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GOIÂNIA
AGOSTO
2016
SECRETÁRIO DE ESTADO DA SAÚDE
Dr. Leonardo Moura Vilela
DIRETORIA EXECUTIVA
Aline Oliveira
COMISSÃO CIENTÍFICA:
Tutora:
Cristina Vianna Moreira dos Santos, CRP 09/2862
Residentes:
Amanda Araújo Malta de Sá, CRP 09/8802
Rosely Vieira Cecílio, CRP 09/9108
COMISSÃO ORGANIZADORA:
Andrea dos Santos Silva, CRP 09/4371
Bruno Fernandes Borginho, CRP 09/7706
Cássio Fernandes de Oliveira, CRP 09/6728
Fernanda Oliveira Xavier, CRP 09/3049
Geiza Vieira Gonçalves CRP 09/4680
Lúcia Regina Chein Trindade, CRP 09/867
40 p.
ISSN: 2526-1800
DIA 25/08/2016
Pré-evento
13:00-15:00 – Minicurso
Alterações neurocognitivas associadas ao HIV/AIDS
Instrutora: Profa. Dra Maria Rita Polo Gastón – CRP 06/85260
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de São Paulo e Universidade São Judas Tadeu
15:00-17:00 – Oficina
Técnicas de relaxamento
Instrutora: Esp. Ana Maria Caran Miranda – CRP 09/88
Hospital Araújo Jorge
15:00-17:00 – Oficina
Grupos, afetividade e poder na prática profissional
Instrutora: Dra. Maria da Penha Nery – CRP 01/3502
Associação Brasiliense de Psicodrama
Evento
19:00h – Mesa de Abertura: solenidade
Diretor do ISG
Diretora Geral do HDT
Diretora do DEP
Assessora Operacional
Presidente do CRP-09
Coordenadora do Curso de Psicologia - UNIP/ Goiânia
Coordenadora do Centro de Psicologia Aplicada - CPA
Coordenadora do Setor de Psicologia
19:30h-21:00h – Conferência de Abertura
A Aids em perspectiva: memórias revisitadas de uma aprendiz a psicóloga
Profa. Dra. Lenise Santana Borges – CRP 09/315
Pontifícia Universidade Católica-GO
DIA 26/08/2016
8:00h-09:30h – Mesa Redonda 1
Residência de Psicologia: desafios e perspectivas no cenário goiano
Coordenação: Cristina Vianna Moreira dos Santos – CRP 09/2862
Tutoras de Psicologia das Residências Multiprofissionais
09:30h-10:00h – Intervalo
16:00h-16:30h – Intervalo
A sexualidade do paciente vivendo com HIV/AIDS (SÁ, Amanda Araújo Malta de;
VIANNA, Cristina).......................................................................................................16
Corpo que não responde: o luto pela mudança corporal em um processo inicial
de reabilitação pós-trauma (LELES, Mariana Batista Leite).............................33
Esse texto apresenta uma perspectiva parcial e fragmentada da minha vivência em montar um
serviço de Psicologia no Hospital de Doenças Tropicais no final dos anos 1980 na cidade de
Goiânia. Tomando como inspiração os encontros com o sociólogo, ativista, Herbert Daniel e com as
ideias e práticas do movimento feminista trago algumas reflexões que me possibilitam entender a
Aids como um fenômeno multicausal, englobando aspectos epidemiológicos, sociais, econômicos,
psicológicos e políticos, refletindo as intensas transformações e complexidades das sociedades ditas
pós-tradicionais. Um dos aspectos a ser destacado nessa experiência aponta para a importância de
estratégias envolvidas no ato de esconder ou publicizará vida amorosa e sexual como um dos
fatores geradores de possíveis agravos da doença. Ilustro esse aspecto com trechos de fala do
próprio Hebert Daniel e de alguns(mas) pacientes ressaltando as dificuldades impostas pelas
relações tortuosas entre a sexualidade, a Aids, e os processos de assumir ou não a própria
sexualidade. Nesse processo de convívio com os(as) pacientes aprendi a importância do trabalho em
grupo e que a saída pela mobilização social e o reforço dos ativismos têm profundos efeitos de
resistência e se apresentam como estratégias importantes para o enfrentamento da epidemia.
Finalizo sugerindo a importância de uma formação mais integral na psicologia, na qual a teoria não
esteja dissociada da prática chamando atenção para a necessidade da incorporação da discussão
sobre gênero e sexualidade e para uma prática profissional mais comprometida com a sociedade.
1
Professora – Pontifícia Universidade Católica de Goiás
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AVALIAÇÃO DE QUALIDADE DE VIDA EM PACIENTES PORTADORES
DE HANSENÍASE EM UM HOSPITAL DE REFERÊNCIA EM DOENÇAS
INFECTOCONTAGIOSAS DE GOIÂNIA-GO
1
Psicóloga Residente em Psicologia – HDT/HAA
2
Médica Dermatologista – HDT/HAA
14
AS DIMENSÕES DO ISOLAMENTO NO CONTEXTO DAS DOENÇAS
INFECTOCONTAGIOSAS: PERSPECTIVAS NA INFÂNCIA E NA IDADE
ADULTA
1
Psicóloga – HDT/HAA
2
Psicólogo – HDT/HAA
16
A SEXUALIDADE DO PACIENTE VIVENDO COM HIV/AIDS
O Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) vem ocupando lugar de destaque dentre as mais
temidas patologias dos tempos atuais e representa um sério problema de saúde pública, considerada
epidemia global, com rápida disseminação e agravamento. As principais formas de transmissão do
HIV são por vias: sexual, sanguínea (em receptores de sangue ou hemoderivados e em usuários de
drogas injetáveis), vertical (da mãe para o filho, durante a gestação, parto ou aleitamento) e
ocupacional (administração e infecção através de perfuro-cortantes). Cabe ressaltar que, dentre elas,
a transmissão sexual é considerada pela OMS como a mais comum em todo mundo. Como
estratégias no combate ao HIV, os dois grandes enfoques são a prevenção e o tratamento. As
principais estratégias de prevenção envolvem o uso de preservativos, o uso de agulhas e seringas
esterilizadas ou descartáveis, o controle do sangue e derivados, a adoção de cuidados na exposição
ocupacional a material biológico e o manejo adequado das outras DST's. Para tratar pessoas
infectadas com o vírus institui-se o uso regular e contínuo da terapia antirretroviral (TARV), que
tende a diminuir sua morbidade e mortalidade, melhorando a qualidade e a expectativa de vida das
pessoas que vivem com HIV/Aids. Logo após a descoberta do HIV, o acometimento pelo vírus foi
associado aos homossexuais, hemofílicos, haitianos, heroinômanos e profissionais do sexo,
tornando a patologia extremamente estigmatizada. Por este motivo, muitas pessoas temem ser
julgadas por terem o vírus, pois há ainda a tendência em associá-lo a esses grupos. Sendo assim, é
muito comum que sujeitos infectados ocultem o diagnóstico como estratégia para minimizar o seu
impacto social nos meios familiar, social ou profissional. O diagnóstico de infecção pelo HIV
modifica as expectativas do sujeito em relação a si próprio e ao meio em que vive. A cronicidade da
patologia repercute no âmbito pessoal e social, podendo comprometer as relações interpessoais e a
autoestima. Além disso, são necessárias mudanças no estilo de vida, que envolvem a adaptação ao
tratamento. Pesquisas apontam que a qualidade de vida de pessoas soropositivas é afetada
principalmente no domínio da atividade sexual. Isto pode estar relacionado a várias dificuldades,
como manejar e conviver com o HIV/Aids, compartilhar o diagnóstico, medo de perder o parceiro
pelo adoecimento e pelos conflitos, mágoas e ressentimentos que podem estar envolvidos na
aquisição do HIV. A sexualidade é de fundamental importância para o ser humano, por todo o seu
desenvolvimento, e pode ser vivenciada harmoniosamente ou permeada por sentimentos
desagradáveis e conflituosos. O sujeito portador do vírus HIV tem outros desafios acrescentados aos
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já existentes e provenientes de sua sociedade e cultura, por estar em uma condição de possível
transmissor e ter a necessidade de se adaptar a esta realidade. Nesse contexto de transformação da
intimidade, dos valores e das formas de pensar, o que favorece a flexibilidade da sociedade a
acolher novas configurações das relações amorosas, estão inseridas as pessoas que vivem com
HIV/Aids. Sentimentos de angústia, tristeza e medo podem fazer parte da realidade de sua vivência
sexual. Torna-se, então, um desafio para os sujeitos infectados lidar com o risco concreto da
transmissão da infecção e, especialmente, com o estigma, preconceito e discriminação associados à
Aids. Esta problemática pode desencadear redução da libido, diminuição na frequência das relações
sexuais ou até mesmo a abstinência, interferindo no exercício da sexualidade das pessoas que vivem
com HIV. Tais problematizações teóricas despertaram o interesse de uma psicóloga residente, de um
hospital de referência em infectologia de Goiás, dentro do contexto da Residência Multiprofissional,
de desenvolver um projeto de pesquisa cujo objetivo geral é investigar a vivência da sexualidade de
sujeitos que convivem com o vírus HIV. Os objetivos específicos são: identificar as principais
dificuldades de sujeitos soropositivos em seus relacionamentos afetivos e/ou sexuais e levantar
como são vivenciadas essas dificuldades por este público; e investigar se existem mecanismos de
enfrentamento a essas dificuldades e como são vivenciados. O projeto de pesquisa foi avaliado e
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital de Doenças Tropicais Dr. Anuar Auad
(HDT/HAA) em dezembro de 2015. Esta é uma pesquisa qualitativa em que a amostra foi de
conveniência. Os participantes que concordaram em participar da pesquisa fazem acompanhamento
e tratamento no hospital e foram entrevistados sob a perspectiva do método fenomenológico. Suas
entrevistas foram transcritas e atualmente estão em processo de análise. Esta pesquisa originará o
Trabalho de Conclusão de Residência da profissional em processo de aprendizagem em serviço.
1
Psicóloga Residente em Infectologia – HDT/HAA
2
Tutora de Residência em Psicologia – HDT/HAA
18
MULHERES COM HIV/AIDS - MEDICINA, RELIGIÃO E FAMÍLIA NO
ENFRENTAMENTO DA DOENÇA
A infecção pelo vírus HIV/AIDS representa um importante problema de Saúde Pública mundial.
Recentemente, temos observado uma feminização da epidemia. Esse fato motivou o
desenvolvimento da presente pesquisa, tendo como objeto de estudo mulheres com HIV/AIDS. Os
objetivos principais da pesquisa foram apresentar a situação da epidemia no mundo, no Brasil e em
Goiás; estabelecer a relação entre a medicina e a religião, inclusive na visão das mulheres
soropositivas; destacar os sentimentos das pacientes por se encontrarem portadoras de um vírus com
características letais; a importância da religião no enfrentamento desses desafios impostos pela
doença; e, por fim, relacionar o papel da instituição família no combate ao HIV/AIDS. A pesquisa
foi realizada, utilizando-se como instrumento um questionário que foi aplicado exclusivamente pelo
pesquisador em 30 pacientes comprovadamente contaminadas pelo vírus. Todas as expressões
religiosas mencionadas estão incluídas no Cristianismo. As pacientes estudadas reconhecem a
importância da relação entre a medicina e a religião e demonstraram categoricamente que apreciam
e valorizam tanto os conhecimentos médicos quanto a manifestação do fenômeno religioso no
enfrentamento da infecção. As pacientes deixaram patente a importância da religião no
enfrentamento da doença. Quanto ao papel da família, naquelas que apoiam o membro soropositivo
é evidente a manifestação da importância no combate à evolução da doença.
1
Professor – Pontifícia Universidade Católica de Goiás
19
MULHERES, HIV E A GESTAÇÃO - ASPECTOS PSICOLÓGICOS
Silvane Tomilin1
Dados recentes apontam que para cada homem infectado existe, atualmente, uma mulher na mesma
condição, indicando uma crescente feminização do HIV/Aids. Fatores socioculturais, objetivos e
subjetivos, como a pobreza, a baixa escolaridade, a iniquidade de gênero, a exposição ao uso de
drogas lícitas e ilícitas, a falta de acesso aos serviços de saúde e o estigma social, são alguns fatores
que contribuem para este quadro que atinge, especialmente, as mulheres em idade reprodutiva. A
descoberta do diagnóstico, que pode acontecer nos primeiros exames do pré-natal, no momento do
parto ou em momento anterior a gestação, causa um impacto psicológico intenso, muitas vezes
agravado com a revelação de outras doenças concomitantes. O Ministério da Saúde, através da
Secretaria de Vigilância e Saúde, criou o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Prevenção
da Transmissão Vertical de HIV, Sífilis e Hepatites Virais com o objetivo de oferecer à gestante
medidas profiláticas para diminuir o risco de Transmissão Vertical, ou seja, reduzir que a infecção
seja transmitida ao futuro bebê. Assim, orienta-se que a gestante faça o Teste Rápido para HIV no
primeiro e último trimestre, que inicia o seguimento clínico e adesão à TARV - Terapia
Antirretroviral – no mínimo na 14ª semana de gestação; que o parto obedeça dois critérios
dependendo da Carga Viral (CV) apresentada no último exame, sendo cesariana eletiva para CV
maior que 1.000 cópias e parto normal para CV menor que 1.000 cópias. De acordo com o
Protocolo, orienta-se que a parturiente receba de forma intravenosa o AZT no parto e que o recém-
nascido receba a medicação em forma de xarope nas seis primeiras horas e durante 28 dias de vida.
Outra recomendação é o não aleitamento materno. Como a maternidade é uma experiência
socialmente estimulada em nossa sociedade, bem como a amamentação, por diversos benefícios
como a proteção orgânica e o fortalecimento do laço afetivo, tanto para a mãe quanto para o filho, a
gestante soropositiva vive um paradoxo entre a alegria e a tristeza neste momento de sua vida.
Sentimentos ambivalentes como medo e culpa pela possibilidade de infectar o bebê; a revelação do
diagnóstico trazendo aproximação ou separação conjugal/familiar, preconceito e discriminação,
entre outros, são uma constante, fazendo com que a experiência da maternidade para a paciente,
torne este momento ainda mais intenso. Ainda há poucos estudos brasileiros com enfoque nos
aspectos psicológicos da maternidade neste contexto, mas segundo alguns autores a maternidade
permanece numa posição bastante idealizada para as gestantes, sendo colocada acima da infecção e
com expectativas positivas que incluem a capacidade de cuidar da criança, especialmente se conta
20
com rede de apoio. Porém, a feminização da doença, o aspecto crônico da mesma e os estigmas
sociais criados em torno dela, indicam que a gestante soropositiva necessita de um
acompanhamento psicossocial que a atenda nas suas necessidades emocionais e socioculturais,
numa assistência integrada e humanizada. Garantir que esta mulher tenha qualidade de vida, que
seja reconhecida e respeitada na sua subjetividade, mas promovendo ações que lhe possibilitem, por
exemplo, a sobrevivência e a melhoria da adesão, com intervenção interdisciplinar e transetorial.
Medidas que poderão auxiliá-la a perceber de forma positiva a vivência da maternidade, efetivando
suas ações como corresponsável neste processo.
1
Psicóloga – HDT/HAA
21
PODER E AFETIVIDADE NA PRÁTICA PROFISSIONAL
Trabalhar com os sofrimentos das pessoas, dos grupos e com mediação de conflitos nos obriga a
compreender a influência da afetividade nas práticas de poder. Há muitos teóricos que nos ajudam a
embasar nossas intervenções terapêuticas, no sentido do bem estar pessoal e coletivo, do
empoderamento dos sujeitos oprimidos, da construção do diálogo empático, da distribuição do
poder e da criatividade. Quanto mais conscientes do porquê e do para quê de nossa atuação
socioclínica, mais libertador será nosso trabalho. Dada à relevância do tema, oferecemos um
workshop, na II Jornada de Psicologia Hospitalar, em Goiânia, sobre “afetividade e poder no
exercício profissional”. Perguntamos quais eram as expectativas dos participantes, o que eles
conheciam sobre o assunto e em que poderiam usar o que iriam aprender. Logo após a oficina,
fizemos as mesmas perguntas. Estiveram presentes 52 pessoas, 23 responderam dizendo, em
síntese, que pouco conheciam sobre afetividade e poder, ou da interação dos temas; enfatizaram que
era importante para suas relações e para a atuação do psicólogo, ou do profissional da saúde em
qualquer contexto de trabalho. E disseram que poderiam utilizar os conhecimentos para ajudar a
diminuir os sofrimentos nas interações humanas. A oficina se compôs de parte expositiva, em que se
falou de alguns teóricos que estudam os temas, dentre eles: Foucault, Moreno, Marx, Moscovici e
Adorno; parte vivencial, com sociodrama, em que ativamente os participantes expõem e
dramatizam cenas relacionadas aos conteúdos e a parte dos debates. No sociodrama, surgiram cenas
relacionadas aos afetos e identificações entre as pessoas, que continham critérios de escolhas, como
por exemplo, “para quem eu contaria um problema”, “quem eu escolheria para trabalhar” ou “com
quem estudaria hoje”. A cada um desses critérios, as escolhas provocavam a criação de subgrupos.
Esse fenômeno ajudou-os a refletir sobre afetividade e alguns requisitos do poder, como a atração, a
identidade, a união de grupos, a história grupal, e sobre os conflitos resultantes das constantes
subdivisões grupais em nossas vidas. Nas subdivisões em nos ambientes de trabalho, por exemplo,
podem ocorrer emoções que contribuem para a criatividade ou para o adoecimento das pessoas. Os
participantes também trouxeram cenas relacionadas ao poder autoritário, em que expuseram o
sofrimento de cada um dos lados. Coletivamente criaram uma cena, em que um personagem
atacava, impunha ou agredia para obter resultados e outro se submetia, se inferiorizava e se
subjugava. Ambos os personagens e a plateia trouxeram os diversos conflitos e dificuldades
pessoais e interpessoais, assim como seus temores e sentimentos. O grupo ajudou a buscar saídas
22
para a experiência angustiante do confronto, tentando o diálogo, a intuição e a empatia.
Conseguiram perceber que há momentos em que vivemos mais um lado do que outro e que a
radicalização gera crises. Também vieram cenas relacionadas às maneiras de exercer o poder com
criatividade, com a construção de argumentos, com a busca de distribuir afetos que produzam o
bem estar nas relações. Falamos sobre algumas técnicas para melhoria da comunicação que o
profissional da saúde pode utilizar, dentre elas o duplo (expressar pelo interlocutor uma emoção que
ele contém e perguntar-lhe se é isso mesmo) e a inversão de papéis (ajudar os interlocutores a se
imaginarem no lugar um do outro, promover a intuição e a expressão de sentimentos). O debate
teórico/prático ficou enriquecido com a experiência das cenas vividas pelo grupo. Algumas das
conclusões dos participantes foram: seria importante aprofundar cada conteúdo abordado, com
supervisão de casos, por meio de técnicas e métodos sociodramáticos de mediação; observaram a
interrelação entre a distribuição de afetos, da expansividade afetiva entre pessoas e grupos que
promovem diversos exercícios de poder; perceberam que no desempenho de papéis sociais, os
conflitos precisam ser trabalhados, principalmente os que trazem historicamente as condutas de
domínio, opressão, repressão, ameaças, vigilâncias e submissões e as ideologias machistas, racistas
e das questões de gênero e de classe. Concluímos que os conflitos de poder e afetivos necessitam
ser cada vez mais conhecidos teoricamente e que também trazem nossas histórias, que precisam ser
revistas, para que a atuação profissional não contribua ainda mais para o sofrimento físico e
psíquico de nossos pacientes e para os transtornos nas relações no trabalho.
1
Associação Brasiliense de Psicodrama
23
REAÇÕES EMOCIONAIS VIVENCIADAS POR PACIENTES
INTERNADOS/HOSPITALIZADOS COM DIAGNÓSTICO RECENTE DE
HIV/AIDS
Partindo da concepção de que o estado emocional de uma pessoa tem grande influência na
qualidade de sua saúde psicológica e na relação que ela tem com a doença, esta pesquisa visa
compreender e descrever as reações emocionais vivenciadas por pacientes
internados/hospitalizados, logo após terem recebido a notícia inesperada do diagnóstico de uma
doença crônica como HIV/Aids. Este trabalho foi realizado em um hospital de referência em
infectologia do estado de Goiás, na região centro-oeste. A pesquisa foi desenvolvida no contexto da
Residência em Psicologia que compõe o Programa de Residência Multiprofissional no referido
hospital. O projeto de pesquisa foi avaliado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do
Hospital de Doenças Tropicais Dr. Anuar Auad (HDT/HAA) em junho de 2015. Esta é uma
pesquisa qualitativa em que a amostra foi de conveniência. Os participantes foram dez pacientes,
seis do sexo masculino e quatro do sexo feminino, com idade variando entre 20 e 51 anos de idade,
que receberam diagnóstico recente de HIV/Aids em até seis meses, e estavam
internados/hospitalizados em condições físicas e psicológicas mínimas, apresentando-se
conscientes, orientados e verbalizando para responder a pesquisa. A coleta de dados se deu por meio
de entrevista semiestrutura sendo composta de um roteiro com dez questões sobre as reações
emocionais vivenciadas frente ao diagnóstico. Cada participante foi convidado a responder
individualmente a entrevista, com tempo de aproximadamente trinta minutos, no consultório do
Setor de Psicologia, visando garantir o sigilo durante a coleta de dados. As entrevistas foram
realizadas pela pesquisadora principal, gravadas e transcritas para análise e discussão dos
resultados. Identificou-se que diante da descoberta de uma doença crônica o paciente apresenta
diversas reações emocionais, passando por várias fases. Normalmente, essas reações se iniciam com
a negação, incluindo choque, torpor e descrença. A negação funciona como um para choque, sendo
um mecanismo de defesa que se faz necessário no primeiro momento, passando pela revolta, depois
pela barganha, podendo vir acompanhada de depressão. Finalmente, segue-se para a fase de
aceitação da doença por parte do paciente, chegando ao seu enfrentamento que inclui a adesão ao
tratamento. Estas reações emocionais foram encontradas nos pacientes participantes da pesquisa. Os
participantes puderam relatar sobre o impacto do diagnóstico, suas reações e sentimentos como
medo de morte, do preconceito e da discriminação, do abandono por parte dos familiares e amigos,
e dos diversos tipos de perdas experimentadas ao longo do adoecimento. Os resultados apontaram
que pacientes com menor tempo de revelação do diagnóstico mostravam-se em fase de negação,
questionando a si mesmos, como o adoecimento poderia ter acontecido com eles, seguindo para um
estado de revolta contra tudo e todos, tentando barganhar, negociando primeiramente com Deus,
fazendo promessas de viver, de agora para frente, uma vida correta. Pacientes com um tempo maior
de diagnóstico encontravam-se em fase de aceitação, entrando em contato com a doença e
assumindo sua condição atual, começando a mobilizar recursos internos de enfrentamento,
entendendo a necessidade e a importância de continuar seguindo aderente ao tratamento, encarando
os desafios em meio a toda dificuldade. Este trabalho sobre reações emocionais no diagnóstico
recente permite conhecer a trajetória da doença e suas implicações, as cicatrizes provocadas pelo
adoecimento, as marcas da exclusão social e o impacto psicossocial na vida dessas pessoas que
convivem com HIV/Aids.
1
Residente Egressa em Psicologia – HDT/HAA
2
Tutora de Residência em Psicologia – HDT/HAA
25
RESUMOS DOS TRABALHOS
1
Psicóloga – Hospital de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira (HUGOL)
2
Assistente Social – Hospital de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira (HUGOL)
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ALÉM DA MEDICINA: ESTRATÉGIAS DE FÉ NO ENFERNTAMENTO DO
CÂNCER
Damaris Nunes de Lima Rocha Morais1
Arlene de Castro Barros2
Folkman, Lazarus, Gruen e DeLongis (1986) entendem coping como esforços cognitivos (processo)
e comportamentais do indivíduo com o objetivo (função) de administrar (reduzir, minimizar,
dominar ou tolerar) as demandas internas e externas da situação de estresse. Para Panzini e
Bandeira (2007) o coping religioso/espiritual - CRE é um conceito importante e atual. É uma
variável importante na investigação das relações religião/espiritualidade e saúde, pois possibilita o
estudo de estratégias positivas e negativas nessa relação, as quais podem orientar os profissionais a
fazerem intervenções mais adequadas em contexto de tratamento de saúde. Guerrero, Zago,
Sawada e Pinto (2011) afirmam que para minimizar o sofrimento, obter maior esperança de cura,
buscar a sobrevivência e atribuir significado ao seu processo de saúde-doença, o paciente se apega à
fé como estratégia de enfrentamento. Fornazari e Ferreira (2010) mencionam que o paciente com
câncer deve ser compreendido integralmente, inclusive em seus aspectos religiosos/espirituais, e,
respeitado em suas crenças e valores, os quais são parte de sua singularidade. Destacam que o
enfrentamento religioso pode contribuir para a adesão do paciente ao tratamento, com a redução do
estresse e ansiedade, na ressignificação da enfermidade e na relação equipe profissional-paciente. A
partir da observação no dia-a-dia do hospital, percebe-se que a religiosidade/espiritualidade ocupa
lugar de destaque na vida dos pacientes oncológicos, tornando-se importante aos profissionais de
saúde o reconhecimento dessa dimensão espiritual para que se tornem capazes de trabalhar
integralmente o ser. Desta forma, este trabalho teve como objetivo primário investigar a
religiosidade/espiritualidade de pacientes em tratamento de câncer em um hospital oncológico de
Goiânia e, como objetivos secundários, identificar quais estratégias de enfrentamento
religioso/espiritual são mais utilizadas por eles e conhecer qual o lugar da fé no enfrentamento do
tratamento do câncer. Investigou-se a religiosidade/espiritualidade - R/E de 42 pacientes do SUS,
sendo 29 mulheres e 13 homens, com idade variando entre 24 e 80 anos, em tratamento de câncer,
internados ou em atendimento ambulatorial em hospital oncológico de Goiânia-GO. Aplicou-se a
Medida Multidimensional Breve de R/E(Cursio, 2013) e chegou-se à conclusão que os pacientes da
amostra tem alto índice de R/E (72,29), pontuações maiores quando comparadas ao estudo para
validação da referida escala em 9 das 10 dimensões analisadas e que a fé tem um grande impacto
sobre as crenças dos pacientes, gerando uma expectativa positiva com relação ao tratamento. Dos
28
participantes 52,4% se declararam protestantes, 38,1% católicos, 7,1% espíritas e 2,4 (um
participante) cristão, o qual poderia ser enquadrado em qualquer delas, pois todas são religiões
consideradas cristãs no Brasil; 80,9% obtiveram índice alto ou muito alto de religiosidade; 76,2%
se consideram muito ou moderadamente religiosos e 76,2% também se consideram muito ou
moderamente espiritualizados; todos (100%), consideram a fé importante no enfrentamento da
doença; 76, 2% encontram força e conforto na religião; 90,5% creem em um Deus que cuida deles;
80,9% trabalham em união com Deus; 97,6% veem Deus como força, suporte e guia; 61,9%
acreditam que muitas pessoas da sua comunidade religiosa os ajudariam quando enfermos; 61,9%
sentiriam muito confortados por essas pessoas e 90,5 dos participantes já tiveram alguma
recompensa pela sua fé. Os estudos de Gobatto e Araújo (2010), Panzini e Bandeira (2007), Faria e
Seidl (2005) e Mesquita et al. (2013), corroboram os dados encontrados em
religiosidade/espiritualidade, isto é, que esta ocupa lugar de destaque na vida dos pacientes. Para
Peres, Simão e Nasello (2007), o reconhecimento da espiritualidade como componente essencial da
personalidade e da saúde é imprescindível. Os profissionais da saúde precisam ser esclarecidos
sobre os conceitos de religiosidade/espiritualidade, e estas, como recurso de saúde. A compreensão
dos processos saudáveis e nocivos de práticas religiosas e espirituais contribuirá para melhorar a
qualidade de atendimento às necessidades do paciente, diminuindo os preconceitos, e formando
melhores profissionais.
1 ,2
Pontifícia Universidade Católica de Goiás
29
ASSISTÊNCIA PSICOLÓGICA AO PACIENTE CARDIOPATA: REVISÃO
DA LITERATURA
Thatiane de Oliveira Gomes Silva¹
Guilherme Moura²
Andréia Magalhães Batista³
REFERENCIAL TEÓRICO: O trabalho hospitalar é árduo por lidar a todo o momento com
limites e possibilidades em diferentes perspectivas. As demandas psicológicas estão cada vez
maiores, devido a isso é importante considerar que o paciente não está somente com algum órgão
adoecido, mas também pode estar adoecido psicologicamente. No âmbito da cardiologia, os
pacientes cardiopatas enfrentam um momento muito difícil em suas vidas com a mudança das
atividades cotidianas e desgaste emocional ocasionado de uma internação ou cirurgia cardíaca. O
paciente cardiopata necessita também do acompanhamento psicológico, uma vez que o coração é
um dos órgãos mais importantes do corpo e possui o estereótipo de simbologia e representação das
emoções. Ruschel et all (2000), observaram que aspectos psicológicos não abordados durante a
internação pós-operatória podem aumentar a predisposição para complicações emocionais e
prejudicar a recuperação do paciente. Segundo Parahyba (2002) a aceitação da enfermidade é um
processo doloroso, onde a falta, fragilidade e vulnerabilidade se confrontam frente à vida. Nesse
momento, o paciente precisa ser ouvido e acolhido por um psicólogo para que o mesmo possa
relatar suas dificuldades e sofrimento frente à doença. O sentimento de medo, desapontamento e
angústia ficam em evidência quando se trata de uma doença cardiovascular, neste sentido é clara a
importância da assistência psicológica para esse paciente. O acompanhamento psicológico mesmo a
curto prazo, leva ao paciente o benefício de falar sobre suas angústias e também de conhecer melhor
o diagnóstico e tratamento. OBJETIVOS: Identificar a relevância da assistência psicológica ao
paciente cardiopata, considerando a percepção do paciente em relação ao coração adoecido.
JUSTIFICATIVA: Do ponto de vista científico, pois, o coração tem também valor simbólico, e não
se trata apenas de um órgão muscular. Deve ser analisado como um órgão binário, onde se instala o
desejo das emoções e caracteriza a vida ou a morte e por sua vez fonte de afeto. Nessa perspectiva,
vê-se a necessidade de um suporte psicológico ao paciente cardiopata. Assim, identificando qual o
significado do coração para o paciente é possível intervir e acolhê-lo. METODOLOGIA: Revisão
qualitativa de literatura através da busca de artigos científicos na base de dados eletrônicas:
Biblioteca Virtual da Saúde (BVS) e SCIELO, durante os meses de Março à Junho de 2016. Foram
utilizados os descritores: Psicologia, Cardiopatia e Assistência. RESULTADOS: De acordo com
30
Após vivenciar um trauma grave e vencer a eminência de morte, uma das etapas mais angustiantes
vivenciadas por paciente e familiares envolvidos nesse contexto, é o reconhecimento de sua nova
condição. Quando a melhora neurológica de um paciente ultrapassa sua recuperação corporal, é
difícil assimilar a nova realidade de um corpo que já não responde prontamente aos desejos que
acompanham nosso existir. Compreender a impossibilidade de realizar tarefas simples, quando, no
íntimo, ainda somos atraídos pelos mesmos estímulos gerados por nossa rotina diária, faz com que o
ser-no-mundo sinta-se um não reconhecedor de suas próprias possibilidades. Para Falkenbach
(2009), o corpo é sinônimo de identidade, “é um meio de contato físico e social do indivíduo com o
externo, a imagem corporal do sujeito está relacionada com suas potencialidades e limitações”.
Deixar de contar com um corpo habitual, no qual nos reconhecemos e nos encontramos, e passar a
conviver com um corpo atual que não corresponde da mesma forma aos estímulos, e ao qual não
nos identificamos, põe em evidência, situações de dependência, limitação e sensação de desamparo.
Nosso corpo ocupa um lugar no mundo, executa movimentos, anda, corre, dança, escreve, produz
artes, desenvolve expressões, interage, possui estruturas. Ele reage de inúmeras formas ao longo da
vida, sente frio, calor, dor, prazer, sente o contato com o outro. Ele é um “conjunto de significações
vividas que caminha para seu equilíbrio”. (MERLEAU-PONTY, 2011, p. 212). Diante da
interrupção, mesmo que temporária de um modo próprio de existir, sentir e interagir, o paciente se
depara com um desconhecimento de si mesmo, que vem acompanhado de angústias e incertezas.
Com base na teoria da Corporeidade de Merleau-Ponty, e no processo de luto pelo corpo perdido,
buscou-se observar o fenômeno vivenciado neste estudo de caso, e perceber os aspectos
psicoemocionais mais sobressalentes durante o processo de internação e reabilitação inicial de um
paciente jovem, vítima de trauma neurológico com Lesão Axonal Difusa (LAD), e consequentes
limitações físicas associadas (espasticidade e ataxia). A LAD, conforme descrito por Genarelli
(1998), “refere-se a uma lesão associada ao trauma crânio encefálico, que se desenvolve e se
estabelece após uma sequência de eventos, gerando um bloqueio no transporte axonal e sequente
ruptura do axônio”, podendo ocasional sequelas limitantes ou permanentes (ANDRADE et Al.
2009). Dentre os principais aspectos psíquicos e emocionais observados durante o processo inicial
de recuperação do paciente, após melhora no nível de consciência, identificou-se episódios de
labilidade afetiva, humor deprimido, busca por conhecimento do corpo atual, resiliência, capacidade
34
de enfrentamento e ressignificação. Nos familiares, foi possível observar uma reorganização da
estrutura e dinâmica familiar, mudança de papéis sociais, períodos de negação e revolta, assim
como características particulares de cada integrante (ansiedade, agressividade, recursos religiosos).
Tais aspectos caminham de encontro aos resultados identificados em estudos anteriores, que versam
sobre o luto na mudança corporal pós-acidentes, e sobre convivência com sequelas temporárias
causadas por traumas. Kovács (2008) argumenta que a perda, temporária ou permanente, envolve
diversos sentimentos e a expressão destes é essencial no processo de elaboração do luto. O que se
destaca no processo de evolução deste caso clínico, é a possibilidade de reorganização do indivíduo
enquanto ser-no-mundo, no momento em que sua recuperação neurológica e psíquica ultrapassam
suas possibilidades físicas momentâneas. Atingir a compreensão de que o ser, em sua vivência da
corporeidade não é apenas um corpo isolado, mas sim um complexo de possibilidades, é tomar
dimensão da grandiosidade de nossa existência enquanto seres únicos e singulares.
1
UniEvangélica, Programa de Residência Multiprofissional, Eixo Urgência e Trauma- Residência de
Psicologia, Hospital de Urgências de Goiânia – HUGO.
35
ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO UTILIZADAS PELO PACIENTE
ONCOLÓGICO DIANTE DO PROGNÓSTICO DE TERMINALIDADE
Danielle Sousa Nascimento1
Arlene de Castro Barros2
1
Trabalho de Conclusão de Curso, Departamento de Psicologia, Pontifícia Universidade Católica de
Goiás
2
Mestre - Orientadora
37
O CORPO QUE SOFRE: NEGRITUDE E HIV/AIDS
O trabalho a seguir tem como tema central o sofrimento psicossocial de sujeitos portadores do vírus
HIV/AIDS e negros, buscando entender como se dá a vivência de pessoas que se encontram nesta
condição. Possui como objetivo geral buscar compreender como se dá a vivência do sofrimento
psicossocial em sujeitos negros e portadores do vírus HIV/AIDS. Os objetivos específicos são: a)
Descrever quais são os principais sintomas fisiológicos do HIV/AIDS, buscando entender o
diagnóstico, curso e prognóstico e quais suas implicações na vida dos sujeitos, b) Identificar quais
os processos psicossociais envolvidos no sofrimento dos sujeitos com diagnóstico positivo para o
HIV/AIDS. c) Mostrar quais as possíveis relações do sofrimento psicossocial em sujeitos positivos
para o HIV/AIDS e a negritude, d) Identificar quais são as principais formas de enfrentamento e
ressignificação da doença. O interesse por esse estudo se justifica diante da especulação do autor em
tentar melhor compreender o processo de saúde-doença implicado em pacientes soropositivos para
o HIV/AIDS, e quais são os sofrimentos envolvidos. Desta forma, foram elencados neste projeto,
aspectos do sofrimento fisiológico, englobando sintomas e fases da doença, tais como suas
consequências na vida destes sujeitos. O referencial teórico possui bases na psicossociologia e em
artigos que abordam tal temática. Além disso, busca-se compreender os efeitos colaterais que os
medicamentos produzem no organismo, vendo isso também como parte do processo saúde- doença.
Já no aspecto do sofrimento psicossocial, elencamos quais as principais áreas afetadas, haja vista
que o sujeito com HIV/AIDS sofre tanto psiquicamente, como socialmente. Além do mais,
compreender como se dá a intersecção entre o fator doença e a questão racial, haja vista existirem
poucas pesquisas que abordem essa temática. Por fim, busca-se entender quais são as principais
formas de enfrentamento e ressignificação da doença, tendo em vista que a partir do diagnóstico,
toda a vida deste sujeito é afetada, em vários aspectos. Para o sujeito negro, esse processo se
intensifica ainda mais, haja vista que o mesmo sofre duplamente. São dois estigmas que marcam um
corpo, dentro de uma sociedade racista e higiênica. As pessoas negras e portadoras do vírus sofrem
tanto pelas questões implicadas na opressão do racismo, quanto pelo estigma da doença. Diante de
várias fontes de sofrimento, as pessoas portadoras do vírus HIV/AIDS acabam buscando distintas
formas de enfrentamento e ressignificação da doença, os quais, segundo pesquisas realizadas por
Seidl (2005), demonstram algumas categorias: (a) enfrentamento focalizado no problema, adesão ao
tratamento, reavaliação positiva e otimismo; (b)
38
acompanhamento psicológico individual ou em grupo, participação em entidades e ações de
solidariedade, adoção de hábitos saudáveis e de autocuidado; (c) fortalecimento psicológico, busca
de suporte social e busca de informação. Além disso, se têm normalização, onde se convive
relativamente bem com a doença. A distração aparece como outra formar de enfrentamento, outros,
porém; buscam na religião uma forma de lidar com a doença. E por fim se tem uma última forma de
enfrentamento, que é a focalização na emoção, a qual se expressa em três aspectos: esquiva/fuga,
desamparo, fatalismo. O trabalho possui um cunho teórico se caracterizando como qualitativo,
tendo como metodologia a pesquisa bibliográfica. A pesquisa qualitativa se caracteriza pelo
aprofundamento da compreensão de um tema, de um grupo ou instituição, por exemplo. Neste tipo
de abordagem qualitativa, não se possui como foco a representatividade numérica, ocupando-se
assim com aspectos da realidade que não podem ser quantificados. Compreendemos que o
sofrimento psicossocial em pessoas positivas para o HIV/ AIDS se manifesta em vários aspectos
que podem comprometer e interferir na vida destas pessoas. Neste sentido, o suporte de familiares,
cônjuges, amigos e pessoas próximas são essenciais para que o sofrimento seja amenizado. Além
disso, é essencial que essas pessoas tenham acompanhamento psicológico, o qual poderá contribuir
para uma ressignificação da doença e um saber fazer com o sofrimento. Outro aspecto que deve ser
ressaltado é o fato de ver a pessoa enquanto ser humano, e não somente como meramente um
portador de uma doença. Para isso é necessário que vários preconceitos sejam desconstruídos.
1
Universidade Federal de Goiás
39
SINAIS E SINTOMAS DE ESTRESSE VIVENCIADOS PELA EQUIPE
MULTIDISCIPLINAR NA CLINICA CIRURGICA DE UM HOSPITAL
ESCOLA
Amanda Rodrigues Mendes de Oliveira 1
Dra. Daniela Sacramento Zanini 2
Luciana Marya Gusmão Tartuce2
O estresse é uma palavra inglesa que tem origem na palavra latina "stringere" e tem o significado de
angustia, aperto. Lipp e Tanganelli (2002) referem que a palavra tem sido utilizada para descrever
situações ameaçadoras sobre o organismo, debilitando-o e consumindo sua reserva de energia de
vida armazenada. Straub (2005) sugeriu que o primeiro autor a utilizar o termo estresse foi Walter
Cannon. Em experimento com gatos em 1932, esse cientista descobriu que eles desenvolveram uma
reação de resposta do corpo ao latido de cães, chamada de reação de luta-fuga e liberando efusão de
adrenalina, que juntamente com cortisol ajuda a preparar o organismo para defender-se de uma
ameaça. Atualmente, os estudos sobre o estresse abrangem não apenas as consequências no corpo e
na mente, mas também o impacto que ele causa na qualidade de vida do indivíduo. O estresse é
como sinônimo de esforço de adaptação do organismo para enfrentar situações ameaçadoras à sua
vida e a seu equilíbrio interno, podendo progredir em três fases: reação de alerta, resistência e
exaustão (Panizzona, Luz & Fenstrseifer, 2008).Em seus estudos, Camelo e Angerami (2004)
mencionam Selye, que em 1936 observou que o estresse produzia sofrimento ao organismo, além de
reações de defesa e adaptação frente ao agente estressor e considerou o estresse como modelo
trifásico: alarme, resistência e exaustão. Embora Selye tenha identificado três fases do estresse,
Lipp, no decorrer de seus estudos, identificou outra fase do processo de estresse. Nesta nova fase foi
dado o nome de quase-exaustão, justamente por se encontrar entre a fase de resistência e a de
exaustão. Entre os ambientes de trabalho potencialmente estressantes podemos destacar o âmbito
hospitalar. Krahl (2001) ressalta que os processos de atividade onde ocorre o enfrentamento das
exigências impostas pelo ambiente, sempre visando à segurança e ao bem-estar do paciente é
potencialmente estressor para este artífice. A clínica cirúrgica é um dos ambientes deste contexto
hospitalar, no qual se pode notar níveis de estresse vivencial. Segundo Aquino (2005) as equipes de
saúde que trabalham em centros cirúrgicos e, por conseguinte na clínica cirúrgica, são confrontadas
diariamente com questões relacionadas à morte e se utilizam muitas vezes de mecanismos de defesa
para lidar com o estresse advindo da convivência com o sofrimento do paciente. Esta pesquisa
consiste em um estudo transversal, descritivo e correlacional, cujo objetivo é identificar sinais e
sintomas de estresse vivenciados por profissionais de saúde na clínica cirúrgica situada em um
40
hospital escola do município de Goiânia. Percebendo a importância de alertar este profissional sobre
as formas possíveis de utilização dos recursos emocionais diante do estresse vivenciado em seu
ambiente de trabalho, visando à saúde e a prevenção de possíveis doenças futuras. Também
considerando as escassas pesquisas, principalmente no âmbito da Psicologia, que investigam os
problemas deste profissional no contexto da clínica cirúrgica, optou-se por esta pesquisa neste
âmbito específico. Desta forma, objetivo do presente estudo é avaliar sinais e sintomas de estresse
dos profissionais de saúde na clínica cirúrgica, verificando se os mesmos estão relacionados com
sexo, utilização de fármacos e acompanhamento psicoterápico. Participaram desta pesquisa, 30
profissionais da área da saúde subdivididos em cargos de nível técnico, nível superior, residentes e
estagiários curriculares, trabalhadores da clínica cirúrgica, de ambos os sexos, nas dependências do
hospital escola situado na região metropolitana do estado de Goiás. Foram utilizados questionário
sócio demográfico e Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp, que foram respondidos
individualmente e no próprio local de trabalho. Os resultados do presente estudo indicaram alto
nível de estresse psicológico e físico em todos os participantes, além de alto índice de utilização de
fármacos, sendo que a porcentagem de participantes que realizaram ou realizam acompanhamento
psicoterápico é baixa. Esta pesquisa visa a importância de alertar os profissionais sobre as formas
possíveis de utilização dos recursos emocionais diante do estresse vivenciado em seu ambiente de
trabalho, visando à saúde e a prevenção de possíveis doenças futuras. Esta pesquisa visa demonstrar
como esses diversos temas ainda estão em pauta e precisam ser mais bem investigados, visando e
assumindo uma compreensão dos padrões temporais da experiência humana nos mais diversos
contextos. Torna-se fundamental que a investigação futura tente ultrapassar a natureza descritiva e
correlacional do estudo apresentado testando novos pressupostos baseados em modelos conceituais
neste domínio. Por último, é indispensável considerar que em uma perspectiva, as combinações
entre alguns fatores expostos por diversos autores traduziram ainda mais pesquisas e esforços até
agora produzidos pela investigação sobre os sinais e sintomas de estresse e em suas mais diversas
conjunturas.
Palavras-chaves: estresse, clínica cirúrgica, psicologia hospitalar.
1
Acadêmico Pontifícia Universidade Católica de Goiás - Autora
2
Professora Dra. Pontifícia Universidade Católica de Goiás – Co-autora