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Polícia de Proximidade
Natal/RN
2019
Natal/RN
2019
1Janildo da Silva Arante, 2º Sargento QPMP-0 - PMRN, é formado em Matemática Licenciatura Plena pela UFRN e pós-graduando em
Polícia Comunitária (UNYLEYA) e em Criminologia (Faculdade Futura). Possui diversos cursos na área de Segurança Pública. Já ministrou,
junto ao CFAPM (CFS e CAS), além dessa disciplina, as disciplinas de Estatística Aplicada à segurança Pública (CFS - CFAPM), Sistema e
Gestão em Segurança Pública (CAS), Polícia Comunitária (CAS), Polícia Interativa (CAS – Nova Cruz), Fundamentos da Gestão Pública
Aplicados à Segurança Pública (CFS – Nova Cruz), Sistemas de Segurança Pública e Gestão Integrada e Comunitária (CFS – CFAPM e Nova
Cruz) e Didática Aplicada à segurança Pública (CFS - CFAPM).
Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 2
GOVERNO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE
SECRETARIA DE ESTADO DA SEGURANÇA PÚBLICA E DA DEFESA
SOCIAL
POLICIA MILITAR
DIRETORIA DE ENSINO
CENTRO DE FORMAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO DA POLÍCIA
0.00% MILITAR – CFAPM
CURSO DE APERFEIÇOAMENTO DE SARGENTOS – CAS 2019.2
Unidade Curricular: POLICIAMENTO DE PROXIMIDADE
Cód:
Carga Horária: 20 h/a
EMENTA
I – CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
1.Portaria nº 43, de 12 de abril de 2019, onde institui as Diretrizes Nacionais e o Manual de Polícia;
2. Polícia Comunitária. Conceituação de Polícia Comunitária: sua filosofia, suas características e seus princípios;
3. Principais instrumentos do Policiamento Comunitário;
4. Policiamento Orientado para a Resolução de Problemas. Conceito e componentes de situações-problema -
Diagnóstico de situações problemáticas; Etapas da solução de problemas; Identificação de alternativas; Avaliação de alternativas;
Discussão, planeamento e encaminhamento participativo de soluções; Análise de etapas e forma de comunicação; Resposta;
Avaliação de resultados e Ferramentas de auxílio à tomada de decisão;
5. Mobilização social: uma via de mão dupla;
6. Gestão pela qualidade aplicada ao policiamento de proximidade;
7. Polícia de Proximidade: da teoria à prática.
II – OBJETIVO
Apresentar informações e ferramentas objetivas aos discentes a fim de viabilizar a prática do Policiamento de Proximidade,
bem como analisar os seus pontos fortes e avaliar a utilização de técnicas específicas que modifiquem a própria realidade e da
comunidade em que se estar inserido.
III - ESTRATÉGIAS DE ENSINO
Os temas abordados poderão ser desenvolvidos através de aulas expositivas, debates, trabalhos em grupo e individual,
utilizando os recursos didáticos disponíveis para auxiliar na fundamentação do ensino-aprendizagem.
IV- PROCEDIMENTOS DE AVALIAÇÃO
A avaliação deverá ser fundamentada em todo conteúdo ministrado, será composta por questões objetivas, valendo 100% da
nota, pois se trata de uma única avaliação.
V- REFERÊNCIAS
DIAS, Reinaldo. 2008. Introdução à Sociologia, 2ª. Edição. Pearson Prentice Hall: São Paulo.
GALDEANO, A. P. Para falar em nome da segurança: o que pensam, querem e fazem os representantes dos Conselhos
Comunitários de Segurança. 2009.
28/02/2018 SEI/MJ – 4196017 – Ementa https://sei.mj.gov.br/sei/controlador.php?
acao=documento_imprimir_web&acao_origem=arvore_visualizar &id_documento=5001747&infra_sistem… 2/2
HENRIQUES, M. S.; BRAGA, C. S.; MAFRA, R. L. M. O planejamento da comunicação para a mobilização social: em busca da
co-responsabilidade. Comunicação e estratégias de mobilização social. 2a . ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.
SKOLNICK, J. H.; BAYLEY, D. H. Policiamento Comunitário: Questões e Práticas Através do Mundo. [s.l.] EdUSP, 2002. v. 6.
TORO, B. Mobilização social: uma teoria para a universalização da cidadania. Comunicação e Mobilização Social. Série
Mobilização Social. Brasília: UNB, v. 1, 1996.
MINISTRO DE ESTADO DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA, Portaria nº 43, de 12 de abril de 2019.
O SECRETÁRIO NACIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA, no uso da competência que lhe confere o art. 23, do anexo I,
do Decreto n° 9.662, de 1º de Janeiro de 2019, resolve:
Art. 1º Esta Portaria institui as Diretrizes Nacionais e o Manual de Polícia Comunitária, na forma dos Anexos.
Art. 2º Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.
GUILHERME CALS THEOPHILO GASPAR DE OLIVEIRA
ANEXO I
DIRETRIZES NACIONAIS DE POLÍCIA COMUNITÁRIA
Diretriz 1: Visão sistêmica da Polícia Comunitária
Entendida como filosofia e estratégia organizacional que deve permear toda a instituição policial e não apenas constituir
um programa de policiamento ou fração de efetivo.
Diretriz 2: Conteúdo obrigatório nas malhas programáticas dos cursos de formação e aperfeiçoamento
Conteúdo obrigatório nas malhas programáticas dos cursos de formação e aperfeiçoamento, com aulas a serem
ministradas por multiplicadores formados nas capacitações estaduais, nacionais ou internacionais.
Diretriz 3: Preferência pelo emprego de todos policiais recém-formados na atividade de Policiamento Comunitário
Fixação de seu emprego por período que propicie o estabelecimento de laços de confiança com a comunidade local.
Diretriz 4: Utilização de ações policiais sociais como meio de aproximação comunitária, de forma a contribuir com
o policiamento comunitário e não como fim
Utilização de ações policiais sociais como meio de aproximação comunitária, de forma a contribuir com o policiamento
comunitário e não como fim, e por prazo certo, dentro da dinâmica operacional de cada instituição, tendo em vista que estas
oneram efetivo profissional imprescindível para a atividade policial e devem ter sua continuidade preferencialmente
empreendida por voluntários oriundos da comunidade, prática que deve ser incentivada e valorizada na sociedade.
Entende-se ação policial social aquela empreendida em prol da comunidade local, mas que não demande para sua
implementação de profissional com formação e experiência na área de segurança pública, como, por exemplo, o ministério de
aulas de música ou esportes.
Não estão inclusas nesta classificação as ações de policiais em escolas quanto à conscientização da prevenção do uso de
drogas (PROERD) e outras similares, as quais requerem expertise em segurança pública por parte do agente, a fim de que seja
propiciado ao público-alvo um completo panorama do problema sob perspectiva institucional. Destaca-se que neste programa
os policiais atuam realizando, concomitantemente, policiamento comunitário escolar, aplicação de lições em salas de aula e
constante interação junto às comunidades locais atendidas, sendo, portanto, considerado atividade de policiamento
comunitário.
Diretriz 5: Estruturação e normatização dos Conselhos Comunitários de Segurança
Importância da estruturação e normatização dos Conselhos Comunitários de Segurança, ou organismo congênere, para a
integral implementação do Sistema, por meio de fórum de comunicação presencial entre os gestores de segurança pública,
municipalidade e a comunidade, de forma que seus anseios sejam ouvidos e levados em consideração quando do planejamento
e ação operacional das instituições, bem como seja incentivada a consciência de corresponsabilidade na construção de uma
sociedade segura, meta a ser alcançada pela ação sinérgica de todos os atores envolvidos.
Diretriz 6: Colaboração federativa
Implementação de mecanismos de inter-relação e colaboração federativa para multiplicação de boas práticas e
aperfeiçoamento do Sistema, por intermédio de mecanismos como as visitas técnicas e os seminários.
Diretriz 7: Disseminação e uniformização da filosofia de polícia comunitária
Disseminação e uniformização da filosofia de polícia comunitária entre todos atores do Sistema de Segurança Pública
brasileiro, preferencialmente a partir de profissionais multiplicadores capacitados.
Devem as unidades da federação primar por manter uma identidade mínima de policiamento comunitário que mantenha,
como princípio básico de atuação norteadora de toda estrutura, a fixação do efetivo na área de atuação, a realização de visitas
comunitárias e solidárias, a realização de reuniões comunitárias, a mobilização comunitária e, sobretudo, que se dê autonomia
de ação ao policial comunitário dentro de sua esfera de atribuições.
Cabe destacar que a presente diretriz deve ser entendida como uma meta a ser alcançada por meio de esforços
institucionais de todos atores envolvidos na área de segurança pública, não constituindo obrigação exclusiva de uma
instituição.
Diretriz 8: Mobilização e ação sinérgica com os atores responsáveis pela implementação de Políticas Sociais
2Junkai Renraku são atividades que os policiais comunitários realizam, por meio da visita a famílias e aos locais de trabalho, ocasião em que repassam
orientações sobre a prevenção de ocorrências de crimes e acidentes, além de recepcionarem informações sobre problemas, solicitações e sugestões da
comunidade (SENASP, p. 156).
3Marcelo P. das Neves de Oliveira, tenente da PMBA; Graduado em Segurança Pública (Academia de Polícia Militar da Bahia, 2004); Pós-graduando em Polícia
Comunitária (UNISUL, 2009, bolsista SENASP/MJ); Pós-graduando em Ética, Teologia e Educação (EST, 2009); Pós-graduando em Educação à Distância (UNEB,
2009). É professor de Técnica Policial na Academia de Polícia Militar da Bahia.
4 As causas desses distúrbios foram relatadas pela Comissão Consultiva Nacional sobre Desobediências Civis (Comissão Kerner) em 1968.
REFERÊNCIAS
AMORIM, Jorge Schorne de. Sistema Nacional de Segurança Pública. Palhoça, 2009. Livro didático do Curso de
Especialização em Polícia Comunitária da UnisulVirtual.
BRODEUR, Jean-Paul. Como Reconhecer um Bom Policiamento: problemas e temas; tradução de Ana Luísa Amêndola
Pinheiro. São Paulo: EDUSP, 2002. (Série Polícia e Sociedade; n.º 6).
SKOLNICK, Jerome H; BAYLEY, David. Policiamento Comunitário: Questões e Práticas Através do Mundo; tradução de
Ana Luísa Amêndola Pinheiro. 1ª ed. São Paulo: EDUSP, 2006. (Série Polícia e Sociedade; n.º 6 / Organização: Nancy Cardia).
POLÍCIA COMUNITÁRIA
Com o fenômeno da globalização, a necessidade de intercâmbio entre países passou a exigir a aplicação da legislação e de regras
internacionais, especialmente no que se refere ao cumprimento e respeito aos direitos e garantias dos cidadãos, tornando essencial o
conhecimento dos tratados de Direitos Humanos.
O Brasil, como país emergente, cujas dimensões e características ressaltam ao mundo um futuro promissor entre as
nações, se faz presente praticamente em todos os acordos internacionais de relevância, tornando assim latente a importância de
ter uma Polícia direcionada aos compromissos de defesa da vida e da integridade física das pessoas, bem como voltada à defesa
da cidadania e ao respeito pelos cidadãos.
Voltado a tais objetivos, nos idos do ano de 1992, o Comando da PMESP, atento a essas evoluções, determinou estudos
sobre formas de atuação que firmassem os conceitos de respeito à cidadania por meio da atuação do policiamento, surgindo
então a estratégia doutrinária do policiamento comunitário, a qual em alguns países, como Estados Unidos, Canadá e
Cingapura, já se encontrava em desenvolvimento e aplicação, tendo como alicerce o exemplo dessa prática no Japão, com
experiência desde o ano de 1868.
No Japão, pelas próprias características e cultura, o sistema de policiamento comunitário é baseado em instalações físicas
fixas, denominadas Koban5 e Chuzaisho6, onde os policiais são fixados em territórios delimitados, passando a fazer parte
integrante da comunidade e exercendo uma polícia de defesa da cidadania em estreita parceria com a própria comunidade.
A principal premissa do policiamento comunitário é o respeito aos princípios dos Direitos Humanos, norteando os serviços de polícia em
conformidade com as expectativas da comunidade, sendo necessária a participação dos cidadãos, além de entidades públicas e privadas, na
identificação e resolução rápida dos problemas ligados à segurança, com um objetivo maior: a melhoria da qualidade de vida.
O embrião no Estado de São Paulo foi, no ano de 1985, a criação dos Conselhos Comunitários de Segurança (CONSEG), os quais, apesar
de, na época, não se referirem ao Policiamento Comunitário, tinham e têm como objetivo a gestão participativa da comunidade nas questões
de segurança pública.
Apesar das poucas experiências e do curto espaço de tempo entre o conhecimento da teoria e o planejamento de sua aplicabilidade, no ano
de 1999, foram criadas, em todo Estado de São Paulo, diversas edificações Policiais Militares em locais onde a maior presença policial militar
era necessária, marcando o início da operacionalidade do policiamento comunitário. Tais edificações Policiais Militares foram denominadas
Bases Comunitárias de Segurança (BCS).
As BCS, apesar de objetivarem a presença policial militar junto à sociedade, não atenderam todas as expectativas, principalmente
pela falta de sistematização do emprego do efetivo, do emprego de recursos materiais e, principalmente, pela ausência de padronização
da forma de atuação.
Diante dessa evolução, em 19 de abril de 2004, foi firmado o Acordo de Cooperação Técnica entre Brasil e Japão, na
busca fundamental de estudos e planejamento de operacionalização do sistema de policiamento comunitário, baseado no
5Os kobans (sistema de policiamento japonês) eram vistos como bases fixas de patrulhamento - recebiam queixas e solicitações de serviço, realizavam o
patrulhamento a pé, de bicicletas, e de patinetes motorizados, respondendo, quando fosse viável, as chamadas de serviços de emergência e dando atenção
especial para a ligação com a comunidade e para a prevenção do crime. (Cf. SKOLNICK, Jerome H.; BAYLEY, David H. Policiamento Comunitário: Questões e
Práticas através do Mundo. p. 89). Os Kobans, localizam-se normalmente nos locais onde haja grande fluxo de pessoas, como zonas comerciais, turísticas, de
serviço,próximo às estações de metrô, etc., sendo que, nesse tipo de posto trabalham equipes compostas por 03 ou mais policiais, conforme o fluxo de
pessoas na área delimitada como circunscrição do posto, funcionando 24 horas por dia, existindo atualmente mais de 6.500 Kobans em todo o país. (Cf.
CAVALCANTE NETO, Miguel Libório. A Polícia Comunitária no Japão: Uma Visão Brasileira. Encontro Nacional de Polícia Comunitária, realizado em Brasília/
DF, de 13 a 16 de dezembro de 2001. Disponível em:http://www.estacaodocomputador.com.br.p.1).
6É uma casa que serve de posto policial 24 (vinte e quatro) horas, onde o policial reside com seus familiares, e na sua ausência a esposa atende aqueles que
procuram o posto. Localiza-se normalmente nos bairros residenciais e conta atualmente com mais de 8.500 postos nesta modalidade. (Cf. CAVALCANTE NETO,
Miguel Libório. A Polícia Comunitária no Japão: Uma Visão Brasileira.p.1
7 Antigamente, havia no Japão pequenos postos policiais, chamados “Kobansho”, que em 1881 foram denominados “Hashutsusho” e, em 1994, a pedido da
população, tornaram-se “Koban”, em que “Ko” significa troca e “Ban” vigilância. Logo, “sistema de vigilância por troca”, em que a instalação física do Koban
é referência para a comunidade procurar a polícia, enquanto a polícia oferece atenção à comunidade. Em 1888, nascia o “ Chuzaisho”. “Chuzai” é a residência
onde trabalha e “sho” é o local. Ou seja: “instalação em que o policial mora e trabalha” com a família, geralmente situada em áreas rurais ou cidades menores.
Na ausência do policial, a esposa, remunerada para tal, atende aos solicitantes.
"É preciso educarmo-nos, primeiro a nós mesmos, depois a comunidade e depois às futuras gerações de
policiais e lideranças comunitárias, para esse trabalho conjunto realizado em prol do bem comum…"
Os agentes da segurança pública e/ou defesa social, precisam inicialmente quebrar paradigmas do papel da polícia na
comunidade, respondendo à seguinte questão: O papel é de força, que tem como função principal fazer valer as leis criminais?
Ou de serviço, que tem função principal os problemas sociais?
Ainda que esses dois papéis sejam distintos, eles são interdependentes e deriva de um mandato mais fundamental de
manutenção da ordem - a resolução de conflitos através de meios que mesclam o potencial uso da força e o provimento de
serviços. Esses meios nem sempre precisam ser formais. Isso vale dizer que o trabalho policial não pode ser conduzido sem
uma colaboração organizada dos cidadãos.
A forma mais comum de organização dos cidadãos é a comunidade.
Para FERDINAND TONIES, “a comunidade pode ser definida como conjunto de pessoas que compartilham um território geográfico
e algum grau de interdependência, razão de viverem na mesma área”.
“Comunidade torna-se conceito de sentido operacional; comunidade é um grupo de pessoas que dividem o interesse por um
problema: a recuperação de uma praça, a construção de um centro comunitário, a prevenção de atos de vandalismo na escola, a
alteração de uma lei ou a ineficiência de um determinado serviço público. A expectativa é que a somatória de experiências bem-
sucedidas de mobilização social em torno de problemas possa, ao longo do tempo, contribuir para melhorar o relacionamento
entre polícia e sociedade e fortalecer os níveis de organização da sociedade” (GOLDSTEIN, 1990, p.26).
O ideal de participação não corresponde ao cenário idílico de uma “comunidade” sem conflitos, mas de uma
sociedade capaz de dar dimensão política aos seus conflitos e viabilizar a convivência democrática entre distintas
expectativas de autonomia em um mesmo espaço territorial. (DIAS, THEODOMIRO).
2.1.3. O PM E OS LIMITES DA LEI
Alex João Costa Gomes8
A temática é por deveras instigante e relevante ao serviço policial militar, pois a Lei é quem norteia as ações das Policias
Militares no Brasil, mesmo sendo essas discricionárias, autoexecutáveis e coercitivas, as Polícias Militares não podem agir
em desacordo com o que determina nosso ordenamento jurídico, ou seja, como bem entendem. Desta feita, existe a
necessidade da observância das normas e leis que regulam cada ação do Policial Militar (PM), desde as mais simples até as
mais complexas. O PM é um dos poucos servidores do Estado que está em quase todo lugar do país, trabalha diuturnamente
para garantir a ordem pública, com o intuito de levar a segurança pública ou ao menos a sensação dessa a cada cidadão
brasileiro. Sendo que por diversas vezes têm segundos para tomar uma decisão em uma ocorrência nas ruas do país, e essa
decisão pode o levá-lo ao banco dos réus com a sociedade ao lado dele, ou totalmente contra o mesmo.
“Os agentes policiais no exercício de suas funções encontram-se sujeitos ao limites da lei. A atividade policial possui aspectos
discricionários, que são essenciais para o cumprimento das funções de segurança pública.
O ato de polícia como ato administrativo é que fica sempre sujeito a invalidação pelo Poder Judiciário, quando praticado com
excesso ou desvio de poder.” (Hely Lopes Meirelles, 1972)
Hely Lopes Meirelles coloca muito bem a questão da atividade policial de forma geral, mas que está sujeita a validação
ou não da Justiça brasileira. Podemos inferir que isso reforça a ideia que o PM deve agir conforme as normas e leis que norteiam
a atividade do mesmo durante o trabalho, e podemos afirmar que por ser policial militar mesmo estando de folga, também deve
não estando de serviço observar sua conduta em sociedade respeitando e obedecendo ao ordenamento jurídico do Brasil.
A administração pública está sujeita aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência 9,
logo, os agentes públicos também estão sujeitos a tais princípios, pois são os executores dos serviços públicos, são os que vão
impor a força para manter a ordem ou restabelecer essa. É preciso convir que a segurança pública é um direito fundamental do
cidadão brasileiro, dessa maneira, os operadores da segurança pública devem garantir esse direito a todos no país, mesmo aos
estrangeiros.
“Os limites do poder de polícia exercido pelas forças policiais são três:
a ) os direitos do cidadão;
b) as prerrogativas individuais;
8Alex João Costa Gomes – Bacharelado e Licenciatura Plena em História (UNIFAP 2001), Policial Militar (Aluno Oficial)
9 Saiba mais em: https://www.senado.leg.br/atividade/const/con1988/con1988_12.07.2016/art_37_.asp
Para Álvaro Lazzarini são esses os limites do poder de polícia, assim, os policiais militares no Brasil devem considerar
tais informações na execução de seus trabalhos durante o serviço policial militar e durante sua folga, para não incorrerem em
omissão, pois ninguém pode alegar desconhecimento de lei, principalmente aqueles que operam direto ou indiretamente, ou
seja, aplicam a lei em nome do Estado em nossa sociedade.
Pelo exposto pudemos observar o quanto é limitada a atividade do policial militar, pois várias são as normas e leis que
regulam a conduta dos mesmos. Contudo, isso não significa que o trabalho desse esteja engessado, pelo contrário, o operador
da segurança pública deve trazer a lei para o seu lado, fazendo com essa dê respaldo ao trabalho desenvolvido nas ruas do
Brasil diuturnamente. O uso da força, do poder de polícia, devem se distanciar do abuso de poder, bem como do abuso de
autoridade, mas não devem ir ao encontro dos direitos dos cidadãos, na verdade devem reforçar e garantir a efetivação desses.
Não podemos de maneira alguma entender, ou seja, interpretar o trabalho do policial militar como sendo algo simples e de fácil
execução, pois não é, visto a complexidade que o envolve.
Para fixar:
Os limites do poder de polícia exercido pelas forças policiais são três:
a ) os direitos do cidadão;
b) as prerrogativas individuais;
c) as liberdades públicas previstas nos dispositivos constitucionais e nas leis.” (Álvaro Lazzarini, 1988)
10 Sir Robert Peel - Robert Peel, 2.º Baronete (Bury, 5 de fevereiro de 1788 — Londres, 2 de julho de 1850) foi um político britânico, primeiro-
ministro de seu país de 10 de dezembro de 1834 a 8 de Abril de 1835 e de 30 de Agosto de 1841 a 29 de Junho de 1846.
Ajudou a criar o conceito moderno da força policial do Reino Unido. Seu pai era um fabricante de têxtil na Revolução Industrial. Peel foi educado na Escola
primária Hipperholme, depois em Harrow School e finalmente na Christ Church, em Oxford.
Faleceu em Londres em 2 de julho de 1850, a consequência de um acidente de cavalo na estrada Constitution Hill. Encontra-se sepultado em St Peter
Churchyard, Drayton Bassett, Staffordshire na Inglaterra ( Robert Peel (em inglês) no Find a Grave ).
Personalização
CONCEITOS BÁSICOS
Polícia Comunitária: É a corporação policial que é embasada na Filosofia de Polícia Comunitária. É também a Filosofia de Polícia
Comunitária aplicada na gestão da corporação.
Policiamento Comunitário: É a aplicação prática da Filosofia de Polícia Comunitária nas atividades policiais. É a Estratégia de
Polícia Comunitária aplicada na execução de policiamento.
Segurança Comunitária: É o resultado positivo do policiamento comunitário na segurança pública da comunidade. É a melhora da
qualidade de vida da comunidade através da participação de todos os parceiros no policiamento comunitário.
Projeto Comunitário: é um empreendimento temporário com o objetivo de criar um produto ou serviço único.
Programa Comunitário: É um empreendimento com duração indeterminada ou contínua, para interferir na qualidade de vida da
comunidade.
(...) uma valiosa contribuição para o fortalecimento de uma nova abordagem policial. A metáfora usada pelos autores é a de que
quando a janela de uma casa é quebrada é preciso repará-la rapidamente, pois, se isso não ocorrer, haverá a tendência de que outros
vidros sejam quebrados. O abandono produziria, assim, uma ‘mensagem’ que estimularia os infratores a persistirem nas ações ilegais
e a torná-las progressivamente mais sérias (como uma espiral de declínio) (ROLIM, 2006, p. 72).
De acordo com essa concepção, as rondas a pé em locais onde imperam desordem, vandalismo, pichações,
comportamentos agressivos e violentos, pessoas dormindo na rua etc., têm o potencial de fazer com que as pessoas que moram
nestes locais sintam-se menos inseguras e menos tentadas a abandonar o bairro. O objetivo é suprimir crimes e manter o bairro
atraente para seus habitantes. Interessa mostrar que o controle do local não está nas mãos de infratores e criminosos, mas que é
a polícia quem o detém. No entanto, como advertem Skolnick e Bayley (2006), se esta estratégia de policiamento será
comunitária ou não vai depender da forma com que seja aplicada. Na medida em que seja realizada de forma autoritária e sem
participação da comunidade se afastará do policiamento comunitário e será um serviço realizado sob ameaça. Esta advertência
é de extrema importância para o caso brasileiro, já que, como mostra a análise que segue, a polícia comunitária implementada
em favelas do Rio de Janeiro esteve baseada em grande parte nesta filosofia, mas apresentou alguns dos problemas aqui
formulados, além de outros específicos deste tipo de localidade e da criminalidade que nela impera.
POLICIAMENTO ORIENTADO PARA SOLUÇÃO DE PROBLEMAS
Trata-se de mais um meio de engajamento social. A premissa baseia-se no conceito de que a polícia deixa de reagir ao crime (crime
fighting policing) e passa a mobilizar os seus recursos e esforços na busca de respostas preventivas para os problemas locais (problem-
oriented policing); ao invés de reagir contra incidentes, isto é, aos sintomas dos problemas, a polícia passa a trabalhar para a solução dos
próprios problemas. A noção do que constitui um problema desde uma perspectiva policial expande-se consideravelmente para abranger o
incrível leque de distúrbios que levam o cidadão a evocar a presença policial.
INTERSEÇÕES ENTRE AÇÕES POLICIAIS SOCIAIS E POLICIAMENTO COMUNITÁRIO
Para efeito desta diretriz, serão consideradas ações policiais sociais aquelas exercidas por profissionais de segurança
pública e que não estão contidas no rol de atividades exclusivas de ‘policiamento ostensivo’, mas que exercem relevantes
impactos nas comunidades atendidas. Estão contidas nessas ações os programas essencialmente de prevenção primária, com
exceção do Programa Educacional de Resistência às Drogas (PROERD), cuja execução carece de profissional de segurança
pública para sua consecução, estando compreendida a existência não só de aplicações em aulas nas escolas, mas a troca de
informações com a comunidade escolar, pais, alunos e comunidades adjacentes, constituindo-se ação de aproximação e
impacto permanente na comunidade.
2.4.OS DEZ PRINCÍPIOS DA POLÍCIA COMUNITÁRIA
Para uma implantação do sistema de Policiamento Comunitário é necessário que todos na instituição conheçam os seus princípios,
praticando-os permanentemente e com total honestidade de propósitos. São eles:
a) Filosofia e Estratégia Organizacional
A base desta filosofia é a comunidade. Para direcionar seus esforços, a Polícia, ao invés de buscar ideias pré-concebidas, deve buscar,
junto às comunidades, os anseios e as preocupações das mesmas, a fim de traduzi-los em procedimentos de segurança;
b) Comprometimento da Organização com a concessão de poder à Comunidade
Dentro da comunidade, os cidadãos devem participar, como plenos parceiros da polícia, dos direitos e das responsabilidades envolvidas
na identificação, priorização e solução dos problemas;
c) Policiamento Descentralizado e Personalizado
É necessário um policial plenamente envolvido com a comunidade, conhecido pela mesma e conhecedor de suas realidades;
d) Resolução Preventiva de Problemas a curto e a longo prazo
A ideia é que o policial não seja acionado pelo rádio, mas que se antecipe à ocorrência. Com isso, o número de chamadas da COPOM
deve diminuir;
e) Ética, Legalidade, Responsabilidade e Confiança
O Policiamento Comunitário pressupõe um novo contrato entre a polícia e os cidadãos aos quais ela atende, com base no rigor do respeito
à ética policial, da legalidade dos procedimentos, da responsabilidade e da confiança mútua que devem existir;
f) Extensão do Mandato Policial
Cada policial passa a atuar como um chefe de polícia local, com autonomia e liberdade para tomar iniciativa, dentro de parâmetros
rígidos de responsabilidade. O propósito, para que o Policial Comunitário possua o poder, é perguntar-se:
Isto está correto para a comunidade?
Isto está correto para a segurança da minha região?
Isto é ético e legal?
Isto é algo que estou disposto a me responsabilizar?
Isto é condizente com os valores da Corporação?
Se a resposta for Sim a todas essas perguntas, não peça permissão. Faça-o
g) Ajuda às pessoas com Necessidades Específicas
Valorizar as vidas de pessoas mais vulneráveis: jovens, idosos, minorias, pobres, deficientes, sem teto, etc. Isso deve ser um compromisso
inalienável do Policial Comunitário;
h) Criatividade e apoio básico
Ter confiança nas pessoas que estão na linha de frente da atuação policial, confiar no seu discernimento, sabedoria, experiência e
Junkai Renraku são atividades que os policiais comunitários realizam, por meio da visita a famílias e aos locais de trabalho,
ocasião em que repassam orientações sobre a prevenção de ocorrências de crimes e acidentes, além de recepcionarem
informações sobre problemas, solicitações e sugestões da comunidade (SENASP, p. 156).
Através dos Junkai Renraku, os policiais comunitários preenchem um cartão, no qual inserem informações úteis para
melhor conhecer o cidadão e acioná-lo no caso de desastre ou acidentes, ou ainda, para repassar orientações que melhorem a
sua segurança.
3.1.1.1 Objetivos da visita comunitária
A visita comunitária tem por objetivo geral estabelecer uma relação de amizade e confiança mútua, por meio de constantes
contatos diretos e pela presença asseguradora de policiais militares.
A SENASP (2010, p. 157) relaciona outros objetivos da visita comunitária:
Traçar perfil socioeconômico da comunidade; Identificar problemas criminais e situação de riscos às pessoas; Conhecer a
comunidade com a qual trabalha; Interligar a população e demais órgãos públicos para a resolução de problemas.
A visita comunitária ainda é um importante instrumento na prevenção de crimes, conforme assevera a Secretaria Nacional
de Segurança Pública do Ministério da Justiça (SENASP, 2010, p. 157):
As visitas comunitárias têm o objetivo de proporcionar condições para que o policial militar possa transmitir informações sobre
prevenção de crimes, divulgar os projetos desenvolvidos, a forma de atuação policial militar e os objetivos do policiamento
comunitário, além de ser excelente ferramenta para o marketing institucional.
[...] verificar as carências daquela família, a situação sócio-econômica, identificar as formas mais comuns de violência a que
estão sujeitos, além de colher solicitações e informações pertinentes à criminalidade e aos conflitos existentes, a fim de que o
policial militar possa resolver, orientar ou encaminhar tais problemas e solicitações aos órgãos competentes (SENASP, 2010, p.
159).
A visita comunitária em residência, como modalidade de policiamento propicia a infiltração da Polícia Militar em áreas
pouco policiadas e leva ao morador o sentimento de preocupação e zelo que o Estado está denotando a seu respeito.
3.1.1.4 – Visita comunitária comercial No comércio, a frequência de visita comunitária é maior e,
consequentemente, se repete com maior facilidade por três motivos:
1) número de estabelecimentos comerciais é menor que de residências;
2) se situa em locais de maior fluxo de pessoas e
3) são mais suscetíveis a furto e roubo.
“Nas visitas comerciais, devem ainda ser observadas as condições de segurança e a vulnerabilidade a eventos criminosos
(principalmente furto e roubo) de modo que o policial militar possa orientar sobre as formas de prevenção” (SENASP, 2010, p.
160).
No patrulhamento tradicional os policiais militares patrulham distantes das pessoas, executando o equivocado método de
prevenção pela exclusividade do policiamento. Por mais público que seja o policiamento não há impedimento aos policiais
militares de acessarem os estabelecimentos comerciais.
Adentrar ao imóvel, conversar com os comerciários e clientes e aproveitar para transmitir orientações de prevenção e
formas de acionar a PM no caso de emergência, trata-se de um modelo de policiamento eficiente e que aproxima o cidadão da
Polícia Militar.
3.1.1.5 - Visita comunitária em órgão público ou entidade privada. Os policiais militares do quadrante devem buscar a
aproximação do órgão público como creches, escolas, hospitais e entes privados, como igrejas, Organização não
Governamental (ONG), associações, com fim comum da visita que é a prevenção, por métodos próprios e aproximação com a
PM, bem como para “[...] o levantamento de dados sobre o funcionamento e a atuação de cada órgão [...]” (SENASP, 2010, p.
160) para, através dele, encaminhar solicitações do cidadão para a resolução de problemas e para ser possível o acionamento do
diretor, presidente ou chefe do órgão em caso de emergência, pois nesses locais, geralmente, estão fechados à noite e finais de
semana, estando vulneráveis ao crime.
3.1.2 - Visita Solidária
A visita solidária ocorre quando os policiais militares visitam as vítimas de crime e incivilidades havidas no quadrante,
para outras providências policiais e orientações sobre prevenção.
É através da visita solidária que o policial militar faz um estudo de caso e conduz a vítima a refletir se o seu
comportamento contribuiu para o desfecho delituoso. Igualmente, o policial militar enriquece sua lista com novas maneiras de
prevenção. A aproximação do policial militar após a ocorrência criminal é importante para renovar a confiança do cidadão em
Diariamente, o policial deve consultar o banco de dados e relacionar as ocorrências no dia anterior, ou outro período pré-
definido, deslocar-se ao local e fazer contato com a vítima a fim de colher dados necessários para o planejamento adequado de
ações. Desta forma, também, o cidadão sente-se prestigiado, aumentando a sensação de segurança e criando, acima de tudo, um
vínculo entre a polícia e a comunidade (SENASP, 2010, p. 166).
A visita solidária, bem-sucedida, propicia a restauração da Ordem Pública através da possibilidade de responsabilização
do autor do crime e do aumento da sensação de segurança.
3.1.2.1 Objetivos da visita solidária.
A visita solidária, como instrumento do policiamento comunitário, é utilizado para alcançar as finalidades deste e deve
estar ligado a uma “espinha dorsal” para o fim único do policiamento comunitário. Portanto, para alcançar os fins desejados, os
objetivos da visita solidária são:
a) Identificar o autor do delito através de novas informações que a perspicácia do policial militar permite extrair, bem
como após o fim d êxtase provocado pelo impacto, faculta à vítima melhor retratar o episódio.
b) Relacionar o sinistro criminoso a outros eventos para buscar associar autores, através do seu modo de ação;
c) Conduzir a vítima a refletir sobre seu comportamento para corrigir possíveis falhas que contribuíram para o crime;
d) Enriquecer o acervo da Polícia Militar sobre novas maneiras de prevenção e sobre o modo de atuação dos delinquentes
com fim de orientar os cidadãos sobre novas maneiras de prevenção;
e) Melhorar o nível de sensação de segurança que a vítima possuía antes do crime, se não puder aumentá-lo;
f) Fazer com que o policial militar possa compreender a vítima e entender sua aflição (empatia) para melhorar sua atuação
e comprometimento com a segurança pública;
g) Corrigir possíveis falhas no atendimento reativo ou sobre o policiamento preventivo;
h) Colher dados necessários para o planejamento adequando das ações policiais.
3.1.2.2 Como realizar uma visita solidária
Após um turno de vários atendimentos policiais militares – proativos e reativos, a guarnição do quadrante deve relacionar
os boletins de atendimentos reativos os quais há vítimas, preenchendo um rol com informações necessárias para que os
policiais militares do próximo turno iniciem o seu labor visitando as vítimas.
O preenchimento da lista deve ser preciso o suficiente para que os policiais possam entender a dinâmica do fato, mas
sucinto para que o PM compreenda o episódio pela narrativa da vítima.
Os policiais militares devem entender que a visita solidária é um método de policiamento e que devem adotar o
comportamento de patrulha e de posicionamento da viatura em estacionamento para garantir a presença asseguradora da PM no
local e propiciar à comunidade imediata a segurança favorecida pela presença da Polícia Militar nas imediações.
A visita deve ser objetiva, tendo a narrativa da vítima no primeiro momento, seguido pela expressão de sensibilidade do
PM, pela análise do fato, pela orientação a respeito da prevenção e pela dedicação da PM no sentido de evitar futuros delitos.
A visita que não puder ser realizada no período diurno deverá ser agendada para o momento adequado, considerando,
ainda, os picos criminais, os quais deverão ser evitados para que não haja falha no policiamento preventivo.
O ideal é que o sistema de informações possa agregar no mesmo boletim de atendimento a visita solidária e
complementar, através dela, informações que possa chegar à autoria ou melhorar o conteúdo probatório facultando a
persecução criminal.
3.1.2.3 Quando realizar a visita solidária.
Em regra, a visita solidária é destinada a todas as vítimas de delitos, no entanto, em algumas situações não são
recomendadas e, portanto, devem ser evitadas.
Nos fatos de briga generalizada, vias de fato, a visita solidária não é eficiente, não possibilita facilmente a autoanálise da
vítima, que não raras vezes, é o “pivô” do entrevero, mas que nunca, observou-se como tal. Alguns crimes em que a vítima é
contumaz delinquente, a Polícia Militar geralmente não é bem recebida pela família, pois a vê como inimiga.
Em outras oportunidades, para coibir o delito e prender os autores, a Polícia Militar usou, seletivamente, dos seus recursos
disponíveis para cessar a agressão ou permitir a aplicação da lei penal. Nesses casos, a Polícia Militar, para os envolvidos e
suas famílias, também personaliza a antipatia.
São casos que antes de realizar a visita solidária, os policiais militares devem consultar o escalão superior e, com ele,
deliberarem a viabilidade da visita.
3.1.3 – Monitoramento
Para que o incidente criminal ocorra, três fatores são essenciais:
a) Vítima;
b) Oportunidade;
c) Delinquente.
Havendo ausência de um desses elementos, o crime não ocorre. A prevenção ao crime não abrange apenas o policiamento
preventivo, pois este ataca apenas a oportunidade. O delinquente está sempre à procura de uma oportunidade para atacar uma
vítima. Quando esta está vulnerável, torna-se vítima fácil.
Introdução
Texto extraído do livro A Síndrome da Rainha Vermelha
“Vamos imaginar que você esteja passeando ao longo de um rio e que, subitamente, perceba que uma criança está sendo arrastada pela
correnteza. Se você for uma pessoa minimamente solidária, por certo se jogará na água para tentar resgatar a criança. Suponhamos que você
tenha sorte e que seu gesto seja resgatar a criança. Assim, como bom nadador, você consegue trazer a criança sã e salva em seus braços e tem
razões de sobra para comemorar seu feito. Vamos imaginar agora que toda a vez que você passe por aquele lugar haja uma criança sendo levada
pela correnteza, fazendo com que você seja, sempre, obrigado a repetir a mesma façanha. Certamente, as chances de salvar todas as crianças
seriam menores e, ao mesmo tempo, o risco de você ser tragado pelas águas aumentaria. Mas, se isso ocorresse, pareceria evidente que algo
estava acontecendo com essas crianças em um ponto anterior da correnteza. Portanto, tão logo a repetição das ocorrências fosse comprovada,
pareceria-lhe não apenas o óbvio, mas urgente, descobrir o que estava acontecendo com as crianças antes de elas caírem na água. Então, você
provavelmente iria percorrer as margens do rio em direção à sua nascente para tentar descobrir a causa de tão chocante e misteriosa sucessão de
tragédias.”Imagine que o papel desempenhado pelas polícias modernas é superar a “lógica” de agir reativamente, que obriga os policiais a
“nadar” o tempo todo, para tentar salvar “crianças que já estão afogadas” e reflita sobre as questões a seguir:
1. Essa metáfora aplica-se no serviço de segurança pública?
2. Geralmente, você atua no serviço de segurança pública de forma reativa ou age de maneira proativa aos problemas
diários e repetitivos?
3. É hábito de sua organização pensar ou planejar ações para subir o curso do rio para “salvar as crianças”? O que impede
que isso ocorra?
4. Que tipo de ação dá mais visibilidade na mídia e reconhecimento (prêmios ou medalhas) na sua comunidade e
organização, tentar “salvar as crianças afogadas” ou “identificar o que gera os afogamentos”?
A partir da década de 1960, as cobranças acerca da efetividade do modelo profissional de policiamento, calcado em uma
perspectiva reativa de patrulhamento aleatório e limitada a aplicação da lei, nos Estados Unidos da América, ensejaram
diversas avaliações do desempenho policial (GOLDSTEIN, 1990).
As pesquisas realizadas nesse período, segundo Brodeur (2002, p. 42), fizeram emergir, em uma primeira análise, a
constatação de que o trabalho policial abrange não só o crime, mas comportamentos que não necessariamente envolvem a
esfera penal sendo a aplicação da lei apenas um dos métodos possíveis de ser empregado pela polícia e não o único.
Para o autor, as soluções podem ser tão simples como chamar um departamento de saneamento ou de obras para relatar
um problema de lixo ou de iluminação pública, como desenvolver programas de educação extensiva e treinamento profissional
para jovens, a fim de evitar a violência juvenil no bairro (BRODEUR, 2002).
No mesmo sentido, Oliveira (2006), destaca que um estudo realizado no Kansas entre 1972 e 1973, relativo à eficácia das
patrulhas preventivas, demonstrou que o aumento ou redução das patrulhas de rotina não exerceu incidência alguma sobre a
criminalidade ou mesmo no sentimento de segurança.
Finalmente, destaca-se a verificação de um grande distanciamento entre a polícia e a comunidade, além de agressividade
nas medidas repressivas e discrepâncias judiciais como fatos geradores de desigualdade:
O relatório constatou haver uma hostilidade profunda entre a comunidade dos guetos e a polícia, fato gerador de revoltas sociais,
porém não o único. Outros fatores apontados pela comissão era o sistema de justiça criminal que apresentava, em relação aos
pobres, grandes discrepâncias nas sentenças, equipamentos e serviços correcionais antiquados, entre outras desigualdades. A
comissão relatou, ainda, comentários negativos acerca das práticas policiais tendo como destaque o “patrulhamento preventivo
agressivo”. (MARCINEIRO, 2009, p. 46, grifo do autor)
Diante dessas constatações, os pesquisadores bem como os gestores de polícia, concluíram não pela extinção, mas pela
necessidade do aperfeiçoamento do modelo profissional de polícia, dando início ao modelo de polícia de proximidade e,
subsequentemente, à Teoria da resolução de problemas com a comunidade (HIPÓLITO; TASCA, 2012).
A denominada era da resolução de problemas com a comunidade evidencia-se, especialmente, em 1970, com a realização
de experiências de reestruturação dos departamentos de polícia com foco no relacionamento entre polícia e comunidade, ha-
[...] É um grupo de duas ou mais ocorrências (cluster de incidentes) que são similares em um ou mais aspectos (procedimentos,
localização, pessoas e tempo - PADRÃO), que causa danos e, além disso, é uma preocupação para a polícia e, principalmente,
para a comunidade”; e acomete, em pouco tempo, grande número de pessoas. [...].
Nesse sentido, destacam-se alguns elementos que tornam esses incidentes comuns, ligando-os, tais como tipo da infração
praticada (furto, lesão, roubo), procedimento modus operandi,ou seja, consulta sobre a operacionalização dos incidentes,
comportamentos, local, contexto físico e social, incidentes que por algum motivo ocorrem sempre no mesmo local, tempo,
horários e dias da semana, pessoas, ou seja, os atores envolvidos no problema, que incluem vítimas, infratores, e terceiros, e,
finalmente, evento, ou seja, incidentes que ocorrem devido a eventos (show, festa, feira), ou em determinado período do mês,
do dia ou da semana (GOLDSTEIN, 1990)
Outro ponto de relevância, nessa etapa, trata-se dos atores a quem se destina a tarefa de identificar os problemas, ponto
em que se reveste de relevância o termo disseminado pela polícia comunitária, qual seja, parceria, já que essa tarefa não está
adstrita a um segmento único de tal forma que Hipólito e Tasca (2012) atribuem a três grandes grupos essa tarefa (comunidade,
gestores de polícia e policiais de ponta).
Já quanto às formas de identificação desses problemas, aponta-se, além de reuniões junto a conselhos comunitários, para
a possibilidade de realização de entrevista, aplicação de questionários, urnas, conversas informais, queixas em rádios
comunitárias, registros de ocorrências. Esse processo é importante para que a identificação dos problemas não se resuma a
visão parcial e simplificada da polícia que possui conhecimentos restritos acerca dos problemas que afetam a comunidade
(GOLDSTEIN, 1990).
Da mesma forma, pode-se utilizar, tanto na fase da identificação quanto na fase da análise dos problemas, de uma técnica
denominada brainstorming, ou seja, tempestade de ideias, a qual visa reunir, de forma preliminar, as diversas ideias de
variados segmentos da sociedade para a identificação e solução dos problemas. (OLIVEIRA, 2006).
Por fim, Hipólito e Tasca (2012) sublinham que, para uma ação eficaz e focada, apresenta-se como relevante a
priorização dos problemas identificados, elegendo, dentre esses, aqueles em que as ações conjugadas serão empregadas em um
primeiro momento, propondo-se, para esse fim, a utilização da matriz Gravidade x Urgência x Tendência (GUT) e a qual
11Com a expressão mencionada o autor referencia um caso em que, hipoteticamente, todos os dias crianças caíam na água e eram levadas pela correnteza, forçando
quem passava pelo local a continuamente arriscar-se para salvá-las, parecendo óbvio e urgente que, tão logo a repetição das ocorrências fosse comprovada, deveria se
desvendar o que estava acontecendo com as crianças antes de elas caírem na água. (ROLIM, 2009).
Outro aspecto que deve ser levado em conta na identificação do problema é a necessidade de se eliminar o ‘achismo’, ou seja,
deve-se trabalhar com atos concretos e dados coletados em fontes de informações confiáveis. A experiência pessoal de cada um
que participa na identificação do problema é importante, porém, para se evitar desperdício de tempo e recursos na busca
de soluções por um problema erroneamente identificado ou pouco importante no contexto geral, deve-se procurar, sempre que
possível, comprovar a experiência pessoal através de dados estatísticos (Marcineiro, 2009, p. 180).
No tocante à contribuição da polícia, destaca-se o papel da inteligência de segurança pública como condição primordial à
identificação dos problemas e suas respectivas causas. Por isso, a inteligência de segurança pública deve ser desenvolvida e
aperfeiçoada constantemente com a integração de diversas bases de dados e não apenas com dados de instituições de segurança
pública, uma vez que órgãos, como secretarias de saúde e educação, podem fornecer informações bastante valiosas à polícia.
Nesse cenário, é interessante a utilização de tecnologias cada vez mais avançadas de análise criminal no auxílio à inteligência
de segurança pública (SANTA CATARINA, 2011).
Entretanto, segundo Rolim (2009, p. 41), infelizmente, muitas vezes só se obtêm: dados compilados partir dos registros de
ocorrência, o que assimila, inequivocamente, uma maneira ultrapassada de se lidar com indicadores de criminalidade e
violência.
TEORIA DO CRIME 16
Triangulo do crime –Dinâmica no cenário shopping center
Por André Vicente dos Anjos
O primeiro centro de compras do país foi inaugurado em 1966 e, num primeiro momento, causou desconfiança em
empresários e investidores pelo formato fechado, conflitando com o badalado e luxuoso comércio de rua que predominava na
época. Com o tempo a disputa pelos melhores espaços provou que os visionários empreendedores estavam certos em sua
aposta, pois logo o empreendimento se transformou num importante ponto de encontro da cidade de São Paulo. Mais de
cinquenta anos se passaram e este modelo de centro de compras sofreu grandes mudanças conceituais ao longo de todos estes
anos, se transformando nos grandes locais de entretenimento que vemos hoje.
Os shopping centers são estruturas pensadas e construídas para receber grandes quantidades de pessoas que buscam, em
sua grande maioria, um ambiente confortável, climatizado, limpo, seguro, com ótimo atendimento desde sua entrada e que ali
possam resolver tudo com total segurança. Segundo dados da ABRASCE –Associação Brasileira de Shopping Centers –
temos hoje no Brasil 571 empreendimentos e outros tantos em construção que recebem mensalmente mais de 400 milhões de
clientes passando pelos corredores destes espaços confiantes que estão sendo muito bem cuidados. Essa é a percepção dos
clientes.
Por ser considerado um local seguro muitos empresários do segmento joias e relojoarias que possuíam lojas de rua
optaram em locar espaços dentro destes grandes empreendimentos onde podiam atender um público muito exigente de forma
diferenciada, discreta e segura. Este era o cenário …
Ocorre que, os shoppings passaram a ser alvo de constantes ataques de quadrilhas bem organizadas e articuladas cujo foco principal são
produtos de fácil negociação como relógios, joias e aparelhos telefônicos, situação que mudou completamente o cenário anterior. As ações
criminosas, cada vez mais ousadas, têm se mostrado recorrentes em alguns empreendimentos, deixando algumas dúvidas, a saber:
1) Por que as ações criminosas se voltaram para os shoppings?
2) Quais os critérios adotados pelos criminosos para escolher um alvo específico?
3) Por que não se consegue dar uma resposta assertiva de modo a inibir atos criminosos?
4) Por que determinado empreendimento sofre com mais ataques que outro, situado no mesmo bairro?
Essas perguntas só podem ser respondidas se deixarmos de lado o modelo mental ultrapassado que tipifica um criminoso
como alguém sem estudo, com baixo nível intelectual e cultural e que seja incapaz de articular com outros elementos em prol
de um objetivo delituoso que gere benefícios para todos os envolvidos.
Isso mesmo. Esse modelo dominante nos fez imaginar que o shopping fosse algo intransponível enquanto deixamos de
considerar ainda outro importante fato. A sazonalidade das ações criminosas. Exatamente isso. Basta analisar os dados
estatísticos dos últimos anos e podemos observar claramente que existe uma mudança no foco das ações nos diferentes
períodos da história recente.
Sem a necessidade de ser específico com datas, pois a temática abordada no estudo é o cenário shopping center,
observamos que, ao longo dos últimos vinte e cinco anos, as ações criminosas de grande vulto contemplaram as seguintes
modalidades:
✔ Assalto a agências bancárias;
16 André Anjos C.P.S.I / C.I.G.R / M.B.R / C.I.S.I. Gestor de Segurança no segmento varejo , Graduado e Pós-Graduado em Segurança Privada e Ordem
Públicas, Especialista em riscos corporativos com ênfase em grandes empreendimentos, Especialista em Administração de Segurança, Certificado Profesional em
Seguridad Internacional-C.P.S.I, Certificado Internacional en Gestion de Riesgos-C.I.G.R e Master Business In Risk-MBR
Certificado Internacional em Segurança Integral e Prevenção de perdas-C.I.S.I. AGRADECIMENTOS: Nelson Junior: Gerente de segurança – São
Paulo, Marcelo Cabral: Gestor de Segurança – Rio de Janeiro, Tiago Miranda: Gestor de Segurança – Rio de Janeiro, Djalma Santos: Coordenador de Segurança
– Rio de Janeiro e Ubiratan Gomes: Coordenador de Segurança – Rio Grande
As comunidades e as polícias devem compartilha as experiências bem-sucedidas de prevenção ao crime; aquelas que geram
efetiva segurança a curto e a longo prazo. Devem compartilhar as ideias específicas de como resolver problemas de vizinhança.
Ao destacar os programas que foram desenvolvidos, espera-se que esta informação sirva como um catalisador para desenvolver
maneiras eficazes de impedir o crime e aumentar a participação das comunidades nestes esforços (DALMARCO, 2004, p. 22).
Segundo Skonieczny (2009), outro fator importante nesta fase é conhecer o impacto das medidas policiais sobre a
população.
4.4. IDENTIFICAÇÃO DE ALTERNATIVAS.
Identificar e Selecionar um Problema (Identificação)
Um problema pode ser definido como:
Um conjunto de incidentes semelhantes, relacionados entre si e recorrentes, em vez de um único incidente; uma preocupação
comunitária concreta; (ou) uma componente do trabalho policial; 17
Um tipo de comportamento (a vadiagem, o furto de viaturas); um local (um determinado centro comercial); Uma pessoa, ou
pessoas (um perpetrador recorrente de violência doméstica, ou as vítimas recorrentes de assaltos); ou um evento, ou época especial
(um desfile anual, ou os roubos de salários). Um problema, também, poderá ser uma combinação de quaisquer dos problemas
acima referidos;18 e
Informalmente, um problema pode ser entendido como dois ou mais incidentes, de alguma forma semelhantes, e que constitui
motivo de preocupação para a polícia e é um problema para a comunidade.
MÉTODOS DE IDENTIFICAÇÃO DOS PROBLEMAS
17Disorderly Youth in Public Places. Michael S. Scott. 2001. ISBN: 1-932582-05-3
18Loud Car Stereos. Michael S. Scott. 2001. ISBN: 1-932582-06-1
Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 31
Os problemas poderão obrigar-nos a prestar-lhes atenção de diversas maneiras, incluindo quando:
➢ Rotineiramente, analisamos as chamadas de serviço, os dados dos incidentes criminais e os registos de outras agências
policiais, para encontrar padrões e tendências que envolvam locais, vítimas, e ofensores repetidos. (as agências policiais poderão ter que
analisar as chamadas de serviço, recuando no tempo de seis meses a um ano, para conseguir formar uma imagem precisa das chamadas
repetidas relativas a alguns tipos de problemas);
➢ Mapeamos crimes específicos de acordo com a altura do dia, a proximidade a determinados locais, e outros fatores
semelhantes;
➢ Nos aconselhamos com agentes, supervisores, detetives, gestores intermédios e comandantes;
➢ Analisamos os relatórios policiais;
➢ Inquirimos os residentes da comunidade, os comerciantes, os autarcas ou os estudantes;
➢ Analisamos as reclamações e as cartas dos cidadãos;
➢ Participamos em reuniões comunitárias;
➢ Analisamos Informações provenientes das associações de moradores e das organizações sem fins lucrativos (locais e
nacionais);
➢ Consultamos os serviços de segurança social e outros organismos governamentais; e
➢ Seguimos a cobertura noticiosa dos órgãos de comunicação social.
SELECIONAR UM PROBLEMA
É importante que, ambos, os membros da comunidade e a polícia dêem contributos para que os problemas sejam
priorizados assim que sejam identificados. Por vezes, os problemas que preocupam os membros da comunidade são algo
diferentes daquilo que são as expetativas policiais. Consultar os membros da comunidade, acerca do que são as suas
prioridades, não só garante que as preocupações comunitárias serão tratadas como, também, desenvolve os esforços de
resolução dos problemas em cada fase do processo. Os contributos dos cidadãos podem ser solicitados de diversas formas,
incluindo através de sondagens, de reuniões comunitárias e de grupos-alvo (por exemplo, um grupo de estudantes, ou um
conjunto de moradores de um bairro). Os contributos policiais para a seleção do problema são, também, algo de importante,
porque a polícia tem a perícia e a informação acerca dos problemas que, por norma, os cidadãos não têm.
Ao selecionarmos um problema no qual nos deveremos focar, de entre os muitos problemas que a nossa comunidade
enfrenta, poderemos querer ter em atenção os seguintes fatores: 19
O impacto do problema na comunidade – a sua dimensão e custos;
A presença de condições que ameacem a vida;
O interesse da comunidade e o grau de apoio que provavelmente exista, tanto para o estudo como para as subsequentes
recomendações;
As potenciais ameaças aos direitos constitucionais – como as que podem ocorrer quando os cidadãos tomam posições no sentido de
limitar o uso dos meios públicos, quando limitam o acesso às propriedades, ou quando restringem a liberdade de expressão, de circulação,
ou de reunião;
O grau dos efeitos pelos quais o problema afeta negativamente o relacionamento entre a polícia e a comunidade;
O interesse dos agentes policiais de base, e o seu grau de apoio, ao tratamento do problema;
A especificidade do problema, dada a frustração associada ao se tentar entender reclamações que são indefinidas e difusas; e
O potencial para que surja algum progresso no tratamento do problema a que a exploração do problema, provavelmente, conduzirá.
REDEFINIR O PROBLEMA
Logo que o problema tenha sido selecionado poderá ser necessário redefini-lo à medida que vão surgindo mais
informações acerca do mesmo. Isto é expetável. À medida que trabalhamos no decurso do processo de resolução do problema
poderemos vir a descobrir que o problema com o qual começamos é demasiado abrangente. Por outro lado, poderemos vir a
concluir que ele é, na realidade, sintoma de outro diferente problema e o qual merecerá a nossa atenção. Será mesmo possível
que aquilo que à primeira vista parecia um problema não seja, na realidade e de maneira nenhuma, um problema assim que se
olha com mais atenção. É normal que o problema venha a ter que ser redefinido à medida que se avança através do processo de
resolução do problema, e isto é uma das razões do porquê de se começar a implementar as respostas, somente, após se ter
analisado o problema na sua totalidade.
IDENTIFICAR OS INTERESSADOS NO PROBLEMA SELECIONADO
As partes interessadas são organizações privadas e públicas, tipos ou grupos de pessoas (cidadãos idosos, proprietários de
residências, comerciantes, etc.) que beneficiarão se o problema for tratado, ou que poderão vir a sofrer consequências negativas
(devido a ferimentos, por lacunas dos serviços, por perda de rendimentos, devido a uma ação policial mais rigorosa, etc.) se o
problema não for tratado.
Poderemos incluir como partes interessadas:
➢ O serviço de segurança social local e os organismos governamentais com jurisdição no problema, ou com interesse nalguns
aspetos do problema;
➢ As vítimas do problema, e/ou as associações de defesa das vítimas;
➢ Os vizinhos, colegas de trabalho, amigos e parentes das vítimas, ou moradores das vizinhanças afetadas pelo problema;
➢ Os organismos ou as pessoas que exercem algum tipo de controlo sobre os ofensores (pais, parentes, amigos, funcionários
das escolas, funcionários de reinserção social, gestores de edifícios, etc.);
➢ Os estabelecimentos comerciais negativamente afetados pelos problemas decorrentes do crime e da desordem; e
➢ As organizações nacionais ou as associações comerciais com algum interesse no problema [por exemplo, a “Students
Against Drunk Driving” para o problema da condução sob efeito do álcool pelos menores (nos EUA a idade mínima para conduzir viaturas
automóveis é os 16 anos)].
Deveremos identificar o máximo possível de partes interessadas, relativamente ao problema selecionado. Cada parte
interessada poderá contribuir com diferentes conhecimentos e poderá cooperar, à sua maneira, no sentido de impulsionar os
esforços de resolução do problema. Quantos mais interessados forem identificados, tantos mais recursos estarão disponíveis
para tratar do problema.
19 Using Crime Prevention Through Environmental Design in Problem-Solving. Diane Zahm. 2007. ISBN: 1-932582-81-9
20 Fonte adaptada de KELLING, George L. e MOORE, Mark Harrinson. A evolução da estratégia de policiamento, perspectivas em policiamento. Cadernos de
Polícia, n. 10. Rio de Janeiro: Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, 1993.
DIAS NETO, Theodomiro. Policiamento comunitário e controle sobre a polícia: A experiência norte- americana. 2ª edição. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2003.
21Sabbath,ou sabá, é uma palavra de origem hebraica shabbath,que significa o descanso religioso que, conforme a legislação mosaica, devem os judeus observar no
sábado, consagrado a Deus. (FERREIRA, 2008)
22 Fonte adaptada de KELLING, George L. e MOORE, Mark Harrinson. A evolução da estratégia de policiamento, perspectivas em policiamento.Cadernos de Polícia,
n. 10. Rio de Janeiro: Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, 1993. MOORE, Mark Harrinson e TROJANOWICZ, Robert C. Estratégias institucionais para o
policiamento.Cadernos de Polícia, n. 10. Rio de Janeiro: Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, 1993. DIAS NETO, Theodomiro.Policiamento comunitário e
controle sobre a polícia: A experiência norte- americana. 2ª edição. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2003.
23*Professor de pós-graduação em Educação (currículo) da PUC-SP.
Unidade
Assunto abordado Elementos Tempo Características
Organizacionais
Eficiência É fazer as tarefas de maneira adequada para resolver os problemas, guardar os recursos,
cumprir seu dever e reduzir seus custos.
Eficácia É fazer as tarefas certas para produzir alternativas criativas, maximizar a utilização dos
recursos, obter resultado e aumentar o lucro.
Quadro 3. Efetividade
Na verdade, esses aspectos interagem-se. Por isso, a fórmula administrativa para desenvolver o sucesso da estratégia é:
Padronização e conclusão
Resposta: Conforme pode ser constatado o PCDA, que é uma ferramenta gerencial desenvolvida, em 1924, inspirou aos professores
americanos John Eck e Bill Spelman no desenvolvimento do modelo SARA (modelo IARA), que é uma metodologia utilizada na estratégia de
policiamento orientado para o problema. O método IARA é uma técnica voltada para a melhoria da qualidade do serviço policial.
Como parte da fase de análise, é importante descobrir-se o máximo, possível, de informações acerca de todos os três lados
do triângulo. Uma forma de se começar é perguntando: Quem? O quê? Quando? Onde? Como? Porquê? E porque não? Acerca
de cada um dos lados do triângulo. 26
Vítimas
É importante focarmo-nos no lado do triângulo referente à vítima. Como referido anteriormente, os estudos recentes têm
demonstrado que uma pequena quantidade de vítimas está relacionada com uma grande quantidade de incidentes criminais.
Acrescentando, os pesquisadores, na Inglaterra, concluíram que as vítimas de assaltos, de violência doméstica, e de outros
crimes têm grande probabilidade de virem a ser revitimizadas a curto prazo, logo após a primeira vitimização – com frequência
no espaço de um a dois meses. 27 28As intervenções eficazes, destinadas às vítimas repetidas, podem contribuir para uma
redução significativa do crime.
Por exemplo, de acordo com um estudo referente a assaltos a residências, levado a efeito na Divisão da Polícia de
Huddersfield, em West Yorkshire, na Inglaterra, as residências que já tinham sido assaltadas tinham quatro vezes mais
probabilidades de voltarem a ser vitimizadas que as residências que nunca haviam sido vítimas, e que muitos dos assaltos
repetidos ocorriam dentro de seis semanas após o primeiro. Consequentemente, a Divisão de Huddersfield desenvolveu uma
24Enhancing the Problem-Solving Capacity of Crime Analysis Units. Matthew B. White. 2008. ISBN: 1-932582-85-1
25 Este conceito foi desenvolvido por William Spelman e John E. Eck em 1989. Ele foi edificado sobre o trabalho prévio de Marcus Felson.
26Sampson, Rana. “Problem Solving,” Neighborhood-Oriented Policing in Rural Communities: A Program Planning Guide, Washington, D.C.: U.S. Department
of Justice, Office of Justice Programs, Bureau of Justice Assistance, 1994.
27 Sampson, Rana. “Problem Solving,” Neighborhood-Oriented Policing in Rural Communities: A Program Planning Guide, Washington, D.C.: U.S.
Department of Justice, Office of Justice Programs, Bureau of Justice Assistance, 1994.
28 Farrell, G. e K. Pease. 1993.
Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 41
resposta tripartida adaptada à medida das vítimas de assaltos repetidos, baseada no número de vezes que as suas casas haviam
sido assaltadas. De acordo com os relatórios iniciais, os assaltos a residências foram reduzidos em 20% desde que o projeto se
iniciou, e não se registou nenhuma deslocalização. 29 De fato, os assaltos a estabelecimentos comerciais, na mesma área,
também, foram reduzidos, apesar de este problema não ter sido um dos objetivos da resposta. Contudo, a polícia teve alguma
dificuldade em identificar as vítimas repetidas, porque o seu sistema de base de dados não estava concebido para este tipo de
pesquisa.
Ofensores
É fundamental, para o esforço de resolução dos problemas, que se encare, de uma forma renovada, o lado do triângulo
referente ao ofensor. No passado, foi colocada demasiada ênfase na identificação e na detenção dos ofensores. Embora isto
possa reduzir um tipo específico de problema criminal, particularmente se os ofensores detidos contribuírem para uma grande
parte do problema, essa redução é, frequentemente, temporária à medida que novos ofensores substituem os antigos ofensores.
O problema da substituição dos ofensores é particularmente agudo nas atividades relacionadas com a aquisição de
dinheiro: como o tráfico de droga, os assaltos, os roubos, a prostituição, etc. Por esta razão, as polícias chegaram à conclusão
que ajuda aprender-se mais acerca das razões que levam os ofensores a serem atraídos por certas vítimas e locais, daquilo que
eles especificamente ganham ao ofender, e daquilo, se é que existe algo, que possa prevenir ou reduzir as suas taxas de delito.
Locais
É igualmente importante que se analise o lado do triângulo referente ao local. Como referido anteriormente, certos locais
são responsáveis por uma significativa quantidade de atividade criminal. Uma análise desses locais poderá indicar-nos a razão
porque são tão favoráveis à ocorrência de um determinado tipo de crime e indicar-nos as formas pelas quais eles poderão ser
alterados, para inibir os ofensores e proteger as vítimas. Por exemplo, colocar os caixas multibanco dentro das agências
bancárias poderá fazer reduzir a quantidade de informação que um ofensor pode obter acerca das suas potenciais vítimas (que
elas estão a levantar dinheiro no banco, que elas põem o dinheiro no bolso da frente do lado esquerdo) e poderá reduzir a
vulnerabilidade das vítimas quando estão de costas para os potenciais ofensores, ao servirem-se nos caixas multibanco.
Supervisores, Gestores e Guardiões
Existem pessoas, ou coisas, que podem exercer um controlo sobre cada um dos lados do triângulo, para que o crime tenha menos
probabilidade de ocorrer. Os ofensores poderão, por vezes, ser controlados por supervisores como a polícia e os funcionários da reinserção
social. Os alvos e as vítimas podem ser protegidos pela presença de guardiões. Os locais, também, podem ter guardiões ou gerentes os quais
poderão exercer influência tanto nos ofensores como nas vítimas. A resolução de problemas, com sucesso, assenta na compreensão, não só,
da forma como todos os três lados do triângulo interagem mas, também, na forma como os ofensores, as vítimas e os locais são, ou não são,
controlados por terceiros.30
QUESTÕES EXEMPLIFICATIVAS PARA SE ANALISAR PROBLEMAS
As agências policiais deverão fazer uma lista das questões, acerca da natureza do problema, que necessitam de ser
respondidas, antes de se poder desenvolver respostas novas e eficazes. 31Seguem-se 15 questões exemplificativas acerca do
problema dos roubos, descrito anteriormente na parte “Identificar os Interessados”.
VÍTIMAS
1. Quem são as vítimas (idade, raça, gênero)? Para quem trabalham? Qual foi a natureza das ofensas?
2. Em que altura do dia foram as vítimas ofendidas?
3. Existem alguns funcionários da entrega de comida ao domicílio que tenham sido ofendidos mais do que uma vez?
Existem alguns funcionários da entrega de comida, de determinados restaurantes, que foram ofendidos com mais frequência
que outros?
4. Qual o grau de medo que têm as pessoas que entregam comida ao domicílio? Quais as áreas que mais temem? Eles têm
algumas sugestões sobre formas de cumprirem com mais segurança as suas obrigações? Eles estão munidos de algum tipo de
equipamentos de segurança, ou foi-lhes prestada formação acerca da sua segurança?
4. O que é que outras jurisdições, que enfrentaram o mesmo problema, fizeram para aumentar a segurança das pessoas que
se dedicam à entrega de comida ao domicílio? Quais as normas que se mostraram mais eficazes e porquê?
LOCAIS (CENA DO CRIME, LOCALIZAÇÃO, AMBIENTE)
6. Onde é que os roubos ocorreram – no local das entregas, no percurso de ida para o local de entrega, ou perto do
estabelecimento de comida rápida? Qual a conformidade e proximidade entre os locais das ofensas e as áreas em que as
pessoas das entregas não costumam ir?
7. Dos roubos que ocorreram longe do estabelecimento de comida rápida, qual é a distribuição dos locais nos quais os
roubos ocorreram (prédios de apartamentos, condomínios fechados, casas isoladas, habitação social, motéis e hotéis, parques
de estacionamento, edifícios de escritórios, etc.)?
8. Os funcionários das entregas foram roubados perto das suas viaturas, ou longe delas? Qual o tipo de viatura que os
funcionários das entregas conduzem? Estão assinaladas como viaturas de entrega de comida?
9. Onde se encontra localizada a loja de comida rápida em relação ao bairro onde não são feitas as entregas? Quais os
caminhos que os empregados das entregas tomam para fazer as suas entregas?
10. Existem algumas semelhanças ambientais entre os locais específicos dos roubos (iluminação, arbustos, isolamento ou
com áreas escondidas)?
OFENSORES
11. Qual é o método empregue nas ofensas? Existem alguns padrões evidentes? Que armas têm sido utilizadas, e em
quantos dos ataques?
Para se desenvolver respostas à medida dos problemas criminais, os solucionadores de problemas devem rever as suas descobertas
acerca dos três lados do triângulo do crime – as vítimas, os ofensores e os locais – e deverão desenvolver soluções criativas que tratem de,
pelo menos, dois dos lados do triângulo.20 Eles devem fazer uma aproximação ao desenvolvimento de soluções sem quaisquer noções
preconcebidas acerca do que deve ser feito. Frequentemente, os resultados na fase da análise apontam, à polícia e aos cidadãos, para
A TRADIÇÃO DOMINANTE
Desde o início, temos estado, constantemente, a tentar combater a tendência natural de voltar às respostas tradicionais. 35
Tendo sido depositada demasiada confiança nas respostas tradicionais no passado (amplos varrimentos de área, ou detenções,
patrulhamento intensivo, etc.), é natural que as agências de polícia venham a gravitar à volta destas mesmas táticas para lidar com os
problemas no futuro - mesmo que essas mesmas táticas não se tenham provado especialmente eficazes, ou sustentáveis a longo prazo.
Por exemplo, no caso dos roubos aos empregados das entregas ao domicílio, é fácil de ver como a polícia poderia ter decidido avançar
com patrulhamentos em viaturas, ou a peados, na área problemática, aos fins de semana, entre as 22 h 00 min e as 02 h 00 min. Mas esta
resposta teria sido relativamente dispendiosa para o departamento de polícia. As respostas criativas, que vão além do sistema de justiça
criminal e que se focam na prevenção de futuras ocorrências, geralmente, surtem melhores resultados.
Os cidadãos e a polícia são tentados, frequentemente, a implementar programas e respostas usadas noutras comunidades. Embora
possa ser bastante útil aprender-se como foi que outras comunidades foram bem-sucedidas ao lidarem com problemas semelhantes (e
encorajamos as agências policiais a pesquisarem outras abordagens como parte das suas análises), deveremos ser cautelosos quanto ao
adotar soluções tiradas da prateleira, a não ser que a situação seja, impressionantemente, semelhante. 36
A polícia ao enfrentar o problema dos roubos aos empregados das entregas ao domicílio poderá sentir-se inclinada a sugerir aos
serviços públicos para aumentar a iluminação pública na área problemática, porque isto foi uma das maneiras que outras comunidades
implementaram com sucesso para lidar com o problema dos roubos. Mas, a não ser que os roubos tenham ocorrido em áreas que são
fracamente iluminadas, esta estratégia, provavelmente, terá pouco efeito no problema dos roubos aos empregados da distribuição de
comida.
A chave para se desenvolver respostas propositadamente concebidas é garantindo que as respostas são devidamente focadas e
diretamente ligadas às conclusões que resultaram da fase analítica do projeto.
Para exemplos específicos de resoluções de problemas, consultar a Série de Guias Policiais Orientados para a Resolução de
Problemas, desenvolvida pelo Center for Problem-Oriented Policing (www.popcenter.org) e custeados pelo COPS Office. Consultar,
também, a secção de Recursos Adicionais, a qual lista alguns dos problemas criminais e de desordem social os quais poderão ser tratados
com o uso de abordagens de resolução de problemas.
4.9. AVALIAÇÃO DE RESULTADOS;
43Rosângela de Pereira de Abreu Assunção é professora da Academia de Polícia Civil de Minas Gerais
44 Planejamento estratégico é uma competência da administração que auxilia gestores a pensar no longo prazo de uma organização. Alguns itens e
passos cruciais para o plano estratégico são: missão, visão, objetivos, metas, criação de planos de ação e seu posterior acompanhamento.
É fato que não existe um programa único para descrever o policiamento comunitário, ele tem sido tentado em várias polícias ao redor do
mundo. O policiamento comunitário vai muito além que simplesmente implementar policiamento a pé, ciclopatrulha ou postos de
policiamento comunitário. Ele redefine o papel do policial na rua de “combatente” (combate ao crime), para solucionador de problemas e
ombudsman45 do bairro. Obriga uma transformação cultural da polícia, incluindo descentralização da estrutura organizacional e mudanças na
seleção, recrutamento, formação, treinamento de sistemas de recompensas, promoção e muito mais.
Além do mais, essa filosofia pede para que os policiais escapem da lógica do policiamento dirigido para ocorrências
(rádio atendimento) e busquem uma solução proativa e criativa para equacionar o crime e a desordem.
5.1.5. POLÍCIA COMUNITÁRIA E POLICIAMENTO COMUNITÁRIO:
CONCEITOS E INTERPRETAÇÕES BÁSICAS
A primeira ideia que se tem a respeito do tema Polícia Comunitária é que ela, por si só, é particularizada, pertinente a uma ou outra
organização policial que a adota, dentro de critérios peculiares de mera aproximação com a sociedade sem, contudo, obedecer a critérios
técnicos e científicos que objetivem a melhoria da qualidade de vida da população.
Qualidade de vida da população em um país de complexas carências e um tema bastante difícil de ser abordado, mas possível de ser
discutido quando a polícia busca assumir o papel de interlocutor dos anseios sociais.
É preciso deixar claro que “Polícia Comunitária” não tem o sentido de ASSISTÊNCIA POLICIAL, mas sim o de
PARTICIPAÇÃO SOCIAL.
Nessa condição entendemos que todas as forças vivas da comunidade devem assumir um papel relevante na sua própria
segurança e nos serviços ligados ao bem comum. Acreditamos ser necessária esta ressalva, para evitar a interpretação de que
estejamos pretendendo criar uma polícia ou de que pretendamos credenciar pessoas extras aos quadros da polícia como
policiais comunitários.
O policial é uma referência muito cedo internalizada entre os componentes da comunidade. A noção de medo da polícia,
erroneamente transmitida na educação e às vezes na mídia, será revertida desde que, o policial se faça perceber por sua ação
protetora e amiga.
5.1.6. O ESPÍRITO DE POLÍCIA COMUNITÁRIA QUE APREGOAMOS SE EXPRESSA DE
ACORDO COM AS SEGUINTES IDEIAS:
A primeira imagem da POLÍCIA é formada na família;
A POLÍCIA protetora e amiga transmitirá na família, imagem favorável que será transferida às crianças desenvolvendo-se um traço
na cultura da comunidade que aproximará as pessoas da organização policial;
O POLICIAL, junto à comunidade, além de garantir segurança, deverá exercer função didático-pedagógica, visando a orientar na
educação e no sentido da solidariedade social;
A orientação educacional do policial deverá objetivar o respeito à "Ordem Jurídica" e aos direitos fundamentais estabelecidos na
Constituição Federal;
A expectativa da comunidade de ter no policial o cidadão íntegro, homem interessado na preservação do ambiente, no socorro em
calamidades públicas, nas ações de defesa civil, na proteção e orientação do trânsito, no transporte de feridos em acidentes ou vítimas de
45substantivo de dois gêneros. 1. pessoa encarregada pelo Estado de defender os direitos dos cidadãos, recebendo e investigando queixas e denúncias de abuso de poder
ou de mau serviço por parte de funcionários ou instituições públicas. 2.POR EXTENSÃO em empresas públicas ou privadas, indivíduo encarregado do estabelecimento
de um canal de comunicação entre consumidores, empregados e diretores.
46ADJETIVO – 1.(1601) – 2.ADJETIVO. 1.(1601). 2. que ou o que tem a qualidade de acalmar, de abrandar temporariamente um mal (diz-se de
medicamento ou tratamento); anódino. "<medicamento p.> " · "<essa terapia foi apenas um p.> ". p.ext.. 3. que ou que serve para atenuar um mal ou
protelar uma crise (diz-se de meio, iniciativa etc.). "<diante do desastre ecológico, só foram tomadas medidas p.> " · "<a distribuição gratuita de alimentos foi
um p. para a situação causada pela seca> ". ORIGEM ⊙ ETIM paliado (part. de paliar) sob a f. rad. paliat- + -ivo
Tabela 1: Níveis de atuação. Fonte: Chiavenatto - Administração dos Novos Tempos - PPs para os Professores -
Site http://www.chiavenato.com/
Observe o diagrama a seguir para compreender melhor:
47 O Prof. Theodomiro Dias Neto, no livro “Policiamento Comunitário e Controle sobre a Polícia” (2006:11), explica com riqueza de detalhes este momento histórico
que centraliza as estruturas internas policiais de comando e controle.
− Policiamento Estratégico
O conceito de policiamento estratégico tenta resolver os pontos fracos do policiamento profissional de combate ao crime,
acrescentando reflexão e energia à missão básica de controle do crime.
O objetivo básico da polícia permanece o mesmo que é o controle efetivo do crime. O estilo administrativo continua
centralizado e, através de pesquisas e estudos, a patrulha nas ruas é direcionada, melhorando a forma de emprego.
O policiamento estratégico reconhece que a comunidade pode ser um importante instrumento de auxílio para a polícia e enfatiza uma
maior capacidade para lidar com os crimes que não estão bem controlados pelo modelo tradicional.
A comunidade é vista como meio auxiliar importante para a polícia, mas a iniciativa de agir continua centralizada na polícia, que é
quem entende de Segurança Pública.
Os crimes cometidos por delinquentes individuais sofisticados (crimes em série, por exemplo) e os delitos praticados por associações
criminosas (crime organizado, redes de distribuição de drogas (narcotráfico), crimes virtuais de pedofilia, gangues, xenofobia, torcedores
de futebol violentos – como os hooligans, etc.) recebem ênfase especial.
O policiamento estratégico carece de uma alta capacidade investigativa. Para esse fim são incrementadas unidades especializadas de
investigação.
O POP pressupõe que os crimes podem estar sendo causados por problemas específicos e talvez contínuos na mesma localidade.
Conclui-se que o crime pode ser minimizado (ou até mesmo extinto) através de ações preventivas, para evitar que seja rompida a ordem
pública. Essa estratégia determina o aumento das tarefas da polícia ao reagir contra o crime na sua causa, muito além do patrulhamento
preventivo, investigação ou ações repressivas.
Figura 19. Fonte: MOREIRA, Cícero Nunes. Apostila da disciplina de Polícia Comunitária para o curso de
Formação de Oficiais. Mimeo. Academia de Polícia Militar, Polícia Militar de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2005.
A GESTÃO E AS ESTRATÉGIAS (MODELOS) DE POLÍCIA
Polícia Comunitária não é uma experiência do futuro, algo reservado para o final do século XXI. Os países modernos de
tradição democrática, inclusive de cultura oriental, que ainda não adotaram, estão em processo de mudança.
“Polícia Comunitária é, em essência, uma colaboração entre a polícia e a comunidade para identificar e solucionar
problemas comunitários”.
Atualmente, na maioria das instituições policiais, Polícia Comunitária não tem sido tratada de modo separado do
Policiamento Orientado para o Problema. Como foi mencionada, a solução de problemas tem se constituído em uma excelente
ferramenta, metodologia de trabalho, para a prática do policiamento comunitário.
Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 56
Com a adoção da Polícia Comunitária, a polícia tem saído do isolamento e entendido que a comunidade deve executar um
importante papel na solução dos problemas de segurança e no combate ao crime. Como enfatizou Robert Peel em 1829, ao
estabelecer os princípios da polícia moderna, “os policiais são pessoas públicas que são remunerados para dar atenção integral
ao cidadão no interesse do bem estar da comunidade”.
A polícia tem percebido que não é possível mais fingir que sozinha consegue dar conta de todos os problemas de
segurança. A comunidade precisa policiar a si mesma e a polícia pode (ou deve) ajudar e orientar esta tarefa.
CONSTRUIR PARCERIAS E MOBILIZAR AS LIDERANÇAS COMUNITÁRIAS
Na década de 80 nos Estados Unidos cresceu o entendimento de que os meios formais e informais de controlar o crime e
manter a ordem eram complementares e que a polícia e a comunidade deveriam trabalhar juntas para definir estratégias de
prevenção do crime, várias são as teorias sociológicas que comprovam esta abordagem, conforme MOREIRA (2005).
Da mesma forma, por acreditar que o medo do crime favorece o aumento das taxas de crime e a decadência dos bairros,
inúmeros programas de redução do medo foram desenvolvidos através da parceria políciacomunidade.
Estratégias para organizar a comunidade e prover uma resposta coletiva ao crime têm se tornado o alicerce da prevenção
do crime nos Estados Unidos nos últimos anos. A polícia não pode lidar, sozinha, com o problema do crime.
Para construção de uma estratégia de Polícia Comunitária devem ser buscados como objetivos a parceria, fortalecimento,
solução de problemas, prestação de contas e orientação para o cliente.
A polícia deve trabalhar em parceria com a comunidade, com o governo, outras agências de serviço e com o sistema de
justiça criminal. A palavra de ordem deve ser “como podemos trabalhar juntos para resolver este problema?” Os membros da
comunidade devem estar envolvidos em todas as fases do planejamento do policiamento comunitário.
Basicamente, existem dois tipos de fortalecimento - dos policiais e da própria comunidade. O policiamento comunitário
capacita (dá competência) aos cidadãos para participar das decisões sobre o policiamento e de outras agências de serviço para
prover maior impacto nos problemas de segurança. Poder de decisão, criatividade e inovação são encorajados em todos os
níveis da polícia.
Policiamento comunitário representa um renascimento da abordagem de policiamento pela solução de problemas. A meta
da solução de problemas é realçar a participação da comunidade através de abordagens para reduzir as taxas de ocorrências e o
medo do crime, através de planejamentos a curto, médio e longo prazo.
O policiamento comunitário encoraja a prestação de contas, pesquisas e estratégias entre as lideranças e os executores, a
comunidade e outras agências públicas e privadas.
Uma orientação para o cliente é fundamental para que a polícia preste serviço à comunidade. Isso requer técnicas
inovadoras de solução de problemas de modo a lidar com as variadas necessidades do cidadão.
Estabelecer e manter confiança mútua é o núcleo da parceria com a comunidade. A polícia necessita da cooperação das
pessoas na luta contra o crime; os cidadãos necessitam comunicar com a polícia para transmitir informações relevantes. O
processo de parceria comunitária possui três lados: CONFIANÇA facilita um maior CONTATO COM A COMUNIDADE
que, por sua vez, facilita a COMUNICAÇÃO que leva a uma maior CONFIANÇA e assim por diante.
Por isso, as instituições policiais precisam identificar os atores sociais que atuam nas lideranças comunitárias, como
representantes das pessoas que estão enfrentando, “ ou sofrendo”, com o(s) problema(s).
Organizações públicas e privadas, grupos de pessoas (idosos, proprietários de imóveis, comerciantes, etc.) são pessoas
importantes para iniciar um processo de mobilização social, e principalmente manter os públicos envolvidos coesos, em torno
da causa social, durante as demais fases que buscam a sua solução.
GESTÃO DE SERVIÇOS NA POLÍCIA COMUNITÁRIA E POLÍCIA TRADICIONAL
Policiamento comunitário é uma filosofia e não uma tática específica; uma abordagem pró-ativa e descentralizada,
designada para reduzir o crime, a desordem e o medo do crime através do envolvimento do mesmo policial em uma mesma
comunidade em um período prolongado de tempo. (MOREIRA, 2005 apud PEAK, 1999, p. 78).
É fato que não existe um programa único para descrever o policiamento comunitário, ele tem sido tentado em várias
polícias ao redor do mundo.
O policiamento comunitário vai muito além que simplesmente implementar policiamento a pé, ciclopatrulha ou postos de
policiamento comunitário. Ele redefine o papel do policial na rua de “combatente” (combate ao crime), para solucionador de
problemas e ombudsman48 do bairro. Obriga uma transformação cultural da polícia, incluindo descentralização da estrutura
organizacional e mudanças na seleção, recrutamento, formação, treinamento, sistemas de recompensas, promoção e muito
mais.
Além do mais, essa filosofia pede para que os policiais escapem da lógica do policiamento dirigido para ocorrências
(rádio atendimento) e busquem uma solução proativa e criativa para equacionar o crime e a desordem.
Observe como que o diagrama 5W2H pode ajudar na gerencia do serviço policial. Esta metodologia, também conhecida
nos países de língua portuguesa como 4Q1POC (após a tradução), é muito utilizada na administração de empresas para
gerenciar um Plano de Ação para elaborar um serviço ou produto.
DIAGRAMA 5W2H ou 4Q1POC – GERENCIA DE UM PLANO DE AÇÃO
49 Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN. Especialista em Gestão da Segurança Pública pela Faculdade Barddal.
Aspirante a oficial da Polícia Militar de Santa Catarina.
igor4444@gmail.com
50 Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. Bacharel em Segurança Pública pela Universidade do Vale do Itajaí. Especialista em
Ciências Penais pela Universidade Anhanguera. Capitão da Polícia Militar de Santa Catarina. thiagoaugusto.vieira@gmail.com
É Importante ressaltar que existem diversas variações desta metodologia, detalhando ainda mais cada uma das fases. O
método IARA é de simples compreensão para os líderes comunitários e para os policiais que atuam na atividade-fim, e não
compromete a eficiência e eficácia do serviço apresentada pelo POP, assim como não contradiz outros métodos, por isso, neste
texto resolvemos adotá-la como referência. Observe como que o processo PDCA (muito utilizado na administração de
empresas), assemelha-se com o próprio método IARA, utilizado no policiamento orientado para o problema (POP).Como
primeiro passo, o policial deve identificar os problemas em sua área e procurar por um padrão ou ocorrência persistente e
repetitiva. A questão que pode ser formulada é: O QUE É O PROBLEMA?
Para GOLDSTEIN (2001) um problema no policiamento comunitário pode ser definido como “um grupo de duas ou mais ocorrências
(cluster51 de incidentes) que são similares em um ou mais aspectos (procedimentos, localização, pessoas e tempo), que causa danos e, além
disso, é uma preocupação para a polícia e principalmente para a comunidade.”
CERQUEIRA (2001), conceitua que problema (no contexto de Polícia Comunitária), “é qualquer situação que cause alarme, dano
ameaça ou medo, ou que possa evoluir para um distúrbio na comunidade”
As ocorrências podem ser similares em vários aspectos, incluindo:
- Comportamento (este é o indicador mais comum e inclui atividades como: venda de drogas, roubos, furto, pichação e outros);
- Localização (problemas ocorrem em Zonas Quentes de Criminalidade, tais como: centro da cidade, parques onde gangues cometem
crimes, complexos residenciais infestados por assaltantes, etc.);
- Pessoas (pode incluir criminosos reincidentes ou vítimas);
- Tempo (sazonal, dia da semana, hora do dia; exemplos incluem congestionamento de trânsito, proximidade de bares, atividades de
turismo, etc.);
- Eventos (crimes podem aumentar durante alguns eventos, como por exemplo, carnaval, shows, etc.).
Parece não haver limite para os tipos de problemas que um policial pode enfrentar e existem vários tipos de problemas em que se pode
51Um cluster (do inglês TESTE: '‘grupo, aglomerado’) consiste em computadores fracamente ou fortemente ligados que trabalham em conjunto, de modo que, em
muitos aspectos, podem ser considerados como um único sistema. Diferentemente dos computadores em grade, computadores em cluster têm cada conjunto de nós,
para executar a mesma tarefa, controlado e programado por software.
Outro aspecto que deve ser levado em conta na identificação do problema é a necessidade de se eliminar o ‘ achismo’, ou seja,
deve-se trabalhar com atos concretos e dados coletados em fontes de informações confiáveis. A experiência pessoal de cada um
que participa na identificação do problema é importante, porém, para se evitar desperdício de tempo e recursos na busca
de soluções por um problema erroneamente identificado ou pouco importante no contexto geral, deve-se procurar, sempre que
possível, comprovar a experiência pessoal através de dados estatísticos (Marcineiro, 2009, p. 180).
No tocante à contribuição da polícia, destaca-se o papel da inteligência de segurança pública como condição primordial
à identificação dos problemas e suas respectivas causas. Por isso, a inteligência de segurança pública deve ser desenvolvida e
aperfeiçoada constantemente com a integração de diversas bases de dados e não apenas com dados de instituições de
segurança pública, uma vez que órgãos, como secretarias de saúde e educação, podem fornecer informações bastante valiosas
à polícia. Nesse cenário, é interessante a utilização de tecnologias cada vez mais avançadas de análise criminal no auxílio à
inteligência de segurança pública (SANTA CATARINA, 2011).
Entretanto, segundo ROLIM (2009, p. 41), infelizmente, muitas vezes só se obtêm: dados compilados partir dos registros de
ocorrência, o que assimila, inequivocamente, uma maneira ultrapassada de se lidar com indicadores de criminalidade e violência.
Não por outra razão, o rol de indicadores de problemas deve ser amplo e diversificado. Do lado policial devem ser considerados os
órgãos da segurança pública no geral (policiais militares, policiais civis e bombeiros); do lado da comunidade devem participar, além de
moradores, empresários e lideranças locais representantes de outras instituições públicas e privadas. Todos devem participar e conjunto
para dar legitimidade ao processo (BRASIL, 2009).
Cabe salientar que, ao se isolar um determinado tipo de problema, há maior facilidade de resolvê-lo, e é necessário considerar ainda
que um pequeno grupo de problemas se mostra responsável por um número considerável de ocorrências policiais. Segundo dados
trazidos por ROLIM (2009, p. 139) de pesquisa realizada nos ESTADOS UNIDOS cerca de 10% das vítimas estão envolvidas em 40%
dos crimes; 10% dos agressores estão envolvidos em 50% dos crimes; e 10% dos lugares formam o ambiente para cerca de 60% das
ocorrências infracionais.
Acredita-se que a realidade seja semelhante no Brasil, seguindo o que se chama de Princípio de Pareto52, de acordo com o qual,
geralmente, um pequeno número de causas (20%) é responsável por uma grande proporção de resultados (80%) (TASCA, 2010).
ANÁLISE DO PROBLEMA
A fase de análise do problema corresponde ao coração do método IARA. Nesta fase, buscam-se as raízes dos problemas
para, assim, conseguir atacar suas causas e não apena combater os efeitos dos problemas (HIPÓLITO, TASCA, 2012).
Tentando analisar a gênese do crime, as teorias de criminologia se concentram em fatores sociais. Simulam causas em
fatores longínquos, como as práticas de educação de crianças, componentes genéticos e processos psicológicos ou sociais.
Essas constituem teorias difíceis de validação prática e focam em políticas públicas incertas que estão fora do alcance da
polícia (CLARKE; ECK, 2013).
Ao contrário da criminologia tradicional, as teorias e os conceitos da ciência do crime são muito mais úteis no trabalho
diário da polícia, pois segundo Clarke e Eck (2013, p. 38), “lidam com as causas situacionais imediatas dos eventos criminais,
incluindo tentações e oportunidades e proteção insuficiente dos alvos”.
Para esta fase é importante o conhecimento do triângulo de análise de problema (também conhecido como o triângulo do crime),
originado da teoria da atividade rotineira. Essa teoria, formulada por Lawrence Cohen e Marcus Felson, diz que o crime ocorre quando
um potencial infrator encontra-se com um potencial alvo (para aquele tipo de infrator) no mesmo tempo e lugar, sem a presença de um
guardião eficaz. Essa formulação forma o tripé da análise de problema representada por infrator, alvo e local (CLARKE; ECK, 2013).
52 O princípio de Pareto (também conhecido como regra do 80/20, lei dos poucos vitais ou princípio de escassez do fator afirma que, para muitos eventos,
aproximadamente 80% dos efeitos vêm de 20% das causas.
As comunidades e as polícias devem compartilha as experiências bem-sucedidas de prevenção ao crime; aquelas que geram
efetiva segurança a curto e a longo prazo. Devem compartilhar as ideias específicas de como resolver problemas de vizinhança.
Ao destacar os programas que foram desenvolvidos, espera-se que esta informação sirva como um catalisador para desenvolver
maneiras eficazes de impedir o crime e aumentar a participação das comunidades nestes esforços (DALMARCO, 2004, p. 22).
Segundo Skonieczny (2009), outro fator importante nesta fase é conhecer o impacto das medidas policiais sobre a
população.
53
CICLO PDCA - UNISUL
O CICLO PDCA
Entendendo a sigla: o nome PDCA é composto pelas primeiras letras dos verbos em inglês Plan (que significa planejar),
Do (que significa fazer, executar), Check (que significa checar, conferir) e Action, Act (que significa agir, no caso, agir
corretivamente). Esses verbos são a sequência do método PDCA. O ciclo PDCA é um método gerencial de tomada de decisões
para garantir o alcance das metas necessárias à sobrevivência de uma organização. Pelo ciclo PDCA consegue-se estabelecer
uma estratégia de melhoria contínua, que ao longo do tempo trará vantagens substanciais para a organização. Esse método visa a
controlar e atingir resultados eficazes e confiáveis nas atividades de uma organização.
53 PACHECO. Giovanni Cardoso e Marcineiro, Nazareno Polícia Comunitária e Segurança Pública. Tópicos Emergentes em Segurança Pública III.
UnisulVirtual. Palhoça, 2013
As empresas possuem problemas que as privam de obter melhor produtividade e qualidade de seus produtos, além de prejudicar
sua posição competitiva. Nós temos a tendência de achar que sabemos a solução desses problemas somente baseados na
experiência ou naquilo que julgamos ser o conhecimento certo. No entanto, o verdadeiro expert é aquele que alimenta seu
conhecimento e experiência com fatos e dados, dessa maneira, assegura-se de usar esse conhecimento, experiência e,
principalmente, o seu tempo na direção correta. (CAMPOS, 1992, p.208).
Assim está sendo concebido o POP-COM (Polícia Interativa) como um novo tipo de Policiamento Ostensivo, pois objetiva
obter produtividade e qualidade no serviço de polícia ostensiva, prestados à sociedade, trazendo como inovação a possibilidade
real de se aferir as ações ostensivas do policial militar no setor onde atua pontuando-as e controlando de modo criterioso o seu
desenvolvimento, através da informática.
Para uma maior operacionalização, foi incutida nos policiais militares nova mentalidade no atendimento de ocorrências,
por meio da leitura diária de um decálogo (POP - COM - Polícia Interativa), fixado na sala de reuniões. Decálogo do Policial
Interativo (Guaçui- ES) Foi dada preferência ao policiamento ostensivo a pé como forma de aproximar mais facilmente o
policial militar da comunidade, buscando conhecer suas aspirações, sugestões e críticas durante o policiamento ou por
55 República Federativa do Brasil. Programa Nacional de Direitos Humanos. BR: Min. Da Justiça, 1996.p.21.
56 Governo do Estado de São Paulo. Programa Estadual de Direitos Humanos. SP: Secretaria da Justiça e cidadania, 1997,p.25.
57 COSTA, Júlio C. PMES - Diretrizes para Implantação e Implementação da Polícia Interativa, ES:1995, p.12.
O policial compromissado com a comunidade da área vai ter na segurança um papel semelhante ao do pronto socorro no setor da
saúde. As pessoas querem ser atendidas, entretanto, poucos são os casos que demandam um encaminhamento ao hospital. No
policiamento, a maioria dos casos devem ser resolvidos na base, não exigindo encaminhamento aos Distritos Policiais e à Justiça.
Muitos casos são resolvidos com simples orientação. Esse contexto faz aumentar a credibilidade na organização, aliviando a
sobrecarga de custos desnecessários com os deslocamentos de veículos policiais. O morador tem a certeza de encontrar um
policial amigo, conhecido e confiável no Posto. O ser humano não confia totalmente em quem não conhece e a quem não é capaz
de revelar um segredo familiar e outros problemas. É normal que a população tome parte pelo todo, ou seja, a partir do mau
policial, poucos na visão dos entrevistados - infere que toda a PM é assim. Os casos exemplares de policiais cumpridores de seus
deveres são vistos como exceções. A PM precisará se estruturar e aprender a conviver e trabalhar com civis. (PEDROSO
FILHO58 1995,p.95)
A COMUNIDADE
A comunidade é a grande beneficiada no processo ao receber um Policial Comunitário, e os grandes perdedores são os
marginais. Há necessidade de educar e preparar a comunidade para ajudar os policiais e esclarecê-la para entender o sistema e
o estabelecimento de prioridades, para, de um lado, não efetuar críticas destrutivas, e, de outro, auxiliar na melhoria a
qualidade do serviço.
Nos locais onde existem lideranças civis (Lions, Rotary, Maçonaria, etc.), estes devem esclarecer como é o funcionamento
da polícia, como são priorizados os atendimentos e orientações preventivas de segurança e motivação para participar da sua
autoproteção.
AUTORIDADES CONSTITUÍDAS E ORGANISMOS GOVERNAMENTAIS
A Polícia Comunitária deve envolver de todas as autoridades constituídas (deputados, prefeitos, vereadores etc.), inclusive
aquelas que, por suas ações no dia a dia, se posicionam como opositoras, convidando-as, por intermédio dos líderes
comunitários a participar das reuniões.
A ação da polícia deve ser apolítica, não interessando partido ou ideologia.
Os membros da comunidade e os Policiais Comunitários devem conviver bem com os políticos locais, mostrando a
importância social da polícia comunitária. Afinal, Polícia e Política têm a mesma origem, mas não devem se misturar.
A visão Governamental, a respeito da Polícia, é ainda vinculada a um organismo repressor e refratário às mudanças. É
preciso estabelecer um contato com as diversas esferas de Governo (Federal, Estadual e municipal), mostrando resultados das
atividades relacionadas ao Programa. Estas atividades devem ser enviadas e apresentadas como forma de romper possíveis mal
entendidos quanto à atuação policial.
Quanto aos Governos Municipais o relacionamento é imprescindível. No que tange aos pequenos e médios municípios
isto já ocorre. O problema parece residir nas grandes cidades e na metrópole (São Paulo), onde a ação passa pelo entendimento
político de que segurança é apenas problema do Estado.
Tal afirmação não se trata da municipalização da Polícia, mas da integração de poderes, visto que os problemas de ordem
local passam pelas duas esferas de Governo, e dependendo das circunstâncias, um ou outro poderá fica impossibilitado de agir. O
58PEDROSO FILHO, Otávio Ferreira. Polícia Comunitária. SP: PMESP, CAO-II/95, Monografia.1995, p.117.
Nos últimos anos, está havendo uma corrida crescente dos poderes públicos municipais, muitas vezes pressionados pela população
que desconhece as leis, para a criação de guardas municipais, como se fossem a solução para os problemas da criminalidade. Na
verdade, depois de instaladas as guardas, alguns municípios acabam verificando que não foram resolvidos os seus problemas de
segurança. O município tem a responsabilidade maior de cuidar das missões no campo da saúde, saneamento e assistência social,
principalmente na área da criança e do adolescente, buscando atividades para que não venham a delinquir. Sem dúvida, o
crescimento das guardas municipais, mostra o grau de insegurança psicológica que está vivendo o povo do Estado de São Paulo e
também de outras regiões mais urbanizadas do país. (PEDROSO FILHO, 1995,p.95)
Outros órgãos têm incentivado a sua criação e emprego no campo da Segurança Pública, sob a falsa bandeira de
autonomia dos municípios e com a aprovação da comunidade que, teoricamente, recebe o beneficio, sem perceber a alta conta
da fatura que vai pagar. Hoje, há guardas municipais em mais de 25% dos municípios paulistas.
O assunto legalmente não deixa dúvida, na verdade as políticas públicas municipais seriam melhor empregadas se, em vez
de criarem um corpo permanente de vigilância, investissem em convênios de apoio ao sistema estadual, suprindo as
necessidades materiais existentes, possibilitando à Polícia maior eficácia por um custo menor.
COMUNIDADE DE NEGÓCIOS
O envolvimento da comunidade de negócios pode fazer a Porém, na relação com a comunidade de negócios, é preciso
diferença entre a aceitação e a resistência. Quando os homens de deixar claro e transparente o interesse social da atividade de
negócios são orientados sobre o programa, geralmente orientam policiamento, não privilegiando interesses comerciais ou
seus funcionários a participarem e, às vezes, até os cedem para particulares, que podem provocar descrédito e desconfiança.
apoio em algumas atividades. Eles podem se tornar uma boa O importante é agir com a visão econômica do delito, ou
parte de apoio material para a base de segurança comunitária. seja, o criminoso procura agir em locais onde haja um centro
O processo de planejamento que ignorar as preocupações e comercial e financeiro bastante desenvolvido e procurado. A
contribuições da comunidade de negócios poderá enfrentar vários polícia comunitária nestas áreas terá por objetivo maior diminuir
problemas no futuro. A discussão do assunto com esse grupo, a incidência de crimes. Diminuindo esta incidência, a
esclarecendo a necessidade das medidas adotadas, elimina ou comunidade de negócios passará a acreditar no policiamento,
ameniza as resistências que normalmente ocorrem quando são iniciando a parceria. Exemplos como o Centro Vivo e a Ação
tomadas unilateralmente. Local, da Capital Paulista, demonstram bem como resulta dos
preventivos favorecem e aproximam a ação da polícia.
INSTITUIÇÕES COMUNITÁRIAS
As participações das instituições comunitárias são de fundamental importância para a educação da população e também
para a adequação dos serviços de outros órgãos, visando melhor servir à comunidade. São inquestionáveis as possibilidades das
instituições comunitárias, pois já vivem para servir, e geralmente seu aspecto voluntário é altamente produtivo no sentido de
buscar soluções para os problemas locais.
As atividades de polícia comunitária neste aspecto não devem ter resistências em receber ajuda ou opiniões destas
entidades, pois, diferente da comunidade de negócios, as contribuições serão de caráter humilde pelas próprias características
locais. O preconceito religioso e racial não podem fazer parte em nenhum momento deste processo.
O RELACIONAMENTO COM ENTIDADES E LIDERANÇAS LOCAIS
A filosofia básica de entidades locais está calcada na crença Importante instrumento de avaliação para o administrador
de que quando as pessoas passam a se relacionar com outros policial, favorecendo a definição de prioridades para a atuação da
cidadãos, seus problemas comuns tendem a ser equacionados e Polícia, estas entidades têm contribuído para corrigir, por meio de
compreendidos de modo mais racional. medidas criativas, fatores de insegurança sem onerar o poder
O Conselho, Comitês ou Associações são grupos de pessoas público.
do mesmo bairro ou do mesmo município que se reúnem para Além disso, podem realizar, com sucesso, campanhas de
discutir e analisar seus problemas de Segurança, propor soluções, informação e educação às comunidades em que atuam,
acompanhar sua aplicação, desenvolver campanhas educativas e alcançando, com isso, resultados concretos na prevenção de
estreitar laços de entendimento e cooperação entre as várias infrações e acidentes evitáveis, a partir da conduta do próprio
lideranças locais. cidadão, que deixa assim de passar à condição de vítima.
Podem participar das entidades representativas as pessoas Outros temas, além dos assuntos eminentes policiais, têm
indicadas pelas Entidades Comunitárias e Instituições de Serviço sido objeto de deliberação e atuação, na busca de outras soluções
de bairro. O número de membros pode variar conforme o como deficiência de iluminação pública e pavimentação,
tamanho do Distrito ou Município, do número de Entidades que modificações na arquitetura viária e sinalização de trânsito,
existem e das pessoas que se interessam em participar. limpeza e muramento de terrenos baldios, silêncio urbano,
Os representantes dos órgãos de segurança pública são alterações no itinerário de transportes urbanos, prevenção e
membros indispensáveis nestas entidades, sendo obrigatórias tratamento de dependentes de álcool e drogas, assistência a
suas participações. segmentos mais fragilizados da comunidade como indigentes,
Estas entidades se constituem num legítimo instrumento crianças e migrantes entre outros.
para reverter às distorções institucionais por parte da Polícia. Por ter sua força no seu caráter suprapartidário, estando
Como afirma Paulo Sérgio Pinheiro, Coordenador do Núcleo de estruturado e organizado, organizações sociais são um poderoso
Estudos da Violência da USP, “É necessário aumentar o instrumento para reverter a violência, verdadeira peste social que
relacionamento entre a Polícia e a Sociedade. O sucesso do se espalha pelas ruas e atinge níveis insustentáveis. Para tanto é
trabalho policial depende da credibilidade e da boa imagem que a necessário aprimorar o seu funcionamento, corrigindo as falhas
instituição tem em relação à população”.
59 Op.Cit.p.69.
Recomendações:
Para definição da data da reunião, deve ser analisada a facilidade para o comparecimento, sendo evitados dias de grandes eventos na
cidade, decisões esportivas, etc.
A data e o horário da reunião poderão variar de acordo com as características locais.
A reunião não deve afetar o horário das refeições ou de descanso.
Utilizar todos os meios possíveis para sensibilizar as pessoas a participarem da reunião, acionando o jornal do bairro ou até panfletos
em contas mensais.
IDENTIFICAÇÃO DA LIDERANÇA
Alguns cidadãos terão comparecido a muitas reuniões de bairro, mas não necessariamente são líderes comunitários
potenciais. É preciso identificar as pessoas que estão dispostas a iniciar o processo. A maioria das pessoas que se envolvem
ativamente na iniciativa da Polícia Comunitária estão motivadas, não tanto por sua própria vitimização ou medo do crime, mas
por um interesse geral do bairro e da comunidade. Procure as pessoas que reflitam as atitudes, os valores, as normas e as metas
do bairro, porque elas saberão melhor como estimular e perpetuar o apoio dos cidadãos.
Independentemente do método de seleção, os líderes deve apresentar o seguinte perfil:
- Capacidade de participar pessoalmente da iniciativa, sendo de preferência um morador da comunidade;
- Inclinação para a ação de resolução de problemas, ao invés da retórica;
- Habilidade de identificação com as pessoas envolvidas e, idealmente, ser reconhecido pelo grupo como o seu porta-voz;
- Capacidade de inovar, inspirar ação e estimular a participação continuada e geral dos cidadãos;
- Capacidade de encorajar respostas de todos os segmentos da comunidade.
Reunião dos líderes dos grupos relevantes
Após terem sido identificados os líderes dos grupos relevantes, o próximo passo é congregá-los. Deverá ser-lhes dito que
foram identificados pelos seus colegas dos grupos como líderes influentes interessados na polícia comunitária. As reuniões
iniciais (em geral dirigidas por alguma pessoa da comunidade) poderão ser um tanto desestruturadas. Os principais objetivos
dessas reuniões serão:
- Facilitar a expressão de sentimentos quanto aos problemas - Criar um clima favorável ao diálogo, a fim de que os mal-
aparentes; entendidos ou as falsas opiniões possam ser identificadas e
- Encorajar grupos relevantes a trocar pontos de vista sobre possam ser discutidos quaisquer fatores causadores do problema;
cada um deles; (Muitas instituições têm receios em relação a - Identificar os grupos de auto-interesse, e mostrar de que
outras instituições, e os cidadãos poderão também ter maneira cada um dos grupos se beneficiará do processo
desconfiança quanto às instituições); cooperativo de resolução de problemas para prevenir o crime e a
desordem.
Importante!
As primeiras reuniões em geral têm as seguintes características: expressão desestruturada de sentimentos e percepções;
aceitação dos “fatos”; discussão dos fatores que contribuem para os mal-entendidos; facilitação do entendimento e aumento do
número de percepções positivas entre os grupos.
Após um certo tempo, as reuniões começam a ter um enfoque mais real e menos emotivo. Se as reuniões iniciais
atingiram os seus objetivos, tudo está pronto para o próximo passo do processo.
IDENTIFICAÇÃO DAS ÁREAS DE ACEITAÇÃO COMUM E DAS ÁREAS DE
DISCORDÂNCIA
Uma vez identificados os pontos de vista dos diversos grupos, as informações podem ser apresentadas, em geral em um
quadro tipo “flip chart”, e logo em seguida, essas informações podem ser discutidas. As percepções dos diversos grupos podem
ser comparadas e as áreas de aceitação comum e as de discordância podem ser identificadas. Por exemplo, a percepção que a
polícia tem em relação ao seu papel pode ser comparada com a percepção que a comunidade tem do papel da polícia e vice-
versa. Esta comparação pode ser feita com os demais grupos relevantes - a polícia com os assistentes sociais, os assistentes
sociais com a comunidade, e assim por diante.
As percepções dos papéis dos grupos também podem ser comparadas com os comportamentos reais dos grupos, podendo
ser feita uma avaliação se um determinado grupo age como deveria agir ou de acordo com a percepção que dele se tem.
Como resultado da comparação das percepções com o comportamento, ficará evidenciado se os grupos agem como
deveriam ou se eles não estão cumprindo com os seus papéis. Há em geral um maior consenso do que seria esperado, em
relação ao papel que cada grupo deveria desempenhar.
O problema consiste em geral, nas próprias limitações e restrições que cada grupo possui por causa da sua história passada
e/ou problemas financeiros.
IMPLANTAÇÃO
Após a identificação das áreas de aceitação comum e de discordância, é possível fazer um esforço para incorporar as áreas
de concordância no intuito de que os pontos importantes da iniciativa da Polícia Comunitária sejam aceitáveis para todos os grupos.
Os grupos não irão necessariamente concordar em todas as áreas, mas haverá em geral, suficientes áreas comuns para possibilitar a
cooperação.
Muitos grupos ficarão inspirados e esclarecidos para aprender quantas áreas existem de concordância, que à primeira vista,
podem não ter estado aparentes. Em geral, haverá concordância nas metas principais, tais como a necessidade de controle do crime
e da desordem, bem como de uma comunicação mais positiva e eficiente, e de cooperação entre os grupos. As áreas de consenso
podem diminuir à medida que começam a ser identificadas as técnicas específicas de resolução de problemas e passam a ser
sugeridas por cada grupo alternativas para a implantação. Isto não será um problema grave, porque se tiverem sido seguidos os
princípios da teoria do patrocínio normativo (postula que a maioria das pessoas tem boa vontade e irão cooperar com as outras para
Apostila de Polícia de Proximidade – 2º Sgt PM Janildo da Silva Arantes 70
a construção de um consenso) e da teoria social crítica (procura responder porque as pessoas se juntam para corrigir e superar os
obstáculos).
Fundamenta-se em três ideias centrais:
- Esclarecimento: sobre - Poder: agir para melhorar as suas - Emancipação: Podem atingir a
circunstâncias para pleitear mudanças; condições; e liberação através da reflexão e da ação
social.
Prevalecerá uma atmosfera de cooperação e ficará facilitado o compromisso.
Todos os grupos sentirão que têm uma participação de consenso no processo de resolução de problemas.
IMPLANTAÇÃO DO MODELO DE POLÍCIA COMUNITÁRIA:
CONDIÇÕES BÁSICAS
QUANTO À ORGANIZAÇÃO POLICIAL
1. A Polícia deve reconhecer que é parte integrante do a) a limitação da ação da Polícia a funções específicas;
conjunto do sistema penal e aceitar as consequências de tal b) a formação especializada de seu pessoal;
princípio. Isso supõe: c) a aceitação de profissionais civis;
a) a existência de uma filosofia geral mínima, aceita e d) a criação e implantação de um plano de carreira;
aplicada pelo conjunto do sistema penal; e) a prioridade dada à competência na atribuição de
b) a cooperação efetiva entre os policiais e os demais promoções, critério que deve prevalecer sobre o da antiguidade
membros de tal sistema penal em relação ao problema do na escala;
tratamento judicial da delinquência. f) a existência de um código de ética profissional.
2. A Polícia deve estar a serviço da comunidade, sendo a 5. A Polícia deve reconhecer a necessidade do
sua razão de existir garantir ao cidadão o exercício livre e planejamento, da coordenação e da avaliação de suas
pacífico dos direitos que a lei lhe reconhece. Isso implica em: atividades, assim como da pesquisa, e pô-los em prática.
a) uma adaptação dos serviços policiais às necessidades Como consequência:
reais da comunidade; a) o planejamento administrativo e operacional da Polícia,
b) a ausência de qualquer tipo de ingerência política a coordenação e avaliação das suas atividades, assim como a
indevida nas atuações policiais; pesquisa, devem ser funções permanentes do serviço;
c) a colaboração do público no cumprimento de certas b) as principais etapas do processo de planejamento
funções policiais. policial devem ser: identificação de necessidades, análise e
3. A Polícia deve ser, nas suas estruturas básicas e em pesquisa, determinação de objetivos a curto, médio e longo
seu funcionamento, um serviço democrático. Isso pressupõe: prazos, elaboração de uma estratégia para a sua implantação,
a) a civilidade no atendimento ao serviço; consulta regular dentro e fora do serviço e avaliação periódica
b) um respeito total aos direitos fundamentais dos de tais objetivos e estratégias;
cidadãos; c) os objetivos da polícia devem corresponder às
c) a participação de todos os integrantes do serviço e do necessidades da comunidade, ser flexíveis, realizáveis e
conjunto da população na elaboração das políticas policiais; mensuráveis; e
d) a aceitação da obrigação de prestar contas., d) a Polícia deve participar de planejamento conjunto com
periodicamente, das suas atividades. os demais serviços policiais do país e com as instituições
4. A polícia deve ser um serviço profissional. São governamentais implicadas ou interessadas nos problemas
critérios necessários para um verdadeiro profissionalismo relacionados com as atividades das forças da ordem.
policial:
Quanto a comunidade Quanto aos policiais
- A polícia comunitária transfere o poder à comunidade para - Permitir ao policial “resolver” os problemas em vez de
auxiliar o planejamento objetivando melhorar a qualidade de vida simplesmente se “desvencilhar” deles;
e as ações policiais; - Dar o poder de analisar os problemas e arquitetar
- A polícia comunitária requer que a comunidade forneça soluções, delegando responsabilidade e autoridades reais;
insumos para as gestões que afetam a sua finalidade de vida; - Os recursos da Instituição devem ter como foco de
- A comunidade (com poder) compartilha a atenção auxiliar este policial;
responsabilidade de melhorar; - Os executivos de polícia devem entender que seu papel
- O senso de parceria com a polícia é criado e fortalecido; e dar assistência os policiais na resolução de problemas.
- Uma comunidade com mais poder, trabalhando em
conjunto com uma polícia com mais poder, resulta numa situação
em que o todo é maior do que a soma das partes.
• Tipos de prevenção:
◦ Prevenção primária: A prevenção não é percebida como de competência exclusiva das agências de segurança pública, mas também
de famílias, escolas e sociedade civil.
◦ Prevenção secundária Esse tipo de prevenção está fundamentado na noção de risco e proteção.
◦ Prevenção terciária: Atua quando já houve vitimização, procurando evitar a reincidência do autor e promover a reabilitação
individual e social da vítima.
• Um município que desejar aderir ao PRONASCI deve obrigatoriamente criar um Gabin.ete de Gestao ntegrada
• A fase de execução do planejado também implica a formação e o treinamento dos funcionários para a correta realização das metas
estipuladas.
• O ciclo PDCA visa a melhoria contínua dos processos e a normalização dos procedimentos mais eficientes.
• O ciclo de polícia, que inicia o ciclo de persecução criminal, é composto por:
◦ 1ª fase: Situação normal de paz social. Refere-se ao trabalho ostensivo realizado pela polícia, de caráter preventivo, em prol da
preservação da ordem pública. Quando ocorre a quebra da ordem pública, são efetuadas as demais fases do ciclo policial.
◦ 2ª fase: Restauração da paz social. Consiste no primeiro contato da polícia com a prática criminal, competindo-lhe exercer as
primeiras providências de polícia administrativa e judiciária, como realizar prisão em flagrante, identificar testemunhas, levantar
informações sobre o modo como o crime ocorreu, socorrer vítimas, dentre outras verificações possíveis que se apresentarem
necessárias de imediato.
◦ 3ª fase: Investigativa. É exercida pela polícia judiciária, através da escuta do relato das testemunhas arroladas, realização de perícias,
cumprimento de prisões processuais, exercidas por meio da instauração do Inquérito Policial.
◦ 4ª fase: Processual. A partir dessa sequência de procedimentos ocorre a fase processual, que é de competência do Ministério Público
e Poder Judiciário, sendo a última etapa do ciclo de persecução criminal a fase de aplicação das penas, responsabilidade do Poder
Judiciário e do Sistema Prisional (LAZZARINI, 1996).
◦ O atual sistema de segurança pública não mais satisfaz os requisitos mínimos para a geração de sinergias eficazes e efetivas à
produção de serviços que atendam ao clamor público, em razão do modo cartesiano de pensar a questão. Lamentavelmente, os
gestores públicos se submetem à ação de grupos classistas pela manutenção do atual sistema.
◦ O ciclo completo de polícia proporcionaria um sistema de segurança pública mais econômica e racional quanto ao
emprego, e flexível na interação com os demais integrantes do sistema.
◦ Porém, convém ressaltar que o modelo do ciclo completo de polícia não constitui a solução única e última para a resolução do
problema da delinquência, pois esta se trata de um fenômeno complexo que está intimamente ligado com os demais setores públicos
– saúde, educação, planejamento urbano, serviços sociais, sistema penal como um todo, mídia, sociedade civil, ONG’s e outras
instituições.
◦ O ciclo completo de polícia constitui numa tentativa de articular as polícias reunindo as diferentes instituições Polícia Rodoviária
Federal, Polícia Militar e Polícia Civil com o afã de sistematizar, formular conteúdos e promover a realização de atribuições de
polícia administrativa e judiciária visando à promoção de uma segurança pública e defesa do cidadão mais flexível.
◦ Por último, hodiernamente, todos os projetos organizacionais estão sendo orientados para um modelo sistêmico, avesso à
especialização e que consagre maior amplitude de atuação, com maior transversalidade para a geração de produtos e serviços que
satisfaçam a aderência dos consumidores, a sociedade em geral.
• A divisão da execução das fases da atividade policial em duas organizações distintas, no ente federativo estadual, de forma que é atribuída
à Polícia Militar o trabalho de preservação da ordem pública, enquanto compete à Polícia Civil a realização da investigação e da apuração
dos crimes, caracteriza a estrutura das polícias estaduais brasileiras como bipartida, dado que ambas apresentam o ciclo policial
incompleto.
• Nas duas últimas décadas, o Brasil presenciou uma crescente preocupação com as questões relativas à segurança pública e à justiça
criminal. Uma verdadeira obsessão securitária refletiu-se num nível jamais visto de debates públicos, de propostas legislativas e de
produção acadêmica.
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