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GOVERNO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

SECRETARIA DE ESTADO DA SEGURANÇA PÚBLICA E DA DEFESA SOCIAL


POLICIA MILITAR
DIRETORIA DE ENSINO
CENTRO DE FORMAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO DA POLÍCIA MILITAR –
CFAPM
0.00% CURSO DE APERFEIÇOAMENTO DE SARGENTOS – CAS 2019.2

Polícia de Proximidade

Curso de Aperfeiçoamento de Sargentos


(2ª Edição – setembro de 2019)

Natal/RN
2019

Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 1


Janildo da Silva Arante1

Conteúdo apresentado ao CFAPM (APM–CFAPM–UERN)


para a disciplina de Polícia Interativa (Polícia Comunitária e
Policiamento Orientado na Resolução de Problemas - 20
horas/aula) junto ao Curso de Aperfeiçoamento de Sargentos –
CAS 2019.2 como material complementar e/ou embasador às
aulas expositivas dialogadas.

Natal/RN
2019

1Janildo da Silva Arante, 2º Sargento QPMP-0 - PMRN, é formado em Matemática Licenciatura Plena pela UFRN e pós-graduando em
Polícia Comunitária (UNYLEYA) e em Criminologia (Faculdade Futura). Possui diversos cursos na área de Segurança Pública. Já ministrou,
junto ao CFAPM (CFS e CAS), além dessa disciplina, as disciplinas de Estatística Aplicada à segurança Pública (CFS - CFAPM), Sistema e
Gestão em Segurança Pública (CAS), Polícia Comunitária (CAS), Polícia Interativa (CAS – Nova Cruz), Fundamentos da Gestão Pública
Aplicados à Segurança Pública (CFS – Nova Cruz), Sistemas de Segurança Pública e Gestão Integrada e Comunitária (CFS – CFAPM e Nova
Cruz) e Didática Aplicada à segurança Pública (CFS - CFAPM).
Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 2
GOVERNO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE
SECRETARIA DE ESTADO DA SEGURANÇA PÚBLICA E DA DEFESA
SOCIAL
POLICIA MILITAR
DIRETORIA DE ENSINO
CENTRO DE FORMAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO DA POLÍCIA
0.00% MILITAR – CFAPM
CURSO DE APERFEIÇOAMENTO DE SARGENTOS – CAS 2019.2
Unidade Curricular: POLICIAMENTO DE PROXIMIDADE
Cód:
Carga Horária: 20 h/a
EMENTA
I – CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
1.Portaria nº 43, de 12 de abril de 2019, onde institui as Diretrizes Nacionais e o Manual de Polícia;
2. Polícia Comunitária. Conceituação de Polícia Comunitária: sua filosofia, suas características e seus princípios;
3. Principais instrumentos do Policiamento Comunitário;
4. Policiamento Orientado para a Resolução de Problemas. Conceito e componentes de situações-problema -
Diagnóstico de situações problemáticas; Etapas da solução de problemas; Identificação de alternativas; Avaliação de alternativas;
Discussão, planeamento e encaminhamento participativo de soluções; Análise de etapas e forma de comunicação; Resposta;
Avaliação de resultados e Ferramentas de auxílio à tomada de decisão;
5. Mobilização social: uma via de mão dupla;
6. Gestão pela qualidade aplicada ao policiamento de proximidade;
7. Polícia de Proximidade: da teoria à prática.
II – OBJETIVO
Apresentar informações e ferramentas objetivas aos discentes a fim de viabilizar a prática do Policiamento de Proximidade,
bem como analisar os seus pontos fortes e avaliar a utilização de técnicas específicas que modifiquem a própria realidade e da
comunidade em que se estar inserido.
III - ESTRATÉGIAS DE ENSINO
Os temas abordados poderão ser desenvolvidos através de aulas expositivas, debates, trabalhos em grupo e individual,
utilizando os recursos didáticos disponíveis para auxiliar na fundamentação do ensino-aprendizagem.
IV- PROCEDIMENTOS DE AVALIAÇÃO
A avaliação deverá ser fundamentada em todo conteúdo ministrado, será composta por questões objetivas, valendo 100% da
nota, pois se trata de uma única avaliação.
V- REFERÊNCIAS
DIAS, Reinaldo. 2008. Introdução à Sociologia, 2ª. Edição. Pearson Prentice Hall: São Paulo.
GALDEANO, A. P. Para falar em nome da segurança: o que pensam, querem e fazem os representantes dos Conselhos
Comunitários de Segurança. 2009.
28/02/2018 SEI/MJ – 4196017 – Ementa https://sei.mj.gov.br/sei/controlador.php?
acao=documento_imprimir_web&acao_origem=arvore_visualizar &id_documento=5001747&infra_sistem… 2/2
HENRIQUES, M. S.; BRAGA, C. S.; MAFRA, R. L. M. O planejamento da comunicação para a mobilização social: em busca da
co-responsabilidade. Comunicação e estratégias de mobilização social. 2a . ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.
SKOLNICK, J. H.; BAYLEY, D. H. Policiamento Comunitário: Questões e Práticas Através do Mundo. [s.l.] EdUSP, 2002. v. 6.
TORO, B. Mobilização social: uma teoria para a universalização da cidadania. Comunicação e Mobilização Social. Série
Mobilização Social. Brasília: UNB, v. 1, 1996.
MINISTRO DE ESTADO DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA, Portaria nº 43, de 12 de abril de 2019.

Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 3


MÓDULO 1. PORTARIA Nº 43, DE 12 DE ABRIL DE 2019, ONDE INSTITUI AS
DIRETRIZES NACIONAIS E O MANUAL DE POLÍCIA
DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO
Publicado em: 18/04/2019 | Edição: 75 | Seção: 1 | Página: 61
Órgão: Ministério da Justiça e Segurança Pública/Secretaria Nacional de Segurança Pública
 

PORTARIA Nº 43, DE 12 DE ABRIL DE 2019

Institui as Diretrizes Nacionais e o Manual de Polícia Comunitária.

O SECRETÁRIO NACIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA, no uso da competência que lhe confere o art. 23, do anexo I,
do Decreto n° 9.662, de 1º de Janeiro de 2019, resolve:
Art. 1º Esta Portaria institui as Diretrizes Nacionais e o Manual de Polícia Comunitária, na forma dos Anexos.
Art. 2º Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.
GUILHERME CALS THEOPHILO GASPAR DE OLIVEIRA
ANEXO I
DIRETRIZES NACIONAIS DE POLÍCIA COMUNITÁRIA
Diretriz 1: Visão sistêmica da Polícia Comunitária
Entendida como filosofia e estratégia organizacional que deve permear toda a instituição policial e não apenas constituir
um programa de policiamento ou fração de efetivo.
Diretriz 2: Conteúdo obrigatório nas malhas programáticas dos cursos de formação e aperfeiçoamento
Conteúdo obrigatório nas malhas programáticas dos cursos de formação e aperfeiçoamento, com aulas a serem
ministradas por multiplicadores formados nas capacitações estaduais, nacionais ou internacionais.
Diretriz 3: Preferência pelo emprego de todos policiais recém-formados na atividade de Policiamento Comunitário
Fixação de seu emprego por período que propicie o estabelecimento de laços de confiança com a comunidade local.
Diretriz 4: Utilização de ações policiais sociais como meio de aproximação comunitária, de forma a contribuir com
o policiamento comunitário e não como fim
Utilização de ações policiais sociais como meio de aproximação comunitária, de forma a contribuir com o policiamento
comunitário e não como fim, e por prazo certo, dentro da dinâmica operacional de cada instituição, tendo em vista que estas
oneram efetivo profissional imprescindível para a atividade policial e devem ter sua continuidade preferencialmente
empreendida por voluntários oriundos da comunidade, prática que deve ser incentivada e valorizada na sociedade.
Entende-se ação policial social aquela empreendida em prol da comunidade local, mas que não demande para sua
implementação de profissional com formação e experiência na área de segurança pública, como, por exemplo, o ministério de
aulas de música ou esportes.
Não estão inclusas nesta classificação as ações de policiais em escolas quanto à conscientização da prevenção do uso de
drogas (PROERD) e outras similares, as quais requerem expertise em segurança pública por parte do agente, a fim de que seja
propiciado ao público-alvo um completo panorama do problema sob perspectiva institucional. Destaca-se que neste programa
os policiais atuam realizando, concomitantemente, policiamento comunitário escolar, aplicação de lições em salas de aula e
constante interação junto às comunidades locais atendidas, sendo, portanto, considerado atividade de policiamento
comunitário.
Diretriz 5: Estruturação e normatização dos Conselhos Comunitários de Segurança
Importância da estruturação e normatização dos Conselhos Comunitários de Segurança, ou organismo congênere, para a
integral implementação do Sistema, por meio de fórum de comunicação presencial entre os gestores de segurança pública,
municipalidade e a comunidade, de forma que seus anseios sejam ouvidos e levados em consideração quando do planejamento
e ação operacional das instituições, bem como seja incentivada a consciência de corresponsabilidade na construção de uma
sociedade segura, meta a ser alcançada pela ação sinérgica de todos os atores envolvidos.
Diretriz 6: Colaboração federativa
Implementação de mecanismos de inter-relação e colaboração federativa para multiplicação de boas práticas e
aperfeiçoamento do Sistema, por intermédio de mecanismos como as visitas técnicas e os seminários.
Diretriz 7: Disseminação e uniformização da filosofia de polícia comunitária
Disseminação e uniformização da filosofia de polícia comunitária entre todos atores do Sistema de Segurança Pública
brasileiro, preferencialmente a partir de profissionais multiplicadores capacitados.
Devem as unidades da federação primar por manter uma identidade mínima de policiamento comunitário que mantenha,
como princípio básico de atuação norteadora de toda estrutura, a fixação do efetivo na área de atuação, a realização de visitas
comunitárias e solidárias, a realização de reuniões comunitárias, a mobilização comunitária e, sobretudo, que se dê autonomia
de ação ao policial comunitário dentro de sua esfera de atribuições.
Cabe destacar que a presente diretriz deve ser entendida como uma meta a ser alcançada por meio de esforços
institucionais de todos atores envolvidos na área de segurança pública, não constituindo obrigação exclusiva de uma
instituição.
Diretriz 8: Mobilização e ação sinérgica com os atores responsáveis pela implementação de Políticas Sociais

Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 4


Participação de Organizações Sociais, Instituições Públicas e/ou Privadas de todas as esferas para criar e fortalecer, de
forma transversal, o sistema com foco no cidadão.
Diretriz 9: Mensuração das ações de Polícia Comunitária
Sistematizar modelos de mensuração das ações de Polícia Comunitária, proporcionando a valorização de ações
preventivas e melhorando a motivação do profissional de segurança pública, com reconhecimento e/ou premiação periódica.
Diretriz 10: Comunicação ágil entre as esferas federal, estadual e municipal,
Comunicação ágil das esferas de poder, propiciando o fluxo de informações pelo canal técnico, devendo ser ma ntido
atualizado o nome do Coordenador Estadual de Polícia Comunitária junto à SENASP.
Diretriz 11: Eficácia da polícia é medida pela percepção de segurança e ausência de crime e de desordem
Eficácia da polícia é medida pela percepção de segurança e ausência de crime e de desordem e não, tão somente, por meio
de quantificações de prisões, apreensões de produtos ilícitos, operações, dentre outras.
Diretriz 12: Retroalimentação da gestão operacional
Avaliações periódicas alicerçadas não só em dados estatísticos criminais, mas também com as contribuições advindas da
interação com a comunidade.
Diretriz 13: Cidadão cliente
O cidadão é o "cliente" por excelência das instituições de segurança pública, que devem manter seu esforço e foco em prol
da sociedade, materializando o conceito de que a Segurança Pública é um bem imaterial.
Diretriz 14: Prestação de contas
O policial presta contas de seu trabalho aos respectivos superiores hierárquicos e a instituição policial à comunidade por
meio de reuniões comunitárias.
Diretriz 15: Manutenção permanente de desafios
Visão interacionista deve ser enfatizada como mudança de foco dos conflitos, encorajando-os com vistas a estabelecer
grupos harmoniosos, pacíficos e cooperativos, controlando comportamentos estáticos e apáticos.
Diretriz 16: Respeito mútuo
O relacionamento institucional junto às comunidades deverá pautar-se por meio de características fundamentais que
permeiam o processo de comunicação e mútuo respeito devidos, por meio da empatia, alteridade, bom senso, cooperação,
probidade, dentre outros aspectos que agreguem valores positivos necessários às Instituições policiais envolvidas.
Diretriz 17: Responsabilidade territorial
O policiamento comunitário, no âmbito das Instituições Policiais envolvidas, será implementado aproveitando-se
quaisquer processos de policiamento desenvolvidos in loco de forma a garantir a fixação do efetivo e a responsabilidade
territorial, adaptável a cada realidade local no âmbito das Unidades da Federação.
Diretriz 18: Engajamento dos mais altos níveis
As altas direções deverão primar pela continuidade dos serviços prestados com foco voltado à aproximação institucional
com a sociedade, por meio de tecnologias administrativas e operacionais sustentáveis. Bem como incentivar seus subordinados
ao desenvolvimento contínuo de práticas de polícia comunitária.
ANEXO II
MANUAL DE POLÍCIA COMUNITÁRIA (Hiperlink)

MÓDULO 2. POLÍCIA COMUNITÁRIA.


CONCEITUAÇÃO DE POLÍCIA COMUNITÁRIA: SUA FILOSOFIA, SUAS
CARACTERÍSTICAS E SEUS PRINCÍPIOS;
CONTEXTUALIZAÇÃO
HISTÓRICO
O século XIX constituiu-se em marco fundamental para o desenvolvimento das instituições de segurança pública, com as
polícias buscando maior legitimidade e profissionalização. Como referência ocidental, a Polícia Metropolitana da Inglaterra,
fundada em 1829, sob os princípios de Sir Robert Peel, mudou os paradigmas, dando preponderância ao papel preventivo de
suas ações, com foco na proteção da comunidade.
O consenso, em detrimento do poder de coerção, e a prevenção, em detrimento da repressão, reforçaram a proximidade da
polícia com a sociedade, com atenção integral ao cidadão. Tradicionalmente conhecido, o modelo inglês retirou as polícias do
isolamento, apresentando-as à comunidade como uma importante parceira da segurança pública e fundamental para a redução
da violência. Com isso, surgiu o conceito de uma organização policial moderna, estatal e pública, em oposição ao controle e à
subordinação política da polícia, seja por parte do poder executivo, seja por parte de líderes locais.
Quase que simultaneamente e tão importante quanto a experiência inglesa, perdurando até hoje, no Japão foi desenvolvido um dos
processos mais antigos de policiamento comunitário do mundo. Todo policial japonês, ao terminar seu curso de formação, inicia suas
atividades junto às bases comunitárias denominadas “Koban” ou “Chuzaisho”, sendo a primeira localizada em áreas com maior circulação
de pessoas e a segunda caracterizada por ser, também, residência do policial e de sua família, com predominância nas áreas rurais. O
modelo japonês é reconhecido por suas características culturais de aproximação, respeito e cidadania.
A polícia comunitária japonesa é extremamente ativa em seu serviço voltado à comunidade, objetivando, dessa forma, o
estabelecimento de laços sólidos com o cidadão. O policial japonês realiza, periodicamente, visitas comunitárias às casas dos
cidadãos, denominadas “Junkai renraku”2, visando estabelecer contato, aproximar-se da população e levantar dados quanto
aos problemas existentes no bairro. Com base no levantamento desses dados é feito um programa de ação a fim de apresentar
respostas às questões.

2Junkai Renraku são atividades que os policiais comunitários realizam, por meio da visita a famílias e aos locais de trabalho, ocasião em que repassam
orientações sobre a prevenção de ocorrências de crimes e acidentes, além de recepcionarem informações sobre problemas, solicitações e sugestões da
comunidade (SENASP, p. 156).

Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 5


A polícia comunitária é tão presente e ativa no modelo policial japonês que todo policial é obrigado a fazer parte da
mesma e de conscientizar-se de sua finalidade. A estrutura básica do sistema japonês, datado de 1879, combina a cultura
tradicional com os ideais democráticos do Pós II Guerra Mundial, o que permite que o policial demonstre claramente sua
formação cultural, sendo extremamente educado, polido e disciplinado.
Na América Latina, os anos 1960 e seguintes foram marcados por um considerável aumento da criminalidade, perturbação
da ordem pública e distúrbios urbanos, causando grandes impactos no serviço policial, motivando diversos cientistas policiais a
estudarem de forma minuciosa a função policial de preservação da ordem pública, concluindo que essa preservação depende
preponderantemente de relações comunitárias ativas, apontando a necessidade da íntima aproximação e identificação da polícia
com a comunidade.
No Brasil, as primeiras iniciativas de implantação da Polícia Comunitária iniciaram-se com a edição da Carta
Constitucional de 1988 e a necessidade de uma nova concepção para as atividades policiais, por meio da adoção de estratégias
de fortalecimento das relações das forças policiais com a comunidade, com destaque para a conscientização interna sobre a
importância do trabalho policial e a contribuição da participação do cidadão para a mudança pretendida por todos.
Atualmente, incentivados pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública e por meio da Secretaria Nacional de Segurança
Pública, os entes federados são estimulados à prática policial que esteja em conformidade com os postulados da Polícia
Comunitária, permitindo a constituição de um sistema que se funda na cooperação e visão sistêmica.
Ressalta-se que conforme preceitua a Carta magna, a polícia ostensiva, de competência das polícias militares, e a polícia judiciária, de
competência das polícias civis, bem como as polícias federais, todas previstas no art. 144, incisos I a V do caput, da Constituição, são as
instituições responsáveis pela pela segurança pública em âmbito nacional, sendo que a presente Diretriz visa fortalecer as relações das
polícias entre si e primordialmente com as comunidades locais.
2.1. DOUTRINA DE POLÍCIA COMUNITÁRIA;

Polícia Comunitária no Mundo: breve histórico


Marcelo P. das Neves de Oliveira 3
A concepção de que a polícia poderia atender de maneira mais apropriada aos cidadãos e às comunidades, a partir da
instituição do Estado Democrático de Direito fez crescer em várias partes do mundo, a ideia de um
policiamento próximo à comunidade, sob a égide de uma ideologia preventiva. Todavia, Skolnick e
Bayley (2006, p. 52) lecionam que “[...] o sistema de policiamento comunitário mais antigo e
estabelecido de melhor forma é o japonês”, adotado imediatamente após a II Guerra Mundial, antes
mesmo de se tornar popular. Já Marcineiro (2009) vai mais além, afirmando que suas manifestações
primeiras no Japão datam de 1879. O modelo é calcado numa ampla rede de postos policiais
denominados kobans e chuzaishos.
Esta orientação para o serviço à comunidade e o tratamento proativo do crime também foi
adotada se não na mesma época, pouco tempo depois, pela Malásia, Coréia, China e Cingapura, o
que deu origem ao termo “Escola de Polícia Oriental” (ideologia preventiva), a qual se contrapõe à
Escola Anglo-Saxônica (ideologia reativa e de controle social) e à Escola Latina (ideologia militarista).Em 1829, o Primeiro-
Ministro Inglês Sir Robert Peel, tendo por base a polícia francesa, criou a Real Polícia Metropolitana de Londres, tida por vários
autores como a primeira organização policial moderna, estabelecendo nove princípios para regê-la, todos em sintonia com a
filosofia de Polícia Comunitária.
Um dos princípios diz: “[...] A polícia deve se esforçar para manter constantemente com o povo [comunidade] um relacionamento
que dê realidade à tradição de que a polícia é o povo [comunidade] e o povo é a polícia” ( MARCINEIRO E PACHECO, 2005 apud
AMORIN, 2009, p. 32).
No período de 1914 a 1919, Arthur Woods, Comissário de Polícia de Nova Iorque - EUA, começou a incutir na base da
Polícia e da comunidade, através de uma série de conferências na Universidade de Yale, a percepção da importância social, da
dignidade e do valor público do trabalho do policial.
Inovou ao criar o policial júnior e ao visitar as escolas, podendo suas ações serem consideradas uma primeira versão do
policiamento comunitário nos Estados Unidos.
Mas foi a partir da década de 60, após cerca de 40 anos de “período tranquilo”,que algumas pesquisas, como a realizada
em Kansas City, onde ficou constatada a ineficácia do “patrulhamento preventivo de rotina” com relação à diminuição da
criminalidade, ao medo do crime, a atitude da comunidade frente à polícia e ao tempo resposta, bem como os tumultos urbanos
ocorridos em bairros negros de cidades como Detroit, Newark, Los Angeles e Nova Iorque a partir de tensões entre policiais e
afro-americanos4, levaram algumas polícias estadunidenses a se encorajarem para a realização de algumas reformas na sua
estrutura e nos seus procedimentos operacionais, buscando uma cooperação da comunidade.
Esta atitude foi fortalecida com o Relatório da Comissão Presidencial sobre Policiamento e Administração da Justiça
(Comissão do Crime), em 1967, o qual afirmou que a polícia sozinha não seria capaz de preservar a paz e controlar o crime,
sendo necessária a participação do público, surgindo daí o “policiamento em grupo”, culminando na comunitarização da
polícia.

3Marcelo P. das Neves de Oliveira, tenente da PMBA; Graduado em Segurança Pública (Academia de Polícia Militar da Bahia, 2004); Pós-graduando em Polícia
Comunitária (UNISUL, 2009, bolsista SENASP/MJ); Pós-graduando em Ética, Teologia e Educação (EST, 2009); Pós-graduando em Educação à Distância (UNEB,
2009). É professor de Técnica Policial na Academia de Polícia Militar da Bahia.
4 As causas desses distúrbios foram relatadas pela Comissão Consultiva Nacional sobre Desobediências Civis (Comissão Kerner) em 1968.

Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 6


Ainda nesse período, as pesquisas apontaram que o aumento do número de policiais, o patrulhamento ao acaso (passivo),
as viaturas com duas pessoas, o patrulhamento mais intenso, o tempo resposta e as investigações criminais não se constituíam
em medidas eficazes para a redução da criminalidade.
O problema do aumento da violência e da criminalidade ocorreu paralelamente em países da Europa e Ásia, surgindo
novas experiências do policiamento comunitário na Noruega, Suécia, Dinamarca, Finlândia, Inglaterra, bem como na Austrália,
no Canadá e em Cingapura, entre as décadas de 70 e 80.
Na América Latina, as polícias vêm passando por uma crise de identidade, fruto da transição do período ditatorial, quando
estavam muito ligadas às Forças Armadas, para a redemocratização, que exigiu uma mudança significativa de seu papel. Com
isso, as organizações policiais latino-americanas tem sido vistas frequentemente como ineficientes no combate ao crime e
violentas no trato com a população.
Este foi o contexto para a realização de experiências comunitárias no Brasil, Colômbia, Chile, Uruguai, Argentina,
Paraguai, República Dominicana, no intuito de se recuperar o prestígio da Polícia. O PNUD tem desenvolvido em parceria
com estes países, o Projeto Segurança Cidadã, que visa modificar o velho paradigma de gestão da segurança pública baseado
na “Defesa do Estado” e na “Segurança Nacional”, para um modelo mais voltado para o cidadão.
Portanto, as experiências internacionais aqui relatadas expressaram “[...] uma tentativa de se repensar e reestruturar o
papel da polícia na sociedade” (ROSENBAUM, 2002, apud BRODEUR, 2002, p. 27), assim como de se resgatar a confiança
e legitimidade junto à comunidade, sendo que esse processo acumulou algumas dificuldades.

REFERÊNCIAS
AMORIM, Jorge Schorne de. Sistema Nacional de Segurança Pública. Palhoça, 2009. Livro didático do Curso de
Especialização em Polícia Comunitária da UnisulVirtual.
BRODEUR, Jean-Paul. Como Reconhecer um Bom Policiamento: problemas e temas; tradução de Ana Luísa Amêndola
Pinheiro. São Paulo: EDUSP, 2002. (Série Polícia e Sociedade; n.º 6).
SKOLNICK, Jerome H; BAYLEY, David. Policiamento Comunitário: Questões e Práticas Através do Mundo; tradução de
Ana Luísa Amêndola Pinheiro. 1ª ed. São Paulo: EDUSP, 2006. (Série Polícia e Sociedade; n.º 6 / Organização: Nancy Cardia).
POLÍCIA COMUNITÁRIA
Com o fenômeno da globalização, a necessidade de intercâmbio entre países passou a exigir a aplicação da legislação e de regras
internacionais, especialmente no que se refere ao cumprimento e respeito aos direitos e garantias dos cidadãos, tornando essencial o
conhecimento dos tratados de Direitos Humanos.
O Brasil, como país emergente, cujas dimensões e características ressaltam ao mundo um futuro promissor entre as
nações, se faz presente praticamente em todos os acordos internacionais de relevância, tornando assim latente a importância de
ter uma Polícia direcionada aos compromissos de defesa da vida e da integridade física das pessoas, bem como voltada à defesa
da cidadania e ao respeito pelos cidadãos.
Voltado a tais objetivos, nos idos do ano de 1992, o Comando da PMESP, atento a essas evoluções, determinou estudos
sobre formas de atuação que firmassem os conceitos de respeito à cidadania por meio da atuação do policiamento, surgindo
então a estratégia doutrinária do policiamento comunitário, a qual em alguns países, como Estados Unidos, Canadá e
Cingapura, já se encontrava em desenvolvimento e aplicação, tendo como alicerce o exemplo dessa prática no Japão, com
experiência desde o ano de 1868.
No Japão, pelas próprias características e cultura, o sistema de policiamento comunitário é baseado em instalações físicas
fixas, denominadas Koban5 e Chuzaisho6, onde os policiais são fixados em territórios delimitados, passando a fazer parte
integrante da comunidade e exercendo uma polícia de defesa da cidadania em estreita parceria com a própria comunidade.
A principal premissa do policiamento comunitário é o respeito aos princípios dos Direitos Humanos, norteando os serviços de polícia em
conformidade com as expectativas da comunidade, sendo necessária a participação dos cidadãos, além de entidades públicas e privadas, na
identificação e resolução rápida dos problemas ligados à segurança, com um objetivo maior: a melhoria da qualidade de vida.
O embrião no Estado de São Paulo foi, no ano de 1985, a criação dos Conselhos Comunitários de Segurança (CONSEG), os quais, apesar
de, na época, não se referirem ao Policiamento Comunitário, tinham e têm como objetivo a gestão participativa da comunidade nas questões
de segurança pública.
Apesar das poucas experiências e do curto espaço de tempo entre o conhecimento da teoria e o planejamento de sua aplicabilidade, no ano
de 1999, foram criadas, em todo Estado de São Paulo, diversas edificações Policiais Militares em locais onde a maior presença policial militar
era necessária, marcando o início da operacionalidade do policiamento comunitário. Tais edificações Policiais Militares foram denominadas
Bases Comunitárias de Segurança (BCS).
As BCS, apesar de objetivarem a presença policial militar junto à sociedade, não atenderam todas as expectativas, principalmente
pela falta de sistematização do emprego do efetivo, do emprego de recursos materiais e, principalmente, pela ausência de padronização
da forma de atuação.
Diante dessa evolução, em 19 de abril de 2004, foi firmado o Acordo de Cooperação Técnica entre Brasil e Japão, na
busca fundamental de estudos e planejamento de operacionalização do sistema de policiamento comunitário, baseado no

5Os kobans (sistema de policiamento japonês) eram vistos como bases fixas de patrulhamento - recebiam queixas e solicitações de serviço, realizavam o
patrulhamento a pé, de bicicletas, e de patinetes motorizados, respondendo, quando fosse viável, as chamadas de serviços de emergência e dando atenção
especial para a ligação com a comunidade e para a prevenção do crime. (Cf. SKOLNICK, Jerome H.; BAYLEY, David H. Policiamento Comunitário: Questões e
Práticas através do Mundo. p. 89). Os Kobans, localizam-se normalmente nos locais onde haja grande fluxo de pessoas, como zonas comerciais, turísticas, de
serviço,próximo às estações de metrô, etc., sendo que, nesse tipo de posto trabalham equipes compostas por 03 ou mais policiais, conforme o fluxo de
pessoas na área delimitada como circunscrição do posto, funcionando 24 horas por dia, existindo atualmente mais de 6.500 Kobans em todo o país. (Cf.
CAVALCANTE NETO, Miguel Libório. A Polícia Comunitária no Japão: Uma Visão Brasileira. Encontro Nacional de Polícia Comunitária, realizado em Brasília/
DF, de 13 a 16 de dezembro de 2001. Disponível em:http://www.estacaodocomputador.com.br.p.1).
6É uma casa que serve de posto policial 24 (vinte e quatro) horas, onde o policial reside com seus familiares, e na sua ausência a esposa atende aqueles que
procuram o posto. Localiza-se normalmente nos bairros residenciais e conta atualmente com mais de 8.500 postos nesta modalidade. (Cf. CAVALCANTE NETO,
Miguel Libório. A Polícia Comunitária no Japão: Uma Visão Brasileira.p.1

Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 7


sistema japonês de Koban/Chuzaisho7, porém, não como cópia, mas sim com a adequação dos preceitos utilizados pela
Polícia Nacional do Japão, atendendo às características do Estado e da população de São Paulo, semelhante ao ocorrido em
outros países, como Cingapura, que, se valendo da experiência do Japão, pôde desenvolver um sistema próprio para atender
suas necessidades em relação à segurança pública.
Considerando, portanto, o sistema japonês, em consonância com a realidade paulista e consequentes adequações,
identificou-se as BCS como equivalentes aos Koban e, da mesma forma, foram idealizadas as Bases Comunitária de
Segurança Distritais (BCSD), segundo o modelo Chuzaisho; um local onde o policial reside e trabalha.
A partir de 2005 o Projeto Piloto iniciou a busca de padronização de procedimentos, onde 08 (oito) Bases Comunitárias de Segurança
(BCS) foram selecionadas e começaram a passar por um processo de padronização e sistematização metodológica. Para tanto tivemos, em São
Paulo a presença de um policial japonês para acompanhar o que consideramos um marco na História do Policiamento Comunitário. Este policial
participou do Grupo de Trabalho formado pelos Comandantes das Companhias, das BCS Piloto, por Oficiais do Comando de Policiamento da
Capital e da Divisão de Polícia Comunitária e de Direitos Humanos, para adaptar o modelo japonês à realidade de nossa cultura, da
criminalidade do Estado e das condições operacionais da Polícia Militar, implementando o serviço nas BCS, padronização da escrituração,
equipamentos, formas de abordagem e contato com a comunidade, incentivo do desenvolvimento de projetos conjuntos, a criação de canais de
comunicação entre a Polícia e a Comunidade, buscando eficácia e eficiência na prevenção da criminalidade, missão constitucional da PM e
grande objetivo do Policiamento Comunitário. No final de 2006, em razão dos excelentes resultados obtidos, o Projeto Piloto com o apoio da
JICA foi ampliado para mais 12 (doze) Bases Comunitárias de Segurança, sendo mais 08 (oito) na capital, 02 (duas) na região metropolitana
(Taboão da Serra e Suzano) e 02 (duas) no interior (São José dos Campos e Santos).
Com o final do Acordo de Cooperação Técnica em 2008, em análise técnica e auditoria ao Projeto, elaborados
conjuntamente entre os integrantes do grupo de trabalho da PM, integrantes da JICA (Japan International Cooperation
Agency) e integrantes da Polícia Nacional do Japão, a Polícia Militar do Estado de São Paulo foi credenciada como polo
difusor do policiamento comunitário no modelo japonês, já adaptado à realidade brasileira, aos demais estados do Brasil, bem
como aos países da América Latina e África, onde se iniciaram novas tratativas no sentido de formalizar novo Acordo de
Cooperação Técnica.
Em novembro de 2008 foi firmado o novo Acordo de Cooperação Técnica, entre a JICA e a PMESP, com duração de 03
(três) anos, onde a PMESP comprometeu-se a ser o polo difusor do policiamento comunitário aos demais estados brasileiros e
aos países da América Latina. Para a concretização de tais objetivos, foram incorporados dois novos parceiros ao Acordo: a
Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP), ligado ao Ministério da Justiça e a Agência Brasileira de Cooperação
(ABC), ligada ao Ministério das Relações Exteriores. Como parte do Acordo, a SENASP responsabiliza-se a implantar e
implementar o policiamento comunitário no modelo japonês (sistema Koban) aos estados brasileiros e a ABC responsabiliza-
se com relação aos países da América Latina (Nicarágua, Costa Rica, Guatemala, Honduras e El Salvador). A PMESP
desenvolveu o material didático e o currículo do Curso Internacional de Polícia Comunitária (Sistema Koban) para formação
de Oficiais das polícias militares de 11 (onze) estados brasileiros (Acre, Pará, Alagoas, Distrito Federal, Rio de Janeiro, Minas
Gerais, Bahia, Rio Grande do Sul, Espírito Santo, Mato Grosso e Goiás) e Oficiais de 05 (cinco) países da América Central
(Nicarágua, Honduras, Guatemala, El Salvador e Costa Rica), que após formados estarão encarregados de difundir e implantar
a filosofia e doutrina do policiamento comunitário aos integrantes de suas instituições. O Acordo prevê também a participação
da PMESP na assessoria aos estados brasileiros e países da América Central, para implantação e implementação das BCS,
BCSD e Bases Comunitárias Móveis (BCM).
É de fundamental importância o entendimento de que os preceitos doutrinários de Policiamento Comunitário visam o atendimento aos
cidadãos de bem, pois aos infratores da lei e arredios às regras sociais, aplicam-se as normas e legislação vigente. Ressalta-se que o
Policiamento Comunitário não se traduz em forma branda de aplicabilidade legal, mas sim atuação de uma Polícia voltada à cidadania e
essencialmente participativa. Diante dessa evolução, em 19 de abril de 2004, foi firmado o Acordo de Cooperação Técnica entre Brasil e Japão,
na busca fundamental de estudos e planejamento de operacionalização do sistema de policiamento comunitário, baseado no sistema japonês
de Koban/Chuzaisho, porém, não como cópia, mas sim com a adequação dos preceitos utilizados pela Polícia Nacional do Japão, atendendo às
características do Estado e da população de São Paulo, semelhante ao ocorrido em outros países, como Cingapura, que, se valendo da
experiência do Japão, pôde desenvolver um sistema próprio para atender suas necessidades em relação à segurança pública.
Considerando, portanto, o sistema japonês, em consonância com a realidade paulista e consequentes adequações, identificaram-se as
BCS como equivalentes aos Koban e, da mesma forma, foram idealizadas as Bases Comunitária de Segurança Distritais (BCSD),
segundo o modelo Chuzaisho; um local onde o policial reside e trabalha.
É de fundamental importância o entendimento de que os preceitos doutrinários de Policiamento Comunitário visam o
atendimento aos cidadãos de bem, pois aos infratores da lei e arredios às regras sociais, aplicam-se as normas e legislação
vigente. Ressalta-se que o Policiamento Comunitário não se traduz em forma branda de aplicabilidade legal, mas sim atuação
de uma Polícia voltada à cidadania e essencialmente participativa.
Disponível em: <http://www4.policiamilitar.sp.gov.br/unidades/dpcdh/index.php/policia-comunitaria/>. Acesso em 13 nov
18.
2.1.1. POLÍCIA COMUNITÁRIA COMPARADA – INTERNACIONAL
2.1.1.1 – ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA
Os principais programas comunitários desenvolvidos nos E.U.A são:
a. “Tolerância Zero – programa desenvolvido dentro do critério de que qualquer delito (de menor ou maior potencial
ofensivo) deve ser coibido com o rigor da lei”. Não apenas os delitos, mas as infrações de trânsito e atos antissociais como
embriaguez, pichações, comportamentos de moradores de rua, etc. O programa exige a participação integrada de todos os
órgãos públicos locais, fiscalizados pela comunidade. Não é uma ação apenas da polícia. A cidade que implementou este

7 Antigamente, havia no Japão pequenos postos policiais, chamados “Kobansho”, que em 1881 foram denominados “Hashutsusho” e, em 1994, a pedido da
população, tornaram-se “Koban”, em que “Ko” significa troca e “Ban” vigilância. Logo, “sistema de vigilância por troca”, em que a instalação física do Koban
é referência para a comunidade procurar a polícia, enquanto a polícia oferece atenção à comunidade. Em 1888, nascia o “ Chuzaisho”. “Chuzai” é a residência
onde trabalha e “sho” é o local. Ou seja: “instalação em que o policial mora e trabalha” com a família, geralmente situada em áreas rurais ou cidades menores.
Na ausência do policial, a esposa, remunerada para tal, atende aos solicitantes.

Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 8


programa com destaque foi Nova Iorque que, devido o excepcional gerenciamento reduziu quase 70% a criminalidade na
cidade.
b. “Broken Windows Program”- baseado na “Teoria da Janela Quebrada” de George Kelling o programa estabelece
como ponto crucial a recuperação e estruturação de áreas comuns, comunitárias, ou mesmo a comunidade assumir o seu papel
de recuperação social. Um prédio público preservado, o apoio para recuperação de um jovem drogado são mecanismos fortes
de integração e participação comunitária. É a confirmação da teoria de Robert Putnam (engajamento cívico). Este programa
também preconiza formas de prevenção criminal, reeducando a comunidade;
c. “Policing Oriented Problem Solving” – o “Policiamento Orientado ao Problema” é mais um meio de engajamento
social. A premissa baseia-se no conceito de que a polícia deixa de reagir ao crime e passa a mobilizar os seus recursos e
esforços na busca de respostas preventivas para os problemas locais; ao invés de reagir contra incidentes, isto é, aos sintomas
dos problemas, a polícia passa a trabalhar para a solução dos próprios problemas. A noção do que constitui um
problema desde uma perspectiva policial expande-se consideravelmente para abranger o incrível leque de distúrbios
que levam o cidadão a evocar a presença policial. A expectativa é de que ao contribuir para o encaminhamento de
soluções aos problemas, a polícia atrairá a boa vontade e a cooperação dos cidadãos, além de contribuir para
eliminar condições propiciadoras de sensação de insegurança, desordem e criminalidade.
2.1.1.1.2 – CANADÁ
A Polícia Comunitária no Canadá teve seus primeiros passos há aproximadamente 20 anos, quando o descrédito na
instituição policial obrigou as autoridades e a população a adotarem providências para a reversão do quadro de insatisfação. A
implantação durou 8 anos e demandou medidas de natureza administrativa, operacional, mas principalmente a mudança na
filosofia de trabalho com nova educação de todos os policiais.
As cidades são divididas em distritos policiais e os distritos em pequenas vizinhanças. Transmite-se à população a ideia de
que a polícia está sempre perto. Em muitos bairros o policial circula de bicicleta.
O Policial deve conhecer as pessoas e todos os problemas do bairro. A população e as empresas fazem parceria com a
Polícia, doam prédios e equipamentos, fora o aperfeiçoamento dos serviços. A divisão territorial está ligada a questões
geográficas e aos tipos de crimes em determinadas regiões. Quando uma modalidade criminosa chama a atenção, os policiais
fazem curso a respeito e são treinados a enfrentar e solucionar os problemas resultantes da ação criminosa detectada. Na sua
ronda o policial visita casa e empresas e demonstra estar trabalhando por prazer. Quando um problema é identificado, o
município, a população e a polícia se unem para solucioná-lo imediatamente. Exemplo: em um bairro notou-se que os orelhões
(telefones) tradicionais, serviam para esconder drogas. A população informou a polícia e em menos de 30 dias todas as cabinas
telefônicas foram envidraçadas ficando transparentes, o que impedia a ocultação das drogas. Outras providências que
demonstram a participação da população referem-se a iluminação de praças e ruas para evitar ambientes que favorecem o
crime.
2.1.1.1.3. JAPÃO
O Policiamento Comunitário é o centro das atividades policiais de segurança no Japão. 40% do efetivo da polícia é
destinado ao Policiamento Comunitário. Os outros 60% estão exercendo suas funções em atividades administrativas,
investigações criminais, segurança interna, escolas, bombeiros, trânsito, informações e comunicações, bem como para a
Guarda Imperial.
A importância dada ao Policiamento Comunitário pela Polícia Japonesa a qual é seguida à risca, se deve a algumas
premissas tidas como imprescindíveis:
a) a impossibilidade de investigar todos os crimes pressupõe um investimento de recursos na prevenção de crimes e
acidentes, para aumentar a confiança da população nas leis e na polícia.
b) impedir o acontecimento de crimes e acidentes é muito mais importante do que prender criminosos e socorrer vítimas
acidentadas.
c) a polícia deve ser levada aonde está o problema, para manter uma resposta imediata e efetiva aos incidentes criminosos
individuais e às emergências, com o objetivo de explorar novas iniciativas preventivas, visando a resolução do problema antes
de que eles ocorram ou se tornem graves. Para tanto descentralizar é a solução, sendo que os maiores e melhores recursos da
polícia devem estar alocados na linha de frente dos acontecimentos.
d) as atividades junto às diversas comunidades e o estreitamento de relações polícia e comunidade, além de incutir no
policial a certeza de ser um “mini-chefe” de polícia descentralizado em patrulhamento constante, gozando de autonomia e
liberdade de trabalhar como solucionador dos problemas da comunidade, também é a garantia de segurança e paz para a
comunidade e para o seu próprio trabalho.
Seguindo estas ideias básicas, a Polícia Japonesa descentralizou territorialmente suas bases de segurança em mais de
15.000 bases comunitárias de segurança, denominados Koban ou Chuzaisho, funcionando nas 24 horas do dia.
Os Kobans e os Chuzaishos são construídos pelas prefeituras das cidades onde estão localizados, responsabilizando-se
também pela manutenção do prédio, pagamento da água, luz, gás, etc. O critério para sua instalação e localização é puramente
técnico e é estabelecido pela Polícia de tal forma que garanta o atendimento cuidadoso e atencioso às pessoas que procurem a
polícia. Estes postos policiais (Kobans e Chuzaishos) estão subordinados aos “Police Stations”.
Chuzaisho: Instalação e Funcionamento
O policial é instalado numa casa, juntamente a sua família. Esta casa, fornecida pela Prefeitura, é considerada um posto policial,
existindo mais de 8.500 em todo o Japão; cada Chuzaisho está vinculado diretamente a um “Police Station” (Cia) do distrito policial onde
atua. O policial trabalha no horário de expediente, executando suas rondas fardado. Na ausência do policial, sua esposa auxiliará em suas
atividades, atendendo ao rádio, telefone, telex e as pessoas, sem que, para isso, seja considerada funcionária do Estado, mas essa sua
atividade possibilita ao marido policial o recebimento de uma vantagem salarial. Quanto aos gastos com energia, água, gás e a manutenção
do prédio ficam a cargo da prefeitura da cidade onde o posto está localizado.
Koban: Instalação e Funcionamento

Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 9


Os Kobans, em número superior a 6.500 em todo o Japão, estão instalados em áreas de maior necessidade policial (critério técnico).
Os Kobans são construídos em dimensões racionais, em dois ou mais pavimentos, com uma sala para o atendimento ao público, com todos
os recursos de comunicações e informática, além de compartimentos destinados ao alojamento (com camas e armários), cozinha, dispensa
e depósito de materiais de escritório, segurança, primeiros socorros, etc.
No Koban, trabalham equipes compostas por 03 ou mais policiais, conforme seu grau de importância, cobrindo às 24 horas do dia
em sistema de rodízio por turnos de 08, 12 ou até mesmo 24 horas, o que é mais comum.
Há também reuniões com a comunidade, chamados conselhos comunitários (similar aos Conselhos Comunitários de Segurança
– CONSEGs ou Conselhos Comunitários de Cooperação para a Defesa Social - CCCDSs), os quais se reúnem de 2 a 3 vezes por
ano, isto porque, enquanto um ou mais problemas apresentados pela comunidade não forem solucionados, não se discute novos
problemas, para evitar que um problema se acumule sobre outro e não se resolva nenhum.
As atividades num Koban são intensas e existe uma rotina estabelecida, que varia de dia para dia e de acordo com a situação.
- atendimento às pessoas;
- recebimento e transmissão de mensagens;
- preenchimento de relatórios de serviço;
- faxina e manutenção do material;
- patrulhamento a pé, de bicicleta ou motocicleta nas áreas abrangidas pelo Koban;
- visitas às residências, casas comerciais e escritórios de serviço;
- visitas a pessoas idosas, escolas, etc.
2.1.1.1.4 – POLÍCIA DE PROXIMIDADE NA ESPANHA (MODELO EUROPEU)
Seguindo os mesmos preceitos da Polícia Comunitária a Polícia de Proximidade adota as mesmas características da Polícia
Comunitária, porém para comunidade latina, dentro de uma terminologia diferente.
A essência é trabalhar próxima a comunidade, interagindo, buscando identificar o serviço policial e atuando de forma preventiva,
antecipando-se aos fatos.
A Polícia de Proximidade, baseia seus programas em objetivos muitos claros. São objetivos estratégicos assim considerados: reduzir
os índices de criminalidade, melhorar a qualidade dos serviços prestados, e a aumentar a satisfação da população e dos próprios policiais.
Os cidadãos e os membros da comunidade veem os policiais na rua, começam a conhecê-los, e sentem-se mais seguros. O modelo de
uma Polícia Comunitária ou de Proximidade é uma experiência que pode ser extremamente positiva. A Polícia Comunitária não acabará
com o crime. As soluções vão além da Polícia Comunitária.
É evidente que devemos ter também outras alternativas para combater os crimes mais graves e é evidente que temos a necessidade de
uma polícia especializada para sermos capazes de solucionar os problemas que estão afetando o Estado, que não afetam diretamente o
cidadão, mas o Estado. Me refiro ao tráfico de entorpecentes, lavagem de dinheiro, e também tráfico de seres humanos e outros tipos de
crime que se tornaram uma grande preocupação para os governos. E que exigem um tipo de resposta totalmente diferente.
2.1.1.1.5. – ARGENTINA
Foi implantada uma Política Criminal baseada na sistematização de dados das casas e dos cidadãos de regiões de maior
incidência, onde se começou a desenvolver atividades policiais para erradicar o crime dessas localidades. À medida que se
recebem as comunicações e informações sobre os fatos trazidos pela comunidade, aumentam-se o policiamento motorizado e
vários tipos de patrulha. A comunidade contribui com os dados a respeito dos próprios fatos e outras modalidades delituosas
que se repetem continuamente. Após, com ajuda da comunidade, a polícia efetua a prisão dos autores.
Outra política adotada refere-se ao apoio psicológico e sanitário. Quando alguém é ferido por ato criminoso, a polícia
coloca à disposição médicos e psicólogos
2.1.2. EXPERIÊNCIAS DE POLÍCIA COMUNITÁRIA:
2.1.2.1. INTERNACIONAL E NACIONAL (RONDA CIDADÃ);
Experiências nacionais e internacionais bem-sucedidas de gestão comunitária na área de segurança pública.
Em poucas palavras, a polícia comunitária é a modalidade de trabalho policial preventivo e ostensivo correspondente ao
exercício da função policial definida pelo compromisso inalienável com a construção social da paz e respeito aos direitos
humanos. Equivale também a um aperfeiçoamento profissional, uma vez que implica mais qualificação e maior eficiência na
provisão da segurança pública. Os exemplos brasileiros e internacionais são ricos em experiências bem-sucedidas, nas quais
decrescem as taxas de crimes e outras práticas violentas, enquanto cresce, na mesma proporção, a confiança popular na polícia.
A memória da história recente ajuda a contextualizar a importância e o sentido desta nova metodologia de gestão. Assim é
que, a noção de “polícia comunitária” se estrutura essencialmente sobre um modelo “pró-ativo” do provimento de segurança
pública. Suas ações são resultantes da formação de parcerias e programas construídos entre o Estado (polícia) e a Sociedade
Organizada (em suas mais variadas expressões). A metodologia aqui denominada genericamente como “comunitária” recebe
nomes diferentes, como “de proximidade” ou “interativa”, conforme os países e as tradições em que ela seja aplicada. Mas o
que realmente importa, mais que o nome que lhe seja atribuído, é seu conteúdo e valores. Esses têm, felizmente, atravessado
fronteiras e se expandido no rastro da extensão da consciência cívica democrática e dos direitos de cidadania das mais variadas
nações.
De acordo com a Associação Internacional dos Chefes de Polícia [X] (International Association of Chiefs of Police -
IACP), as formas e/ou estratégias de provimento do “policiamento comunitário” podem ser classificadas em seis modelos ou
estruturas. O primeiro, intitulado modelo unitário, prevê a existência de um agente de polícia dedicado exclusivamente ao
contato com a comunidade, considerando uma unidade policial pré-determinada. Este tipo de modelo é normalmente praticado
em pequenas unidades policiais. No modelo especializado (segundo modelo) há dois ou mais policiais dedicados ao
“policiamento comunitário” e à solução de problemas na área de atuação de cada unidade policial. O terceiro modelo, da
força mista, compreende a designação de um “policial comunitário” para cada área servida por patrulhamento policial (zona,
setor, área). De acordo com o modelo temporal, os “policiais comunitários” são designados para trabalho comunitário
específico, sempre que esse tipo de serviço se fizer necessário. Tais policiais não se separam da função de patrulhamento
ostensivo e desempenham tais funções concomitantemente às de polícia judiciária, no sentido da formação de parecerias e
busca de “resolução de problemas”. O quinto modelo, definido como policiamento comunitário total, frequentemente chamado

Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 10


de modelo generalista, pressupõe que todos os policiais da unidade policial considerada estejam diretamente envolvidos ou
apoiando a filosofia do “policiamento comunitário”. Por último, o modelo geográfico (sexto modelo) reflete diferenças de
filosofia de trabalho entre os comandos de área e de vigilância temporal (plantão), cada qual com seu respectivo supervisor.
Essência e valor da Gestão Comunitária. Disponível em: <http://www.assor.org.br/wp-content/uploads/2017/06/ESS
%C3%8ANCIA-E-VALOR-DA-GEST%C3%83O-COMUNIT%C3%81RIA-DA-SEGURAN%C3%87A-P
%C3%9ABLICA.pdf>. Acesso em 15 nov 18.
2.1.3. SENSIBILIZAÇÃO DO PÚBLICO INTERNO E DA COMUNIDADE

"É preciso educarmo-nos, primeiro a nós mesmos, depois a comunidade e depois às futuras gerações de
policiais e lideranças comunitárias, para esse trabalho conjunto realizado em prol do bem comum…"

Os agentes da segurança pública e/ou defesa social, precisam inicialmente quebrar paradigmas do papel da polícia na
comunidade, respondendo à seguinte questão: O papel é de força, que tem como função principal fazer valer as leis criminais?
Ou de serviço, que tem função principal os problemas sociais?
Ainda que esses dois papéis sejam distintos, eles são interdependentes e deriva de um mandato mais fundamental de
manutenção da ordem - a resolução de conflitos através de meios que mesclam o potencial uso da força e o provimento de
serviços. Esses meios nem sempre precisam ser formais. Isso vale dizer que o trabalho policial não pode ser conduzido sem
uma colaboração organizada dos cidadãos.
A forma mais comum de organização dos cidadãos é a comunidade.
Para FERDINAND TONIES, “a comunidade pode ser definida como conjunto de pessoas que compartilham um território geográfico
e algum grau de interdependência, razão de viverem na mesma área”.

“Comunidade torna-se conceito de sentido operacional; comunidade é um grupo de pessoas que dividem o interesse por um
problema: a recuperação de uma praça, a construção de um centro comunitário, a prevenção de atos de vandalismo na escola, a
alteração de uma lei ou a ineficiência de um determinado serviço público. A expectativa é que a somatória de experiências bem-
sucedidas de mobilização social em torno de problemas possa, ao longo do tempo, contribuir para melhorar o relacionamento
entre polícia e sociedade e fortalecer os níveis de organização da sociedade” (GOLDSTEIN, 1990, p.26).

O ideal de participação não corresponde ao cenário idílico de uma “comunidade” sem conflitos, mas de uma
sociedade capaz de dar dimensão política aos seus conflitos e viabilizar a convivência democrática entre distintas
expectativas de autonomia em um mesmo espaço territorial. (DIAS, THEODOMIRO).
2.1.3. O PM E OS LIMITES DA LEI
Alex João Costa Gomes8
A temática é por deveras instigante e relevante ao serviço policial militar, pois a Lei é quem norteia as ações das Policias
Militares no Brasil, mesmo sendo essas discricionárias, autoexecutáveis e coercitivas, as Polícias Militares não podem agir
em desacordo com o que determina nosso ordenamento jurídico, ou seja, como bem entendem. Desta feita, existe a
necessidade da observância das normas e leis que regulam cada ação do Policial Militar (PM), desde as mais simples até as
mais complexas. O PM é um dos poucos servidores do Estado que está em quase todo lugar do país, trabalha diuturnamente
para garantir a ordem pública, com o intuito de levar a segurança pública ou ao menos a sensação dessa a cada cidadão
brasileiro. Sendo que por diversas vezes têm segundos para tomar uma decisão em uma ocorrência nas ruas do país, e essa
decisão pode o levá-lo ao banco dos réus com a sociedade ao lado dele, ou totalmente contra o mesmo. 
 

“Os agentes policiais no exercício de suas funções encontram-se sujeitos ao limites da lei. A atividade policial possui aspectos
discricionários, que são essenciais para o cumprimento das funções de segurança  pública.
O  ato  de  polícia  como  ato  administrativo é que fica sempre sujeito a invalidação pelo Poder Judiciário, quando praticado com
excesso ou desvio de poder.” (Hely Lopes Meirelles, 1972)

Hely Lopes Meirelles coloca muito bem a questão da atividade policial de forma geral, mas que está sujeita a validação
ou não da Justiça brasileira. Podemos inferir que isso reforça a ideia que o PM deve agir conforme as normas e leis que norteiam
a atividade do mesmo durante o trabalho, e podemos afirmar que por ser policial militar mesmo estando de folga, também deve
não estando de serviço observar sua conduta em sociedade respeitando e obedecendo ao ordenamento jurídico do Brasil. 
A administração pública está sujeita aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência 9,
logo, os agentes públicos também estão sujeitos a tais princípios, pois são os executores dos serviços públicos, são os que vão
impor a força para manter a ordem ou restabelecer essa. É preciso convir que a segurança pública é um direito fundamental do
cidadão brasileiro, dessa maneira, os operadores da segurança pública devem garantir esse direito a todos no país, mesmo aos
estrangeiros. 

“Os limites do poder de polícia exercido pelas forças policiais são três:
a ) os direitos do cidadão;
b) as prerrogativas individuais;

8Alex João Costa Gomes – Bacharelado e Licenciatura Plena em História (UNIFAP 2001), Policial Militar (Aluno Oficial)
9 Saiba mais em: https://www.senado.leg.br/atividade/const/con1988/con1988_12.07.2016/art_37_.asp

Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 11


c) as liberdades públicas previstas nos dispositivos constitucionais e nas leis.” (Álvaro Lazzarini, 1988).

Para Álvaro Lazzarini são esses os limites do poder de polícia, assim, os policiais militares no Brasil devem considerar
tais informações na execução de seus trabalhos durante o serviço policial militar e durante sua folga, para não incorrerem em
omissão, pois ninguém pode alegar desconhecimento de lei, principalmente aqueles que operam direto ou indiretamente, ou
seja, aplicam a lei em nome do Estado em nossa sociedade. 
Pelo exposto pudemos observar o quanto é limitada a atividade do policial militar, pois várias são as normas e leis que
regulam a conduta dos mesmos. Contudo, isso não significa que o trabalho desse esteja engessado, pelo contrário, o operador
da segurança pública deve trazer a lei para o seu lado, fazendo com essa dê respaldo ao trabalho desenvolvido nas ruas do
Brasil diuturnamente. O uso da força, do poder de polícia, devem se distanciar do abuso de poder, bem como do abuso de
autoridade, mas não devem ir ao encontro dos direitos dos cidadãos, na verdade devem reforçar e garantir a efetivação desses.
Não podemos de maneira alguma entender, ou seja, interpretar o trabalho do policial militar como sendo algo simples e de fácil
execução, pois não é, visto a complexidade que o envolve.
Para fixar:
Os limites do poder de polícia exercido pelas forças policiais são  três:
a ) os   direitos do cidadão;  
b)  as prerrogativas individuais;  
c) as liberdades públicas previstas nos dispositivos constitucionais e nas leis.” (Álvaro Lazzarini, 1988)

Disponível em: <https://www.viatucuju.com/products/o-policial-militar-e-os-limites-da-lei/ >. Acesso em 14 nov 18

2.2. ORIGEM DO PM NO SEIO DA SOCIEDADE;


Princípios de Robert Peel e a Origem da Polícia Moderna
No início do século XIX, exatamente em 1829, com o aumento da criminalidade e da violência nas cidades da Grã-
Bretanha, ocorreram várias tentativas por parte do governo de criar uma força policial capaz de fazer frente a esses problemas.
Em Londres existia uma forte oposição, pois as pessoas não acreditavam na estrutura de uma força policial, possivelmente
armado. Eles temiam que ela poderia ser usada para reprimir os protestos com violência e criar um clima impopular para o
Governo.
Naquela época Paris tinha a mais conhecida, melhor organizada e mais bem paga força policial na época, dentro de
princípios de proteção da cidade. A chamada Polícia de Paris. A Grã-Bretanha estava em guerra com a França (1793-1815),
e durante a maior parte desse tempo, a França tinha uma polícia secreta e políticos ardilosos. Portanto, muitos londrinos não
gostavam da ideia de ter os franceses por referência, por causa da associação com a França.
Nesta época o público inglês acreditava que o trabalho da polícia deveria ter uma participação da sociedade e não
do Governo Nacional. Robert Peel (Primeiro-Ministro do Reino Unido por duas vezes no século XIX) apresentou em sua
gestão buscou estabelecer princípios de ordem e organização as cidades londrinas. O conceito de policiamento baseado em um
consenso de apoio que decorre transparência sobre seus poderes, sua integridade no exercício das suas competências e da sua
responsabilidade por isso.
Pelos princípios policiais, Sir Robert Peel10 é considerado o pai do policiamento moderno. Ajudou a criar o moderno
conceito de força policial, e, por conta disto, os policiais metropolitanos ingleses são conhecidos como Bobbies.
O nome de Peel, é evocado não pelo fato de que Robert Peel tenha elaborado o texto, mas em decorrência de que
enunciou, na conceituação de uma força policial ética, o “espírito” destes princípios.
A lista abaixo, princípios norteadores da ação policial, indica, um caminho ético a qualquer organização de segurança no
mundo, seja nacional, estadual e, principalmente municipal, sobretudo, aos administradores públicos, eleitos pelo povo, que
têm a responsabilidade da administração também da Segurança Pública durante o seu mandato.
PRINCÍPIOS CENTENÁRIOS DE ROBERT PEEL
1.A missão fundamental para a polícia existir é prevenir o crime e a desordem.
2.A capacidade da polícia para exercer as suas funções está dependente da aprovação pública das ações policiais.
3.A Polícia deve garantir a cooperação voluntária dos cidadãos, no cumprimento voluntário da lei, para ser capaz de garantir e manter
o respeito do público.
4.O grau de cooperação do público  pode ser garantido se diminui proporcionalmente à necessidade do uso de força física.
5. A Polícia não deve se manter(criar prestígio e autenticidade) apenas com prisões , não preservando assim o favor público e
abastecendo a opinião pública, mas pela constante demonstração de absoluto serviço abnegado à lei.
6. A Polícia usa a força física na medida necessária para garantir a observância da lei ou para restaurar a ordem apenas quando o
exercício da resolução pacífica, persuasão e de aviso é considerado insuficiente.
7. A Polícia, em todos os tempos, deve manter um relacionamento com o público que lhe dá força à tradição histórica de que a polícia
é o público e o público é a polícia, a polícia é formada por membros do população que são pagos para dar atenção em tempo integral aos
deveres que incumbem a cada cidadão, no interesse do bem-estar da comunidade e a sua existência.
8. A polícia deve sempre dirigir a sua ação no sentido estritamente de suas funções e nunca parecer que está a usurpar os poderes do
judiciário.
9. O teste de eficiência da polícia é a ausência do crime e da desordem, não a evidência visível da ação da polícia em lidar com ele.

10 Sir Robert Peel - Robert Peel, 2.º Baronete (Bury, 5 de fevereiro de 1788 — Londres, 2 de julho de 1850) foi um político britânico, primeiro-
ministro de seu país de 10 de dezembro de 1834 a 8 de Abril de 1835 e de 30 de Agosto de 1841 a 29 de Junho de 1846.
Ajudou a criar o conceito moderno da força policial do Reino Unido. Seu pai era um fabricante de têxtil na Revolução Industrial. Peel foi educado na Escola
primária Hipperholme, depois em Harrow School e finalmente na Christ Church, em Oxford.
Faleceu em Londres em 2 de julho de 1850, a consequência de um acidente de cavalo na estrada Constitution Hill. Encontra-se sepultado em St Peter
Churchyard, Drayton Bassett, Staffordshire na Inglaterra ( Robert Peel (em inglês) no Find a Grave ).

Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 12


O historiador Charles Reith explicou em seu estudo sobre a História de Polícia (1956) que estes princípios constituem uma
abordagem ao policiamento “único na história e em todo o mundo”, porque é derivada, não de medo, mas quase exclusivamente da
cooperação entre o público e a polícia, induzida a partir de um comportamento total de sensação de segurança que mantém para todos a
aprovação, respeito e carinho do público. É possível implementar essas ideias no Rio Grande do Norte? Podemos ter uma polícia
comunitária cada vez relacionada com o convívio da sociedade paulistana?
Segundo Cerqueira, não existe um conceito exclusivo de polícia comunitária no Brasil, embora o mais presente entre as
instituições policiais é: Polícia Comunitária é uma filosofia e uma estratégia organizacional que proporciona uma nova
parceria entre a população e a polícia. Tal parceria baseia-se na premissa de que tanto a polícia quanto a comunidade
devem trabalhar juntas para identificar, priorizar e resolver problemas contemporâneos, tais como crime, drogas, medo
do crime, desordens físicas e morais, e, em geral, a decadência do bairro, com o objetivo de melhorar a qualidade geral
de vida da área. (TROJANOWICZ e BUCQUEROUX, 1994, p.4-5)
Disponível em: <https://www.linkedin.com/pulse/princ%C3%Adpios-de-robert-peel-e-origem-da-pol%C3%Adcia-
moderna-miguel-liborio/>. Acesso em 15 nov 2018.

2.3. CONCEITO DE POLÍCIA COMUNITÁRIA


Trojanowicz (1994) faz uma definição clara do que é Polícia Comunitária:
“É uma filosofia e estratégia organizacional que proporciona uma nova parceria entre a população e a polícia. Baseia-se na
premissa de que tanto a polícia quanto a comunidade devem trabalhar juntas para identificar, priorizar e resolver problemas
contemporâneos tais como crime, drogas, medo do crime, desordens físicas e morais, e em geral a decadência do bairro, com o objetivo
de melhorar a qualidade geral da vida na área.”
Dissecando o conceito de Polícia Comunitária:
Elementos de Definição
Estes elementos de definição podem ser facilmente identificados na definição de policiamento comunitário apresentado
por Trojanowicz. Também conhecidos como os nove P’s do policiamento comunitário, ou seja, os nove elementos que o
definem.
Filosofia (philosofia). A filosofia do policiamento comunitário baseia-se na crença de que os desafios contemporâneos requerem que
a polícia forneça um serviço de policiamento completo, preventivo e repressivo, envolvendo diretamente a comunidade como parceira no
processo de identificação, priorização e resolução de problemas, incluindo crime, medo do crime, drogas ilícitas, desordens físicas e
sociais e decadência do bairro. Um amplo engajamento do departamento implica em mudanças tanto nas políticas quanto nos
procedimentos.
Policiamento. O policiamento comunitário mantém um forte enfoque repressivo; os policiais comunitários atendem às chamadas de
serviço e realizam prisões como qualquer outro policial, porém, eles se preocupam também com a resolução preventiva dos problemas.
Patrulhamento. Os policiais comunitários patrulham o seu quadrante de policiamento, obedecendo ao Procedimento Operacional
Padrão (POP) de sua Corporação, acrescentando as condutas de monitoramento, dos cidadãos e locais mais propensos a sofrerem ação de
agressor da sociedade, de pessoas identificadas como propensas a ações agressivas, de visitas comunitárias e solidárias e de participar da
Reunião Mensal de Segurança Comunitária, voltando a sua atenção mais ao desenvolvimento de ações de parceria e prevenção junto ao
cidadão de bem. Permanência. O policiamento comunitário requer que os policiais sejam alocados permanentemente a um certo quadrante
de policiamento, a fim de que possam ter o tempo, a oportunidade e a continuidade para desenvolverem esta nova parceria com a
comunidade. A permanência significa que os policiais comunitários não devem ser trocados constantemente de quadrante e que não devem
ser usados como substitutos dos policiais que estão de férias ou que faltaram ao serviço.
Posto. Todas as áreas de responsabilidade de uma Unidade Policial (Batalhão ou Companhia Independente), por maiores que sejam,
podem ser subdivididas em bairros ou grupos de bairros constitutivos de um de um espaço geográfico a ser policiado, por nós denominado
de “quadrante”. O policiamento comunitário descentraliza os policiais, fazendo com que eles possam ser “donos” dos quadrantes para os
quais são escalados, atuando como se fossem “mini-chefes” de polícia, adequando a respostas às necessidades específicas da local o qual
estão patrulhando. Além disso, o policiamento comunitário descentraliza o processo de decisão, não apenas proporcionando ao policial
comunitário a autonomia de agir, mas também concedendo poder a todos os policiais para agirem na resolução de problemas com base no
policiamento comunitário.
Prevenção. No intuito de proporcionar um serviço completo de polícia à comunidade, o policiamento comunitário equilibra as
respostas aos incidentes criminais e às emergências, com uma atenção especial na prevenção dos problemas antes que estes ocorram ou se
agravem.
Parceria. O policiamento comunitário encoraja uma nova parceria entre as pessoas e a sua polícia, apoiada no respeito mútuo, no
civismo e no apoio.
Problemas resolvidos. O policiamento comunitário redefine a missão da polícia em relação à resolução de problemas, de modo que
o sucesso ou o fracasso dependam da qualidade do resultado, mais do que simplesmente dos resultados quantitativos (número de
detenções feitas, notificações de multas emitidas etc., conhecidos como “policiamento de números”). Tanto as medidas quantitativas como
as qualitativas são necessárias.

Personalização
CONCEITOS BÁSICOS
Polícia Comunitária: É a corporação policial que é embasada na Filosofia de Polícia Comunitária. É também a Filosofia de Polícia
Comunitária aplicada na gestão da corporação.
Policiamento Comunitário: É a aplicação prática da Filosofia de Polícia Comunitária nas atividades policiais. É a Estratégia de
Polícia Comunitária aplicada na execução de policiamento.
Segurança Comunitária: É o resultado positivo do policiamento comunitário na segurança pública da comunidade. É a melhora da
qualidade de vida da comunidade através da participação de todos os parceiros no policiamento comunitário.
Projeto Comunitário: é um empreendimento temporário com o objetivo de criar um produto ou serviço único.
Programa Comunitário: É um empreendimento com duração indeterminada ou contínua, para interferir na qualidade de vida da
comunidade.

Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 13


Ainda, de acordo com Cerqueira, qualquer organismo com uma função policial faz parte, na realidade, da sociedade. A
estratégia comunitária vê o controle e a prevenção do crime como resultado da parceria com outras atividades. Isto significa
dizer que os recursos do policiamento, articulados com os novos recursos comunitários, são agora os instrumentos essenciais
para a prevenção do crime. Em outras palavras, os membros da comunidade assumem seu real papel de cidadãos que atuam
junto da polícia para o bem comum.
Entende-se, assim, que a premissa central da polícia comunitária é que o público deve exercer um papel mais ativo e
coordenado na obtenção da segurança. Desse modo, impõe-se uma responsabilidade nova para a polícia, ou seja, criar
maneiras apropriadas de associar o público ao policiamento e à manutenção da lei e da ordem [...] (SKOLNICK; BAYLEY,
2002, p.18).
A estratégia de Polícia Comunitária oferece, então, meios para o processo de fortalecimento dos cidadãos, no sentido de
compartilharem entre si e com a polícia a tarefa de planejar práticas para enfrentar o crime. Conclui-se que a ideia central de
Polícia Comunitária reside na possibilidade de propiciar uma aproximação dos profissionais de segurança junto à comunidade
onde atuam, de modo a dar característica humana ao profissional de polícia e não apenas um número de telefone ou uma
instalação física referencial, por meio de um amplo trabalho sistemático, planejado e detalhado.
Cabe ressaltar, também, que Polícia Comunitária não é uma atividade especializada, particularizada, para servir somente
a algumas comunidades sem obedecer aos critérios técnicos previamente definidos.
Na prática Polícia Comunitária (como filosofia de trabalho) difere do Policiamento Comunitário (ação de policiar junto à
comunidade). Aquela deve ser interpretada como filosofia organizacional indistinta a todos os órgãos de Polícia, esta pertinente às ações
efetivas com a comunidade.
A ideia central da Polícia Comunitária reside na possibilidade de propiciar uma aproximação dos profissionais de
segurança junto à comunidade onde atua, como um médico, um advogado local; ou um comerciante da esquina; enfim, dar
característica humana ao profissional de polícia, e não apenas um número de telefone ou uma instalação física referencial.
Para isto realiza um amplo trabalho sistemático, planejado e detalhado.
Já o Policiamento Comunitário, segundo Wadman (1994), é uma maneira inovadora e mais poderosa de concentrar as energias e
os talentos do departamento policial na direção das condições que frequentemente dão origem ao crime e a repetidas chamadas por
auxílio local.
A Polícia Comunitária resgata a essência da arte de polícia, pois apoia e é apoiada por toda a comunidade, acolhendo
expectativas de uma sociedade democrática e pluralista, onde a responsabilidade pela mais estreita observância das leis e da
manutenção da paz não incumbem apenas à polícia, mas, também a todos os cidadãos.
À medida que se abrem para a sociedade, congregando lideres locais, negociantes, residentes e todos quanto puderem
participar da segurança local, a polícia deixa de ser uma instituição fechada e que, estando aberta às sugestões, permite que a
própria comunidade faça parte de suas deliberações.
Em relação ao Policiamento Comunitário é possível dizer que conforme Trojanowicz (1994), o Policiamento Comunitário
exige um comprometimento de cada um dos policiais e funcionários civis do departamento policial com sua filosofia. Ele também
desafia todo o pessoal a encontrar meios de expressar esta nova filosofia nos seus trabalhos, compensando assim a necessidade de
manter uma resposta rápida, imediata e efetiva aos crimes individuais e as emergências, com o objetivo de explorar novas
iniciativas preventivas, visando à resolução de problemas antes que eles ocorram ou se tornem graves.
O Policiamento Comunitário, portanto, é uma filosofia de patrulhamento personalizado de serviço completo, onde o mesmo policial
trabalha na mesma área, agindo numa parceria preventiva com os cidadãos, para identificar e resolver problemas.
Conceitos Associados
Polícia de proximidade A essência é trabalhar próximo à comunidade, interagindo, buscando identificar o serviço policial
e atuando de forma preventiva, antecipando-se aos fatos.
Para este fim se faz importante conhecer e entender a dinâmica do policiamento comunitário que se caracteriza como um
esquema sequencial de ações que sejam eficientes e efetivas à comunidade, suplantando o limite da visão de ações policiais
militares de meras ações repressivas para completas ações de prevenção social, esclarecendo que uma não elimina a outra,
ambas devem coexistir em busca do equilíbrio. No mesmo sentido, o policiamento comunitário caracteriza-se por ir muito além
de simples ações de aproximação comunitária sem utilidade social efetiva aparente, haja vista que deve buscar atingir
patamares de mudança social que reflitam em melhoria da qualidade de vida das pessoas da comunidade atendida.
A transformação poderá ser reconhecida como plena quando de fato houver mudança comunitária a ponto de, quando
retirado o policiamento, verificar-se que a força da comunidade é maior que as mazelas sociais que desencadeavam
vulnerabilidades, violência e criminalidade impedindo-as de ressurgir naquele ambiente. Nesse sentido, apresentamos o
esquema abaixo que ilustra os passos para aplicação do policiamento comunitário:

Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 14


Figura 22: Os passos para aplicação do policiamento comunitário
Prevenções primária, secundária e terciária:
Prevenção primária – Nesse nível, as ações são baseadas nas causas da criminalidade num sentido mais amplo. A prevenção não é
percebida como de competência exclusiva das agências de segurança pública, mas também de famílias, escolas e sociedade.
Prevenção secundária – Esse tipo de prevenção está fundamentado na noção de risco e proteção. A intervenção incide sobre
determinados locais, grupos sociais ou outras características de indivíduos que têm maiores probabilidades de se tornarem agressores ou
vítimas.
Prevenção terciária – Atua quando já houve vitimização, procurando evitar a reincidência do autor e promover a reabilitação
individual e social da vítima.
REPRESSÃO QUALIFICADA
Decorre da necessidade pontual de coibir delitos, casos de perturbação da ordem, prestar apoio ou dar suporte que, pela
gravidade ou complexidade, necessitem de método, sob o enfoque da técnica policial amparada legalmente. Por ser eletiva,
pode e deve ser empregada para coibir qualquer tipo de delito, ato ilegal ou perturbação da ordem, inclusive no cumprimento
de mandados judiciais ou para realizar operações de apoio e suporte a outros órgãos.
ESTABELECIMENTO DE TERRITÓRIO DO POLICIAMENTO
Ocupação da polícia, em caráter permanente, de áreas ditas anormais em decorrência de fatores como criminalidade e
infraestrutura. O estabelecimento territorial, em seu sentido amplo, tem o fito de trazer normalidade a essas áreas, promovendo
a integração e o bem-estar social.
BASES FIXAS E MÓVEIS
Base Fixa - Edificação policial militar fixa, instalada segundo os critérios de acessibilidade, visibilidade e existência de comunidades
que a necessitem de atendimento diuturno, servindo como ícone de referência da Polícia para prestação do policiamento comunitário.
Base móvel - É um serviço preventivo prestado por uma equipe de policiais preparados para aplicar o policiamento orientado para o
problema (POP), com o apoio da comunidade, utilizando uma viatura (tipo trailer ou van adaptados) e outros processos de policiamento,
tais como a pé, de ciclo patrulha e de motocicleta, com o objetivo de reduzir o crime de menor potencial ofensivo, a sensação de
insegurança e a desordem pública em áreas com alta densidade populacional sazonal.
CONSELHOS COMUNITÁRIOS DE SEGURANÇA PÚBLICA (CONSEG)
Os CONSEG são formados por grupos de pessoas do mesmo bairro, região, ou município que se reúnem conjuntamente
com órgão estatais responsáveis direta e indiretamente pela segurança pública para discutir, analisar, planejar e acompanhar a
solução de seus problemas comunitários de segurança, desenvolver campanhas educativas e estreitar laços de entendimento e
cooperação entre as várias lideranças locais. É salutar a participação de todas as esferas (estadual, municipal e federal) de cada
um dos poderes (executivo, legislativo, judiciário e MP), bem como de organizações não governamentais afetas à temática.
Cada Conselho é uma entidade de apoio à Polícia nas relações comunitárias e se vinculam, por adesão, às diretrizes
emanadas pelos órgãos responsáveis pela segurança pública, por intermédio do Coordenador Estadual de Polícia Comunitária
ou órgão afeto de cada unidade da federação. 25 4.2.6.7 Espaços Urbanos Seguros São ambientes públicos, planejados,
projetados e administrados de forma participativa, com o objetivo de reduzir a incidência de delitos e da violência, aumentar a
sensação de segurança das pessoas que o utilizam, bem como a sua permanência no local e a apropriação da comunidade para
atividades de convivência, melhorando, assim, a qualidade de vida da população.
Teoria das Janelas Quebradas
Consiste na produção de delitos a partir de uma “mensagem” que nasce do abandono de determinadas áreas e patrimônios. Essas
incidências criminais se tornam progressivamente mais sérias tendo sempre no ‘abandono’ a substância que as alimenta.
Trata-se da teoria das janelas quebradas (broken windows), baseada em estudo feito em 1969 pelo psicólogo da
Universidade de Stanford Philip Zimbardo, que relatava experimentos onde esta teoria era utilizada. O experimento consistia
em deixar dois carros abandonados, cada um em um bairro diferente – no Bronx e em Palo Alto –, para depois ser observado o
comportamento da vizinhança em relação aos carros. Em ambos os casos observou-se que houve destruição e saqueio dos
carros, mas aconteceram em momentos e de forma diferenciados. No Bronx, o ataque do carro foi quase imediato, dez minutos
depois de abandonado. Em Palo Alto o vandalismo no carro não se produziu até que o próprio cientista destruísse parte deste. A
destruição sempre começava pelas janelas, e depois de quebradas, a destruição e saqueio do carro era quase imediata. Concluiu-
se que o vandalismo pode ocorrer em qualquer lugar onde as barreiras comunais, no sentido de cuidado mútuo e de obrigações
de civilidade, estejam diminuídas por ações que deem a entender que ninguém se preocupa com isto. Utilizando esta teoria, foi
avaliado o programa denominado Safe and Clean Neighborhoods Program, anunciado em meados de 1970 no estado de New
Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 15
Jersey para ser aplicado em 28 cidades. Chegou-se à conclusão de que, apesar de não haver diminuído a criminalidade – por
vezes havia aumentado – nos lugares onde houve patrulhamento a pé – parte fundamental do programa – a população tinha
opinião mais favorável em relação à polícia, sentia-se mais segura e os policiais estavam com a autoestima elevada, maior
satisfação no trabalho e atitude favorável com os cidadãos do bairro, em comparação aos oficiais que trabalhavam em patrulhas
motorizadas. Isto levou a pensar que na comunidade o nível de desordem e crime está geralmente relacionado não somente a
comportamentos que perturbem o sossego público, mas também à degradação ambiental. A teoria das janelas quebradas –
sistematizada por Wilson e Kelling (1982) – oferece, desta forma:

(...) uma valiosa contribuição para o fortalecimento de uma nova abordagem policial. A metáfora usada pelos autores é a de que
quando a janela de uma casa é quebrada é preciso repará-la rapidamente, pois, se isso não ocorrer, haverá a tendência de que outros
vidros sejam quebrados. O abandono produziria, assim, uma ‘mensagem’ que estimularia os infratores a persistirem nas ações ilegais
e a torná-las progressivamente mais sérias (como uma espiral de declínio) (ROLIM, 2006, p. 72).

De acordo com essa concepção, as rondas a pé em locais onde imperam desordem, vandalismo, pichações,
comportamentos agressivos e violentos, pessoas dormindo na rua etc., têm o potencial de fazer com que as pessoas que moram
nestes locais sintam-se menos inseguras e menos tentadas a abandonar o bairro. O objetivo é suprimir crimes e manter o bairro
atraente para seus habitantes. Interessa mostrar que o controle do local não está nas mãos de infratores e criminosos, mas que é
a polícia quem o detém. No entanto, como advertem Skolnick e Bayley (2006), se esta estratégia de policiamento será
comunitária ou não vai depender da forma com que seja aplicada. Na medida em que seja realizada de forma autoritária e sem
participação da comunidade se afastará do policiamento comunitário e será um serviço realizado sob ameaça. Esta advertência
é de extrema importância para o caso brasileiro, já que, como mostra a análise que segue, a polícia comunitária implementada
em favelas do Rio de Janeiro esteve baseada em grande parte nesta filosofia, mas apresentou alguns dos problemas aqui
formulados, além de outros específicos deste tipo de localidade e da criminalidade que nela impera.
POLICIAMENTO ORIENTADO PARA SOLUÇÃO DE PROBLEMAS
Trata-se de mais um meio de engajamento social. A premissa baseia-se no conceito de que a polícia deixa de reagir ao crime (crime
fighting policing) e passa a mobilizar os seus recursos e esforços na busca de respostas preventivas para os problemas locais (problem-
oriented policing); ao invés de reagir contra incidentes, isto é, aos sintomas dos problemas, a polícia passa a trabalhar para a solução dos
próprios problemas. A noção do que constitui um problema desde uma perspectiva policial expande-se consideravelmente para abranger o
incrível leque de distúrbios que levam o cidadão a evocar a presença policial.
INTERSEÇÕES ENTRE AÇÕES POLICIAIS SOCIAIS E POLICIAMENTO COMUNITÁRIO
Para efeito desta diretriz, serão consideradas ações policiais sociais aquelas exercidas por profissionais de segurança
pública e que não estão contidas no rol de atividades exclusivas de ‘policiamento ostensivo’, mas que exercem relevantes
impactos nas comunidades atendidas. Estão contidas nessas ações os programas essencialmente de prevenção primária, com
exceção do Programa Educacional de Resistência às Drogas (PROERD), cuja execução carece de profissional de segurança
pública para sua consecução, estando compreendida a existência não só de aplicações em aulas nas escolas, mas a troca de
informações com a comunidade escolar, pais, alunos e comunidades adjacentes, constituindo-se ação de aproximação e
impacto permanente na comunidade.
2.4.OS DEZ PRINCÍPIOS DA POLÍCIA COMUNITÁRIA
Para uma implantação do sistema de Policiamento Comunitário é necessário que todos na instituição conheçam os seus princípios,
praticando-os permanentemente e com total honestidade de propósitos. São eles:
a) Filosofia e Estratégia Organizacional
A base desta filosofia é a comunidade. Para direcionar seus esforços, a Polícia, ao invés de buscar ideias pré-concebidas, deve buscar,
junto às comunidades, os anseios e as preocupações das mesmas, a fim de traduzi-los em procedimentos de segurança;
b) Comprometimento da Organização com a concessão de poder à Comunidade
Dentro da comunidade, os cidadãos devem participar, como plenos parceiros da polícia, dos direitos e das responsabilidades envolvidas
na identificação, priorização e solução dos problemas;
c) Policiamento Descentralizado e Personalizado
É necessário um policial plenamente envolvido com a comunidade, conhecido pela mesma e conhecedor de suas realidades;
d) Resolução Preventiva de Problemas a curto e a longo prazo
A ideia é que o policial não seja acionado pelo rádio, mas que se antecipe à ocorrência. Com isso, o número de chamadas da COPOM
deve diminuir;
e) Ética, Legalidade, Responsabilidade e Confiança
O Policiamento Comunitário pressupõe um novo contrato entre a polícia e os cidadãos aos quais ela atende, com base no rigor do respeito
à ética policial, da legalidade dos procedimentos, da responsabilidade e da confiança mútua que devem existir;
f) Extensão do Mandato Policial
Cada policial passa a atuar como um chefe de polícia local, com autonomia e liberdade para tomar iniciativa, dentro de parâmetros
rígidos de responsabilidade. O propósito, para que o Policial Comunitário possua o poder, é perguntar-se:
Isto está correto para a comunidade?
Isto está correto para a segurança da minha região?
Isto é ético e legal?
Isto é algo que estou disposto a me responsabilizar?
Isto é condizente com os valores da Corporação?
Se a resposta for Sim a todas essas perguntas, não peça permissão. Faça-o
g) Ajuda às pessoas com Necessidades Específicas
Valorizar as vidas de pessoas mais vulneráveis: jovens, idosos, minorias, pobres, deficientes, sem teto, etc. Isso deve ser um compromisso
inalienável do Policial Comunitário;
h) Criatividade e apoio básico
Ter confiança nas pessoas que estão na linha de frente da atuação policial, confiar no seu discernimento, sabedoria, experiência e

Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 16


sobretudo na formação que recebeu. Isso propiciará abordagens mais criativas para os problemas contemporâneos da comunidade;
i) Mudança interna
O Policiamento Comunitário exige uma abordagem plenamente integrada, envolvendo toda a organização. É fundamental a reciclagem
de seus cursos e respectivos currículos, bem como de todos os seus quadros de pessoal. É uma mudança que se projeta para 10 ou 15 anos;
j) Construção do Futuro
Deve-se oferecer à comunidade um serviço policial descentralizado e personalizado, com endereço certo. A ordem não deve ser imposta
de fora para dentro, mas as pessoas devem ser encorajadas a pensar na polícia como um recurso a ser utilizado para ajudá-las a resolver
problemas atuais de sua comunidade.
O Que não é Polícia Comunitária
Quando não se conhece ou não se prática Polícia Comunitária é comum se afirmar que esta nova forma ou filosofia de
atuação é de uma “polícia light”, ou uma “polícia frouxa” ou mesmo uma “polícia que não pode mais agir”.
Na verdade Polícia Comunitária é uma forma técnica e profissional de atuação perante a sociedade numa época em que a
tecnologia, qualidade no serviço e o adequado preparo são exigidos em qualquer profissão. Mas no nosso caso existe ainda
muita confusão.
Robert Trojanowicz no livro “Policiamento Comunitário: Como Começar?” procura mostrar as interpretações
errôneas sobre o que não é Policiamento Comunitário:
a. Policiamento Comunitário não é uma tática, nem um programa e nem uma técnica
- não é um esforço limitado para ser tentado e depois abandonado, e sim um novo modo de oferecer o serviço policial à comunidade;
b. Policiamento Comunitário não é apenas relações públicas
- na melhoria das relações com a comunidade é necessária porém não é o objetivo principal, pois apenas o "QSA" não é suficiente para
demonstrar a comunidade seriedade, técnica e profissionalismo. Com o tempo os interesseiros ou os "QSA 5" são desmascarados e passam a
ser criticados fortemente pela sociedade. É preciso, portanto, ser honesto, transparente e sincero nos seus atos;
c. Policiamento Comunitário não é anti-tecnologia
– o Policiamento Comunitário pode se beneficiar de novas tecnologias que podem auxiliar a melhora do serviço e a segurança dos
policiais. Computadores, celulares, sistemas de monitoramento, veículos com computadores, além de armamento moderno (inclusive não letal)
e coletes protetores fazem parte da relação de equipamentos disponíveis e utilizáveis pelo policial comunitário. Aquela ideia do policial
comunitário “desarmado” é pura mentira, pois até no Japão e Canadá os policiais andam armados com equipamentos de ponta. No caso
brasileiro a nossa tecnologia muitas vezes é adaptada, ou seja, trabalhos muito mais com criatividade do que com tecnologia. Isto com certeza
favorece o reconhecimento da comunidade local;
d. Policiamento Comunitário não é condescendente com o Crime
- os policiais comunitários respondem às chamadas e fazem prisões como quaisquer outros policiais: são enérgicos e agem dentro da lei
com os marginais e os agressores da sociedade. Contudo atuam próximos a sociedade orientando o cidadão de bem, os jovens e buscam
estabelecer ações preventivas que busquem melhorar a qualidade de vida no local onde trabalham. Parece utópico, mas inúmeros policiais já
vem adotando o comportamento preventivo com resultados excepcionais. Outro ponto importante é que como está próximo da comunidade, o
policial comunitário também é uma fonte de informações para a polícia de investigação (Polícia Civil) e para as forças táticas, quando forem
necessárias ações repressivas ou de estabelecimento da ordem pública;
e. Policiamento Comunitário não é espalhafatoso e nem camisa "10"
- as ações dramáticas narradas na mídia não podem fazer parte do dia a dia do policial comunitário. Ele deve ser humilde e sincero nos
seus propósitos. Nada pode ser feito para aparecer ou se sobressair sobre seus colegas de profissão. Ao contrário, ele deve contribuir com o
trabalho de seus companheiros, seja ele do motorizado, a pá, trânsito, bombeiro, civil, etc. O Policiamento Comunitário deve ser uma
referência a todos, polícia ou comunidade. Afinal, ninguém gosta de ser tratado por um médico desconhecido, ou levar seu carro em um
mecânico estranho;
f. Policiamento Comunitário não é paternalista
- não privilegia os mais ricos ou os “mais amigos da polícia”, mas procura dar um senso de justiça e transparência à ação policial. Nas
situações impróprias deverá estar sempre ao lado da justiça, da lei e dos interesses da comunidade. Deve sempre priorizar o coletivo em
detrimento dos interesses pessoais de alguns membros da comunidade local;
g. Policiamento Comunitário não é uma modalidade ou uma ação especializada isolada dentro da Instituição
- os policiais comunitários não devem ser exceção dentro da organização policial, mas integrados e participantes de todos os
processos desenvolvidos na unidade. São parte sim de uma grande estratégia organizacional, sendo uma importante referência para
todas as ações desenvolvidas pela Polícia Militar. O perfil desse profissional é também o de aproximação e paciência, com capacidade
de ouvir, orientar e participar das decisões comunitárias, sem perder a qualidade de policial militar forjado para servir e proteger a
sociedade;
h. Policiamento Comunitário não é uma Perfumaria
- o policial comunitário lida com os principais problemas locais: drogas, roubos e crimes graves que afetam diretamente a sensação de
segurança. Portanto seu principal papel, além de melhorar a imagem da polícia, é o de ser um interlocutor da solução de problemas, inclusive
participando do encaminhamento de problemas que podem interferir diretamente na melhoria do serviço policial (uma rua mal iluminada,
horário de saída de estudantes diferenciado, etc.);
i. Policiamento Comunitário não pode ser um enfoque de cima para baixo
- as iniciativas do Policiamento Comunitário começam com o policial de serviço. Assim admite-se compartilhar poder e autoridade com o
subordinado, pois no seu ambiente de trabalho ele deve ser respeitado pela sua competência e conhecimento.
Contudo o policial comunitário também adquire mais responsabilidade já que seus atos serão prestigiados ou cobrados pela comunidade e
seus superiores;
j. Policiamento Comunitário não é uma fórmula mágica ou panaceia
- o Policiamento Comunitário não pode ser visto como a solução para os problemas de insegurança pública, mas uma forma de facilitar a
aproximação da comunidade favorecendo a participação e demonstrando a sociedade que grande parte da solução dos problemas de
insegurança dependem da própria sociedade.
Sabemos que a filosofia de Polícia Comunitária não pode ser imediatista, pois depende da reeducação da polícia e dos próprios cidadãos
que devem ver a polícia como uma instituição que participa do dia a dia coletivo e não simples guardas patrimoniais ou "cães de guarda";
k. O Policiamento Comunitário não deve favorecer ricos e poderosos
- a participação social da polícia deve ser em qualquer nível social: os mais carentes, os mais humildes, que residem em periferia
ou em áreas menos nobres.
Talvez nestas localidades é que está o grande desafio da Polícia Comunitária. Com certeza os mais ricos e poderosos tem mais facilidade

Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 17


em ter segurança particular;
i. Policiamento Comunitário não é uma simples edificação
- construir ou reformar prédios da Polícia não significa implantação de Polícia Comunitária. A Polícia Comunitária depende diretamente
do profissional que acredita e pratica esta filosofia muitas vezes com recursos mínimos e em comunidades carentes;
m. Policiamento Comunitário não pode ser interpretado como um instrumento político-partidário mas uma estratégia da
Corporação
- muitos acham que acabou o Governo “acabou a moda”, pois vem outro governante e cria outra coisa.
Talvez isto seja próprio de organizações não tradicionais ou temporárias. A Polícia Comunitária além de filosofia é também um tipo de
ideologia policial aplicada em todo o mundo, inclusive em países pobres com características semelhantes às do Brasil. Portanto, talvez seja
uma roupagem para práticas positivas antigas.
Afinal, o que foi que esquecemos?
n. A natureza do policial sempre foi comunitária. Nascida ao início do século XX com o objetivo de proteger o cidadão de bem dos
malfeitores, anos depois, ao final deste mesmo século, se busca este retorno às origens.
Referência Bibliográfica:
TROJANOWICZ, Robert e BUCQUEROUX, Bonnie. Policiamento Comunitário: como começar . Trad. Mina Seinfeld de
Carakushansky. Rio de Janeiro: Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, Editora Parma, 1994.

MÓDULO 3. PRINCIPAIS INSTRUMENTOS DO POLICIAMENTO COMUNITÁRIO


Preliminarmente cabe destacar que a terminologia utilizada para cada instrumento a seguir visa apenas facilitar a
identificação do instituto e suas funcionalidades, sendo legítima a utilização de nomenclaturas já consagradas pela comunidade
local.
3.1. MEDIAÇÃO COMUNITÁRIA - NATUREZAS CLASSIFICADAS COMO PROATIVAS
3.1.1 – VISITA COMUNITÁRIA. Com a expansão das cidades e com o advento importante da radiopatrulha, o
policiamento à pé foi sendo substituído pela mobilidade. Com o fim do policiamento à pé, o contato direto entre a polícia e a
comunidade foi prejudicado e substituído pelo acionamento, via telefone, nos casos de emergência.
O policiamento comunitário pretende não apenas utilizar o poder de prender criminosos, generalizando as respostas ao
crime, mas focar em lugares, pessoas e problemas específicos. Portanto, para alcançar os objetivos do policiamento à pé, sem
perder os benefícios do rádio patrulhamento, o policiamento comunitário utiliza-se das visitas, comunitárias e solidárias, e das
reuniões com a comunidade para aproximar-se do cidadão.
A Polícia Militar não deve trabalhar sozinha, e toda vez que insiste, tende a falhar. A participação da comunidade é
importante ao combate ao crime e para prisão de criminosos. Aliás, para a conclusão de inquéritos policiais, a Polícia Judiciária
utiliza muito mais informações pessoais (vítima e testemunha) do que por meio de perícias. Igualmente é a participação da
comunidade na prevenção.
Para angariar a participação da comunidade no processo da preservação da Ordem Pública é essencial alcançar a
confiança dos cidadãos, para que os policiais possam trabalhar com as pessoas na prevenção e resolução de problemas. Para
conquistar a confiança dos cidadãos é necessário contato direto entre a polícia e comunidade.
Os locais onde a população está distante da polícia, geração após geração, são os locais onde há mais violência. A parceria
da população é fundamental para a prevenção e elucidação de crimes. Cabe à comunidade fornecer informações sobre o crime,
identificar suspeitos, testemunhar em processos, tomar medidas de defesa pessoal e, principalmente, criar um clima favorável
ao cumprimento da lei.
A visita comunitária é uma das atividades mais básicas do policiamento comunitário e que melhor facilita a aproximação e
contato direto além de contribuir para produzir informações que conduzam a resolução de problemas.
A visita comunitária tem origem no Japão, onde tal atividade é chamada de Junkai Renraku:

Junkai Renraku são atividades que os policiais comunitários realizam, por meio da visita a famílias e aos locais de trabalho,
ocasião em que repassam orientações sobre a prevenção de ocorrências de crimes e acidentes, além de recepcionarem
informações sobre problemas, solicitações e sugestões da comunidade (SENASP, p. 156).

Através dos Junkai Renraku, os policiais comunitários preenchem um cartão, no qual inserem informações úteis para
melhor conhecer o cidadão e acioná-lo no caso de desastre ou acidentes, ou ainda, para repassar orientações que melhorem a
sua segurança.
3.1.1.1 Objetivos da visita comunitária
A visita comunitária tem por objetivo geral estabelecer uma relação de amizade e confiança mútua, por meio de constantes
contatos diretos e pela presença asseguradora de policiais militares.
A SENASP (2010, p. 157) relaciona outros objetivos da visita comunitária:

Traçar perfil socioeconômico da comunidade; Identificar problemas criminais e situação de riscos às pessoas; Conhecer a
comunidade com a qual trabalha; Interligar a população e demais órgãos públicos para a resolução de problemas.

A visita comunitária ainda é um importante instrumento na prevenção de crimes, conforme assevera a Secretaria Nacional
de Segurança Pública do Ministério da Justiça (SENASP, 2010, p. 157):

As visitas comunitárias têm o objetivo de proporcionar condições para que o policial militar possa transmitir informações sobre
prevenção de crimes, divulgar os projetos desenvolvidos, a forma de atuação policial militar e os objetivos do policiamento
comunitário, além de ser excelente ferramenta para o marketing institucional.

Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 18


A busca da prevenção, utilizando a visita comunitária possui dois focos: combater a vitimização através de orientações
que venham a instigar a pessoa a se preocupar com sua segurança, deixando de ser uma vítima fácil e, o segundo foco,
contribuir com a polícia através de informações fidedignas que propiciam a prisão de criminosos, o combate a crimes e a
identificar locais e pessoas vulneráveis.
3.1.1.2 – Estabelecendo uma relação de confiança com o cidadão.
A primeira preocupação na concretização da visita comunitária é estabelecer uma relação de confiança entre a polícia e a comunidade.
Nesse sentido, o policial militar deve:
a) Conhecer como desempenha uma visita comunitária;
b) Ser compromissado com o policiamento comunitário e defender a filosofia;
c) Ser atencioso com as pessoas, ouvindo-as atentamente;
d) Orientar e dar explicações sobre os questionamentos;
e) Superar os obstáculos que historicamente distanciaram a polícia da sua comunidade;
f) Acreditar no seu trabalho, independente dos resultados iniciais não serem compatíveis com o planejamento;
g) Estimular o cidadão a compartilhar a responsabilidade pela segurança e a fortalecer a parceria com a Polícia Militar.
* Como realizar uma visita comunitária
O policial militar do quadrante deve estar convicto que a visita comunitária é uma rotina de trabalho. O policial militar deve entender
que o cidadão é coparticipante do processo preventivo e nesse sentido, um bom atendimento é fundamental para construir uma relação
saudável. Ao realizar uma visita comunitária, o policial militar deve:
a) Saudar educadamente o cidadão;
b) Apresentar-se como o policial militar do quadrante;
c) Apresentar o novo modelo de policiamento e asseverar a intenção da Polícia Militar em prestar um serviço que lhe proporciona uma
segurança real, verdadeira;
d) Estimular o morador a melhor se prevenir, analisando suas fragilidades e lhe repassando cuidados específicos;
e) Pedir a colaboração do morador para a qualidade de vida do bairro;
f) Entregar o cartão com dados funcionais do quadrante;
g) Despedir com a mesma educação da apresentação.
A visita comunitária é uma modalidade de policiamento preventivo e deve revestir-se da devida formalidade exigida na relação de um
prestador de serviço com seu cliente. A amizade conquistada não deve ingressar no campo pessoal, sem, contudo, deixar alcançar a empatia
com a situação do cidadão.
3.1.1.3 – Visita comunitária residencial
É aquela realizada em residências para:

[...] verificar as carências daquela família, a situação sócio-econômica, identificar as formas mais comuns de violência a que
estão sujeitos, além de colher solicitações e informações pertinentes à criminalidade e aos conflitos existentes, a fim de que o
policial militar possa resolver, orientar ou encaminhar tais problemas e solicitações aos órgãos competentes (SENASP, 2010, p.
159).

A visita comunitária em residência, como modalidade de policiamento propicia a infiltração da Polícia Militar em áreas
pouco policiadas e leva ao morador o sentimento de preocupação e zelo que o Estado está denotando a seu respeito.
3.1.1.4 – Visita comunitária comercial No comércio, a frequência de visita comunitária é maior e,
consequentemente, se repete com maior facilidade por três motivos:
1) número de estabelecimentos comerciais é menor que de residências;
2) se situa em locais de maior fluxo de pessoas e
3) são mais suscetíveis a furto e roubo.
“Nas visitas comerciais, devem ainda ser observadas as condições de segurança e a vulnerabilidade a eventos criminosos
(principalmente furto e roubo) de modo que o policial militar possa orientar sobre as formas de prevenção” (SENASP, 2010, p.
160).
No patrulhamento tradicional os policiais militares patrulham distantes das pessoas, executando o equivocado método de
prevenção pela exclusividade do policiamento. Por mais público que seja o policiamento não há impedimento aos policiais
militares de acessarem os estabelecimentos comerciais.
Adentrar ao imóvel, conversar com os comerciários e clientes e aproveitar para transmitir orientações de prevenção e
formas de acionar a PM no caso de emergência, trata-se de um modelo de policiamento eficiente e que aproxima o cidadão da
Polícia Militar.
3.1.1.5 - Visita comunitária em órgão público ou entidade privada. Os policiais militares do quadrante devem buscar a
aproximação do órgão público como creches, escolas, hospitais e entes privados, como igrejas, Organização não
Governamental (ONG), associações, com fim comum da visita que é a prevenção, por métodos próprios e aproximação com a
PM, bem como para “[...] o levantamento de dados sobre o funcionamento e a atuação de cada órgão [...]” (SENASP, 2010, p.
160) para, através dele, encaminhar solicitações do cidadão para a resolução de problemas e para ser possível o acionamento do
diretor, presidente ou chefe do órgão em caso de emergência, pois nesses locais, geralmente, estão fechados à noite e finais de
semana, estando vulneráveis ao crime.
3.1.2 - Visita Solidária
A visita solidária ocorre quando os policiais militares visitam as vítimas de crime e incivilidades havidas no quadrante,
para outras providências policiais e orientações sobre prevenção.
É através da visita solidária que o policial militar faz um estudo de caso e conduz a vítima a refletir se o seu
comportamento contribuiu para o desfecho delituoso. Igualmente, o policial militar enriquece sua lista com novas maneiras de
prevenção. A aproximação do policial militar após a ocorrência criminal é importante para renovar a confiança do cidadão em

Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 19


relação à Polícia Militar, às vezes abalada após a ocorrência de um crime que a PM não conseguiu evitar. É através da visita
solidária que o policial militar se projeta no lugar da vítima e, através da empatia, possa sentir melhor a aflição da pessoa e,
com isso, valorizar o seu serviço e dedicar-se com melhor eficiência.
Por meio da visita solidária o policial militar pode suscitar mais informações a respeito do delito e sobre o criminoso,
propiciando conhecer sua forma de atuação, possibilitando a identificação da autoria e a elucidação de outros crimes.
O policiamento comunitário é completo, abrangendo a prevenção e a repressão criminal e o modelo fomentado pelo
Governo Federal, através da Secretaria Nacional de Segurança Pública, apóia a “Assistência à Vítima” como oportunidade
ampla para, resgatar a confiança do cidadão, para melhorar a atuação da polícia e até para elucidar o delito:

Diariamente, o policial deve consultar o banco de dados e relacionar as ocorrências no dia anterior, ou outro período pré-
definido, deslocar-se ao local e fazer contato com a vítima a fim de colher dados necessários para o planejamento adequado de
ações. Desta forma, também, o cidadão sente-se prestigiado, aumentando a sensação de segurança e criando, acima de tudo, um
vínculo entre a polícia e a comunidade (SENASP, 2010, p. 166).

A visita solidária, bem-sucedida, propicia a restauração da Ordem Pública através da possibilidade de responsabilização
do autor do crime e do aumento da sensação de segurança.
3.1.2.1 Objetivos da visita solidária.
A visita solidária, como instrumento do policiamento comunitário, é utilizado para alcançar as finalidades deste e deve
estar ligado a uma “espinha dorsal” para o fim único do policiamento comunitário. Portanto, para alcançar os fins desejados, os
objetivos da visita solidária são:
a) Identificar o autor do delito através de novas informações que a perspicácia do policial militar permite extrair, bem
como após o fim d êxtase provocado pelo impacto, faculta à vítima melhor retratar o episódio.
b) Relacionar o sinistro criminoso a outros eventos para buscar associar autores, através do seu modo de ação;
c) Conduzir a vítima a refletir sobre seu comportamento para corrigir possíveis falhas que contribuíram para o crime;
d) Enriquecer o acervo da Polícia Militar sobre novas maneiras de prevenção e sobre o modo de atuação dos delinquentes
com fim de orientar os cidadãos sobre novas maneiras de prevenção;
e) Melhorar o nível de sensação de segurança que a vítima possuía antes do crime, se não puder aumentá-lo;
f) Fazer com que o policial militar possa compreender a vítima e entender sua aflição (empatia) para melhorar sua atuação
e comprometimento com a segurança pública;
g) Corrigir possíveis falhas no atendimento reativo ou sobre o policiamento preventivo;
h) Colher dados necessários para o planejamento adequando das ações policiais.
3.1.2.2 Como realizar uma visita solidária
Após um turno de vários atendimentos policiais militares – proativos e reativos, a guarnição do quadrante deve relacionar
os boletins de atendimentos reativos os quais há vítimas, preenchendo um rol com informações necessárias para que os
policiais militares do próximo turno iniciem o seu labor visitando as vítimas.
O preenchimento da lista deve ser preciso o suficiente para que os policiais possam entender a dinâmica do fato, mas
sucinto para que o PM compreenda o episódio pela narrativa da vítima.
Os policiais militares devem entender que a visita solidária é um método de policiamento e que devem adotar o
comportamento de patrulha e de posicionamento da viatura em estacionamento para garantir a presença asseguradora da PM no
local e propiciar à comunidade imediata a segurança favorecida pela presença da Polícia Militar nas imediações.
A visita deve ser objetiva, tendo a narrativa da vítima no primeiro momento, seguido pela expressão de sensibilidade do
PM, pela análise do fato, pela orientação a respeito da prevenção e pela dedicação da PM no sentido de evitar futuros delitos.
A visita que não puder ser realizada no período diurno deverá ser agendada para o momento adequado, considerando,
ainda, os picos criminais, os quais deverão ser evitados para que não haja falha no policiamento preventivo.
O ideal é que o sistema de informações possa agregar no mesmo boletim de atendimento a visita solidária e
complementar, através dela, informações que possa chegar à autoria ou melhorar o conteúdo probatório facultando a
persecução criminal.
3.1.2.3 Quando realizar a visita solidária.
Em regra, a visita solidária é destinada a todas as vítimas de delitos, no entanto, em algumas situações não são
recomendadas e, portanto, devem ser evitadas.
Nos fatos de briga generalizada, vias de fato, a visita solidária não é eficiente, não possibilita facilmente a autoanálise da
vítima, que não raras vezes, é o “pivô” do entrevero, mas que nunca, observou-se como tal. Alguns crimes em que a vítima é
contumaz delinquente, a Polícia Militar geralmente não é bem recebida pela família, pois a vê como inimiga.
Em outras oportunidades, para coibir o delito e prender os autores, a Polícia Militar usou, seletivamente, dos seus recursos
disponíveis para cessar a agressão ou permitir a aplicação da lei penal. Nesses casos, a Polícia Militar, para os envolvidos e
suas famílias, também personaliza a antipatia.
São casos que antes de realizar a visita solidária, os policiais militares devem consultar o escalão superior e, com ele,
deliberarem a viabilidade da visita.
3.1.3 – Monitoramento
Para que o incidente criminal ocorra, três fatores são essenciais:
a) Vítima;
b) Oportunidade;
c) Delinquente.
Havendo ausência de um desses elementos, o crime não ocorre. A prevenção ao crime não abrange apenas o policiamento
preventivo, pois este ataca apenas a oportunidade. O delinquente está sempre à procura de uma oportunidade para atacar uma
vítima. Quando esta está vulnerável, torna-se vítima fácil.

Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 20


Uma pessoa prevenida e cautelosa não é uma vítima em potencial. Fatores como idade, deficiência, sexo, físico e,
principalmente, conduta facilitadora, contribuem para o sucesso do delinquente. Senhoras idosas, que vão sozinhas ao banco e
sacam integralmente suas pensões são alvos fáceis.
O ambiente composto pelo aspecto espacial (local) e temporal (horário) cria a oportunidade ao marginal. A definição de
Zona Quente de Criminalidade (ZQC) envolve a quantidade de incidências em determinados locais e horários, exigindo a
maior presença da Polícia Militar.
O delinquente, por sua vez, é formando dentro da sociedade e pior, enquanto se formava ninguém nada fez para mudar
essa perspectiva. O delinquente precisa ser conhecido da Polícia Militar como é conhecido pela comunidade.
Com a relação estreita com a comunidade e com permanência dos policiais militares no quadrante ocorre uma facilitação
para que possa conhecer os delinquentes da região.
Atualmente, o cenário é favorável ao delinquente. Primeiramente, a sensação de insegurança inibe a denúncia, mesmo
quando a vítima conhece o delinquente. Ainda, a apatia do cidadão que não confia na polícia fica desestimulado a procurar a
polícia por acreditar ser apenas um ato burocrático. Outra razão é a ineficiência investigatória que deveria se iniciar no
momento em que os policiais militares atendem um incidente. Na realidade, quase tão somente aqueles casos já encaminhados
por policiais militares é que geram investigação criminal. Quase nunca as vítimas vão à delegacia de polícia para registrar
algum roubo, por exemplo.
O assaltante que rouba pequenos valores, costumeiramente, é da região, e confia na impunidade para continuar a agir.
Assim, em poucos casos de roubos e furtos a PM é acionada, menor é o número de prisões e ínfimo é a presença da vítima na
delegacia. Esse panorama é favorável ao delinquente.
O monitoramento é um patrulhamento realizado no quadrante pelos policiais militares com foco na vítima, quando
procura identificar suas fragilidades e buscar orientá-la, no ambiente oportuno, com atenção às ZQC, nos horários de maior
incidência criminal. Enquanto isso, os delinquentes conhecidos passam a ser encontrados e abordados habitualmente com a
finalidade de inibir suas ações.
O monitoramento deve ser priorizado aos ZQC e os policiais militares devem estar atentos aos dias e horários de
frequência de pessoas, de incidentes e presença de suspeitos.
Os delinquentes devem ter ciência que os policiais estão patrulhando a região com total atenção a eles. Devem estar
cientes que eles são os alvos da monitoração.
É bom sabermos que os delinquentes são agressores da sociedade e a Polícia Militar é a defensora. Assim, é totalmente
legítima a atenção fiscalizadora sobre o delinquente conhecido no quadrante.
3.1.4 – Mensuração
O policiamento comunitário é um modelo de administração gerencial, e como tal utiliza-se da mesma metodologia e
instrumentos.
Como administração gerencial o foco do policiamento também está na qualidade e a sua definição é dada pela expectativa
do cliente.
A satisfação do cliente sobre determinado produto é que define a qualidade, independente do desempenho do produto.
Nesse sentido, qual seria o produto entregue ao cidadão, seu cliente?
O produto pode ser definido com bem (fungível) ou serviço, e no caso da Polícia Militar, trata-se de um serviço público.
Esse produto é difícil de ser mensurado, pois ele seria composto de valores negativos.
A percepção do cidadão ocorre pela sensação de segurança, melhor sentida pela ausência de crimes (por isso valores
negativos ou decrescentes). Assim, o produto desejado pelo cidadão é a segurança e resposta ao crime.
A segurança desejada pelo cidadão não pode ser medida pelos números crescentes de prisões e apreensões, mas pelos
valores que decrescem não podem estar desassociados de ações. Portanto, determina-se que a Policia Militar deve promover
ações que contribuem para diminuir os crimes. Essas ações denominam-se “proatividade”. A segurança e a sensação de
segurança é produto de um processo, que se chama de processo produtivo. O modelo gerencial busca atentar ao processo,
criando procedimentos padrões para estabelecer a eficiência desse processo.
Para que o produto seja aquele pretendido, o processo deve ser minuciosamente monitorado e isto significa análise dos
dados comparados aos indicadores preestabelecidos. O monitoramento do processo é garantia de qualidade do produto.
Mensurar o processo é uma delicada tarefa. Mais delicado é mensurar o produto ofertado pela Polícia Militar. Como
muitos esperam, a quantidade de prisões e apreensões não são os produtos esperados da PM pela sociedade. O que se deseja da
Polícia Militar seria ações que favorecem a ausência de crime. Trata-se de relação causa e efeito. Aliás, essa relação é a
definição de processo.
O efeito seria a ausência de crime e da sensação de segurança, que se denomina de produto, e quais seriam suas causas?
Para relacionar causa e efeito é necessário mensurar o processo.
Daí pergunta-se: O que a Polícia Militar pode realizar de proatividade para gerar mais segurança e sensação de segurança?
A Polícia Militar do Estado de Goiás adotou as seguintes ações:
a) Visita Comunitária; e) Operações Policiais;
b) Visita Solidária; f) Patrulhamento;
c) Reunião Comunitária; g) Monitoramento;
d) Abordagem Policial; h) Foragido recapturado e outros.
Anteriormente, o serviço policial militar era medido pela quantidade de ocorrências registradas. Os policiais militares
acostumados a “vagar” pelas ruas a espera de um crime para atender, chegavam a dizer que nada fizeram quando não foram
acionados.
Enquanto não são acionados para atendimento reativo, os policiais militares devem estar produzindo segurança pública.
Medir as atividades é imprescindível para determinar a relação causa e efeito e mensurar o quanto as ações da Polícia
Militar são determinantes para diminuir a criminalidade.

Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 21


Para facilitar, a Polícia Militar utiliza o mesmo sistema para registrar os “boletins de ocorrências” para registrar as
atividades proativas. A ferramenta tecnológica chama-se RAI - Registro de Atendimento Integrado.
Através do RAI, a guarnição de RP abre o registro assim que iniciar o atendimento. Ao final, insere os dados pertinentes à
atividade desenvolvida e encerra-se o atendimento.
Para que a mensuração ocorra satisfatoriamente, é fundamental que o PM seja honesto em seus lançamentos, inserindo
corretamente os horários, hodômetro da RP, local do atendimento e as providências adotadas.
Quanto melhor for o registro, mais preciso será a análise pela equipe de planejamento da OPM. A mensuração é um
processo linear, que envolve os policiais militares do quadrante, do Centro de Operações, para o registro, como também
envolve a Seção Operacional, na captura de dados e análise para posterior relatório e finaliza novamente nos policiais militares
do quadrante para direcionar as ações conforme orientações da Seção Operacional e do comandante do quadrante.
3.1.5 - Reunião Mensal
A expansão do policiamento além das atividades reativas e da mera busca pela diminuição de crimes demanda uma
relação confiável e próxima entre a Polícia Militar e a comunidade.
O policiamento comunitário é a aplicação do modelo gerencial e, portanto, exige essa aproximação para que a polícia
possa, como prestador de serviço, definir a qualidade pela expectativa do cliente, que é o cidadão.
O cidadão, no entanto, não é somente cliente, pois lhe exige a responsabilidade pela segurança pública. O cliente, como
tal é desprovido de deveres, enquanto que o cidadão possui esse ônus. Com isso o cidadão, além de cliente – o qual receberá
um serviço – também é elemento ativo na consecução do serviço público prestado juntamente com a polícia. Aliás, a Segurança
Pública é “responsabilidade de todos” (art. 144, CF/88).
O policiamento comunitário vai além da cultura reacionária ao delito. Também transcende o planejamento estratégico e a
polícia de resolução de problemas. Ele mobiliza a comunidade para fins de solução mais ampla dos problemas comunitários e
de angariar sua simpatia para consolidar uma parceria. A confiança e simpatia da comunidade não se compram antes de tudo se
conquista. Para formar uma parceria com a comunidade é necessário construir com ela um relacionamento pautado na
confiança e lealdade.
A reunião mensal com a mesma comunidade propicia essa construção, se observado esses princípios éticos.
A reunião é oportunidade para prestar contas daquilo que a Polícia Militar produziu no mês anterior e reafirmar que os
resultados podem ser melhores se houver a participação efetiva da comunidade.
Para mobilizar a comunidade, antes, porém, é necessário angariar a sua simpatia. Para isso, a honestidade é essencial,
mesmo quando os resultados não sejam satisfatórios.
Tanto o processo quanto os resultados foram gerenciados conjuntamente, portanto devem ser avaliados igualmente.
Na reunião mensal, além da prestação de contas é oportunidade singular para discutir medidas preventivas e ouvir as
reclamações sobre a criminalidade e da má prestação de serviço, se houver.
Quanto a informações relevantes para a segurança pública, há três fontes: do serviço de inteligência, das estatísticas e as
comunitárias.
É bastante comum o departamento de planejamento não obter dados corretos por falta de registros de crimes, mas as
vítimas que não acionaram a emergência da PM comentam com seus vizinhos. Daí, as situações ocultas às estatísticas
emergem nas reuniões.
Por outro lado, a presença dos policiais militares que compõem o quadrante nas reuniões, propicia o comprometimento
desses com o policiamento comunitário, pois encurtam a distância burocrática que existe entre a polícia e a comunidade que,
historicamente, as separam uma da outra.
É vantajoso que nas reuniões comunitárias os policiais ouçam os flagelos dos cidadãos, bem como ouçam os elogios e as
críticas. O comandante da OPM ou do quadrante deve explorar essa oportunidade para elogiar os PM do quadrante e destacar
as atuações positivas que culminaram em prisões. O destaque é recebido pela comunidade que valorizam ainda mais os seus
policiais.
A reunião mensal deve ser conduzida pelos policiais militares que também devem aproveitar as visitas comunitárias para
reforçar o convite quanto para expandir àqueles que não compareceram a reunião anterior. Na reunião mensal não há
composição de mesa e a frente somente o cerimonial (um policial militar) e aqueles aos quais forem franqueados. É obvio que
o comandante da OPM ou do quadrante será o expositor principal, pois divulgará os resultados obtidos no mês anterior. A
ordem de colocação deve ser conduzida pelo cerimonial que conduzirá a pessoa à frente. Esse método evita a abordagem
desnecessária de assuntos impróprios, bem como limita a pessoa ao seu tempo.
As reuniões devem ser breves para não permitir o retorno das pessoas em horário impróprio, respeitando a jornada do dia
seguinte. Também não poderá ser muito cedo para permitir que haja tempo para os trabalhadores comparecer.
A reunião do mês seguinte deve ser divulgada na presente reunião, visando facilitar a divulgação. O policiamento
comunitário admite a participação de todos, através de idéias, patrocínio e, principalmente, em tarefas assessórias, como a
confecção de panfletos, jornais, criação de páginas na internet, rede social virtual. Esses informativos tornam-se uma extensão
da reunião, alcançando um público maior e favorecendo a troca de informações que não pode ser amplamente explorada na
reunião.
Resumidamente, a reunião mensal é um instrumento valioso para o policiamento comunitário, pois contribui para
fortalecer a parceria com a comunidade, melhorando a confiança dos cidadãos com respeito à Polícia Militar e uma
oportunidade para a PM prestar contas, para difundir orientações e inspirar um melhor “comprometimento” dos policiais
militares que são confrontados pessoalmente com as aflições das pessoas.
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MÓDULO 4 - POLICIAMENTO ORIENTADO PARA O PROBLEMA
Objetivo: Capacitar os discentes do CAS a que possam potencializar suas tarefas enquanto operadores do Sistema de
Segurança Pública, as quais devem ser focadas na identificação das causas dos problemas de segurança vividos pela
comunidade, bem como em sua decorrente solução, com o apoio de lideranças comunitárias.
Aulas:
1. Conceito e componentes de situações-problema;
2. Diagnóstico de situações problemáticas;
3. Etapas da solução de problemas;
4. Identificação de alternativas;
4. Avaliação de alternativas;
6. Discussão, planejamento e encaminhamento participativo de soluções;
7. Análise de etapas e forma de comunicação;
8. Resposta
9. Avaliação de resultados;
10. Ferramentas de auxílio à tomada de decisão.

Introdução
Texto extraído do livro A Síndrome da Rainha Vermelha
“Vamos imaginar que você esteja passeando ao longo de um rio e que, subitamente, perceba que uma criança está sendo arrastada pela
correnteza. Se você for uma pessoa minimamente solidária, por certo se jogará na água para tentar resgatar a criança. Suponhamos que você
tenha sorte e que seu gesto seja resgatar a criança. Assim, como bom nadador, você consegue trazer a criança sã e salva em seus braços e tem
razões de sobra para comemorar seu feito. Vamos imaginar agora que toda a vez que você passe por aquele lugar haja uma criança sendo levada
pela correnteza, fazendo com que você seja, sempre, obrigado a repetir a mesma façanha. Certamente, as chances de salvar todas as crianças
seriam menores e, ao mesmo tempo, o risco de você ser tragado pelas águas aumentaria. Mas, se isso ocorresse, pareceria evidente que algo
estava acontecendo com essas crianças em um ponto anterior da correnteza. Portanto, tão logo a repetição das ocorrências fosse comprovada,
pareceria-lhe não apenas o óbvio, mas urgente, descobrir o que estava acontecendo com as crianças antes de elas caírem na água. Então, você
provavelmente iria percorrer as margens do rio em direção à sua nascente para tentar descobrir a causa de tão chocante e misteriosa sucessão de
tragédias.”Imagine que o papel desempenhado pelas polícias modernas é superar a “lógica” de agir reativamente, que obriga os policiais a
“nadar” o tempo todo, para tentar salvar “crianças que já estão afogadas” e reflita sobre as questões a seguir:
1. Essa metáfora aplica-se no serviço de segurança pública?
2. Geralmente, você atua no serviço de segurança pública de forma reativa ou age de maneira proativa aos problemas
diários e repetitivos?
3. É hábito de sua organização pensar ou planejar ações para subir o curso do rio para “salvar as crianças”? O que impede
que isso ocorra?
4. Que tipo de ação dá mais visibilidade na mídia e reconhecimento (prêmios ou medalhas) na sua comunidade e
organização, tentar “salvar as crianças afogadas” ou “identificar o que gera os afogamentos”?
A partir da década de 1960, as cobranças acerca da efetividade do modelo profissional de policiamento, calcado em uma
perspectiva reativa de patrulhamento aleatório e limitada a aplicação da lei, nos Estados Unidos da América, ensejaram
diversas avaliações do desempenho policial (GOLDSTEIN, 1990).
As pesquisas realizadas nesse período, segundo Brodeur (2002, p. 42), fizeram emergir, em uma primeira análise, a
constatação de que o trabalho policial abrange não só o crime, mas comportamentos que não necessariamente envolvem a
esfera penal sendo a aplicação da lei apenas um dos métodos possíveis de ser empregado pela polícia e não o único.
Para o autor, as soluções podem ser tão simples como chamar um departamento de saneamento ou de obras para relatar
um problema de lixo ou de iluminação pública, como desenvolver programas de educação extensiva e treinamento profissional
para jovens, a fim de evitar a violência juvenil no bairro (BRODEUR, 2002).
No mesmo sentido, Oliveira (2006), destaca que um estudo realizado no Kansas entre 1972 e 1973, relativo à eficácia das
patrulhas preventivas, demonstrou que o aumento ou redução das patrulhas de rotina não exerceu incidência alguma sobre a
criminalidade ou mesmo no sentimento de segurança.
Finalmente, destaca-se a verificação de um grande distanciamento entre a polícia e a comunidade, além de agressividade
nas medidas repressivas e discrepâncias judiciais como fatos geradores de desigualdade:

O relatório constatou haver uma hostilidade profunda entre a comunidade dos guetos e a polícia, fato gerador de revoltas sociais,
porém não o único. Outros fatores apontados pela comissão era o sistema de justiça criminal que apresentava, em relação aos
pobres, grandes discrepâncias nas sentenças, equipamentos e serviços correcionais antiquados, entre outras desigualdades. A
comissão relatou, ainda, comentários negativos acerca das práticas policiais tendo como destaque o “patrulhamento preventivo
agressivo”. (MARCINEIRO, 2009, p. 46, grifo do autor)

Diante dessas constatações, os pesquisadores bem como os gestores de polícia, concluíram não pela extinção, mas pela
necessidade do aperfeiçoamento do modelo profissional de polícia, dando início ao modelo de polícia de proximidade e,
subsequentemente, à Teoria da resolução de problemas com a comunidade (HIPÓLITO; TASCA, 2012).
A denominada era da resolução de problemas com a comunidade evidencia-se, especialmente, em 1970, com a realização
de experiências de reestruturação dos departamentos de polícia com foco no relacionamento entre polícia e comunidade, ha-

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vendo descentralização do serviço policial em nível de comunidade e um sistema cooperativo com a finalidade de buscar uma
solução preventiva para os problemas locais. (GOLDSTEIN, 1990).
Para Rolim (2009), as propostas em favor da polícia comunitária e do policiamen to orientado para a solução dos
problemas partem do pressuposto de que “é preciso procurar o que está acontecendo antes daquele ponto da correnteza”11.
Esse modelo de polícia enfatiza a necessidade de superar o papel desempenhado pelas polícias no mundo, por meio do
qual os policiais se obrigam a nadar o tempo todo com resultados limitados uma vez que quando são avisados é sinal de que as
crianças já estão afogadas (ROLIM, 2009).
Por fim, importa salientar que a polícia comunitária e o policiamento orientado ao problema embora não constituam
sinônimos, também não se excluem, são, em verdade, complementares um ao outro.
Para Oliveira (2006) o policiamento orientado ao problema trata-se de uma polícia de expertise, na linha da polícia
comunitária, mas dotada de uma ação mais proativa e preventiva na qual a comunidade é convidada a participar.
Com efeito, destaca-se que o policiamento orientado ao problema é uma estratégia moderna que reúne os preceitos de
aproximação da polícia comunitária com o desenvolvimento de uma metodologia prática, na qual a identificação, análise,
resolução e avaliação dos resultados são etapas a serem rigorosamente seguidas para que se alcance uma resposta efetiva ao
problema.
Disso se depreende que o policiamento orientado ao problema demanda a implementação de uma estratégia voltada ao
melhoramento do policiamento. Para isso, elege como foco principal a ênfase em fatores preventivos que atuem sobre a causa
dos problemas de forma a saná-los, valendo-se, ainda, de parcerias e proximidade com a comunidade. Além disso, quando
necessário, emprega medidas repressivas para fazer cessar a contingência imediata.
Para implementar essa estratégia John e William Spelman, em 1987, conceberam um modelo com uma orientação mais
específica, aplicado no departamento de polícia de Newport News, com supervisão de Hermann Goldstein, ao qual se deu o
nome de Model Scanning, Analysis, Response e Assentment (SARA) e deveria ser seguido pela polícia, mediante treinamento
de oficiais, para consecução do policiamento orientado ao problema (GOLDSTEIN, 1990).
Segundo os autores, no Brasil, esse modelo foi denominado I.A.R.A em alusão as letras iniciais de cada uma das etapas
(Identificação, Análise, Resposta e Avaliação), sendo essa metodologia, que passa a ser discriminada, adotada e disseminada
pela Secretaria de Nacional de Segurança Pública.
A primeira etapa desse método consiste na identificação do problema. Contudo, para que se considere a existência de um
problema, Oliveira (2006) elenca a necessidade de análise de dois fatores: existência de incidentes repetidos e relacionados.
Esses incidentes devem ter, pelo menos, um ponto em comum; E, por último, esses incidentes devem ser uma preocupação
comum tanto para a comunidade, quanto para a polícia.
Goldstein (1990, p. 61, tradução nossa) utilizava a seguinte definição para problema:

[...] É um grupo de duas ou mais ocorrências (cluster de incidentes) que são similares em um ou mais aspectos (procedimentos,
localização, pessoas e tempo - PADRÃO), que causa danos e, além disso, é uma preocupação para a polícia e, principalmente,
para a comunidade”; e acomete, em pouco tempo, grande número de pessoas. [...].

Nesse sentido, destacam-se alguns elementos que tornam esses incidentes comuns, ligando-os, tais como tipo da infração
praticada (furto, lesão, roubo), procedimento modus operandi,ou seja, consulta sobre a operacionalização dos incidentes,
comportamentos, local, contexto físico e social, incidentes que por algum motivo ocorrem sempre no mesmo local, tempo,
horários e dias da semana, pessoas, ou seja, os atores envolvidos no problema, que incluem vítimas, infratores, e terceiros, e,
finalmente, evento, ou seja, incidentes que ocorrem devido a eventos (show, festa, feira), ou em determinado período do mês,
do dia ou da semana (GOLDSTEIN, 1990)
Outro ponto de relevância, nessa etapa, trata-se dos atores a quem se destina a tarefa de identificar os problemas, ponto
em que se reveste de relevância o termo disseminado pela polícia comunitária, qual seja, parceria, já que essa tarefa não está
adstrita a um segmento único de tal forma que Hipólito e Tasca (2012) atribuem a três grandes grupos essa tarefa (comunidade,
gestores de polícia e policiais de ponta).
Já quanto às formas de identificação desses problemas, aponta-se, além de reuniões junto a conselhos comunitários, para
a possibilidade de realização de entrevista, aplicação de questionários, urnas, conversas informais, queixas em rádios
comunitárias, registros de ocorrências. Esse processo é importante para que a identificação dos problemas não se resuma a
visão parcial e simplificada da polícia que possui conhecimentos restritos acerca dos problemas que afetam a comunidade
(GOLDSTEIN, 1990).
Da mesma forma, pode-se utilizar, tanto na fase da identificação quanto na fase da análise dos problemas, de uma técnica
denominada brainstorming, ou seja, tempestade de ideias, a qual visa reunir, de forma preliminar, as diversas ideias de
variados segmentos da sociedade para a identificação e solução dos problemas. (OLIVEIRA, 2006).
Por fim, Hipólito e Tasca (2012) sublinham que, para uma ação eficaz e focada, apresenta-se como relevante a
priorização dos problemas identificados, elegendo, dentre esses, aqueles em que as ações conjugadas serão empregadas em um
primeiro momento, propondo-se, para esse fim, a utilização da matriz Gravidade x Urgência x Tendência (GUT) e a qual

11Com a expressão mencionada o autor referencia um caso em que, hipoteticamente, todos os dias crianças caíam na água e eram levadas pela correnteza, forçando
quem passava pelo local a continuamente arriscar-se para salvá-las, parecendo óbvio e urgente que, tão logo a repetição das ocorrências fosse comprovada, deveria se
desvendar o que estava acontecendo com as crianças antes de elas caírem na água. (ROLIM, 2009).

Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 24


elencará os problemas conforme sua gravidade (impacto do problema), urgência (tempo disponível e necessário para
resolução) e tendência (potencial de crescimento do problema).
Uma vez identificado e priorizado o problema, passa-se à etapa de análise, que consiste em entender, conhecer o
problema de forma que se possa descobrir a sua causa, sendo esta etapa primordial para a eficácia do método, consistindo, nas
palavras de Goldstein (1990), no centro do processo de resolução de problemas.
Para tanto, Oliveira (2006) propõe a utilização de um modelo de análise do problema baseado em questionamentos
referentes a três categorias (atores envolvidos no problema, incidentes que o compõem e ações empreendidas pela comunidade
e demais órgãos), sugerindo o uso de uma tabela para formatação dessa análise de forma a detalhar os componentes do
problema.
Destaca-se, ainda, que, segundo Goldstein (1990), tais informações podem ser colhidas por meio de trabalhos
acadêmicos (artigos científicos, monografias, dissertações), registros policiais, policiais de ponta, vítimas, comunidades,
infratores e outras agências governamentais e não governamentais.
Finalmente, Hipólito e Tasca (2012) sugerem o uso do diagrama de Ishikawa ou diagrama espinha de peixe (figuras 5 e
6 – seção 4.3) para auxiliar na mensuração das causas e efeitos, caracterizando o problema com suas causas principais e
secundárias.
Na terceira etapa do método I.A.R.A., busca-se o estabelecimento da solução mais adequada ao problema para posterior
implementação, trata-se da fase das respostas. Nessa fase, Oliveira (2006) destaca a importância de dimensionar objetivos, os
quais podem representar a supressão completa do problema com ações sobre as causas ou, ainda, a redução de sua amplitude
ou gravidade.
Para cumprir essa meta, Oliveira (2006) ressalta a necessidade de buscar respostas mais amplas do que, aquelas
rotineiramente aplicadas, que, em regra, voltam-se apenas a reprimir um determinado fato delituoso ou prender um infrator ou,
ainda, apenas repassar o problema a outra agência governamental, sem esquecer, contudo, que as respostas devem ser pautadas
por ações adequadas, preferencialmente, de baixo custo e máximo benefício, sem esquecer de dimensionar objetivos
estratégicos, os quais podem representar a supressão completa do problema com ações sobre as causas ou, ainda, a redução de
sua amplitude ou gravidade.
Para tanto, destacam-se várias alternativas que podem ser exploradas, tais como: ações voltadas à redução de
oportunidades, alteração na prestação de serviços governamentais, fornecimento de informações confiáveis da polícia à comu-
nidade (procedimentos de segurança, informação, etc), desenvolvimento de novas habilidades e competências dos policiais,
novas formas de autoridade, mobilização da comunidade etc, evitando o uso exclusivo de técnicas policiais tradicionais (HI-
PÓLITO; TASCA).
No mesmo sentido, Bondaruk (2011) destaca as estratégias de prevenção ao crime através do desenho urbano,
envolvendo técnicas como a melhoria da vigilância natural, controle de acesso que permita visualização do ambiente, bem
como reforço territorial, marcado pela presença e vigilância constante de pessoas e habitantes de determinado local.
Para tanto, existem algumas técnicas aptas a facilitar o desenvolvimento dessas respostas, tais como o Triângulo de
Análise de Problemas (TAP), que levam em conta a vítima, o infrator e o ambiente para, com base em ações criativas e de
baixo custo, oferecer respostas relacionadas às causas descobertas na fase de análise dos problemas sem esquecer a viabilidade
econômica da implementação dessas soluções (BONDARUK, 2011).
Essas ideias podem, ainda, ser explanadas por meio de uma ferramenta denominada 5W2H, por meio da qual são
propostas cinco perguntas What? Why? Who? Where? When?, How? How much? (O que será feito? Por que? Quem vai
fazer? Quando será feito? Como será feito? e Quanto custará?) para esclarecer a estratégia adotada na solução de um problema
(CAMARGO, 2014).
Finalmente, Oliveira (2006) destaca que após aplicada a estratégia de solução dos problemas, passa-se à avaliação do
emprego dessa técnica visando auferir o efeito que a estratégia teve sobre a resolução do problema.
A importância dessa fase revela-se em especial por dois aspectos. Primeiro, possibilita o acompanhamento social do
desempenho da polícia e, segundo, permite que a própria instituição policial aprenda sobre a efetividade das estratégias
desenvolvidas para determinados problemas aprimorando-as ou descartando-as (HIPÓLITO; TASCA, 2012).
Para tal análise, segundo os autores, se faz necessária a clara compreensão do problema, a concordância sobre quais
interesses serão contemplados por meio da resolução do problema, a definição transparente do que se espera da polícia em
relação ao problema, a determinação acerca dos efeitos esperados de curto ou longo prazo, a certeza de que a resposta
implementada é legal e equânime e, ainda, o padrão de desempenho desejado em relação aos objetivos estabelecidos.
Diante do exposto, verifica-se que essa metodologia, destaca-se, não só pelo fato de possibilitar seu emprego na busca
para a solução de vários problemas comuns ao cotidiano policial, sejam eles de desordem, crime ou contravenção ou medo do
crime, mas, ainda, por possibilitar o uso de técnicas e soluções diversas das tradicionalmente utilizadas pelas instituições
policiais. Visa, assim como a gestão e elaboração de projetos, que será doravante analisada, propiciar mecanismos para que a
corporação atinja a excelência no serviço policial prestado melhorando os índices de desempenho de cada unidade operacional.
4.1. CONCEITO E COMPONENTES DE SITUAÇÕES-PROBLEMA.
O policiamento orientado para o problema é uma estratégia de policiamento moderno, que direciona as atividades
policiais para identificar os problemas policiais repetitivos, analisar suas causas, resolvê-los e avaliar os resultados alcançados.
POLICIAMENTO ORIENTADO PARA O PROBLEMA – POP
O policiamento para resolução de problemas é também chamado de Policiamento Orientado para o Problema – POP. Seu
objetivo inicial é melhorar a antiga estratégia de policiamento profissional, acrescentando reflexão e prevenção.
O POP, como geralmente é chamado na literatura internacional, pressupõe que os crimes podem ser causados por
problemas específicos e, talvez, contínuos na comunidade, tais como: relacionamento frustrante, grupo de desordeiros,
narcotráfico, dentre outras causas. Para esse tipo de policiamento, o crime pode ser controlado e até mesmo evitado por ações
diferentes das meras prisões de determinados delinquentes. A polícia pode, por exemplo, resolver problemas ao simplesmente

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restaurar a ordem em um local. Essa estratégia determina o aumento das opções da polícia para reagir contra o crime (muito
além da patrulha, investigação e detenções).
CARACTERÍSTICAS
- As chamadas repetidas geram uma forma de agir diferenciada. Entre o repertório de ações preventivas incluem alertar
bares quanto ao excesso de ruído, incentivar os comerciantes a cumprirem regras de trânsito, proibir a permanência de menores
em determinados locais, etc.
- A comunidade é encorajada a lidar com problemas específicos. Pode, por exemplo, providenciar iluminação em
determinados locais, limpar praças e outros locais, acompanhar velhos e outras pessoas vulneráveis. De igual modo, outras
instituições governamentais e não-governamentais podem ser incentivadas a lidar com situações que levem aos delitos.
- Essa estratégia de policiamento implica mudanças estruturais da polícia, aumentando a capacidade de decisão, de
resolução de problemas e a iniciativa do policial.
- O POP desafia a polícia a lidar com a desordem e situações que causem medo, visando um maior controle do crime.
Os meios utilizados são diferentes dos anteriores, incluem um diagnóstico das causas do crime, a mobilização da comunidade e
de instituições governamentais e não-governamentais. Eles encorajam uma descentralização geográfica e a existência de
policiais generalistas e capacitados. Mais à frente você verá o método I.A.R.A. utilizado neste tipo de policiamento.
4.2. DIAGNÓSTICO DE SITUAÇÕES PROBLEMÁTICAS.
A ênfase dada à resolução de problemas é uma estratégia de policiamento eficaz que deriva do trabalho pioneiro sobre o
Policiamento Orientado para a Resolução de Problemas realizado por Herman Goldstein, em finais da década de 70, e das
experiências realizadas no início da década de 80 em Madison, no Wisconsin; no Condado de Baltimore, no Maryland; e em
Newport News, na Virgínia. Em Newport News, os agentes policiais, ao trabalharem em conjunto com estudiosos e com
membros da comunidade, demonstraram que os problemas decorrentes do crime e da desordem podiam ser significativamente
reduzidos através da implementação de respostas concebidas para o efeito e diretamente ligadas às conclusões, detalhadas,
resultantes das análises efetuadas aos problemas. A polícia e os membros da comunidade, em Newport News, conseguiram
reduzir em 34% os assaltos a residências num bairro de blocos de apartamentos que serviu de alvo à sua estratégia, reduziram
em 39% os roubos relacionados com a prostituição num distrito-alvo, e reduziram em mais de 50% os furtos no interior de
viaturas em duas áreas da baixa da cidade.1 A partir daqueles esforços desenvolvidos e de outros trabalhos prévios sobre o
policiamento orientado para a resolução de problemas, os defensores do policiamento comunitário reconheceram a eficácia da
abordagem orientada para a resolução de problemas e incorporaram-na na filosofia do policiamento comunitário.
Desde meados da década de 80, as comunidades de todos os tamanhos e as agências policiais de todos os tipos –
incluindo departamentos de xerifes, polícias estatais, patrulhas das autoestradas e polícias de trânsito – começaram a usar,
com sucesso, aquele tipo de abordagem virada para a resolução de problemas, para lidar com uma infindável diversidade de
problemas. A partir daqueles esforços, tornou-se claro que a Resolução de Problemas é de importância determinante para o
sucesso dos esforços no âmbito do policiamento comunitário. As iniciativas às quais falta uma componente analítica, por
norma, melhoram as relações polícia/comunidade mas, frequentemente, têm pouco impacto nos problemas decorrentes dos
crimes e das desordens específicos.
PROBLEMAS RECORRENTES
A adoção de uma abordagem solucionadora de problemas, para tratar de um problema criminal específico, obriga a um
estudo abrangente à natureza desse problema em particular. Como parte daquele estudo, muitas equipas de resolução de
problemas, constituídas por elementos da polícia e da comunidade, acabaram por chegar à conclusão que era útil a análise aos
padrões subjacentes aos pedidos de intervenção recorrentes, relacionados com vítimas, locais, e ofensores específicos. A
pesquisa demonstrou que um número relativamente pequeno de locais e de ofensores estava envolvido numa quantidade
relativamente grande de crimes. De forma similar, um pequeno número de vítimas estava relacionado a uma quantidade
relativamente grande de vitimizações.
Por exemplo, nalgumas áreas, os investigadores descobriram que mais de 60% das chamadas de serviço foram realizadas
a partir de, somente, 10% dos locais.2 De acordo com um estudo, aproximadamente 50% das vítimas de crimes, na Inglaterra,
sofreram repetições de vitimização e 4% das vítimas, as “cronicamente vitimizadas”, contaram para 44% de todos os crimes.3
Uma grande cidade do sudoeste dos EUA, também, descobriu que as vítimas repetidas – neste caso estabelecimentos
comerciais – contaram para um número desproporcionado de assaltos na jurisdição. Nesta cidade, 8% dos negócios foram
assaltados duas ou mais vezes no decurso de um ano e contaram para, pelo menos, 22% de todos os assaltos a
estabelecimentos. Em Gainesville, na Florida, este padrão repetiu-se. Recuando cinco anos, a polícia descobriu que 45 das 47
lojas de conveniência da cidade tinham sido vítimas de roubo, pelo menos uma vez entre 1981 e 1986, mas que metade delas
haviam sido roubadas cinco ou mais vezes e que várias haviam sido roubadas, pelo menos, 10 vezes12.
4.3. ETAPAS DA SOLUÇÃO DE PROBLEMAS (RESUMO).
MÉTODO IARA (IGOR ARAÚJO BARROS DE MORAIS13 E THIAGO AUGUSTO
VIEIRA14)
Na resolução de problemas repetitivos de segurança, com base no Posp 15, a polícia deve utilizar a seguinte metodologia:
identificar e especificar os problemas, analisar para descobrir as causas desses problemas, responder baseada nos dados
analisados para eliminar as causas geradoras dos problemas e avaliar o sucesso de todo esse processo (CLARKE; ECK,
2013).
12 Clarke, Roland V., e John E. Eck. Crime Analysis for Problem Solvers in 60 Small Steps. Washington, D.C.: U.S. Department of Justice, Office of Community
Oriented Policing Services, 2004.
13 Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN. Especialista em Gestão da Segurança Pública pela Faculdade Barddal.
Aspirante a oficial da Polícia Militar de Santa Catarina.igor4444@gmail.com
14 Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. Bacharel em Segurança Pública pela Universidade do Vale do Itajaí. Especialista em
Ciências Penais pela Universidade Anhanguera. Capitão da Polícia Militar de Santa Catarina. thiagoaugusto.vieira@gmail.com
15 Policiamento Orientado para a Solução de Problemas

Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 26


As mencionadas etapas de identificar, analisar, responder e avaliar foram sintetizadas na sigla Iara, traduzida da sigla
inglesa SARA, criada por John Eck e Bill Spelman para descrever as quatro fases de solução de problemas correspondentes
no inglês: scanning, analysis, response e assessment (CLARKE; ECK, 2013).
Este método foi desenvolvido por policiais e pesquisadores no projeto Newport News, na década de 1970 nos EUA,
modelo de solução de problemas que pode ser utilizado para lidar com o problema do crime e da desordem. Como resultado
desse projeto surgiu o método SARA, que traduzido para a língua portuguesa é denominado IARA.

Etapa Português Inglês


1ª FASE IDENTIFICAÇÃO    SCANNING
2ª FASE ANÁLISE     ANALYSIS
3ª FASE RESPOSTA  RESPONSE
 4ª FASE AVALIAÇÃO ASSESSMENT
 Figura 2 – Método IARA                  -                                       

Figura 3 – Fases do Método IARA


É importante ressaltar que existem diversas variações desta metodologia, detalhando ainda mais cada uma das fases. O
método IARA é de simples compreensão para os líderes comunitários e para os policiais que atuam na atividade-fim, e não
compromete a eficiência e eficácia do serviço apresentada pelo POP, assim como não contradiz outros métodos, por isso, neste
texto resolvemos adotá-la como referência. Observe como que o processo PDCA (muito utilizado na administração de
empresas), assemelha-se com o próprio método IARA, utilizado no policiamento orientado para o problema (POP).Como
primeiro passo, o policial deve identificar os problemas em sua área e procurar por um padrão ou ocorrência persistente e
repetitiva. A questão que pode ser formulada é: O QUE É O PROBLEMA?
Para GOLDSTEIN (2001) um problema no policiamento comunitário podeser definido como“um grupo de duas ou mais
ocorrências (cluster de incidentes) que são similares em um ou mais aspectos (procedimentos,localização, pessoas e tempo),
que causa danos e, além disso, é uma preocupação para a polícia e principalmente para a comunidade.”
CERQUEIRA (2001), conceitua que problema (no contexto de Polícia Comunitária), “é qualquer situação que cause
alarme, dano ameaça ou medo,ou que possa evoluir para um distúrbio na comunidade” - Fonte: SENASP.
IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA
Para iniciar o método Iara, é necessário definir o que é um problema. No contexto do POSP, um problema corresponde a
um grupo de incidentes similares em tempo, modo, lugar e pessoas, relacionados à segurança pública. Além disso, um
problema deve ser uma preocupação substancial tanto para a comunidade quanto para a polícia. Assim, tanto polícia como
comunidade devem participar juntos e ter paridade no processo de identificação do problema (TASCA, 2010). É importante
também nesta etapa a participação da comunidade. Segundo Marcineiro (2009, p. 119), dar qualidade ao serviço policial
significa torná-lo mais próximo e acessível ao cidadão respeitando-lhe as necessidades e desejo e considerando as díspares
peculiaridade de cada comunidade no planejamento oferta do serviço policial
Além disso, segundo o autor,

Outro aspecto que deve ser levado em conta na identificação do problema é a necessidade de se eliminar o ‘achismo’, ou seja,
deve-se trabalhar com atos concretos e dados coletados em fontes de informações confiáveis. A experiência pessoal de cada um
que participa na identificação do problema é importante, porém, para se evitar desperdício de tempo e recursos na busca
de soluções por um problema erroneamente identificado ou pouco importante no contexto geral, deve-se procurar, sempre que
possível, comprovar a experiência pessoal através de dados estatísticos (Marcineiro, 2009, p. 180).

No tocante à contribuição da polícia, destaca-se o papel da inteligência de segurança pública como condição primordial à
identificação dos problemas e suas respectivas causas. Por isso, a inteligência de segurança pública deve ser desenvolvida e
aperfeiçoada constantemente com a integração de diversas bases de dados e não apenas com dados de instituições de segurança
pública, uma vez que órgãos, como secretarias de saúde e educação, podem fornecer informações bastante valiosas à polícia.
Nesse cenário, é interessante a utilização de tecnologias cada vez mais avançadas de análise criminal no auxílio à inteligência
de segurança pública (SANTA CATARINA, 2011).
Entretanto, segundo Rolim (2009, p. 41), infelizmente, muitas vezes só se obtêm: dados compilados partir dos registros de
ocorrência, o que assimila, inequivocamente, uma maneira ultrapassada de se lidar com indicadores de criminalidade e
violência.

Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 27


Não por outra razão, o rol de indicadores de problemas deve ser amplo e diversificado. Do lado policial devem ser
considerados os órgãos da segurança pública no geral (policiais militares, policiais civis e bombeiros); do lado da comunidade
devem participar, além de moradores, empresários e lideranças locais representantes de outras instituições públicas e privadas.
Todos devem participar e conjunto para dar legitimidade ao processo (BRASIL, 2009).
Cabe salientar que, ao se isolar um determinado tipo de problema, há maior facilidade de resolvê-lo, e é necessário
considerar ainda que um pequeno grupo de problemas se mostra responsável por um número considerável de ocorrências
policiais. Segundo dados trazidos por Rolim (2009, p. 139) de pesquisa realizada no Estados Unidos cerca de 10% das vítimas
estão envolvidas em 40% dos crimes; 10% dos agressores estão envolvidos em 50% dos crimes; e 10% dos lugares formam o
ambiente para cerca de 60% das ocorrências infracionais.
Acredita-se que a realidade seja semelhante no Brasil, seguindo o que se chama de Princípio de Pareto, de acordo com o
qual, geralmente, um pequeno número de causas (20%) é responsável por uma grande proporção de resultados (80%) (TASCA,
2010).
ANÁLISE DO PROBLEMA
A fase de análise do problema corresponde ao coração do método IARA. Nesta fase, buscam-se as raízes dos problemas para, assim,
conseguir atacar suas causas e não apena combater os efeitos dos problemas (HIPÓLITO, TASCA, 2012).
Tentando analisar a gênese do crime, as teorias de criminologia se concentram em fatores sociais. Simulam causas em fatores
longínquos, como as práticas de educação de crianças, componentes genéticos e processos psicológicos ou sociais. Essas constituem
teorias difíceis de validação prática e focam em políticas públicas incertas que estão fora do alcance da polícia (CLARKE; ECK, 2013).
Ao contrário da criminologia tradicional, as teorias e os conceitos da ciência do crime são muito mais úteis no trabalho diário da polícia,
pois segundo Clarke e Eck (2013, p. 38), “lidam com as causas situacionais imediatas dos eventos criminais, incluindo tentações e oportunidades
e proteção insuficiente dos alvos”.
Para esta fase é importante o conhecimento do triângulo de análise de problema (também conhecido como o triângulo do crime),
originado da teoria da atividade rotineira. Essa teoria, formulada por Lawrence Cohen e Marcus Felson, diz que o crime ocorre quando um
potencial infrator encontra-se com um potencial alvo (para aquele tipo de infrator) no mesmo tempo e lugar, sem a presença de um guardião
eficaz. Essa formulação forma o tripé da análise de problema representada por infrator, alvo e local (CLARKE; ECK, 2013).

TEORIA DO CRIME 16
Triangulo do crime –Dinâmica no cenário shopping center
Por André Vicente dos Anjos
O primeiro centro de compras do país foi inaugurado em 1966 e, num primeiro momento, causou desconfiança em
empresários e investidores pelo formato fechado, conflitando com o badalado e luxuoso comércio de rua que predominava na
época. Com o tempo a disputa pelos melhores espaços provou que os visionários empreendedores estavam certos em sua
aposta, pois logo o empreendimento se transformou num importante ponto de encontro da cidade de São Paulo. Mais de
cinquenta anos se passaram e este modelo de centro de compras sofreu grandes mudanças conceituais ao longo de todos estes
anos, se transformando nos grandes locais de entretenimento que vemos hoje.
Os shopping centers são estruturas pensadas e construídas para receber grandes quantidades de pessoas que buscam, em
sua grande maioria, um ambiente confortável, climatizado, limpo, seguro, com ótimo atendimento desde sua entrada e que ali
possam resolver tudo com total segurança. Segundo dados da ABRASCE –Associação Brasileira de Shopping Centers –
temos hoje no Brasil 571 empreendimentos e outros tantos em construção que recebem mensalmente mais de 400 milhões de
clientes passando pelos corredores destes espaços confiantes que estão sendo muito bem cuidados. Essa é a percepção dos
clientes.
Por ser considerado um local seguro muitos empresários do segmento joias e relojoarias que possuíam lojas de rua
optaram em locar espaços dentro destes grandes empreendimentos onde podiam atender um público muito exigente de forma
diferenciada, discreta e segura. Este era o cenário …
Ocorre que, os shoppings passaram a ser alvo de constantes ataques de quadrilhas bem organizadas e articuladas cujo foco principal são
produtos de fácil negociação como relógios, joias e aparelhos telefônicos, situação que mudou completamente o cenário anterior. As ações
criminosas, cada vez mais ousadas, têm se mostrado recorrentes em alguns empreendimentos, deixando algumas dúvidas, a saber:
1) Por que as ações criminosas se voltaram para os shoppings?
2) Quais os critérios adotados pelos criminosos para escolher um alvo específico?
3) Por que não se consegue dar uma resposta assertiva de modo a inibir atos criminosos?
4) Por que determinado empreendimento sofre com mais ataques que outro, situado no mesmo bairro?
Essas perguntas só podem ser respondidas se deixarmos de lado o modelo mental ultrapassado que tipifica um criminoso
como alguém sem estudo, com baixo nível intelectual e cultural e que seja incapaz de articular com outros elementos em prol
de um objetivo delituoso que gere benefícios para todos os envolvidos.
Isso mesmo. Esse modelo dominante nos fez imaginar que o shopping fosse algo intransponível enquanto deixamos de
considerar ainda outro importante fato. A sazonalidade das ações criminosas. Exatamente isso. Basta analisar os dados
estatísticos dos últimos anos e podemos observar claramente que existe uma mudança no foco das ações nos diferentes
períodos da história recente.
Sem a necessidade de ser específico com datas, pois a temática abordada no estudo é o cenário shopping center,
observamos que, ao longo dos últimos vinte e cinco anos, as ações criminosas de grande vulto contemplaram as seguintes
modalidades:
✔ Assalto a agências bancárias;

16 André Anjos C.P.S.I / C.I.G.R / M.B.R / C.I.S.I. Gestor de Segurança no segmento varejo , Graduado e Pós-Graduado em Segurança Privada e Ordem
Públicas, Especialista em riscos corporativos com ênfase em grandes empreendimentos, Especialista em Administração de Segurança, Certificado Profesional em
Seguridad Internacional-C.P.S.I, Certificado Internacional en Gestion de Riesgos-C.I.G.R e Master Business In Risk-MBR
Certificado Internacional em Segurança Integral e Prevenção de perdas-C.I.S.I. AGRADECIMENTOS: Nelson Junior: Gerente de segurança – São
Paulo, Marcelo Cabral: Gestor de Segurança – Rio de Janeiro, Tiago Miranda: Gestor de Segurança – Rio de Janeiro, Djalma Santos: Coordenador de Segurança
– Rio de Janeiro e Ubiratan Gomes: Coordenador de Segurança – Rio Grande

Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 28


✔ Sequestro e sequestro relâmpago;
✔ Assaltos a casas lotéricas;
✔ Explosões de caixas eletrônicos;
✔ Assaltos a shoppings e
✔ Roubo de cargas.
Não consideramos nesta lista o tráfico de drogas pelo simples fato que este apresenta uma característica atemporal, ou
seja, sempre existiu neste período independente das outras ocorrências e dos impactos causados por tipo criminal.
Comprovadamente os tipos criminais mudaram ao longo dos anos assim como os objetivos e isto exigiu por parte dos
infratores certa perspicácia e um nível de inteligência capaz de identificar as VULNERABILIDADES em cada alvo potencial.
As percepções deste breve estudo foram compartilhadas com cinco gestores de grandes administradoras do varejo
Brasileiro e, excetuando-se pequenas divergências sobre os fatores externos e de localização do empreendimento, as
conclusões uníssonas serviram de base para as respostas das perguntas feitas na introdução do estudo.
1) Por que as ações criminosas se voltaram para os shoppings?
Os produtos de fácil repasse como celulares, joias, relógios e dinheiro (Casa de câmbio e lotéricas) dentro de um ambiente
vulnerável que não possibilita reação em razão dos impactos que esta pode causar. Algumas administradoras optam em ter
agentes desarmados.
2) Quais os critérios adotados pelos criminosos para escolher um alvo específico?
Os criminosos planejam muito bem suas ações e, durante as várias visitas a diferentes empreendimentos, escolhem aquele
que apresentar maior vulnerabilidade, facilidade de acesso e saída. Este será fatalmente um alvo potencial. Rotas de fuga
difíceis e proximidade de órgão públicos podem ser inibidores de ações em locais bem específicos.
3) Por que não se consegue dar uma resposta assertiva de modo a inibir atos criminosos?
Para que uma resposta seja assertiva uma combinação de protocolos operacionais e técnicos devem ser implantados, para
isso é necessário que o empreendimento disponha de um aparato tecnológico (meios técnicos ativos) que permita a rápida
identificação de suspeitos, ou seja, um sistema de monitoramento capaz de apoiar a confirmação de um rosto ou
comportamento que denote ação iminente. As equipes de segurança devem passar por treinamentos que ainda não são
considerados em sua forma ampla nos cursos técnicos. Avaliar comportamentos, por exemplo, deve ser uma das matérias
obrigatórias para quem atua na área, afinal um shopping é aberto ao público durante todo o dia e como identificar que uma
ação está em curso? Alguns empreendimentos recebem milhares de pessoas e como saber quais vão cometer um ato ilícito?
4) Por que determinado empreendimento sofre com mais ataques que outro, situado no mesmo bairro?
Simples. Se os criminosos estudam,
sistematicamente os ambientes, é lógico que
optarão pelo que se encontrar mais vulnerável.
Temos casos em que existem dois shoppings
muito próximos, mas apenas um vira alvo
recorrente de ações, justamente pelo fato de ser
encontrado em maior estado de vulnerabilidade
que o outro.
Aprofundado a questão das vulnerabilidades,
adaptamos o triângulo do crime para o cenário
shopping center de modo a criar uma interface entre
os critérios observados para consumação de um fato
criminal e as variáveis do ambiente interno de um
empreendimento. Basta um olhar mais técnico e
criterioso sobre as nuances do cenário e a relação
sistêmica da teoria do crime, de certo teremos
corroboradas todas as assertivas dos colegas
gestores na figura ilustrativa. Vejamos.
Figura 4 – Triângulo do Crime.
A teoria do TRIANGULO DO CRIME pressupõe a prevalência de três variáveis para que um ato criminoso ocorra:
a) O indivíduo motivado
A obtenção de algo que despertou desejo.
Dentro de um shopping temos ótimos atrativos de fácil negociação e ainda dinheiro em espécie, nas casas lotéricas, casas de câmbio e
agências bancárias. Tudo num único lugar.
b) O emprego de técnica
O elemento precisa dominar conhecimento suficiente para ter êxito no seu intento.
O que se confirma após a investigação interna pós crime é que os autores empreenderam várias “visitas técnicas” a fim de estudar o
local, planejar a ação para poder executar o objetivo, ou seja, todas as vulnerabilidades foram consideradas antes da decisão final dos
criminosos.
c) A oportunidade
O momento (cenário) mais favorável para a consumação do ato.
Após estudar todas as possibilidades dentro de um empreendimento os elementos ainda necessitam de um cenário bem específico. Trata-
se de uma combinação de fatores de risco que podem ocorrer em diferentes momentos ou em um único momento, proporcionando uma
“janela” facilitadora da concretização da prática criminosa.
A consumação de um fato criminoso, em mais 70% dos casos, se concretiza por falha ocorrida dentro do sistema preventivo de segurança,
ou seja, o criminoso explorou alguma das vulnerabilidades observadas no empreendimento e o escolheu como alvo para realizar seu objetivo.

Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 29


Figura 5 – Diagrama 6M, Causa e Efeito ou Ishikawa.

Figura 6 – Diagrama 6M, Causa e Efeito ou Ishikawa.


Segundo BRASILIANO (2010, p. 42) a identificação dos perigos e de seus fatores significa a compreensão das origens
de cada perigo. Deve-se buscar responder por que o perigo existe na empresa. Quais são as condições que potencializam a
concretização do evento estudado.
A compreensão da origem do perigo é imperiosa para a eficácia no tratamento, na priorização que a empresa vai poder
dedicar para mitigar aquela situação. Somente após o entendimento do porquê da existência de cada perigo, é que se poderá
sugerir medidas eficazes para reduzir riscos.
O DIAGRAMA DE ISHIKAWA (causa e efeito) é a ferramenta que permite a organização identificar, dentro do contexto
da GESTÃO DE RISCOS, quais são os facilitadores na materialização dos riscos e preparar suas defesas, através de um plano
de ação.
Dentro do cenário shopping center, no que tange as variáveis contempladas no DIAGRAMA, cabem algumas
considerações:
1) Um empreendimento que foi projetado para receber milhares de pessoas por dia deve possuir um sistema de
gerenciamento de riscos bem consolidado e atualizado conforme cenários;
2) No planejamento de segurança a aplicação dos investimentos deve observar o equilíbrio entre recursos humanos e toda
a gama de treinamentos e tecnológicos (segurança física e segurança eletrônica). Ambos são complementares e, neste cenário,
um não vive sem o outro;
3) A questão do recrutamento das equipes deve ser vista com muita seriedade, pois esses profissionais devem possuir
competências bem específicas que permitam boa capacidade analítica e rápida tomada de decisão em um ambiente aberto ao
público e acessado por milhares de pessoas diariamente;
4) O investimento em treinamento deve ser massivo e constante com foco na antecipação de fatos típicos, através de
análise comportamental e nas respostas, treinando, mediante a aplicação de exercícios simulados, os protocolos pós ocorrência.
Atualmente o segmento conta com legislação própria, normas, instruções e vasto conteúdo acadêmico específico para
prover o gestor de riscos de informações suficientes para que não deixe seu empreendimento desguarnecido de um bom
programa de gerenciamento de riscos. Não obstante, Bem antes do cenário atual, Henry Fayol, já defendia em seu legado
literário, o importante “papel da segurança em proteger vidas e patrimônio de problemas”.

Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 30


Ainda nesta linha o engenheiro apregoava (1990, p. 65) que prever é planejar, investigar profundamente o futuro e traçar
um plano de ação a médio e longo prazo a fim de preparar a empresa ante as adversidades, ou seja, mesmo se tratando do
aludido modelo de administração é possível identificar compatibilidades, principalmente quando pensamos em cenários
prospectivos na segurança corporativa.
Para segurança empresarial, “O objetivo de elaborar cenários, específicos para a área de riscos corporativos, é o de poder
antecipar as variáveis que, por ventura, possam interferir nas metas da empresa”. (BRASILIANO, 2003 p. 47).
Para BRASILIANO (2003, p. 51) a dinâmica das vaiáveis observadas dentro da gestão de riscos delimita a modelagem
de cenários para apenas um ano.
Nesse mesmo diapasão, um dos grandes expoentes da segurança corporativa, o especialista e professor Claudio Moretti
em: <http://www.administradores.com.br/artigos/cotidiano/cenarios-em-seguranca-visao prospectiva/106652/>. Acesso em: 22
mar 2018. expõe justa e douta crítica ao empirismo dos empresários e profissionais da área que ainda acreditam em uma
implantação e gestão de segurança sem aplicação de metodologia e respaldo cientifico, empregando seus recursos da mesma
forma que vinte anos atrás.
É fato que tudo está em constante mudança, assim como os cenários e, se existe mudança, é salutar que hajam novos
estudos, diagnósticos e análises por parte dos profissionais que cuidam destes grandes centros de entretenimento e laser, caso
contrário, continuaremos a ver alguns shoppings sofrendo com ataques recorrentes e outros, cujos profissionais entenderam a
necessidade de mudança, mantendo seus empreendimentos resguardados das ações criminosas.
Por isso, nosso QAP total, full time e real time nos estudos da ciência segurança.
RESPOSTAS ÀS CAUSAS DO PROBLEMA
Após a identificação clara e análise detalhada do problema, a polícia enfrenta o desafio de procurar o meio mais efetivo de
lidar com ele, desenvolver ações adequadas com baixo custo e o máximo de benefício. Para isso, a polícia deve evitar a
tentação de respostas prematuras não fundamentadas nas fases anteriores do método Iara (BRASIL, 2009).
Deve haver um equilíbrio nas respostas com a utilização de táticas tradicionais e não tradicionais. Normalmente as
primeiras estão relacionadas às atividades básicas de policiamento e sozinhas dificilmente proporcionam soluções duradouras
para os problemas (por exemplo, prisões, intimações e policiamento fixo no local), ao passo que as táticas não tradicionais
ligam-se às ações comunitárias (como organização da comunidade, educação da população, alteração do contexto físico,
mudanças no contexto social e da sequência de eventos, alteração do comportamento das vítimas) (BRASIL, 2009;
HIPÓLITO; TASCA, 2012).
Frisa-se que essas respostas não são limitadas aos esforços para identificar, prender e oficialmente acusar e julgar
infratores. Expande- se, sem abandonar o uso do direito penal. O policiamento orientado à solução de problemas procura
descobrir outras respostas potencialmente efetivas (que podem exigir parcerias), dando grande prioridade à prevenção
(CLARKE; ECK, 2013).
AVALIAÇÃO DO PROCESSO
Nesta etapa, os policiais avaliam a efetividade das respostas aplicadas na fase anterior. A avaliação é chave para o método
Iara, pois se as respostas implementadas não são efetivas, as informações reunidas durante a etapa de análise devem ser
revisitadas e novas hipóteses de respostas devem ser formuladas (BRASIL, 2009).
Esta fase serve também para exportar programas que funcionaram em determinados locais para serem aplicados em outras
localidades cujos resultados de identificação e análise do problema sejam semelhantes. Nesse sentido, em 1977, o Tesouro
britânico iniciou uma política de controle e eficiência nos gastos em segurança pública condicionando o repasse
de verbas à demonstração de capacidade de reduzir o crime. Por isso, investiu-se em uma grande revisão dos estudos
disponíveis nos EUA, no Reino Unido e na Holanda. Assim, foi possível identificar programas que, de fato, funcionavam.
Demonstrou-se que os projetos mais eficazes na redução do crime, sem aumentar o efetivo policial, utilizavam-se da
abordagem de Posp e firmavam fortes parcerias com as comunidades (ROLIM, 2009).

As comunidades e as polícias devem compartilha as experiências bem-sucedidas de prevenção ao crime; aquelas que geram
efetiva segurança a curto e a longo prazo. Devem compartilhar as ideias específicas de como resolver problemas de vizinhança.
Ao destacar os programas que foram desenvolvidos, espera-se que esta informação sirva como um catalisador para desenvolver
maneiras eficazes de impedir o crime e aumentar a participação das comunidades nestes esforços (DALMARCO, 2004, p. 22).

Segundo Skonieczny (2009), outro fator importante nesta fase é conhecer o impacto das medidas policiais sobre a
população.
4.4. IDENTIFICAÇÃO DE ALTERNATIVAS.
Identificar e Selecionar um Problema (Identificação)
Um problema pode ser definido como:
Um conjunto de incidentes semelhantes, relacionados entre si e recorrentes, em vez de um único incidente; uma preocupação
comunitária concreta; (ou) uma componente do trabalho policial; 17
Um tipo de comportamento (a vadiagem, o furto de viaturas); um local (um determinado centro comercial); Uma pessoa, ou
pessoas (um perpetrador recorrente de violência doméstica, ou as vítimas recorrentes de assaltos); ou um evento, ou época especial
(um desfile anual, ou os roubos de salários). Um problema, também, poderá ser uma combinação de quaisquer dos problemas
acima referidos;18 e
Informalmente, um problema pode ser entendido como dois ou mais incidentes, de alguma forma semelhantes, e que constitui
motivo de preocupação para a polícia e é um problema para a comunidade.
MÉTODOS DE IDENTIFICAÇÃO DOS PROBLEMAS
17Disorderly Youth in Public Places. Michael S. Scott. 2001. ISBN: 1-932582-05-3
18Loud Car Stereos. Michael S. Scott. 2001. ISBN: 1-932582-06-1
Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 31
Os problemas poderão obrigar-nos a prestar-lhes atenção de diversas maneiras, incluindo quando:
➢ Rotineiramente, analisamos as chamadas de serviço, os dados dos incidentes criminais e os registos de outras agências
policiais, para encontrar padrões e tendências que envolvam locais, vítimas, e ofensores repetidos. (as agências policiais poderão ter que
analisar as chamadas de serviço, recuando no tempo de seis meses a um ano, para conseguir formar uma imagem precisa das chamadas
repetidas relativas a alguns tipos de problemas);
➢ Mapeamos crimes específicos de acordo com a altura do dia, a proximidade a determinados locais, e outros fatores
semelhantes;
➢ Nos aconselhamos com agentes, supervisores, detetives, gestores intermédios e comandantes;
➢ Analisamos os relatórios policiais;
➢ Inquirimos os residentes da comunidade, os comerciantes, os autarcas ou os estudantes;
➢ Analisamos as reclamações e as cartas dos cidadãos;
➢ Participamos em reuniões comunitárias;
➢ Analisamos Informações provenientes das associações de moradores e das organizações sem fins lucrativos (locais e
nacionais);
➢ Consultamos os serviços de segurança social e outros organismos governamentais; e
➢ Seguimos a cobertura noticiosa dos órgãos de comunicação social.
SELECIONAR UM PROBLEMA
É importante que, ambos, os membros da comunidade e a polícia dêem contributos para que os problemas sejam
priorizados assim que sejam identificados. Por vezes, os problemas que preocupam os membros da comunidade são algo
diferentes daquilo que são as expetativas policiais. Consultar os membros da comunidade, acerca do que são as suas
prioridades, não só garante que as preocupações comunitárias serão tratadas como, também, desenvolve os esforços de
resolução dos problemas em cada fase do processo. Os contributos dos cidadãos podem ser solicitados de diversas formas,
incluindo através de sondagens, de reuniões comunitárias e de grupos-alvo (por exemplo, um grupo de estudantes, ou um
conjunto de moradores de um bairro). Os contributos policiais para a seleção do problema são, também, algo de importante,
porque a polícia tem a perícia e a informação acerca dos problemas que, por norma, os cidadãos não têm.
Ao selecionarmos um problema no qual nos deveremos focar, de entre os muitos problemas que a nossa comunidade
enfrenta, poderemos querer ter em atenção os seguintes fatores: 19
O impacto do problema na comunidade – a sua dimensão e custos;
A presença de condições que ameacem a vida;
O interesse da comunidade e o grau de apoio que provavelmente exista, tanto para o estudo como para as subsequentes
recomendações;
As potenciais ameaças aos direitos constitucionais – como as que podem ocorrer quando os cidadãos tomam posições no sentido de
limitar o uso dos meios públicos, quando limitam o acesso às propriedades, ou quando restringem a liberdade de expressão, de circulação,
ou de reunião;
O grau dos efeitos pelos quais o problema afeta negativamente o relacionamento entre a polícia e a comunidade;
O interesse dos agentes policiais de base, e o seu grau de apoio, ao tratamento do problema;
A especificidade do problema, dada a frustração associada ao se tentar entender reclamações que são indefinidas e difusas; e
O potencial para que surja algum progresso no tratamento do problema a que a exploração do problema, provavelmente, conduzirá.
REDEFINIR O PROBLEMA
Logo que o problema tenha sido selecionado poderá ser necessário redefini-lo à medida que vão surgindo mais
informações acerca do mesmo. Isto é expetável. À medida que trabalhamos no decurso do processo de resolução do problema
poderemos vir a descobrir que o problema com o qual começamos é demasiado abrangente. Por outro lado, poderemos vir a
concluir que ele é, na realidade, sintoma de outro diferente problema e o qual merecerá a nossa atenção. Será mesmo possível
que aquilo que à primeira vista parecia um problema não seja, na realidade e de maneira nenhuma, um problema assim que se
olha com mais atenção. É normal que o problema venha a ter que ser redefinido à medida que se avança através do processo de
resolução do problema, e isto é uma das razões do porquê de se começar a implementar as respostas, somente, após se ter
analisado o problema na sua totalidade.
IDENTIFICAR OS INTERESSADOS NO PROBLEMA SELECIONADO
As partes interessadas são organizações privadas e públicas, tipos ou grupos de pessoas (cidadãos idosos, proprietários de
residências, comerciantes, etc.) que beneficiarão se o problema for tratado, ou que poderão vir a sofrer consequências negativas
(devido a ferimentos, por lacunas dos serviços, por perda de rendimentos, devido a uma ação policial mais rigorosa, etc.) se o
problema não for tratado.
Poderemos incluir como partes interessadas:
➢ O serviço de segurança social local e os organismos governamentais com jurisdição no problema, ou com interesse nalguns
aspetos do problema;
➢ As vítimas do problema, e/ou as associações de defesa das vítimas;
➢ Os vizinhos, colegas de trabalho, amigos e parentes das vítimas, ou moradores das vizinhanças afetadas pelo problema;
➢ Os organismos ou as pessoas que exercem algum tipo de controlo sobre os ofensores (pais, parentes, amigos, funcionários
das escolas, funcionários de reinserção social, gestores de edifícios, etc.);
➢ Os estabelecimentos comerciais negativamente afetados pelos problemas decorrentes do crime e da desordem; e
➢ As organizações nacionais ou as associações comerciais com algum interesse no problema [por exemplo, a “Students
Against Drunk Driving” para o problema da condução sob efeito do álcool pelos menores (nos EUA a idade mínima para conduzir viaturas
automóveis é os 16 anos)].
Deveremos identificar o máximo possível de partes interessadas, relativamente ao problema selecionado. Cada parte
interessada poderá contribuir com diferentes conhecimentos e poderá cooperar, à sua maneira, no sentido de impulsionar os
esforços de resolução do problema. Quantos mais interessados forem identificados, tantos mais recursos estarão disponíveis
para tratar do problema.
19 Using Crime Prevention Through Environmental Design in Problem-Solving. Diane Zahm. 2007. ISBN: 1-932582-81-9

Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 32


Contudo, algumas comunidades acabaram por descobrir que os esforços de resolução de problemas progridem com mais
eficácia se, somente, duas ou três partes interessadas – um grupo central – trabalharem no problema ao longo do projeto. Com
frequência, existem outras partes interessadas, mais periféricas, que podem contribuir com algo durante algumas fases
específicas, mas não ao longo de todo o processo.
Segue-se uma breve descrição de um problema exemplificativo e de uma lista de possíveis partes interessadas e de
parceiros.
PROBLEMA EXEMPLIFICATIVO (ROUBO, MEDO)
Uma cidade de médio tamanho do este dos EUA, com cerca de 34.000 habitantes e com taxas de criminalidade
relativamente baixas, sofreu uma série de roubos cometidos contra pessoas que faziam entregas de comida ao domicílio. Em
média, estava-se a registar um roubo, a uma daquelas pessoas, em cada mês. Muitas lojas de pizzas e de outros tipos de comida
rápida começaram a recusar a entrega dos seus produtos em bairros com moradores de baixos rendimentos e
predominantemente de raça negra, onde, segundo parecia, muitos dos roubos estariam a ocorrer. Os responsáveis dos
restaurantes disseram que haviam decidido não proceder à entrega de comida, naquela área, devido ao aumento do número de
funcionários que haviam sido agredidos quando se encontravam a trabalhar e porque, estes, temiam fazer as suas entregas em
áreas com grande criminalidade. Um morador do bairro onde as entregas não se estavam a processar reclamou acerca da não
prestação do serviço de entregas e deu início a uma petição pública para que aquela norma fosse alterada. A assembleia
municipal teve em consideração a proposta, que solicitava que as entregas fossem feitas a todos os moradores,
independentemente da sua localização, e o assunto teve cobertura noticiosa nos jornais locais e regionais.
Partes Interessadas
(Para além da polícia)
Os potenciais clientes das entregas ao domicílio, moradores no bairro onde as mesmas estavam suspensas, assinantes da
petição.
Os trabalhadores das entregas de comida rápida (fast food, quentinhas).
Os gestores dos restaurantes de fast food (franchisados locais).
As redes nacionais de entregas de fast food ao domicílio.
A Associação Nacional de Restaurantes.
A secção local da National Association for the Advancement of Colored People - NAACP.
Os legisladores locais.
Os órgãos locais de comunicação social.
4.4. AVALIAÇÃO DE ALTERNATIVAS;
AS ERAS DO POLICIAMENTO MODERNO
O objetivo desta aula é destacar como são divididos os períodos distintos do policiamento e como o policiamento
orientado para o problema é fruto da evolução das estratégias de policiamento moderno, através de seus elementos de inovação
nos Estados Unidos. Devido à influência dessa cultura nos países ocidentais, é necessário verificar como essas. O objetivo
desta aula é destacar como são divididos os períodos distintos do policiamento e como o policiamento orientado para o
problema é fruto da evolução das estratégias de policiamento moderno, através de seus elementos de inovação nos Estados
Unidos. Devido à influência dessa cultura nos países ocidentais, é necessário verificar como essas transformações refletem e
embasam, até os dias atuais, as estratégias implementadas nas polícias latino-americanas.
De acordo com Moore, Trojanowicz (1993) e Dias Neto (2003), historicamente, o policiamento nos EUA é dividido em
três períodos fundamentais:

Figura 7: Eras do policiamento moderno americano20

Era Política (1º período: 1830 – 1930)


Caracterizado, principalmente, por um policiamento que desempenhava diversas funções sociais, muita corrupção policial e sem
profissionalização.
Era da Reforma (2º período: 1930 – 1980))
Momento que surgem as Academias de Polícias, com o objetivo de formar os profissionais de polícia, tendo como foco combater o
infrator e como tática prioritária o rádio patrulhamento.
Era solução de problemas com a comunidade (3º período: 1980 – 2000).
Orienta-se na construção de um relacionamento de cooperação entre a polícia e a sociedade, tendo como base a participação das
lideranças comunitárias e foco na solução dos problemas locais.

20 Fonte adaptada de KELLING, George L. e MOORE, Mark Harrinson. A evolução da estratégia de policiamento, perspectivas em policiamento. Cadernos de
Polícia, n. 10. Rio de Janeiro: Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, 1993.
DIAS NETO, Theodomiro. Policiamento comunitário e controle sobre a polícia: A experiência norte- americana. 2ª edição. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2003.

Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 33


A Era Política é caracterizada por um sistema de aplicação da lei, envolvendo um órgão permanente, com funcionários
dedicados em tempo integral ao patrulhamento contínuo visando à prevenção do crime. (MOORE; KELLING, 1993)Neste
contexto a polícia desenvolve um serviço social amplo, pois não está bem definida sua função social.
A polícia conduzia inspeções sanitárias, zelava por crianças perdidas, checava óleo nas iluminações de rua, monitorava
pesos e as medidas adotadas pelos comerciantes, concedia licença para pedintes de rua, controlava odores advindos dos
curtumes, realizava recenseamento, apreendia animais perdidos, obrigava as pessoas a criar seus porcos nos quintais e
preservava o sabbath. (SKOGAN apud DIAS NETO, 2003, p. 7)21.
A polícia era uma importante instituição responsável pelo bem-estar social daquela sociedade,o grande objetivo era
atender aos cidadãos e aos políticos locais. Certamente suas ações eram muito influenciadas pelas instituições político-
partidárias locais, o que gerava uma enorme flexibilidade na atuação do policial. Para Dias Neto (2003), esta postura gerava
uma enorme discricionariedade policial e, muitas vezes, hostilidade entre o policial e a própria comunidade, que para ser
resolvida era utilizada a força. Toda esta característica gerava, entre a polícia e a comunidade local, um vínculo muito forte.
Destaca-se que a principal tática de policiamento era o deslocamento a pé ou a cavalo, o que possibilitava um maior contato
entre as pessoas.
Segundo Goldstein (2003),as maiores críticas à Era Política era a violência e corrupção policiais, dentre outros
desmandos, que foram evidenciados pela National Comminssion onLaw Observance and Enforcement ocorrida em 1931, nos
Estados Unidos. Outro grave problema era a forma de ingresso na carreira policial, resumida a uma oportunidade de emprego
para protegidos políticos.
Os únicos requisitos necessários para a indicação de um policial eram influência política e força física [...] Não havia
necessidade de treinamento preliminar, os policiais eram considerados suficientemente preparados para o exercício de suas funções se
portassem um revólver, cassetete, algemas e vestissem um uniforme [...] Tratava-se de uma era de incivilidade, ignorância, brutalidade e
corrupção. (SKOGAN apud DIAS NETO, 2003, p. 7).
Baseando-se nessas contradições, várias críticas surgiram, principalmente dentro da própria polícia, para aprimorar esse
serviço. “Os defensores das reformas lutavam pela incorporação dos métodos gerenciais e operacionais da iniciativa privada ”.
(Dias Neto (2003, p. 9). O objetivo era criar um departamento policial “perfeito” – afora comumente chamado de modelo
profissional. Portanto, havia um consenso que era preciso blindar a polícia de interferências da política externa, centralizar as
estruturas internas de comando e controle, delimitar a função do policial para prender os infratores da lei e formar o
profissional de polícia.
As características dessa Era Policial estão num serviço profissional distante da comunidade, focado no combate
repressivo do crime e que utiliza principalmente o automóvel e o telefone para implementar o rádio patrulhamento. É
inegável que surge uma máquina burocrática eficiente e de um corpo profissional treinado, com as melhores tecnologias para o
momento, mas os policiais não conseguem identificar os problemas cotidianos dos cidadãos. Com essa lógica, o policial fica
distante e inacessível às demandas políticas próprias do jogo democrático. (DIAS NETO, 2003).
Com o modelo profissional surge uma obsessão pela eficiência operacional e administrativa, dificultando o contato
social sobre as decisões policiais. Uma das maiores críticas contra o modelo profissional refere-se à ausência de controle sobre
a conduta policial. Um movimento que aos poucos permitiu aos próprios cidadãos americanos de representar a sociedade civil
na apuração e no julgamento das denúncias contra abusos policiais. Esse foi um importante passo para ter algum controle
externo sobre a polícia, mas acirrou, ainda mais, os ânimos entre os ofendidos e os policiais.
As atuais reformas na área policial estão fundadas na premissa de que deve haver uma relação sólida e consistente entre a
polícia e a sociedade para que tenha efeito a política de prevenção criminal e na produção de segurança pública (DIAS NETO,
2003).
Diante das iniciativas frustradas de relações públicas ou de reforma na estrutura administrativa policial surgem
alternativas que fortalecem as ideias de partilhar entre a polícia e a comunidade a tarefa de planejar e implementar as políticas
de segurança pública.
As eras do policiamento moderno americano são apresentadas para uma análise temporal (quadro 1). Nesta síntese
é possível perceber quais são as principais características de cada período e como ocorreu essa transformação que influenciou
as principais estratégias de policiamento, que surgiram na Era da Reforma e na Era de Solução de Problemas com a
Comunidade.
Atenção! Deve-se ter o cuidado para não simplificar a análise de uma era policial somente em algumas características, sob
o risco de distorcer todo um contexto histórico-social. Uma característica (total ou parcial), de um período pode repetir em
outro, por exemplo: o relacionamento íntimo entre a polícia e a comunidade, presente na era política e era da comunidade.
Também é importante destacar que essas são características comuns entre a maioria dos órgãos policiais naquele período,
portanto, as datas são parâmetros.

21Sabbath,ou sabá, é uma palavra de origem hebraica shabbath,que significa o descanso religioso que, conforme a legislação mosaica, devem os judeus observar no
sábado, consagrado a Deus. (FERREIRA, 2008)

Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 34


Quadro 1 – Características das eras do policiamento moderno22
Era soluções de Problema
Características gerais Era Política 1830 - 1930 Era da Reforma 1930 - 1980 com a Comunidade
1980 – 2000
Autorização e Lei, profissionalismo e
Políticos locais e lei Lei e profissionalismo
legitimidade comunidade
Serviço policial amplo e
Função Serviço social amplo Controle do crime
personalizado
Relacionamento com
Íntimo Distante e remoto Íntimo
a comunidade
Patrulhamento a pé,
Patrulhamento motorizado e
envolvimento da comunidade
Táticas e tecnologia Patrulhamento a pé acionamento por
para solução
telefone
de problemas
Satisfação dos Respostas rápidas para Qualidade de vida e satisfação
Resultados esperados
cidadãos e dos políticos locais controlar os crimes da comunidade
As eras do policiamento moderno americano são apresentadas para uma análise temporal (quadro 1).
Estratégias de policiamento.
(esse item será visto em Polícia Comunitária)
4.6. DISCUSSÃO, PLANEJAMENTO E ENCAMINHAMENTO PARTICIPATIVO DE
SOLUÇÕES;
O que é planejamento
Por que planejar?
Para iniciar esta unidade, será proposto a você um desafio. Leia o texto: “O irônico sorrisodo gato”, de Mário Sergio
Cortellae responda as perguntas:
O IRÔNICO SORRISO DO GATO
Mário SergioCortella23
A ESCOLHA DOS CAMINHOS DEPENDE DO LUGAR ALMEJADO
Há alguns meses, participando de um congresso sobre o professor e a leitura de jornal, pude debater a respeito da
"overdose" ferramental que invade cada vez mais o cotidiano social e, sem dúvida, também o mundo da escola.
Relembrávamos nesse debate uma das mais contundentes reflexões sobre a vida humana e que não pode ser esquecida,
tamanha é a importância que carrega também para o debate pedagógico: Alice no País das Maravilhas, escrita no século XIX pelo
matemático inglês, Charles Dodgson (que deu a si mesmo o apelido Lewis Carroll).
Nessa obra, Alice cai. Ela está atrás de um coelho e cai em um mundo desconhecido (na verdade, a menina cai dentro de si
mesma). Entre as inúmeras personagens fantásticas da obra, duas delas estão muito próximas de nós: uma é um coelho que está
sempre atrasado, correndo para lá e para cá com o relógio na mão; a outra é um gato do qual somente aparece o sorriso, somente
ficam visíveis os dentes e, às vezes, o rabo. Há uma cena que a gente não deve ocultar – principalmente quando se fala em
ferramentas para o trabalho pedagógico e, muitas vezes, da percepção equivocada da tecnologia como redentora da educação: o
encontro de Alice com o gato. Contando resumidamente, na cena, Alice está perdida, andando naquele lugar e, de repente, vê no
alto da árvore o gato. Só o rabão do gato e aquele sorriso. Ela olha para ele lá em cima e diz assim: "Você pode me ajudar? "Ele
falou: "Sim, pois não. " "Para onde vai essa estrada?", pergunta ela. Ele respondeu com outra pergunta (que sempre devemos nos
fazer):“Para onde você quer ir?”. Ela disse: “Eu não sei, estou perdida.” Ele, então, diz assim:" Para quem não sabe para onde vai,
qualquer caminho serve."
Para quem não sabe para onde vai, serve de qualquer maneira o jornal, a revista, o livro, a internet, o videocassete, o
cinema, etc. E aí, qualquer um de nós, na ansiedade de modernizar o modelo pedagógico, eletrifica sofregamente a sala de aula ou,
mais desesperadamente, sonha em fazer isso, imaginando o quanto o trabalho seria espetacular com esses instrumentos. Daí, se
possível, o professor enche a sala de aparatos tecnológicos, como se, para fazer algo que interesse às pessoas, precisasse eletrificar
continuamente o processo, metendo aparelhos eletrônicos ligados para todo o lado. Muitos dizem que, como os alunos estão
habituados com isso, precisamos modernizar o ensino. Será?
Depende da finalidade do “para onde se desejar ir”. Se você sabe para onde quer ir, vai usar a ferramenta necessária. O que
se deve modernizar não é primeiramente a ferramenta, mas sim o tratamento intencional dado aos conteúdos trabalhados na escola.
Por isso, é preciso trazer sempre na memória o ditado chinês que diz: “Quando você aponta a lua bela e brilhante, o tolo
olha atentamente a ponta do seu dedo.”
Na sua organização, as atividades de policiamento são planejadas envolvendo o nível de execução (atividade de linha)?
Existe rotina para gerenciar as atividades diárias do policial militar, que está focada no problema?
Resposta:

22 Fonte adaptada de KELLING, George L. e MOORE, Mark Harrinson. A evolução da estratégia de policiamento, perspectivas em policiamento.Cadernos de Polícia,
n. 10. Rio de Janeiro: Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, 1993. MOORE, Mark Harrinson e TROJANOWICZ, Robert C. Estratégias institucionais para o
policiamento.Cadernos de Polícia, n. 10. Rio de Janeiro: Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, 1993. DIAS NETO, Theodomiro.Policiamento comunitário e
controle sobre a polícia: A experiência norte- americana. 2ª edição. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2003.
23*Professor de pós-graduação em Educação (currículo) da PUC-SP.

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Uma das características do policiamento profissional (tradicional) é a centralização do planejamento, geralmente na seção
operacional. A estratégia de policiamento orientado para o problema propõe que o planejamento deve envolver todos os níveis
organizacionais, principalmente o nível de execução, para evitar que o policial fique perdido, sem saber para onde seguir quando
deparar com um problema.
Existem várias rotinas de gerenciamento, que facilitam a execução e o acompanhamento das metas propostas para o
policial. Uma organização que almeja executar o policiamento com qualidade tem que focar nesse objetivo organizacional, para dar
um “norte” para as pessoas.
Ao responder a essas perguntas, você refletiu sobre a importância do planejamento, envolvendo principalmente o nível
operacional (atividade linha). Assim como sobre a necessidade de desenvolver formas de gerenciar diariamente as tarefas, com o
estabelecimento de metas, para cada setor do Sistema de Defesa Social/Segurança Pública.
Agora, responda, o que é planejamento?
Observe atentamente a charge abaixo e responda:

Figura 8: Ilustração sobre planejamento

Na figura 8, qual o “assunto” ilustrado: produção, finanças, marketing ou saúde?


1) Quais são os “elementos” necessários para prestar esse serviço?
2) Qual é o “tempo” para sua realização?
3) Quais “unidades organizacionais” precisam ser envolvidas para prestar esse serviço: departamentos, grupos de
pessoas ou divisões de serviço?
4) Quais são as “características” que envolvem esse processo: simples ou complexo; ênfase na qualidade ou
quantidade; estratégico ou tático; confidencial ou público; formal ou informal; econômico ou oneroso?
Respostas:
1) A figura retrata o planejamento de uma cirurgia médica, ou melhor, a sua ausência.
2) O assunto abordado é saúde.
3) Os elementos necessários para planejar este serviço estão vinculados ao objetivo do hospital, às estratégias
utilizadas para prestar o serviço, às políticas internas, aos orçamentos, às normas de conduta médica, aos princípios éticos,
dentre outros.
4) O tempo ou período para executar esse serviço é curto.
5) Para que esse serviço seja executado é necessário o envolvimento de outros setores, dentro do hospital:
Departamento de Enfermaria, Departamento do CTI, Grupo de anestesistas, serviço “terceirizado” de entrega de materiais
(medicamentos, sangue, instrumentos cirúrgicos, etc.).
É possível inferir que esse planejamento tem a característica de ser complexo, focado na qualidade, operacional,
confidencial (envolve pessoas que devem ter sua identidade preservada), formal e econômico (ou, até mesmo caro, se imaginar
que é um procedimento muito difícil de ser realizado).
Ao responder às perguntas da página anterior, você estabeleceu as cinco dimensões do planejamento, que são:
AS 5 (CINCO) DIMENSÕES DE STEINER
Considerando as 5 dimensões de Steiner o planejamento pode ser considerado um processo, e deve abranger 5 pontos
principais:
Assunto abordado (tema): Pode ser produção, pesquisa, novos produtos, finanças, marketing, instalações, recursos
humanos, etc.
Elementos (Fases): Propósitos, objetivos, estratégias, políticas, programas, orçamentos, normas e procedimentos, entre
outros.
Tempo (Extensão): Longo, médio ou curto prazo.
Unidade Organizacional (Espaço): Onde o planejamento é elaborado. Pode ser planejamento corporativo, de unidades
estratégicas de negócios, de subsidiárias, de grupos funcionais, e divisões, de departamentos, de produtos, etc. E

Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 36


Características (Perfil): Podem ser representadas por complexidade ou simplicidade, qualidade ou quantidade;
planejamento estratégico ou tático, confidencial ou público, formal ou informal, econômico ou caro.

AS 5 DIMENSÕES DE STEINER. Disponível em:


<https://planejamentoestrategicoadmblog.wordpress.com/2016/04/26/as-5-dimensoes-de-steiner/#targetText=AS
%205%20DIMENS%C3%95ES%20DE%20STEINER&targetText=Considerando%20as%205%20dimens
%C3%B5es%20de,instala%C3%A7%C3%B5es%2C%20recursos%20humanos%2C%20etc. >. Acesso em 08 set
2019.

Unidade
Assunto abordado Elementos Tempo Características
Organizacionais

• Propósitos • Complexo ou Simples


• Objetivos • Departamento de Negócios
• Prioriza a qualidade ou
• Marketing • Estratégias • Departamento de quantidade
Investigação
• Finanças • Políticas internas • Curto • Estratégico,Tático ou
• Programas • Médio • Seção de Finanças
• Segurança Operacional
•Saúde • Orçamentos • Longo • Divisão de Combate ao • Confidencial ou
Crime Organizado
• Recursos Humanos • Normas Público
• Seção de Prevenção • Formal ou Informal
• Códigos de Conduta Criminal
• Manuais de Procedimentos • Econômico ou Oneroso
Quadro 2. As cinco dimensões do planejamento
Para facilitar a estruturação do planejamento é importante contemplar as cinco dimensões descritas.
Afinal, o que é planejamento?
Planejamento é um processo desenvolvido para alcançar uma situação futura desejada de um modo mais eficiente, eficaz e
efetivo, com a melhor concentração de esforços humanos e recursos pela empresa.
Toda empresa (pública ou privada) precisa desenvolver estratégias almejando os seguintes aspectos:

Eficiência É fazer as tarefas de maneira adequada para resolver os problemas, guardar os recursos,
cumprir seu dever e reduzir seus custos.

Eficácia É fazer as tarefas certas para produzir alternativas criativas, maximizar a utilização dos
recursos, obter resultado e aumentar o lucro.

Efetividade É a capacidade da empresa coordenar de forma constante, no tempo, esforços e energias,


tendo em vista o alcance dos resultados globais.

Quadro 3. Efetividade
Na verdade, esses aspectos interagem-se. Por isso, a fórmula administrativa para desenvolver o sucesso da estratégia é:

Figura 9: Fórmula da efetividade

Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 37


O objetivo do planejamento é desenvolver processos, técnicas e atitudes administrativas, as quais proporcionam uma
situação viável de avaliar as implicações futuras de decisões presentes. Isto é definido em função do objetivo empresarial,
que facilitará a decisão no futuro, de modo mais rápido, coerente, eficiente e eficaz.
O exercício sistemático do planejamento tende a reduzir a incerteza envolvida no processo de tomar a decisão e aumenta a
chance de alcançar os objetivos e desafios enfrentados.
O planejamento pode provocar uma série de modificações nas:

Figura 10: Planejamento


Baseado nesse diagrama, quais são as modificações que você acha que podem ocorrer numa empresa?
Resposta:
As modificações relacionadas às pessoas podem corresponder à necessidade de treinamento, substituições, transferências,
avaliações periódicas, premiação, dentre outras.
Na tecnologia, as modificações estão relacionadas com a evolução dos conhecimentos para desempenhar aquela tarefa,
uma nova maneira de desenvolver aquele serviço ou produzir o produto, no ajuste do ambiente.
No sistema, as modificações podem ocorrer na divisão das responsabilidades, na desconcentração da empresa, na
descentralização dos serviços, na criação de novas instruções, dentre outros. Pode ser dividido em três níveis, observe:

Figura 11: Os níveis de planejamento


Os níveis de planejamento
Planejamento Estratégico
É o processo administrativo que proporciona sustentação metodológica para estabelecer a melhor direção a ser tomada para uma
empresa. Busca otimizar o grau de interação entre os fatores externos – que não são controláveis – e internos para formular objetivos e cursos de
ação.
Planejamento Tático
É o processo administrativo que tem por objetivo otimizar uma determinada área da empresa, setor de finanças, setor operacional, setor
logístico, dentre outros. Portanto, trabalha com a decomposição dos objetivos do planejamento estratégico.
Planejamento Operacional
É o processo de formalizar, através de documentos, das metodologias e implantações estabelecidas. Basicamente, são os planos de ação
ou plano operacional.
O foco são as tarefas cotidianas.
Sistema de Gestão para atingir metas
Conforme foi visto na aula anterior, no planejamento estratégico são definidas as metas que se quer atingir, os principais
produtos ou serviços, tecnologias e processos de produção que serão utilizados numa empresa.
Observe a citação abaixo:
Não se gerencia o que não se mede.…
Não se mede o que não se define…
Não se define o que não se entende…
Não há sucesso no que não se gerencia…
William Edwards Deming
Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 38
Baseado na citação do professor americano Deming, para você, o que é meta? Dê um exemplo.
Resposta:
Meta é a quantificação do objetivo com atribuição de valores (custos), com estabelecimento de prazos (tempo) e definição
de responsabilidades.
Exemplo: Eu tenho o objetivo de emagrecer para ficar com o peso ideal entre 73-79 kg. Para atingir esse objetivo
“pessoal” vou estabelecer, com ajuda de minha nutricionista, uma meta de perder 3kg por mês. Para isso vou adotar o seguinte
método: modificar minha dieta alimentar e implementar caminhadas diárias de 20 minutos; e tenho disponível para custear
alimentação e academia a quantia mensal de R$250,00.
O que não pode ser quantificado não pode ser definido como meta. Observe que a palavra método é formada pela união
dos termos meta + hodos = caminho. É a maneira de como fazer;é um sistema de práticas, técnicas e regras usadas pelas
pessoas que trabalham em uma disciplina.
De forma simples, uma estratégia define as metas que se querem atingir, os principais produtos ou serviços,
tecnologias e processos de produção que serão utilizados. Por isso, elaborar metas é quantificar cada objetivo, atribuir
valores (custos), estabelecer prazos (tempo) e definir responsabilidades.
A estratégia orienta, ainda, a maneira como a instituição irá se relacionar com seus funcionários, seus parceiros e seus
clientes. Uma estratégia é definida quando um executivo descobre a melhor maneira de usar sua instituição para enfrentar os
desafios ou para explorar as oportunidades.
Gerenciar a rotina de tarefas é garantir meios para que o nível operacional atinja resultados esperados de produtividade e
de qualidade pelo nível institucional.
Geralmente, as empresas modernas utilizam o sistema de gestão para formular, desdobrar e atingir metas. Esse processo
de gerência envolve os três níveis hierárquicos.
O nível estratégico é responsável pela formulação
estratégica e estabelece metas anuais e a longo prazo para
a empresa. O nível tático tem o dever de desdobrar essas
metas, através de diretrizes e normas. O nível operacional
tem como tarefa cotidiana atingir e gerenciar as rotinas de
trabalho para cumprir as metas pactuadas.
Perceba como que todas as pessoas, em todos os
níveis, devem estar voltadas para atingir esse objetivo.

Figura 12: O sistema de gestão para atingir metas


Fonte: https://gestaodesegurancaprivada.com.br/planejamento-organizacional-o-que-e-conceitos/
Atenção! O gerenciamento da rotina só pode ser realizado com metas. As metas são os insumos, o início do trabalho do
gerenciamento. Não se atinge metas sem que se façam mudanças.
A relação do PDCA com POP
Conforme foi visto na aula anterior,é no nível operacional que ocorre o gerenciamento da rotina do trabalho para
atingir as metas, visando melhorar a qualidade do serviço prestado ou do produto produzido.
Foi Walter A. Shewhart que deu um salto significativo no conceito de qualidade, pois associou as técnicas estatísticas à
realidade da empresa de telefonia Bell Telephone Laboratories. Shewarth desenvolveu os gráficos de controle, que utilizam
maciçamente os princípios estatísticos, bem como o próprio ciclo PDCA. Perceba que PDCA é uma sigla formada pelo
anagrama das palavras em inglês de cada fase desse ciclo, que direciona as atividades de plan = planejar, do= fazer, check=
verificar e action= atuar.

Figura 13: Diagrama do PDCA

Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 39


ACTION (atuar)
Atue no processo em função dos resultados obtidos.
PLAN (planejar)
Defina asmetas.
Determine os métodos para alcançá-las.
DO (fazer)
Treine e eduque.
CHECK (avaliar)
Execute o trabalho.
Verifique os efeitos do trabalho executado.
Para detalhar melhor o processo PDCA, observe (figura 14) a sequência de tarefas que deve ser desencadeada para atingir
uma meta e, consequentemente, aperfeiçoar a qualidade de uma empresa.

Problema: Identificação do problema.

Observação: Reconhecimento das características do problema.


Análise do processo: Descoberta das causas principais.

Plano de ação: Contramedidas às causas principais.


Treinamento dos executores – Comunicação das contramedidas
Atuação conforme plano de ação.

Verificação: confirmação da efetividade da ação sim

Padronização e conclusão

Figura 14: Fluxo de tarefas do PDCA


Baseado na figura 14, para você, qual a correlação que se pode fazer entre a estratégia de POP com o método PDCA?
Perceba a semelhança da metodologia, observando o fluxo das atividades entre o método PDCA e o método IARA.

Figura 15: Diagrama do PDCA

Resposta: Conforme pode ser constatado o PCDA, que é uma ferramenta gerencial desenvolvida, em 1924, inspirou aos professores
americanos John Eck e Bill Spelman no desenvolvimento do modelo SARA (modelo IARA), que é uma metodologia utilizada na estratégia de
policiamento orientado para o problema. O método IARA é uma técnica voltada para a melhoria da qualidade do serviço policial.

4.7. ANÁLISE DE ETAPAS E FORMA DE COMUNICAÇÃO;


ANALISAR O PROBLEMA SELECIONADO
PORQUE É QUE A ANÁLISE É IMPORTANTE
Analisar um problema, de forma abrangente, é fundamental para o sucesso dos esforços de resolução desse problema. Não
se conseguem desenvolver respostas eficazes, concebidas à medida, a não ser que saibamos o que está a causar o problema.
Contudo, por norma, muitas pessoas passam por cima das fases do modelo SARA. As razões para isso são diversas, mas
incluem o seguinte: por a natureza do problema, por vezes falsamente, parecer óbvia à primeira vista; por poderem existir
enormes pressões, internas e externas, para se resolver de imediato o problema; pela pressão para se responder aos pedidos de
intervenção não parece dar tempo a que se realizem estudos detalhados à natureza do problema; por a investigação ou estudo
do problema não parecer ser uma “verdadeira” função da polícia; e por os supervisores, eventualmente, poderem não valorizar
o trabalho analítico, que leva o seu tempo a ser realizado, e que não resulta em detenções, em autuações rodoviárias, ou em
outras medidas policiais tradicionais. Também, em muitas comunidades, o forte comprometimento com a antiga maneira, de

Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 40


encarar e de lidar com os problemas, impede a polícia e os cidadãos de encararem os problemas através de novas e diferentes
formas.
Apesar daquelas pressões e percepções, os solucionadores de problemas devem resistir à tendência de saltarem a fase da
análise, porque arriscam-se a lidar com um problema que não existe e/ou a implementarem soluções que são ineficazes a longo
prazo.
Por exemplo, os dados informáticos dos despachos do serviço, de um departamento de polícia do sudeste dos EUA,
indicaram a existência de um grande problema relativo ao furto de viaturas num centro comercial local. Contudo, após um
sargento ter revisto os relatórios das ocorrências e os subsequentes aditamentos pelos cancelamentos, tornou-se-lhe claro que
muitos dos furtos de viaturas denunciados eram, na realidade, casos em que os lojistas haviam-se esquecido do local onde
tinham estacionado as suas viaturas e, erradamente, comunicaram o seu furto à polícia. Se ele não tivesse analisado o
problema, o primeiro impulso do sargento, provavelmente, iria no sentido da implementação de esforços para prevenir os
furtos de viaturas, os quais teriam pouco ou nenhum impacto no problema das denúncias de alegados furtos de viaturas
baseadas em pressupostos errados. Após ter analisado o problema, tornou-se-lhe óbvio que o problema do furto de viaturas não
era tão grave como parecia e que era necessário, sim, uma combinação entre os esforços concebidos para a prevenção do furto
de viaturas e uma melhor distinção dos locais de parqueamento, através da sinalética, no centro comercial.
FAZER AS PERGUNTAS CERTAS
O primeiro passo, na análise, é para se determinar qual o tipo de informação que é necessário. Isto deve consistir numa
pesquisa alargada, não inibida por perspetivas passadas; as questões devem ser colocadas, quer as respostas sejam ou não
obtidas. A abertura do processo e a sondagem persistente de informações, associadas a tal pesquisa, serão do mesmo tipo da
abordagem que seria adotada por um detetive conceituado para resolver um crime intrincado: procurar em todas as direções,
sondar a fundo, e fazer as perguntas certas. Grupos de elementos policiais experientes, convidados a participar em tal exercício,
deverão colocar um amplo conjunto de questões pertinentes. Eles, também, deverão reconhecer que, exceptuando alguns bons
palpites, não têm as respostas para as questões que colocam. 24
O TRIÂNGULO DO CRIME
Geralmente, são necessários três elementos para a constituição de um crime na comunidade: um ofensor, uma vítima, e
uma cena do crime ou um local.25 Os solucionadores de problemas descobriram ser útil, para a compreensão dos problemas,
visualizar-se a ligação entre aqueles três elementos através da construção de um triângulo.

Figura 16– triângulo do crime

Como parte da fase de análise, é importante descobrir-se o máximo, possível, de informações acerca de todos os três lados
do triângulo. Uma forma de se começar é perguntando: Quem? O quê? Quando? Onde? Como? Porquê? E porque não? Acerca
de cada um dos lados do triângulo. 26
Vítimas
É importante focarmo-nos no lado do triângulo referente à vítima. Como referido anteriormente, os estudos recentes têm
demonstrado que uma pequena quantidade de vítimas está relacionada com uma grande quantidade de incidentes criminais.
Acrescentando, os pesquisadores, na Inglaterra, concluíram que as vítimas de assaltos, de violência doméstica, e de outros
crimes têm grande probabilidade de virem a ser revitimizadas a curto prazo, logo após a primeira vitimização – com frequência
no espaço de um a dois meses. 27 28As intervenções eficazes, destinadas às vítimas repetidas, podem contribuir para uma
redução significativa do crime.
Por exemplo, de acordo com um estudo referente a assaltos a residências, levado a efeito na Divisão da Polícia de
Huddersfield, em West Yorkshire, na Inglaterra, as residências que já tinham sido assaltadas tinham quatro vezes mais
probabilidades de voltarem a ser vitimizadas que as residências que nunca haviam sido vítimas, e que muitos dos assaltos
repetidos ocorriam dentro de seis semanas após o primeiro. Consequentemente, a Divisão de Huddersfield desenvolveu uma
24Enhancing the Problem-Solving Capacity of Crime Analysis Units. Matthew B. White. 2008. ISBN: 1-932582-85-1
25 Este conceito foi desenvolvido por William Spelman e John E. Eck em 1989. Ele foi edificado sobre o trabalho prévio de Marcus Felson.
26Sampson, Rana. “Problem Solving,” Neighborhood-Oriented Policing in Rural Communities: A Program Planning Guide, Washington, D.C.: U.S. Department
of Justice, Office of Justice Programs, Bureau of Justice Assistance, 1994.
27 Sampson, Rana. “Problem Solving,” Neighborhood-Oriented Policing in Rural Communities: A Program Planning Guide, Washington, D.C.: U.S.
Department of Justice, Office of Justice Programs, Bureau of Justice Assistance, 1994.
28 Farrell, G. e K. Pease. 1993.
Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 41
resposta tripartida adaptada à medida das vítimas de assaltos repetidos, baseada no número de vezes que as suas casas haviam
sido assaltadas. De acordo com os relatórios iniciais, os assaltos a residências foram reduzidos em 20% desde que o projeto se
iniciou, e não se registou nenhuma deslocalização. 29 De fato, os assaltos a estabelecimentos comerciais, na mesma área,
também, foram reduzidos, apesar de este problema não ter sido um dos objetivos da resposta. Contudo, a polícia teve alguma
dificuldade em identificar as vítimas repetidas, porque o seu sistema de base de dados não estava concebido para este tipo de
pesquisa.
Ofensores
É fundamental, para o esforço de resolução dos problemas, que se encare, de uma forma renovada, o lado do triângulo
referente ao ofensor. No passado, foi colocada demasiada ênfase na identificação e na detenção dos ofensores. Embora isto
possa reduzir um tipo específico de problema criminal, particularmente se os ofensores detidos contribuírem para uma grande
parte do problema, essa redução é, frequentemente, temporária à medida que novos ofensores substituem os antigos ofensores.
O problema da substituição dos ofensores é particularmente agudo nas atividades relacionadas com a aquisição de
dinheiro: como o tráfico de droga, os assaltos, os roubos, a prostituição, etc. Por esta razão, as polícias chegaram à conclusão
que ajuda aprender-se mais acerca das razões que levam os ofensores a serem atraídos por certas vítimas e locais, daquilo que
eles especificamente ganham ao ofender, e daquilo, se é que existe algo, que possa prevenir ou reduzir as suas taxas de delito.
Locais
É igualmente importante que se analise o lado do triângulo referente ao local. Como referido anteriormente, certos locais
são responsáveis por uma significativa quantidade de atividade criminal. Uma análise desses locais poderá indicar-nos a razão
porque são tão favoráveis à ocorrência de um determinado tipo de crime e indicar-nos as formas pelas quais eles poderão ser
alterados, para inibir os ofensores e proteger as vítimas. Por exemplo, colocar os caixas multibanco dentro das agências
bancárias poderá fazer reduzir a quantidade de informação que um ofensor pode obter acerca das suas potenciais vítimas (que
elas estão a levantar dinheiro no banco, que elas põem o dinheiro no bolso da frente do lado esquerdo) e poderá reduzir a
vulnerabilidade das vítimas quando estão de costas para os potenciais ofensores, ao servirem-se nos caixas multibanco.
Supervisores, Gestores e Guardiões
Existem pessoas, ou coisas, que podem exercer um controlo sobre cada um dos lados do triângulo, para que o crime tenha menos
probabilidade de ocorrer. Os ofensores poderão, por vezes, ser controlados por supervisores como a polícia e os funcionários da reinserção
social. Os alvos e as vítimas podem ser protegidos pela presença de guardiões. Os locais, também, podem ter guardiões ou gerentes os quais
poderão exercer influência tanto nos ofensores como nas vítimas. A resolução de problemas, com sucesso, assenta na compreensão, não só,
da forma como todos os três lados do triângulo interagem mas, também, na forma como os ofensores, as vítimas e os locais são, ou não são,
controlados por terceiros.30
QUESTÕES EXEMPLIFICATIVAS PARA SE ANALISAR PROBLEMAS
As agências policiais deverão fazer uma lista das questões, acerca da natureza do problema, que necessitam de ser
respondidas, antes de se poder desenvolver respostas novas e eficazes. 31Seguem-se 15 questões exemplificativas acerca do
problema dos roubos, descrito anteriormente na parte “Identificar os Interessados”.
VÍTIMAS
1. Quem são as vítimas (idade, raça, gênero)? Para quem trabalham? Qual foi a natureza das ofensas?
2. Em que altura do dia foram as vítimas ofendidas?
3. Existem alguns funcionários da entrega de comida ao domicílio que tenham sido ofendidos mais do que uma vez?
Existem alguns funcionários da entrega de comida, de determinados restaurantes, que foram ofendidos com mais frequência
que outros?
4. Qual o grau de medo que têm as pessoas que entregam comida ao domicílio? Quais as áreas que mais temem? Eles têm
algumas sugestões sobre formas de cumprirem com mais segurança as suas obrigações? Eles estão munidos de algum tipo de
equipamentos de segurança, ou foi-lhes prestada formação acerca da sua segurança?
4. O que é que outras jurisdições, que enfrentaram o mesmo problema, fizeram para aumentar a segurança das pessoas que
se dedicam à entrega de comida ao domicílio? Quais as normas que se mostraram mais eficazes e porquê?
LOCAIS (CENA DO CRIME, LOCALIZAÇÃO, AMBIENTE)
6. Onde é que os roubos ocorreram – no local das entregas, no percurso de ida para o local de entrega, ou perto do
estabelecimento de comida rápida? Qual a conformidade e proximidade entre os locais das ofensas e as áreas em que as
pessoas das entregas não costumam ir?
7. Dos roubos que ocorreram longe do estabelecimento de comida rápida, qual é a distribuição dos locais nos quais os
roubos ocorreram (prédios de apartamentos, condomínios fechados, casas isoladas, habitação social, motéis e hotéis, parques
de estacionamento, edifícios de escritórios, etc.)?
8. Os funcionários das entregas foram roubados perto das suas viaturas, ou longe delas? Qual o tipo de viatura que os
funcionários das entregas conduzem? Estão assinaladas como viaturas de entrega de comida?
9. Onde se encontra localizada a loja de comida rápida em relação ao bairro onde não são feitas as entregas? Quais os
caminhos que os empregados das entregas tomam para fazer as suas entregas?
10. Existem algumas semelhanças ambientais entre os locais específicos dos roubos (iluminação, arbustos, isolamento ou
com áreas escondidas)?
OFENSORES
11. Qual é o método empregue nas ofensas? Existem alguns padrões evidentes? Que armas têm sido utilizadas, e em
quantos dos ataques?

29Rave Parties. Michael S. Scott. 2002. ISBN: 1-932582-13-4


30 Módulo de formação não publicado e desenvolvido por Rana Sampson sob os auspícios do Community Policing Consortium do the Bureau of Justice Assistance,
U.S. Department of Justice.
31 Clandestine Methamphetamine Labs, 2.ª edição. Michael S. Scott e Kelly Dedel. 2006. ISBN: 1-932582-15-0

Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 42


12. Como é que os ofensores escolhem as suas vítimas? O que é que torna algumas vítimas mais atraentes ao roubo que
outras? O que é que torna as pessoas que não são vítimas menos atraentes?
13. Os ofensores fazem pedidos de entrega para atraírem a si os empregados das entregas, ou encontram as suas vítimas
por acaso? Se os ofensores fazem pedidos de comida para roubar os empregados das entregas, aqueles pedidos são feitos no
nome dos verdadeiros “clientes” ou são feitos com nomes falsos?
14. Que quantidade de dinheiro costuma ser roubada pelos ofensores numa ocorrência típica? Mais alguma coisa é
roubada?
15. Os ofensores vivem no(s) bairro(s) onde os roubos ocorrem? Se sim, eles são conhecidos dos moradores, os quais
possam ter alguma influência sobre aqueles?
(Para Informações adicionais sobre a análise de problemas, ver o capítulo sete do guia “Problem-Oriented Policing”, de
Herman Goldstein, e o capítulo cinco do guia “Neighborhood-Oriented Policing in Rural Communities”, publicado pelo U.S.
Department of Justice. Uma lista de referências completa pode ser encontrada na pág. 38).
RECURSOS QUE PODERÃO AJUDAR A ANALISAR OS PROBLEMAS
Existe um número de instrumentos que nos poderão ajudar a recolher dados, e outras informações, acerca dos problemas criminais e
de desordem.
Analistas criminais. Os analistas criminais podem-nos prestar uma grande ajuda na recolha e na análise de dados, e outras
Informações, acerca de crimes específicos e de problemas decorrentes de desordens.
Sistemas de Gestão de Registos. Este tipo de sistemas pode ajudar as agências policiais a recolher, a recuperar e a analisar
informações acerca dos problemas. Em particular, ele deve ser capaz de, rapidamente e com facilidade, ajudar os utilizadores a identificar
as chamadas de serviço repetidas relacionadas com vítimas, com locais e com ofensores específicos.
Sistemas de informação geográfica/mapeamento. 32Estes sistemas podem-nos esclarecer a respeito dos padrões, ajudam a identificar
áreas problemáticas, e mostram as potenciais ligações entre os hot spots criminais e outros tipos de estabelecimentos (máquinas multibanco,
lojas de venda de bebidas, etc.).
Assistência técnica. Os profissionais ligados à justiça criminal, que se especializaram no uso das técnicas de Resolução de Problemas,
para resolver problemas criminais específicos como os homicídios, os roubos, o tráfico de droga nas ruas, etc., podem fornecer uma ajuda
inestimável às agências de polícia e aos membros da comunidade. Acrescentando, outras pessoas não ligadas à justiça criminal, com
formação numa diversidade de áreas, também, poderão ajudar nos esforços de resolução de problemas. Por exemplo, um arquiteto poderá
ser capaz de ajudar a avaliar os riscos criminais relacionados com a concepção de um conjunto de blocos de apartamentos, e um perito em
saúde mental poderá ser capaz de ajudar a avaliar a resposta corrente de uma comunidade às pessoas com doença mental e ajudar a
melhorar a resposta.
Inquéritos aos moradores/comerciantes. Estes inquéritos podem ajudar a polícia e as entidades com base na comunidade a
identificar e a analisar os problemas, a calcular os níveis de medo, a identificar as respostas mais indicadas e a determinar a eficácia real e
percepcionada dos esforços de resolução dos problemas. Estes inquéritos, também, podem ajudar a determinar as taxas de vitimização geral
e repetida, particularmente as relacionadas com as cifras negras e com os crimes raros.
Inquéritos ambientais criminais. Estes instrumentos podem ajudar as agências de polícia e as entidades da comunidade a,
sistematicamente, avaliarem o ambiente físico dos locais problemáticos e as formas pelas quais as caraterísticas específicas dos locais
conduzem ao crime e à desordem.
Entrevistas com as vítimas e os ofensores. As entrevistas, sistemáticas e estruturadas com as vítimas e com os ofensores, podem
fornecer reflexões importantes sobre as dinâmicas de um determinado problema criminal. Por exemplo, as entrevistas realizadas a ladrões
de rua, de uma determinada localidade, forneceu importantes Informações, à polícia, relacionadas com a seleção das vítimas e com outros
aspetos dos roubos que puderam ser usadas para prevenir futuras vitimizações.
Formação. A formação em Resolução de Problemas, com uma ênfase na análise, pode ajudar a polícia e os cidadãos a desenvolver e a
melhorar as suas competências de resolução de problemas.
Laptops/computadores portáteis. Quando instalados nos carros patrulha, a última geração de computadores portáteis pode fornecer,
aos agentes policiais, acesso direto a dados úteis e atempados sobre o crime e permitir-lhes analisar problemas criminais e a produzir mapas
enquanto de patrulha.
Internet. Ao usarem serviços de pesquisa online sobre assuntos legais e comerciais, o pessoal policial e os membros da comunidade
podem, rapidamente, saber a quem pertence determinada propriedade que se tornou num paraíso para o tráfico de droga, a apurarem qual a
legislação aplicável a um determinado problema e a rever a cobertura noticiosa das comunidades que enfrentam problemas semelhantes. De
forma similar, o pessoal policial e os membros das comunidades podem usar a internet para a troca de Informações com outros que já
trataram de problemas idênticos e para obterem acesso a redes especificamente dedicadas ao policiamento comunitário e à resolução de
problemas.
4.8. RESPOSTA
RESPONDER A UM PROBLEMA
Após um problema ter sido claramente definido e analisado, teremos que nos confrontar com o desafio último do
Policiamento Orientado para a Resolução de Problemas: a procura da forma mais eficaz para lidar com ele. 33
O terceiro estádio do modelo SARA foca-se no desenvolvimento e na implementação de respostas eficazes para o
problema. Antes de se entrar neste estádio, uma agência policial deve ter a certeza de que analisou completamente o problema.
A tentação para se implementar uma resposta e para se “começar a fazer alguma coisa”, antes de a análise estar terminada, é
muito forte. Mas, os remedeios rápidos raramente são eficazes a longo prazo. Provavelmente, os problemas persistirão se as
soluções não forem concebidas à medida das causas específicas do problema. 34

Para se desenvolver respostas à medida dos problemas criminais, os solucionadores de problemas devem rever as suas descobertas
acerca dos três lados do triângulo do crime – as vítimas, os ofensores e os locais – e deverão desenvolver soluções criativas que tratem de,
pelo menos, dois dos lados do triângulo.20 Eles devem fazer uma aproximação ao desenvolvimento de soluções sem quaisquer noções
preconcebidas acerca do que deve ser feito. Frequentemente, os resultados na fase da análise apontam, à polícia e aos cidadãos, para

32 Acquaintance Rape of College Students. Rana Sampson. 2002. ISBN: 1-932582-16-9


33 Burglary of Single-Family Houses. Deborah Lamm Weisel. 2002. ISBN: 1-932582-17-7
34Misuse and Abuse of 911. Rana Sampson. 2002. ISBN: 1-932582-18-5

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direções inesperadas. Por exemplo, suponhamos que a agência policial que enfrenta o problema dos roubos aos empregados das entregas
de fast food, descrito anteriormente, acaba por descobrir:
➢ Que 14 (quatorze) empregados das entregas foram roubados no ano anterior;
➢ Que nove dos roubos ocorreram entre as 22h 00 min e as 02h 00 min, nas noites das quintas-feiras, das sextas-feiras e dos
sábados;
➢ Que quatro das lojas de entrega de comida ao domicílio contaram para 10 dos roubos e que o pessoal que trabalha para
aquelas quatro lojas sofreram sete daqueles roubos;
➢ Que o pessoal das duas lojas que foram mais vitimizadas efetuaram entregas até às 02h 00 min, enquanto as outras duas
passaram a deixar de o fazer às 12h 00 min;
➢ Que em sete dos roubos, a polícia foi incapaz de localizar o “cliente” que fez o pedido, o que leva a crer que os pedidos
eram solicitados sob nomes falsos, ou indicando falsas moradas;
➢ Que as festas ao ar livre de grandes dimensões, muitas integrando jovens adolescentes mais velhos, eram realizadas nas
noites de cada fim de semana, em diversos locais públicos, perto de áreas residenciais. As áreas das festas encontravam-se nas vizinhanças
onde ocorreram os roubos. Eram servidas bebidas alcoólicas naquelas festas, e existia alguma preocupação entre os moradores quanto ao
barulho e quanto ao consumo de álcool por menores, naquelas festas;
➢ Que os empregados das entregas de comida ao domicílio referiam que alguns dos roubos eram cometidos por adolescentes
que pareciam estar sob efeito do álcool;
➢ Que vários empregados das entregas de comida, também, referiam terem visto, ou a passar por eles, um grupo de
adolescentes apeados antes de terem sido roubados; e
➢ Que em 11 dos roubos, os ofensores roubaram menos de 40 dólares. Nos outros três roubos, foram roubados entre 40 e 60
dólares.

Uma resposta concebida para este problema poderia incluir o seguinte:


➢ Um acordo entre as duas lojas mais vitimizadas no sentido de terminarem as entregas a partir da meia-noite e para
solicitarem aos clientes o levantamento das suas encomendas, nas suas lojas, entre a meia-noite e as 02h 00 min;
➢ Um acordo entre as lojas para pedir aos clientes em que nome constaria a fatura, ao realizarem o pagamento da comida,
para que os empregados das entregas pudessem levar consigo, somente, a mínima quantidade de dinheiro necessário para fazer os trocos.
O montante exato poderia ser solicitado, mas não exigido;
➢ Um acordo entre as lojas para passarem a usar um sistema melhorado de identificação das chamadas de forma o cruzar os
nomes indicados com os números de telefone. Se os nomes dos clientes não coincidirem com o número e o nome indicado no mostrador
do telefone, através do identificador de chamadas – possivelmente por causa da pessoa que fez o pedido ser um convidado do residente –
o pessoal da loja de comida procuraria o endereço do morador para confirmar se o número de telefone coincidia com o endereço. O
morador seria contatado via telefone, entretanto, para confirmar o pedido;
➢ Um acordo entre as lojas para a implementação de uma norma para a não entrega de um pedido, se isso implicasse uma
caminhada por entre uma grande multidão que estivesse presente na área. Se o empregado das entregas fosse incapaz de efetuar a entrega
por esta razão, o empregado regressaria à loja, telefonaria ao cliente e solicitaria que este se encontre com o empregado numa zona
próxima, mas afastada da multidão; e
➢ Um acordo com os moradores, que deram início à petição por causa da não prestação do serviço de entrega de comida no
bairro, para procederem à comunicação da natureza e as razões das novas normas referentes às entregas de comida (com exceção da
confirmação do identificador de chamadas) aos outros moradores. O responsável pela petição, então, transmitiria esta informação numa
reunião de moradores e através de panfletos entregues a cada morador. Em várias das festas com adolescentes, os moradores poderiam
informar os jovens presentes que os empregados das entregas não transportam consigo, a todo o momento, mais do que 10 dólares
(frequentemente muito menos que isso).

A TRADIÇÃO DOMINANTE
Desde o início, temos estado, constantemente, a tentar combater a tendência natural de voltar às respostas tradicionais. 35
Tendo sido depositada demasiada confiança nas respostas tradicionais no passado (amplos varrimentos de área, ou detenções,
patrulhamento intensivo, etc.), é natural que as agências de polícia venham a gravitar à volta destas mesmas táticas para lidar com os
problemas no futuro - mesmo que essas mesmas táticas não se tenham provado especialmente eficazes, ou sustentáveis a longo prazo.
Por exemplo, no caso dos roubos aos empregados das entregas ao domicílio, é fácil de ver como a polícia poderia ter decidido avançar
com patrulhamentos em viaturas, ou a peados, na área problemática, aos fins de semana, entre as 22 h 00 min e as 02 h 00 min. Mas esta
resposta teria sido relativamente dispendiosa para o departamento de polícia. As respostas criativas, que vão além do sistema de justiça
criminal e que se focam na prevenção de futuras ocorrências, geralmente, surtem melhores resultados.
Os cidadãos e a polícia são tentados, frequentemente, a implementar programas e respostas usadas noutras comunidades. Embora
possa ser bastante útil aprender-se como foi que outras comunidades foram bem-sucedidas ao lidarem com problemas semelhantes (e
encorajamos as agências policiais a pesquisarem outras abordagens como parte das suas análises), deveremos ser cautelosos quanto ao
adotar soluções tiradas da prateleira, a não ser que a situação seja, impressionantemente, semelhante. 36
A polícia ao enfrentar o problema dos roubos aos empregados das entregas ao domicílio poderá sentir-se inclinada a sugerir aos
serviços públicos para aumentar a iluminação pública na área problemática, porque isto foi uma das maneiras que outras comunidades
implementaram com sucesso para lidar com o problema dos roubos. Mas, a não ser que os roubos tenham ocorrido em áreas que são
fracamente iluminadas, esta estratégia, provavelmente, terá pouco efeito no problema dos roubos aos empregados da distribuição de
comida.
A chave para se desenvolver respostas propositadamente concebidas é garantindo que as respostas são devidamente focadas e
diretamente ligadas às conclusões que resultaram da fase analítica do projeto.
Para exemplos específicos de resoluções de problemas, consultar a Série de Guias Policiais Orientados para a Resolução de
Problemas, desenvolvida pelo Center for Problem-Oriented Policing (www.popcenter.org) e custeados pelo COPS Office. Consultar,
também, a secção de Recursos Adicionais, a qual lista alguns dos problemas criminais e de desordem social os quais poderão ser tratados
com o uso de abordagens de resolução de problemas.
4.9. AVALIAÇÃO DE RESULTADOS;

35 Check and Card Fraud. Graeme R. Newman. 2003. ISBN: 1-932582-27-4


36 Stalking. The National Center for Victims of Crime. 2004. ISBN: 1-932582-30-4
Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 44
AVALIAR O IMPACTO SOBRE O PROBLEMA SELECIONADO
Nos últimos 20 anos, tornou-se claro para muitos dos que se dedicam ao policiamento que, tanto as abordagens
tradicionais ao tratamento do crime, do medo e de outros problemas, como as avaliações da sua eficácia, ficaram aquém das
expetativas de muita gente. Isto fez com que um número significativo de departamentos de polícia procurasse novas
abordagens para lidar com velhos problemas. Isto, também, levou a que muitos departamentos de polícia se começassem a
interrogar se, e até que ponto, o seu trabalho realmente fazia a diferença, para além de lidar com as ocorrências imediatas. 37
MEDIDAS TRADICIONAIS
Uma quantidade de parâmetros tem sido usada, tradicionalmente, pelas agências policiais e pelos membros das
comunidades, para avaliar a eficácia das suas medidas. Naqueles incluem-se: o número de detenções, os níveis dos crimes
denunciados, os tempos de resposta policial, a quantidade de autorizações concedidas, as reclamações dos cidadãos e diversos
outros indicadores do trabalho policial, como as chamadas de serviço e o número de entrevistas de campo realizadas. 38
Vários daqueles parâmetros poderão ser-nos úteis para se avaliar o impacto de um esforço de resolução de problemas,
incluindo: as chamadas de serviço relacionadas com o problema (especialmente uma redução na repetição das chamadas de
serviço envolvendo locais, vítimas e ofensores específicos); as mudanças na incidência dos crimes denunciados; e as mudanças
nos níveis das reclamações dos cidadãos. Outros parâmetros tradicionais, como as detenções e o número de entrevistas de
campo realizadas, poderão não ser assim tão úteis para os nossos esforços de resolução de problemas, a não ser que esses
parâmetros possam ser diretamente ligados a uma redução, a longo prazo, dos malefícios associados a um determinado
problema criminal.
Mesmo as reduções nas chamadas de serviço e nas reclamações dos cidadãos poderão não ser os melhores indicadores de,
e até que ponto, estarmos a causar um impacto positivo no problema, porque, nalguns casos, aqueles parâmetros poderão, na
realidade, aumentar como resultado do nosso esforço de resolução dos problemas. Nalguns casos, tal incremento poderá ser um
resultado positivo, se isso significar que os moradores se sentem mais à vontade em registarem as suas reclamações, ou porque
acreditam que as suas chamadas serão levadas a sério. Contudo, quando o esforço de resolução de problemas resulta num
aumento das detenções, ou num aumento das chamadas de serviço, as agências policiais devem encarar aqueles resultados
positivos com cautela. Será que eles são os resultados pretendidos da iniciativa?
UMA ESTRUTURA NÃO TRADICIONAL
Avaliar o impacto de um esforço de resolução de problemas poderá requerer o uso de uma estrutura não tradicional para se determinar a
sua eficácia. Uma daquelas estruturas desenvolvida por Eck e por Spelman identifica cinco diferentes níveis, ou tipos, de impactos positivos nos
problemas. Eles são: 39
1. A total eliminação do problema;
2. Menos incidentes;
3. Incidentes menos graves ou perniciosos;
4. Melhor tratamento das ocorrências/uma resposta ao problema melhorada; e
5. A remoção do problema como uma das preocupações policiais (transferindo o tratamento para outros mais capazes em lidar com o
problema).
Também, foi sugerido um sexto impacto positivo:
6. As pessoas e as instituições afetadas pelo problema ficam melhor preparadas para lidar com um problema semelhante no
futuro.40
Alguns dos parâmetros listados acima poderão ser adequados para os nossos esforços de resolução dos problemas. Outros,
não listados acima, poderão ser, ainda, mais adequados. Após termos analisado o nosso problema, poderemos pretender
modificar os parâmetros inicialmente selecionados, ou rever os parâmetros. Os parâmetros que selecionarmos dependerão da
natureza do problema escolhido, das preferências da polícia e da comunidade, e da habilidade da nossa jurisdição em recolher
os dados necessários, tanto antes do início do projeto, bem como após ele ter sido implementado no terreno por algum tempo.
Um número de parâmetros não tradicionais poderão esclarecer-nos sobre a forma como um problema foi afetado. 41
A chave está em nos focarmos nos parâmetros que demonstram o impacto no problema apontado.
Parâmetros Demonstrativos do Impacto no Problema
Quatro casas de crack, existentes numa área de 12 blocos de apartamentos, foram encerradas e as avaliações, posteriores,
indicaram que o tráfico de droga não se havia deslocalizado para os cinco blocos de apartamentos das redondezas. As
chamadas de serviço, relativamente ao tráfico de droga nas ruas da área-alvo, haviam sido reduzidas, de uma média de 45 por
mês par 8 por mês. O número de moradores que relataram ser testemunhas do tráfico de droga, durante o mês anterior, foi
reduzido de 65%, antes dos esforços policiais, para 10% após a intervenção.
Antes da intervenção policial, 40% daqueles que foram vitimizados duas vezes por assaltantes, no período de seis meses
seguinte foram, de novo, revitimizados. Após os esforços policiais, só 14% das vítimas voltaram a ser revitimizadas. No
cômputo geral, os assaltos na área-alvo foram reduzidos, de 68 num ano para 45 no ano seguinte.
Porque os esforços de resolução de problemas conseguiram interromper a venda de armas aos jovens que procuravam a
aquisição de armas de fogo semiautomáticas, mais letais, o comércio de armas, o número e a gravidade das ofensas à
integridade física, resultantes dos tiroteios a partir de viaturas em andamento, foram significativamente reduzidas, mesmo,
apesar do número de disparos com armas de fogo a partir de viaturas em andamento ter decrescido ligeiramente. Antes da
intervenção policial, ocorreram 52 daquelas ocorrências na cidade e que resultaram em 21 ofensas à integridade física graves e
5 homicídios. Após os esforços policiais, ocorreram 47 tiroteios a partir de viaturas em andamento as quais resultaram em 8
ofensas graves à integridade física e nenhum homicídio.
No ano transato ao dos esforços policiais, a polícia recebeu uma média de 50 denúncias por mês relacionadas com
37 Gun Violence Among Serious Young Offenders. Anthony A. Braga. 2004. ISBN: 1-932582-31-2
38 Prescription Fraud. Julie Wartell e Nancy G. La Vigne. 2004. ISBN: 1-932582-33-9
39 Identity Theft. Graeme R. Newman. 2004. ISBN: 1-932582-35-3
40 Crimes Against Tourists. Ronald W. Glesnor e Kenneth J. Peak. 2004. ISBN: 1-932582-36-3
41 Underage Drinking. Kelly Dedel Johnson. 2004. ISBN: 1-932582-39-8

Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 45


desavenças entre vizinhos. Uma média de 10 daquelas denúncias ficaram resolvidas com uma única intervenção de um agente
policial, mas aproximadamente 40 das chamadas de serviço eram efetuadas pelos moradores de 22 locais habitualmente
problemáticos. Assim que os esforços de resolução do problema foram implementados, o departamento policial passou a
receber uma média de 12 denúncias mensais. Cinco dos locais repetidamente problemáticos mantiveram-se sem alteração, mas
eles contaram para menos de 25% das denúncias recebidas mensalmente.
PARÂMETROS NÃO DEMONSTRATIVOS DO IMPACTO NO PROBLEMA
Foram realizadas cinco reuniões entre a polícia e a comunidade no decurso de um ano de projeto. (As conclusões relativas
ao impacto sobre o problema não se podem extrair deste parâmetro. Se um dos objetivos do projeto for o de melhorar a
compreensão da polícia acerca dos problemas comunitários, um dos parâmetros a ter em conta é o nível de percepção dos
moradores acerca dos melhoramentos que resultaram dos esforços desenvolvidos, o qual poderá ser determinado através de
inquéritos realizados antes e após a implementação das medidas.).
Foram realizadas verificações das condições de segurança em 43 residências, pelos agentes policiais, da urbanização-alvo.
(Embora isto possa ser importante para se documentar o número de verificações de segurança a residências, seria mais
importante saber-se até que ponto os assaltos foram reduzidos como resultado da iniciativa.)
Os agentes policiais e os membros da comunidade participaram numa limpeza ao bairro e removeram perto de 500 kg de
lixo. (Esta informação não, necessariamente, indica uma redução nos níveis dos problemas criminais e de desordem em causa,
e uma limpeza esporádica poderá ser, somente, um melhoramento temporário. Seria mais importante demonstrar-se que os
problemas criminais e de desordem em causa foram reduzidos como resultado de, ou em conjunto com, a limpeza realizada.)
A polícia apreendeu para cima de 10 quilos de cocaína durante a iniciativa, a qual procurou alvejar as atividades ligadas
ao tráfico de narcóticos no distrito do sudoeste. (Este resultado não indica até que ponto as vendas de droga nas ruas e
quaisquer outros problemas relacionados – como a prostituição, a vadiagem, os graffiti, o lixo e a intimidação dos moradores –
foram reduzidos.)
Ajustar as Respostas Baseadas na Avaliação
Se as respostas implementadas não forem eficazes, a informação recolhida durante a análise deve ser revista. Poderá ser
necessário recolher-se novas Informações antes de se desenvolver e testar novas respostas.42
4.10. FERRAMENTAS DE AUXÍLIO À TOMADA DE DECISÃO.
TOMADA DE DECISÃO
A tomada de decisões é o núcleo da responsabilidade administrativa. O administrador deve constantemente decidir o que
fazer, quem deve fazer, quando, onde e, muitas vezes, como fazer. Seja ao estabelecer objetivos, alocar recursos ou resolver
problemas que surgem pelo caminho, o administrador deve ponderar o efeito da decisão de hoje sobre as oportunidades de
amanhã. Decidir é optar ou selecionar dentre várias alternativas de cursos de ação aquela que pareça mais adequada.
Por tanto, a tomada de decisão não é aleatória, pois está relacionada com a Missão, visão e valores, indispensáveis à
construção da cultura organizacional de toda e qualquer empresa.
Empowerment
Significa fortalecimento do poder decisório dos indivíduos da empresa (instituição) ou criação de poder decisório para os indivíduos.
Castro (l994) afirma que o termo empowerment sintetiza um processo de transformação no qual a energização torna-se o principal foco
da empresa.
Energização: Clima positivo, envolvimento e comprometimento de pessoas.
Rothstein (1995) empowerment é um ato de construir, de desenvolver e incrementar o poder entre os indivíduos por meio de
cooperação, compartilhamento e trabalho em conjunto.
Uma organização moderna identifica no seu principal capital, seus colaboradores, a principal matéria-prima geradora de
competitividade.
DO PROCESSO DECISORIAL
A tomada de decisões é o núcleo da responsabilidade administrativa. O administrador deve constantemente decidir o que
fazer, quem deve fazer, quando, onde e, muitas vezes, como fazer. Seja ao estabelecer objetivos, alocar recursos ou resolver
problemas que surgem pelo caminho, o administrador deve ponderar o efeito da decisão de hoje sobre as oportunidades de
amanhã. Decidir é optar ou selecionar dentre várias alternativas de cursos de ação aquela que pareça mais adequada.
EM TODA DECISÃO EXISTEM, NO MÍNIMO, SEIS ELEMENTOS, A SABER:
1. O tomador da decisão: é o indivíduo ou grupo de indivíduos que faz uma escolha dentre vários cursos de ação disponíveis.
2. Objetivos: são os objetivos que o tomador de decisão pretende alcançar por meio de suas ações.
3. O sistema de valores: são os critérios de preferência que o tomador de decisão usa para fazer sua escolha.
4. Cursos de ação: são as diferentes sequências de ação que o tomador de decisão pode escolher.
5. Estados da natureza: são aspectos do ambiente que envolvem o tomador de decisão e que afetam sua escolha de cursos de ação. São
fatores ambientais fora do controle do tomador de decisões, como as condições de certeza, risco ou incerteza.
6. Consequências: representam os efeitos resultantes de um determinado curso de ação e de um determinado estado da natureza.
NÍVEIS DE DECISÃO
Existem três diferentes áreas de decisão na empresa, a saber:
1. Decisões estratégicas: relacionadas com as relações entre a empresa e o ambiente; guiam e dirigem o comportamento da empresa,
principalmente quando ela expande e altera sua posição produto/mercado. São tomadas no nível institucional.
2.Decisões administrativas: relacionadas com a estrutura e configuração organizacional da empresa, com a alocação e distribuição de
recursos. São tomadas no nível intermediário.
3. Decisões operacionais: relacionadas com a seleção e orientação do nível operacional encarregado de realizar a tarefa técnica.
É necessário estudar cada nível de decisões, sem perder de vista o seu inter-relacionamento e sua interdependência.

42Street Racing. Kenneth J. Peak e Ronald W. Glensor. 2004. ISBN: 1-932582-42-8

Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 46


FASES DO PROCESSO DECISORIAL
As decisões são tomadas em resposta a algum problema a ser resolvido, a alguma necessidade a ser satisfeita ou a algum
objetivo a ser alcançado. A decisão envolve um processo, isto é, uma sequência de passos ou fases que se sucedem. Daí o nome
processo decisorial para descrever essa sequência de fases. Na realidade, o processo decisorial pode ser descrito em quatro
fases essenciais, a saber:
1. Definição e diagnóstico do problema. Esta fase envolve a obtenção dos dados e fatos a respeito do problema, suas relações com o
contexto mais amplo, suas causas, definições e seu diagnóstico.
2. Procura de soluções alternativas mais promissoras. Esta fase envolve a busca de cursos alternativos de ação possíveis e que se
mostrem mais promissores para a solução do problema, satisfação da necessidade ou alcance do objeto.
3. Análise e comparação dessas alternativas de solução. É a fase na qual as várias alternativas de curso de ação são analisadas,
ponderadas e comparadas, no sentido de verificar os custos (tempo, de esforços, de recursos etc) e os benefícios que possam trazer, bem como
consequências futuras e prováveis quanto á sua adoção.
4. Seleção e escolha da melhor alternativa como um plano de ação. A escolha de uma alternativa de curso de ação implica no
abandono dos demais cursos alternativos. Há sempre um processo de seleção e de escolhas dentre várias alternativas apresentadas. A
racionalidade está implícita nesta atividade de escolha.
RACIONALIDADE DO PROCESSO DECISORIAL
O tomador de decisão escolhe uma alternativa dentre várias outras. As empresas procuram gerar um ambiente psicológico
capaz de condicionar as decisões dos indivíduos aos objetivos organizacionais. Assim, existe uma racionalidade no
comportamento administrativo, pois o comportamento dos indivíduos nas empresas é planejado e orientado no sentido de
metas e objetivos.
A eficiência na decisão é a obtenção de resultados máximos com os meios e recursos limitados. Há sempre uma
relatividade nas decisões, pois toda decisão é, até certo ponto, resultado de uma acomodação: a alternativa escolhida
dificilmente permite a realização completa ou perfeita dos objetivos visados representando apenas a melhor solução encontrada
naquelas circunstâncias. Por esses motivos, o processo decisorial repousa em uma racionalidade limitada, onde o tomador de
decisões não tem condições de analisar todas as alternativas possíveis e receber todas as informações necessárias. O
comportamento administrativo é basicamente satisfaciente (satisfazer) e não otimizante, pois o tomador de decisões procura
sempre alternativas satisfatórias e não as alternativas ótimas, dentro das possibilidades da situação envolvida, somente em
casos excepcionais preocupa-se com a descoberta e seleção de alternativas ótimas. Assim, o processo decisorial na empresa se
caracteriza pelos seguintes aspectos.:
1. O tomador de decisão evita a incerteza e segue as regras padronizadas para tomar as decisões.
2. O tomador de decisão procura manter as regras estabelecidas pela empresa e somente as redefine quando sofre
pressões.
3. Quando o ambiente muda e novas estatísticas afloram ao processo decisorial, a empresa se mostra lenta no
ajustamento e tenta utilizar o seu modelo decisorial, a empresa se mostra lenta no ajustamento e tenta utilizar o seu modelo
decisório atual a respeito do mundo para lidar com as condições modificadas.
DECISÕES PROGRAMÁVEIS NÃO-PROGRAMÁVEIS
Quando à sua forma, existem dois tipos de decisão: as decisões programáveis e as não-programáveis.
As decisões programáveis são aquelas tomadas de acordo com regras e procedimentos já estabelecidos, enquanto as
decisões não-programáveis constituem novidades e tendem a ser tomadas dentro de julgamentos improvisados e exigindo
esforços para definir e diagnosticar o problema ou situação pela obtenção dos fatos e dos dados, procura de soluções
alternativas, análise e comparação dessas alternativas e seleção e escolha da melhor alternativa como plano de ação.
CARACTERÍSTICA DAS DECISÕES PROGRAMADAS E NÃO-PROGRAMADAS
Decisões Programadas Decisões Não-programadas
 São computacionais e rotineiras  Baseadas em julgamentos
 Dados adequados  Dados inadequados
 Dados repetitivos  Dados novos
 Condições estáticas  Condições dinâmicas
 Certeza  Incerteza
 Baseadas em regras e métodos já estabelecidos  Baseadas em julgamento pessoal
Geralmente as decisões não-programadas são tomadas no nível intermediário das empresas, enquanto as decisões
programadas são remetidas no nível operacional.
CONDIÇÕES DE DECISÃO.
As decisões podem ser tomadas dentro de três condições, a saber:
1. Incerteza: nas condições de decisão sob incerteza, o tomador de decisão tem pouco ou nenhum conhecimento ou informação para
utilizar como base para atribuir probabilidade a cada estado da natureza ou a cada evento futuro. Em casos extremos de incerteza não é possível
estimar o grau de probabilidade de que o evento venha ocorrer. É a situação típica com que se defronta o nível institucional das empresas,
exigindo um planejamento contingencial que permita alternativas variadas e flexíveis.
2. Risco: nas situações de decisão sob risco, o tomador de decisão tem informação suficiente para predizer os diferentes estados da
natureza. Porém, a qualidade dessa informação e sua interpretação pelos diversos administradores podem variar amplamente e cada
administrador pode atribuir diferentes probabilidades conforme sua crença ou intuição, experiência anterior, opinião etc.
3. Certeza: nas situações sob certeza, o administrador tem completo conhecimento das conseqüências ou dos resultados das várias
alternativas de cursos de ação para resolver o problema. É a decisão mais fácil de se tomar, pois cada alternativa pode ser associada com os
resultados que pode produzir. Mesmo que o administrador não tenha condições de investigar todas as alternativas disponíveis, ele pode escolher
a melhor dentre as alternativas consideradas. Esta é uma situação excepcional e não a regra.
O planejamento consiste na tomada antecipada de decisões sobre o que fazer antes que a ação seja necessária e, por isso, constitui um
sistema aberto e dinâmico de decisões. No fundo, as empresas constituem sistemas programados de decisão em seus níveis intermediários .

Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 47


(FONTE: TOMADA DE DECISÃO. Disponível em: <http://www2.unifap.br/mariomendonca/files/2011/05/PROCESSO-
DECISORIO.pdf>. Acesso em 19 ago 2019.)
TOMADA DE DECISÃO PELA POLÍCIA
Rosângela Pereira de Abreu Assunção[43]
As organizações empresariais modernas se caracterizam pela tomada de decisões baseada em regras e precedentes, o que
possibilita o estabelecimento de rotinas e padrões.
Na organização policial, ao contrário, na maioria das vezes a polícia é direcionada pelos eventos esporádicos com
aparência, duração, extensão e potencial muitas vezes incertos. Por exemplo, é possível predizer que cem roubos vão acontecer
em uma determinada cidade, durante um ano, mas são fatores imprevisíveis saber as datas, os criminosos, as perdas de bens, os
ferimentos nas vítimas e as respostas políticas. Não existe na polícia uma teoria geral que lhe possibilita prever acontecimentos
que justifiquem e racionalizem totalmente suas práticas.
Assim, tradicionalmente, a polícia se caracteriza pela tomada de decisões baseada numa racionalidade situacional, que
leva em conta as datas e os lugares específicos dos eventos, em vez de uma série de regras e regulamentos firmes.
(MANNING, 2003, p. 383).
Na organização policial o processo de tomada de decisão apresenta algumas peculiaridades:
1. A decisão dos policiais tem por base um processo de triagem de pessoas e eventos para um processamento posterior, permitindo que a
polícia administre a justiça e preserve os recursos organizacionais;
2. as decisões da polícia envolvem os casos e as decisões orientadas politicamente (estabelecimento de precedentes);
3. A visibilidade da tomada de decisões pela polícia varia. Muitas das decisões são virtualmente invisíveis ou de baixa visibilidade;
4. a tomada de decisões pela polícia está marcada por grande complexidade e heterogeneidade (o objeto da conduta para controle da
polícia varia enormemente, desde o mau comportamento trivial até as grandes violações da lei criminal. Os julgamentos do policiamento são
influenciados pela percepção de trivialidade ou gravidade de um ato ou evento).
4. a escolha de agir é seguida pela pergunta “Como agir?” A polícia pode prender, escolher não fazer nada ou dar conselho, advertir,
ameaçar ou formalizar uma advertência. Pode mandar as pessoas para outros órgãos ou, em brigas domésticas, proceder a mediação de
conflitos.
Devido às peculiaridades acima mencionadas, é importante admitir que para um melhor processo de tomada de decisão na organização
policial deve-se considerar um modelo que possibilite o alinhamento da Gestão do Conhecimento e a Gestão da Tecnologia da Informação
(TI), em prol da Análise Criminal, no sentido de um melhor controle do fenômeno do crime e da violência.
A INTELIGÊNCIA POLICIAL e a ANÁLISE CRIMINAL, consideradas como instrumentos de produção de
conhecimento, terão como princípio básico a coleta e o processamento de dados, disseminando o conhecimento produzido sob
a denominação de informação.
A) INTELIGÊNCIA POLICIAL: é a informação sistematizada, classificada e analisada, que foi codificada em
categorias relevantes para a polícia. O processo de inteligência descreve o tratamento dado a uma informação para que ela
passe a ser útil para a atividade policial.
O processo de atividade de inteligência envolve o julgamento bem informado, um estado de coisas, ou um fato singular.
Segundo Manning (2003) a estratégia operacional não só disponibiliza, no tempo e no espaço, policiais e outros recursos,
mas também inclui a avaliação do número de policiais designados para uma certa posição e, ainda, a distribuição das posições.
As estratégias operacionais podem ser classificadas em:
REATIVA: responder a eventos em seguida ao recebimento passivo de pedidos por serviço.
Instituições ou empresas são reativas porque suas estratégias são reativas. Pense no modelo clássico de planejamento estratégico 44: uma
análise acurada do ambiente e a construção dos objetivos e estratégias aptos a responder à realidade diagnosticada. O mercado é o ponto de
partida e o guia de todas as ações posteriores.
PROATIVA: quando o policial cria as condições combate ao de crime, antevendo-o.
Proatividade é o comportamento de antecipação e responsabilidade sobre determinada ação, escolha ou resolução de um desafio.
As principais características de uma pessoa com proatividade são:
Consegue enxergar além da situação;
Não espera ordens para executar tarefas;
Apresenta resultados além do esperado;
Antecipa-se aos problemas apresentando soluções práticas;
Busca formas de otimizar o tempo e execução de suas tarefas;
Diante de desafios, foca na solução e não no problema;
Adapta-se facilmente a qualquer ambiente;
Gosta de cumprir metas e inovar em seus resultados;
É comprometida, responsável e determinada!
PREVENTIVA: ações provenientes da polícia para alterar, prevenir ou intervir antecipadamente nas situações.
Tradicionalmente, a ação da polícia é principalmente reativa. Estas três estratégias se interagem e não são mutuamente excludentes.
Por outro lado, essas estratégias operacionais estão diretamente relacionadas com as funções de inteligência da polícia.
A Inteligência Policial adquire três formas:
INTELIGÊNCIA PROSPECTIVA: é a informação coletada antes de um crime ou problema, com base na identificação de alvos
selecionados e com o desenvolvimento de alguma “teoria” de base social, ou pela compreensão da natureza, da aparência e da frequência do
fenômeno a ser controlado.
INTELIGÊNCIA RETROSPECTIVA: é a informação que resulta do curso normal do trabalho policial; por exemplo, dos arquivos de
prisões, das violações de trânsito e dos mandados de prisão pendentes.
INTELIGÊNCIA APLICADA: Busca associar nomes de suspeitos já anteriormente conhecidos com atos conhecidos, ou é usada para

43Rosângela de Pereira de Abreu Assunção é professora da Academia de Polícia Civil de Minas Gerais
44 Planejamento estratégico é uma competência da administração que auxilia gestores a pensar no longo prazo de uma organização. Alguns itens e
passos cruciais para o plano estratégico são: missão, visão, objetivos, metas, criação de planos de ação e seu posterior acompanhamento.

Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 48


conectá-los.
O uso da inteligência aplicada pode exigir dados processados analiticamente, tais como material forense e trabalho de
inteligência ligando suspeito a hora, lugar, oportunidade, motivo e outros.
Qualquer forma de tecnologia da informação vai interagir com as funções de estratégia e inteligência. Por exemplo:
• Nas estratégias preventivas em que são usadas as inteligências prospectiva e retrospectiva:
As tecnologias são importantes para o armazenamento de dados, sua recuperação e uso potencial.
• Nas estratégias proativas em que são usadas as inteligências prospectiva e retrospectiva:
É necessário o estabelecimento de alvos. A análise de redes e a tecnologia dos computadores são essenciais para grandes projetos que
envolvam, por exemplo, o mapeamento dos membros de um grupo de traficantes de drogas.
Poderão ser feitas também o uso da informação de modo preventivo ou de análise, com a ajuda de programas de computador
específicos.
• Nas estratégias reativas, com uso de inteligência aplicada e retrospectiva:
O uso estratégico mais importante das tecnologias de informação está associado a essa estratégia. Essas estratégias usam inteligência
aplicada e retrospectiva, obtida através de informações, confissões, admissão de crimes conhecidos anteriormente, ou entrevistas de suspeitos
feitas por detetives.
Assim que um crime possível tenha sido identificado e a polícia tenha informações sobre seu conteúdo, pessoal,
localização e consequências, são usadas tanto a inteligência prospectiva como a retrospectiva. Por exemplo, a inteligência
aplicada é claramente ampliada pela comparação automatizada computadorizada das impressões digitais.
Na medida em que o propósito da tecnologia de informação é organizar e sistematizar dados acumulados e armazenados
existentes, e facilitar sua recuperação, criando formatos com os quais se possa trabalhar, tal tecnologia combina bem com o
policiamento reativo.
Dados sobre veículos roubados, placa de carros, cartas de motoristas, mandados pendentes e fichas criminais estão entre
os tipos sistematizados e rapidamente disponíveis. Para situações onde um policial intervém e fica indeciso sobre a situação do
suspeito, sem saber se o detém ou prende, os sistemas computadorizados podem ajudar na decisão a ser tomada.
Eles vão fornecer as informações necessárias que permitem à polícia deter, e talvez acusar, uma pessoa que, de outra
forma, poderia não ser questionada nem presa e acusada por um crime ou infração.
B) Segundo Steven Gottlieb (1994) a ANÁLISE CRIMINAL é:
“Um conjunto de processos sistemáticos (...) direcionados para o provimento de informação oportuna e pertinente sobre os
padrões 2 do crime e suas correlações de tendências 3, de modo a apoiar as áreas operacional e administrativa no planejamento
e 2 A expressão Padrão corresponde a uma característica da ocorrência de um determinado delito, segundo a qual pelo menos
uma mesma variável daquela ocorrência se repete em outra, ou outras ocorrências ao longo do tempo (antes e/ou depois).
Exemplo de variável repetida: o dia da semana, hora, local, tipo de vítima, descrição do autor, modus operandi , etc...
(DANTAS; SOUZA ,2007). A expressão Tendência, indica uma propensão quantitativa geral (aumento, estabilização ou
diminuição) de um fenômeno da segurança pública, por exemplo: as ocorrências de um delito específico. Tal distribuição de
recursos para prevenção e supressão de atividades criminais, auxiliando o processo investigativo e aumentando o número de
prisões e esclarecimentos de casos. Em tal contexto, a análise criminal tem várias funções setoriais na organização policial,
incluindo a distribuição do patrulhamento, operações especiais e de unidades táticas, investigações, planejamento e pesquisa,
prevenção criminal e serviços administrativos (como orçamento e planejamento de programas).”
A ANÁLISE CRIMINAL compreende, essencialmente, o ato de separar e examinar as diversas partes do registro de um
atendimento ou ocorrência policial, a fim de conhecer sua natureza, proporções, funções e relações com variáveis homólogas
de outras ocorrências. A análise pode subsidiar uma pronta resposta tática, favorecendo prisões e esclarecimento de casos.
Diferentemente, pode estar voltada para questões estratégicas, caso de potenciais problemas de segurança pública de médio e
longo prazos.
TIPOS DE ANÁLISE CRIMINAL:
ANÁLISE CRIMINAL TÁTICA: Identificam um padrão resultante das ações de um determinado delinquente que comete uma série
de crimes, do mesmo tipo penal, em uma mesma localidade, e em um pequeno espaço de tempo. Provê informação de apoio às áreas de
pessoal (patrulhamento e investigação) na identificação de problemas criminais específicos e imediatos e na prisão de delinquentes. Os
dados da análise criminal tática são utilizados para promover uma pronta resposta para situações operacionais.
ANÁLISE CRIMINAL ESTRATÉGICA: está voltado para a determinação de um padrão geral de delinquência (por exemplo:
arrombamentos) e que produz uma série de vítimas tipicamente pertencentes a um mesmo grupo de risco (a exemplo, os comerciantes de
uma determinada cidade). Está, pois, voltada para “projeções de cenários”, formulados a partir de variações dos indicadores de
criminalidade. Ela inclui ainda a realização de estudos e respectiva elaboração de planos para a identificação e aquisição de recursos
futuramente necessários. Um dos resultados típicos da análise criminal estratégica é a formulação de programas preventivos.
ANÁLISE CRIMINAL ADMINISTRATIVA: provê os gestores de informações gerais de natureza econômica, social, geográfica,
ou de outra área qualquer do conhecimento com interface com a segurança pública. Está focada nas atividades genéricas de produção de
conhecimento. Tem como propósito instrumentar a gestão policial, o poder executivo local, conselhos comunitários e grupos da sociedade
organizada.
As bases de dados constituem a matéria prima da Análise Criminal. As análises podem apresentar alto valor tático ou
estratégico se direcionadas para os registros de categorias pontuais de dados sobre os crimes (dados de materialidade, autoria e
modus operandi) ou de informações genéricas (números de delitos, índice ocorridos e respectivas taxas de propensão deve ser
verificada ao longo de uma área geográfica e série histórica, extensas o suficientemente para que a tendência possa ficar
confiavelmente confirmada. (DANTAS; SOUZA, 2007) resolução). É de extrema importância a existência de uma base de
dados nacional que funcione como suporte mais abrangente e possibilite resultados mais confiáveis e inclusivos.
A Análise Criminal pode envolver o processamento de milhares de variáveis com o objetivo de estabelecer as relações
entre os dados constantes de uma base. Para tanto, é preciso o auxílio de ferramentas da Tecnologia da Informação (TI)
indispensáveis para o processamento de grandes quantidades de dados. Várias ferramentas da TI, destacando-se os Sistemas de
Informação Geográfica (SIG) estão disponíveis para a Análise Criminal:

Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 49


Crime Watch, Crime Analysus Extension, Crime Info, Crime Analyst, Crime Mapper, Crime Solv, Crime Stat 2.0, Crime
View, Map ALI Desktop, GeoGenie, Rige, S-Plus, Space Stat, Spatial Analyst, STAC, Vertical Mapper, Terrain Tools, VMS
200 Video Mapping System, etc…
FINALIDADE DA ANÁLISE CRIMINAL:
1. Produção de conhecimento relativo à identificação de parâmetros temporais e geográficos do crime, bem como detectar a atividade e
identidade da delinquência correspondente.
2. Identificar e prover de conhecimento sobre a relação entre dados de ocorrências criminais e outros dados relevantes para os órgãos
do Sistema de Justiça Criminal;
3. Subsidiar ações dos operadores do sistema de justiça criminal (policiais – análise criminal tática) bem como dos formuladores de
políticas de controle (gestores – análise criminal estratégica) “Com a utilização dos produtos de análise, inquestionavelmente, é possível
lidar mais efetivamente com incertezas e ameaças contra a Segurança Pública.” (DANTAS; SOUZA, 2007)
4 Os Sistemas de Informação Geográfica (SIG) possibilitam o posicionamento espacial de variáveis, incluindo a espacialização das
ocorrências criminais, distribuição de recursos humanos, bens e serviços, características sócio-econômicas, etc. A utilização de ferramentas
de SIG vem apoiando de forma inovadora a gestão da segurança Pública na formulação de novas políticas, programas e planos no que
concerne a prevenção e repressão da criminalidade, através da visualização imediata de tendências, padrões e outras regularidades do
fenômeno. Um exemplo disso é a identificação de PONTOS QUENTES, locais de alta densidade da criminalidade. (Cfme. DANTAS;
SOUZA, 2007.
Disponível em: <http://marioleitedebarrosfilho.blogspot.com/2012/07/tomada-de-decisao-pela-policia.html >. Acesso em
31 ago 2019.
MÓDULO 5. MOBILIZAÇÃO SOCIAL: UMA VIA DE MÃO DUPLA;
INTRODUÇÃO
5.1.ESTRATÉGIAS QUE FAVOREÇAM A PARTICIPAÇÃO E MOBILIZAÇÃO
DA COMUNIDADE.
5.1.1. A GESTÃO E AS ESTRATÉGIAS DE POLÍCIA COMUNITÁRIA
Com a adoção da Polícia Comunitária, a polícia tem saído do isolamento e entendido que a comunidade deve executar um
importante papel na solução dos problemas de segurança e no combate ao crime. Como enfatizou Robert Peel, em 1829, ao
estabelecer os princípios da polícia moderna, “os policiais são pessoas públicas que são remunerados para dar atenção integral
ao cidadão no interesse do bem-estar da comunidade”.
A polícia tem percebido que não é possível mais fingir que sozinha consegue dar conta de todos os problemas de
segurança. A comunidade precisa policiar a si mesma e a polícia pode (ou deve) ajudar e orientar esta tarefa.
A percepção de que juntas, polícia e comunidade podem somar esforços na luta contra a violência e a criminalidade tem
possibilitado o fortalecimento de algumas estratégias utilizadas no âmbito da Polícia Comunitária:
- Mobilização das Lideranças Comunitárias
- Policiamento Comunitário
- Gestão de Serviços
- Comparando a gestão de serviço na Polícia Comunitária e na Polícia tradicional
ESTAS ESTRATÉGIAS SERÃO DESCRITAS NAS PÁGINAS SEGUINTES
5.1.2. MOBILIZAÇÃO DAS LIDERANÇAS COMUNITÁRIAS
Na década de 80, nos Estados Unidos, cresceu o entendimento de que os meios formais e informais de controlar o crime e
manter a ordem eram complementares e que a polícia e a comunidade deveriam trabalhar juntas para definir estratégias de
prevenção do crime. De acordo com MOREIRA (2005), várias são as teorias sociológicas que comprovam esta abordagem. E,
por acreditar que o medo do crime favorece o aumento das taxas de crime e a decadência dos bairros, inúmeros programas de
redução do medo foram desenvolvidos através da parceria polícia-comunidade.
Estratégias para organizar a comunidade e prover uma resposta coletiva ao crime têm se tornado o alicerce da prevenção
do crime nos Estados Unidos nos últimos anos. A polícia não pode lidar sozinha com o problema do crime.
- Para construção de uma estratégia de Polícia Comunitária devem ser apontados como objetivos: a parceria, o
fortalecimento, a solução de problemas, a prestação de contas e a orientação para o cliente.
- A polícia deve trabalhar em parceria com a comunidade, com o governo, outras agências de serviço e com o sistema de
justiça criminal. A palavra de ordem deve ser “como podemos trabalhar juntos para resolver este problema?” Os membros da
comunidade devem estar envolvidos em todas as fases do planejamento do policiamento comunitário.
5.1.3. POLICIAMENTO COMUNITÁRIO
FORTALECIMENTO DA COMUNIDADE
Basicamente, existem dois tipos de fortalecimento:
- dos policiais: poder de decisão, criatividade e inovação são encorajados em todos os níveis da polícia.
- da própria comunidade: a Polícia Comunitária capacita e dá competência aos cidadãos para participar das decisões sobre o
policiamento e de outras agências de serviço, visando prover maior impacto nos problemas de segurança.
No âmbito da Polícia Comunitária, o policiamento representa um renascimento da abordagem policial pela solução de
problemas. A meta da solução de problemas é realçar a participação da comunidade através de abordagens para reduzir as taxas
de ocorrências e o medo do crime, através de planejamentos a curto, médio e longo prazos.
O policiamento comunitário encoraja a prestação de contas, as pesquisas e estratégias entre as lideranças e os executores,
a comunidade e outras agências públicas e privadas.
Uma orientação para o cliente é fundamental para que a polícia preste serviço à comunidade. Isso requer técnicas inovadoras de
solução de problemas de modo a lidar com as variadas necessidades do cidadão. Estabelecer e manter confiança mútua é o núcleo da
parceria com a comunidade. A polícia necessita da cooperação das pessoas na luta contra o crime; os cidadãos necessitam comunicar com a
polícia para transmitir informações relevantes. O processo de parceria comunitária possui três lados: a CONFIANÇA facilita um maior

Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 50


CONTATO COM A COMUNIDADE que, por sua vez, facilita a COMUNICAÇÃO que leva a uma maior CONFIANÇA e assim por
diante.

Figura 17. Confiança mútua.


As instituições policiais precisam identificar os atores sociais que atuam nas lideranças comunitárias, como
representantes das pessoas que estão enfrentando ou “sofrendo” com o(s) problema(s). Organizações públicas e privadas,
grupos de idosos, proprietários de imoveis, comerciantes, etc. São pessoas importantes para iniciar um processo de
mobilização social e, principalmente, para manter os públicos envolvidos coesos, em torno da causa social, durante as demais
fases que buscam a sua solução.
5.1.4. GESTÃO DE SERVIÇOS NA POLÍCIA COMUNITÁRIA E POLÍCIA TRADICIONAL
“Policiamento comunitário e uma filosofia e não uma tática especifica; uma abordagem pró-ativa e descentralizada, designada
para reduzir o crime, a desordem e o medo do crime através do envolvimento do mesmo policial em uma mesma comunidade em um
período prolongado de tempo”. MOREIRA Apud PEAK (1999, p.78).

É fato que não existe um programa único para descrever o policiamento comunitário, ele tem sido tentado em várias polícias ao redor do
mundo. O policiamento comunitário vai muito além que simplesmente implementar policiamento a pé, ciclopatrulha ou postos de
policiamento comunitário. Ele redefine o papel do policial na rua de “combatente” (combate ao crime), para solucionador de problemas e
ombudsman45 do bairro. Obriga uma transformação cultural da polícia, incluindo descentralização da estrutura organizacional e mudanças na
seleção, recrutamento, formação, treinamento de sistemas de recompensas, promoção e muito mais.
Além do mais, essa filosofia pede para que os policiais escapem da lógica do policiamento dirigido para ocorrências
(rádio atendimento) e busquem uma solução proativa e criativa para equacionar o crime e a desordem.
5.1.5. POLÍCIA COMUNITÁRIA E POLICIAMENTO COMUNITÁRIO:
CONCEITOS E INTERPRETAÇÕES BÁSICAS
A primeira ideia que se tem a respeito do tema Polícia Comunitária é que ela, por si só, é particularizada, pertinente a uma ou outra
organização policial que a adota, dentro de critérios peculiares de mera aproximação com a sociedade sem, contudo, obedecer a critérios
técnicos e científicos que objetivem a melhoria da qualidade de vida da população.
Qualidade de vida da população em um país de complexas carências e um tema bastante difícil de ser abordado, mas possível de ser
discutido quando a polícia busca assumir o papel de interlocutor dos anseios sociais.
É preciso deixar claro que “Polícia Comunitária” não tem o sentido de ASSISTÊNCIA POLICIAL, mas sim o de
PARTICIPAÇÃO SOCIAL.
Nessa condição entendemos que todas as forças vivas da comunidade devem assumir um papel relevante na sua própria
segurança e nos serviços ligados ao bem comum. Acreditamos ser necessária esta ressalva, para evitar a interpretação de que
estejamos pretendendo criar uma polícia ou de que pretendamos credenciar pessoas extras aos quadros da polícia como
policiais comunitários.
O policial é uma referência muito cedo internalizada entre os componentes da comunidade. A noção de medo da polícia,
erroneamente transmitida na educação e às vezes na mídia, será revertida desde que, o policial se faça perceber por sua ação
protetora e amiga.
5.1.6. O ESPÍRITO DE POLÍCIA COMUNITÁRIA QUE APREGOAMOS SE EXPRESSA DE
ACORDO COM AS SEGUINTES IDEIAS:
 A primeira imagem da POLÍCIA é formada na família;
 A POLÍCIA protetora e amiga transmitirá na família, imagem favorável que será transferida às crianças desenvolvendo-se um traço
na cultura da comunidade que aproximará as pessoas da organização policial;
 O POLICIAL, junto à comunidade, além de garantir segurança, deverá exercer função didático-pedagógica, visando a orientar na
educação e no sentido da solidariedade social;
 A orientação educacional do policial deverá objetivar o respeito à "Ordem Jurídica" e aos direitos fundamentais estabelecidos na
Constituição Federal;
 A expectativa da comunidade de ter no policial o cidadão íntegro, homem interessado na preservação do ambiente, no socorro em
calamidades públicas, nas ações de defesa civil, na proteção e orientação do trânsito, no transporte de feridos em acidentes ou vítimas de

45substantivo de dois gêneros. 1. pessoa encarregada pelo Estado de defender os direitos dos cidadãos, recebendo e investigando queixas e denúncias de abuso de poder
ou de mau serviço por parte de funcionários ou instituições públicas. 2.POR EXTENSÃO em empresas públicas ou privadas, indivíduo encarregado do estabelecimento
de um canal de comunicação entre consumidores, empregados e diretores.

Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 51


delitos, nos salvamentos e combates a incêndios;
 A participação do cidadão se dá de forma permanente, constante e motivadora, buscando melhorar a qualidade de vida. Antes, porém,
de ser apresentadas definições de Polícia Comunitária e Policiamento Comunitário vale a pena verificar os aspectos que auxiliam caracterizar
comunidade e segurança.
a) Comunidade Jorge Wilheim, diz que a segurança do indivíduo envolve:
Para não correr o risco de definições ou conceitos  Reconhecimento do seu papel na sociedade;
unilaterais, preferimos apresentar alguns traços que caracterizam  A autoestima e a autossustentação;
uma comunidade:  A clareza dos valores morais que lhe permitam distinguir
 Forte solidariedade social; o bem do mal;
 Aproximação dos homens e mulheres em frequentes  O sentimento de que não será perseguido por preconceito
relacionamentos interpessoais; racial, religioso ou de outra natureza;
 Discussão e soluções de problemas comuns;  A expectativa de que não será vítima de agressão física,
 Sentido de organização possibilitando uma vida social moral ou de seu patrimônio:
durável.  A possibilidade de viver num clima de solidariedade e de
b) Segurança esperança.
5.2. MOBILIZAÇÃO SOCIAL
Em meio a uma comunidade verificam-se dois termos de importância fundamental para que a sociedade venha
atingir os seus objetivos em prol da ordem pública e de uma convivência pacífica entre os seres humanos: a comunidade
geográfica e a comunidade de interesse.
Esses conceitos se confundiam no passado quando ambas as comunidades se misturavam para abranger a mesma
população. Este fato é extremamente relevante para o uso de “comunidade” no policiamento comunitário porque o crime, a
desordem e o medo do crime podem criar uma comunidade de interesse dentro da comunidade geográfica.
Incentivar e enfatizar esta comunidade de interesse dentro de uma área geográfica pode contribuir para que os residentes
trabalhem em parceria com o policial comunitário para criar um sentimento positivo na comunidade. ( TROJANOWICZ e
BOUCQUEROUX, 1994)
Nesta ótica a mobilização social procura então alertar as autoridades policiais da necessidade dessa aproximação.
A mobilização social é muitas vezes confundida com manifestações públicas, com a presença das pessoas em uma praça,
passeata, concentração. Mas isso não caracteriza uma mobilização. A mobilização ocorre quando um grupo de pessoas, uma
comunidade ou uma sociedade decide e age com um objetivo comum, buscando, quotidianamente, resultados decididos e
desejados por todos.
CONCEITO PROPOSTO:
Mobilizar é convocar vontades para atuar na busca de um propósito comum, sob uma
interpretação e um sentido também compartilhados.
Participar ou não de um processo de mobilização social é um ato de escolha. Por isso se diz convocar, porque a
participação é um ato de liberdade. As pessoas são chamadas, mas participar ou não é uma decisão de cada u m. Essa decisão
depende essencialmente das pessoas se verem ou não como responsáveis e como capazes de provocar e construir mudanças.
Fonte: http://www.aracati.org.br/portal/pdfs/13_Biblioteca/Publicacoes/mobilizacao_social.pdf
5.3 – ENVOLVIMENTO DOS CIDADÃOS
Qualquer tentativa de trabalho ou programa de Polícia Comunitária deve incluir necessariamente a comunidade. Embora
a primeira vista possa parecer simples, a participação da comunidade é um fator importante na democratização das questões de
segurança pública e da implementação de programas comunitários que proporcionam a melhoria de qualidade de vida e a
definição de responsabilidades.
São poucas as comunidades que mostraram serem capazes de integrar os recursos sociais com os recursos do governo.
Existem tantos problemas sociais, políticos, e econômicos envolvidos na mobilização comunitária que muitas comunidades se
conformam com soluções parciais, isoladas ou momentâneas (de caráter paliativo46), evitando mexer com aspectos mais
amplos e promover um esforço mais unificado com resultados mais duradouros e melhores. A participação do cidadão, muitas
vezes, tem-se limitado às responsabilidades de ser informado das questões públicas (ações da polícia), votar pelos
representantes em conselhos ou entidades representativas, seguir as normas institucionais ou legais sem dar sugestões de
melhoria do serviço.
Outro problema é o desconhecimento das características da comunidade local, pois uma comunidade rica tem
comportamento e anseios diferentes de uma comunidade pobre e comunidades de grandes centros urbanos são diferentes de
comunidades de pequenas cidades do interior, independente de serem ricas ou pobres agrícolas ou industriais. O que importa é
descobrir seus anseios, seu desejo de participação no processo, sua motivação para se integrar com a polícia.
Fonte: (SENASP, 2007, P. 253 e 255)
NOTA
Um exemplo bem atual é a REPAS (Rede de Promoção de Ambientes Seguros) – Guarapari/ES, sendo uma política adotada pela
unidade policial em conjunto com a Prefeitura do Município de Guarapari (ES) para implementação do “Batalhão Participativo” com o
objetivo de adotar métodos de gestão participativa operacional técnico/científicos, a partir da elaboração de um diagnóstico do ambiente

46ADJETIVO – 1.(1601) – 2.ADJETIVO. 1.(1601). 2. que ou o que tem a qualidade de acalmar, de abrandar temporariamente um mal (diz-se de
medicamento ou tratamento); anódino. "<medicamento p.> " · "<essa terapia foi apenas um p.> ". p.ext.. 3. que ou que serve para atenuar um mal ou
protelar uma crise (diz-se de meio, iniciativa etc.). "<diante do desastre ecológico, só foram tomadas medidas p.> " · "<a distribuição gratuita de alimentos foi
um p. para a situação causada pela seca> ". ORIGEM ⊙ ETIM paliado (part. de paliar) sob a f. rad. paliat- + -ivo

Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 52


interno e externo da cidade com a cooperação efetiva dos policiais.
A criação da REPAS teve esse diagnóstico como marco inicial do trabalho dos policiais militares para fazer frente às demandas tanto
da própria instituição quanto da comunidade, visto que o balneário de Guarapari era a região mais afetada pela criminalidade. Combinado
às questões internas, foi diagnosticado que muitos dos problemas da criminalidade são situações de complexidades relacionadas a gestão
pública municipal.
Nessa perspectiva, o Comando do 10º Batalhão fomentou a participação do público interno e externo na cooperação e solução dos
problemas identificados no balneário e criaram ferramentas democráticas de gestão com apoio dos parceiros: Prefeitura Municipal de
Guarapari e o site popular “Guarapari Virtual”.
O Comando do “Batalhão Participativo” realiza reuniões com diversas representações sociais e da administração pública para propor
soluções nas questões relacionadas à segurança pública e social do município. Essa rede é autossustentável, constituída por meio de
parcerias com a iniciativa privada e o poder público municipal, além da participação social de moradores, que gerou maior celeridade na
realização de ações conjuntas, promovendo o devido equilíbrio para obtenção de resultados mais satisfatórios à sociedade.
Dentre os resultados atingidos, verificou-se a diminuição dos principais crimes e elevação do sentimento de
segurança da comunidade.
5.4.ORGANIZAÇÃO COMUNITÁRIA
Espera-se que a intensificação do contato entre a polícia, a comunidade e os diversos segmentos favoreça uma melhor
integração e participação da comunidade, o reconhecimento social da atividade policial, o desenvolvimento da cidadania aos
cidadãos e a melhoria da qualidade de vida. A comunicação intensa e constante propicia a melhora das relações, amplia a
percepção policial e da comunidade no que tange as questões sociais e possibilita diminuir áreas de conflito que exigem ações
de caráter repressivo das instituições policiais.
Há, contudo, uma série de fatores a serem pesados quando se avalia o potencial democrático das diversas experiências de
organização comunitária na área de prevenção do crime e da desordem social.
Fonte: (SENASP, 2007, P. 255)
5.5. A AUTONOMIA DAS ORGANIZAÇÕES EM RELAÇÃO À POLÍCIA
Um aspecto essencial a ser considerado na avaliação das experiências de organização comunitária é o nível de autonomia
dos grupos em relação aos interesses político-partidários, de Governo (federal, estadual ou municipal) ou da polícia. Em regra,
os grupos comunitários, assumem uma postura passiva e acrítica em relação às ações de governo e da polícia, respaldando
apenas as suas práticas, mesmo quando claramente impróprias ou ilegais. É preciso respaldar as boas ações da polícia, de
interesse coletivo, de respeito aos direitos humanos, dentro da legalidade e dos valores morais e éticos. Mas deve-se criticar e
vilipendiar ações violentas, ilegítimas, que desrespeitam a dignidade humana e que fogem ao interesse coletivo,
responsabilizando o mau profissional e não a instituição como um todo.
Os representantes comunitários frequentemente temem a polícia e se ressentem da forma como esta exerce sua autoridade.
As ações comunitárias focam mais para o controle da polícia do que para o controle do crime, pois o medo é predominante.
Acredita-se que a polícia não sabe os problemas do bairro, pois só existe para “caçar bandidos”.
Uma organização comunitária que depende do apoio policial para garantir a mobilização de seus membros e viabilizar as
suas ações acaba convertendo-se em uma mera extensão civil da instituição policial, e não um instrumento efetivo de
participação comunitária.
Organizações que não dependem da polícia para a sua existência podem trazer significativos desafios para a polícia. No
pensamento institucional pode significar entraves administrativos, restringindo a sua discricionariedade; no pensamento social
amplia o controle da polícia; na filosofia de polícia comunitária amplia e aprimora as ações conjuntas, tanto da polícia como da
sociedade.
Fonte: (SENASP, 2007, P. 219 e 220)
5.6. FATORES INTERVENIENTES
Na aproximação da polícia com a comunidade, verificam-se perigos que necessitam ser debelados, conforme abaixo:
· O planejamento equivocado e sem orientação culminando no surgimento de alternativas econômicas: segurança privada,
sistema de comunicações entre cidadãos de posse (paralelo a polícia);
· Membros das comunidades expostos a marginalidade, colocando em risco suas vidas porque são interlocutores dos
problemas locais;
· A polícia determina tarefas para dissuadir ações participativas sem nenhum resultado prático;
· As campanhas têm um forte conteúdo político em detrimento da prevenção porque é apoiado por um político ou
comerciante;
· Como o apoio governamental é pouco, apenas pequenas ações fazem surgir lideranças com perfil político e eleitoral,
deturpando o processo;
· A instrumentalização de pequenas tarefas pode causar apatia da comunidade, favorecendo os marginais da área e grupos
de interesse que desejam o insucesso de ações coletivas no bairro;
· A polícia não consegue mais atuar na área sem críticas da comunidade.
O certo é procurar os caminhos que abaixo se apresentam:
· Promover uma ampla participação da comunidade, discutindo e sugerindo soluções dos problemas;
· Demonstrar a participação da comunidade nas questões, determinando o que é da polícia e o que é da sociedade;
· Proteger os reais parceiros da polícia, não os utilizando para ações de risco de vida (não expondo) com ações que são da
polícia ou demonstrando eventualmente que eles são informantes;
· As ações de autoajuda são acompanhadas por policiais. As iniciativas locais são apoiadas. Trabalhos preventivos, não
apenas campanhas devem ser estimuladas.
Fonte: (SENASP, 2007, P. 224 e 225)

Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 53


MÓDULO 6. GESTÃO PELA QUALIDADE APLICADA AO POLICIAMENTO DE
PROXIMIDADE;
PLANEJAMENTO:
GESTÃO PELA QUALIDADE EM SEGURANÇA PÚBLICA
É possível até se discutir o que é qualidade, mas não se pode negar que os princípios da gestão pela qualidade, utilizados
com êxito na administração de empresas públicas e privadas, auxiliam muito no planejamento, no acompanhamento e na
avaliação de produtos e serviços. Estes princípios aplicados à Segurança Pública, principalmente na Polícia Comunitária,
contribuirão para a melhoria da prestação do serviço à comunidade.
ESTRATÉGIAS INSTITUCIONAIS PARA O POLICIAMENTO
DISCUTINDO ESTRATÉGIA
Por isso, é de fundamental importância elaborar metas e quantificar cada objetivo, atribuir valores (custos), estabelecer
prazos (tempo) e definir responsabilidades. A estratégia também orienta a maneira como a instituição irá se relacionar com seus
funcionários, seus parceiros e seus clientes. Uma estratégia é definida quando um executivo descobre a melhor forma de usar
sua instituição para enfrentar os desafios ou para explorar as oportunidades do meio.
Como observa FREITAS (2003), gerenciar a rotina é garantir meios para que o nível operacional atinja resultados,
esperados, de produtividade e qualidade pelo nível institucional. Geralmente, as empresas modernas (ou pós-modernas),
utilizam o sistema de gestão para atingir metas. Este processo de gerência envolve os três níveis de uma
instituição/organização:
- Nível Institucional – Responsável pela formulação de estratégias e metas anuais para a instituição ou empresa.
É o nível mais elevado da organização. É constituído pela alta administração que tomam as principais decisões da organização. O nível
institucional por ser  o nível mais alto da organização, recebe o impacto das mudanças e pressões ambientais. Nesse nível, o administrador
deve possuir uma visão estratégica, para definir a missão e os objetivos fundamentais do negócio;
- Nível Tático – Responsável por desdobrar estas metas em diretrizes e normas.
É o nível administrativo que intermedia o nível institucional e o nível operacional da organização. É o nível composto pelos gerentes,
que cuidam das operações táticas da organização. ; e
- Nível Operacional – Responsável por atingir as metas.
É o nível administrativo que se encontra na base inferior da organização e é composta que executa as tarefas designadas pelo alto
escalão..

Tabela 1: Níveis de atuação. Fonte: Chiavenatto - Administração dos Novos Tempos - PPs para os Professores -
Site http://www.chiavenato.com/
Observe o diagrama a seguir para compreender melhor:

Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 54


Figura 18. O Sistema de Gestão para atingir metas.
PRINCIPAIS ESTRATÉGIAS DE POLICIAMENTO
De acordo com MOREIRA (2005), os policiais brasileiros que ocupam cargos executivos não costumam considerar as diferentes
estratégias institucionais para o policiamento. Uma grande parcela prefere repetir aquilo que aprendeu nas academias, com seus professores
policiais, sem considerar outros modelos policiais. Entretanto, na tentativa de atingir os objetivos organizacionais, alcançar uma legitimação
e apoio das comunidades acumulou–se, nos últimos 50 anos, diversas experiências policiais.
Estas experiências podem ser divididas em quatro grandes grupos:
- Combate profissional do crime ou policiamento tradicional;
- Policiamento estratégico;
- Policiamento Orientado para o Problema; e
- Polícia Comunitária.
Uma estratégia de policiamento orienta, entre outras coisas, os objetivos da polícia, seu foco de atuação, como se
relaciona com a comunidade e principais táticas.
Exemplos de estratégias:
Combate profissional do crime e policiamento estratégico têm como objetivo principal o controle do crime, pelo esforço em baixar
as taxas de crime;
Policiamento Orientado para o Problema e a “Polícia Comunitária” enfatizam a manutenção da ordem e a redução do medo
dentro de um enfoque mais preventivo.
Enquanto o policiamento tradicional mantém certo distanciamento da comunidade (os policiais é que são especialistas), a
Polícia Comunitária defende um relacionamento mais estreito com a comunidade como uma maneira de controlar o crime,
reduzir o medo e garantir uma melhor qualidade de vida.
AS CARACTERÍSTICAS DAS QUATRO ESTRATÉGIAS DE POLICIAMENTO
Veja: https://jus.com.br/artigos/28125/policiamento-comunitario-a-transicao-da-policia-tradicional-para-policia-
cidada

- Combate Profissional do Crime ou Policiamento Tradicional


A estratégia administrativa que orientou mundialmente o policiamento a partir de 1950 e, no Brasil, ainda orienta a maioria das polícias,
de todas as unidades federativas, é sintetizada pela frase, que nomeia esta estratégia: “combate profissional do crime”.
Ela tem como principais características:
- Foco direto sobre o controle do crime como sendo a missão central da polícia , e só da polícia;
- Unidades centralizadas e definidas mais pela função (valorização das atividades especializadas), do que geograficamente (definição de
um território de atuação para cada um dos policiais) 47; e
- Altos investimentos (orçamentários e de pessoal) em tecnologia e em treinamento.
O objetivo da estratégia de combate profissional do crime é criar uma força de combate do tipo militar, disciplinada e tecnicamente
sofisticada. Os principais objetivos desta estratégia é o controle da criminalidade e a resolução de crimes.
- As principais tecnologias operacionais dessa estratégia incluem a utilização de patrulhas motorizadas, de preferência com automóveis,
suplementadas com rádio, atuando de modo a criar uma sensação de onipresença e respondendo rapidamente aos chamados, principalmente
aqueles originados pelo telefone 190 ou 911 – no exterior.
- Os valores que dirigem o combate ao crime englobam o controle do crime como objetivo importante, investimentos no treinamento
policial, aumento do status e da autonomia da polícia e a eliminação da truculência policial.
A limitação deste modelo em controlar a criminalidade é um dos seus pontos fracos; um outro é o caráter reativo da ação da polícia, que
só atua quando é chamada, acionada.
As táticas utilizadas normalmente falham na prevenção dos crimes, ou seja, não os impedem de acontecer.
Praticamente não há análise das causas do crime e existe um grande distanciamento entre a polícia e a comunidade. Na verdade, o
distanciamento é incentivado, pois “quem entende de policiamento é a polícia”. O isolamento é uma tentativa institucional de evitar a

47 O Prof. Theodomiro Dias Neto, no livro “Policiamento Comunitário e Controle sobre a Polícia” (2006:11), explica com riqueza de detalhes este momento histórico
que centraliza as estruturas internas policiais de comando e controle.

Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 55


corrupção.

− Policiamento Estratégico
O conceito de policiamento estratégico tenta resolver os pontos fracos do policiamento profissional de combate ao crime,
acrescentando reflexão e energia à missão básica de controle do crime.
O objetivo básico da polícia permanece o mesmo que é o controle efetivo do crime. O estilo administrativo continua
centralizado e, através de pesquisas e estudos, a patrulha nas ruas é direcionada, melhorando a forma de emprego.
O policiamento estratégico reconhece que a comunidade pode ser um importante instrumento de auxílio para a polícia e enfatiza uma
maior capacidade para lidar com os crimes que não estão bem controlados pelo modelo tradicional.
A comunidade é vista como meio auxiliar importante para a polícia, mas a iniciativa de agir continua centralizada na polícia, que é
quem entende de Segurança Pública.
Os crimes cometidos por delinquentes individuais sofisticados (crimes em série, por exemplo) e os delitos praticados por associações
criminosas (crime organizado, redes de distribuição de drogas (narcotráfico), crimes virtuais de pedofilia, gangues, xenofobia, torcedores
de futebol violentos – como os hooligans, etc.) recebem ênfase especial.
O policiamento estratégico carece de uma alta capacidade investigativa. Para esse fim são incrementadas unidades especializadas de
investigação.

− Policiamento orientado para o problema (Era de resolução de problemas com a comunidade)


O policiamento para (re)solução de problemas, também conhecido com o policiamento orientado para o problema (POP),é uma
estratégia que tem como objetivo principal melhorar o policiamento profissional, acrescentando reflexão e prevenção criminal.
Para diversos autores “[...] o policiamento orientado para a solução de problemas conota mais do que uma orientação e o empenho em
uma tarefa particular. Ele implica em um programa, com sugestões sobre o que a polícia precisa fazer”, segundo Skolnik; Bayley (2002,
p.39).

O POP pressupõe que os crimes podem estar sendo causados por problemas específicos e talvez contínuos na mesma localidade.
Conclui-se que o crime pode ser minimizado (ou até mesmo extinto) através de ações preventivas, para evitar que seja rompida a ordem
pública. Essa estratégia determina o aumento das tarefas da polícia ao reagir contra o crime na sua causa, muito além do patrulhamento
preventivo, investigação ou ações repressivas.

− Policiamento Comunitário (Era de resolução de problemas com a comunidade)


A estratégia de policiamento comunitário vai, ainda, mais longe nos esforços para melhorar a capacidade da polícia. O policiamento
comunitário, que é a atividade prática da filosofia de trabalho da polícia comunitária, enfatiza a criação de uma parceria eficaz e eficiente
entre a comunidade e a polícia.
O policiamento comunitário tem a necessidade de deixar a comunidade nomear seus problemas e buscar solucioná-los em parceria com
a polícia. As instituições, como a família, a escola, a igreja, as associações de bairro e os grupos de comerciantes, são considerados parceiros
imprescindíveis da polícia para a criação de um grupo coeso de colaboradores. O êxito da polícia está não somente em sua capacidade de
combater o crime, mas na habilidade de criar e desenvolver comunidades competentes para solucionar os seus próprios problemas.
A polícia comunitária como filosofia muda os fins, os meios, o estilo administrativo e o relacionamento da polícia com a comunidade.
O objetivo finalístico é para além do combate ao crime, pois permite a inclusão da redução do medo do crime, da manutenção da ordem e
de alguns tipos de serviços sociais de emergência.
Os meios englobam toda a sabedoria acumulada pela resolução de problemas (método IARA).
O estilo administrativo muda de concentrado para desconcentrado, de policiais especialistas para generalistas.
O papel da comunidade evolui de meramente informar ou alertar a polícia, para participante do controle do crime e na criação de
comunidades ordeiras.
Conforme MOREIRA (2004), as bases filosóficas complementam-se. Cada uma enfatiza busca superar o modelo policial
pré-existente, observe o diagrama abaixo:
ESTRATÉGIAS DO POLICIAMENTO MODERNO

Figura 19. Fonte: MOREIRA, Cícero Nunes. Apostila da disciplina de Polícia Comunitária para o curso de
Formação de Oficiais. Mimeo. Academia de Polícia Militar, Polícia Militar de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2005.
A GESTÃO E AS ESTRATÉGIAS (MODELOS) DE POLÍCIA
Polícia Comunitária não é uma experiência do futuro, algo reservado para o final do século XXI. Os países modernos de
tradição democrática, inclusive de cultura oriental, que ainda não adotaram, estão em processo de mudança.
“Polícia Comunitária é, em essência, uma colaboração entre a polícia e a comunidade para identificar e solucionar
problemas comunitários”.
Atualmente, na maioria das instituições policiais, Polícia Comunitária não tem sido tratada de modo separado do
Policiamento Orientado para o Problema. Como foi mencionada, a solução de problemas tem se constituído em uma excelente
ferramenta, metodologia de trabalho, para a prática do policiamento comunitário.
Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 56
Com a adoção da Polícia Comunitária, a polícia tem saído do isolamento e entendido que a comunidade deve executar um
importante papel na solução dos problemas de segurança e no combate ao crime. Como enfatizou Robert Peel em 1829, ao
estabelecer os princípios da polícia moderna, “os policiais são pessoas públicas que são remunerados para dar atenção integral
ao cidadão no interesse do bem estar da comunidade”.
A polícia tem percebido que não é possível mais fingir que sozinha consegue dar conta de todos os problemas de
segurança. A comunidade precisa policiar a si mesma e a polícia pode (ou deve) ajudar e orientar esta tarefa.
CONSTRUIR PARCERIAS E MOBILIZAR AS LIDERANÇAS COMUNITÁRIAS
Na década de 80 nos Estados Unidos cresceu o entendimento de que os meios formais e informais de controlar o crime e
manter a ordem eram complementares e que a polícia e a comunidade deveriam trabalhar juntas para definir estratégias de
prevenção do crime, várias são as teorias sociológicas que comprovam esta abordagem, conforme MOREIRA (2005).
Da mesma forma, por acreditar que o medo do crime favorece o aumento das taxas de crime e a decadência dos bairros,
inúmeros programas de redução do medo foram desenvolvidos através da parceria políciacomunidade.
Estratégias para organizar a comunidade e prover uma resposta coletiva ao crime têm se tornado o alicerce da prevenção
do crime nos Estados Unidos nos últimos anos. A polícia não pode lidar, sozinha, com o problema do crime.
Para construção de uma estratégia de Polícia Comunitária devem ser buscados como objetivos a parceria, fortalecimento,
solução de problemas, prestação de contas e orientação para o cliente.
A polícia deve trabalhar em parceria com a comunidade, com o governo, outras agências de serviço e com o sistema de
justiça criminal. A palavra de ordem deve ser “como podemos trabalhar juntos para resolver este problema?” Os membros da
comunidade devem estar envolvidos em todas as fases do planejamento do policiamento comunitário.
Basicamente, existem dois tipos de fortalecimento - dos policiais e da própria comunidade. O policiamento comunitário
capacita (dá competência) aos cidadãos para participar das decisões sobre o policiamento e de outras agências de serviço para
prover maior impacto nos problemas de segurança. Poder de decisão, criatividade e inovação são encorajados em todos os
níveis da polícia.
Policiamento comunitário representa um renascimento da abordagem de policiamento pela solução de problemas. A meta
da solução de problemas é realçar a participação da comunidade através de abordagens para reduzir as taxas de ocorrências e o
medo do crime, através de planejamentos a curto, médio e longo prazo.
O policiamento comunitário encoraja a prestação de contas, pesquisas e estratégias entre as lideranças e os executores, a
comunidade e outras agências públicas e privadas.
Uma orientação para o cliente é fundamental para que a polícia preste serviço à comunidade. Isso requer técnicas
inovadoras de solução de problemas de modo a lidar com as variadas necessidades do cidadão.
Estabelecer e manter confiança mútua é o núcleo da parceria com a comunidade. A polícia necessita da cooperação das
pessoas na luta contra o crime; os cidadãos necessitam comunicar com a polícia para transmitir informações relevantes. O
processo de parceria comunitária possui três lados: CONFIANÇA facilita um maior CONTATO COM A COMUNIDADE
que, por sua vez, facilita a COMUNICAÇÃO que leva a uma maior CONFIANÇA e assim por diante.
Por isso, as instituições policiais precisam identificar os atores sociais que atuam nas lideranças comunitárias, como
representantes das pessoas que estão enfrentando, “ ou sofrendo”, com o(s) problema(s).
Organizações públicas e privadas, grupos de pessoas (idosos, proprietários de imóveis, comerciantes, etc.) são pessoas
importantes para iniciar um processo de mobilização social, e principalmente manter os públicos envolvidos coesos, em torno
da causa social, durante as demais fases que buscam a sua solução.
GESTÃO DE SERVIÇOS NA POLÍCIA COMUNITÁRIA E POLÍCIA TRADICIONAL
Policiamento comunitário é uma filosofia e não uma tática específica; uma abordagem pró-ativa e descentralizada,
designada para reduzir o crime, a desordem e o medo do crime através do envolvimento do mesmo policial em uma mesma
comunidade em um período prolongado de tempo. (MOREIRA, 2005 apud PEAK, 1999, p. 78).
É fato que não existe um programa único para descrever o policiamento comunitário, ele tem sido tentado em várias
polícias ao redor do mundo.
O policiamento comunitário vai muito além que simplesmente implementar policiamento a pé, ciclopatrulha ou postos de
policiamento comunitário. Ele redefine o papel do policial na rua de “combatente” (combate ao crime), para solucionador de
problemas e ombudsman48 do bairro. Obriga uma transformação cultural da polícia, incluindo descentralização da estrutura
organizacional e mudanças na seleção, recrutamento, formação, treinamento, sistemas de recompensas, promoção e muito
mais.
Além do mais, essa filosofia pede para que os policiais escapem da lógica do policiamento dirigido para ocorrências
(rádio atendimento) e busquem uma solução proativa e criativa para equacionar o crime e a desordem.
Observe como que o diagrama 5W2H pode ajudar na gerencia do serviço policial. Esta metodologia, também conhecida
nos países de língua portuguesa como 4Q1POC (após a tradução), é muito utilizada na administração de empresas para
gerenciar um Plano de Ação para elaborar um serviço ou produto.
DIAGRAMA 5W2H ou 4Q1POC – GERENCIA DE UM PLANO DE AÇÃO

48 Ombudsman. /ombyds'man/ SUECO substantivo de dois gêneros


1. pessoa encarregada pelo Estado de defender os direitos dos cidadãos, recebendo e investigando queixas e denúncias de abuso de poder ou de mau serviço por parte
de funcionários ou instituições públicas.2. POR EXTENSÃOem empresas públicas ou privadas, indivíduo encarregado do estabelecimento de um canal de
comunicação entre consumidores, empregados e diretores.

Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 57


Tabela 2: Diagrama 4Q1POC ou 5W2H

Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 58


Em seguida apresentamos um diagrama, adaptado de MOREIRA (2005) apud PEAK (1999, p. 80), para compreender
(e comparar) o modelo de Polícia Tradicional e a Polícia Comunitária.
Em oposição ao trabalho de um policial tradicional, que faz patrulhamento e prende bandidos, um dia de trabalho de um
policial comunitário, além das tarefas do policial tradicional, inclui outras, como por exemplo: trabalhar em postos comunitários,
participar de encontros com grupos da comunidade, analisar e resolver problemas do bairro, realizar pesquisas e entrevistas
pessoais, encontrar com lideranças locais, verificar a segurança das residências e comércios locais, lidar com desordeiros, entre
outras.

Tabela 3: Diagrama 4Q1POC


MÉTODO I.A.R.A. (S.A.R.A)
Solucionar problemas no policiamento não é uma coisa nova. A diferença é que o policiamento orientado para o problema
(POP) apresenta uma nova ferramenta para que se trabalhem as causas do problema, que geralmente é utilizada no
policiamento comunitário.
A solução de problemas pode ser parte da rotina de trabalho policial e seu emprego regular pode contribuir para a redução
ou solução dos crimes.
MÉTODO IARA (IGOR ARAÚJO BARROS DE MORAIS49 E THIAGO AUGUSTO
VIEIRA50)
Na resolução de problemas repetitivos de segurança, com base no POSP, a polícia deve utilizar a seguinte metodologia: identificar e
especificar os problemas, analisar para descobrir as causas desses problemas, responder baseada nos dados analisados para eliminar as
causas geradoras dos problemas e avaliar o sucesso de todo esse processo (CLARKE; ECK, 2013).
As mencionadas etapas de identificar, analisar, responder e avaliar foram sintetizadas na sigla Iara, traduzida da sigla inglesa SARA,
criada por John Eck e Bill Spelman para descrever as quatro fases de solução de problemas correspondentes no inglês: scanning, analysis,
response e assessment (CLARKE; ECK, 2013).
Este método foi desenvolvido por policiais e pesquisadores no projeto Newport News, na década de 1970 nos EUA, modelo de solução
de problemas que pode ser utilizado para lidar com o problema do crime e da desordem. Como resultado desse projeto surgiu o método
SARA, que traduzido para a língua portuguesa é denominado IARA.

49 Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN. Especialista em Gestão da Segurança Pública pela Faculdade Barddal.
Aspirante a oficial da Polícia Militar de Santa Catarina.
igor4444@gmail.com

50 Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. Bacharel em Segurança Pública pela Universidade do Vale do Itajaí. Especialista em
Ciências Penais pela Universidade Anhanguera. Capitão da Polícia Militar de Santa Catarina. thiagoaugusto.vieira@gmail.com

Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 59


Etapa Português Ingles
1ª FASE IDENTIFICAÇÃO SCANNING
2ª FASE ANÁLISE ANALYSIS
3ª FASE RESPOSTA RESPONSE
4ª FASE AVALIAÇÃO ASSESSMENT

É Importante ressaltar que existem diversas variações desta metodologia, detalhando ainda mais cada uma das fases. O
método IARA é de simples compreensão para os líderes comunitários e para os policiais que atuam na atividade-fim, e não
compromete a eficiência e eficácia do serviço apresentada pelo POP, assim como não contradiz outros métodos, por isso, neste
texto resolvemos adotá-la como referência. Observe como que o processo PDCA (muito utilizado na administração de
empresas), assemelha-se com o próprio método IARA, utilizado no policiamento orientado para o problema (POP).Como
primeiro passo, o policial deve identificar os problemas em sua área e procurar por um padrão ou ocorrência persistente e
repetitiva. A questão que pode ser formulada é: O QUE É O PROBLEMA?
Para GOLDSTEIN (2001) um problema no policiamento comunitário pode ser definido como “um grupo de duas ou mais ocorrências
(cluster51 de incidentes) que são similares em um ou mais aspectos (procedimentos, localização, pessoas e tempo), que causa danos e, além
disso, é uma preocupação para a polícia e principalmente para a comunidade.”
CERQUEIRA (2001), conceitua que problema (no contexto de Polícia Comunitária), “é qualquer situação que cause alarme, dano
ameaça ou medo, ou que possa evoluir para um distúrbio na comunidade”
As ocorrências podem ser similares em vários aspectos, incluindo:
- Comportamento (este é o indicador mais comum e inclui atividades como: venda de drogas, roubos, furto, pichação e outros);
- Localização (problemas ocorrem em Zonas Quentes de Criminalidade, tais como: centro da cidade, parques onde gangues cometem
crimes, complexos residenciais infestados por assaltantes, etc.);
- Pessoas (pode incluir criminosos reincidentes ou vítimas);
- Tempo (sazonal, dia da semana, hora do dia; exemplos incluem congestionamento de trânsito, proximidade de bares, atividades de
turismo, etc.);
- Eventos (crimes podem aumentar durante alguns eventos, como por exemplo, carnaval, shows, etc.).
Parece não haver limite para os tipos de problemas que um policial pode enfrentar e existem vários tipos de problemas em que se pode

51Um cluster (do inglês TESTE: '‘grupo, aglomerado’) consiste em computadores fracamente ou fortemente ligados que trabalham em conjunto, de modo que, em
muitos aspectos, podem ser considerados como um único sistema. Diferentemente dos computadores em grade, computadores em cluster têm cada conjunto de nós,
para executar a mesma tarefa, controlado e programado por software.

Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 60


utilizar o modelo de solução de problemas: uma série de roubos em uma determinada localidade; venda de drogas, alcoolismo e desordem
em local público; roubo e furto de carros; vadiagem; alarmes disparando em áreas comerciais; problemas de tráfego e estacionamento;
pichação; prostituição de rua; altas taxas de crime; chamadas repetidas em razão de agressões em determinado endereço; entre outros.
Atenção!
“Os cidadãos se preocupam com problemas relacionados com o crime, porém muitas vezes os problemas relacionados a qualidade de
vida podem ser mais importantes para seus níveis de conforto diário...” (Kelly, 1997)
Importante!
Se o incidente com que a polícia está lidando não se encaixa dentro da definição de problema, então o modelo de solução de problemas
não deve ser aplicado e a questão deve ser tratada da maneira tradicional.
Fonte: SENASP
IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA
Para iniciar o método Iara, é necessário definir o que é um problema. No contexto do Posp, um problema corresponde a
um grupo de incidentes similares em tempo, modo, lugar e pessoas, relacionados à segurança pública. Além disso, um
problema deve ser uma preocupação substancial tanto para a comunidade quanto para a polícia. Assim, tanto polícia como
comunidade devem participar juntos e ter paridade no processo de identificação do problema (TASCA, 2010). É importante
também nesta etapa a participação da comunidade. Segundo Marcineiro (2009, p. 119), dar qualidade ao serviço policial
significa torná-lo mais próximo e acessível ao cidadão respeitando-lhe as necessidades e desejo e considerando as díspares
peculiaridade de cada comunidade no planejamento oferta do serviço policial
Além disso, segundo o autor,

Outro aspecto que deve ser levado em conta na identificação do problema é a necessidade de se eliminar o ‘ achismo’, ou seja,
deve-se trabalhar com atos concretos e dados coletados em fontes de informações confiáveis. A experiência pessoal de cada um
que participa na identificação do problema é importante, porém, para se evitar desperdício de tempo e recursos na busca
de soluções por um problema erroneamente identificado ou pouco importante no contexto geral, deve-se procurar, sempre que
possível, comprovar a experiência pessoal através de dados estatísticos (Marcineiro, 2009, p. 180).

No tocante à contribuição da polícia, destaca-se o papel da inteligência de segurança pública como condição primordial
à identificação dos problemas e suas respectivas causas. Por isso, a inteligência de segurança pública deve ser desenvolvida e
aperfeiçoada constantemente com a integração de diversas bases de dados e não apenas com dados de instituições de
segurança pública, uma vez que órgãos, como secretarias de saúde e educação, podem fornecer informações bastante valiosas
à polícia. Nesse cenário, é interessante a utilização de tecnologias cada vez mais avançadas de análise criminal no auxílio à
inteligência de segurança pública (SANTA CATARINA, 2011).
Entretanto, segundo ROLIM (2009, p. 41), infelizmente, muitas vezes só se obtêm: dados compilados partir dos registros de
ocorrência, o que assimila, inequivocamente, uma maneira ultrapassada de se lidar com indicadores de criminalidade e violência.
Não por outra razão, o rol de indicadores de problemas deve ser amplo e diversificado. Do lado policial devem ser considerados os
órgãos da segurança pública no geral (policiais militares, policiais civis e bombeiros); do lado da comunidade devem participar, além de
moradores, empresários e lideranças locais representantes de outras instituições públicas e privadas. Todos devem participar e conjunto
para dar legitimidade ao processo (BRASIL, 2009).
Cabe salientar que, ao se isolar um determinado tipo de problema, há maior facilidade de resolvê-lo, e é necessário considerar ainda
que um pequeno grupo de problemas se mostra responsável por um número considerável de ocorrências policiais. Segundo dados
trazidos por ROLIM (2009, p. 139) de pesquisa realizada nos ESTADOS UNIDOS cerca de 10% das vítimas estão envolvidas em 40%
dos crimes; 10% dos agressores estão envolvidos em 50% dos crimes; e 10% dos lugares formam o ambiente para cerca de 60% das
ocorrências infracionais.
Acredita-se que a realidade seja semelhante no Brasil, seguindo o que se chama de Princípio de Pareto52, de acordo com o qual,
geralmente, um pequeno número de causas (20%) é responsável por uma grande proporção de resultados (80%) (TASCA, 2010).

ANÁLISE DO PROBLEMA
A fase de análise do problema corresponde ao coração do método IARA. Nesta fase, buscam-se as raízes dos problemas
para, assim, conseguir atacar suas causas e não apena combater os efeitos dos problemas (HIPÓLITO, TASCA, 2012).
Tentando analisar a gênese do crime, as teorias de criminologia se concentram em fatores sociais. Simulam causas em
fatores longínquos, como as práticas de educação de crianças, componentes genéticos e processos psicológicos ou sociais.
Essas constituem teorias difíceis de validação prática e focam em políticas públicas incertas que estão fora do alcance da
polícia (CLARKE; ECK, 2013).
Ao contrário da criminologia tradicional, as teorias e os conceitos da ciência do crime são muito mais úteis no trabalho
diário da polícia, pois segundo Clarke e Eck (2013, p. 38), “lidam com as causas situacionais imediatas dos eventos criminais,
incluindo tentações e oportunidades e proteção insuficiente dos alvos”.
Para esta fase é importante o conhecimento do triângulo de análise de problema (também conhecido como o triângulo do crime),
originado da teoria da atividade rotineira. Essa teoria, formulada por Lawrence Cohen e Marcus Felson, diz que o crime ocorre quando
um potencial infrator encontra-se com um potencial alvo (para aquele tipo de infrator) no mesmo tempo e lugar, sem a presença de um
guardião eficaz. Essa formulação forma o tripé da análise de problema representada por infrator, alvo e local (CLARKE; ECK, 2013).

52 O princípio de Pareto (também conhecido como regra do 80/20, lei dos poucos vitais ou princípio de escassez do fator afirma que, para muitos eventos,
aproximadamente 80% dos efeitos vêm de 20% das causas. 

Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 61


RESPOSTAS ÀS CAUSAS DO PROBLEMA
Após a identificação clara e análise detalhada do problema, a polícia
enfrenta o desafio de procurar o meio mais efetivo de lidar com ele,
desenvolver ações adequadas com baixo custo e o máximo de benefício. Para
isso, a polícia deve evitar a tentação de respostas prematuras não
fundamentadas nas fases anteriores do método Iara (BRASIL, 2009).
Deve haver um equilíbrio nas respostas com a utilização de táticas
tradicionais e não tradicionais. Normalmente as primeiras estão relacionadas
às atividades básicas de policiamento e sozinhas dificilmente proporcionam
soluções duradouras para os problemas (por exemplo, prisões, intimações e
policiamento fixo no local), ao passo que as táticas não tradicionais ligam-se
às ações comunitárias (como organização da comunidade, educação da
população, alteração do contexto físico, mudanças no contexto social e da
sequência de eventos, alteração do comportamento das vítimas) (BRASIL,
2009; HIPÓLITO; TASCA, 2012).
Figura 20: Triângulo do crime
Frisa-se que essas respostas não são limitadas aos esforços para identificar, prender e oficialmente acusar e julgar
infratores. Expande- se, sem abandonar o uso do direito penal. O policiamento orientado à solução de problemas procura
descobrir outras respostas potencialmente efetivas (que podem exigir parcerias), dando grande prioridade à prevenção
(CLARKE; ECK, 2013).
AVALIAÇÃO DO PROCESSO
Nesta etapa, os policiais avaliam a efetividade das respostas aplicadas na fase anterior. A avaliação é chave para o método
Iara, pois se as respostas implementadas não são efetivas, as informações reunidas durante a etapa de análise devem ser
revisitadas e novas hipóteses de respostas devem ser formuladas (BRASIL, 2009).
Esta fase serve também para exportar programas que funcionaram em determinados locais para serem aplicados em outras
localidades cujos resultados de identificação e análise do problema sejam semelhantes. Nesse sentido, em 1977, o Tesouro
britânico iniciou uma política de controle e eficiência nos gastos em segurança pública condicionando o repasse de
verbas à demonstração de capacidade de reduzir o crime. Por isso, investiu-se em uma grande revisão dos estudos disponíveis
nos EUA, no Reino Unido e na Holanda. Assim, foi possível identificar programas que, de fato, funcionavam. Demonstrou-se
que os projetos mais eficazes na redução do crime, sem aumentar o efetivo policial, utilizavam-se da abordagem de POSP e
firmavam fortes parcerias com as comunidades (ROLIM, 2009).

As comunidades e as polícias devem compartilha as experiências bem-sucedidas de prevenção ao crime; aquelas que geram
efetiva segurança a curto e a longo prazo. Devem compartilhar as ideias específicas de como resolver problemas de vizinhança.
Ao destacar os programas que foram desenvolvidos, espera-se que esta informação sirva como um catalisador para desenvolver
maneiras eficazes de impedir o crime e aumentar a participação das comunidades nestes esforços (DALMARCO, 2004, p. 22).

Segundo Skonieczny (2009), outro fator importante nesta fase é conhecer o impacto das medidas policiais sobre a
população.
53
CICLO PDCA - UNISUL

Figura 21. O Ciclo PDCA. Disponível em: <http://pergamum.unisul.br/pergamum/pdf/restrito/000003/0000036.pdf> Acesso em 12


de ago de 2018.

O CICLO PDCA
Entendendo a sigla: o nome PDCA é composto pelas primeiras letras dos verbos em inglês Plan (que significa planejar),
Do (que significa fazer, executar), Check (que significa checar, conferir) e Action, Act (que significa agir, no caso, agir
corretivamente). Esses verbos são a sequência do método PDCA. O ciclo PDCA é um método gerencial de tomada de decisões
para garantir o alcance das metas necessárias à sobrevivência de uma organização. Pelo ciclo PDCA consegue-se estabelecer
uma estratégia de melhoria contínua, que ao longo do tempo trará vantagens substanciais para a organização. Esse método visa a
controlar e atingir resultados eficazes e confiáveis nas atividades de uma organização.

53 PACHECO. Giovanni Cardoso e Marcineiro, Nazareno Polícia Comunitária e Segurança Pública. Tópicos Emergentes em Segurança Pública III.
UnisulVirtual. Palhoça, 2013

Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 62


As etapas que compõem o ciclo PDCA
Plan – Planejamento Etapa onde se compara o resultado alcançado com a meta
Consiste no estabelecimento de metas e do método para planejada, considerando-se os pontos a seguir:
alcançar essas metas. Três pontos importantes devem ser • Verificar se o trabalho está sendo realizado conforme o
considerados: padrão;
• Estabelecer os objetivos sobre os itens de controle • Verificar se os resultados medidos variam e comparar com
• Definir o caminho para atingi-los o padrão;
• Decidir quais os métodos a serem usados para atingir os • Verificar se os itens de controle correspondem com as
objetivos metas.
Do - Execução Action - Atuação Corretiva
Compreende a execução das tarefas previstas na etapa Consiste em atuar no processo de função dos resultados
anterior e na coleta dos dados a serem utilizados na próxima etapa. obtidos, verificando os três passos a seguir:
Deve-se considerar também três pontos importantes: • Se o trabalho desviar do padrão, tomar ações para corrigi-
• Treinar no trabalho o método a ser empregado; lo;
• Executar o método; • Se um resultado estiver fora do padrão, investigar as
• Coletar os dados para verificação do processo. causas e tomar ações para prevenir e corrigi-lo;
Check – Controle • Melhorar o sistema de trabalho e método

MASP (QC STORY)


O Método de Análise e Solução de Problemas (MASP), também chamado pelos japoneses de QC54 STORY, é peça
fundamental para a melhoria na produção de bens ou prestação de serviços. A vasta maioria das decisões que são tomadas nas empresas, sejam
elas de cunho estratégico, tático ou operacional, são baseadas no bom-senso, experiência, feeling etc. Vale ressaltar que qualquer decisão
gerencial, em qualquer nível, deve ser conduzida para solucionar um problema (resultado indesejável de uma atividade). Se isso for entendido,
fica claro que qualquer decisão gerencial deve ser precedida de uma análise da atividade, conduzida de maneira sistemática e sequencial pelo
Método de Análise e Solução de Problemas.

As empresas possuem problemas que as privam de obter melhor produtividade e qualidade de seus produtos, além de prejudicar
sua posição competitiva. Nós temos a tendência de achar que sabemos a solução desses problemas somente baseados na
experiência ou naquilo que julgamos ser o conhecimento certo. No entanto, o verdadeiro expert é aquele que alimenta seu
conhecimento e experiência com fatos e dados, dessa maneira, assegura-se de usar esse conhecimento, experiência e,
principalmente, o seu tempo na direção correta. (CAMPOS, 1992, p.208).

O MASP É UMA SEQUÊNCIA DE PROCEDIMENTOS LÓGICOS, BASEADA EM FATOS E


DADOS, QUE OBJETIVA:
1. localizar a causa fundamental dos problemas;
2. mapear as soluções possíveis;
3. implantar as soluções;
4. avaliar os resultados das mudanças ocorridas com a implantação;
5. padronização (no caso da mudança ter sido efetiva) ou a revisão das ações (caso a mudança não tenha surtido o efeito desejado).

MÓDULO 7. POLÍCIA DE PROXIMIDADE: DA TEORIA À PRÁTICA.


O Policiamento de Proximidade tem como fundamento a presença, proatividade, descentralização e resolução de conflitos
da polícia. Sua implantação objetiva promover a aproximação entre policiais e cidadãos, e reduzir os indicadores de
criminalidade a partir da ação policial qualificada. Fonte: http://www.upprj.com
A essência é trabalhar próximo à comunidade, interagindo, buscando identificar o serviço policial e atuando de forma
preventiva, antecipando-se aos fatos.
Para este fim se faz importante conhecer e entender a dinâmica do policiamento comunitário que se caracteriza como um
esquema sequencial de ações que sejam eficientes e efetivas à comunidade, suplantando o limite da visão de ações policiais
militares de meras ações repressivas para completas ações de prevenção social, esclarecendo que uma não elimina a outra,
ambas devem coexistir em busca do equilíbrio.
No mesmo sentido, o policiamento comunitário caracteriza-se por ir muito além de simples ações de aproximação
comunitária sem utilidade social efetiva aparente, haja vista que deve buscar atingir patamares de mudança social que reflitam
em melhoria da qualidade de vida das pessoas da comunidade atendida. A transformação poderá ser reconhecida como plena
quando de fato houver mudança comunitária a ponto de, quando retirado o policiamento, verificar-se que a força da
comunidade é maior que as mazelas sociais que desencadeavam vulnerabilidades, violência e criminalidade impedindo-as de
ressurgir naquele ambiente.
A segurança pública no Brasil tem buscado adotar inúmeras alternativas de integração das polícias brasileiras e
participação da sociedade organizada. Desde 1998, o Ministro da Justiça, por intermédio da Secretaria Nacional de Segurança
Pública, estabeleceu estudos propondo a criação de uma base comum de formação profissional para todos os profissionais de
segurança, objetivando, assim, criar uma doutrina básica para atuação nessa área. Por outro lado, os Estados Brasileiros vêm
estabelecendo programas de integração entre as polícias ostensivas (as Polícias Militares) e as investigativas (as Polícias Civis).
Exemplos como a integração operacional e a integração das escolas de formação têm sido motivo de destaque em todo o
país e têm contribuído com a melhora da qualidade do serviço policial, pois se têm aumentado as intervenções policiais com
base em técnicas modernas.

54 QC = Quality Control ou Controle de Qualidade

Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 63


UM POUCO DA HISTÓRIA
O modelo de Policiamento Comunitário foi introduzido no Brasil a partir da década de 80 quando as polícias militares
estaduais buscavam a reestruturação de seus processos com base na Constituição Federal de 1988.
Em 1991, a Polícia Militar do Estado de São Paulo promoveu o I Congresso de Polícia e Comunidade, sendo este
considerado o marco inicial da discussão sobre o tema.
No mesmo ano a Polícia Militar do Rio de Janeiro inicia um programa piloto de Polícia Comunitária no bairro de
Copacabana. Em São Paulo tal iniciativa tem início em Ribeirão Preto.
Dentro de uma política de modernização democrática e política, o Governo Federal, a partir de 1996, implementou
diversos programas nas áreas sociais. Um de considerável destaque foi o Programa Nacional de Direitos Humanos, que buscou
estabelecer diretrizes para a melhoria da qualidade de vida no país. No programa foram incluídas metas que objetivam
sistematicamente melhorar o desempenho e o relacionamento das polícias brasileiras com a sociedade, principalmente,
otimizando programas de polícia comunitária nos Estados, como você poderá verificar a partir do exemplo a seguir:
PROGRAMA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS55:
PROPOSTAS DE AÇÕES GOVERNAMENTAIS
PROTEÇÃO DO DIREITO À VIDA/ SEGURANÇA DAS PESSOAS - MÉDIO PRAZO
- Apoiar as experiências de polícias comunitárias ou interativas, entrosadas com conselhos comunitários, que encarem o
policial como agente de proteção dos direitos humanos; 32 República Federativa do Brasil. Programa Nacional de Direitos
Humanos. BR: Min. Da Justiça, 1996. p.21. 87 SENASP
Em 1997, ratificando o Programa Nacional, o Governo do Estado de São Paulo, através da Secretaria da Justiça e de
Cidadania, implementou o Programa Estadual de Direitos Humanos, ratificando as seguintes atividades:
PROGRAMA ESTADUAL DE DIREITOS HUMANOS56
PROPOSTA DE AÇÕES PARA O GOVERNO E PARA SOCIEDADE
- CONSTRUÇÃO DA DEMOCRACIA E PROMOÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS
- educação para a democracia e os direitos humanos - desenvolver programas de informação e formação para profissionais
do direito, policiais civis e militares, agentes penitenciários e lideranças comunitárias, orientados pela concepção dos direitos
humanos segundo a qual o respeito à igualdade supõe também reconhecimento e valorização das diferenças entre indivíduos e
coletividades.
PROJETO POLÍCIA INTERATIVA
Em 1985, com a criação dos Conselhos Comunitários de Segurança, nascia a Polícia Interativa, na Cidade de Guaçuí/ES,
dando um passo importante na busca de uma real aproximação com a comunidade, sendo objeto de destaque na mídia
nacional, pelo seu audacioso projeto de polícia interativa. Sem prejuízo das ações voltadas contra os criminosos, buscou-se o
entrosamento com a comunidade para juntos controlarem as ações delituosas, evitando sua eclosão. De forma harmoniosa,
visou-se à responsabilidade de todos para a garantia da ordem pública, antecipando-se aos fatos. COSTA 57 afirma:

Assim está sendo concebido o POP-COM (Polícia Interativa) como um novo tipo de Policiamento Ostensivo, pois objetiva
obter produtividade e qualidade no serviço de polícia ostensiva, prestados à sociedade, trazendo como inovação a possibilidade
real de se aferir as ações ostensivas do policial militar no setor onde atua pontuando-as e controlando de modo criterioso o seu
desenvolvimento, através da informática.

Para uma maior operacionalização, foi incutida nos policiais militares nova mentalidade no atendimento de ocorrências,
por meio da leitura diária de um decálogo (POP - COM - Polícia Interativa), fixado na sala de reuniões. Decálogo do Policial
Interativo (Guaçui- ES) Foi dada preferência ao policiamento ostensivo a pé como forma de aproximar mais facilmente o
policial militar da comunidade, buscando conhecer suas aspirações, sugestões e críticas durante o policiamento ou por

55 República Federativa do Brasil. Programa Nacional de Direitos Humanos. BR: Min. Da Justiça, 1996.p.21.
56 Governo do Estado de São Paulo. Programa Estadual de Direitos Humanos. SP: Secretaria da Justiça e cidadania, 1997,p.25.
57 COSTA, Júlio C. PMES - Diretrizes para Implantação e Implementação da Polícia Interativa, ES:1995, p.12.

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intermédio dos conselhos interativos. O lema “O Povo conspira com quem o protege”, de Nicolo Machiavel, é a base do
trabalho.
Os objetivos da Polícia Interativa são:
a) Geral:
- Estabelecer os princípios institucionais para a implantação da filosofia da Polícia Interativa.
b) Específicos:
- Incrementar, na estrutura da Polícia, a filosofia de uma Polícia cidadã, através da execução do projeto de polícia
interativa;
- Exteriorizar a preocupação do Governo, no alcance de uma nova mentalidade no exercício constitucional da atividade
policial;
- Promover a interação contínua entre a Polícia e os diversos segmentos da sociedade;
- Investir na criação de um módulo próprio, moderno e dinâmico na atividade-fim da Polícia, através da Polícia Interativa.
Os primeiros resultados mostraram credibilidade, fizeram surgir o espírito de interação comunitária, diminuiu a
criminalidade na cidade (25,4% em 1993), aumentou a sensação de segurança e possibilitou o reconhecimento dos poderes
públicos.
Outros Estados brasileiros a partir de 1997 têm implementado o modelo de Polícia Interativa, que é muito semelhante ao
Policiamento Comunitário.
POLICIAMENTO COMUNITÁRIO EM SÃO PAULO: A VISÃO DOS POLICIAIS
Inserida no contexto da onda comunitária que vem se alastrando pelas forças policias em todo o mundo, em 30 de
setembro de 1997 a Polícia Militar do Estado de São Paulo adotou experimentalmente a filosofia do Policiamento Comunitário,
definida como “filosofia e estratégia da organização que proporciona a parceria entre a população e a polícia.” Atuando dentro
de um território específico e voltada também para os aspectos preventivos do crime, a experiência tem implicado uma parceria
entre polícia, comunidade local, autoridades eleitas e empresários locais, entre outros grupos.
De setembro de 1997 até maio de 2000 foram instaladas 239 bases comunitárias de segurança no estado, sendo 44 na
capital, 39 da grande São Paulo e 158 no interior. Cerca de 16.000 oficiais e praças já passaram por cursos multiplicadores ou
estágios e só na capital existem 462 policiais diretamente ligados ao programa.
A Polícia Militar criou testes psicológicos específicos para selecionar policiais comunitários, passou a incluir a matéria
Polícia Comunitária em todos os cursos de formação, aperfeiçoamento e requalificação profissional a partir de 1998 e trouxe
diversos especialistas nacionais e estrangeiros – principalmente americanos, canadenses, franceses e japoneses – para
assessorar o programa e fazer palestras sobre o tema. Além de trazer especialistas de fora, já enviaram policiais paulistas para
estudo e seminários no Canadá e no Japão.
Criou um disque PM para receber reclamações e sugestões da comunidade e instalou comissões regionais de polícia
comunitária nos comandos de policiamento de área da região metropolitana e da capital. Além disso, editou e distribuiu
material sobre o programa, como a cartilha do policial comunitário, o livro Policiamento Comunitário: como Começar, de
Robert Trojanowicz, além de cartazes, folhetos explicativos e boletins informativos com tiragem de 20 mil exemplares por
edição.
Polícia comunitária não é um conceito unívoco, mas um conjunto amplo de programas e práticas administrativas
inspiradas numa filosofia comunitária. É um conceito complexo e ambíguo, e nisto reside sua virtude (Moore, 1994).
Entre as novas práticas adotadas pela polícia paulista desde 1997 que se aproximam do modelo estão:
- Estabelecimento de pequenas bases fixas, que são edificadas, reformadas e ampliadas, frequentemente com a
colaboração da comunidade local;
- Patrulhamento feito a pé, num território fixo e relativamente determinado;
- Policiais fixos na comunidade, embora existam problemas quanto à rotatividade de policias e comandantes;
- Investimento para a formação de policiais e oficiais em Policiamento Comunitário, com organização de palestras de
professores brasileiros e estrangeiros e envio de oficias para cursos e visitas a outros estados ou países;
- Organização de encontros comunitários e seminários de prevenção ao crime nos bairros;
- Publicação de boletins sobre Policiamento Comunitário e material impresso sobre medidas de prevenção que a
população deve adotar;
- Criação de um conselho de implantação do Policiamento Comunitário, com reuniões periódicas;
- Incentivo a criação de conselhos de segurança comunitários, que atuam frequentemente em conjunção com as bases do
policiamento;
- Pesquisa de avaliação do programa junto aos policiais e às comunidades afetadas;
- Organização de atividades recreativas para os jovens e demais moradores das comunidades, com objetivos preventivos;
- Campanha da mídia e produção de material de divulgação do Policiamento Comunitário, como por exemplo, adesivos e
boletins informativos.
Trata-se de um rol de atividades amplas o suficiente para podermos caracterizar o experimento como comunitário, ainda
que muitas delas fossem feitas anteriormente pela polícia e diversas atividades típicas do Policiamento Comunitário – como
pesquisas de opinião para identificar os problemas locais, organização de grupos de vigilância comunitária, campanhas de
prevenção às drogas, trabalhando conjunto com órgãos municipais e estaduais para melhorar a saúde, a segurança e a limpeza
local – sejam pouco enfatizadas.
Nos primeiros momentos de implantação do programa é natural que se gaste muito tempo para elaborar material de apoio,
construir e inaugurar bases, promover atividades de divulgação do próprio programa, treinar policiais e oficiais, visitar e
conhecer o funcionamento de experiências similares e ainda fazer as mudanças institucionais e administrativas necessárias ao
funcionamento do projeto.
Com o tempo e a institucionalização do Policiamento Comunitário, essas atividades iniciais diminuem, dando lugar a
tarefas substantivas e atividades junto às comunidades, cujos exemplos ainda são poucos e limitados.

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IMPLANTAÇÃO
PARCERIA COM A COMUNIDADE
É o reconhecimento do potencial que a comunidade pode oferecer às organizações responsáveis pela segurança pública na
resolução de problemas que afetam diretamente a vida de ambos: comunidade e polícia. A contribuição pode variar desde a
identificação de problemas até o planejamento de uma ação para combater e solucionar os problemas de segurança pública, em
seu sentido mais amplo.
Deve-se incentivar a participação do diálogo com a comunidade, envolvendo policiais em eventos cívicos, culturais e de
negócios, trabalhando com agências sociais e tomando parte de atividades educacionais e recreativas com crianças em escolas.
O objetivo é inserir a polícia como parte integrante da comunidade. Assim como a igreja e a associação de bairro, a polícia será
vista como mais um integrante desta comunidade, permitindo que esta interfira na definição de prioridades e alocação de
recursos.
DEVE-SE, PARA INCENTIVAR ESTA PARCERIA, FORTALECER DOIS GRUPOS
ESSENCIALMENTE:
- O GRUPO EXTERNO, A COMUNIDADE;
- OS POLICIAIS DE PONTA DE LINHA.
Eles são a quem se dirige o serviço público, e os policiais de ponta de linha são o contato imediato entre polícia e
comunidade. Deve-se ter sempre em mente que a ação de um policial pode comprometer o trabalho de todos, e no limite, de
toda a instituição.
O policial, inserido na comunidade deve ser um catalisador e um facilitador das mudanças e do desenvolvimento da
comunidade.
Nessa atividade em conjunta, não se deve ter as tradicionais dualidade: profissional X paisano; antigo X moderno;
autoridade X subordinado. Toda forma de subestimar o potencial alheio deve ser fortemente reprimido, já que Policiamento
Comunitário é a tentativa de juntar todas as forças vivas, de dentro da instituição e de fora, da comunidade. Todos têm um
potencial de cooperação que deve ser incentivado e ampliado.
Por fim, toda a instituição policial deve estar ao lado da comunidade quando essa dela precisar.
O voltar-se para a comunidade implica em:
- Ter clareza do tipo de mudanças necessárias visando a polícia comunitária, reatualizando antigas estruturas
administrativas para uma nova mentalidade;
- Deve-se reconhecer a necessidade de mudanças.
Isto implica em:
- Mudança de uma administração burocrática para gerência de resultados;
- Adoção de estilo flexível de administração;
- Divisão de iniciativas, decisões rápidas e responsabilidade descendente. A responsabilidade por uma área deve ser do
capitão, do sargento, do soldado.
As decisões devem ser de baixo para cima, e não de cima para baixo:
- Definição do objetivo da Organização;
- Definição clara de metas para toda a corporação;
- Critérios de avaliação;
- Manutenção de pessoas adequadas à nova polícia;
- Planejamento a curto, médio e longo prazo.
Portanto, como um todo, deve a polícia incentivar a comunidade em si mesma e o policial.
Que tipo de metas a serem buscadas:
- Redução da criminalidade;
- Envolvimento com a comunidade;
- Respeito aos direitos constitucionais e à dignidade humana;
- Conservação do material permanente;
- Menor número de policiais e civis mortos (ou feridos, física ou psiquicamente).
A gerência serve como guia e catalisador de forças necessárias para dar suporte ao patrulheiro. Toda organização
deve apoiar, guiar e encorajar a solução dos problemas locais.
RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS
Se a polícia reconhece que sua atividade está em ajudar a comunidade a resolver seus problemas, haverá por parte das
pessoas um constante crescimento de confiança na polícia e este círculo é essencial para o sucesso da Polícia Comunitária. Este
processo requer uma consciência muito grande por parte dos policiais em relação às preocupações da comunidade.
Os problemas mais importantes para a população podem não ser os mais importantes para a polícia. Caso não seja um
problema específico da polícia, esta deve agir em conjunto com outras agências públicas.
Problemas para comunidade:
- Estacionamento de carros em regiões escolares;
- Pichações;
- Problemas com trânsito;
- Indivíduos que perturbam comunidades;
- Arrombamentos de estabelecimentos públicos;
- Problemas com tráfego de carros;
- Problemas urbanos: falta de luz, saneamento etc;
COMO SOLUCIONAR:
- Sempre fazendo trabalho conjunto com a comunidade e outras agências públicas especializadas;
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- Trabalhos educacionais: escolas, trânsito, redução de lesões corporais etc;
- Reabilitação de centros para drogados;
- Melhorando condições urbanas (reabilitação de prédios que possibilitem conduta criminosa; melhoria do meio
ambiente;iluminação de ruas; remoção de matagais, interdição de prédios vazios etc.)
O fim último da instituição é promover segurança à população através do policiamento ostensivo. Logo, ela tem de ser
medida pela sua capacidade de realização de seu principal serviço: segurança.
A melhor solução é aquela que satisfaz a comunidade, melhora a segurança, diminui a ansiedade, aumenta a ordem,
fortalece os laços entre polícia e comunidade e minimiza ações coercitivas.
INTEGRAÇÃO COM ENTIDADES REPRESENTATIVAS DA COMUNIDADE
O sucesso da Polícia Comunitária, na visão de TROJANOWICZ, e indicado por diversos pesquisadores, depende de
segmentos representativos da comunidade que irão participar diretamente da melhoria da atividade policial naquela localidade.
Estes órgãos são identificados em seis grandes grupos:
- Organização policial;
- A comunidade;
- Autoridades constituídas e organismos governamentais;
- A comunidade de negócios;
- As instituições comunitárias;
- Os veículos de comunicação.
ORGANIZAÇÃO POLICIAL
A organização policial exerce papel fundamental no sistema de Polícia Comunitária, pois ela tem que assimilar e se querer
se comprometer com o novo sistema, criando um consenso que envolva do mais importante comandante até o soldado que está na
linha de frente. A organização tem que construir laços de confiança com a comunidade, fortalecendo os cidadãos em geral no
processo de parceria, e o lugar onde vai se aperfeiçoar essas habilidades é dentro da Polícia Comunitária. Deve ser analisado o
sistema existente de recompensas e criar um novo, para reforçar os conceitos de Polícia Comunitária. As pessoas costumam
reclamar que é difícil implantar a Polícia Comunitária em razão das dificuldades de meios e de pessoal existentes.
Entretanto, se for realizada uma análise detalhada, será verificado que, mesmo fora dos horários de maior incidência de
ocorrências, existem intervalos entre os atendimentos que permitem a prática da Polícia Comunitária. É essa a saída, pois os
moradores de São Paulo acreditam no restabelecimento do vínculo de confiança e colaboração, pois apontam caminhos para
recuperar a eficiência e resgatar a imagem.

O policial compromissado com a comunidade da área vai ter na segurança um papel semelhante ao do pronto socorro no setor da
saúde. As pessoas querem ser atendidas, entretanto, poucos são os casos que demandam um encaminhamento ao hospital. No
policiamento, a maioria dos casos devem ser resolvidos na base, não exigindo encaminhamento aos Distritos Policiais e à Justiça.
Muitos casos são resolvidos com simples orientação. Esse contexto faz aumentar a credibilidade na organização, aliviando a
sobrecarga de custos desnecessários com os deslocamentos de veículos policiais. O morador tem a certeza de encontrar um
policial amigo, conhecido e confiável no Posto. O ser humano não confia totalmente em quem não conhece e a quem não é capaz
de revelar um segredo familiar e outros problemas. É normal que a população tome parte pelo todo, ou seja, a partir do mau
policial, poucos na visão dos entrevistados - infere que toda a PM é assim. Os casos exemplares de policiais cumpridores de seus
deveres são vistos como exceções. A PM precisará se estruturar e aprender a conviver e trabalhar com civis. (PEDROSO
FILHO58 1995,p.95)

A COMUNIDADE
A comunidade é a grande beneficiada no processo ao receber um Policial Comunitário, e os grandes perdedores são os
marginais. Há necessidade de educar e preparar a comunidade para ajudar os policiais e esclarecê-la para entender o sistema e
o estabelecimento de prioridades, para, de um lado, não efetuar críticas destrutivas, e, de outro, auxiliar na melhoria a
qualidade do serviço.
Nos locais onde existem lideranças civis (Lions, Rotary, Maçonaria, etc.), estes devem esclarecer como é o funcionamento
da polícia, como são priorizados os atendimentos e orientações preventivas de segurança e motivação para participar da sua
autoproteção.
AUTORIDADES CONSTITUÍDAS E ORGANISMOS GOVERNAMENTAIS
A Polícia Comunitária deve envolver de todas as autoridades constituídas (deputados, prefeitos, vereadores etc.), inclusive
aquelas que, por suas ações no dia a dia, se posicionam como opositoras, convidando-as, por intermédio dos líderes
comunitários a participar das reuniões.
A ação da polícia deve ser apolítica, não interessando partido ou ideologia.
Os membros da comunidade e os Policiais Comunitários devem conviver bem com os políticos locais, mostrando a
importância social da polícia comunitária. Afinal, Polícia e Política têm a mesma origem, mas não devem se misturar.
A visão Governamental, a respeito da Polícia, é ainda vinculada a um organismo repressor e refratário às mudanças. É
preciso estabelecer um contato com as diversas esferas de Governo (Federal, Estadual e municipal), mostrando resultados das
atividades relacionadas ao Programa. Estas atividades devem ser enviadas e apresentadas como forma de romper possíveis mal
entendidos quanto à atuação policial.
Quanto aos Governos Municipais o relacionamento é imprescindível. No que tange aos pequenos e médios municípios
isto já ocorre. O problema parece residir nas grandes cidades e na metrópole (São Paulo), onde a ação passa pelo entendimento
político de que segurança é apenas problema do Estado.
Tal afirmação não se trata da municipalização da Polícia, mas da integração de poderes, visto que os problemas de ordem
local passam pelas duas esferas de Governo, e dependendo das circunstâncias, um ou outro poderá fica impossibilitado de agir. O

58PEDROSO FILHO, Otávio Ferreira. Polícia Comunitária. SP: PMESP, CAO-II/95, Monografia.1995, p.117.

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prefeito deve conhecer o seu “Chefe de Polícia”, aquele que desenvolve e planeja segurança em sua cidade. Afinal como diz a
máxima do ex-governador André Franco Montoro: “Ninguém mora na União, ninguém mora no Estado, todos moramos no
município”.
Quando isso não ocorre, o poder público local utiliza subterfúgios para a criação de estruturas municipais de polícia que só
confundem a população e provocam desvios de finalidade do poder público, como afirma PEDROSO FILHO 59:

Nos últimos anos, está havendo uma corrida crescente dos poderes públicos municipais, muitas vezes pressionados pela população
que desconhece as leis, para a criação de guardas municipais, como se fossem a solução para os problemas da criminalidade. Na
verdade, depois de instaladas as guardas, alguns municípios acabam verificando que não foram resolvidos os seus problemas de
segurança. O município tem a responsabilidade maior de cuidar das missões no campo da saúde, saneamento e assistência social,
principalmente na área da criança e do adolescente, buscando atividades para que não venham a delinquir. Sem dúvida, o
crescimento das guardas municipais, mostra o grau de insegurança psicológica que está vivendo o povo do Estado de São Paulo e
também de outras regiões mais urbanizadas do país. (PEDROSO FILHO, 1995,p.95)

Outros órgãos têm incentivado a sua criação e emprego no campo da Segurança Pública, sob a falsa bandeira de
autonomia dos municípios e com a aprovação da comunidade que, teoricamente, recebe o beneficio, sem perceber a alta conta
da fatura que vai pagar. Hoje, há guardas municipais em mais de 25% dos municípios paulistas.
O assunto legalmente não deixa dúvida, na verdade as políticas públicas municipais seriam melhor empregadas se, em vez
de criarem um corpo permanente de vigilância, investissem em convênios de apoio ao sistema estadual, suprindo as
necessidades materiais existentes, possibilitando à Polícia maior eficácia por um custo menor.
COMUNIDADE DE NEGÓCIOS
O envolvimento da comunidade de negócios pode fazer a Porém, na relação com a comunidade de negócios, é preciso
diferença entre a aceitação e a resistência. Quando os homens de deixar claro e transparente o interesse social da atividade de
negócios são orientados sobre o programa, geralmente orientam policiamento, não privilegiando interesses comerciais ou
seus funcionários a participarem e, às vezes, até os cedem para particulares, que podem provocar descrédito e desconfiança.
apoio em algumas atividades. Eles podem se tornar uma boa O importante é agir com a visão econômica do delito, ou
parte de apoio material para a base de segurança comunitária. seja, o criminoso procura agir em locais onde haja um centro
O processo de planejamento que ignorar as preocupações e comercial e financeiro bastante desenvolvido e procurado. A
contribuições da comunidade de negócios poderá enfrentar vários polícia comunitária nestas áreas terá por objetivo maior diminuir
problemas no futuro. A discussão do assunto com esse grupo, a incidência de crimes. Diminuindo esta incidência, a
esclarecendo a necessidade das medidas adotadas, elimina ou comunidade de negócios passará a acreditar no policiamento,
ameniza as resistências que normalmente ocorrem quando são iniciando a parceria. Exemplos como o Centro Vivo e a Ação
tomadas unilateralmente. Local, da Capital Paulista, demonstram bem como resulta dos
preventivos favorecem e aproximam a ação da polícia.
INSTITUIÇÕES COMUNITÁRIAS
As participações das instituições comunitárias são de fundamental importância para a educação da população e também
para a adequação dos serviços de outros órgãos, visando melhor servir à comunidade. São inquestionáveis as possibilidades das
instituições comunitárias, pois já vivem para servir, e geralmente seu aspecto voluntário é altamente produtivo no sentido de
buscar soluções para os problemas locais.
As atividades de polícia comunitária neste aspecto não devem ter resistências em receber ajuda ou opiniões destas
entidades, pois, diferente da comunidade de negócios, as contribuições serão de caráter humilde pelas próprias características
locais. O preconceito religioso e racial não podem fazer parte em nenhum momento deste processo.
O RELACIONAMENTO COM ENTIDADES E LIDERANÇAS LOCAIS
A filosofia básica de entidades locais está calcada na crença Importante instrumento de avaliação para o administrador
de que quando as pessoas passam a se relacionar com outros policial, favorecendo a definição de prioridades para a atuação da
cidadãos, seus problemas comuns tendem a ser equacionados e Polícia, estas entidades têm contribuído para corrigir, por meio de
compreendidos de modo mais racional. medidas criativas, fatores de insegurança sem onerar o poder
O Conselho, Comitês ou Associações são grupos de pessoas público.
do mesmo bairro ou do mesmo município que se reúnem para Além disso, podem realizar, com sucesso, campanhas de
discutir e analisar seus problemas de Segurança, propor soluções, informação e educação às comunidades em que atuam,
acompanhar sua aplicação, desenvolver campanhas educativas e alcançando, com isso, resultados concretos na prevenção de
estreitar laços de entendimento e cooperação entre as várias infrações e acidentes evitáveis, a partir da conduta do próprio
lideranças locais. cidadão, que deixa assim de passar à condição de vítima.
Podem participar das entidades representativas as pessoas Outros temas, além dos assuntos eminentes policiais, têm
indicadas pelas Entidades Comunitárias e Instituições de Serviço sido objeto de deliberação e atuação, na busca de outras soluções
de bairro. O número de membros pode variar conforme o como deficiência de iluminação pública e pavimentação,
tamanho do Distrito ou Município, do número de Entidades que modificações na arquitetura viária e sinalização de trânsito,
existem e das pessoas que se interessam em participar. limpeza e muramento de terrenos baldios, silêncio urbano,
Os representantes dos órgãos de segurança pública são alterações no itinerário de transportes urbanos, prevenção e
membros indispensáveis nestas entidades, sendo obrigatórias tratamento de dependentes de álcool e drogas, assistência a
suas participações. segmentos mais fragilizados da comunidade como indigentes,
Estas entidades se constituem num legítimo instrumento crianças e migrantes entre outros.
para reverter às distorções institucionais por parte da Polícia. Por ter sua força no seu caráter suprapartidário, estando
Como afirma Paulo Sérgio Pinheiro, Coordenador do Núcleo de estruturado e organizado, organizações sociais são um poderoso
Estudos da Violência da USP, “É necessário aumentar o instrumento para reverter a violência, verdadeira peste social que
relacionamento entre a Polícia e a Sociedade. O sucesso do se espalha pelas ruas e atinge níveis insustentáveis. Para tanto é
trabalho policial depende da credibilidade e da boa imagem que a necessário aprimorar o seu funcionamento, corrigindo as falhas
instituição tem em relação à população”.

59 Op.Cit.p.69.

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que têm sido detectadas ao longo do tempo e, por outro lado, - Falta de clareza na detecção de problemas de segurança,
disseminando as experiências de sucesso. suas causas reais e soluções adequadas;
As falhas mais comuns, a comprometer a eficiência ideal de - Comunidade que apenas reage aos problemas, sem
entidades sociais são, numa primeira análise: oferecer alternativas de planejamento para solucionar as questões
- Burocracia nas instituições públicas, ocasionando demora elencadas;
nas respostas às necessidades da Comunidade; - Excessiva movimentação de autoridades policiais da área,
- Falta de envolvimento da Comunidade, com as questões frustrando sua integração com a comunidade;
comunitárias; - Uso indevido para fins políticos;
- Policiais em funções diretivas na entidade; - Falta de divulgação, quanto ao local, data e horário das
- Uso de instalações policiais para sediar reuniões dessas reuniões, bem como suas finalidades e forma de participação.
entidades, em vez de ambientes neutros;
VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO
Na natural disputa entre os veículos de comunicação, o enfoque pró-ativo de Polícia Comunitária pode criar na
organização policial a oportunidade de contar com o apoio da imprensa para educar o público. É preciso aproveitar melhor os
espaços disponíveis na pequena e média imprensa, jornais de bairro e rádios locais, pois estes podem auxiliar, sobremaneira, o
trabalho de Polícia Comunitária. O grande desafio é quebrar os paradigmas da mídia em relação à polícia.
Os órgãos de imprensa, via de regra, procuram destacar os - Desenvolver campanhas educativas de prevenção contra
escândalos, e isto cria na mente dos policiais a ideia de que a violência, utilizando sempre a mesma marca “Polícia” e não o
imprensa é inimiga da polícia, sem entender que ela vive dos Batalhão X ou Y ou Distrito Z ou W;
espaços que ocupa na audiência. Na natural disputa entre os - Elaborar propagandas de utilidade pública de forma
veículos de comunicação, o enfoque pró-ativo de Polícia permanente objetivando orientar as comunidades;
Comunitária pode criar na organização policial a oportunidade de - Elaborar um planejamento de marketing, de forma a
contar com o apoio da imprensa para educar o público. propiciar a participação da Polícia em eventos diversos
É preciso aproveitar melhor os espaços disponíveis na (televisão, jornal, etc.);
pequena e média imprensa, jornais de bairro e rádios locais, pois - Na imprensa regional e local, elaborar artigos que
estes podem auxiliar, sobremaneira, o trabalho de Polícia orientem e divulguem as ações locais da Polícia;
Comunitária. - Promover reuniões locais com a comunidade e a imprensa
Como medidas para aproximar e melhorar o relacionamento local divulgando e informando as atividades de segurança
como os representantes da mídia, sugerimos o seguinte: pública;
- Criar um programa permanente de comunicação social, Quanto à televisão, promover um planejamento repudiando
objetivando estabelecer formas de divulgação das atividades da os programas que fazem apologia a violência, criando programas
Polícia, com participação de técnicos especializados (relações que mostrem assuntos positivos e educativos da ação da polícia:
públicas, jornalistas, marketeiros); - Promover a criação de um programa na rede educativa
- Priorizar o contato com a mídia regional e local – como a direcionado aos jovens e crianças, objetivando mudar a imagem
grande mídia oferece resistências o importante seria o contato de repressão da polícia, criando até um personagem (ex: Guarda
com jornais de bairros, rádios locais e até mesmo emissoras de Belo).
televisão regional;
IDENTIFICAÇÃO DOS PROBLEMAS SOCIAIS LOCAIS
Até hoje nenhuma iniciativa isolada conseguiu provar absoluta eficácia na prevenção do crime, o que se pretende é
envolver todos os segmentos e através das discussões, haverem convergências em razão de padrões básicos da sociedade.
Antes de atuarmos diretamente com a comunidade, devemos conhecer a comunidade adotando as seguintes providências:
Coleta de informações
Deverão ser verificados os problemas da área por onde vamos passar a operar com a polícia comunitária. Quais são os
problemas que realmente afligem aquela área, características físicas e peculiares que não devem ser consideradas por extensão
a toda cidade, quais delitos são praticados, quem os pratica, se os jovens têm ou não tempo ocioso, empregos, etc.
Os obstáculos físicos naturais, índice de ocorrências, população existente, efetivo, viaturas; especialidades possíveis de
vinculação àquela área específica, tais como: ronda escolar, projeto vida e outros.
Tipos de apoio para a área como um todo nos Postos 24 horas, Forças Táticas, para missões especiais na área como
grandes jogos, desapropriações, invasões de terras e etc., verificando ainda os policiais militares que estão integrados na
comunidade de escolas, associações, clubes, etc.
Análise da comunidade
Orientação dos policiais e da comunidade para atribuições de poderes a ambos levando em conta a base econômica,
aspectos culturais, organizações sociais, organizações que reagem contra, projetos e programas sociais já existentes e potencial
para criação de outros.
Identificação dos grupos relevantes
Levar em consideração que o sucesso da Polícia - Fornecer aos cidadãos, as informações que foram
Comunitária depende do apoio de seis grandes grupos, a saber: coletadas;
1. Organização Policial; - Obter informações sobre opiniões dos problemas
2. Comunidade; existentes;
3. Autoridades Constituídas; - Explicar os critérios que serão utilizados durante a seleção
4. Comunidade de Negócios; das rondas;
5. Organismos Comunitários; e - Apresentar um cronograma experimental que mostrará o
6. Imprensa. esforço da Polícia Comunitária da fase de planejamento para a
Deverá ser realizada uma reunião geral envolvendo os implantação.
grupos para lançamento da Polícia Comunitária e outras reuniões É bom o futuro Comandante de Base já levar uma minuta
específicas nas áreas das futuras bases, nos bairros. Estas de proposta experimental para discussão inicial.
reuniões têm por objetivos: Ao procurar um local para reunião, deverá ser observado os
- Instruir o público sobre o histórico da Polícia Comunitária seguintes detalhes:
e a maneira como melhor poderia atender às necessidades da - Número de participantes;
comunidade; - Acomodações;
- Estacionamento com Segurança;

Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 69


- Acessível a todos; - Acústica;
- Transporte fácil; - Iluminação e outros.
- Conforto;

Recomendações:
Para definição da data da reunião, deve ser analisada a facilidade para o comparecimento, sendo evitados dias de grandes eventos na
cidade, decisões esportivas, etc.
A data e o horário da reunião poderão variar de acordo com as características locais.
A reunião não deve afetar o horário das refeições ou de descanso.
Utilizar todos os meios possíveis para sensibilizar as pessoas a participarem da reunião, acionando o jornal do bairro ou até panfletos
em contas mensais.
IDENTIFICAÇÃO DA LIDERANÇA
Alguns cidadãos terão comparecido a muitas reuniões de bairro, mas não necessariamente são líderes comunitários
potenciais. É preciso identificar as pessoas que estão dispostas a iniciar o processo. A maioria das pessoas que se envolvem
ativamente na iniciativa da Polícia Comunitária estão motivadas, não tanto por sua própria vitimização ou medo do crime, mas
por um interesse geral do bairro e da comunidade. Procure as pessoas que reflitam as atitudes, os valores, as normas e as metas
do bairro, porque elas saberão melhor como estimular e perpetuar o apoio dos cidadãos.
Independentemente do método de seleção, os líderes deve apresentar o seguinte perfil:
- Capacidade de participar pessoalmente da iniciativa, sendo de preferência um morador da comunidade;
- Inclinação para a ação de resolução de problemas, ao invés da retórica;
- Habilidade de identificação com as pessoas envolvidas e, idealmente, ser reconhecido pelo grupo como o seu porta-voz;
- Capacidade de inovar, inspirar ação e estimular a participação continuada e geral dos cidadãos;
- Capacidade de encorajar respostas de todos os segmentos da comunidade.
Reunião dos líderes dos grupos relevantes
Após terem sido identificados os líderes dos grupos relevantes, o próximo passo é congregá-los. Deverá ser-lhes dito que
foram identificados pelos seus colegas dos grupos como líderes influentes interessados na polícia comunitária. As reuniões
iniciais (em geral dirigidas por alguma pessoa da comunidade) poderão ser um tanto desestruturadas. Os principais objetivos
dessas reuniões serão:
- Facilitar a expressão de sentimentos quanto aos problemas - Criar um clima favorável ao diálogo, a fim de que os mal-
aparentes; entendidos ou as falsas opiniões possam ser identificadas e
- Encorajar grupos relevantes a trocar pontos de vista sobre possam ser discutidos quaisquer fatores causadores do problema;
cada um deles; (Muitas instituições têm receios em relação a - Identificar os grupos de auto-interesse, e mostrar de que
outras instituições, e os cidadãos poderão também ter maneira cada um dos grupos se beneficiará do processo
desconfiança quanto às instituições); cooperativo de resolução de problemas para prevenir o crime e a
desordem.
Importante!
As primeiras reuniões em geral têm as seguintes características: expressão desestruturada de sentimentos e percepções;
aceitação dos “fatos”; discussão dos fatores que contribuem para os mal-entendidos; facilitação do entendimento e aumento do
número de percepções positivas entre os grupos.
Após um certo tempo, as reuniões começam a ter um enfoque mais real e menos emotivo. Se as reuniões iniciais
atingiram os seus objetivos, tudo está pronto para o próximo passo do processo.
IDENTIFICAÇÃO DAS ÁREAS DE ACEITAÇÃO COMUM E DAS ÁREAS DE
DISCORDÂNCIA
Uma vez identificados os pontos de vista dos diversos grupos, as informações podem ser apresentadas, em geral em um
quadro tipo “flip chart”, e logo em seguida, essas informações podem ser discutidas. As percepções dos diversos grupos podem
ser comparadas e as áreas de aceitação comum e as de discordância podem ser identificadas. Por exemplo, a percepção que a
polícia tem em relação ao seu papel pode ser comparada com a percepção que a comunidade tem do papel da polícia e vice-
versa. Esta comparação pode ser feita com os demais grupos relevantes - a polícia com os assistentes sociais, os assistentes
sociais com a comunidade, e assim por diante.
As percepções dos papéis dos grupos também podem ser comparadas com os comportamentos reais dos grupos, podendo
ser feita uma avaliação se um determinado grupo age como deveria agir ou de acordo com a percepção que dele se tem.
Como resultado da comparação das percepções com o comportamento, ficará evidenciado se os grupos agem como
deveriam ou se eles não estão cumprindo com os seus papéis. Há em geral um maior consenso do que seria esperado, em
relação ao papel que cada grupo deveria desempenhar.
O problema consiste em geral, nas próprias limitações e restrições que cada grupo possui por causa da sua história passada
e/ou problemas financeiros.
IMPLANTAÇÃO
Após a identificação das áreas de aceitação comum e de discordância, é possível fazer um esforço para incorporar as áreas
de concordância no intuito de que os pontos importantes da iniciativa da Polícia Comunitária sejam aceitáveis para todos os grupos.
Os grupos não irão necessariamente concordar em todas as áreas, mas haverá em geral, suficientes áreas comuns para possibilitar a
cooperação.
Muitos grupos ficarão inspirados e esclarecidos para aprender quantas áreas existem de concordância, que à primeira vista,
podem não ter estado aparentes. Em geral, haverá concordância nas metas principais, tais como a necessidade de controle do crime
e da desordem, bem como de uma comunicação mais positiva e eficiente, e de cooperação entre os grupos. As áreas de consenso
podem diminuir à medida que começam a ser identificadas as técnicas específicas de resolução de problemas e passam a ser
sugeridas por cada grupo alternativas para a implantação. Isto não será um problema grave, porque se tiverem sido seguidos os
princípios da teoria do patrocínio normativo (postula que a maioria das pessoas tem boa vontade e irão cooperar com as outras para
Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 70
a construção de um consenso) e da teoria social crítica (procura responder porque as pessoas se juntam para corrigir e superar os
obstáculos).
Fundamenta-se em três ideias centrais:
- Esclarecimento: sobre - Poder: agir para melhorar as suas - Emancipação: Podem atingir a
circunstâncias para pleitear mudanças; condições; e liberação através da reflexão e da ação
social.
Prevalecerá uma atmosfera de cooperação e ficará facilitado o compromisso.
Todos os grupos sentirão que têm uma participação de consenso no processo de resolução de problemas.
IMPLANTAÇÃO DO MODELO DE POLÍCIA COMUNITÁRIA:
CONDIÇÕES BÁSICAS
QUANTO À ORGANIZAÇÃO POLICIAL
1. A Polícia deve reconhecer que é parte integrante do a) a limitação da ação da Polícia a funções específicas;
conjunto do sistema penal e aceitar as consequências de tal b) a formação especializada de seu pessoal;
princípio. Isso supõe: c) a aceitação de profissionais civis;
a) a existência de uma filosofia geral mínima, aceita e d) a criação e implantação de um plano de carreira;
aplicada pelo conjunto do sistema penal; e) a prioridade dada à competência na atribuição de
b) a cooperação efetiva entre os policiais e os demais promoções, critério que deve prevalecer sobre o da antiguidade
membros de tal sistema penal em relação ao problema do na escala;
tratamento judicial da delinquência. f) a existência de um código de ética profissional.
2. A Polícia deve estar a serviço da comunidade, sendo a 5. A Polícia deve reconhecer a necessidade do
sua razão de existir garantir ao cidadão o exercício livre e planejamento, da coordenação e da avaliação de suas
pacífico dos direitos que a lei lhe reconhece. Isso implica em: atividades, assim como da pesquisa, e pô-los em prática.
a) uma adaptação dos serviços policiais às necessidades Como consequência:
reais da comunidade; a) o planejamento administrativo e operacional da Polícia,
b) a ausência de qualquer tipo de ingerência política a coordenação e avaliação das suas atividades, assim como a
indevida nas atuações policiais; pesquisa, devem ser funções permanentes do serviço;
c) a colaboração do público no cumprimento de certas b) as principais etapas do processo de planejamento
funções policiais. policial devem ser: identificação de necessidades, análise e
3. A Polícia deve ser, nas suas estruturas básicas e em pesquisa, determinação de objetivos a curto, médio e longo
seu funcionamento, um serviço democrático. Isso pressupõe: prazos, elaboração de uma estratégia para a sua implantação,
a) a civilidade no atendimento ao serviço; consulta regular dentro e fora do serviço e avaliação periódica
b) um respeito total aos direitos fundamentais dos de tais objetivos e estratégias;
cidadãos; c) os objetivos da polícia devem corresponder às
c) a participação de todos os integrantes do serviço e do necessidades da comunidade, ser flexíveis, realizáveis e
conjunto da população na elaboração das políticas policiais; mensuráveis; e
d) a aceitação da obrigação de prestar contas., d) a Polícia deve participar de planejamento conjunto com
periodicamente, das suas atividades. os demais serviços policiais do país e com as instituições
4. A polícia deve ser um serviço profissional. São governamentais implicadas ou interessadas nos problemas
critérios necessários para um verdadeiro profissionalismo relacionados com as atividades das forças da ordem.
policial:
Quanto a comunidade Quanto aos policiais
- A polícia comunitária transfere o poder à comunidade para - Permitir ao policial “resolver” os problemas em vez de
auxiliar o planejamento objetivando melhorar a qualidade de vida simplesmente se “desvencilhar” deles;
e as ações policiais; - Dar o poder de analisar os problemas e arquitetar
- A polícia comunitária requer que a comunidade forneça soluções, delegando responsabilidade e autoridades reais;
insumos para as gestões que afetam a sua finalidade de vida; - Os recursos da Instituição devem ter como foco de
- A comunidade (com poder) compartilha a atenção auxiliar este policial;
responsabilidade de melhorar; - Os executivos de polícia devem entender que seu papel
- O senso de parceria com a polícia é criado e fortalecido; e dar assistência os policiais na resolução de problemas.
- Uma comunidade com mais poder, trabalhando em
conjunto com uma polícia com mais poder, resulta numa situação
em que o todo é maior do que a soma das partes.

CONTROLE DE QUALIDADE, DESENVOLVIMENTO CONTÍNUO E ATUALIZAÇÃO


Como ocorre com qualquer iniciativa, existe uma constante necessidade de controle de qualidade, desenvolvimento
contínuo e atualização. O processo exige que os grupos relevantes proporcionem uma significativa retroalimentação, e que
novas ideias sejam testadas, demandando ainda avaliação e reflexão, individual e em grupo. Existe também uma necessidade de
pesquisa científica, não apenas sobre as causas básicas do crime e da desordem, mas também sobre a eficácia das abordagens
empregadas.
Uma prevenção eficiente do crime e da desordem e um esforço de controle só podem resultar de uma experiência direta de
cooperação por parte de todos os grupos relevantes no processo de resolução de problemas – seja através do envolvimento ativo
ou da mera verbalização. Isto facilitará a cooperação e o entendimento mútuo entre os grupos em questão.
A maneira mais eficiente de motivar as pessoas é transmitir-lhes que suas opiniões serão valorizadas, que eles terão uma
voz nas tomadas de decisão, e que serão engajados no processo de resolução de problemas. Se esses critérios forem obedecidos,
as iniciativas serão apoiadas e perpetuadas, porque as partes que constituem os grupos relevantes possuem um investimento
pessoal no processo. A atuação dos grupos relevantes trará benefícios mútuos e aumentará o entendimento e a cooperação entre
eles.

Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 71


PROAÇÃO, PREVENÇÃO E REPRESSÃO
Polícia proativa visa erradicar as causas da violência, atuando de forma planejada nas mais diversas áreas, contornando problemas
socioeconômicos, tudo com finalidade de não permitir que a violência surja. A polícia proativa atua nos antecedentes da violência, e não
apenas reage uma vez praticado o ato delituoso. Em termos financeiros, é muito mais lógico não permitir que o fato ocorra, já que de outra
forma, toda uma série de atores eventualmente terão de participar: uma equipe de policiais civis, um promotor, um juiz, uma vaga no
sistema penitenciário, uma vaga num hospital público etc. Portanto, atuar nas causas que propiciem que a violência surja tem se mostrado
mais eficiente que atuar nas consequências. Atuar na consequência torna-se um ônus para a própria Polícia, para o Estado como um todo e
para toda a sociedade por conseguinte. Por fim, a eliminação de fatores de potencial criminógeno melhora a própria qualidade de vida da
comunidade, sendo um fator retroalimentador da confiança da população em relação à polícia.
No Brasil, precisa-se de um nível mais básico de policiamento proativo, que é a análise técnica da criminalidade. Este tipo de análise
permite uma otimização dos recursos humanos e materiais na contenção da criminalidade.
ANÁLISE DO ANTES E DEPOIS DA POLÍCIA COMUNITÁRIA.
A polícia comunitária não é apenas um meio de melhorar a - Abertura para população local dos avanços (ou não) na
imagem da polícia, ainda que ele o faça. Ele deve ser visto como solução e contenção dos problemas levantados.
uma técnica de policiamento, que deve trazer melhores Os pré-requisitos para estes elementos são:
resultados que o policiamento tradicional. Nesse sentido, deve- - Comunicação (interna e externa);
se ter em mente a quantificação dessa melhora: - Cooperação e colaboração (interna e externa);
- Mapas claros da violência objetiva, isto é, dados - Coordenação;
estatísticos da região em questão; - Mudanças.
- Clareza dos medos subjetivos da comunidade.
CONDIÇÕES PARA A CONTINUIDADE DA POLÍCIA COMUNITÁRIA
Estabelecido o conceito de polícia comunitária, faz necessário abordar o que mantém e sustenta este tipo de policiamento:
a. Desenvolvimento da confiança entre o policial e a comunidade a que serve (não-remoção do policial; solução de
problemas individuais e comunitários; honestidade do policial para com a comunidade)
b. Atuação constante da polícia e da sociedade na remoção de elementos ou condições que possibilitem ou mesmo
encorajem a ação criminal.
c. Resultados claros e inequívocos da atuação policial;
d. Práticas administrativas modernas e ágeis;
e. Mudança estrutural das condições de violência na cidade como um todo.
RESUMO
Saiba mais:
• A popularização da polícia comunitária pode representar um risco à sua implementação, em que pese a ocorrência de desvios em relação
ao que a filosofia pressupõe.
• O contexto de surgimento da polícia comunitária foi marcado por críticas ao sistema policial, em que reformas institucionais que
aproximassem a polícia e a sociedade eram reivindicadas.
• O modelo tradicional ou profissional de policiamento é caracterizado pela organização burocrático-legal voltada para a aplicação da lei.
• O processo de socialização se confunde com as características biológicas, pois os comportamentos são determinados de forma inata.
• O ingresso numa OSP pode ser considerado um processo de socialização secundária, em que hábitos, práticas e formas de pensar próprios
da instituição passam a influenciar o indivíduo em sua vida.
• A polícia comunitária estabelece formas de relacionamento com a comunidade que se encontram baseadas em pressupostos novos, como
a coprodução da segurança pública. Por isso, a polícia e a comunidade devem reaprender a se relacionar sob diferentes formas.
• A aproximação do policial comunitário deve ser antecedida pela confirmação das intenções do interlocutor nas relações com a
comunidade.
• A realização de visitas e reuniões na comunidade representa uma etapa importante na implantação do policiamento comunitário, pois
possibilita compreender as formas como as pessoas interagem entre si e com o espaço geográfico.
• No processo de aproximação com a comunidade, as diferenças ideológicas entre as pessoas da vizinhança devem ser consideradas de
forma imparcial e objetiva, à luz da legislação, apesar de que quase sempre se transformam em conflitos.
• Ao buscar conhecer as realidades locais, o policial comunitário deve estar preparado para observar os direitos dos diversos grupos que
compõem a comunidade, independentemente de preferência religiosa, orientação sexual ou classe social dos possíveis envolvidos em um
conflito.
• Sobre os grupos em situação de vulnerabilidade social, julgue os itens abaixo, marcando (V) para verdadeiro e (F) e para falsos:
◦ É considerada idosa a pessoa com idade superior a 60 anos de idade, sendo reservado a essa população o direito de não ser alvo de
negligência, discriminação, violência, crueldade ou opressão.
◦ Os idosos são frágeis e indefesos, mesmo assim, a polícia não deve priorizar o atendimento de seus chamados em detrimento do
restante da população (F).
◦ Apesar de ser contravenção, morar na rua não deve ser objeto de ações das OSPs como forma de melhorar a qualidade de vida das
pessoas (F).
◦ As pessoas em situação de rua são marcadas pela pobreza extrema, vínculos familiares interrompidos ou fragilizados e a inexistência
de moradia convencional regular.
• É importante que os PSPs identifiquem as características e as necessidades dos diferentes grupos da comunidade em que trabalham.
• Por buscar reconhecer desigualdades, a polícia comunitária representa uma reorientação das OSP para minimizar injustiças.
• A noção de equidade diz respeito ao estabelecimento de mecanismos que diminuam desigualdades de oportunidades ou de acesso a
recursos ou direitos no convívio entre as pessoas em sociedade.
• O policiamento comunitário tem o potencial de melhorar a imagem das organizações justamente por se basear em novas formas de
perceber como deve ser o trabalho policial e como se relacionar com a comunidade, em um mesmo nível de interação.
• Em termos práticos, a Polícia Comunitária (como filosofia de trabalho) difere do Policiamento Comunitário (ação de policiar junto à
comunidade). Aquela deve ser interpretada como filosofia organizacional indistinta a todos os órgãos de segurança pública, esta permite
as ações efetivas com a comunidade.
• A proposta de Polícia Comunitária oferece uma resposta tão simples que parece irreal: personalize a polícia, faça dela uma presença

Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 72


também comum.
• Polícia Comunitária é uma atitude na qual o policial aparece a serviço da comunidade e não como uma força. É um serviço público, antes
de ser uma força pública.
• A Polícia Comunitária não é caracterizada pelo uniforme distinto, o que possibilitaria uma maior receptividade pela comunidade.
• A consolidação de um projeto político que tenha como objetivo a promoção de uma sociedade igualitária e justa não pode desconsiderar a
segurança de cada cidadão e, ao mesmo tempo, a segurança da coletividade.
• No que tange à Polícia Comunitária:
◦ I - a participação social da polícia deve ser em qualquer nível social.
◦ II - construir ou reformar prédios da Polícia não significa implantação de Polícia Comunitária.
◦ III - Em relação ao Policiamento Comunitário é possível dizer que conforme Trojanowicz (1994), o Policiamento Comunitário exige
um comprometimento de cada um dos policiais e funcionários civis do departamento policial com sua filosofia.
• Algumas centenas de municípios, ao aderirem ao processo das conferências preparatórias da 1ª Conferência Nacional de Segurança
Pública (CONSEG) , constituíram as Comissões Organizadoras Municipais (COM). Quanto a essas comissões podemos afirmar que:
◦ I - As 27 unidades da Federação instituíram suas Comissões Organizadoras Estaduais (COE) .
◦ II - Estes grupos receberam a orientação de manter o formato tripartite, ou seja, reservar cadeiras igualitariamente para a sociedade,
os trabalhadores e os gestores.
◦ III - A principal atribuição destas comissões foi mobilizar e auxiliar nos preparativos das etapas municipais estaduais e distrital.
• "Para que possamos dizer que existe mobilização social de fato, é preciso que pessoas, comunidades ou sociedades se aglutinem para
decidir e agir em direção a um OBJETIVO COMUM"
• A primeira etapa do PDCA exige o estabelecimento de metas e procedimentos técnicos aptos a alcançar os resultados propostos.
• O policiamento comunitário surgiu da necessidade de uma aproximação entre a polícia e a comunidade e “cresceu a partir da concepção
de que a polícia poderia responder de modo sensível e apropriado aos cidadãos e às comunidades” (SKOLNICK, 2003:57).

• Tipos de prevenção:
◦ Prevenção primária: A prevenção não é percebida como de competência exclusiva das agências de segurança pública, mas também
de famílias, escolas e sociedade civil.
◦ Prevenção secundária Esse tipo de prevenção está fundamentado na noção de risco e proteção.
◦ Prevenção terciária: Atua quando já houve vitimização, procurando evitar a reincidência do autor e promover a reabilitação
individual e social da vítima.
• Um município que desejar aderir ao PRONASCI deve obrigatoriamente criar um Gabin.ete de Gestao ntegrada
• A fase de execução do planejado também implica a formação e o treinamento dos funcionários para a correta realização das metas
estipuladas.
• O ciclo PDCA visa a melhoria contínua dos processos e a normalização dos procedimentos mais eficientes.
• O ciclo de polícia, que inicia o ciclo de persecução criminal, é composto por:
◦ 1ª fase: Situação normal de paz social. Refere-se ao trabalho ostensivo realizado pela polícia, de caráter preventivo, em prol da
preservação da ordem pública. Quando ocorre a quebra da ordem pública, são efetuadas as demais fases do ciclo policial.
◦ 2ª fase: Restauração da paz social. Consiste no primeiro contato da polícia com a prática criminal, competindo-lhe exercer as
primeiras providências de polícia administrativa e judiciária, como realizar prisão em flagrante, identificar testemunhas, levantar
informações sobre o modo como o crime ocorreu, socorrer vítimas, dentre outras verificações possíveis que se apresentarem
necessárias de imediato.
◦ 3ª fase: Investigativa. É exercida pela polícia judiciária, através da escuta do relato das testemunhas arroladas, realização de perícias,
cumprimento de prisões processuais, exercidas por meio da instauração do Inquérito Policial.
◦ 4ª fase: Processual. A partir dessa sequência de procedimentos ocorre a fase processual, que é de competência do Ministério Público
e Poder Judiciário, sendo a última etapa do ciclo de persecução criminal a fase de aplicação das penas, responsabilidade do Poder
Judiciário e do Sistema Prisional (LAZZARINI, 1996).
◦ O atual sistema de segurança pública não mais satisfaz os requisitos mínimos para a geração de sinergias eficazes e efetivas à
produção de serviços que atendam ao clamor público, em razão do modo cartesiano de pensar a questão. Lamentavelmente, os
gestores públicos se submetem à ação de grupos classistas pela manutenção do atual sistema.
◦ O ciclo completo de polícia proporcionaria um sistema de segurança pública mais econômica e racional quanto ao
emprego, e flexível na interação com os demais integrantes do sistema.
◦ Porém, convém ressaltar que o modelo do ciclo completo de polícia não constitui a solução única e última para a resolução do
problema da delinquência, pois esta se trata de um fenômeno complexo que está intimamente ligado com os demais setores públicos
– saúde, educação, planejamento urbano, serviços sociais, sistema penal como um todo, mídia, sociedade civil, ONG’s e outras
instituições.
◦ O ciclo completo de polícia constitui numa tentativa de articular as polícias reunindo as diferentes instituições Polícia Rodoviária
Federal, Polícia Militar e Polícia Civil com o afã de sistematizar, formular conteúdos e promover a realização de atribuições de
polícia administrativa e judiciária visando à promoção de uma segurança pública e defesa do cidadão mais flexível.
◦ Por último, hodiernamente, todos os projetos organizacionais estão sendo orientados para um modelo sistêmico, avesso à
especialização e que consagre maior amplitude de atuação, com maior transversalidade para a geração de produtos e serviços que
satisfaçam a aderência dos consumidores, a sociedade em geral.
• A divisão da execução das fases da atividade policial em duas organizações distintas, no ente federativo estadual, de forma que é atribuída
à Polícia Militar o trabalho de preservação da ordem pública, enquanto compete à Polícia Civil a realização da investigação e da apuração
dos crimes, caracteriza a estrutura das polícias estaduais brasileiras como bipartida, dado que ambas apresentam o ciclo policial
incompleto.
• Nas duas últimas décadas, o Brasil presenciou uma crescente preocupação com as questões relativas à segurança pública e à justiça
criminal. Uma verdadeira obsessão securitária refletiu-se num nível jamais visto de debates públicos, de propostas legislativas e de
produção acadêmica.

Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 73


• O Bolsa Família pode ser considerado um exemplo de programa de prevenção social, uma vez que atua para atenuar determinados fatores
de risco e promover a proteção social. Por meio da transferência direta de renda, promove o alívio imediato da pobreza; as
condicionalidades reforçam o acesso a direitos sociais básicos nas áreas de educação, saúde e assistência social; e as ações e programas
compleementares objetivam o desenvolvimento das famílias, de modo que os beneficiários consigam superar a situação de
vulnerabilidade.
• A popularização da polícia comunitária pode representar um risco à sua implementação, em que pese a ocorrência de desvios em relação
ao que a filosofia pressupõe.
• O contexto de surgimento da polícia comunitária foi marcado por críticas ao sistema policial, em que reformas institucionais que
aproximassem a polícia e a sociedade eram reivindicadas.
• O modelo tradicional ou profissional de policiamento é caracterizado pela organização burocrático-legal voltada para a aplicação da lei.
• O processo de socialização se confunde com as características biológicas, pois os comportamentos são determinados de forma inata.
• O ingresso numa OSP pode ser considerado um processo de socialização secundária, em que hábitos, práticas e formas de pensar próprios
da instituição passam a influenciar o indivíduo em sua vida.
• A polícia comunitária estabelece formas de relacionamento com a comunidade que se encontram baseadas em pressupostos novos, como
a coprodução da segurança pública. Por isso, a polícia e a comunidade devem reaprender a se relacionar sob diferentes formas.
• A aproximação do policial comunitário deve ser antecedida pela confirmação das intenções do interlocutor nas relações com a
comunidade, devendo ser utilizados os recursos de inteligência policial a todo momento.
• A realização de visitas e reuniões na comunidade representa uma etapa importante na implantação do policiamento comunitário, pois
possibilita compreender as formas como as pessoas interagem entre si e com o espaço geográfico.
• No processo de aproximação com a comunidade, as diferenças ideológicas entre as pessoas da vizinhança devem ser consideradas de
forma imparcial e objetiva, à luz da legislação, apesar de que quase sempre se transformam em conflitos.
• Ao buscar conhecer as realidades locais, o policial comunitário deve estar preparado para observar os direitos dos diversos grupos que
compõem a comunidade, independentemente de preferência religiosa, orientação sexual ou classe social dos possíveis envolvidos em um
conflito.
• Sobre os grupos em situação de vulnerabilidade social, julgue os itens abaixo, marcando (V) para verdadeiro e (F) e para falsos:
◦ É considerada idosa a pessoa com idade superior a 60 anos de idade, sendo reservado a essa população o direito de não ser alvo de
negligência, discriminação, violência, crueldade ou opressão.
◦ Os idosos são frágeis e indefesos, mesmo assim, a polícia não deve priorizar o atendimento de seus chamados em detrimento do
restante da população.
◦ Apesar de ser contravenção, morar na rua não deve ser objeto de ações das OSPs como forma de melhorar a qualidade de vida das
pessoas.
◦ As pessoas em situação de rua são marcadas pela pobreza extrema, vínculos familiares interrompidos ou fragilizados e a inexistência
de moradia convencional regular.
• É importante que os PSPs identifiquem as características e as necessidades dos diferentes grupos da comunidade em que trabalham.
• Por buscar reconhecer desigualdades, a polícia comunitária representa uma reorientação das OSP para minimizar injustiças.
• O policiamento comunitário tem o potencial de melhorar a imagem das organizações justamente por se basear em novas formas de
perceber como deve ser o trabalho policial e como se relacionar com a comunidade, em um mesmo nível de interação.
• Em termos práticos, a Polícia Comunitária (como filosofia de trabalho) difere do Policiamento Comunitário (ação de policiar junto à
comunidade). Aquela deve ser interpretada como filosofia organizacional indistinta a todos os órgãos de segurança pública, esta permite
as ações efetivas com a comunidade.
• Câmaras técnicas. As Câmaras Técnicas são espaços permanentes de discussão sobre os assuntos mais importantes para a segurança
pública do município.
• A proposta de Polícia Comunitária oferece uma resposta tão simples que parece irreal: personalize a polícia, faça dela uma presença
também comum.
• Polícia Comunitária é uma atitude na qual o policial aparece a serviço da comunidade e não como uma força. É um serviço público, antes
de ser uma força pública.
• A Polícia Comunitária não é caracterizada pelo uniforme distinto, o que possibilitaria uma maior receptividade pela comunidade.
• A consolidação de um projeto político que tenha como objetivo a promoção de uma sociedade igualitária e justa não pode desconsiderar a
segurança de cada cidadão e, ao mesmo tempo, a segurança da coletividade.
• No que tange à Polícia Comunitária:
◦ I - a participação social da polícia deve ser em qualquer nível social.
◦ II - construir ou reformar prédios da Polícia não significa implantação de Polícia Comunitária.
◦ III - Em relação ao Policiamento Comunitário é possível dizer que conforme Trojanowicz (1994), o Policiamento Comunitário exige
um comprometimento de cada um dos policiais e funcionários civis do departamento policial com sua filosofia.
• Algumas centenas de municípios, ao aderirem ao processo da conferências preparatórias da 1ª Conferência Nacional de Segurança
Pública (CONSEG) , constituíram as Comissões Organizadoras Municipais (COM). Quanto a essas comissões podemos afirmar que:
◦ I - As 27 unidades da Federação instituíram suas Comissões Organizadoras Estaduais (COE) .
◦ II - Estes grupos receberam a orientação de manter o formato tripartite, ou seja, reservar cadeiras igualitariamente para a sociedade,
os trabalhadores e os gestores.
◦ III - A principal atribuição destas comissões foi mobilizar e auxiliar nos preparativos das etapas municipais estaduais e distrital.
• “Para que possamos dizer que existe mobilização social de fato, é preciso que pessoas, comunidades ou sociedades se aglutinem para
decidir e agir em direção a um OBJETIVO COMUM”
• A corrupção, o desrespeito aos direitos humanos, a herança autoritária e a “insistência no modelo da guerra como metáfora e como
referência para as operações de segurança pública” (CANO, 2006, p. 141), também são alguns outros exemplos comuns de deficiências
relacionadas às polícias estaduais. A despeito do panorama de deficiências das polícias estaduais, verificam-se iniciativas recentes de
modernização das instituições policiais que apontam em direção à mudança de paradigma na gestão da segurança pública.
Nesse contexto, pode-se citar algumas experiências relevantes, tais como:
◦ Tentativas de integração das polícias civil e militar;
◦ Compatibilização do trabalho policial em áreas geográficas coincidentes;
◦ Unificação e informatização dos boletins de ocorrências criminais;
◦ Investimentos em tecnologia, em georreferenciamento e nos sistemas de informações policiais;
Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 74
◦ Criação de ouvidorias de polícia.
• Os Gabinetes de Gestão Integrada, de forma geral, se fundamentam em três eixos:
◦ I - atuação em rede
◦ II - gestão integrada.
◦ III- perspectiva sistêmica.
• Um município que desejar aderir ao PRONASCI deve obrigatoriamente criar um Gabinete de Gestão Integrada.
• GGIM - Gabinete de Gestão Integrada Municipal – GGIM é um instrumento para apoiar os municípios na gestão do Programa Nacional
de Segurança Pública com Cidadania – Pronasci. Trata-se de um conjunto de informações teóricas e técnicas relativas ao Pronasci e, em
particular, ao Gabinete de Gestão Integrada Municipal – GGIM, que apresenta desde a concepção, organização e funções do gabinete,
dentre outras, as informações práticas e relevantes para sua implantação e execução.
Referências

BRASILIANO, Antonio Celso Ribeiro, gestão e análise de riscos corporativos, São Paulo: Sicurezza, 2010
AMORIM, Jorge Schorne de. Sistema Nacional de Segurança Pública. Palhoça, 2009. Livro didático do Curso de Especialização em Polícia
Comunitária da Unisul Virtual.
ASSUNÇÃO, Rosângela Pereira de Abreu. TOMADA DE DECISÃO PELA POLÍCIA. Disponível em:
<http://marioleitedebarrosfilho.blogspot.com/2012/07/tomada-de-decisao-pela-policia.html >. Acesso em: 10 ago 2019.
BRODEUR, Jean-Paul. Como Reconhecer um Bom Policiamento: problemas e temas; tradução de Ana Luísa Amêndola Pinheiro. São Paulo:
EDUSP, 2002. (Série Polícia e Sociedade; n.º 6).
CASTELLS, Manuel. Para o Estado-Rede: globalização econômica e instituições políticas na era da informação. In: PEREIRA, L. C. B,
WILHEIM, J. e SOLA, L. (orgs.) Brasília: ENAP / São Paulo: UNESP, 1999. Cap. 4.
COUTO, Sônia Maria de Araújo. Violência doméstica: uma nova intervenção terapêutica. Belo Horizonte: Universidade FUMEC. Editora
Autêntica, 2004.
DAMODARAN, Aswatah, gestão estratégica do risco, São Paulo: Bookman, 2009
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Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 75

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