As chamadas "ações reais" derivam do “direito real”, o qual tem origem no latim jus in
re, cujo significado é direito sobre a coisa. Assim, aquele que possui direito sobre uma
coisa, móvel ou imóvel, é o legitimado para a propositura da ação real.
Neste sentido, as ações reais imobiliárias são aquelas que tratam do direito sobre a coisa
imóvel.
Estas ações podem ser classificadas como possessórias, quando se discute a posse sobre
determinado bem imóvel, ou dominiais, quando o foco da discussão volta-se à
propriedade.
Normalmente, nestas ações, é requerida a prova pericial, que tem por objetivo esclarecer
aspectos relacionados à posse ou ao domínio do imóvel, sendo considerada a "Rainha da
Provas".
Para atuar nestas ações é fundamental que o perito saiba distinguir o tipo de ação e quais
os aspectos relevantes em cada uma delas. Engana-se quem acredita que o trabalho do
perito resume-se à elaboração do mapa e memorial descritivo do imóvel. Em alguns casos
tampouco será necessária a realização de levantamento topográfico no âmbito pericial.
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Aspectos Pertinentes da Perícia Judicial - 3ª Ed. 2017.
A ação real tem como objeto do pedido feito pelo autor a tutela de direito real. A
expressão “direito real” tem origem no latim jus in re cujo significado é direito sobre a
coisa. Assim, aquele que possui direito sobre uma coisa, móvel ou imóvel, é o
legitimado para a propositura da ação real. Como assevera Maria Helena Diniz,
“compete sua promoção àquele que é o titular do direito real contra quem não o quer
reconhecer, detendo injustamente a coisa sobre a qual recai aquele direito”. Podemos
tomar como exemplos de ações reais, os seguintes: a usucapião, a de reconhecimento de
um usufruto, uso ou habitação, a hipotecária e a reivindicatória, sendo esta última
caracterizada como a ação do proprietário não possuidor contra o possuidor não
proprietário. Ainda, merecem destaque os interditos possessórios, quais sejam: a
reintegração de posse, para o caso de esbulho possessório, a manutenção de posse,
relativa à turbação da posse, e o interdito proibitório, quando houver ameaça de retirada
da posse.
Os direitos reais estão elencados no artigo 1.225 do Código Civil brasileiro, a saber: I –
a propriedade; II – a superfície; III – as servidões; IV – o usufruto; V – o uso; VI – a
habitação; VII – o direito do promitente comprador do imóvel; VIII – o penhor; IX – a
hipoteca; X – a anticrese; XI – a concessão de uso especial para fins de moradia; XII – a
concessão de direito real de uso. Embora não conste no rol do referido artigo, a
propriedade fiduciária também constitui direito real. Na modalidade de bem móvel, a
propriedade fiduciária está regulada no Decreto-Lei nº 911/69. Quando recai sobre bens
imóveis, a regulamentação é a contida na Lei Federal 9.514/97.
A ação reipersecutória, por sua vez, objetiva que o autor retome ao seu patrimônio o que
lhe pertence, mas se encontra em poder de terceiro ou na esfera patrimonial do réu que
não cumpriu uma obrigação contratual. Em linguagem acessível, é a ação que persegue
uma coisa em decorrência de relação obrigacional não honrada pelo devedor. A melhor
definição é abordada pelo registrador Sérgio Jacomino, em citação ao professor
Aureliano de Gusmão, o qual considera ações pessoais reipersecutórias as que,
“derivando de uma obrigação, têm uma direção real, recaindo sobre uma cousa certa
(rem sequuntur) e podendo ser propostas ou contra a pessoa obrigada ou contra o
possuidor da cousa”. A autora Maria Helena Diniz complementa que “essas ações
pessoais são designadas “reipersecutórias”, porque, embora oriundas de relação de
direito pessoal, têm por finalidade a aquisição de um direito real ou o esclarecimento de
dúvidas sobre uma coisa”.
A ação pauliana pode ser um bom exemplo de ação pessoal reipersecutória. Como se
sabe, a referida ação é cabível quando estiver caracterizada a fraude contra credores
prevista no artigo 158 do Código Civil. Assim, quando o devedor em estado de
insolvência realiza um negócio de transmissão de bens onerosa (compra e venda, p. ex.),
gratuita (doação) ou remissão (perdão) de dívida, os credores quirografários, ou seja,
que não têm garantia real, podem pleitear a anulação do ato por ser lesivo aos seus
direitos. Obviamente, o caráter reipersecutório da referida ação, para fins de registro
imobiliário, somente será evidenciado quando o negócio jurídico anulável tiver por
objeto bem imóvel.
Lado outro, a propositura de uma ação para cobrança de valor pecuniário ou de qualquer
outra que não vise diretamente um imóvel, mas possa gerar a constrição de bens
imóveis do réu, não configura ação pessoal reipersecutória. Em acórdão referente a
pedido de registro de citação de ação declaratória de cancelamento de protesto de título
extrajudicial, a Corregedoria-Geral de Justiça do Estado de São Paulo negou provimento
à Apelação Cível nº 722-6/7, da Comarca de Olímpia, sob o fundamento de que
“eventual condenação na ação ajuizada e o não pagamento voluntário, que
eventualmente poderá acarretar na penhora de um ou mais bens imóveis de propriedade
do réu, não tem o condão de caracterizar a ação ajuizada como pessoal de natureza
reipersecutória, porque a ação em si não busca nenhum imóvel”.
No serviço de registro de imóveis, devem ser registradas no Livro nº 2 as citações de
ações reais ou pessoais reipersecutórias, relativas a imóveis, conforme o artigo 167,
inciso I, nº 21, da Lei Federal 6.015/73. O referido ato não apenas dá ciência aos
interessados da existência dessas ações, como também se presume cometida em fraude à
execução qualquer aquisição imobiliária posterior à sua inscrição. Portanto, a aquisição
poderá ser judicialmente declarada ineficaz, não podendo o adquirente fundar-se na boa-
fé. Seguindo tal corrente, Regnoberto M. de Melo Jr. ensina que “o efeito do registro
imobiliário da citação de ações relativas a imóveis é declaratório. Como documento
público que é, fazendo “prova não só da sua formação, mas também dos fatos que o
escrivão, o tabelião, ou o funcionário declarar que ocorreram em sua presença”, a teor
do artigo 364 do CPC, o registro imobiliário da citação é poderoso instrumento
probatório de fraudes na transmissão e, ou, constituição de direitos sobre coisa imóvel”.
Uma última distinção diz respeito à averbação premonitória prevista no artigo 615-A do
CPC, introduzido no referido diploma legal pela Lei 11.382/06. No ato de distribuição, é
possível que o exequente obtenha certidão que comprove o ajuizamento de ação
executória, a qual poderá ser averbada no registro de imóveis. Assim como no registro
de citação de ações reais ou pessoais reipersecutórias, a averbação premonitória firma a
presunção de fraude à execução para oneração ou alienação de bens, após a feitura do
ato. No entanto, pelo teor normativo, verifica-se que a averbação premonitória aplica-se
tão somente às ações vinculadas ao processo de execução, ao passo que o registro das
citações de ações reais ou pessoais reipersecutórias é mais abrangente, recaindo sobre
ações ordinárias, na maioria das vezes. A dúvida que surge, então, é quanto às ações de
execução, posto que uma demanda desta natureza também possa ser pessoal
reipersecutória. Podemos exemplificar essa situação com a ação de cobrança relativa ao
valor remanescente de aquisição de um imóvel, quando a compra e venda se der em
caráter pro solvendo. O não cumprimento de uma obrigação contratual pelo devedor que
é o pagamento faz desta ação não apenas executória, mas também pessoal
reipersecutória, já que repercute sobre o bem imóvel objeto do negócio jurídico. Logo, a
mencionada demanda poderá originar a certidão premonitória e a certidão de citação de
ação pessoal reipersecutória.
BALBINO FILHO, Nicolau. Registro de Imóveis. 14ª ed. São Paulo: Saraiva.
CENEVIVA, Walter. Lei de registros públicos comentada. 17ª ed. São Paulo: Saraiva,
2007.
DINIZ, Maria Helena. Sistemas de Registros de Imóveis. 8ª ed. São Paulo: Saraiva,
2009.