisão.

No entanto, quer a designação seja substituição em sentido próprio, quer na aplicação judicial,
esta categoria apresenta um traço comum: um caráter não institucional ou não detentivo, sendo
cumpridas em liberdade, pressupondo, por isso, a determinação prévia da pena de prisão, em
vez da qual são aplicadas, cumprindo as finalidades de prevenção geral e especial que a politica
criminal consagra na sua luta contra a pena curta de prisão.

Em relação às penas de substituição detentivas ou penas de substituição na execução da


pena de prisão, no parecer do Prof. Germano Marques da Silva, que apenas pressupõem a
aplicação prévia de uma pena de prisão, levanta-se a questão de se saber se ainda mantêm a
natureza de verdadeiras penas de substituição ou se, antes pelo contrário, traduzem uma forma
de execução da pena de prisão ou modificação da pena na sua execução. Consideramos, tal
como a maioria da doutrina, que esta conceção, nem é correta em termos político-criminais, nem
adequada ao ordenamento jurídico-positivo português, que no CP só prevê a sua aplicação e
determinação ao tempo da condenação e não em momento posterior.
A estas penas acresce ainda uma outra categoria de substituição, não da de prisão, mas da
pena de multa - a admoestação (art. 60).

Este elenco abrangente de penas de substituição é o resultado da vontade do legislador que


tem vindo progressivamente a alargar o âmbito da sua aplicação, como ocorreu na Revisão de
1995 e sobretudo, em 2007 (art.s 43, n. 1, 45, 46, 50, 59 e 60), e a introduzir novas penas (art.
43, n. 3, e 44, n. 1, al. a)).

No entanto, o facto de as alterações se traduzirem em regimes visivelmente diferenciados


para as várias penas de substituição no que concerne, quer à sua estrutura e conteúdo, quer aos

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critérios de conversão entre as penas de prisão e de substituição, quer à previsão legal referente
ao incumprimento da pena de substituição e sua repercussão na prisão, suscita alguns receios
pela efetivação do princípio político-criminal da preferência por reações criminais não detentivas.

1ª Posição Jurisprudencial
Nos termos do art. 70º do CP, e na alternativa, como é o caso, de ao crime de condução sem
habilitação legal ser aplicável pena privativa ou não privativa da liberdade, o tribunal deve dar
preferência à segunda sempre que esta realizar de forma adequada e suficiente as finalidades
da punição, isto é, «a proteção de bens jurídicos e a reintegração do agente na sociedade» (art.
40º, nº 1 do CP).

PROFESSORA FERNANDA PALMA - «A proteção de bens jurídicos implica a utilização da


pena para dissuadir a prática de crimes pelos cidadãos (prevenção geral negativa), incentivar a
convicção de que as normas penais são válidas e eficazes e aprofundar a consciência dos
valores jurídicos por parte dos cidadãos (prevenção geral positiva).
A proteção de bens jurídicos significa ainda prevenção especial como dissuasão do próprio
delinquente potencial. Por outro lado, a reintegração o agente significa a prevenção especial na
escolha da pena ou na execução da pena.
E a retribuição não é exigida necessariamente pela proteção de bens jurídicos. A pena como
censura da vontade ou da decisão contrária ao direito pode ser desnecessária, segundo critérios
preventivos especiais, ou ineficazes para a realização da prevenção geral».
Depois é em vista do disposto no art. 71º do CP que há de fazer-se a pertinente ponderação.
A determinação da medida da pena, dentro dos limites definidos na lei é feita em função da culpa
do agente e das exigências de prevenção, devendo levar-se em conta que, nos termos
prevenidos no art. 40º, do mesmo Código, a pena não pode em caso algum ultrapassar a medida
da culpa.

PROFESSOR FIGUEIREDO DIAS, «culpa e prevenção são assim os dois termos do binómio
com auxilio do qual há de ser construído o modelo da medida da pena (em sentido estrito ou de
determinação concreta da pena».

A escolha da pena terá assim de ser perspetivada em função da adequação, proporção


e potencialidade para atingir os objetivos estipulados no referido art. 40º do CP.
É que, embora a pena privativa da liberdade possa corresponder a uma expectativa geral da
sociedade, como meio de retribuir o mal causado à comunidade, o sistema legal não pode
esquecer que a este anseio coletivo tem sempre de sobrepor a necessidade de ressocializar o
infrator.
Assumem particular relevo as necessidades de prevenção geral, ainda que não possa
reconhecer-se o nexo causal da condução indocumentada com a ponderosa sinistralidade
rodoviária e consequentes lesões da vida, da integridade física e do património em muitos

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cidadãos, não se pondo, porém, em questão a especificidade da comarca a quo relativamente a
condutas.

Ainda assim, afigura-se que só especiais exigências de prevenção e de adequação à culpa


justificam o recurso a penas detentivas.

PROFESSOR FIGUEIREDO DIAS – à pena privativa da liberdade, o tribunal deve preferir «uma
pena alternativa ou de substituição sempre que, verificados os respetivos pressupostos de
aplicação, a pena alternativa ou a de substituição se revelem adequadas e suficientes à
realização das finalidades da punição. O que vale por dizer que são finalidades exclusivamente
preventivas, de prevenção especial e de prevenção geral, não finalidades de compensação da
culpa, que justificam a preferência por uma pena alternativa ou por uma pena de substituição e
a sua efetiva aplicação».

Regressando de novo ao caso, tem de se considerar que as anteriores condenações do


arguido, por idênticos crimes de condução de veículo sem habilitação legal, para tanto, fazem
perspetivar como incontornável a consideração de que a pena de multa, abstrata e
alternativamente aplicável não se mostra suficiente nem se afigura adequada a satisfazer as
exigências de prevenção geral, atentos os referidos índices elevados de sinistralidade rodoviária,
que uma condução impreparada não podem deixar de potenciar.
E não satisfazem também as necessidades de prevenção especial, ditadas pelos hábitos do
arguido que, de modo reiterado e contumaz, apesar das sucessivas condenações de que foi
alvo, não adota conduta coincidente com o respeito devido aos interesses tutelados pela lei.

Assim, na alternativa estabelecida pelo art. 3º, nº 2, do DL nº 2/98, sempre será, no caso,
de optar pela pena de prisão.
Em que termos?

Questão diversa, mas com aquela relacionada, é a opção pela execução de uma tal pena de
prisão ou, designadamente, pela suspensão da sua execução.
Esta última, define-a o PROFESSOR FIGUEIREDO DIAS, como «a mais importante das penas
de substituição», não apenas pela frequência com que é aplicada, mas também pelo lato âmbito
de aplicação que comporta.
Para a sua aplicação, a lei (art. 50º, do CP), define um requisito objetivo – condenação em
pena de prisão não superior a 3 anos – e estabelece pressupostos subjetivos, determinados por
finalidades político – criminais – os que permitam concluir pelo afastamento futuro do delinquente
da prática de novos crimes, através da sua capacidade de se reintegrar socialmente.
Trata-se neste caso de alcançar a socialização, prevenindo a reincidência.

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É neste âmbito que sempre que o julgador formular um juízo de prognose favorável à luz de
considerações de prevenção especial sobre a possibilidade de ressocialização do arguido,
deverá deixar de decretar a execução da pena.
Estão aqui em questão, não considerações sobre a culpa, mas prognósticos acerca das
exigências mínimas de prevenção.
Depois de se optar por uma pena detentiva, à luz das considerações e com os critérios legais
sobre-expostos, há que determinar se existe a esperança fundada de que a socialização em
liberdade pode ser alcançada.
E aqui a partir de razões fundadas e sérias que levem a acreditar na capacidade do
delinquente para a auto-prevenção do cometimento de novos crimes, deve negar-se a
suspensão sempre que, fundadamente seja de duvidar dessa capacidade.
Nos termos prevenidos no art. 50º do CP, a averiguação de tal capacidade deve ser feita em
concreto, através da análise da personalidade do arguido, das suas condições de vida, da
conduta que manteve antes e depois do facto e das circunstâncias em que o praticou.
Se, dessa análise, resultar que é possível esperar que a ameaça da pena de prisão e a censura
do facto são idóneos a permitir a formulação do referido juízo de confiança na capacidade do
arguido para não cometer novos crimes, deverá ser decretada a suspensão da execução da
pena.

Ainda que sobejamente conhecidas as desvantagens (mesmo em sede de socialização)


da pena de prisão, especialmente das penas curtas de prisão, nos casos de pequena e
mesmo média criminalidade, não pode quanto ao concreto arguido deixar de constatar-se
que estamos perante um caso em qua a simples censura do facto e a ameaça da pena não
realizam de forma adequada as finalidades da punição.

Ac. TRL de 01-10-2003


O arguido revela um quadro de antecedentes criminais:
 Maio de 2002 – multa pela prática de um crime de condução sem habilitação legal;
 Agosto de 2002 – crime de condução sem habilitação legal;
 Novembro de 2002 – crime de condução sem habilitação legal.
que dá nota de uma incontornável propensão para a prática de crimes como o presente, contra
a segurança rodoviária.
Nada aponta (não se mostrou repeso, recuperado ou em vias disso) para que pretenda pôr
cobro a um tal agir, e nem o facto de ter sido sucessivamente condenado, em penas de multa e
em pena de prisão suspensa, por crimes de idêntica natureza, o que determinou a agir por forma
a conformar-se com os valores ético-jurídicos que violou com a sua conduta.
Tudo para concluir que o arguido não suscita o falado juízo de prognose favorável pelo que não
poderia nem pode deixar de se lhe aplicar uma pena de prisão não suspensa na sua execução.
Ainda assim é de considerar que, atenta a moldura abstrata cominada no referido art. 3º, nº 2,
do DL nº 2/98, e as circunstancias do caso, ponderadas, a pena em causa não deve ultrapassar

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os três meses de prisão, medida que foi estabelecida, com adequado sentido da proporção, pelo
Tribunal recorrido.

Ac. STJ de 03-04-2003


Ainda que se não desconheça a doutrina de Jescheck, no sentido de que a «pena curta
privativa da liberdade pode, para os delinquentes de tráfico rodoviário e para os de caracter
económico, ter uma eficácia curativa, dado o seu cariz intimidatório sobre pessoas socialmente
estabelecidas (…)», com que se têm abonado algumas decisões, designadamente o STJ no
Processo 03P853, na defesa de que «em matéria de crimes rodoviários, impõe-se hoje como
meio de tratamento penal mais adequado ao desenfreado e cada vez mais alarmante
desregramento reinante nas estradas portuguesas, o recurso às penas de prisão, ainda que por
vezes de curta duração – short/sharp/shock -, por terem uma especial eficácia curativa, dado o
seu cariz intimidatório sobre as pessoas socialmente estabelecidas».

PROF. FIGUEIREDO DIAS – pronuncia-se sobre o efeito de Sharp-short-shock: “uma pena de


prisão curta (ou mesmo de curtíssima) duração, v.g., de alguns dias, seria necessária e útil em
muitos casos, como única forma de convencer o agente da gravidade do crime praticado e,
mesmo, de estabilizar as expectativas comunitárias na manutenção da validade da norma
infringida”, admitindo a sua aplicação excecional “apenas em certos e muitos contados casos”.

Ac. TRC de 18-01-2012 – 1ª instância


O arguido foi condenado:
- 08/09/2008, por um crime de Condução sem habilitação legal, p. e p. pelo art.º 3.º, n.º 1, do DL
2/98, de 03/01, praticado em 05/08/2008, na pena de 80 dias de multa, à taxa diária de €5,
perfazendo o total de €400,00;
- 24/05/2010, por um crime de Condução sem habilitação legal, p. e p. pelo art.º 3.º, n.º 2, do DL
2/98, de 03/01, praticado em 22/04/2010, na pena de 120 dias de multa, à taxa diária de €8,
perfazendo o total de €960,00;
- 07/06/2010, por um crime de Condução sem habilitação legal, p. e p. pelo art.º 3.º, do DL 2/98,
de 03/01, praticado em 05/05/2010, na pena de 170 dias de multa, à taxa diária de €6, perfazendo
o total de €1.020,00;
- 07/01/2011, por um crime de Condução sem habilitação legal, p. e p. pelo art.º 3.º, do DL 2/98,
de 03/01, praticado em 17/11/2010, na pena de 3 meses de prisão, substituída por 90 horas de
trabalho;
- 11/01/2011, por um crime de Condução sem habilitação legal, p. e p. pelo art.º 3.º, do DL 2/98,
de 03/01, praticado em 08/12/2010, na pena de 9 meses de prisão, suspensa por um ano, sob
condição de o arguido, durante esse período, comprovar nos autos a sua inscrição, frequência
de aulas e apresentação a exame na escola de condução.
No caso as necessidades de prevenção geral são muito elevadas, uma vez que estamos
perante um crime muito frequente.

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Por outro ado, o arguido tem vindo a ser condenado, sucessivamente, pela prática do mesmo
tipo de crime, em penas que têm vindo a endurecer, progressivamente,
Revelando uma personalidade insensível não só ao bem jurídico violado, como ainda às
sucessivas penas que lhe têm sido aplicadas.
Assim atentos os critérios referidos e a progressividade das sucessivas penas aplicadas têm-
se por ajustada a pena de 12 meses de prisão.

Ac. TRE de 20-12-2012 – Tribunal da Relação (recurso) - MULTA


O crime de condução sem habilitação legal, p. e p. pelo art.º 3.º, n.º 1, do Decreto-Lei n.º 3/98,
de 3-1, é punido com prisão até 1 ano ou com pena de multa até 120 dias.

Por qual delas escolher?


O art.º 70.º, do Código Penal, diz que «se ao crime forem aplicáveis, em alternativa, pena
privativa e pena não privativa da liberdade, o tribunal dá preferência à segunda sempre que esta
realizar de forma adequada e suficiente as finalidades da punição».

Finalidades da punição que são as estabelecidas no art.º 40.º, n.º 1, do Código Penal: a proteção
de bens jurídicos e a reintegração do agente na sociedade.

Ora é evidente que, no caso dos autos e sendo o arguido delinquente primário, a pena de
multa chega para alcançar as finalidades da punição – mantendo-se assim a coerência com as
demais penas que lhe foram fixadas na 1.ª Instância. Coerência que também será mantida, sem
necessidade de outros considerandos, no tocante ao montante diário da multa (neste caso e
desde logo, por nenhum dos sujeitos processuais dele ter recorrido).

Pelo que, tudo visto e ponderado, se tem por justa e adequada a fixação da pena concreta
ao arguido pela prática do aludido crime de condução sem habilitação legal, p. e p. pelo art.º 3.º,
n.º 1, do Decreto-Lei n.º 3/98, de 3-1, em 70 (setenta) dias de multa à razão diária de 5 (cinco)
€.

REGIME DAS PENAS DE SUBSTITUIÇÃO

1. Regra da substituição
Esta pena de substituição, regulada pelo art. 43, n.1 e 2, que se aplica a pena de prisão
não superior a um ano, não se confunde com a pena principal de multa a que alude o art.
47, no sentido de pena prevista em cada um dos tipos de crime que a comina em
alternativa à pena de prisão.
A não aplicação desta pena de multa só pode ser justificada com o sentimento da comunidade
de reprovação social do crime, ou então, «se a execução da prisão for exigida pela necessidade

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de prevenir o cometimento de futuros crimes». Daqui se infere que o critério da substituição por
multa é o critério geral estabelecido no art. 70º.
Este critério geral, valendo tanto para a escolha entre uma pena de prisão e uma pena de
multa principal alternativa, como ainda para a aplicação de uma multa em substituição de uma
pena de prisão, impõe-se como um poder-dever para o tribunal na ponderação a fazer, com a
inerente obrigação de fundamentar em ambos os momentos a não aplicação da pena não
privativa da liberdade, mesmo afigurando-se distintos os critérios que determinam a aplicação
de uma pena de multa principal e alternativa à pena de prisão - conveniência ou maior adequação
- e uma pena de substituição da pena de prisão - necessidade.
E dominando estes pressupostos, não parece contraditório que, no âmbito da pequena e
média criminalidade, sendo os crimes punidos com pena de prisão ou, em alternativa, com pena
de multa, o tribunal, escolha a primeira em detrimento da segunda e, efetuada essa escolha e
estipulada, com base na culpa, a sua duração não superior a um ano, acabe por substitui-la pela
pena de multa substitutiva, aqui já recorrendo a critérios de prevenção geral e especial.

Com efeito, pondera-se aqui a efetiva necessidade de execução da prisão para


responder às exigências de prevenção e não um critério de conveniência e de maior ou
menor adequação da multa relativamente à prisão. Como explanado pelo Prof. Figueiredo
Dias, no art. 70 do CP reage-se contra as penas de prisão independentemente da sua
duração, enquanto no art. 43 do CP se visa reagir contra as penas de prisão não superiores
a um ano.

As decisões são muito claras, quanto à necessidade de os acórdãos recorridos


fundamentarem, sempre, a opção pela pena privativa ou não privativa de liberdade. Sob pena
de nulidade por omissão de pronúncia, nos termos do art. 379º, nº 1, al. a) do Código Processo
Penal.

Ac. TRP, de 23-04-2008


“Ocorre omissão de pronúncia se o tribunal condena em pena de 9 meses prisão e não
aprecia a eventual verificação dos pressupostos de aplicação de uma pena de substituição.”

2ª Posição Jurisprudencial

Ac. TRC de 18-01-2012 – Tribunal da Relação (recurso)


No caso sub judice, para além das 3 penas de multa, aplicadas por outros tantos crimes de
condução sem habilitação legal, o arguido viu já aplicada – sempre pela prática do mesmo tipo
de crime de condução sem habilitação legal – uma pena de prisão substituída por prestação de
trabalho a favor da comunidade. E viu ainda aplicada, sempre pela prática do mesmo tipo de
crime, uma pena de suspensão da prisão, condicionada ao cumprimento de determinados

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deveres. Aliás sofreu duas condenações transitadas em julgado pouco mais de um mês antes
da prática do crime dos autos.
Todas as referidas penas se revelaram insuficientes para prevenir a prática de novos crimes,
da mesma natureza, pelo arguido. Demonstrando a prática do crime dos autos que nem a
suspensão da prisão constituiu advertência suficiente para prevenir a comissão deste novo
crime.
Não se justificando, assim, aplicar nem substituição por prestação de trabalho nem a
suspensão, por já aplicadas e porque a sua ineficácia preventiva, para o arguido, se mostra
comprovada pela prática do presente crime.

Resta porém indagar da aplicação de algum dos regimes de cumprimento menos


gravosos a que o recorrente se refere – permanência em habitação ou semidetenção.
Em termos abstratos, uma pena de prisão não superior a um ano pode ser, por um lado,
substituída por multa (artigo 43.º do Código Penal), pode ser suspensa na sua execução
(artigo 50.º do Código Penal), v.g sujeita ao cumprimento de obrigações e/ou regras de
conduta ou até complementada com regime de prova (artigos 50.º a 54.º do Código Penal)
ou ser substituída por prestação de trabalho a favor da comunidade e, por outro lado,
pode ser executada em regime de permanência na habitação (artigo 44.º do Código Penal),
em prisão por dias livres (artigo 45.º do Código Penal) ou em regime de semidetenção
(artigo 46.º do Código Penal).

A sentença recorrida não faz referência ao cumprimento da pena aplicada em regime de


permanência em habitação ou de semidetenção. Porque, atenta a medida da pena aplicada,
acima de 1 ano de prisão, falecer um pressuposto da sua aplicação.
Daí que o tribunal recorrido não tenha indagado sobre o consentimento do arguido,
necessário á aplicação do regime de permanência em habitação, prisão e/ou de semidetenção,
exigido pelos artigos 44º, n.º1 e 46, nº 1, respetivamente.

Consentimento que, sendo aplicada pena não superior a 12 meses, devia ter sido indagado.
Daí que a pretensão formulada no recurso seja tida como evidenciadora desse consentimento.
Importa assim averiguar a aplicabilidade de um regime de cumprimento que, fazendo sentir o
efeito da prisão, permita ao arguido o exercício de uma atividade, o único fundamento
identificável invocado pelo recorrente como suporte da sua pretensão.

Ora esse fundamento afasta, desde logo, a aplicação ao caso da permanência em habitação,
por incompatível com o mesmo. Aliás, verdadeiramente, nem o recorrente pretende a sua
aplicação.

Por outro lado, “são finalidades exclusivamente preventivas, de prevenção especial e de


prevenção geral, não finalidades de compensação da culpa, que justificam e impõem a

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preferência por uma pena alternativa ou por uma pena de substituição e a sua aplicação” – cfr.
Figueiredo Dias, Consequências, § 497.

E “o tribunal só deve negar a aplicação de uma pena alternativa ou de substituição quando a


execução da prisão se revele, do ponto de vista da prevenção especial de socialização,
necessária, ou em todo o caso, provavelmente mais conveniente do que aquelas penas; coisa
que só raramente acontecerá se não se perder de vista o já tantas vezes referido carácter
criminógeno da prisão, em especial de curta duração” – idem § 501

“A prevenção geral deve aqui surgir unicamente sob a forma do conteúdo mínimo de
prevenção de integração indispensável à defesa do ordenamento jurídico, como limite à atuação
das exigências de prevenção especial de socialização. Quer dizer: desde que impostas ou
aconselhadas à luz das exigências de socialização, a pena alternativa ou de substituição só não
serão aplicadas se a execução da pena de prisão se mostrar indispensável para que não sejam
postas irremediavelmente em causa a necessária tutela dos bens jurídicos e estabilização contra
fáctica das expectativas comunitárias” – cfr. Figueiredo Dias, cit., § 501 e Anabela Rodrigues,
Critérios de Escolha de Penas de Substituição no Código Penal BFDUC, 1988, p. 30.

Ora, no caso dos autos, o crime praticado é eticamente neutro.


Por outro lado, da atuação do arguido não resultou qualquer perigo para os demais utentes da
via pública.

Entende-se assim que as necessidades de tutela do mínimo de prevenção de integração


indispensável à defesa do ordenamento jurídico ficam satisfeitas com a aplicação da prisão em
regime de semidetenção.

A aplicação de sucessivas penas pela prática do mesmo tipo de crime, não surtiu o efeito
preventivo espacial desejado.

Em contrapartida, sendo a pena de prisão a adequada ao caso, o arguido nunca sentiu o


efeito da reclusão, mostrando-se proporcionado aplicar-lhe um regime de cumprimento mais
flexível, que lhe permita, nomeadamente, exercer uma atividade e retirar todas as consequências
da anterior condenação de suspensão condicionada da prisão.
As exigências de prevenção especial de socialização ficarão satisfeitas, uma vez que o
arguido irá sentir (pela primeira vez) o efeito da reclusão.

Acresce que tal regime, além da socialização, é compatível com o exercício de uma atividade
que o recorrente diz pretender desenvolver.
Constituindo assim um regime educativo e prospetivo que salvaguarda todos os interesses
em conflito.

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Acresce que tal regime não inviabiliza, por efeito necessário ou automático, o efeito da ultima
pena aplicada ao arguido - suspensão condicionada da prisão.

Tudo justificando, pois, no caso, no entender deste tribunal, a aplicação do regime de


semidetenção.
Nos termos e com os fundamentos expostos, decide-se conceder parcial provimento ao
recurso, fixando a pena em 12 (doze) meses de prisão, a qual será cumprida em regime de SEMI-
DETENÇÃO.

Ac. TRP de 28-05-2008 – Tribunal da Relação (recurso)


Arguido B:
- condenar o arguido B………., como autor material, e na forma consumada, de um crime de
condução sem licença, p. e p. no art. 3º nº 2 do DL 2/98 (factos de 26/8/06) numa pena de 4
(quatro) meses de prisão;
- condenar o arguido B………., como autor material, e na forma consumada, de um crime de
condução sem licença, p. e p. no art. 3º nº 2 do DL 2/98 (factos de 8/12/06) numa pena de 5
(cinco) meses de prisão;
- condenar o arguido B………., como autor material, e na forma consumada, de um crime de
condução sem licença, p. e p. no art. 3º nº 2 do DL 2/98 (factos de 6/1/07) numa pena de 6 (seis)
meses de prisão;
- condenar o arguido B………. como autor material, e na forma consumada, de um crime de
condução sem licença, p. e p. no art. 3º nº 2 do DL 2/98 (factos de 10/9/07) numa pena de 7
(sete) meses de prisão;
- em cúmulo jurídico, condenar o arguido B………. na pena única de 1 (um) ano e 4 (quatro)
meses de prisão efetiva;

É correta a opção pela de prisão, no âmbito do art. 70º do CP, no caso de arguido que
cometeu 4 crimes de condução sem habilitação legal depois de haver sofrido 4
condenações por esse mesmo tipo de crime, duas em pena de multa e duas em pena de
prisão suspensa na sua execução.
Sendo aplicada a pena única de 1 ano de prisão ao concurso desses crimes, deve essa
pena ser substituída por regime de permanência na habitação.
Tendo presente o caso dos autos e os critérios apontados no art. 44º, nº 1-a) do CP na versão
atual, determina-se que a pena única de 1 (um) ano de prisão seja cumprida em regime de
permanência na habitação (por regime ser, neste caso, o adequado e preferível dentro do leque
das penas de “substituição” detentivas disponíveis, sendo essa pena “ainda comunitariamente
suportável à luz da necessidade de tutela de bens jurídicos e da estabilização das expetativas
comunitárias na validade da norma violada”).
A prisão deve ser reservada aos crimes mais graves e a situações em que já não é possível, por
outros meios, dissuadir o agente da prática de novos crimes.

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Ac. TRL de 05-05-2004 – Tribunal da Relação (recurso)
- 2 condenações no ano 2002 pela prática de crimes de condução de veículos sem habilitação
legal, não sendo inteiramente correta, porquanto uma das condenações a que se alude foi já
proferida em 22.5.2003;
- condenado em 1998 em pena de multa pela prática de um outro crime de condução ilegal de
veiculo a moto por falta de habilitação.

Pede que seja imposta, em substituição da pena de prisão decretada na 1ª instância, a pena de
prestação de trabalho a favor da comunidade.

Trata-se de um jovem com 25 anos de idade, que exerce uma profissão e cujo percurso de
delinquência está confinado a ilícitos cometidos na condução de automóveis, que demandam a
efetiva ponderação da utilização de medidas penais que não passem (ainda) pela prisão.

Esta ponderação não deverá confundir-se com qualquer aligeiramento da gravidade dos ilícitos
cometidos no exercício da condução, tao importantes e patentes so as razoes de política criminal
que determinaram a criminalização da condução sem habilitação legal.

Trata-se realmente de procurar responder ao mal cometido com uma proposta positiva que
tem aptidão para ser aceite pelo condenado como sanção condicionada ao desempenho cabal
da prestação de trabalho e, ao que se crê e é voz corrente, goza ainda de boa aceitação social.
E da vantagem para o condenado e para a sociedade em geral que, com grande probabilidade,
resultará de não ingressar no meio prisional, fala também a voz corrente informada pela dolorosa
realidade transmitida pelas avaliações do desempenho das prisões efetuadas por diversos e
recentes estudos.
É assim que, com plena consciência de que não se trata de situação nitidamente impositiva
da substituição pretendida, atento o percurso delitivo do recorrente, se entende que corresponde
satisfatoriamente ainda às finalidades retributivas e ressocializadoras da punição, a prestação
de trabalho a favor da comunidade.
Atento o circunstancialismo agravativo que no caso ocorre, entende-se que a medida punitiva
deverá fixar-se um pouco para além do ponto médio da moldura sancionatória contida no art.
58º, nº 3 do CP, porquanto se não crê que tenha que existir uma exata correspondência entre a
medida da pena substituída e a da pena efetivamente aplicada, uma vez que se trata de sanções
de natureza muito diversa.

Nestes termos, dá-se provimento ao presente recurso, substituindo a pena de nove


meses de prisão imposta pelo tribunal de 1ª instância pela pena de prestação de trabalho
a favor da comunidade pelo período de duzentas horas.
Pelo tribunal recorrido deverão ser postos em prática os procedimentos necessários para
a execução da medida substitutiva determinada (art. 496º do CPP

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Critério de conversão entre a prisão e a multa
O CP de 1982 oferecia um critério «automático» de conversão dos dias de prisão no número
de dias de multa correspondente para as penas de prisão não superiores a seis meses.
No entanto, a aplicação deste critério constituía na interpretação do Prof. Figueiredo Dias um
erro, sob o ponto de vista político-criminal, que entrava em contradição com a regra geral do art.
46 do referido código que, além disso, previa 300 dias como limite da pena de multa.
Interpretava o Prof. Figueiredo Dias a mencionada correspondência como sendo, não
aritmética, mas normativa, advogando que, nos casos em que o tipo legal cominasse multa em
alternativa, o tribunal deveria ater-se a essa moldura; caso não a cominasse deveria remeter-se
ao limite geral da multa constante do art. 46 do CP/82 (atual art. 47).
Aquando da revisão de 1995 a palavra “correspondente” foi suprimida, deixando- -se de fazer
expressa menção ao número de dias de multa correspondente, tendo a respetiva Comissão de
Revisão discutido, em 30 de Janeiro de 1989, relativamente à determinação da multa de
substituição, a hipótese de incluir um número no normativo que expressamente remetesse para
os critérios fixados nos art. 46 e 47, então previstos, de forma a explicitar a opção de abandonar
o critério da correspondência.
Apesar da Comissão de Revisão ter regressado, posteriormente, à ideia de correspondência
automática entre os dias de prisão e de multa, atenta a «tradição e por isso mais convidativa à
substituição», tendo, inclusive, aprovado uma nova redação, consagrando expressamente a
substituição da prisão por «igual número de dias de multa», tal não veio a constar do CP de 1995.
A este propósito a revisão de 2007, que alargou o âmbito temporal da sua aplicação para
pena de prisão até um ano, nada refere quanto ao critério de conversão, embora o anterior critério
de correspondência - um dia de prisão/um dia multa -, pudesse aqui funcionar, quase na
plenitude, atendendo aos 360 dias de limite máximo da pena.

Pese embora, haja defensores do critério de substituição de dias de prisão por igual dias de
multa, e grande parte da jurisprudência de primeira instância se socorra deste critério, confirmado
até pelas instâncias superiores, a sua não previsão no texto legal de 2007 e a remissão para o
art. 47, sem limitação aos números aplicáveis, justificam, em nosso entender, a conclusão que o
legislador entendeu que a substituição deveria operar-se no quadro dos limites constantes do
art. 47 e a partir dos critérios estabelecidos no seu art. 71, ou seja, de uma forma autónoma, sem
equivalência entre os dias de penas de prisão e de multa.
Se a fixação do montante de dias da pena de multa de substituição suscita controvérsia, o
mesmo se verifica relativamente aos efeitos do seu não pagamento.

Não existe, no nosso entendimento, uma hierarquia legal das penas de substituição
não detentivas, o que permite ao julgador aplicar, entre a diversidade dessas penas não
superiores a 5 anos, aquela que mais se ajustar às finalidades preventivas do condenado.
Não se trata, pois de um critério abstrato e geral, mas de encontrar, entre as várias
possibilidades, aquela que melhor satisfaz as finalidades de prevenção geral e especial da

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pessoa em concreto que se está a julgar. Consequentemente, a diferenciação do regime,
especialmente no que concerne à repercussão do cumprimento parcial da pena de substituição
no tempo de prisão, não deveria existir, pois nada justifica que o critério de opção por uma dessas
penas seja o mesmo - o que melhor satisfaça as finalidades de prevenção especial de
socialização - mas já os regimes apresentem diferenças entre si.

Neste sentido:

Ac. do TRP, de 06/06/2007


“Se o tribunal tiver ao seu dispor mais do que uma espécie de pena de substituição (v. g. multa,
prestação de trabalho a favor da comunidade, suspensão da execução da prisão), são ainda
considerações de prevenção especial de socialização que devem decidir qual das espécies deve
ser eleita, não havendo, em abstrato, um princípio de “hierarquia legal das penas de
substituição”.”

Ac. do TRP, de 10/11/2010


Não existe uma hierarquia legal das penas de substituição. Na ponderação entre a prisão em
regime de permanência na habitação e a prisão por dias livres, aquela, em abstrato, pela
continuidade que lhe é inerente e pela consequente interrupção de toda a vida normal da pessoa
a ela sujeita, configura-se como mais gravosa.

Em sentido contrário Ac. do TRP, de 23/04/2008, afirma:


«Tendo em conta a natureza e os pressupostos de cada uma delas, as diferentes penas de
substituição devem ser apreciadas pela ordem seguinte:
1 - multa (artigo 43º);
2 - suspensão da pena (artigo 50º);
3 - PTFC (artigo 58º);
4- regime de permanência na habitação (artigo 44º);
5 - prisão por dias livres (artigo 45º);
6 - regime de semidetenção (artigo 46º).

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