INTRODUÇÃO A ÉTICA
TÉCNICO EM LABORATÓRIO
INTRODUÇÃO
Os valores éticos não nascem com a gente, não pertencem ao que se possa chamar de
“natureza humana”.
O ser humano, segundo Saviani (2003), não nasce humano, mas se torna ao ser acolhido no
meio social, no convívio afetivo com outras pessoas.
Ele precisa de cuidados constantes para sobreviver e para adquirir a linguagem
(pensamento, simbolização, imaginação, comunicação verbal ou qualquer outra forma de
comunicação), condição essencial para que construa sua identidade.
A apreensão e a aprendizagem formal dos valores éticos só pode se dar por meio das
relações humanas que o homem precisa estabelecer desde cedo. Muitos dos valores que
possuímos são apreendidos (subjetivamente) na família e na comunidade, principalmente
pela observação das atitudes.
Definição de Ética
O termo ética, deriva do grego ethos (caráter, modo de ser de uma pessoa).
Ética é um conjunto de valores morais e princípios que norteiam a conduta
humana na sociedade. A ética serve para que haja um equilíbrio e bom
funcionamento social, possibilitando que ninguém saia prejudicado. Neste
sentido, a ética, embora não possa ser confundida com as leis, está
relacionada com o sentimento de justiça social.
A ética é construída por uma sociedade com base nos valores históricos e
culturais. Do ponto de vista da Filosofia, a Ética é uma ciência que estuda os
valores e princípios morais de uma sociedade e seus grupos.
OS PROBLEMAS DA ÉTICA
A ética é daquelas coisas que todo mundo sabe o que são, mas que não são
fáceis de explicar, quando alguém pergunta.
Tradicionalmente ela é entendida como um estudo ou uma reflexão,
científica ou filosófica, e eventualmente até teológica, sobre os costumes ou
sobre as ações humanas.
Mas também chamamos de ética a própria vida, quando conforme aos
costumes considerados corretos.
A ética pode ser o estudo das ações ou dos costumes, e pode ser a própria
realização de um tipo de comportamento.
Didaticamente, costuma-se separar os problemas teóricos da ética em
dois campos:
Funções da ética.
A ética tem uma tripla função:
1) esclarecer o que é a moral, quais são seus traços específicos;
2) fundamentar a moralidade, ou seja, procurar averiguar quais são as razões
que conferem sentido ao esforço dos seres humanos de viver moralmente;
3) aplicar aos diferentes âmbitos da vida social os resultados obtidos nas duas
primeiras funções, de maneira que se adote uma moral crítica em vez da
subserviência a um código.
Os métodos próprios da ética.
A moral dogmatiza com seus códigos, enquanto que a ética argumento
criticamente. Não há totalitarismo em exigir argumentação, mas é totalitário
dogmatismo da mera autoridade, das pretensas evidências, das emoções e das
metáforas.
Filosofar é argumentar.
Este é o modo de proceder da filosofia moral. Os métodos par argumentar
podem ser muitos: empírico-racional (Artistóteles), empirista e racionalista (era
moderna), transcendental (Kant), dialético-absoluto (Hegel), dialético-
materialista (Marx), genealógico-desconstrutivo (Nietszche), fenomenológico
(Husserl, Scheler), análise da linguagem (Moore, Stevenson, Ayer),
neocontratualista (Rawls).
EM QUE CONSISTE A MORAL?
Diversidade de concepções morais.
É necessário distinguir entre a forma comum da moralidade (ética) os conteúdos
das concepções morais (moral).
Assim é afirmada a universalidade da moral quanto à forma, ao passo que os
conteúdos estão sujeitos às variações de espaço e de tempo das concepções
morais. Trata-se de examinar critérios para distinguir nas diferente concepções
quais são as que melhor encarnam a forma moral.
Diferentes maneiras de compreender a moral
Para a filosofia antiga e medieval, centrada no ser, a moralidade era entendida
como uma dimensão do ser humano. A filosofia moderna tem como referência
não mais o ser, mas a consciência e a moralidade é uma forma peculiar de
consciência.
Ética Profissional é compromisso social
O que é Ética Profissional?
É extremamente importante saber diferenciar a Ética da Moral e do Direito. Estas
três áreas de conhecimento se distinguem, porém têm grandes vínculos e até
mesmo sobreposições.
Tanto a Moral como o Direito baseiam-se em regras que visam estabelecer certa
previsibilidade para as ações humanas. Ambas, porém, se diferenciam.
A Moral estabelece regras que são assumidas pela pessoa, como uma forma de
garantir o seu bem-viver. A Moral independe das fronteiras geográficas e garante
uma identidade entre pessoas que sequer se conhecem, mas utilizam este
mesmo referencial moral comum.
O Direito busca estabelecer o regramento de uma sociedade delimitada pelas fronteiras
do Estado. As leis têm uma base territorial, elas valem apenas para aquela área
geográfica onde uma determinada população ou seus delegados vivem. Alguns autores
afirmam que o Direito é um sub-conjunto da Moral.
Esta perspectiva pode gerar a conclusão de que toda a lei é moralmente aceitável.
Inúmeras situações demonstram a existência de conflitos entre a Moral e o Direito.
A desobediência civil ocorre quando argumentos morais impedem que uma pessoa
acate uma determinada lei. Este é um exemplo de que a Moral e o Direito, apesar de
referirem-se a uma mesma sociedade, podem ter perspectivas discordantes.
A Ética é o estudo geral do que é bom ou mal, correto ou incorreto, justo ou
injusto, adequado ou inadequado. Um dos objetivos da Ética é a busca de
justificativas para as regras propostas pela Moral e pelo Direito. Ela é diferente de
ambos - Moral e Direito - pois não estabelece regras. Esta reflexão sobre a ação
humana é que caracteriza a Ética.
Ética Profissional: Quando se inicia esta reflexão?
Esta reflexão sobre as ações realizadas no exercício de uma profissão deve iniciar
bem antes da prática profissional.
A fase da escolha profissional, ainda durante a adolescência muitas vezes, já deve
ser permeada por esta reflexão.
A escolha por uma profissão é optativa, mas ao escolhê-la, o conjunto de deveres
profissionais passa a ser obrigatório.
Geralmente, quando você é jovem, escolhe sua carreira sem conhecer
o conjunto de deveres que está prestes ao assumir tornando-se parte
daquela categoria que escolheu.
Toda a fase de formação profissional, o aprendizado das competências
e habilidades referentes à prática específica numa determinada área,
deve incluir a reflexão, desde antes do início dos estágios práticos.
Ao completar a formação em nível superior, a pessoa faz um
juramento, que significa sua adesão e comprometimento com a
categoria profissional onde formalmente ingressa. Isto caracteriza o
aspecto moral da chamada Ética Profissional, esta adesão voluntária a
um conjunto de regras estabelecidas como sendo as mais adequadas
para o seu exercício.
A ÉTICA DA VIDA
Conceito da Bioética
O paternalismo hipocrático
Um aspecto importante a ser considerado para que possamos construir a
reflexão bioética de maneira adequada é compreender a influência histórica
desde a época de Hipócrates.
No século IV a.C., a sociedade era formada por diversas castas (camadas sociais
bem definidas e separadas entre si) que faziam com que ela fosse “piramidal”.
Mas o que isso significa? Isso quer dizer que, na base da pirâmide, encontrava-
se a maior parte das pessoas: os escravos e os prisioneiros de guerra, que nem
mesmo eram considerados “pessoas”.
Logo acima deles, numa camada
intermediária (portanto em número menor),
estavam os cidadãos. Os cidadãos eram os
soldados, os artesãos, os agricultores, e
estes tinham direitos e deveres. No topo da
pirâmide estavam os governantes, os
sacerdotes e os MÉDICOS.
O paternalismo hipocrático
O individualismo propõe que a atitude mais importante para tomarmos uma decisão
seja a liberdade, expressa na garantia incondicional dos espaços individuais.
Obviamente todos concordam que a liberdade é um bem moral que precisa ser
defendido. Mas, nesse caso, trata-se de uma liberdade que se resume à busca de uma
independência total.
Contudo, essa independência não é possível, pois nós somos seres sociais, frutos de
relações familiares e dependentes de vínculos sociais.
Essas relações determinam limites às liberdades individuais e impõem
responsabilidades diante das consequências dos atos individuais na vida dos outros.
Os vínculos nos fortalecem, a independência nos fragiliza. Não podemos falar de
“liberdade” sem considerar a “responsabilidade” dos nossos atos.
Muitas vezes, definimos liberdade como na seguinte frase: “Minha
liberdade termina quando começa a liberdade do outro”. Entretanto,
ao limitarmos a compreensão do conceito de liberdade a essa frase,
quem for mais “forte” determinará quem será “mais livre”.
Para que todos tenham o direito de expressar a sua liberdade, é
preciso atrelar esse conceito ao de responsabilidade, pois todos os
nossos atos têm alguma consequência para outras pessoas.
Hedonismo
B) A pessoa humana é provida de uma “dignidade”. Isso significa que a pessoa tem
valor pelo simples fato de ser pessoa.
A pessoa é composta de diversas dimensões: dimensão biológica (que as ciências da
saúde estão acostumadas a estudar), dimensão psicológica (que os psicólogos
estudam detalhadamente), dimensão social ou moral (estudada pelas ciências sociais)
e dimensão espiritual (estudada pelas teologias). Por isso, falamos que a pessoa é
uma totalidade, pois todas essas dimensões juntas compõem a pessoa.
Assim, todas as nossas reflexões e ações diante das pessoas (seja em situações de
conflitos éticos ou não) devem ser guiadas pelo respeito a esse fundamento, a pessoa
humana (entendida como um ser único, que é uma totalidade e dotado de
dignidade).
O valor da vida humana
Outro conceito importante para construirmos a nossa reflexão ética/bioética é o
de vida humana.
Para a Bioética, é fundamental o respeito à vida humana.
Mas o que designamos vida humana?
Segundo os principais livros de Embriologia, a vida humana inicia-se no exato
momento da fecundação, quando o gameta masculino e o gameta feminino se
juntam para formar um novo código genético. Esse código genético não é igual
ao do pai nem ao da mãe, mas é composto de 23 cromossomos do pai e de 23
cromossomos da mãe.
Sendo assim, nesse momento, inicia-se uma nova vida, com patrimônio genético
próprio, e, a partir desse momento, essa vida deverá ser respeitada. Este é o
primeiro estágio de desenvolvimento de cada um de nós. A nossa experiência
mostra que o desenvolvimento de todos nós se deu da mesma maneira, ou seja,
a partir da união dos gametas do pai e da mãe.
Além disso, a vida é um processo que pode ser:
a) contínuo: porque é ininterrupto na sua duração. Estar vivo representa dizer
que não existe interrupção entre sucessivos fenômenos integrados. Se houver
interrupção, haverá a morte.
b) coordenado: significa que o DNA do próprio embrião é responsável pelo
gerenciamento das etapas de seu desenvolvimento. Esse código genético
coordena as atividades moleculares e celulares, o que confere a cada indivíduo
uma identidade genética.
c) progressivo: porque a vida apresenta, como propriedade, a gradualidade, na
qual o processo de desenvolvimento leva a uma complexidade cada vez maior da
vida em formação.
Contudo, o valor da vida de algumas pessoas, em diferentes épocas, não foi
respeitado (e ainda hoje, em muitos casos, não é). Por exemplo: os escravos no
Brasil (até a Abolição da Escravatura, em 1888), com consequente (e ainda
frequente) discriminação dos afrodescendentes; os prisioneiros nos campos de
concentração na 2ª Guerra Mundial, dentre tantos outros exemplos.
Os princípios da Bioética
Após a compreensão desse fundamento (o respeito pela pessoa
humana), podemos utilizar “ferramentas” para facilitar o nosso
processo de estudo e de decisão sobre os diversos temas de Bioética.
A essas ferramentas chamamos princípios.
Esses princípios foram propostos primeiro no Relatório Belmont, de
1978, para orientar as pesquisas com seres humanos e, em 1979,
Beauchamps e Childress, em sua obra Principles of biomedical
ethics, estenderam a utilização deles para a prática médica, ou seja,
para todos aqueles que se ocupam da saúde das pessoas.
Beneficência/não maleficência