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VIII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL

Londrina de 05 a 07 novembro de 2013 - ISSN 2175-960X

A CAPACITAÇÃO DE PAIS PARA FAVORECER A COMUNICAÇÃO DE


CRIANÇAS COM RISCO DE AUTISMO: O PROGRAMA HANEN

MARCIA MIRIAN FERREIRA CORRÊA NETTO 1


(Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ);

LEILA REGINA D’OLIVEIRA DE PAULA NUNES2


(Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ)

INTRODUÇÃO

Conforme os sistemas oficiais de classificação, o autismo é um dos Transtornos Globais do


Desenvolvimento (TGDs) mais conhecido na atualidade (Classificação de Transtornos
Mentais e de Comportamento - CID-10, 2000). As características básicas do autismo são os
distúrbios qualitativos na interação social recíproca, na comunicação verbal e não verbal e na
manifestação de padrões restritos de interesses, atividades e condutas repetitivas e
estereotipadas (KLIN, 2006, p.54).
Estudos internacionais indicam que os TGDs afetam uma em cada 150 pessoas (KUEHN,
2007). No Brasil, pesquisas recentes revelaram prevalência inferior, de 27.2 pessoas
diagnosticadas em uma população de 10 mil (PAULA; RIBEIRO; FOMBONNE;
MERCADANTE, 2011).
O autismo acomete crianças antes dos 3 anos de idade. Segundo a literatura científica, o
autismo manifesta-se no sexo masculino de duas a quatro vezes mais que no sexo feminino
(KLIN, 2006, p.54) e é caracterizado por alterações relativas à interação social recíproca, à
comunicação/linguagem, às atividades simbólicas ou imaginativas e a interesses/atividades.
As pessoas com autismo geralmente apresentam tendência inusual de vinculação a objetos
comuns, fixação a rotinas particulares e rituais de caráter não funcionais. Observam-se, ainda,
incapacidade acentuada de estabelecer relações pessoais (AJURIAGUERRA; MARCELLI,
1991) e déficits de linguagem, que compreendem desde a ausência até a presença de uma
linguagem restrita, estereotipada, com persistência de manifestações verbais com
características peculiares (dificuldade de inversão pronominal).
Desde Kanner (1943), quando o autismo foi descrito pela primeira vez, até o momento atual,
vários estudos têm sido realizados visando à busca de uma etiologia mais precisa e suas
implicações, em decorrência da amplitude dos sintomas, no funcionamento cognitivo, social,
emocional das pessoas afetadas e, consequentemente, na sua aprendizagem. Porém, neste

1
Doutoranda do PROPed - Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Estado do
Rio de Janeiro(UERJ); Professor Substituto da Faculdade de Educação da UERJ; Professora do Curso
de Especialização em Psicopedagogia Institucional - Instituto “A Vez do Mestre”- Universidade
Cândido Mendes, do Rio de Janeiro; Psicóloga; Psicopedagoga e Especialista em Educação Especial,
marciamirian22@yahoo.com.br .
2
Ph.D. em Educação Especial. Professora titular da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, UERJ,
leilareginanunes@terra.com.br .

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estudo, será dada prioridade apenas a algumas das pesquisas mais recentes voltadas para a
comunicação e a linguagem.
A comunicação e a interação social das pessoas com autismo têm sido temas de atenção de
diversos pesquisadores, por serem duas áreas básicas em que se concentram as dificuldades
dessas pessoas.
Estudos indicam que as crianças com autismo têm menor probabilidade de desenvolver a
linguagem. Glennen (2007) destaca que 61% das pessoas com autismo são funcionalmente
mudas, ou seja, não oralizam e, quando o fazem, a expressão verbal tem pouco ou nenhum
significado. Klin (2006) afirma que entre 20 a 30% dessa população não desenvolve a
linguagem verbal e 75% das crianças que falam manifestam padrões atípicos de verbalização
(NATIONAL RESEARCH COUNCH, NRC, 2001). Déficits na linguagem receptiva são,
também, evidenciados nos TGDs, que apresentam dificuldades em compreender enunciados
verbais e formas não verbal de comunicação.
O autismo não tem cura e seu prognóstico é variável. No entanto, teorias contemporâneas
ressaltam a importância das interações precoces entre os pais/cuidador e a criança como forma
de atenuar seus sintomas ou até prevenir a manifestação da síndrome (DAWSON, 2008).
Vygotsky (1987, p.5) compreende que a genuína comunicação humana “pressupõe uma
atitude generalizante que constitui um estágio avançado do desenvolvimento da palavra”.
Afirma que as formas mais elevadas da comunicação humana ocorrem porque o pensamento
do homem reflete uma realidade conceitualizada.
É no processo de interação entre a criança e seus interlocutores que se dá a aquisição de
conceitos, desenvolvendo, desta forma, a capacidade da criança de simbolizar o mundo que a
cerca. Nesta ótica, se torna imprescindível que o favorecimento do desenvolvimento da
linguagem com crianças com autismo ocorra em contextos onde as relações sociais são
privilegiadas, em conjunto com uma ação mediadora.
Chiari (1998), Williams, Aiello (2001) e Limongi (2003) assinalam a importância do
envolvimento da família nos programas de intervenção e destacam o papel da mesma na
deliberação das prioridades para seus filhos e na decisão pelos serviços oferecidos, em
contraposição às concepções anteriores que enfocavam a participação dos familiares como
simples “observadores” e “receptores” passivos das informações. Dessa forma, se torna
fundamental refletir sobre as formas de tratamento e as metodologias de ensino utilizadas com
as pessoas com autismo, para que se possam obter resultados efetivos não apenas no contexto
escolar ou terapêutico, mas principalmente em seu lar, junto à família.
Nas últimas décadas, a literatura científica tem evidenciado o desenvolvimento da linguagem
e da comunicação de crianças que se engajam em interações rotineiras com seus
pais/cuidadores (BRUNER, 1983; QUILL, 1995; TOMASELLO, 2007).
Rotinas interativas acontecem quando dois ou mais indivíduos se envolvem em interações
sociais, de modo cooperativo, visando atingir um fim específico (SYNDER-MCLEAN;
SOLOMONSON; MCLEAN; SACK, 1984). Esses eventos se caracterizam pela presença de
enunciados previsíveis, sequenciais e contextualizados, que permitem à criança antecipar
respostas durante a interação (QUILL, 1995), gerando padrões interativos e recíprocos de
respostas, equivalentes às tomadas de turno de uma conversa. Dessa forma, é favorecido que a
criança entenda o seu papel, enquanto ser funcional, em uma interação social onde, por vezes,
assumirá a função do “falante” e, em outros momentos, a função do “ouvinte”. É por meio das

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rotinas interativas que a criança aprende a dar significado às formas da linguagem e


compreender os comportamentos comunicativos empregados em cada interação social
(QUILL, 1995).
A rotina é definida como “um evento funcional da vida diária que oferece oportunidades para
o ensino e a prática de habilidades funcionais em contextos e situações onde tais habilidades
são exigidas” (CRIPE; VENN, 1997). A rotina deve, invariavelmente, abarcar: a) um tema
unificador ou fim comum; b) marcos claros de início e término; c) foco partilhado com
probabilidade de interação; d) número restrito de “papéis”, demarcados de forma objetiva (um
falante e um ouvinte); e) estrutura alternada/reversão de papéis; f) uma sequência de passos
ou ordem lógica; g) elementos motivadores para a criança; h) possibilidades para reprodução
da atividade; i) resultados reforçadores (SNYDER-MCLEAN et al., 1984; CRIPE; VENN,
1997).
A programação de intervenções educacionais durante atividades do dia-a-dia da criança
procede de uma abordagem ecológica, onde experiências cotidianas são tomadas como
contextos expressivos com inúmeras oportunidades de aprendizagem
(BRONSFENBRENNER, 1992). Portanto, a admissão de um programa de intervenção em
uma rotina é uma forma de elevar ao máximo essas oportunidades. A inserção da família
neste processo é, de acordo com o Conselho Nacional de Pesquisa dos Estados Unidos
(NATIONAL RESEACH COUNCIL, NRC, 2001), avaliada como uma melhor prática no
tratamento do autismo.
Segundo Halle (1984), embora os pais/cuidadores possam desempenhar o papel mais
importante e, provavelmente, o mais eficaz no ensino da linguagem para crianças pequenas,
podem ignorar as importantes possibilidades de aprendizagem para elas Este é o caso de
famílias de crianças com autismo, onde a interação pode ser dificultada, dentre outros
aspectos, pelas situações estressantes vivenciadas (NRC, 2001; ELLO; DONOVAN, 2005) ou
à restrita responsividade da criança (WALTER; NUNES, 2008).
Na literatura científica são apresentados resultados promissores no desenvolvimento da
linguagem e da comunicação de crianças com autismo, valendo-se de pais como agentes
terapêuticos em programas de intervenção que empregam rotinas interativas (STIEBEL,
1999; KASHINATH; WOODS; GOLDSTEIN, 2006; NUNES; HANLIVE, 2007;
MCCONACHIE et al., 2005; GIROLAMETTO, SUSSMAN; WEITZMAN, 2007). Dentre
esses programas de intervenção, merece destaque o More Than Words: The Hanen Program
for Parents of Children with Autism Spectrum Disorders, conformado por Sussman (1999). O
programa Hanen é um manual para a capacitação de pais/cuidadores, com o objetivo de
desenvolver as competências necessárias para promover a linguagem, a comunicação e as
habilidades sociais de crianças com autismo. O teor da capacitação abrange os tipos de
dificuldades de comportamento que a criança possa apresentar e, também, um conjunto de
estratégias de ensino, procedentes do modelo naturalístico, que apresenta vasto respaldo
empírico (GIROLAMETTO et al., 2007).
Até o presente momento, revisando a literatura científica internacional, existem apenas três
estudos examinando a eficácia do programa Hanen (MCCONACHIE et al., 2005;
GIROLAMETTO et al., 2007; CARTER et al., 2011). Na literatura nacional há um estudo,
em desenvolvimento, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, sob a
coordenação da professora Dra. Débora Nunes. A presente pesquisa aspira expandir os

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achados desses autores, reaplicando os estudos realizados para averiguar os efeitos dos
procedimentos de ensino, implementados no programa Hanen, no desenvolvimento da
linguagem, comunicação e habilidades sociais de crianças, menores de três anos de idade,
com riscos de autismo. Como objetivos específicos estão à capacitação dos pais/cuidadores,
assim como a avaliação de sua responsividade durante as interações rotineiras com as
crianças.

OBJETIVOS

a) Objetivo Geral - Avaliar os efeitos dos procedimentos do ensino, implementados no


programa Hanen, no desenvolvimento da linguagem, comunicação e habilidades sociais
de crianças, menores de três anos de idade, com riscos de autismo.
b) Objetivos Específicos - Capacitar os pais a programar estratégias naturalísticas de
ensino com as crianças, durante rotinas interativas; avaliar a responsividade do pai durante
as interações rotineiras com a criança, através do instrumento JAFA (Joy and Fun
Assessment Scale – MCCONACHIE et al., 2005); avaliar os efeitos da programação das
estratégias naturalísticas na responsividade das crianças (tipos de turnos e modalidades de
respostas).

METODOLOGIA

 Participantes – duas crianças, do sexo masculino: Leonardo (nome fictício), com 2,2 e
João (nome fictício), com 2,7 e seus pais: Artur e Júlio (nomes fictícios), respectivamente.
Também participam a pesquisadora Marcia (psicóloga e psicopedagoga), Paula (nome
fictício), como assistente de pesquisa e um profissional da instituição participante - Ana
(nome fictício), para dar apoio técnico.
 TCLE - O consentimento à participação na pesquisa foi realizado no primeiro contato
da pesquisadora com a direção da instituição, onde os dados estão sendo coletados. A
direção recebeu informações com relação ao objetivo do estudo, aceitou participar da
pesquisa e assinou, em nome da instituição, a carta de anuência. Os pais das crianças
também assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), autorizando a
participação de seu filho e de sua participação, bem como a autorização para a exibição de
fotografias e filmagens realizadas durante a pesquisa.
 Agentes de intervenção – A pesquisadora atua como agente de capacitação e conta
com o auxílio de uma assistente de pesquisa (Paula – nome fictício). Um profissional da
instituição participante (fonoaudióloga Ana – nome fictício) foi convidado a fazer parte do
programa de intervenção, fornecendo apoio técnico à pesquisadora.
 Local – A presente pesquisa está ocorrendo em uma sala de atendimento de uma
instituição especializada da rede privada, sem fins lucrativos, na cidade do Rio de Janeiro,
e nas residências das díades (pai-criança).
 Materiais – Filmadora digital, câmera fotográfica, notebook, impressora,
plastificadora, cartões com pictogramas, brinquedos e alimentos.
 Instrumentos de Avaliação – entrevista semiestruturada - versão adaptada do
inventário Social Networs (BLACKSTONE; HUNT BERG, 2003; Childhood Autism

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Rating Scale - CARS (PEREIRA, 2007); Inventário Portage (WILLIAMS, 2001);


Modified Checklist for Autism in Toddlers - M-CHAT (LOSAIPO; PONDE, 2008).
 Delineamento da Pesquisa - Um delineamento de pesquisa quase-experimental
intrassujeito, com replicação entre díades (BARLOW; HERSEN, 1984), será empregado
para avaliar os efeitos da implementação do programa de capacitação na responsividade
da díade.
 Procedimentos
1. Avaliação dos participantes – Foi realizada entrevista semiestruturada para avaliar as
percepções dos pais com relação às habilidades comunicativas de seus filhos; o Childhood
Autism Rating Scale – CARS (PEREIRA, 2007) foi aplicado para verificar o grau de
autismo das crianças; o Inventário Portage (WILLIAMS, 2001) foi usado para avaliar o
desenvolvimento cognitivo, motor, linguagem e socialização das crianças; o Modified
Checklist for Autism in Toddlers – M-CHAT (LOSAIPO; PONDE, 2008) foi empregado
para suplementar o Inventário Portage, fornecendo dados sobre habilidades sociais,
comunicativas e simbólicas das crianças.
2. Linha de Base – os pais foram instruídos a interagir de forma livre com as crianças,
durante atividades de jogo e alimentação. As sessões para a construção da Linha de Base
foram realizadas na instituição e na residência das díades. Foram filmadas e mensuradas
as seguintes variáveis: estratégias naturalísticas de ensino empregadas pelo pai; respostas
comunicativas da criança; nível de interação do pai (escala JAFA - Questionário de
Avaliação de Brincadeiras e Diversão - McConachie et al., 2005 e Girolametto, 2006).
Foram categorizados somente os primeiros 5 minutos de interação da díade, como forma
de garantir a homogeneidade das sessões.
3. Capacitação – A pesquisadora capacitará os pais para a utilização das estratégias de
ensino nas rotinas selecionadas (brincadeiras e alimentação). A capacitação ocorrerá
através de exposições orais, dramatizações, materiais impressos e a utilização das
estratégias naturalísticas de ensino. Durante estes encontros serão também utilizados
segmentos da interação da díade (trechos das filmagens), durante as sessões de Linha de
Base, realizadas na instituição e na residência das famílias.
4. Intervenção – A intervenção ocorrerá após cada sessão de capacitação, quando os pais
serão instruídos a utilizar as estratégias de ensino nas rotinas selecionadas. A pesquisadora
não fornecerá qualquer tipo de instrução e/ou feedback aos pais durante as sessões de
intervenção e todas as sessões serão filmadas. Para garantir a homogeneidade das sessões
serão categorizados apenas os primeiros 5 minutos de interação entre as díades (pai-
criança) e a frequência de respostas da criança e pai será disposta em um gráfico. A
avaliação dos efeitos do programa ocorrerá através da investigação visual das respostas. A
efetividade do programa, após a capacitação, será constatada se existir aumento: na
frequência de uso das estratégias naturalísticas de ensino pelo pai; na pontuação da escala
JAFA e/ou na frequência dos atos comunicativos da criança.
5. Avaliação do programa – Será utilizada uma entrevista semiestruturada para avaliar as
percepções do pai quanto às habilidades comunicativas da criança após o programa de
capacitação. Através desta entrevista também será avaliado o grau de satisfação dos pais
com os procedimentos utilizados nas diferentes etapas do projeto.

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6. Divulgação dos resultados – O trabalho realizado com as díades (pai-criança) será


apresentado em forma de seminários. Os seminários serão conduzidos pela pesquisadora,
assistente de pesquisa, profissional convidado e pelos pais envolvidos no estudo e terão
como finalidade divulgar as estratégias utilizadas para os demais pais e profissionais da
instituição onde foi realizada a pesquisa. Os resultados da pesquisa serão apresentados em
forma de artigo e submetidos para publicação em revistas científicas nacionais e
internacionais das áreas de Educação e Psicologia, bem como divulgados em eventos
nacionais.
 Fidedignidade
 Treinamento da assistente de pesquisa – A assistente de pesquisa foi treinada
previamente pela pesquisadora. O treinamento foi constituído de discussão verbal sobre
todas as categorias de análise e, posteriormente, instrução de como categorizar as sessões
experimentais utilizando filmagens realizadas com outras díades. O treinamento foi
finalizado quando o índice de concordância para cada variável atingiu 75% em três
sessões consecutivas.
 Sessões experimentais – Todas as sessões experimentais serão categorizadas pela
assistente de pesquisa. A pesquisadora codificará 25% das sessões experimentais de cada
fase do estudo, randomicamente selecionadas, para avaliar o grau de fidedignidade das
categorias comportamentais analisadas. Para verificar a confiabilidade dos registros
obtidos, será utilizada a fórmula índice de concordância proposta por Fagundes (2004).
As categorias de análise serão consideradas fidedignas se obtiverem índice de
concordância igual ou superior a 75%.
 Fidedignidade no Programa de Capacitação – um protocolo de capacitação será
preenchido pelos pais que serão capacitados.
 Validade Social - Os pais se encontrarão totalmente envolvidos no trabalho, desde a
avaliação das habilidades comunicativas da criança até a divulgação dos resultados da
pesquisa para os demais pais e profissionais da instituição. Através da entrevista
semiestruturada cada pai avaliará as habilidades comunicativas de seu filho, após a
implementação do programa, e o grau de satisfação com os procedimentos utilizados nas
diferentes etapas da pesquisa.
 Resultados Esperados - Demonstrar a eficácia do programa de capacitação dos pais e a
eficácia dos procedimentos naturalísticos para o desenvolvimento de habilidades
comunicativas de crianças (0-36 meses), com riscos de autismo.
 Metas - Capacitar os pais para que se tornem agentes disseminadores do programa de
estimulação da linguagem para outros pais e profissionais da instituição.

DESENVOLVIMENTO

Até o presente momento foram realizados os seguintes procedimentos:


 Caso 1 – Leonardo e Artur (nomes fictícios): entrevista semiestruturada para avaliar as
percepções de Artur com relação às habilidades comunicativas de Leonardo; o Childhood
Autism Rating Scale – CARS (PEREIRA, 2007) aplicado para verificar o grau de autismo
de Leonardo; o Inventário Portage (WILLIAMS, 2001) para avaliar o desenvolvimento
cognitivo, motor, linguagem e socialização de Leonardo; o Modified Checklist for Autism

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in Toddlers – M-CHAT (LOSAIPO; PONDE, 2008) para suplementar o Inventário


Portage, fornecendo dados sobre habilidades sociais, comunicativas e simbólicas de
Leonardo, e sete filmagens para a construção da Linha de Base.
 Caso 2 – João e Júlio (nomes fictícios): entrevista semiestruturada para avaliar as
percepções de Júlio com relação às habilidades comunicativas de João, e foi aplicado o
Childhood Autism Rating Scale – CARS (PEREIRA, 2007) para verificar o grau de
autismo de João.

RESULTADOS PARCIAIS

Antes da apresentação dos dados coletados até o presente momento, dois aspectos importantes
merecem destaque:
 A dificuldade do diagnóstico – apesar da busca de diagnóstico pelos pais desde
um ano e quatro meses de vida, em decorrência da percepção de comportamentos
inadequados para a idade e a dificuldade de comunicação e interação dos seus filhos,
Leonardo, somente com 2,1 de idade, e João, com 2,6 de idade, obtiveram a certificação
de que apresentam risco de autismo. Cabe apontar que tanto Leonardo como João, é o
segundo filho dos casais e que os pais observaram a diferença no comportamento e no
desenvolvimento das crianças comparando com o irmão/irmã mais velho (a). Porém,
apesar das observações dos pais, os profissionais de saúde anteriormente procurados,
não as valorizaram e nem as consideraram;
 A disponibilidade dos pais para a participação na pesquisa - A literatura
científica assinala a presença muito significativa, e quase exclusiva, de mães nos
tratamentos de seus filhos, ocorrendo, com frequência, baixa participação de pais. O
engajamento dos pais, por certo, possibilita um novo olhar. No entanto, cabe ressaltar
que a mãe de Leonardo, quando a família ingressou na pesquisa, se encontrava no oitavo
mês de gestação e a mãe de Artur está no quinto mês de gestação.
Quanto à avaliação das crianças: Leonardo e João obtiveram pontuação indicativa para
autismo na Escala CARS – Childhood Autism Rating Scale (PEREIRA, 2007) – autismo
moderado. Leonardo apresentou escore 34 e João escore 32. No M-CHAT, preenchido pelo
pais, tanto Leonardo como João, também obtiveram pontuação sugestiva de Transtorno
Global do Desenvolvimento (TGD).Após a aplicação do Inventário Portage, foi verificado
que Leonardo apresenta atraso significativo na área de linguagem, atraso importante na área
de socialização e, consequentemente, leve defasagem na área de cognição. João ainda se
encontra em processo de avaliação para, a seguir, entrar na fase de Linha de Base, com a
realização dos encontros e filmagens.
Análise dos dados da Linha de Base: Com a díade Leonardo-Artur foram realizados seis
encontros, com filmagens, para a construção da Linha de Base. Na análise dos dados
coletados, até o presente momento, foram observadas dificuldades importantes de interação
pai-criança.
Cabe apontar que as filmagens iniciais apresentam momentos de muita dificuldade do pai
para interagir com Leonardo, utilizando com frequência, a postura de apressado, sem aguardar
ou mesmo incentivar a resposta do filho, aparentando certo desânimo. Porém, com a
continuidade dos encontros e das filmagens, observou-se que Artur passou a tomar a postura

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de professor, buscando interagir com Leonardo. Os dados revelam, no entanto, que embora o
pai procurasse se comunicar/interagir com seu filho, somente em alguns momentos buscou a
comunicação face a face e nomeou os objetos que a criança demonstrava interesse. Também
foi observado que Artur não tomou a iniciativa de nomear ações e nem utilizou fala
infantilizada com Leonardo. Foi constatado, ainda, embora de forma esporádica, o uso de
algumas perguntas, a imitação e interpretação de sons e vocábulos e a presença, em algumas
ocasiões, de entusiasmo por parte de Artur.
Quanto aos comportamentos de Leonardo, foi verificado que, inicialmente, o menino buscava
se comunicar com o pai apenas puxando-o até algum local, com o objetivo de atender aos
seus interesses e necessidades. No transcorrer dos encontros e filmagens foi observado que
Leonardo passou a emitir, embora raramente, sons e vocábulos. Tais emissões ocorreram após
o pai ter utilizado os referidos sons e vocábulos durante uma brincadeira, principalmente sons
onomatopéicos, imitando o barulho de um motor de carro, pois a criança apresenta muito
interesse pelo brinquedo e, também, após a criança ver o pai empilhar blocos de plástico ou de
madeira, para que ele depois os derrubasse, emitindo a palavra caiu.

DISCUSSÃO E CONCLUSÃO

Como se pode verificar, ainda se encontra resistências, de alguns profissionais da área de


Saúde, para acolher e valorizar as informações e as percepções dos pais quanto ao
desenvolvimento de seus filhos. Tal fato, por certo, tem sérias implicações, pois acarreta
atraso nas orientações para a família, bem como no atendimento da criança com risco de
autismo, que necessita de intervenções imediatas, para favorecer o seu desenvolvimento.
A literatura científica assinala que a participação de pais de crianças com autismo em
programas de intervenção, que empregam rotinas interativas, e assumindo o papel de agentes
terapêuticos, é avaliado como uma melhor prática de tratamento para o autismo (NATIONAL
RESEACH COUNCIL, NRC, 2001) e tem apresentado resultados promissores no
desenvolvimento da linguagem e da comunicação das crianças (STIEBEL, 1999;
KASHINATH; WOODS; GOLDSTEIN, 2006; NUNES; HANLIVE, 2007; MCCONACHIE
et al., 2005; GIROLAMETTO, SUSSMAN; WEITZMAN, 2007).
Halle (1984) afirma que os pais/cuidadores desempenham o papel mais importante e,
possivelmente, o mais eficiente no ensino da linguagem para crianças pequenas. Assim, a
capacitação de pais para a utilização do programa More Than Words: The Hanen Program for
Parents of Children with Autism Spectrum Disorders (Sussman, 1999), objetivando favorecer
o desenvolvimento das competências necessárias para promoção da linguagem, da
comunicação e das habilidades sociais de seus filhos com autismo (GIROLAMETTO et al.,
2007), pode ser uma interessante contribuição para alavancar o desenvolvimento dessa
população e possibilitar uma melhor qualidade de vida tanto para a criança como para a sua
família.

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