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Legislação Penal Especial - Lei de Execução Penal

1. FINALIDADE DA EXECUÇÃO (ART. 1º DA LEP)

a) efetivar o conteúdo de sentença - Ex.: se a sentença determina o cumprimento de 10


anos de pena em regime inicial fechado, uma das finalidades da execução é fazer com que isso
ocorra (naturalmente, haverá adaptações e incidentes ao longo do cumprimento da pena)

b) proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do in-


ternado - finalidade de ressocialização (denominada prevenção especial positiva).

2. PRINCÍPIOS

São basicamente os mesmos do Direito Penal e Processual Penal. Analisaremos alguns as-
pectos importantes relacionados a alguns princípios.

2.1. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

2.1.1. Estado de coisas inconstitucional (ADPF-347)

O denominado “estado de coisas inconstitucional” é originário da Corte Constitucional da Co-


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lômbia. Fatores que costumam ser determinantes para se considerar que determinada situação re-
presenta um estado de coisas inconstitucional:

a) situação de violação generalizada de direitos fundamentais

b) inércia ou incapacidade reiterada e persistente das autoridades públicas em modificar a


situação

c) superação das transgressões exige a atuação não apenas de um órgão, e sim de uma
pluralidade de autoridades

d) a possibilidade de um congestionamento do sistema judicial, caso ocorra uma procura mas-


siva pela proteção jurídica.

O tema veio à tona porque o PSOL ajuizou Arguição de Descumprimento de Preceito Funda-
mental (ADPF 347) no STF, pleiteando o reconhecimento da violação de direitos fundamentais da
população carcerária e a adoção de providências para sanar lesões a preceitos fundamentais pre-
vistos na CF.
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O STF ainda não julgou o mérito da ADPF, mas concedeu a liminar em parte1, deferindo os
pedidos atinentes à "b" (audiência de custódia) e "h" (liberação das verbas do FUNPEN). Na decisão,
os ministros ressaltaram que, no caso do sistema carcerário, há desrespeito aos direitos dos presos
no tocante à dignidade, higidez física e integridade psíquica. As penas privativas de liberdade aca-
bam sendo cruéis e desumanas. A forte violação dos direitos fundamentais dos presos repercutiria
além das respectivas situações subjetivas e produziria mais violência contra a própria sociedade. Os
cárceres brasileiros, além de não servirem à ressocialização dos presos, fomentariam o aumento da
criminalidade, pois transformariam pequenos delinquentes em criminosos muito mais perigosos (in-
formativo 798).

2.2. ISONOMIA OU IGUALDADE

LEP, Art. 3º - Ao condenado e ao internado serão assegurados todos os direitos não atingi-
dos pela sentença ou pela lei.

Parágrafo único - Não haverá qualquer distinção de natureza racial, social, religiosa ou po-
lítica.

Distinção possível nas hipóteses da CF, art. 5º, XLVIII – “a pena será cumprida em estabe-
lecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado”
2
a) Natureza do delito – ex.: separar criminoso violento de um sujeito que furtou uma bicicleta.

1 Na ADPF, o partido pede ao STF que: a) determine a todos os juízes e tribunais que, em caso de decretação de prisão
provisória, motivem expressamente as razões que impossibilitam a aplicação das medidas cautelares alternativas à priva-
ção de liberdade, previstas no art. 319 do Código de Processo Penal; b) reconheça a aplicabilidade imediata dos arts. 9.3
do Pacto dos Direitos Civis e Políticos e 7.5 da Convenção Interamericana de Direitos Humanos, determinando a todos os
juízes e tribunais que passem a realizar audiências de custódia, no prazo máximo de 90 dias, de modo a viabilizar o
comparecimento do preso perante a autoridade judiciária em até 24 horas contadas do momento da prisão; c) determine
aos juízes e tribunais brasileiros que passem a considerar fundamentadamente o dramático quadro fático do sistema peni-
tenciário brasileiro no momento de concessão de cautelares penais, na aplicação da pena e durante o processo de execu-
ção penal; d) reconheça que como a pena é sistematicamente cumprida em condições muito mais severas do que as
admitidas pela ordem jurídica, a preservação, na medida do possível, da proporcionalidade e humanidade da sanção impõe
que os juízes brasileiros apliquem, sempre que for viável, penas alternativas à prisão; e) afirme que o juízo da execução
penal tem o poder- dever de abrandar os requisitos temporais para a fruição de benefícios e direitos do preso, como a
progressão de regime, o livramento condicional e a suspensão condicional da pena, quando se evidenciar que as condições
de efetivo cumprimento da pena são significativamente mais severas do que as previstas na ordem jurídica e impostas pela
sentença condenatória, visando assim a preservar, na medida do possível, a proporcionalidade e humanidade da sanção;
f) reconheça que o juízo da execução penal tem o poder-dever de abater tempo de prisão da pena a ser cumprida, quando
se evidenciar que as condições do efetivo cumprimento da pena foram significativamente mais severas do que as previstas
na ordem jurídica e impostas pela sentença condenatória, de forma a preservar, na medida do possível, a proporcionalidade
e humanidade da sanção; g) determine ao Conselho Nacional de Justiça que coordene um ou mais mutirões carcerários,
de modo a viabilizar a pronta revisão de todos os processos de execução penal em curso no país que envolvam a aplicação
de pena privativa de liberdade, visando a adequá-los às medidas “e” e “f” acima; h) imponha o imediato descontingencia-
mento das verbas existentes no Fundo Penitenciário Nacional- FUNPEN, e vede à União Federal a realização de novos
contingenciamentos, até que se reconheça a superação do estado de coisas inconstitucional do sistema prisional brasileiro.
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LEP, art. 84 (Redação dada pela Lei nº 13.167, de 2015). O preso provisório ficará separado
do condenado por sentença transitada em julgado.

§ 1º Os presos provisórios ficarão separados de acordo com os seguintes critérios:

I - acusados pela prática de crimes hediondos ou equiparados;

II - acusados pela prática de crimes cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa;

III - acusados pela prática de outros crimes ou contravenções diversos dos apontados nos
incisos I e II.

§ 2° O preso que, ao tempo do fato, era funcionário da Administração da Justiça Criminal


ficará em dependência separada.

§ 3º Os presos condenados ficarão separados de acordo com os seguintes critérios:

I - condenados pela prática de crimes hediondos ou equiparados;

II - reincidentes condenados pela prática de crimes cometidos com violência ou grave ame-
aça à pessoa;

III - primários condenados pela prática de crimes cometidos com violência ou grave ameaça
à pessoa;
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IV - demais condenados pela prática de outros crimes ou contravenções em situação di-
versa das previstas nos incisos I, II e III.

§ 4º O preso que tiver sua integridade física, moral ou psicológica ameaçada pela convivên-
cia com os demais presos ficará segregado em local próprio.

b) Idade – idosos, por exemplo, podem ser submetidos a condições diversas de outros presos
no cumprimento da pena.

c) Sexo - mulheres e homens separados; regras especiais de progressão para condenada


com filho menor ou deficiente físico ou mental, ou condenada gestante; além de outros cuidados em
relação a gestantes e parturientes.

LEP, Art. 89. (Redação dada pela Lei nº 11.942, de 2009) (...) a penitenciária de mulheres
será dotada de seção para gestante e parturiente e de creche para abrigar crianças maiores
de 6 (seis) meses e menores de 7 (sete) anos, com a finalidade de assistir a criança de-
samparada cuja responsável estiver presa.

Parágrafo único. São requisitos básicos da seção e da creche referidas neste artigo:

I – atendimento por pessoal qualificado, de acordo com as diretrizes adotadas pela legisla-
ção educacional e em unidades autônomas; e
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II – horário de funcionamento que garanta a melhor assistência à criança e à sua respon-


sável.

2.3. INTRANSCENDÊNCIA OU PERSONALIDADE

Significa a impossibilidade de se transferir a pena para os sucessores, descendentes ou as-


cendentes do infrator. Só responde penalmente quem cometeu o delito ou para ele (delito) concorreu
de qualquer modo.

2.3.1. Revista íntima de visitantes nos presídios é permitida?

Lei 13.271, de 15 de abril de 2016.

Dispõe sobre a proibição de revista íntima de funcionárias nos locais


de trabalho e trata da revista íntima em ambientes prisionais.

Art. 1o As empresas privadas, os órgãos e entidades da administração pública, direta e


indireta, ficam proibidos de adotar qualquer prática de revista íntima de suas funcionárias e
de clientes do sexo feminino.

Art. 2o Pelo não cumprimento do art. 1o, ficam os infratores sujeitos a:

I - multa de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) ao empregador, revertidos aos órgãos de proteção 4
dos direitos da mulher;

II - multa em dobro do valor estipulado no inciso I, em caso de reincidência, independente-


mente da indenização por danos morais e materiais e sanções de ordem penal.

Art. 3o (VETADO).

Art. 4o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Essa lei permite duas interpretações:

Interpretação mais restrita – continua sendo possível a revista íntima. A lei proíbe a revista
íntima apenas de funcionárias e de clientes do sexo feminino. Visitas não se enquadram nessa ca-
tegoria.

Interpretação mais ampla – se a lei proibiu a revista íntima de funcionárias e clientes do sexo
feminino, por questões de isonomia, estende a proibição às visitas.

Alguns Estados, como São Paulo, editaram leis proibindo a revista íntima2.

2Lei Estadual Nº 15.552, DE 12 DE AGOSTO DE 2014 (Proíbe a revista íntima dos visitantes nos estabelecimentos prisi-
onais e dá outras providências)
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3. ÓRGÃOS DA EXECUÇÃO

Os órgãos que atuam na execução penal estão relacionados no art. 61 e seguintes da Lei de
Execução Penal.

São eles:

a) Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (art. 62 a 64)

b) Departamento Penitenciário Nacional (art. 71 e 72)

c) Departamento Penitenciário Local (art. 73 e 74)

d) Conselho Penitenciário (art. 69 e 70)

e) Conselho da Comunidade (art. 80 e 81)

Artigo 1º - Ficam os estabelecimentos prisionais proibidos de realizar revista íntima nos visitantes.
Parágrafo único - Os procedimentos de revista dar-se-ão em razão de necessidade de segurança e serão realizados com
respeito à dignidade humana.
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Artigo 2º - Para os efeitos desta lei, consideram-se:
I - vetado;
II - visitante: toda pessoa que ingressa em estabelecimento prisional para manter contato direto ou indireto com detento;
III - revista íntima: todo procedimento que obrigue o visitante a:
1 - despir-se;
2 - fazer agachamentos ou dar saltos;
3 - submeter-se a exames clínicos invasivos.
Artigo 3º - Todo visitante que ingressar no estabelecimento prisional será submetido à revista mecânica, a qual deverá ser
executada, em local reservado, por meio da utilização de equipamentos capazes de garantir segurança ao estabelecimento
prisional, tais como:
I - “scanners” corporais;
II - detectores de metais;
III - aparelhos de raios X;
IV - outras tecnologias que preservem a integridade física, psicológica e moral do visitante revistado.
Parágrafo único - Vetado.
Artigo 4º - Na hipótese de suspeita justificada de que o visitante esteja portando objeto ou substância ilícitos, identificada
durante o procedimento de revista mecânica, deverão ser tomadas as seguintes providências:
I - o visitante deverá ser novamente submetido à revista mecânica, preferencialmente utilizando-se equipamento diferente
do usado na primeira vez, dentre os elencados no artigo 3º da presente lei;
II - persistindo a suspeita prevista do “caput” deste artigo, o visitante poderá ser impedido de entrar no estabelecimento
prisional;
III - caso insista na visita, será encaminhado a um ambulatório onde um médico realizará os procedimentos adequados
para averiguar a suspeita.
Parágrafo único - Na hipótese de ser confirmada a suspeita descrita no “caput” deste artigo, encontrando-se objetos ilícitos
com o visitante, este será encaminhado à Delegacia de Polícia para as providências cabíveis.
Artigo 5º - O Poder Executivo regulamentará a presente lei no prazo de 180 (cento e oitenta) dias a contar da data de sua
publicação.
Artigo 6º - As despesas resultantes da execução desta lei correrão à conta de dotações orçamentárias próprias.
Artigo 7º - Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
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f) Patronato (art. 78 e 79) - O Patronato público ou particular destina-se a prestar assistência


aos albergados e aos egressos*.

g) Ministério Público (art. 67 e 68)

h) Defensoria Pública (art. 81-A e 81-B)

i) Juiz da Execução (art. 66)

* Art. 26. Considera-se egresso para os efeitos da LEP: I - o liberado definitivo, pelo prazo
de 1 ano a contar da saída do estabelecimento; II - o liberado condicional, durante o período de
prova.

4. ATRIBUIÇÕES DO JUIZ DA EXECUÇÃO

LEP, Art. 2º A jurisdição penal dos Juízes ou Tribunais da Justiça ordinária, em todo o Ter-
ritório Nacional, será exercida, no processo de execução, na conformidade desta Lei e do
Código de Processo Penal.

LEP, Art. 194. O procedimento correspondente às situações previstas nesta Lei será judi-
cial, desenvolvendo-se perante o Juízo da execução.
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O art. 66 da LEP traz rol de competência, que é bastante ampla:

I - aplicar aos casos julgados lei posterior que de qualquer modo favorecer o conde-
nado

Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao ju-


Súmula 611 do STF
ízo das execuções a aplicação de lei mais benigna.

II - declarar extinta a punibilidade

Ex.: Em caso de morte do condenado, prescrição

III - decidir sobre

a) soma ou unificação de penas


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Art. 111. Quando houver condenação por mais de um crime, no mesmo processo ou em
processos distintos, a determinação do regime de cumprimento será feita pelo resultado da
soma ou unificação das penas, observada, quando for o caso, a detração ou remição.

Parágrafo único. Sobrevindo condenação no curso da execução, somar-se-á a pena ao


restante da que está sendo cumprida, para determinação do regime.

SOMA – Existindo mais de uma condenação contra a mesma pessoa (e não se observando
a regra da unidade de processo e julgamento imposta pelos arts. 76 a 82 do CPP), compete ao juiz
da execução, de posse do prontuário do condenado contendo as várias guias organizadas segundo
a ordem cronológica de chegada e registradas em livro especial (art. 107, § 2º), somar as penas
impostas.

Mesmo que as condenações sejam provenientes de vários Estados, compete ao juiz da exe-
cução onde o condenado se encontrar preso proceder à soma das penas.

UNIFICAÇÃO – Como bem resume Mirabete, a unificação “concretiza na execução a unidade


estabelecida pela lei penal referente às penas dos crimes praticados em concurso. Havendo, assim,
duas ou mais condenações em que tenha ocorrido concurso formal, crime continuado, erro na exe-
cução ou resultado diverso do pretendido, será efetuada a unificação das penas impostas em pro-
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cessos diversos” (Execução Penal, p. 195).

No caso de concurso material (art. 69 do CP) ou formal impróprio (art. 70, 2ª parte, o CP) as
penas são somadas.

Também ocorrerá a unificação de penas para atender o limite máximo de 30 anos estabele-
cido no Código Penal (art. 75 do CP). Todavia, só será unificada a pena para efeito de cumprimento,
pois os benefícios serão todos calculados sobre o total da pena a que foi condenado (Súmula 715
do STF).

Unificadas as penas e sobrevindo nova condenação, deve ser procedida nova unificação,
desprezando-se, entretanto, o período de pena já cumprido.b) progressão ou regressão nos regi-
mes: depois de fixado o regime inicial pelo juiz da sentença, a pena privativa de liberdade será exe-
cutada em forma progressiva com a transferência para regime menos rigoroso, a ser determinada
pelo juiz da execução.

c) detração e remição da pena;


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Detração - É o cômputo, na pena privativa de liberdade e na medida de segurança, do tempo


de prisão provisória, de prisão administrativa ou de internação em hospital de custódia e tratamento
psiquiátrico ou estabelecimento semelhante (art. 42 do Código Penal). Ex.: sujeito permanece preso
cautelarmente durante 2 anos. Após regular processamento do feito, é condenado a 5 anos de prisão.
Por força da detração, deve-se abater da pena imposta o lapso temporal já cumprido em segregação
cautelar, restando a ser cumprido, na hipótese, o período de 3 anos.

Remição – ver tópico abaixo.

d) suspensão condicional da pena: consoante art. 77 do CP, é de competência do juiz da


condenação fixar a suspensão condicional da pena. Entretanto, o juiz da execução poderá conceder
o mesmo benefício quando, imotivadamente, o juiz ou Tribunal que proferiu a sentença não se pro-
nunciou ou quando surgir situação nova que elimine obstáculo existente anteriormente que impedia
a suspensão.

e) livramento condicional: artigos 131 a 146.

f) incidentes da execução: artigos 180 a 193.


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IV - autorizar saídas temporárias: artigos 122 a 125

V - determinar:

a) a forma de cumprimento da pena restritiva de direitos e fiscalizar sua execução;

b) a conversão da pena restritiva de direitos e de multa em privativa de liberdade;

c) a conversão da pena privativa de liberdade em restritiva de direitos;

d) a aplicação da medida de segurança, bem como a substituição da pena por medida de


segurança;

e) a revogação da medida de segurança;

f) a desinternação e o restabelecimento da situação anterior;

g) o cumprimento de pena ou medida de segurança em outra comarca;

h) a remoção do condenado na hipótese prevista no § 1º, do artigo 86, desta Lei.


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VI - zelar pelo correto cumprimento da pena e da medida de segurança;

VII - inspecionar, mensalmente, os estabelecimentos penais, tomando providências para o


adequado funcionamento e promovendo, quando for o caso, a apuração de responsabilidade;

VIII - interditar, no todo ou em parte, estabelecimento penal que estiver funcionando em con-
dições inadequadas ou com infringência aos dispositivos desta Lei;

IX - compor e instalar o Conselho da Comunidade.

X – emitir anualmente atestado de pena a cumprir.

4.1. ESTABELECIMENTOS PENAIS

Onde são cumpridas as penas?

a) Penitenciárias - para os condenados à pena de reclusão, quando cumprida em regime


fechado;

Art. 88. O condenado será alojado em cela individual que conterá dormitório, aparelho sa-
nitário e lavatório.
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Parágrafo único. São requisitos básicos da unidade celular:

a) salubridade do ambiente pela concorrência dos fatores de aeração, insolação e condici-


onamento térmico adequado à existência humana;

b) área mínima de 6,00m2.

b) Colônia Agrícola, Industrial ou similar - para os condenados à pena de reclusão ou


detenção, em regime semiaberto.

c) Casa do Albergado - para os condenados que cumprem pena de prisão em regime aberto
e para os condenados à pena restritiva de direitos de limitação de fim de semana. Caracterizada pela
ausência de obstáculos físicos contra a fuga. Quase não há casas de albergado no país.

d) Cadeia pública - destinada ao aos presos provisórios (prisão preventiva e prisão tempo-
rária). Obs.: Os denominados Centro de Detenção Provisória (CDP´s) destinam-se fundamental-
mente ao recebimento dos presos provisórios.
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e) Hospital de custódia e tratamento psiquiátrico - para os indivíduos acometidos de per-


turbação da saúde mental. Destina-se aos inimputáveis e semi-imputáveis em cumprimento de me-
dida de segurança.

Observação: PRISÃO DOMICILIAR

O art. 117 da Lei de Execução Penal estabelece as hipóteses em que se admite o recolhi-
mento, em residência particular, do condenado a pena privativa de liberdade em regime aberto.

I – Condenado maior de 70 anos

II – Condenado acometido de doença grave

III – Condenada com filho menor ou deficiente físico ou mental

IV – Condenada gestante

 Apesar de legalmente destinada ao preso regime aberto, há jurisprudência admitindo o


benefício a condenados portadores de doenças graves, que estejam cumprindo pena em regimes
semiaberto e fechado, desde que demonstrada a impossibilidade de receberem o tratamento ade-
quado no estabelecimento prisional.
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Confira:

STF: O artigo 117 da Lei de Execução Penal determina, nas hipóteses mencionadas em
seus incisos, o recolhimento do apenado, que se encontre no regime aberto, em residência
particular. Em que pese a situação do paciente não se enquadrar nas hipóteses legais, a
excepcionalidade do caso enseja o afastamento da Súmula 691-STF e impõe seja a prisão
domiciliar deferida, pena de violação do princípio da dignidade da pessoa humana [artigo
1º, inciso III da Constituição do Brasil]. Ordem concedida. (STF, HC 98675 / ES, Rel. Min.
Eros Grau, 2ª T., j. 09/06/2009, v.u.).

 Também pode ser admitida a prisão domiciliar quando faltam vagas no estabelecimento
adequado (ex.: não há vagas no semiaberto nem no aberto), mas desde que em situações excepci-
onais. No geral, quando o Estado não é capaz de prover estrutura para o cumprimento da pena em
regime adequado devem ser seguidas as diretrizes impostas pelo STF no julgamento do RE
641.320/RS:

I) a saída antecipada de sentenciado no regime com falta de vagas: os ministros lembraram


que as vagas no regime semiaberto e aberto não são inexistentes, mas sim insuficientes.
Diante disso, surge como alternativa antecipar a saída de sentenciados que já estejam no
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regime de destino, abrindo vaga para aquele que acaba de progredir. Exemplo: “A” progre-
diu para o semiaberto e não existem vagas em estabelecimento apropriado. Em vez de “A”
ir direto ao aberto, ele passa para o semiaberto e outro preso que já estava no semiaberto
vai para o aberto, já que este último estava mais próximo da progressão para o aberto.
Evita-se, com isso, a progressão por salto;

II) a liberdade eletronicamente monitorada: utilização de tornozeleiras eletrônicas para per-


mitir a fiscalização do cumprimento da pena;

III) o cumprimento de penas restritivas de direito e/ou estudo ao sentenciado que progride
ao regime aberto: para os ministros, “se não há estabelecimentos adequados ao regime
aberto, a melhor alternativa não é a prisão domiciliar, mas a substituição da pena privativa
de liberdade por penas restritivas de direitos”. Tendo em vista que as penas restritivas de
direito são menos gravosas do que a pena privativa de liberdade (mesmo em regime
aberto), os ministros entenderam que “ao condenado que progride ao regime aberto, seria
muito mais proveitoso aplicar penas restritivas de direito, observando-se as condições dos
parágrafos do art. 44 do CP, do que aplicar a prisão domiciliar”. Aqui, vale observar, o STF
contrariou a súmula 493 do STJ, segundo a qual “é inadmissível a fixação de pena substi-
tutiva (art. 44 do CP) como condição especial ao regime aberto.

Atenção: Não confunda a prisão domiciliar do art. 117 da LEP, que é uma forma de cumpri-
mento de pena, com a prisão domiciliar prevista nos arts. 317 e 318 do CPP, cautelar alternativa à
prisão preventiva3. A natureza dos institutos é diversa.

5. DISCIPLINA PRISIONAL 11

Art. 45. Não haverá falta nem sanção disciplinar sem expressa e anterior previsão legal ou
regulamentar.

3 DA PRISÃO DOMICILIAR
CPP, art. 317. "A prisão domiciliar consiste no recolhimento do indiciado ou acusado em sua residência, só podendo dela
ausentar-se com autorização judicial.
Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela domiciliar quando o agente for:
I - maior de 80 (oitenta) anos;
II - extremamente debilitado por motivo de doença grave;
III - imprescindível aos cuidados especiais de pessoa menor de 6 (seis) anos de idade ou com deficiência;
IV - gestante;
V - mulher com filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos;
VI - homem, caso seja o único responsável pelos cuidados do filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos.
Parágrafo único. Para a substituição, o juiz exigirá prova idônea dos requisitos estabelecidos neste artigo.
Existe ainda a medida cautelar diversa da prisão consistente em “recolhimento domiciliar no período noturno e nos
dias de folga quando o investigado ou acusado tenha residência e trabalho fixos” (art. 319, V, do CPP).
A diferença entre ambas é bem explicada por Nucci: “a prisão prevista pelo art. 318 é fruto do cumprimento da preventiva,
destinando-se a réus em situações excepcionais. Ademais, a prisão domiciliar abrange as 24 horas do dia, somente po-
dendo o sujeito deixar a casa com autorização expressa e prévia do magistrado. O recolhimento domiciliar envolve apenas
o período noturno e os dias de folga, voltando-se ao acusado que tenha residência e trabalho fixos. Quem é inserido em
prisão domiciliar tem a preventiva decretada; quem se encontra em recolhimento domiciliar tem medida cautelar diversa da
prisão imposta. O não cumprimento da prisão domiciliar importa em mera transferência do réu para o cárcere fechado; o
não seguimento do recolhimento domiciliar implica, como última solução, a decretação da preventiva”.
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Trata-se de reflexo do princípio da legalidade.

Art. 46. “O condenado ou denunciado, no início da execução da pena ou da prisão, será


cientificado das normas disciplinares”

A ideia é que quanto mais esclarecido sobre as regras e as consequências, maior a probabi-
lidade de cumprir as regras.

5.1. FALTAS DISCIPLINARES

O preso que descumpre as regras incorre em falta disciplinar. Conforme a gravidade da con-
duta, a falta pode ser leve, média ou grave.

As faltas leves e médias, bem como as respectivas sanções, são conferidas à legislação local
(legislação estadual). No Estado de São Paulo, estão previstas no Regimento Interno Padrão dos
Estabelecimentos Prisionais (conhecido como RIP). Já as faltas graves são elencadas na própria
LEP.

Nos termos do art. 49, parágrafo único, da LEP, “pune-se a tentativa com a sanção corres-
pondente à falta consumada”. 12
Faltas Disciplinares GRAVES

Art. 50. Comete falta grave o condenado à pena privativa de liberdade que:

I - incitar ou participar de movimento para subverter a ordem ou a disciplina;

II - fugir;

III - possuir, indevidamente, instrumento capaz de ofender a integridade física de ou-


trem;

IV - provocar acidente de trabalho;

V - descumprir, no regime aberto, as condições impostas;

VI - inobservar os deveres previstos nos incisos II e V, do artigo 39, desta Lei.

VII – tiver em sua posse, utilizar ou fornecer aparelho telefônico, de rádio ou similar,
que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo*.

* A Lei 11.466/2007 incluiu o inciso VII e também o crime previsto no art. 319-A do CP:
Legislação Penal Especial - Lei de Execução Penal

Art. 319-A. Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público, de cumprir seu dever de
vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comuni-
cação com outros presos ou com o ambiente externo:

Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.

Art. 51. Comete falta grave o condenado à pena restritiva de direitos que:

I - descumprir, injustificadamente, a restrição imposta;

II - retardar, injustificadamente, o cumprimento da obrigação imposta;

III - inobservar os deveres previstos nos incisos II e V, do artigo 39, desta Lei.

Art. 52, 1ª parte. Prática de fato previsto como crime doloso

Art. 52, 1ª parte. Prática de fato previsto como crime doloso. A lei não exige condenação
do indivíduo para que esteja caracterizada a falta grave. Basta, com efeito, a prática do fato definido
como crime doloso, sendo isso o bastante para ensejar a aplicação de sanção disciplinar ao senten-
ciado. 13

O reconhecimento de falta grave decorrente do cometimento de fato


definido como crime doloso no cumprimento da pena prescinde do
Súmula 526 do STJ
trânsito em julgado de sentença penal condenatória no processo penal
instaurado para apuração do fato.

O preso tem direito de fugir?

O preso não tem o direito de fugir; tem o dever de cumprir a pena. O art. 50, inciso II, da LEP,
classifica como falta grave a fuga.

5.2. SANÇÕES DISCIPLINARES

Examinamos as faltas, agora vamos verificar as sanções disciplinares.

Algumas regras:

Não haverá falta nem sanção disciplinar sem expressa e anterior previsão legal ou regula-
mentar. (art. 45, caput)
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As sanções não poderão colocar em perigo a integridade física e moral do condenado. (art.
46, § 1º)

É vedado o emprego de cela escura. (art. 46, § 2º)

São vedadas as sanções coletivas (art. 46, § 3º).

5.2.1. Espécies

Art. 53. Constituem sanções disciplinares:

I - advertência verbal
I e II
II – repreensão (escrita, não verbal)
Aplicáveis se
falta leve ou
I a IV
média
Podem ser III - suspensão ou restrição de direitos
aplicadas por (prazo máximo de 30 dias)
ato motivado Cuida-se da suspensão ou redução da jor-
14
do diretor nada de trabalho, da recreação, das visitas III, IV e V
e do contato com o mundo exterior. Aplicáveis
IV - isolamento na própria cela, ou em local se falta
adequado (prazo máximo de 30 dias e sem- grave
pre comunicado ao juiz da execução)

V - Depende
V - inclusão no regime disciplinar diferenci-
de decisão ju-
ado
dicial

5.3. PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR

Instaurado pelo diretor

Se falta grave, possível isolamento preventivo (cautelar) pelo diretor (até 10 dias)
Legislação Penal Especial - Lei de Execução Penal

Na apuração da falta grave, é necessária a instauração de procedimento administrativo


disciplinar no estabelecimento prisional ou basta o procedimento judicial com oitiva do sen-
tenciado pelo juiz da execução?

R.: Prevalece que é necessária a instauração de procedimento administrativo disciplinar.

Confira:

Para o reconhecimento da prática de falta disciplinar no âmbito da exe-


cução penal, é imprescindível a instauração de procedimento adminis-
Súmula 533 do STJ trativo pelo diretor do estabelecimento prisional, assegurado o direito de
defesa, a ser realizado por advogado constituído ou defensor público
nomeado.

STF: “RECURSO EXTRAORDINÁRIO – EXECUÇÃO PENAL – FALTA GRAVE – IMPOS-


SIBILIDADE DE RECONHECIMENTO APENAS EM AUDIÊNCIA DE JUSTIFICAÇÃO – IM-
PRESCINDIBILIDADE DE INSTAURAÇÃO DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO DIS-
CIPLINAR (LEP, ART. 59), EM QUE SE ASSEGURE O DIREITO A AMPLA DEFESA –
PRECEDENTES – AGRAVO INTERNO IMPROVIDO” (STF, RE 969367 AgR / RS, Rel.
Min. Celso de Mello, 2ª T, j. 18/11/2016, v.u.)

Contudo, há precedentes em sentido contrário. Por todos: STF, Habeas Corpus 110.278/RS,
15
DJ 15.08.2013.

No procedimento administrativo disciplinar, é necessária a defesa técnica (advogado)?

R.: Prevalece que sim (ver parte final da súmula 533 do STJ, acima).

STF: Recurso extraordinário. 2. Execução criminal. Progressão de regime. 3. Processo ad-


ministrativo disciplinar para apurar falta grave e determinar a regressão do regime de cum-
primento da pena. Inobservância dos princípios do contraditório e da ampla defesa. 4. Re-
curso conhecido e provido. (...) O STF aprovou o texto da Súmula Vinculante n. 5, que
dispõe: ‘A falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo disciplinar não
ofende a Constituição’. Todavia, esse Enunciado é aplicável apenas em procedimentos de
natureza cível. (STF, RE 398269/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, 2ª T, j. 15/12/2009, v.u.)

Obs.: há precedente no sentido de que, se realizado o procedimento administrativo disciplinar


sem advogado, mas o sentenciado for ouvido posteriormente em audiência de justificação (perante
o juiz) com advogado, está afastada a nulidade.

STF: PENAL, PROCESSUAL PENAL E CONSTITUCIONAL. HABEAS CORPUS SUBSTI-


TUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL. COMPETÊNCIA DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL PARA JULGAR HABEAS CORPUS: CF. ART. 102, I, “D” E “I”. ROL
TAXATIVO. MATÉRIA DE DIREITO ESTRITO. INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA: PARA-
Legislação Penal Especial - Lei de Execução Penal

DOXO. ORGANICIDADE DO DIREITO. PRÁTICA DE FALTA GRAVE DURANTE O CUM-


PRIMENTO DE PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE. INSTAURAÇÃO DE PROCEDI-
MENTO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE DEFESA TÉC-
NICA NO ATO DO INTERROGATÓRIO. NULIDADADE SANÁVEL COM A OITIVA DO
CONDENADO EM AUDIÊNCIA DE JUSTIFICAÇÃO. ORDEM DE HABEAS CORPUS DE-
NEGADA. 1. “A Lei de Execuções Penais não impõe a obrigatoriedade de instauração
do procedimento administrativo disciplinar, sendo, entretanto, imprescindível a realização
de audiência de justificação, para que seja dada a oportunidade ao Paciente do exercício
do contraditório e da ampla defesa”. 2. A oitiva do condenado em audiência de justificação
realizada na presença do defensor e do Ministério Público supre eventual nulidade decor-
rente da ausência ou deficiência de defesa técnica no curso de Procedimento Administra-
tivo Disciplinar instaurado para apurar a prática de fala grave durante o cumprimento da
pena privativa de liberdade. Precedentes: HC 109.536, Primeira Turma, Relatora a Ministra
Cármen Lúcia, DJ de 15.06.12; RHC 109.847, Primeira Turma, Relator o Ministro Dias To-
ffoli, DJ de 06.12.11; HC 112.380, Primeira Turma, Relator o Ministro Dias Toffoli, DJ de
22.06.12. 3. In casu, a) o Juízo da Execução deixou de homologar o PAD sob o fundamento
de ausência de defesa técnica no ato do interrogatório, destacando que a nomeação de
advogado dativo vinculado ao órgão acusador (SUSEP) para atuar no feito violaria os prin-
cípios do contraditório e da ampla defesa; b) A Corte Estadual, no julgamento do agravo
em execução interposto pelo Ministério Público afirmou que o ato do interrogatório realizado
na via administrativa não acarretou qualquer prejuízo à defesa, bem como determinou fosse
realizada audiência de justificação, nos termos do artigo 118, § 2º, da LEP. 4. A competên-
cia originária do Supremo Tribunal Federal para conhecer e julgar habeas corpus está defi-
nida, taxativamente, no artigo 102, inciso I, alíneas “d” e “i”, da Constituição Federal, sendo
certo que os pacientes não estão arrolados em nenhuma das hipóteses sujeitas à jurisdição
desta Corte, por isso que inadmissível o writ substitutivo de recurso ordinário. 5. Outrossim,
no caso sub examine, não há excepcionalidade que justifique a concessão, ex officio, da
ordem. 6. Ordem de habeas corpus denegada. (STF, HC 110278/RS, Rel. Min. Luiz Fux, 1ª 16
T., j. 25/06/2013, v.u.)

Findo o procedimento administrativo disciplinar, podem ocorrer as seguintes hipóteses:

a) Condenado absolvido – não se aplica sanção.

b) Reconhecida infração disciplinar leve ou média – aplicável advertência verbal ou a repre-


ensão, pelo diretor do estabelecimento

c) Reconhecida infração disciplinar grave – aplicável a suspensão ou restrição de direitos ou


isolamento em cela individual. Além disso, o diretor deverá representar ao juízo das execuções pe-
nais para os fins de regressão de regime (art. 118, I), revogação de saídas temporárias (art. 125) e
perda de até 1/3 dos dias remidos (art. 127) (cf. art. 48, p único).

c.1) Tratando-se de prática de fato previsto como crime doloso que ocasione subversão da
ordem ou disciplina internas, o diretor do estabelecimento ou outra autoridade administrativa poderá
elaborar requerimento circunstanciado e encaminhar ao juiz da execução que, após manifestação do
MP e de defesa, prolatará decisão no prazo de 15 dias (art. 54, §§ 1º e 2º).
Legislação Penal Especial - Lei de Execução Penal

5.4. PRESCRIÇÃO DA FALTA DISCIPLINAR

A LEP não prevê o prazo prescricional. Existem 2 correntes:

a) 2 anos. Aplica-se o prazo prescricional da pena de multa, que é o menor prazo de prescri-
ção previsto na lei penal (art. 114, I, do CP), e também, no caso de São Paulo, o prazo previsto no
Regimento Interno da SAP (Resolução n. 144)

b) 3 anos. É o menor prazo prescricional de pena privativa de liberdade previsto na lei penal
(art. 109, VI, do CP). Se o fato ocorreu antes da vigência da Lei 12.234/10 (que modificou o art. 109,
VI, do CP), o prazo é de 2 anos. É a posição majoritária, adotada pela STJ.

STJ : AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL. FALTA GRAVE.


APURAÇÃO. DETERMINAÇÃO DE INSTAURAÇÃO DO PROCESSO ADMINISTRATIVO
DISCIPLINAR. PRESCRIÇÃO. APLICAÇÃO ANALÓGICA DO ART. 109 DO CP. NÃO OCOR-
RÊNCIA. AGRAVO IMPROVIDO. 1. A decisão agravada deve ser mantida por seus próprios
fundamentos, porquanto, nos termos da jurisprudência pacífica do STJ, a prescrição das
faltas disciplinares de natureza grave, em virtude da inexistência de legislação específica,
regula-se, por analogia, pelo menor dos prazos previstos no art. 109 do Código Penal, qual
seja, 3 anos, nos termos do disposto na Lei n. 12.234/2010, não se aplicando, pois, prazo
distinto previsto em norma local, por invasão da competência reservada à lei federal. 2.
Agravo regimental improvido. (STJ, AgRg no HC 365687 / ES, Rel. Min. Nefi Cordeiro, 6ª
T., j. 16/03/2017, v.u.)
17

5.5. REFLEXOS DA FALTA GRAVE NOS LAPSOS TEMPORAIS

A falta grave NÃO INTERROMPE o prazo para obtenção de LIVRA-


Súmula 441 do STJ
MENTO CONDICIONAL

A prática de falta grave INTERROMPE a contagem do prazo para a PRO-


GRESSÃO DE REGIME de cumprimento de pena, o qual se reinicia a
Súmula 534 do STJ
partir do cometimento dessa infração.
STJ. 3ª Seção. Aprovada em 10/06/2015, Dje 15/06/2015.

A prática de falta grave NÃO INTERROMPE o prazo para fim de COMU-


TAÇÃO DE PENA OU INDULTO.*
Súmula 535 do STJ STJ. 3ª Seção. Aprovada em 10/06/2015, Dje 15/06/2015.
* Deve-se observar o cumprimento dos requisitos previstos no decreto
presidencial pelo qual foram instituídos.

6. REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO


Legislação Penal Especial - Lei de Execução Penal

Introduzido pela Lei 10.792/2003. Não é um regime novo de cumprimento de pena, é uma
forma especial de cumprimento de pena em regime fechado. Há divergência quanto à sua constitu-
cionalidade, por ofensa à dignidade da pessoa humana e à humanidade.

6.1. HIPÓTESES DE APLICAÇÃO (ART. 52, CAPUT, §§ 1º E 2º)

a) Aos presos provisórios ou condenados definitivos, em caso de prática de fato defi-


nido como crime doloso, quando ocasione subversão da ordem ou disciplina internas (art. 52,
caput, da LEP).

Obs.: Não basta a prática de falta grave consistente em fato definido como crime doloso. É
preciso que a conduta ocasione subversão da ordem ou disciplina internas.

b) Aos presos provisórios ou condenados definitivos, nacionais ou estrangeiros, que


apresentem alto risco para a ordem e a segurança do estabelecimento penal ou da sociedade
(rebeliões, disputa entre facções etc.)

c) Aos presos provisórios ou condenados definitivos sob os quais recaiam fundadas


suspeitas de envolvimento ou participação, a qualquer título, em organizações criminosas,
quadrilha ou bando (leia-se, associação criminosa  art. 288 do CP).
18

Obs.: A lei pressupõe fundada suspeita, não prova cabal ou condenação ou transitada em
julgado.

Associação criminosa (art. 288 do Organização criminosa


CP) (art. 1º da Lei 12.850/2013

Associação de 4 (quatro) ou mais


pessoas estruturalmente orde-
Art. 288. Associarem-se 3 (três) nada e caracterizada pela divisão
ou mais pessoas, para o fim es- de tarefas, ainda que informal-
pecífico de cometer crimes: mente, com objetivo de obter, di-
reta ou indiretamente, vantagem
de qualquer natureza, mediante a
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 prática de infrações penais cujas
(três) anos. penas máximas sejam superiores
a 4 (quatro) anos, ou que sejam
Parágrafo único. A pena au- de caráter transnacional.
menta-se até a metade se a as-
sociação é armada ou se houver
a participação de criança ou ado-
lescente.
Legislação Penal Especial - Lei de Execução Penal

6.2. CARACTERÍSTICAS DO REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO (ART. 52, CAPUT,


DA LEP)

I. Duração máxima de 360 dias, sem prejuízo da repetição da sanção por nova falta
grave de mesma espécie, até o limite de 1/6 da pena aplicada (art. 52, I).

Em princípio, a duração máxima do RDD é 360 dias. NÃO É 365!

Se houver o cometimento de NOVA falta grave de mesma espécie, o RDD poderá ser reno-
vado por outros 360 dias.

Contudo, o RDD está limitado a 1/6 da pena aplicada. Se, por exemplo, o sujeito foi conde-
nado a 8 anos (96 meses), o tempo total de RDD nunca poderá superar 1/6 disso, que equivale a 16
meses. Então, se ele cumpriu 360 dias de RDD, a repetição não poderá durar mais de 4 meses e 5
dias (afinal, 360 dias + 4 meses e 5 dias = 16 meses).

II. Recolhimento em cela individual (art. 52, II).

III. Visitas semanais de duas pessoas, sem contar as crianças, com duração de duas
horas (art. 52, III). 19
A ressalva “sem contar crianças” quer excluí-las das visitas ou apenas não as computar no
limite máximo de dois visitantes?

Sabe-se que é fundamental ao regime penitenciário a regra de que o preso não deve romper
seus contatos com o mundo exterior e que não sejam debilitadas as relações que o une aos familiares
e amigos. Não há dúvida de que os laços mantidos principalmente com a família são essencialmente
benéficos para o preso, porque o levam a sentir que, mantendo contatos, embora com limitações,
com as pessoas que se encontram fora do presídio, não foi excluído da comunidade.

Dentro desse espírito, mesmo quando incluído no regime mais drástico de cumprimento de
pena, deve ser garantido ao interno faltoso o direito de relacionar-se com seus entes queridos.

Contudo, considerando os princípios basilares traçados no Estatuto da Criança e do Adoles-


cente (Lei nº 8.069/90) – princípios da prevenção geral e especial do atendimento integral à criança;
garantia prioritária; proteção estatal; prevalência dos interesses do menor; indisponibilidade dos in-
teresses do menor – a proibição de visitas de crianças parece mais correta.
Legislação Penal Especial - Lei de Execução Penal

Em 2014 foi aprovada a Lei 12.692, que alterou o Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA), assegurando a convivência da criança e do adolescente com a mãe ou o pai privado de
liberdade, por meio de visitas periódicas promovidas pelo responsável, independentemente de auto-
rização judicial (art. 19, § 4º). Pelas razões acima expostas, pode-se impedir que tal disposição seja
aplicada nos casos em que o apenado esteja sob o regime do RDD.

IV. Saída da cela por duas horas diárias para banho de sol (art. 52, IV).

7. RECOMPENSAS

56. São recompensas:

I - o elogio;

II - a concessão de regalias.

Parágrafo único. A legislação local e os regulamentos estabelecerão a natureza e a forma


de concessão de regalias.

a) elogio: será feito verbalmente e anotado no prontuário, servindo para, futuramente, atestar
o comportamento do preso. 20
b) regalias: geralmente noticiadas de forma pejorativa, as regalias consistem, na realidade,
em privilégios para presos merecedores, aplicando-se de modo transparente, com critérios pré-esta-
belecidos, importante meio de incentivo ao bom comportamento carcerário, disciplina e trabalho.

8. INÍCIO DA EXECUÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE

8.1. FIXAÇÃO DE COMPETÊNCIA

Competente o juiz responsável pelo estabelecimento penal onde o sentenciado está preso:

Se preso em presidio estadual – competência Justiça Estadual

Se preso em presidio federal – competência Justiça Federal

Compete ao juízo das execuções penais do estado a execução das pe-


Súmula 192 do STJ nas impostas a sentenciados pela justiça federal, militar ou eleitoral,
quando recolhidos a estabelecimentos sujeitos a administração estadual.
Legislação Penal Especial - Lei de Execução Penal

8.2. EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE

Sabendo que estão assegurados aos presos cautelares (prisão temporária e preventiva,
abrangendo, por óbvio, os condenados provisórios) os mesmos direitos dos condenados definitivos
(no que couber), conclui-se ser possível execução penal provisória (antecipando-se benefícios de
execução penal) na hipótese de condenado em 1º grau, preso, aguardando julgamento do seu re-
curso.

Ex.: Preso cautelarmente há 3 anos, “A” é condenado a 5 anos de reclusão e recorre. Não
seria razoável aguardar o julgamento de todos os recursos para lhe conceder os benefícios da exe-
cução.

Havendo sentença penal condenatória transitada em julgado  Guia de recolhimento defi-


nitiva

Havendo sentença penal condenatória sujeita a recurso  Guia de recolhimento provisória.

Admite-se a progressão de regime de cumprimento da pena ou a


Súmula 716 do STF aplicação imediata de regime menos severo nela determinada, antes
21
do trânsito em julgado da sentença condenatória.

Não impede a progressão de regime de execução da pena, fixada


Súmula 717 do STF em sentença não transitada em julgado, o fato de o réu se encontrar
em prisão especial.

 Resolução 113 do CNJ , de 20 de abril de 2010 – também permite a execução provisória.

8.2.1. Penas restritivas de direitos

O art. 147 da LEP exige o trânsito em julgado da sentença que aplicou a pena restritiva de
direitos para que haja a execução. Essa, aliás, é a posição atualmente adotada pelo STF e pelo STJ.

Na pena privativa de liberdade, como o acusado está em prisão cautelar, faz sentido que se
permita a execução provisória, para que ele possa receber os benefícios legais, como a progressão
de regime. Já na pena restritiva de direito, como é uma situação na qual o condenado está em liber-
dade, deve-se aguardar o trânsito em julgado para o início do cumprimento da pena.

8.3. EXECUÇÃO PROVISÓRIA E CONDENAÇÃO EM 2ª INSTÂNCIA


Legislação Penal Especial - Lei de Execução Penal

Imagine-se que determinado sujeito responde solto ao processo. É condenado pelo juiz de 1ª
instância, por exemplo, a 6 anos em regime inicial fechado e recorre em liberdade. O Tribunal, ao
julgar a apelação, confirma essa condenação. Esse sujeito, agora condenado em 2ª instancia, re-
corre ao STJ ou ao STF.

Após a condenação em 2ª. instância, continuará em liberdade aguardando o resultado dos


recursos constitucionais? Em outras palavras, inicia-se a execução provisória com a condenação em
2ª instância ou é preciso aguardar o trânsito em julgado?

No STF, houve 3 momentos:

Entendia o STF que a presunção de inocência não afastava a possibili-


Até 2009
dade de execução provisória com a condenação em 2ª instância.

O STF passou a condicionar a execução da pena ao trânsito em julgado


2009 a 2016 da condenação, embora ressalvando a possibilidade de prisão preven-
tiva. (HC 84078/MG, Rel. Min. Eros Grau, j. 05/02/2009)

STF retomou a 1ª posição, no sentido de que “a execução provisória de


22
acórdão penal condenatório proferido em grau de apelação, ainda que
sujeito a recurso especial ou extraordinário, não viola o princípio consti-
2016
tucional da presunção de inocência” (HC 126292, Rel. Teori Zavascki,
pleno, j. 17/02/2016, maioria de votos). Essa decisão foi posteriormente
confirmada no julgamento de medidas cautelares nas ADC 43 e 44.

Em suma, entendeu-se que, havendo a condenação em 2ª instância, inicia-se a execução da


pena, ainda que pendente o julgamento de recursos constitucionais.

Confira, em breve síntese, os fundamentos apresentados pelos ministros:

 Esgotamento da matéria fática ocorrido com o julgamento em 2ª instância

 Sentido dinâmico do princípio da presunção de inocência, que se inverte com a conde-


nação em 2ª instância.

 Seletividade do sistema penal é exacerbada quando se aguarda o julgamento dos recur-


sos constitucionais para iniciar a execução das penas, pois normalmente apenas os acusados com
Legislação Penal Especial - Lei de Execução Penal

mais recursos podem se valer deles. Os mais pobres, sem condições de recorrerem ao STF e ao
STJ, são presos antes.

 Direito comparado, sendo o Brasil talvez o único país do mundo onde o cumprimento de
uma decisão ficava no aguardo de referente da Corte Suprema.

 Recursos protelatórios são fomentados ao se condicionar a prisão ao trânsito em julgado.


As partes recorrem buscando postergar a prisão e conseguir a prescrição.

 Estatísticas de 2009 a 2016 indicariam que uma ínfima quantidade de Recursos Extraor-
dinários e Especiais teriam sucesso a favor da defesa.

8.3.1. Questões relevantes

Desnecessidade de coincidência de decisões

Para o início da execução, não é preciso que o juiz de primeiro grau tenha condenado e a 2ª
instância confirme a condenação. Ainda que o juiz tenha absolvido o sujeito e o Tribunal, dando
provimento a recurso da acusação, venha a condená-lo, terá início a execução provisória.
23
Flagrante ilegalidade

O STJ tem decidido que “a interposição de RE ou agravo em RE não tem o condão de obstar
a execução, salvo flagrante ilegalidade” (HC 375.675, 6ªT., rel. Min. Maria Thereza, 26/05/2017; HC
406015, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, Laurita Vaz, ). A contrario sensu, no caso de fla-
grante ilegalidade (ex.: fato atípico), é possível obstar a execução.

Embargos de declaração e embargos infringentes

Obstam o início da execução. Logo, se o sujeito foi condenado em 2ª instância, mas foram
opostos embargos de declaração ou infringentes, não se iniciará a execução, com a expedição de
mandado de prisão, enquanto não forem julgados.

STJ: “(...) Contudo, verifica-se que foram opostos embargos de declaração perante o Tri-
bunal de origem, pendentes de julgamento. Assim, ante a não definitividade da condenação
no âmbito da jurisdição ordinária, a expedição de mandado de prisão para início de cumpri-
mento da pena caracteriza constrangimento ilegal. Habeas corpus parcialmente concedido
para suspender a execução provisória da pena até o esgotamento da jurisdição ordinária”
(STJ, HC 402846 / SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, 5ª T., j. 12/09/2017, DJ 21/09/2017, v.u.)
Legislação Penal Especial - Lei de Execução Penal

STJ: Na espécie, todavia, embora eventuais recursos especial e extraordinário não sejam
dotados de efeito suspensivo, a jurisdição das instâncias ordinárias ainda não se encerrou.
Contra o julgamento do recurso de apelação foi oposto, no caso, embargos declaratórios
com efeitos infringentes que, segundo andamento processual obtido no endereço eletrônico
do Tribunal de origem, pende de julgamento. Desse modo, diante da ausência de exauri-
mento no julgamento nas instâncias ordinárias, revela-se prematuro o início da execução
provisória da pena. Habeas corpus concedido para garantir que o paciente aguarde em
liberdade o exaurimento das instâncias ordinárias (STJ, HC 406.015, Rel. Min. Reynaldo
Soares da Fonseca, j. 22/08/2017, DJ 31/08/2017, v.u.)

Competência originária

Imagine que o agente tem foro especial e é julgado diretamente pelas Cortes Superiores
(condenação única proferida diretamente por instância superior). Terá início a execução provisória
da pena?

Sim! Confira:

STF: “(...) impende referir não haver dúvidas quanto à possibilidade de execução provisória
da pena após a condenação pelas instâncias ordinárias mesmo quando tal condenação,
em virtude da competência especial por prerrogativa de foro, decorrer de decisão única
exarada pelo órgão colegiado competente” (AG .REG. NO HABEAS CORPUS 140.213, 1ª
T., Rel. Min. Luiz Fux, j. 02/02/2017 m.v.).
24
STJ: A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que é possível a execução pro-
visória da pena aos casos de ação penal de competência originária do Tribunal (AgRg no
HC 380859 / AP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, 5ª T., j. 14/03/2017, v.u.)

Júri

Há precedentes no sentido de que, sendo o réu condenado pelo Tribunal do Júri, inicia-se a
execução da pena.

STF: “A prisão de réu condenado por decisão do Tribunal do Júri, ainda que sujeita a re-
curso, não viola o princípio constitucional da presunção de inocência ou não culpabilidade”
(HC 118.770, rel. min. Marco Aurélio, redator do acórdão min. Luís Roberto Barroso, j.
07/03/2017)

Penas restritivas de direitos

E execução provisória em razão de condenação em 2ª instância também abrange as penas


restritivas de direitos?

O tema é controvertido. O STF tem decidido que sim e o STJ tem decidido que não.
Legislação Penal Especial - Lei de Execução Penal

STF: “A execução provisória de pena restritiva de direitos imposta em condenação de se-


gunda instância, ainda que pendente o efetivo trânsito em julgado do processo, não ofende
o princípio constitucional da presunção de inocência, conforme decidido por esta Corte Su-
prema no julgamento das liminares nas ADC nºs 43 e 44, no HC nº 126.292/SP e no ARE
nº 964.246, este com repercussão geral reconhecida – Tema nº 925. Precedentes: HC
135.347-AgR, Primeira Turma, Rel. Min. Edson Fachin, DJe de 17/11/2016, e ARE 737.305-
AgR, Segunda Turma, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJe de 10/8/2016” (Ag. Reg no HC 141978
Agr/SP, Rel. Min. Luiz Fux, 1ª T., j. 23/06/2017, v.u.).

STJ: “A execução da pena restritiva de direitos só pode ser iniciada após o trânsito em
julgado da condenação” (STJ, ERESP 1.619.087, 3ª Seção, Rel. Maria Thereza de Assis
Moura, j. 14/06/2017, m.v.)

8.4. PROGRESSÃO DE REGIME

Requisito objetivo (lapso temporal) + requisito subjetivo (bom comportamento)

8.4.1. Requisito objetivo (lapsos)

Para crimes não hediondos:

 1/6

E para os crimes hediondos? 25


 O art. 2º, 1º, da Lei 8.072/1990 estabelecia que “a pena por crime hediondo será cumprida
em regime integralmente fechado.

 Em fevereiro de 2006, no HC 82.959, o STF declarou a inconstitucionalidade do dispositivo,


sob o argumento de ofensa à individualização executória da pena. Assim, passou-se a permitir a
progressão de regime, com o lapso de 1/6.

 Foi então editada a Lei 11.464, de 29.03.2007, que criou lapsos de progressão especiais
para os crimes hediondos:

 2/5 se primário

 3/5 se reincidente

Diante da decisão do STF que acarretou a progressão para hediondos e equiparados após o
cumprimento de 1/6 da pena, a Lei 11.464/07 é mais gravosa ao condenado, razão por que não se
aplica retroativamente. Para os crimes hediondos e equiparados praticados antes dessa lei, aplica-
se o lapso de 1/6; para crimes posteriores, aplicam-se os lapsos de 2/5 e 3/5.
Legislação Penal Especial - Lei de Execução Penal

Aliás, nesse sentido são a súmula vinculante 26 e a súmula 471 do STJ:

Para efeito de progressão de regime no cumprimento de pena por crime


hediondo, ou equiparado, o juízo da execução observará a inconstituci-
Súmula vinculante onalidade do art. 2º da Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990, sem prejuízo
26 (STF) de avaliar se o condenado preenche, ou não, os requisitos objetivos e
subjetivos do benefício, podendo determinar, para tal fim, de modo fun-
damentado, a realização de exame criminológico.

Os condenados por crimes hediondos ou assemelhados cometidos an-


tes da vigência da Lei n. 11.464/2007 sujeitam-se ao disposto no art. 112
Súmula 471 do STJ
da Lei n. 7.210/1984 (Lei de Execução Penal) para a progressão de re-
gime prisional.

De quando se conta o lapso? Da data em que o sujeito preenche os requisitos da lei,


da data em que o juiz das execuções concede o benefício ou da data em que o sujeito efetiva-
mente entra no regime?

Exemplo: “A” estava no regime fechado e cumpriu os requisitos para a progressão ao regime 26
semiaberto no dia 1ª de janeiro. Contudo, houve atraso na concessão desse benefício, de modo que
o juiz somente concedeu a progressão ao semiaberto no dia 1º de março. A vaga demorou a aparecer
e o “A” somente foi transferido para o regime semiaberto em 1ª maio.

A 2ª T do STF, no HC 115.254, de Rel. Min Gilmar Mendes, DJe 26/02/2016, entendeu que o
lapso se conta do momento em que o sentenciado preenche os requisitos para obtenção do
benefício. Ou seja, a decisão que defere a progressão de regime tem natureza declaratória, não
constitutiva.

As 2 turmas do STJ, alinhando-se com a jurisprudência do STF, passaram a entender que o


marco inicial é o momento em que o sentenciado preenche os requisitos legais, não a data em que
o juiz concede o benefício, nem a data em que o sentenciado efetivamente ingressa no regime.

Observação: Art. 33, § 4o O condenado por crime contra a administração pública terá a
progressão de regime do cumprimento da pena condicionada à reparação do dano que causou,
ou à devolução do produto do ilícito praticado, com os acréscimos legais.

8.4.2. Requisito Subjetivo


Legislação Penal Especial - Lei de Execução Penal

Bom comportamento carcerário, comprovado pelo diretor do estabelecimento.

Antes da Lei 10.792/2003, que alterou diversos dispositivos da Lei de Execução Penal, dis-
punha o art. 112, parágrafo único, que a decisão judicial sobre o pedido de progressão de regime
feito pelo condenado deveria ser precedido do exame criminológico.

Com o advento dessa lei, a regra passou a ser de que não se exige o exame criminológico.
Contudo, os tribunais superiores firmaram a orientação de que o juiz pode determiná-lo, desde que
fundamentadamente.

Nesse sentido é súmula vinculante 26 (ver acima) e também a 439 do STJ:

Admite-se o exame criminológico pelas peculiaridades do caso, desde


Súmula 439 do STJ
que em decisão motivada.

Se o réu preenche os benefícios para progredir do regime fechado para o semiaberto,


e não há vagas no regime semiaberto, o que ocorre?

Havia posição no sentido de que o sentenciado deveria aguardar a vaga no regime fechado.
Porém, o STF consolidou o entendimento de que, na ausência de vagas de regime semiaberto, o 27
sentenciado não pode permanecer em regime mais gravoso. Aliás, esse entendimento hoje está
cristalizado na Súmula Vinculante 56 do STF:

A falta de estabelecimento penal adequado não autoriza a manutenção


Súmula vinculante 56
do condenado em regime prisional mais gravoso, devendo-se observar,
(STF)
nessa hipótese, os parâmetros fixados no RE 641.320/RS

Havendo falta de vagas, deve-se determinar:

(i) saída antecipada de sentenciado no regime com falta de vagas.

Ex.: Paulo preenche os requisitos para progredir para o regime semiaberto, mas não há vaga.
Por questão de justiça, deve-se deferir a saída antecipada do preso que já está no semiaberto e mais
perto de progredir para o aberto e de cumprir a pena. Com isso, abre-se uma vaga e Paulo poderá
progredir de regime.

(ii) liberdade eletronicamente monitorada ao sentenciado que sai antecipadamente ou


é posto em prisão domiciliar por falta de vagas
Legislação Penal Especial - Lei de Execução Penal

(iii) cumprimento de penas restritivas de direito e/ou estudo ao sentenciado que pro-
gride ao regime aberto

 Até que sejam estruturadas as medidas alternativas propostas, poderá ser deferida
a prisão domiciliar ao sentenciado (STF. Plenário. RE 641320/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, jul-
gado em 11/5/2016 (repercussão geral) (Info 825).

É possível o cumprimento de pena em regime semiaberto em estabelecimento diverso


da colônia agrícola ou industrial? Ex.: ala da penitenciária separada dos presos em regime fe-
chado.

Sim, desde que se trate de estabelecimento adequado, ficando assegurados os direitos com-
patíveis com o regime mais brando. Nesse sentido:

STF: “RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL PENAL. PROGRESSÃO DE


REGIME: POSSIBILIDADE DE CUMPRIMENTO DAS PENAS DO REGIME SEMIABERTO
EM ESTABELECIMENTO QUE NÃO SE CARACTERIZA COMO COLÔNIA DE TRABA-
LHO. AUSÊNCIA DE CONTRARIEDADE AO VERBETE VINCULANTE 56 DESTE SU-
PREMO TRIBUNAL. RECLAMAÇÃO JULGADA IMPROCEDENTE. I – É certo que a falta
de estabelecimento penal adequado não autoriza a manutenção do condenado em regime
prisional mais gravoso, entretanto, não há que se descartar a possibilidade de cumprimento
das penas do regime semiaberto em estabelecimento que não se caracteriza como colônia 28
de trabalho, desde que respeitados os parâmetros estipulados por esta Suprema Corte. II -
Não há que se falar em desrespeito ao enunciado da Súmula Vinculante 56, pois a decisão
combatida harmoniza-se com a orientação jurisprudencial desta Suprema Corte. III – Re-
clamação à qual se julga improcedente” (Rcl 25123 / SC, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,
2ª T., j. 18/04/2017, v.u.).

STJ: “(...) Com efeito, consolidou-se nesta Corte Superior de Justiça entendimento de que,
se o apenado encontra-se alojado em pavilhão independente e autônomo de estabeleci-
mento destinado ao regime fechado, sem ligação física com o restante do presídio, pres-
tando trabalho externo e usufruindo de saídas temporárias, segundo as regras do regime
semiaberto, não há constrangimento ilegal a ser sanado, uma vez que o reeducando não
se encontra cumprindo pena em regime mais rigoroso do que o devido” (HC 402093 / SC,
Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, 5ª T., j. 17/10/17, v.u.).

Progressão per saltum – É a progressão do regime fechado diretamente ao aberto. É ve-


dada, nos termos da súmula 491 do STJ:

Súmula 491 do STJ É inadmissível a chamada progressão per saltum de regime prisional.

8.5. REGRESSÃO DE REGIME

a) Prática de fato definitivo como crime doloso ou falta grave


Legislação Penal Especial - Lei de Execução Penal

A lei não exige condenação do indivíduo para que esteja caracterizada a falta grave. Basta,
com efeito, a prática do fato definido como crime doloso, sendo isso o bastante para ensejar a apli-
cação de sanção disciplinar ao sentenciado.

O reconhecimento de falta grave decorrente do cometimento de fato


definido como crime doloso no cumprimento da pena prescinde do
Súmula 526 do STJ
trânsito em julgado de sentença penal condenatória no processo penal
instaurado para apuração do fato.

 A regressão nesta hipótese requer prévia oitiva do condenado – art. 118, 2º

b) Condenação, por crime anterior, cuja pena, somada ao restante da pena em execu-
ção, torne incabível o regime

Por exemplo: o condenado está no regime semiaberto e faltam 3 anos de pena a cumprir.
Sobrevém uma condenação a 6 anos de pena em regime inicial fechado ou semiaberto. 6 + 3 = 9. O
regime resultante da soma é o fechado - Art. 33, parágrafo 2º, alínea “a”.

O condenado iniciou o cumprimento da pena em semiaberto e pratica falta grave. Pode


29
ser regredido para o fechado?

2 correntes:

a) Sim (majoritária) - STF, HC nº 93.761/RS, rel. Ministro Eros Grau, j. 05.8.2008

b) Não, pois ofende a coisa julgada.

9. LIVRAMENTO CONDICIONAL

9.1. CONCEITO

É instituto destinado a permitir a antecipação da liberdade do condenado, quando preenchidos


os requisitos legais, mediante o cumprimento de certas condições.

9.2. REQUISITOS OBJETIVOS

a) Condenado a pena privativa de liberdade igual ou superior a 2 anos

b) Tenha reparado, salvo efetiva impossibilidade de fazê-lo, o dano causado pela infração
Legislação Penal Especial - Lei de Execução Penal

c) Cumprimento de lapso temporal:

 Para crimes não hediondos:

 mais de 1/3 da pena, se não for reincidente em crime doloso e tiver bons an-
tecedentes (art. 83, I, CP)

 mais de 1/2 da pena, se for reincidente em crime doloso (art. 83, II, CP)

 Para crimes hediondos e equiparados (Tortura, Tráfico de drogas* e Terrorismo), bem


como Tráfico de pessoas:

 mais de 2/3 da pena, se o apenado não for reincidente específico em crime


dessa natureza (art. 83, V, CP)

* O art. 44 da Lei 11.343/06 (Lei de Drogas) estabelece que o livramento condicional


se dará após o cumprimento de dois terços da pena, vedada sua concessão ao reincidente especí-
fico, aos “crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 a 37 desta Lei (...)”. Portanto, o lapso
diferenciado é aplicável ao crime de associação para o tráfico (art. 35), embora este crime não
seja considerado hediondo.
30

Obs.: Art. 84 - As penas que correspondem a infrações diversas devem somar-se para efeito
do livramento.

Obs2.: O livramento condicional é independente da progressão de regime. O condenado não


precisa progredir para o semiaberto para pedir o livramento. Preenchidos os requisitos legais, poderá
obter o benefício, mesmo estando em regime fechado.

A prática de falta grave interrompe o lapso para obtenção de livramento condicional?

Não!

Prática de falta grave NÃO INTERROMPE o prazo para a obtenção


Súmula 441 do STJ
de LIVRAMENTO CONDICIONAL

9.3. REQUISITOS SUBJETIVOS

 Comprovado comportamento satisfatório durante a execução da pena


Legislação Penal Especial - Lei de Execução Penal

 Bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído

 Aptidão para prover à própria subsistência mediante trabalho honesto

 Para o condenado por crime doloso, cometido com violência ou grave ameaça à pes-
soa, a concessão do livramento ficará também subordinada à constatação de condições pessoais
que façam presumir que o liberado não voltará a delinquir.

9.4. CONDIÇÕES

A sentença especificará as condições a que fica subordinado o livramento (art. 85).

9.4.1. Obrigatórias ou legais (art. 132, § 1o, LEP)

a) obter ocupação lícita, dentro de prazo razoável se for apto para o trabalho

b) comunicar periodicamente ao Juiz sua ocupação

c) não mudar do território da comarca do Juízo da execução, sem prévia autorização


deste
31
9.4.2. Facultativas ou judiciais (art. 132, § 2o, LEP)

Poderão ainda ser impostas ao liberado condicional, entre outras obrigações, as seguintes:

a) não mudar de residência sem comunicação ao Juiz e à autoridade incumbida da ob-


servação cautelar e de proteção

b) recolher-se à habitação em hora fixada

c) não frequentar determinados lugares

9.5. INÍCIO E EXECUÇÃO

O livramento condicional se inicia com a audiência admonitória, na qual o sentenciado co-


nhecerá as condições do benefício e, concordando, será expedida a carta de livramento.

Obs.: até o advento da Lei 10.792/2003, o conselho penitenciário emitia parecer sobre livra-
mento condicional, indulto e comutação de pena (art. 70, I, da LEP).
Legislação Penal Especial - Lei de Execução Penal

Com o advento dessa lei, esse dispositivo foi modificado. Agora, o Conselho Penitenciário
emite parecer sobre indulto e comutação de pena, excetuada a hipótese de pedido de indulto com
base no estado de saúde do preso; (Lei 10.792/2003). Ou seja, em se tratando de livramento condi-
cional e indulto com base no estado de saúde do preso, não é mais necessário o parecer do conselho
penitenciário. Confira:

Art. 70. Incumbe ao Conselho Penitenciário:

I - emitir parecer sobre livramento condicional, indulto e comutação de pena;

I - emitir parecer sobre indulto e comutação de pena, excetuada a hipótese de pedido de


indulto com base no estado de saúde do preso;

Cerimônia de livramento  ato solene, previsto no art. 137 da LEP:

Art. 137. A cerimônia do livramento condicional será realizada solenemente no dia marcado
pelo Presidente do Conselho Penitenciário, no estabelecimento onde está sendo cumprida
a pena, observando-se o seguinte:

I - a sentença será lida ao liberando, na presença dos demais condenados, pelo Presidente
do Conselho Penitenciário ou membro por ele designado, ou, na falta, pelo Juiz;

II - a autoridade administrativa chamará a atenção do liberando para as condições impostas


32
na sentença de livramento;

III - o liberando declarará se aceita as condições.

§ 1º De tudo em livro próprio, será lavrado termo subscrito por quem presidir a cerimônia e
pelo liberando, ou alguém a seu rogo, se não souber ou não puder escrever.

§ 2º Cópia desse termo deverá ser remetida ao Juiz da execução.

9.6. SUSPENSÃO (CAUTELAR) DO LIVRAMENTO CONDICIONAL

LEP, art. 145. Praticada pelo liberado outra infração penal, o Juiz poderá ordenar a sua
prisão, ouvidos o Conselho Penitenciário e o Ministério Público, suspendendo o curso do
livramento condicional, cuja revogação, entretanto, ficará dependendo da decisão final.

Uma das causas que pode gerar a revogação do livramento condicional é a condenação do
liberado por sentença irrecorrível em razão da prática de outro crime (essa revogação pode ser obri-
gatória ou facultativa, conforme estudaremos à frente). Para a revogação, exige-se o trânsito em
julgado da condenação penal.
Legislação Penal Especial - Lei de Execução Penal

Enquanto não há o trânsito em julgado dessa outra condenação, o juiz da execução pode
suspender o livramento condicional. É uma medida de natureza cautelar, até que haja a decisão
final sobre o outro crime. A revogação do livramento apenas ocorrerá se houver o trânsito em julgado
daquela condenação.

9.7. PRORROGAÇÃO DO LIVRAMENTO CONDICIONAL

Art. 89 - O juiz não poderá declarar extinta a pena, enquanto não passar em julgado a
sentença em processo a que responde o liberado, por crime cometido na vigência do livra-
mento.

Se o liberado vier a praticar uma infração penal no curso do livramento condicional, o juiz não
poderá declarar extinta e pena privativa de liberdade enquanto não houver o trânsito em julgado da
sentença desse outro crime.

Se a sentença for condenatória, o livramento condicional será revogado, não se computando


como cumprimento de pena o tempo em que o liberado permaneceu condicionalmente solto.

Se a sentença for absolutória, o tempo de liberdade condicional será computado na pena.

A prorrogação do período de prova exige 2 requisitos:


33

- Prática de crime – É o que prevê o art. 89. O crime pode ser doloso ou culposo. Não haverá
prorrogação se tiver sido praticada contravenção penal durante o período de prova.

- Durante a vigência do livramento condicional – Se o crime for anterior ao livramento, é


possível o cômputo na pena do tempo em que o liberado esteve solto. Logo, não haveria razão para
prorrogar o livramento, já que a pena privativa de liberdade estaria cumprida.

Essa prorrogação do período de prova é automática ou exige decisão judicial?

Há 2 posições:

- A prorrogação é automática, ocorrendo com o mero recebimento de denúncia ou queixa.

- A prorrogação não é automática, exigindo decisão judicial. É a corrente que prevalece


nos tribunais superiores. O STJ editou a súmula 617 a esse respeito:
Legislação Penal Especial - Lei de Execução Penal

A ausência de suspensão ou revogação do livramento condicional antes do tér-


mino do período de prova enseja a extinção da punibilidade pelo integral cum-
Súmula 617 do STJ
primento da pena. (Súmula 617, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 26/09/2018,
DJe 01/10/2018)

Durante a prorrogação do período de prova, não se aplicam as condições do livramento con-


dicional.

9.8. REVOGAÇÃO DO LIVRAMENTO

9.8.1. Revogação obrigatória (art. 86 do CP)

a) Se o liberado vem a ser condenado a pena privativa de liberdade, em sentença irre-


corrível, por crime cometido durante a vigência do benefício.

Se a pena imposta for somente a de multa ou restritiva de direitos, a revogação da liberdade


condicional será facultativa.

Aqui o condenado quebrou a confiança estatal. Foi liberado e praticou um crime. As conse-
quências são mais graves: 34
Consequências

 Não se computa como pena cumprida o período de prova.

 Não poderá ser concedido novo livramento em relação à mesma pena.

 É vedada a soma do restante da pena aplicada à nova pena, para fins de concessão
de novo livramento.

b) Se o liberado vem a ser condenado a pena privativa de liberdade, em sentença irre-


corrível, por crime anterior, observado o disposto no art. 84 deste Código* (art. 84 – “As penas
que correspondem a infrações diversas devem somar-se para efeito do livramento”).

Ao contrário da hipótese anterior, aqui o liberado não quebrou a confiança estatal. Ele foi
liberado e sobreveio condenação definitiva por crime anterior ao benefício.

* A revogação somente ocorrerá se a pena recebida, somada à que permitiu o livramento,


tornar inadmissível o benefício. Ex.: réu condenado a 10 anos, cumpriu 4 anos e recebe o livramento
condicional. Após 1 ano de período de prova, faltando, portanto, 5 anos para extinção da pena, é
Legislação Penal Especial - Lei de Execução Penal

condenado a 20 anos por crime cometido antes do benefício. Somando o que estava a cumprir (5
anos) com essa nova pena (20 anos), tem-se a pena total de 25 anos. Como o sujeito cumpriu apenas
5 anos (4 anos de prisão + 1 ano de livramento condicional), não é possível manter o livramento.

Consequências

 O período de prova é computado como pena cumprida.

 Admite-se a concessão de novo livramento condicional em relação à mesma pena

9.8.2. Revogação facultativa (art. 87 do CP)

O juiz poderá, também, revogar o livramento, se o liberado deixar de cumprir qualquer das
obrigações constantes da sentença, ou for irrecorrivelmente condenado, por crime ou contra-
venção, a pena que não seja privativa de liberdade.

Temos duas hipóteses:

- Descumprimento de qualquer das obrigações constantes da decisão concessiva do


livramento condicional (art. 87, 1ª parte, do CP).
35
Consequências

- O tempo em que esteve solto o executado não será computado como cumprimento
de pena.

- Vedada a concessão de novo livramento em relação à mesma pena.

- Irrecorrivelmente condenado, por crime ou contravenção, a pena que não seja priva-
tiva de liberdade.

As consequências são diversas de acordo com o momento em que a infração penal é prati-
cada:

- Condenação por fato praticado durante a vigência do livramento condicional - O tempo


em que esteve solto não será computado como cumprimento de pena. É vedada a concessão de
novo livramento em relação à mesma pena.
Legislação Penal Especial - Lei de Execução Penal

- Condenação por fato praticado anteriormente ao livramento condicional - O tempo em


que esteve solto será computado como cumprimento de pena. Admite-se a concessão de novo livra-
mento condicional em relação à mesma pena.

9.8.3. Extinção

O juiz não poderá declarar extinta a pena, enquanto não passar em julgado a sentença em
processo a que responde o liberado, por crime cometido na vigência do livramento (art. 89)

Se até o seu término o livramento não é revogado, considera-se extinta a pena privativa de
liberdade (art. 90)

LEP, Art. 146. O Juiz, de ofício, a requerimento do interessado, do Ministério Público ou


mediante representação do Conselho Penitenciário, julgará extinta a pena privativa de li-
berdade, se expirar o prazo do livramento sem revogação.

10. DIREITOS DA LEI DE EXECUÇÃO PENAL E LIMITE DE PENAS

Art. 75 do CP - O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser
superior a 30 (trinta) anos.

O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior a 30 anos. 36
Porém, para cálculo dos direitos subjetivos da execução penal, toma-se por base a pena
aplicada e não esse limite de 30 anos.

Ex.: agente condenado a 80 anos em regime fechado. Somente poderá cumprir 30 anos, mas
o lapso de progressão de regime, livramento condicional etc. terá base os 80 anos.

Nesse sentido:

A pena unificada para atender ao limite de trinta anos de cumprimento,


determinado pelo art. 75 do Código Penal, não é considerada para a
Súmula 715 do STF
concessão de outros benefícios, como o livramento condicional ou re-
gime mais favorável de execução

11. AUTORIZAÇÕES DE SAÍDA


Legislação Penal Especial - Lei de Execução Penal

É possível que, durante a execução da pena em regime fechado ou semiaberto, o conde-


nado seja autorizado a deixar o estabelecimento prisional. A autorização de saída é gênero do qual
são espécies a permissão de saída (arts. 120 e 121 da LEP) e a saída temporária (arts. 122 a 125
da LEP).

11.1. PERMISSÃO DA SAÍDA

Tem como beneficiários os presos definitivos (em regime fechado ou semiaberto) e pro-
visórios (temporária ou preventiva).

As hipóteses autorizadoras do benefício são:

a) falecimento ou doença grave do cônjuge, companheira, ascendente, descendente ou ir-


mão;

b) necessidade de tratamento médico (abrangendo o odontológico de urgência).

A autoridade que concede é a administrativa (diretor do estabelecimento), podendo o juiz


suprir a ordem, quando negada ilegalmente.
37
Tem como características:

a) existência de escolta policial;

b) inexistência de prazo predeterminado. O diretor do estabelecimento deverá avaliar o tempo


estritamente necessário para o preso ficar fora do estabelecimento, com base na finalidade de sua
saída.

11.2. SAÍDA TEMPORÁRIA

Apesar de a lei destinar o benefício aos condenados que se encontram no regime semiaberto,
o STF já entendeu possível sua concessão no caso de prisão albergue.

As hipóteses que autorizam o benefício são:

a) visita à família;

b) frequência a curso supletivo profissionalizante, bem como de instrução do 2º grau ou su-


perior, na comarca do Juízo da Execução;

c) participação em atividades que concorram para o retorno ao convívio social.


Legislação Penal Especial - Lei de Execução Penal

A autorização será concedida por ato motivado do juiz da execução, ouvidos o Ministério
Público e a Administração Penitenciária.

O benefício de saída temporária no âmbito da execução penal é ato ju-


Súmula 520 do STJ risdicional insuscetível de delegação à autoridade administrativa do es-
tabelecimento prisional

O STF (HC 128.763/RJ, j. 04/08/2015) e o STJ (REsp 1.544.036/RJ, j. 14/09/2016) admitem


a decisão judicial que estabelece calendário anual de saídas temporárias para visita à família do
preso. Considera-se desnecessário que se ouça o Ministério Público e a Administração Penitenciária
a cada saída. Basta que eles sejam ouvidos inicialmente (no momento da elaboração do calendário)
e, caso ocorra alguma falta por parte do condenado, o calendário é revisto e os referidos órgãos são
ouvidos novamente. Trata-se de uma medida que otimiza o trabalho das sobrecarregadas varas de
execuções criminais.

Tem como caraterísticas:

a) a autorização será concedida por prazo não superior a 7 (sete) dias, podendo ser renovada
por mais 4 (quatro)vezes durante o ano. Quando se tratar de frequência a curso profissionalizante,
38
de instrução de ensino médio ou superior, o tempo de saída será o necessário para o cumprimento
das atividades discentes.

Prevalece entendimento consagrado pela Terceira Seção do STJ nos REsps 1.166.251/RJ
(DJe 4/9/2012) e 1.176.264/RJ (DJe 3/9/2012), julgados sob o rito dos recursos repetitivos, de que é
possível à autoridade judicial, atenta às peculiaridades da execução penal, conceder maior número
de saídas temporárias, de menor duração (inferior a 7 dias), desde que respeitado o limite de 35 dias
no ano, pois o fracionamento do benefício é coerente com o processo reeducativo e com a reinserção
gradativa do apenado ao convívio social.

b) não há escolta: a ausência de vigilância direta não impede a utilização de equipamento de


monitoração eletrônica pelo condenado, quando assim determinar o juiz da execução (vigilância in-
direta).

c) pode ser revogada.

O condenado deve preencher os seguintes requisitos:


Legislação Penal Especial - Lei de Execução Penal

a) comportamento adequado

b) cumprimento mínimo de um sexto da pena, se o condenado for primário, e um quarto, se


reincidente (computando-se o tempo de duração no regime fechado – súmula 40 do STJ);

c) compatibilidade do benefício com os objetivos da pena (depende de avaliação do juiz a


cada caso concreto).

O art. 125 da LEP anuncia os casos de revogação do benefício:

a) prática fato definido como crime doloso (dispensando condenação transitada em julgado);

b) punição por falta grave (a autoridade administrativa representará ao juiz da execução para
que proceda à revogação do benefício – art. 48, parágrafo único, desta lei.);

c) desatenção às condições impostas na autorização;

d) baixo grau de aproveitamento do curso.

A recuperação do benefício poderá ocorrer se o condenado for absolvido no processo penal


(hipótese “a”), for cancelada a punição disciplinar (hipótese “b”) ou demonstrar merecimento (nos 39
demais casos).

 Alguns julgados do STJ sobre o tema:

POSSIBILIDADE DE CONCESSÃO DE MAIS DE CINCO SAÍDAS TEMPORÁRIAS POR


ANO. Respeitado o limite anual de 35 dias, estabelecido pelo art. 124 da LEP, é cabível a
concessão de maior número de autorizações de curta duração. Resp 1.544.036-TJ de 2016

PRAZO MÍNIMO ENTRE SAÍDAS TEMPORÁRIAS. As autorizações de saída temporária


para visita à família e para participação em atividades que concorram para o retorno ao
convívio social, se limitadas a cinco vezes durante o ano, deverão observar o prazo mínimo
de 45 dias de intervalo entre uma e outra. Na hipótese de maior número de saídas tempo-
rárias de curta duração, já intercaladas durante os doze meses do ano e muitas vezes sem
pernoite, não se exige o intervalo previsto no art. 124, § 3°, da LEP. Resp 1.544.036-TJ de
2016

COMPETÊNCIA PARA FIXAÇÃO DE CALENDÁRIO PRÉVIO DE SAÍDAS TEMPORÁ-


RIAS. RECURSO REPETITIVO. O calendário prévio das saídas temporárias deverá ser
fixado, obrigatoriamente, pelo Juízo das execuções, não se lhe permitindo delegar à auto-
ridade prisional a escolha das datas específicas nas quais o apenado irá usufruir os bene-
fícios. Resp 1.544.036-TJ de 2016

12. MONITORAÇÃO ELETRÔNICA


Legislação Penal Especial - Lei de Execução Penal

12.1. HIPÓTESES PREVISTAS NA LEP

O juiz poderá definir a fiscalização por meio da monitoração eletrônica quando: (art. 146-B)

- autorizar a saída temporária no regime semiaberto;

- determinar a prisão domiciliar

12.2. DEVERES (ART. 146-C)

O condenado será instruído acerca dos cuidados que deverá adotar com o equipamento ele-
trônico e dos seguintes deveres:

- receber visitas do servidor responsável pela monitoração eletrônica, responder aos seus
contatos e cumprir suas orientações;

- abster-se de remover, de violar, de modificar, de danificar de qualquer forma o dispositivo


de monitoração eletrônica ou de permitir que outrem o faça.

Na jurisprudência:
40
STJ: “(...) II - Nos termos do art. 146-C, II, da Lei de Execução Penal, o apenado submetido
ao monitoramento eletrônico tem que observar o dever de inviolabilidade do equipamento
de monitoração, no caso a tornozeleira eletrônica, não podendo remover, violar, modificar
ou danificar de qualquer forma o dispositivo de monitoração eletrônica, ou mesmo permitir
que outrem o faça. III - Ao bloquear de maneira intencional o sinal emitido pela tornozeleira
eletrônica, o paciente, de alguma forma, violou e danificou o regular funcionamento do equi-
pamento de monitoração, ainda que temporariamente, descumprindo, pois, o dever de invi-
olabilidade do equipamento eletrônico, do qual já havia sido previamente informado. IV -
Por conseguinte, o paciente também desrespeitou a ordem recebida para não violar o equi-
pamento de monitoração, o que configura a falta grave tipificada no art. 50, VI, c/c o art. 39,
V, ambos da Lei de Execução Penal. V - A Terceira Seção desta Corte Superior, ao julgar
o REsp n. 1.364.192/RS, submetido à sistemática dos recursos repetitivos, firmou orienta-
ção no sentido de que "a prática de falta grave interrompe o prazo para a progressão de
regime, acarretando a modificação da data-base e o início de nova contagem do lapso ne-
cessário para o preenchimento do requisito objetivo". Súmula n. 534/STJ. Habeas Corpus
não conhecido. (HC 400495 / RS, Rel. Min. Felix Fischer, 5a. T., j. 14/09/17, v.u.).

12.3. DESCUMPRIMENTO – CONSEQUÊNCIAS (ART. 146-C, P. ÚNICO)

A violação comprovada dos deveres previstos neste artigo poderá acarretar, a critério do juiz
da execução, ouvidos o Ministério Público e a defesa:

- regressão do regime;
Legislação Penal Especial - Lei de Execução Penal

- revogação da autorização de saída temporária

- revogação da prisão domiciliar

- advertência, por escrito, para todos os casos em que o juiz da execução decida não aplicar
alguma das medidas anteriores

Também possível a revogação da monitoração (art. 146-D)

Art. 146-D. A monitoração eletrônica poderá ser revogada:

I - quando se tornar desnecessária ou inadequada;

II - se o acusado ou condenado violar os deveres a que estiver sujeito durante a sua


vigência ou cometer falta grave.

13. REMIÇÃO (ARTS. 126 A 130 DA LEP).

Instituto que possibilita ao sentenciado reduzir o tempo de cumprimento da pena privativa de


liberdade em razão do trabalho ou do estudo.

13.1. TRABALHO 41

 Quem faz jus? Sujeito em regime fechado e semiaberto.

Atenção: A remição não pode ser concedida ao indivíduo que cumpre pena no regime aberto
ou que esteja em livramento condicional, pois em tais casos o trabalho é pressuposto.

 Quanto abate? Para cada 3 dias de trabalho, 1 dia de cumprimento de pena.

 Algumas decisões do STJ a respeito da remição pelo trabalho:

• Súmula nº 562: “É possível a remição de parte do tempo de execução da pena quando o


condenado, em regime fechado ou semiaberto, desempenha atividade laborativa, ainda que
extramuros”. O tribunal sumulou esse entendimento em virtude do intenso questionamento
a respeito da viabilidade da fiscalização do trabalho externo, razão pela qual se argumen-
tava que apenas a atividade interna poderia servir para o desconto da pena. Não foi a tese
que prevaleceu.

• A remição pelo trabalho se dá na proporção um dia de pena para cada três dias
trabalhados. A contagem da jornada é feita em dias, nos quais deve haver o cumprimento
de no mínimo seis e no máximo oito horas de trabalho. Não é possível, diante da jornada
mínima diária, simplesmente efetuar o somatório de horas para chegar à quantidade de dias
(AgRg no REsp 1.635.935/MG, j. 07/03/2017).
Legislação Penal Especial - Lei de Execução Penal

• A soma das horas é admitida apenas quando, excedida a oitava hora diária, sejam
computadas as horas extras até que somem seis, quando então o produto da soma será
considerado como um dia de trabalho para fins de remição (HC 338.220/MG, j. 21/06/2016).

• Os condenados que cumprem pena em regime aberto não têm direito a remição pelo
trabalho, benefício restrito aos presos em regime fechado ou semiaberto (HC 359.072/RS,
j. 16/08/2016).

• A culpa do Estado na falha fiscalização do cumprimento da carga horária de trabalho


não afasta a necessidade de demonstrar que os requisitos para a remição foram cumpridos
(AgRg no HC 351.918/SC, j. 09/08/2016).

• A remição pelo trabalho beneficia o condenado mesmo na situação em que a ativi-


dade laborativa efetivamente desempenhada o tenha sido sem autorização do juízo ou da
direção do estabelecimento prisional, e ainda que em decorrência de trabalho desempe-
nhado em domingos e feriados (HC 346.948/RS, j. 21/06/2016).

• O cálculo da remição deve ser efetuado com base no disposto no súmula nº 715 do
STF, ou seja, a subtração dos dias incide no total da pena aplicada, não no máximo de trinta
anos de que trata o art. 75 do CP (HC 328.548/SP, j. 16/06/2016).

• “É perfeitamente possível a remição da pena pelo trabalho manual, pois, o art. 126
da LEP, ao prever a possibilidade da remição pelo trabalho, o fez de forma genérica, sem
qualquer restrição quanto à possibilidade de concessão do benefício para aquele conde-
nado que produz artesanato. Por sua vez, o art. 33, § 1º [sic] da mesma fonte legislativa,
embora ressalte que, salvo nas regiões de turismo, nos trabalhos intra muros, o artesanato 42
sem expressão econômica deve ser limitado, não faz vedação a esta atividade laboral, mas,
apenas a restringiu. Ademais, tem-se que o artesanato, como qualquer outro trabalho no
presídio, estimula a recuperação do reeducando, retirando-o da ociosidade das celas, e
estimulando o exercício da disciplina” (Agravo de Execução Penal nº 108918/2017, j.
24/01/2018).

13.1.1. Trabalho externo (art. 36)

- Admissível para os presos em regime fechado somente em serviço ou obras públicas reali-
zadas por órgãos da Administração Direta ou Indireta, ou entidades privadas, desde que tomadas as
cautelas contra a fuga e em favor da disciplina.

- O limite máximo do número de presos será de 10% do total de empregados na obra.

- Caberá ao órgão da administração, à entidade ou à empresa empreiteira a remuneração


desse trabalho.

- A prestação de trabalho à entidade privada depende do consentimento expresso do preso.


Legislação Penal Especial - Lei de Execução Penal

- A prestação de trabalho externo, a ser autorizada pela direção do estabelecimento, depen-


derá de aptidão, disciplina e responsabilidade, além do cumprimento mínimo de 1/6 (um sexto) da
pena. (há julgados dispensado esse lapso temporal)

- Revogar-se-á a autorização de trabalho externo ao preso que vier a praticar fato definido
como crime, for punido por falta grave, ou tiver comportamento contrário aos requisitos estabelecidos
neste artigo.

13.1.2. Remuneração

O trabalho do preso deve ser remunerado adequadamente, imperativo reconhecido pelas Re-
gras Mínimas da ONU (atualizadas pelas Regras de Mandela, preceito 103.1).

No mesmo sentido, o artigo 39 do CP estabelece que o trabalho do preso será sempre remu-
nerado e que terá garantidos os benefícios da previdência social.

Apesar de a lei anunciar que a remuneração não pode ser inferior a 3/4 do salário mínimo, o
PGR, na ADPF 338, sustenta que o estabelecimento de contrapartida monetária pelo trabalho reali-
zado por preso em valor inferior ao salário mínimo viola os princípios constitucionais da isonomia e
da dignidade da pessoa humana, além do disposto no artigo 7º, inciso IV, que garante a todos os
43
trabalhadores urbanos e rurais o direito ao salário mínimo.

O trabalho do preso não está sujeito ao regime da CLT (art. 28, § 2º).

A LEP, no entanto, vincula a destinação do salário, que deve atender, em ordem de preferên-
cia:

a) indenização dos danos causados pelo crime, desde que determinados judicialmente e não
reparados por outros meios (é indispensável decisão judicial definitiva estabelecendo o montante da
indenização);

b) assistência à família do preso (que, não raras vezes, sofre as consequências da clausura
do responsável pela sua manutenção);

c) pequenas despesas pessoais;

d) ao ressarcimento ao Estado das despesas realizadas com a manutenção do condenado,


em proporção a ser fixada e sem prejuízo da destinação prevista nas letras anteriores.
Legislação Penal Especial - Lei de Execução Penal

O sistema deve também possibilitar que uma parte dos ganhos seja reservada pela adminis-
tração prisional para constituir um fundo de poupança a ser destinado ao preso quando da sua libe-
ração (Regras de Mandela, preceito 103.3).

13.2. ESTUDO

 Quem faz jus ? Sujeito em regime fechado, semiaberto, aberto e em livramento con-
dicional.

 Quanto abate? Para cada 12 horas de estudo, 1 dia de cumprimento de pena, dividi-
das em 3 dias, no mínimo. Acrescido de 1/3 no caso de conclusão do ensino fundamental, médio
ou superior durante o cumprimento da pena, desde que certificada pelo órgão competente do sistema
de educação.

Pode ser atividade de ensino fundamental, médio, inclusive profissionalizante, ou superior, ou


ainda de requalificação profissional. Forma presencial ou ensino a distância.

 Algumas decisões do STJ a respeito da remição pelo estudo:

• A remição por leitura deve ser concedida em analogia in bonam partem em relação à 44
possibilidade de desconto da pena por meio do estudo. No entanto, para que o benefício
seja criterioso o tribunal tem decidido que deve haver a instalação de projeto de leitura com
a observância das diretrizes estabelecidas na Recomendação nº 44/13 do CNJ (AgRg no
REsp 1.616.049/PR, j. 27/09/2016).

• A remição pelo estudo não pressupõe frequência mínima no curso nem é condicio-
nada a desempenho satisfatório (AgRg no REsp 1.453.257/MS, j. 02/06/2016).

• “A atividade musical realizada pelo reeducando profissionaliza, qualifica e capacita o


réu, afastando-o do crime e reintegrando-o na sociedade. No mais, apesar de se encaixar
perfeitamente à hipótese de estudo, vê-se, também, que a música já foi regulamentada
como profissão pela Lei 3.857/60” (REsp 1.666.637/ES, j. 26/09/2017).

• O Superior Tribunal de Justiça (HC 418.309/SP, j. 20/02/2018) já admitiu a remição


pelo estudo desempenhado por meio de cursos do Instituto Universal Brasileiro, seguindo
a tendência de promover a abreviação da pena por meio da analogia in bonam partem. O
ministro Reynaldo Soares da Fonseca fez referência ao parecer emitido pelo Ministério Pú-
blico, segundo o qual “A LEP não exige fiscalização por parte do estabelecimento prisional
- óbice apontado pelo Juízo de 1º grau ao deferimento da remição. Exige, como acima
mencionado, a certificação pela autoridade educacional competente do curso frequentado”.
Desta forma, apresentados os cerificados de conclusão do curso, deferiu-se a remição.

13.3. REGRAS GERAIS

 Cumulação trabalho + estudo – possível, desde que se compatibilizem (art. 126, § 3º)
Legislação Penal Especial - Lei de Execução Penal

 Impossibilidade de prosseguir em razão de acidente – continuará se beneficiando (art.


126, § 4º)

 Preso cautelar – admissível remição (art. 126, § 7º)

 Tempo remido – computado como pena cumprida (art. 128)

 Perda dos dias remidos – perda de até 1/3 em caso de cometimento de falta grave
(considerando a natureza, os motivos, as circunstâncias e as consequências do fato, bem como a
pessoa do faltoso e seu tempo de prisão), recomeçando a contagem a partir da data da infração
disciplinar (art. 127).

14. APROXIMAÇÃO FAMILIAR

Art. 103. Cada comarca terá, pelo menos 1 (uma) cadeia pública a fim de resguardar o inte-
resse da Administração da Justiça Criminal e a permanência do preso em local próximo ao seu meio
social e familiar.

Jurisprudência sobre o tema:


45
“I - Há jurisprudência dominante, deste Superior Tribunal de Justiça, no sentido de que o
direito do apenado a cumprir pena em local próximo ao seu meio social e familiar não é abso-
luto, podendo o juiz da execução indeferir pleito nesse sentido se houver fundadas razões
para tanto. Está autorizado, portanto, o julgamento monocrático da matéria, nos termos do art. 34,
inciso XVIII, alínea 'b', do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça (Redação dada pela
Emenda Regimental n. 22, de 2016 - Em vigor desde 18/3/2016). II - Quando houver, nos autos, a
informação da inexistência de lotação ou mesmo da completa ausência de estabelecimento penal
adequado ao regime de cumprimento da pena na comarca onde moram os familiares do preso, não
haveria flagrante constrangimento ilegal na manutenção do apenado em unidade penitenciária dis-
tante de sua família. (Precedentes)” (STJ, HC 380007/SP, j. 14/03/2017).

“(...) 2. A transferência do apenado a unidade prisional mais próxima de sua família não se
constitui em seu direito subjetivo e exorbita a esfera exclusivamente judicial. Assim, na análise da
remoção o Juiz deve se orientar pelo atendimento à conveniência do processo de execução penal,
seja pela garantia da aplicação da lei, seja pelo próprio poder de cautela de Magistrado. Precedentes”
(STJ, HC 353797/SP, j. 17/11/2016.)
Legislação Penal Especial - Lei de Execução Penal

“1. A decisão agravada deve ser mantida por seus próprios fundamentos, porquanto, nos ter-
mos da jurisprudência pacífica do STJ, o direito do preso ao cumprimento de pena em local próximo
ao seu meio familiar, a teor do disposto no art. 103 da LEP, não é absoluto, podendo ser indeferido
pelo magistrado, desde fundamentadamente. 2. Hipótese em que o apenado foi processado e conde-
nado no distrito da culpa, sendo esclarecido que não seria do interesse da Administração sua transfe-
rência a outro estabelecimento prisional em Estado da Federação diverso, tendo em conta, inclusive,
o dispêndio de dinheiro pública na efetivação da medida, sendo, ainda consignado no acórdão impug-
nado que o paciente, além de não ter comprovado a ocorrência do trânsito em julgado de sua conde-
nação, não instruiu seu pedido com documento atestando a existência de vaga. 3. Agravo regimental
improvido” (STJ, AgInt no HC 355261/SP, j. 17/11/2016).

15. INCIDENTES DA EXECUÇÃO

A Lei de Execução Penal contempla as seguintes modalidades de incidentes: conversões


(arts. 180 a 184), excesso ou desvio (arts. 185 e 186), anistia e indulto (arts. 187 a 193).

15.1. CONVERSÕES

15.1.1. Conversão da pena privativa de liberdade em restritiva de direitos (art. 180 da LEP) 46

O juiz da execução também pode converter a pena privativa de liberdade em restritiva de


direito. Cuidado! Os requisitos são diferentes daqueles previstos no CP!

Requisitos objetivos

- Pena privativa de liberdade aplicada não superior a dois anos

- Cumprimento da pena em regime aberto

- Cumprimento de, pelo menos, 1/4 da pena

Requisito subjetivo

- Antecedentes e a personalidade do condenado indiquem ser a conversão recomendável.

15.1.2. Conversão da pena restritiva de direitos em privativa da liberdade

- Descumprimento injustificado da restrição imposta (art. 44, § 4º, do CP)

Ex.: deixa de comparecer para prestar os serviços à comunidade


Legislação Penal Especial - Lei de Execução Penal

No cálculo da pena privativa de liberdade a executar será deduzido o tempo cumprido da


pena restritiva de direitos, respeitado o saldo mínimo de trinta dias de detenção ou reclusão.

- Sobrevier condenação a pena privativa de liberdade, por outro crime, não sendo pos-
sível ao condenado cumprir a pena substitutiva anterior.

Ex.: O condenado está cumprindo prestação de serviços à comunidade e sobrevém uma con-
denação a pena privativa de liberdade de 10 anos em regime inicial fechado. Não há mais como
cumprir a restritiva de direitos. Logo, haverá a sua reconversão em privativa de liberdade.

Algumas regras específicas:

- A pena de prestação de serviços à comunidade será convertida quando o condenado:

a) não for encontrado por estar em lugar incerto e não sabido, ou desatender a intimação por
edital;

b) não comparecer, injustificadamente, à entidade ou programa em que deva prestar serviço;

c) recusar-se, injustificadamente, a prestar o serviço que lhe foi imposto;


47
d) praticar falta grave;

e) sofrer condenação por outro crime à pena privativa de liberdade, cuja execução não tenha
sido suspensa

- A pena de limitação de fim de semana será convertida quando:

a) o condenado não comparecer ao estabelecimento designado para o cumprimento da pena

b) recusar-se a exercer a atividade determinada pelo Juiz

c) se ocorrer qualquer das hipóteses seguintes: não for encontrado por estar em lugar incerto
e não sabido, ou desatender a intimação por edital; praticar falta grave; sofrer condenação por outro
crime à pena privativa de liberdade, cuja execução não tenha sido suspensa

- A pena de interdição temporária de direitos será convertida quando o condenado exercer,


injustificadamente, o direito interditado ou se ocorrer qualquer das seguintes hipóteses: não for en-
contrado por estar em lugar incerto e não sabido, ou desatender a intimação por edital; sofrer con-
denação por outro crime à pena privativa de liberdade, cuja execução não tenha sido suspensa
Legislação Penal Especial - Lei de Execução Penal

Obs.: Sendo JUSTIFICADO o descumprimento, não se reconverte a pena. Por isso entende-
se que o condenado deve ser ouvido antes da reconversão nessa hipótese.

15.1.3. Conversão da pena privativa de liberdade em medida de segurança (art. 183


da LEP)

Agente imputável na época dos fatos deve cumprir pena. Já o inimputável será submetido à
medida de segurança. E no caso de agente capaz na data da conduta, mas que desenvolve anomalia
psíquica no curso da execução da pena (superveniência de doença mental)? Dois artigos tratam do
assunto: art. 108 e art. 183, ambos da LEP.

Art. 108 da LEP Art. 183 da LEP

Aplicável no caso de anomalia pas- Aplicável no caso de anomalia não pas-


sageira. sageira.

A medida de segurança é reversí- A medida de segurança é irreversível.


vel.
48
O tempo de internação é compu- O tempo de internação não é compu-
tado como de cumprimento de tado como de cumprimento de pena, se-
pena (deve observar o prazo da guindo as regras dos arts. 96 e ss. do
pena corporal imposta). CP.

Transcorrido o prazo de duração Deve o juiz fixar prazo mínimo de inter-


da pena sem o restabelecimento nação, variando de 1 a 3 anos (art. 97,
do internado, a pena deve ser con- § 1º do CP).
siderada extinta pelo seu cumpri-
mento.

Analisando o caso concreto, o juiz da execução optará entre uma simples internação para
tratamento e cura de doença passageira, hipótese em que o tempo de tratamento considera-se como
pena cumprida, ou a substituição da pena privativa de liberdade em medida de segurança em se
tratando de anomalia não passageira, seguindo, no caso, os ditames dos arts. 96 e ss. do CP. Nesse
sentido: STJ, HC 44972-SP..

15.1.4. Conversão do tratamento ambulatorial em internação (art. 184 da LEP)


Legislação Penal Especial - Lei de Execução Penal

Art. 184. O tratamento ambulatorial poderá ser convertido em internação se o agente revelar
incompatibilidade com a medida.

Obs.: Apesar de não prevista na LEP, tem-se admitido a possibilidade de desinternação pro-
gressiva, quando constatado em perícia a melhora do quadro clínico do condenado. Pode-se substi-
tuir a internação por semi-internação ou por tratamento ambulatorial. Aliás, a Lei 10.216/2001, que
dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais, determina que
a internação, em qualquer de suas modalidades, só será indicada quando os recursos extra-hospi-
talares se mostrarem insuficientes (art. 4º). Assim como a prisão é o último recurso, a internação
também o será.

16. EXCESSO OU DESVIO DA EXECUÇÃO

Apesar de muitos tratarem o excesso e o desvio de execução de forma única, os dois inci-
dentes não se confundem. Mirabete, lembrando as lições de Renan Severo Teixeira da Cunha,
explica: “o excesso está carregado de conteúdo quantitativo e o desvio está carregado de conteúdo
qualitativo. Assim ocorre o primeiro quando, por exemplo, a autoridade administrativa ultrapassa, em
quantidade, a punição, fazendo com que o condenado cumpra uma sanção administrativa além do
limite fixada na lei, enquanto existirá o desvio quando ela se afasta dos parâmetros legais estabele-
49
cidos, como por exemplo, manter o condenado em um regime quando já faz jus a outro. Além disso,
é de notar-se que o excesso só ocorre com a violação de direito do sentenciado, enquanto no desvio
pode ser que seja ele beneficiado. Há desvio, por exemplo, quando se concede permissão de saída
em hipótese não prevista, se dispensa injustificadamente o condenado do trabalho prisional, não se
instaura o procedimento disciplinar após a prática da falta etc.” (Execução Penal, p. 780).

Serão legitimados para provocar o incidente de excesso ou desvio de execução: o Ministério


Público, o Conselho Penitenciário, o sentenciado ou qualquer dos demais órgãos da execução penal.

17. ANISTIA E INDULTO

A LEP menciona anistia e o indulto, mas entende-se que abrange a graça, dada a sua seme-
lhança com o indulto.

Indulto e graça são concedidos pelo Presidente da República, via decreto presidencial (art.
84, XII, CF – ato administrativo).

Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República:


Legislação Penal Especial - Lei de Execução Penal

XII - conceder indulto e comutar penas, com audiência, se necessário, dos órgãos insti-
tuídos em lei;

ATENÇÃO: Essa atribuição do Presidente da República pode ser delegada aos Ministros de
Estado, ao PGR (Procurador Geral da República) ou ao AGU (Advogado Geral da União). É o que
se extrai do art. 84, parágrafo único, da CF.

Parágrafo único. O Presidente da República poderá delegar as atribuições menciona-


das nos incisos VI, XII e XXV, primeira parte, aos Ministros de Estado, ao Procurador-
Geral da República ou ao Advogado-Geral da União, que observarão os limites traçados
nas respectivas delegações.

A graça e o indulto atingem apenas os efeitos executórios penais da condenação. Vale dizer,
subsistem o crime, a condenação irrecorrível e seus efeitos secundários (penais e extrapenais).

Diferenças entre a graça e o indulto:

Graça Indulto

Benefício individual, com destinatário certo Benefício coletivo, sem destinatário certo
50
Depende de provocação do interessado Não depende de provocação do interessado

Classificações doutrinárias:

1) Graça e indulto plenos e parciais

a) Graça e indulto plenos: extinguem totalmente a pena.

b) Graça e indulto parciais: concedem apenas diminuição da pena ou sua comutação.

2) Graça e indulto incondicionados e condicionados

a) Graça e indulto incondicionados: não se impõe qualquer requisito para a sua concessão.

b) Graça e indulto condicionados: impõe-se algum requisito (exemplo: reparação do dano).

Na anistia, o Estado, por meio de lei penal, dá ensejo ao esquecimento jurídico de determi-
nado fato criminoso, apagando os seus efeitos penais (principais e secundários). No entanto, os
Legislação Penal Especial - Lei de Execução Penal

efeitos extrapenais são mantidos (é possível, por exemplo, que a sentença penal condenatória tran-
sitada em julgado seja executada no juízo cível).

Uma vez concedida a anistia, não pode uma lei superveniente impedir os efeitos extintivos da
punibilidade, sob pena de ser desrespeitada a garantia constitucional da proibição da retroatividade
maléfica.

Vejamos, nessa toada, algumas classificações da anistia:

1) Anistia própria e imprópria

a) Anistia própria: é aquela concedida antes da condenação.

b) Anistia imprópria: é aquela concedida depois da condenação.

2) Anistia irrestrita ou restrita

a) Anistia irrestrita: atinge indistintamente a todos os criminosos.

b) Anistia restrita: atinge apenas certos criminosos, exigindo-se determinadas condições pes-
soais do agente para a obtenção do benefício (exemplo: primariedade). 51
3) Anistia incondicionada e anistia condicionada

a) Anistia incondicionada: a lei não impõe nenhum requisito para a sua concessão.

b) Anistia condicionada: a lei impõe algum requisito (exemplo: reparação do dano).

4) Anistia comum e anistia especial

a) Anistia comum: incide sobre delitos comuns.

b) Anistia especial: incide sobre crimes políticos.

18. AGRAVO EM EXECUÇÃO

 Disposto no art. 197 da Lei 7.210/1984 (LEP)

 Recurso exclusivo da fase de execução.

 Próprio para combater decisões do juiz da execução.


Legislação Penal Especial - Lei de Execução Penal

 Legitimados – O Ministério Público, o condenado, além de seu cônjuge, parente ou


descendente, todos na figura do defensor constituído ou nomeado (art. 195, LEP)

 Procedimento – aplica-se o do RESE, por analogia .

- 5 dias para interposição, a contar da decisão

- 2 dias para razões/contrarrazões

É de cinco dias o prazo para interposição de agravo contra decisão do


Súmula 700 do STF
juiz da execução penal

 Cabível juízo de retratação (efeito regressivo).

 Efeito – devolutivo. Não é rara a utilização de mandado de segurança buscando


efeito suspensivo, embora a admissibilidade seja controvertida. Aliás, o STJ editou
recentemente a seguinte súmula:

Mandado de segurança não se presta para atribuir efeito suspensivo a


Súmula 604 do STJ
recurso criminal interposto pelo Ministério Público
52

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