Você está na página 1de 7

Curso: “Fitoterapia para diabetes na prática diária do nutricionista”

Versão 1.0

O que são fitoterápicos e qual é o papel das plantas no tratamento das doenças

Marcos Roberto Furlan

A fitoterapia é uma prática terapêutica baseada no uso das plantas, de suas partes
(folhas, flores e raízes, por exemplos) ou de suas preparações. Atualmente, não há dúvidas
sobre o acentuado crescimento pela procura por esta terapia, e, consequentemente das
plantas medicinais ou dos fitoterápicos, sendo estes últimos os medicamentos obtidos, de
acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA, 2015), quando se emprega
princípio-ativo, exclusivamente, derivados de drogas vegetais.
De acordo com a ANVISA (2010), não são consideradas como fitoterápicos as
formulações que contenham substâncias ativas isoladas de qualquer origem ou associada a
substâncias vegetais.
A expansão mundial dos mercados de produtos derivados de plantas tem estimulado
pesquisas envolvendo plantas medicinais com o objetivo de chegar a um produto fitoterápico
no Brasil (Soares et al., 2011).
Souza et al. (2015) apontam que no Brasil os produtos fitoterápicos são considerados
medicamentos, isto é, não se diferenciam quanto às exigências para a produção de um
medicamento alopático. No entanto, os autores observam que é necessário o estabelecimento
de mais estudos para algumas espécies objetivando assegurar a manutenção dos requisitos de
qualidade durante o processamento e o armazenamento.
A Farmacopeia Brasileira, Código Oficial Farmacêutico do país, fornece os critérios de
qualidade dos medicamentos em uso, tanto manipulados quanto industrializados, compondo o
conjunto de normas e de monografias de farmacoquímicos, estabelecido para o Brasil
(ANVISA, 2011). No Formulário de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira (ANVISA, 2011), são
fornecidos conceitos relacionados aos medicamentos fitoterápicos, como, por exemplo:

planta medicinal: espécie vegetal, cultivada ou não, utilizada com propósitos terapêuticos;

1/7

© Ao aluno é permitido fazer uma cópia do material didático disponibilizado para uso próprio. De acordo
com a Lei no. 9.610 de 19/02/1998, que trata de direitos autorais, todo aluno fica proibido de propagar,
distribuir e vender o material de qualquer forma, sob pena de responder civil e criminalmente por
violação da propriedade material e intelectual.
Curso: “Fitoterapia para diabetes na prática diária do nutricionista”

Versão 1.0

droga vegetal: planta medicinal, ou suas partes, que contenham as substâncias, ou classes de
substâncias, que causam a ação terapêutica, após processos de coleta, estabilização, quando
aplicável, e secagem, podendo estar na forma íntegra, rasurada, triturada ou pulverizada;
derivado vegetal: produto da extração da planta medicinal in natura ou da droga vegetal,
podendo ocorrer na forma de extrato, tintura, alcoolatura, óleo fixo e volátil, cera, exsudado e
outros;
matéria-prima vegetal: compreende a planta medicinal, a droga vegetal ou o derivado vegetal;
fitoterápico: produto obtido de planta medicinal, ou de seus derivados, exceto substâncias
isoladas, com finalidade profilática, curativa ou paliativa; e
medicamento magistral: todo o medicamento cuja prescrição pormenoriza a composição, a
forma farmacêutica e a posologia. É preparado na farmácia, por um profissional farmacêutico
habilitado ou sob sua supervisão direta.

Quanto ao princípio ativo do fitoterápico, Netto et al. (2006) o definem como


substância, ou classe de compostos, quimicamente caracterizada, cuja ação farmacológica é
conhecida e responsável, total ou parcialmente, pelos efeitos terapêuticos do fitoterápico.
Diferencia-se dos medicamentos sintéticos por não ter sua ação baseada numa substância
química isolada e purificada. Na maioria das vezes, a ação é devida a um conjunto de
moléculas (fito-complexo) que agem sinergicamente para promover a ação terapêutica e, às
vezes, antagonicamente, neutralizando determinados efeitos tóxicos.
Lang; Stumpf (1999) sugeriram as seguintes categorias para classificar os produtos
obtidos por meio das plantas medicinais:

categoria A: contempla os extratos padronizados e inclui produtos de plantas medicinais


quando se tem a definição do princípio ativo;
categoria B: inclui os extratos quantificados, isto é, produtos nos quais não há certeza de qual
componente ativo atua, mas indicam as classes das substâncias ativas identificadas e que
possuem relação com as atividades farmacológicas; e
categoria C: constituída por produtos de plantas medicinais sem identificação dos princípios
ativos responsáveis, mas com uso tradicional consolidado.

2/7

© Ao aluno é permitido fazer uma cópia do material didático disponibilizado para uso próprio. De acordo
com a Lei no. 9.610 de 19/02/1998, que trata de direitos autorais, todo aluno fica proibido de propagar,
distribuir e vender o material de qualquer forma, sob pena de responder civil e criminalmente por
violação da propriedade material e intelectual.
Curso: “Fitoterapia para diabetes na prática diária do nutricionista”

Versão 1.0

Quanto aos fitoterápicos, se usados corretamente e com recomendação de


profissional da saúde, habilitado para a prescrição dos mesmos, são eficazes quanto às
indicações na bula. A ANVISA cita que os fitoterápicos “são caracterizados pelo conhecimento
da eficácia e dos riscos de seu uso, como também pela constância de sua qualidade, e são
regulamentados no Brasil como medicamentos convencionais, apresentando critérios similares
de qualidade, de segurança e de eficácia, requeridos pela ANVISA para todos os
medicamentos” (ANVISA, 2015).
Todos os medicamentos fitoterápicos industrializados para serem comercializados
devem estar registrados na ANVISA. Para se certificar de que o fitoterápico possui este
registro, deve ser verificado se na embalagem consta o número de inscrição do medicamento
no Ministério da Saúde. Há a possibilidade de buscar o registro do produto no site da ANVISA,
consultando o link:
http://www7.anvisa.gov.br/datavisa/Consulta_Produto/consulta_medicamento.asp.
Simões et al. (2004) citam que no desenvolvimento de produto fitoterápico é exigido
que sejam conhecidas todas as etapas de sua transformação e das variáveis envolvidas no
processamento, além de estabelecer parâmetros que permitam a sua avaliação de modo
adequado e factível. Souza et al. (2013) observam que a manutenção da composição química e
da atividade farmacológica durante o período de validade também deve ser considerada na
avaliação da qualidade dos fitoterápicos (Souza et al., 2013).
Dentre as formas farmacêuticas utilizadas, são exemplos: xarope, pomada, cápsula,
tintura e in natura colhido direto da planta com o objetivo de produzir uma forma a ser
consumida (Di Stasi, 1995).
Quando se usa a planta medicinal in natura ou na forma caseira de chás, xarope ou
sucos, por exemplo, alguns passos devem ser seguidos. O primeiro é a necessidade da
determinação correta de qual doença a pessoa está acometida e o acompanhamento de
profissional da saúde habilitado para o tratamento. Usos caseiros para problemas mais simples
são comuns, mas o usuário deve ficar atento, pois pode estar usando a planta de forma
inadequada ou até mesmo a planta errada.
A identificação precisa também é imprescindível, sendo necessário saber seu nome
científico e procurar artigos de pesquisa que comprovem a sua eficácia. No dia a dia, usamos o
nome popular para denominar as plantas medicinais, pois ele é de fácil memorização e, muitas

3/7

© Ao aluno é permitido fazer uma cópia do material didático disponibilizado para uso próprio. De acordo
com a Lei no. 9.610 de 19/02/1998, que trata de direitos autorais, todo aluno fica proibido de propagar,
distribuir e vender o material de qualquer forma, sob pena de responder civil e criminalmente por
violação da propriedade material e intelectual.
Curso: “Fitoterapia para diabetes na prática diária do nutricionista”

Versão 1.0

vezes, indica algumas de suas características, como, por exemplo, época em que ocorre com
mais frequência (cipó-de-são-joão e erva-de-são-joão), local de origem (boldo-do-chile e
aroeira-do-sertão), sabor (erva-doce, amargosa e erva-amarga), outra utilidade (vassourinha),
cor da flor (picão-roxo e picão-branco), devido a abrir a flor em determinados horários
(reloginho) e destacando seu poder medicinal (espinheira-santa e capim-santo).
Também é comum a utilização de nomes populares, que copiam nome de remédios
(aspirina, novalgina, ampicilina, insulina e cibalena, por exemplo), por serem utilizadas como
plantas para as mesmas finalidades terapêuticas do medicamento alopático. Ou plantas que
recebem denominações de outras que são famosas pelo uso. Há várias espécies que recebem
o nome de arnica, algumas são denominadas de boldo, melissa e aroeira, dentre várias outras
denominações.
Para consultas sobre a comprovação científica ou indicações, é imprescindível a
denominação científica, a qual é universal e específica para uma planta. Para saber
informações sobre uma espécie, como a espinheira-santa, a busca deverá ser feita utilizando o
seu nome científico Maytenus ilicifolia.
A ação medicinal de uma planta é devida aos seus compostos bioativos, os quais são
produzidos pela planta para que a mesma se proteja de algum estresse. Essas substâncias são
geradas no metabolismo secundário (ou especializado) e sofrem significativa influência de
fatores climáticos e edáficos (água, luz, temperatura e acidez do solo, por exemplo),
relacionados ao cultivo (espaçamento, presença de pragas, época de plantio e de colheita,
processo de secagem e de beneficiamento, por exemplo) e a genética da planta.
São muitos os fatores, tanto bióticos quanto abióticos, que influenciam os teores de
princípios ativos. Dentre os exemplos, o estresse hídrico é um que pode ser manejado de
modo a proporcionar melhor condição para que a planta produza concentração adequada de
bioativos.
Quanto às dosagens e formas de uso, elas devem ser seguidas rigorosamente e
recomendadas por profissional da saúde. O uso errado, além de ser ineficaz, pode causar
efeitos adversos. As plantas que possuem substâncias que são perdidas sob altas temperaturas
devem ser maceradas. As raízes e cascas são, geralmente, preparadas por decocção. Folhas e
flores tenras são preparadas por infusão.

4/7

© Ao aluno é permitido fazer uma cópia do material didático disponibilizado para uso próprio. De acordo
com a Lei no. 9.610 de 19/02/1998, que trata de direitos autorais, todo aluno fica proibido de propagar,
distribuir e vender o material de qualquer forma, sob pena de responder civil e criminalmente por
violação da propriedade material e intelectual.
Curso: “Fitoterapia para diabetes na prática diária do nutricionista”

Versão 1.0

O aumento na utilização de fitoterápicos e de plantas medicinais é devido a fatores


econômicos e sociais, além da influência da mídia para o consumo de produtos naturais pela
valorização do uso popular e tradicional (Nicoletti et al., 2015). Os mesmos autores realçam
que esses medicamentos podem causar riscos à saúde, em decorrência da prática de
automedicação por apresentarem componentes tóxicos em algumas plantas, reações por uso
indevido, interações com fármacos convencionais, efeitos indesejados devido aos desvios de
qualidade e/ou adulterações e reações adversas, comprometendo órgãos e sistemas do
organismo.
Tanto a planta medicinal quanto o fitoterápico podem interagir com o medicamento
alopático, afetando o tratamento. A pessoa que está utilizando medicamento prescrito pelo
profissional da saúde, deve informar para o mesmo se está usando plantas ou fitoterápicos e
quais está utilizando. O recomendável é que só utilize recursos indicados pelo referido
profissional.
Quem fez cirurgia, por exemplo, deve comunicar a seu médico o uso de plantas com
antecedência, pois alguns medicamentos fitoterápicos podem interferir com o anestésico ou
causar hemorragia.
Importante destacar que os relatos relacionados a medicamentos fitoterápicos e
plantas medicinais seguem métodos semelhantes aos da farmacovigilância, sendo a
notificação espontânea por profissionais da saúde e usuários, a principal ferramenta do
sistema (NICOLETTI et al., 2015).
A fitoterapia oferece à terapêutica moderna uma fonte inesgotável de produtos
seguros e eficazes, mas há necessidade de ser utilizada na forma correta, nas formas
farmacêuticas adequadas e na concentração de ativos estudada, pois, caso contrário, como
qualquer medicamento, poderá não fornecer os benefícios esperados (MARQUES, 2005).

Referências Bibliográficas

ANVISA. Fitoterápicos. Disponível em:


www.anvisa.gov.br/medicamentos/fitoterapicos/poster_fitoterapicos.pdf. Acesso em: 20 de
agosto de 2015.

5/7

© Ao aluno é permitido fazer uma cópia do material didático disponibilizado para uso próprio. De acordo
com a Lei no. 9.610 de 19/02/1998, que trata de direitos autorais, todo aluno fica proibido de propagar,
distribuir e vender o material de qualquer forma, sob pena de responder civil e criminalmente por
violação da propriedade material e intelectual.
Curso: “Fitoterapia para diabetes na prática diária do nutricionista”

Versão 1.0

ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Formulário de fitoterápicos da farmacopeia


brasileira. Brasília, DF: Agência Nacional de Vigilância Sanitária; 2011.

ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 14, de 31 de março de


2010. Dispõe sobre o registro de medicamentos fitoterápicos. Brasília, DF: Agência Nacional de
Vigilância Sanitária; 2010.

Di Stasi LC. (org) Plantas Medicinais; Arte e Ciência. Um guia de Estudo interdisciplinar. São
Paulo: Editora UNESP, 1996.

Lang F, Stumph H. Considerations on future pharmacopoeial monographs for plant extracts.


Pharmeuropa. 1999;11:268-75.

Marques LC. Preparação de extratos vegetais. Jornal Brasileiro de Fitomedicina. 2005;3(2):4-


76.

Netto EM, Shuqair NSMSAQ, Balbino EE, Carvalho ACB. Comentários sobre o Registro de
Fitoterápicos. Revista Fitos. 2006;1(3):9-17.

Nicoletti MA, Ito RK, Fukushima AR, Leandro AC. Farmacovigilância de drogas vegetais e seus
derivados: uma ação necessária e já iniciada para a segurança do paciente, no contexto do uso
racional de medicamentos. Vigilância Sanitária Debate. 2015;3(2):136-143.

Simões SMO, Schenkel EP, Gusmann G, Mello JCP, Mentz LA, Petrovick PR. Farmacognosia da
Planta ao Medicamento. 2004, 5ª ed., Ed. UFSC.

Soares CR, Moraes CSS, Conceição EC. Uso de pectinas modificadas na secagem de extratos de
Apeiba tibourbou Aubl. (Tiliaceae) por nebulização. In: VIII CONPEEX - Congresso de Pesquisa e
Extensão e 63ª Reunião Anual da SBPC, 2011, Goiânia. Anais/Resumos da 62ª Reunião Anual
da SBPC, 2011.

6/7

© Ao aluno é permitido fazer uma cópia do material didático disponibilizado para uso próprio. De acordo
com a Lei no. 9.610 de 19/02/1998, que trata de direitos autorais, todo aluno fica proibido de propagar,
distribuir e vender o material de qualquer forma, sob pena de responder civil e criminalmente por
violação da propriedade material e intelectual.
Curso: “Fitoterapia para diabetes na prática diária do nutricionista”

Versão 1.0

Souza CRF, Fernandes LP, Bott RF, Oliveira WP. Influência do processo de secagem e condição
de armazenamento de extratos secos de Bauhinia forficata e Passiflora alata sobre seu perfil
de dissolução. Rev Bras Plantas Medicinais [online]. 2015;17(1):67-75.

Souza CRF, Ramos DN, Cortés-Rojas DF, Oliveira WP. Stability testing and shelf live prediction
of a spouted bed dried phytopharmaceutical preparation from Maytenus ilicifolia. Canadian J
Chemical Engineering. 2013;91(11):1847-1855.

7/7

© Ao aluno é permitido fazer uma cópia do material didático disponibilizado para uso próprio. De acordo
com a Lei no. 9.610 de 19/02/1998, que trata de direitos autorais, todo aluno fica proibido de propagar,
distribuir e vender o material de qualquer forma, sob pena de responder civil e criminalmente por
violação da propriedade material e intelectual.

Você também pode gostar