DE
HISTORIA DO BRASil
Obra offlcialmente adoptada nas
escolas primarias do Districto federal.
POR
Osorio Duque-Estrada
(da Academia Brasileira)
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HISTORIA DO BRASIL
NOÇÕES
DE
POR
Osorio Duque-Estrada
(da Academia Brasileira)
~." EDIÇÃO
cívilisação brasileira aos seus antecedentes remotos da liberdade do nosso solo, é para destacar o serviço de
civilisação greco-romana, modificada na peninsula hís- Vespucio descortinando cerca de novecentas leguas da
panica e transplantada mais tarde para o continente ame- costa brasileira e corrigindo a primeira supposiçâo do
ricano (estudo preliminar da Historia Universal), como proprio D. Manoel de que "um almirante do seu scroiço
indica ainda o mesmo criterio de ligação e successão con- havia descoberto uma ilha gra(lde e boa fiara nclla fa-
tinua entre as diversas gerações brasileiras, que têm con- zerem aguada e refrescarem as suas armadas da l udia",
corrido, e continuam a concorrer Ininterruptarnente, para O periodo da colonisação porá também em relcvo as
o progresso actual e futuro da nossa patria. figuras de alguns heroes: as dos infelizes donatarios, que
O primeiro cuidado do professor da tal disciplina se sacrificaram estoicamente no drama e na tragcdia das
deve consistir, portanto, em fazer cornprehender aos seus capitanias: a de Thomé de Souza, fundador da prf mil iva
alumnos que todo e qualquer facto historico e social capital do Brasil e organisador da sua primeira adminis-
(como, por exemplo, a Revolução Franceza, ou a actual tração regular; as de Mem de Sá e de seus dous sohrl nhos,
conflagração européa) não póde ser considerado isola- cujos inolvidaveis serviços culminam com a expulsão do
damente, mas sim relacionado com uma serie enorme de estrangeiro invasor e a fundação da f'uluru metrnpole
causas e de antecedentes; e que, do mesmo modo, qualquer brasileira' as de Manoel da Nobrega, José de Anchieta e
conquista da civilisação (como o direito de voto, ou a outros ab~egados apóstolos do Novo Mundo, que por nós
liberdade religiosa) não foi obtida em um só momento e viveram e sot'freram, sendo os preceptores das primeiras
sem lucta, mas representa, pelo contrario, a victoria de gerações de mamelucos, e os primeiros f'actores da ~ivi-
esforços multiseculares, sendo o resultado de uma longa Iisação brasileira, cabendo ainda ao segundo a gloriosa
evolução só realisada a custa de innumeros sacrifícios, aureola de verdadeiro fundador da nossa literatura.
que tornam aos nossos olhos benemeritas as gerações que A' que foi dlr-igida pelos Nobregas e Anchielus segue-
nos precederam e que só em nosso proveito e beneficio se a geração heroíca dos patriotas pernambucunos, em.
souberam luctar e vencer. E' isso o que torna veneraveis que avultam os typos representativos das tres ,raças em-
os nossos antepassados, obrigando-nos a proceder do penhadas na defesa do solo natal, e symhcli sados em
rrresmo modo que elles, e como devem proceder os bons André Vidal de Negreiros (elemento branco), Fclippe Ca-
filhos com relação a uma herança transmittida pelos marão (elemento indio) e Henrique Dias (elemento ne-
paes : conservando-a carinhosamente e augmentando-a, si gro) associados ao elemento lusitano (João Fcrnandcs
possivel fôr, para transmiltil-a ainda maior c mais enri- Vi eira e Francisco Barrete de l\lenczes) na mesma em-
quecida aos seus descendentes ou successores. Assim se presa gloriosa que teve os seus maiores trophéos nas duas
guardam e se transmittem na França e em outros paizes, mernoravcis batalhas dos Guararupes.
no dominio privado, as tradições avoengas e os haveres Essa geração, em cuja alma de~pertaram já, pelo s~-
sempre augmentados de uma casa ou de uma família crificio e pela solidariedade, o sentimento e a conscrencra
mantida atravez de seculos pelo espirito de cooperação e de uma patr ia, é continuada pela do~ que proseguern t:a
de solidariedade dos seus membros. conquista do territorio para alem dá linha de demarcação
Fazendo applicaçâo de taes principios ao estudo da (os Bnndeir antes), triplicando de 2.íOO,OOO para 8.300.0nO
nossa historia, destacará o professor á visão intelleclual kilometros quadrados a superfície total do Brasil, e ini-
dos dlscipulos as figuras benemeritas dos descobridores, ciando a primeira lucta nativista dos Emboabas, a que
que absorvidos abnegadamcnte na tarefa das grandes na- se seguiu, pouco depois, a d?s Mascates ---:- precur~oras
vegaçôes e no empenho de proporcionar novo lustre e ambas do movimento em prol da autonomia e da índe-
novas glorias ao seu rei e á sua putr ia, revelaram ao pendencia, que se réga com o sanguc, generoso ~os ma~-
mundo este prodigioso e feracissimo trecho do continente tyres, enfileirados nu.ma longa e lumlt:0~a galeria de f'i-
ameri C'U no. guras maximas, que tem os nomes de l'cltppe d<;>sSa,ntos,
Immed iatcmente ao descobrimento e ás informações Tiradentes, João Ribeiro, Domingos Martins, Miguelínho,
de Camíuha, qUII cantou o primeiro hymno á belleza c· á Henrique Rabello, frei Caneca e padre Roma.
10 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES 11
NOÇÕES DE HISTORIA DO BRASIL
(1) Não obstante todos os seus erro. e prej ursos, não devem ser
esquecidas as figuras dos principes D. João VI, D. Pedro I e D. Pedro lI,
aos quaes deve tambem o Brasil assignalados serviços.
PRIMEIRA PARTE
(4" anno)
Programma:
•
LIÇAO I
Descobrimento do Brasil
"t)'
• y+-98
da viagem de Vasco da Gama, foi a do almirante ~•.•..... '
60°
60" :::==::::=======-----lrt-------------------~6TO~O--~~------------~ ~
:30
l1L-~---r---1 30·
Legenda
Roteiro de Colornbo a
Roreiro de Vasco ~~ úam
Roreiro de Magal aes
0° 30 60°
DESCOBRIMEN'tO DO BRASIL 17
o. Duque-Estrada - R. do Brasil
18 19
POVOS QUE HABITAVAM o BRASIL
Só em maio de 1501 foi a costa brasileira explo- Introduziu em ambas grande numero ~e ani-
rada por Americo Vespucci, que a percorreu desde maes domesticos, a canna de assucar e ,:arlas fru-
o cabo de S. Roque, no Rio Grande do Norte até elas da Europa, estabelecendo em S. Vlcen!e um
a extremidade sul de Santa Catharina. ' engenho para a moagem da canna e o fabrico de
A certeza de que já não se tratava de uma sim- assucar e aguardente.
ples ilha, bem como a noticia de que varios navios As duas colonias prosperaram, mas tão lenta-
estrangeiros (principalmente francezes) começavam mente e a custa de tantos sacrifícios, que, logo dous
a visitar o nosso littoral, para fazerem nelle o com- annos depois (1534), resolveu D. João Hl (succes-
mercio e contrabando de páo brasil, levaram D. sor de D Manoel desde 1521) mudar de systema de
~anoel a <:nviar para aqui diversas expedições, não colonisação e dividir o Brasil em capitanias here-
so com o fim de guerrear os corsarios como de tra- ditarias.
tar tambem da colonisação da nova terra.
As primeiras tentativas foram demasiado mo-
des~as e Iimitaram-se á fundação de algumas [ei- NOTA _ Convem registrar aqui as aventuras attri~ui-
torLQ~: a de Santa Cruz, na Bahia; as do Rio de das aos dous personngens da nossa historia colonial, Dzogo
Jane!ro e Cabo Frio, no Rio de Janeiro; as de Iqua- Alvares e João Ramalho.
rassti e ltamaracá, em Pernambuco Do primeiro dizem os chronis!as que f<;>io unico índí-
, Finalmente, em 1530, partiu de Lishôa uma no- viduo que se salvou num nauf'ragío occorrído em 1510, ao
va expediçã~, cujo commandante, Martim Affonso norte da Bahla de Todos os Santos, onde todos os outros
foram devorados pelos indios Tupinambás.
de So.uza, veio en~arregado de fundar uma grande Matando um passaro, á vista dos selvagens, com a es-
colonía, que. s~rvIsse de ponto de apoio ás esqua- pingarda que salvara de bordo, gritaram elles, espantados:
dras e permíttísse rechassar os estrangeiros da cos- "Caramurú!" (filho do trovao).
ta do Brasil. Diogo Alvares casou-se com as filhas ~e varios chefes
. Foi ~ ~. Vicent~ (S. Paulo) que fundou Mar- indígenas e foi, pae de numerosa prole, vmdo_ a ser pode-
tím a prnneira colonia regular do Brasil com a for- roso auxiliar de Thomé de Souza na construcçao da CIdade
taleza da Bertioga. Subindo a serra fundou nas do Salvador.
A lenda de João Ramalho é um pouco mais simples:
planicies de Piratininga a povoação de Santo André tendo elle naufragado perto de S. Yicente, c-onseguiu at-
da Borda do Campo, primeiro nucleo de que havia trahir a sympathia dos selvagens, vindo a casar com Bar-
de surgir a futura cidade de S. Paulo. tyra, filha do cacique Tebiriçá.
Com. a collaboração de João Ramalho (1), obte- Diogo Alvares e João Ramalho prestaram releyant~s
servi ços aos Portuguezes na grande obra da colonísação
ve Martím Affonso a alliança dos. Tamoios, tratan-
do Brasrl,
do de promover a prosperidade das duas colonias.
estrangeIros, era a falta de unidade e de um cen- Fundado pelos jesuitas, a meia legua de Pirati-
tro commum, de onde se exercesse a acção de urna ninga, o Collegio dos Trabalhos Apostolicos, que
autoridade unica e superior. <
veio a dar o nome á povoação de S. Paulo,por ter
Fo!" por isso, creado o governo geral com a ne- sido a primeira missa rezada na data da conversão
cessaria centralisação política e administrativa. do mesmo santo (25 de janeiro), descontentaram-se
sendo nomeado primeiro governador Thomé de os colonos de João Ramalho, porque muitos mora-
Souza, que já se distinguira por notaveis serviços dores de Piratininga se transferiram para as im-
prestados na Asia. mediações do collegio.
De 1549 a 1572 teve o Brasil tres governadores Nasceram d'ahi as primeiras luctas entre jesui-
geraes, a saber: tas e colonos, difficultando a administração.
D. Duarte tomou naturalmente o partido dos
. 1.0 Thomé de Souza (1549-1553). Chegou Ba-
á
colonos, ficando do lado dos jesuítas o bispo D. Pe-
hI~ .em 29 <!emarço, trazendo comsigo diversas f'a- ro Fcrnandes Sardinha, que aggravou ainda mais a
mílias, muitos colonos, 600 soldados e 6 jesuitas situação, reprehendendo publicamente o joven D.
chefiados pelo padre Manoel da Nohrega. ' Alvaro, filho do governador.
Chamado a Lisbôa, naufragou o bispo, com o
Com o a~xUio de Caramurú e dos Tupinnmbás,
seu companheiro Antonio Cardoso de Barros, junto
fundou a cidade do Salvador, na qual construiu
grande numero de edifícios publicos, instalIando aos baixos de D. Rodrigo, onde foram ambos devo-
neJIes as diversas repartições e os serviços da go- rados pelos Cahetés.
vernança. Para maior desgraça, haviam se estabelecido
os Francezes na bahia do Rio de Janeiro.
26 NOÇÕES DE HISTORIA DO BRASIL 27
TENTATlV.AS DE CONQUISTA
Sem recursos para expulsar os invasores e de Villegaignon, cujo principal objectivo era fun-
a~andonado yelo governo da metropole, onde ~xer~
âIa as funcço~s d~ regente D. Catharina d' Austria, dar um estabelecimento commercial, que servisse
ao mesmo tempo de refugio aos calvinistas de Fran-
ur~nte a minoridade .de seu neto, D. Sebastião,
A
ça, perseguidos pelos catholicos.
PartiuD. Duarte para LIsboa, sendo substituído por •
Mem de Sá. Chegando com alguns aventureiros e colonos,
installou-se a principio na pequena ilha de Raiier
3.° lt!e.m de Sá (1558-1572). Foi o mais notavel (hoje da Lage) , passando-se depois para a de Sere-
e o mais Illustre dos ~overnadores geraes do Brasil. gipe (hoje de Villegaignon) onde deu começo á
Tres annos mais tarde (1595) outros corsarios panha tirava da America, e de conquistar algumas
e aventureiros inglezes tentaram egualmente apos- colonias desse paiz, fundou-se na Hollanda a Com-
sar-se de terras brasileiras. J ames de Lencaster e panhia das Indias Occidentaes, que recebia avulta-
João Venneratacaram e conseguiram tomar a po- da subvenção do governo e gosava de grandes pri-
voação do Recife, que estava destinada a ser mais vilegios, como o direito exclusivo de commercio e
tarde a capital dos dominios hollandezes no Brasil. navegação, o de conquistar terras, nomear gover-
Durante 31 dias permaneceu o Recife em poder nadores, fundar colonias, etc.
dos piratas inglezes, que foram, afinal obrigados O ponto escolhido para a primeira conquista
a retirar-se, depois das perdas que lhes infligiram foi a cidade da Bahia, sendo preparada para tal fim
as forças deOlinda e um forte construido por ini- uma poderosa esquadra sob o commando do almi-
ciativa dos Pernambucanos. rante Jacob Willekens. O commandante das tropas
Foram essas as ultimas tentativas de conquista de desembarque e fut.pro governador das terras
no Brasil pelos Inglezes, que começaram de então que conquistasse, chamava-se Johan van Dorth,
por diante a dirigir as suas vistas para o norte do Avisado a tempo, preparou-se o governador da
continente. Bahia (Diogo de Mendonça -Furtado) para repel-
lir os invasores; mas a demora da esquadra fez
LIÇAO VIII. acreditar" que a informação não era verdadeira, e
a gente do campo, que havia pegado em armas, foi
'Tentativas de conquista. - Invasões toda licenciada, permittindo-se-Ihe que voltasse
hollandezas para os seus trabalhos.
Quando já ninguem mais pensava na vinda do
inimigo, surgiu a esquadra hollandeza diante da
As mesmas causas que determinaram as aggres- Bahia e foi logo aprisionando ou incendiando, os
sões inglezas e a invasão franceza no Maranhão, a
navios que se achavam no porto.
que já nos referimos em lições anteriores, concorre- Não encontrando resistencia, desembarcaram os
ram tambem para as invasões hollandezas. A In-
invasores, tomaram conta da cidade e aprisionaram
glaterra, a França e a Hollanda estavam então alliu- Mendonça Furtado, que foi remettído para bordo,
das contra a Hespanha. emquanto Johan van Dorth se apoderava do pala-
Foram duas as invasões hollandezas no Brasil:
cio e do governo.
a l.a oecorreu na Bahia, em 1624, e terminou em
1625, sem deixar vestigios; a segunda deu-se em Passado, porém o primeiro temor da população,
Pernambuco, prolongando-se o dominio estrangei- começou a ser organisado no interior um poderoso
ro por 24 annos, isto é, de 1630 a 1654. exercito para repellir os invasores. Mathias de AI-
buquerque, governador de Pernambuco, confiou
1." Invasão. Perda e restauracão da Bahia. - provisoriamente a administração da Bahia ao bis-
Com o fim de se apoderar dos thesouros que a Hes- po (D. Marcos Teixeira), o qual veio a morrer pou-
.•
32 NOÇÕES DE HlSTORIA DO BRASIL TENTATIVAS DE CONQUISTA 33
co depois, em consequencia da enorme actividade rello, tomaram a cidade sem resistencia e marcha-
que despendeu. . ram logo para o Recife, que havia sido abandonado
Entretanto, Lourenço Cavalcante e Antonio pela população.
Cardoso sitiaram a cidade, recebendo logo reforços
Mathias de Albuquerque (governador de Per-
trazidos de Pernambuco por Francisco Nunes Ma- nambuco) mal conseguiu reunir alguns recursos,
rinho. . -·F . com os quaes se entrincheirou entre as duas cidades,
Iniciado o ataque, conseguiu o capitão rancisco
num arraial que recebeu o nome de Bom Jesus. A
Padilha matar o governador hollandez. esse trabalho seguiu-se o da organisação das com-
Ao cabo de algumas guerrilhas sem resultado, panhias de emboscadas, cabendo o commando de
appareceu uma esquadra luso-espanho.la SOD o com- uma ao indio Poty, que se chamou depois D. Anto-
mando de D. Fradique de Toledo Osorio, tendo che- nio Felippe Camarão.
gado antes, de Pernambuco, D. Francisco de Moura,
commandante das forças de terra. De 1631 a 1637 ha um periodo de continuas hos-
Cercada assim a cidade, foi o comman?ante hol- tilidades, cujos factos principaes são:
landez (Hans Ernest Kiff) obrigado a capitular, 1.0) em 1631, o combate entre a esquadra hoIlan-
Na manhã de 1.0 de maio de 1625 tremularam deza de Adrian Pater, e a hespanhola de D. Antonio
por toda a cidade as bandeiras de Hespanha e de de Oquendo. O resultado ficou indeciso, morrendo
Portugal. porém, o almirante hollandez;
2.°) o incendio de Olinda pelos Hollandezes, que
se concentraram no Recife;
LIÇAO IX 3.°) em 1635, o estabelecimento progressivo dos
Hullandezes até o forte dos Reis Magos (no Rio
Tentativas de conqu Ista.-I nvasões hollandezas. Grande do Norte) e, para o sul, até Porto Calvo (em
_ 2.-invasão. - Domínio hollandez em Alagôas).
Pernambuco. 4.°) nesse mesmo anno, retira-se Mathias de AI-
buquerque para as Alagôas, levando comsigo ape-
Mallograda a conquista da Bahia, conseguir~, nas 500 soldados e grande numero de familias.
no entanto, os Hollandezes tom~r no anno ~egulll- 5.°) a prisão, em Porto Calvo, do desertor Do-
• te varios galeões do México e muis nove navios car- mingos Calabar, que cahiu em uma cilada com o
regados de productos. chefe hollandez Picard. O primeiro foi enforcado,
Animada com os lucros obtidos, mandou a Com- como trahidor.
panhia preparar um~ formidavel esquadra, sob o Em 1636 desembarcou em Alagôas, com 1.700 ho-
commando de Hendrik Lonk. Esta armada appa- mens, o commandante hespanhol Rojas y Borgia,
teceu diante de Olinda em 14 de fevereIro ,de 1630. que trouxe a missão de substituir Mathias e Albu-
Numerosas forças desembarcaram no Pao Ama- querque no governo.
O. Duque-Estrada - H. do Brasil
"l .,' . '.: ..'
.\
,
'i
I.·. ié 34 NOÇÕES DE HISTOIUA DO BRASIL
35
b 1-'
Foi, porém, derrotado por Artichofsky, na Mat-
ta Redonda, perecendo em combate. LIÇAO X
O resto das tropas de Borgia ficou entregue ao
;t conde Bagnuolo, sendo d'ahi por diante empregado
Invasões hollandezas (ultima parte).-A in-
apenas em pequenas guerrilhas.
Mathias de Albuquerque partiu para a Europa surreição pernambucana
,.'
e foi recolhido preso no castello de S. Jorge, de on-
L·· de só conseguiu sahir depois da restauração de Por-
~. t· tugal (1640).
Muitos Brasileiros e Portuguezes haviam accei-
tado de braços abertos o governo de Nassáo, porque
;-. As forças de Bagnuolo (cerca de 2.000 homens) entre o dominio da Hespanha e o da Hollanda, pre-
f:
organisaram-se em guerrilhas, em que se distingui- feriam naturalmente o segundo, por ser muito mais
ram especialmente Felippe Camarão, os capitães brando e mais tolerante.
Rabello e Sou to, Henrique Dias e André Vidal de Com a partida de Nassáo, porém, mudou com-
Negreiros.
"
i'
de, exerceu o governo com grande moderação, des-
envolveu o commercio, a industria e as artes, pro-
clamou a liberdade religiosa e attrahiu sympathias
entre Brasileiros e Portuguezes para a expulsão do
invasor.
A revolta foi proclamada no dia 13 de junho de
ir . 1645, tomando os Inconfidentes p'or divisa as pala-
• geraes .
Incompatibilisado com a Companhia, retirou-se
vras "Deus e Liberdade".
Os chefes do movimento foram João Fernandes
r: Nassáo em 1644, sendo substitui do por tres gover-
nadores, que se mostraram logo duros e intoleran-
Vieira (portuguez), André Vidal de Negreiros, Hen-
rique Dias e. Antonio Felippe Camarão (brasilei-
.~
"
:.,
tes.
O desgosto geral, causado pelos actos desses tres
representantes da Companhia, deu origem
reição Pernambucana.
Insur-
á
ros).
No primeiro anno foram os Hollandezes batidos
em varios encontros (monte das Tabocas, varzea do
Recife, Porto Calvo, Parahyba e Rio Grande do
Norte).
Em 1646 Segismundo von Schkoppe foi derro-
tado em duas partidas, mas em 1647 tomou a ilha
de Itaparica e assolou o Reconcavo da Bahia.
Em 1648 e 1649 deram-se as duas batalhas dos
I
Guararapes, em que os Hollandezes foram deITOta-
.
•...
36 NOÇÕES DE HISTORIA DO BRASIL INCONFIDENCIA MINEIRA 37
dos por forças muito inferiores, mas commandadas Com a retirada dos Hollandezes, soou o grito de
pelo habil general Francisco Barreto de Menezes. victoria em Tejucopapo.
Essas duas brilhantes victorias não decidiram, A 7 de dezembro de 1859, o imperador D. Pedro
comtudo, da guerra, que se prolongou ainda até 11foi visitar Tejucopapo, em homenagem memo- á
tismo da metropole, que d'aqui só procurava tirar de Janeiro, no logar em que funcciona hoje a escola
vantagens e proventos. que tem o seu nome, sendo o cadáver esquartejado
Esse desejo de autonomia, manifestado já em e salgado.
outras occasiões, cresceu ainda mais diante do Claudio Manoel da Costa suicidou-se na prisão,
exemplo dós Estados Unidos, que acabavam de e os outros conspiradores foram deportados para a
proclamar a sua independencia. Africa.
Os Mineiros souberam que os impostos sobre o D'entre todas as figuras da conjuração mineira
vidro, o papel sellado e o chá haviam bastado para destaca-se luminosamente o vulto de 'I'iradentes,
a libertação das colonias inglezas da America; ima- não só por causa da execução cruel, que o consagrou
ginaram, por isso, que a proxima cobrança dos im- primeiro martyr da liberdade, como tambem pela
posto~ atrazados do ouro havia de irritar os animos superioridade moral de que deu provas, sendo o
e facilitar a revolta. Nasceu d'ahi a conjuração mi- unico a não accusar ninguem e a guardar a mais
neira, tramada em Villa Rica, (hoje Ouro Preto) perfeita e completa serenidade de animo.
por alguns poetas, sacerdotes e militares. Entre Tiradentes ficou sendo para o Brasil uma espe-
os primeiros figuravam Thomaz Antonio Gonzaga, cie de padroeiro da liberdade e da republica.
Claudio Manoel da Costa e José de Alvarenga Pei- Abençoada seja a sua memoríal
xoto; entre os segundos os padres José Corrêa de
Toledo e Manoel Rodrigues da Costa; entre os ter-
ceiros o tenente coronel Francisco de Paula Freire
de Andrade, o capitão José de Rezende Costa e o al- LIÇAO XII
feres de milicias Joaquim José da Silva Xavier (o
Tradentes) . Revolução pernambucana de 1817
Denunciados pelo coronel Joaquim Silveiro dos
Reis, foram presos e encarcerados todos os patrio-
As idéas de autonomia e de independencia não
tas, que nem siquer haviam chegado a perpetrar um
haviam ficado extinctas nem suffocadas com a bar-
crime, pois que, alem das reuniões celebradas na
bara execução de Tiradentes. Pelo contrario: essas
casa de Claudio Manoel da Costa, tinham apenas idéas progrediram cada vez mais e encontraram em
mandado o Tiradentes ao Rio de Janeiro para obter 1817 novos incitamentos e maiores estimulos.
adhesões e comprar armamento. Pernambuco foi o centro de propaganda de onde
Instituiu-se, no entanto, uma alçada, que, ao ca-
explodiu a nova revolução, que pretendia procla-
bo de tres annos, condemnou á morte doze conjura-
mar ao mesmo tempo a independencia e a republica
dos, cinco a desterro perpetuo, e outros a castigos na nossa terra.
menores.
Alem das causas anteriores, concorreram ainda
D. Maria I commutou a pena capital de onze, só outras, como a sympathia dos Estados Unidos, os
exceptuando o Tiradentes, que foi enforcado no Rio progressos realisados pelo Brasil depois da vinda
REVOLUÇÃO PERNAlIIBUCANA DE 1817 41
40 NOÇÕES DE HISTORIA DO BRASIL
de D. João VI e, por fim, a independencia das Pro- Proclamou-se a republica c foi organísado um
vincias Argentinas, realisada em 1816. governo provisorio de cinco membros, sendo no-
meado ministro do Interior o padre Miguelinho.
A propaganda foi principalmente exercida
pelo padre João Ribeiro Pessôa, o negociante Domingos Martins e João Ribeiro revelaram-se
Domingos Martins e o padre lrliguelinho, entrando grandes estadistas e publicaram uma serie de de-
tambem na conspiração diversos militares e mais c~etos e refOrJ~laS baseadas nos mais puros princi-
trinta sacerdotes, entre os quaes o padre Roma e pIOS democrahcos.
frei Caneca (José Ignacio de Abreu Lima e frei .Joa- A ~arahyba, o ~io Grande do Norte e Alagôas
quim do Amor Divino Caneca). Fun<;!aram-se diver- adh~rlram ao movimento, mas a nova republica
sas sociedades secretas e a maçonaria entrou desde praticou o grave erro de não acceitar batalhões pa-
logo em acçâo. trioticos, declarando-se pacifista.
Tendo o capitão-general (Caetan<;>~ontene~ro) No Ceará a revolução fracassou, sendo logo pre-
recebido denuncia contra alguns off'iciaes brasilei- so o padre José Martiniano de Alencar.
ros, mandou publicar uma ordem do dia, cen.suran- Preso tambem na Bahia, foi fusilado o padre
do-os e concitando-os a viverem em harmonia com Roma, que morreu heroicamente, descobrindo o
os off iciaes portuguezes. peito e exhortando os soldados para que apontas-
Nova denuncia levou Montenegro a mandar sem no coração.
prender os conspiradores. Alguns destes entrega- Com forças de mar e terra, enviadas pelo conde
ram-se logo sem resistencia; mas, tendo o brigadeiro dos Arcos, poude o governo suffocar dentro em
Barbosa de Castro insultado o capitão João de Bar- pouco a revolução, nomeando commissões milita-
ros Lima (o Leão Corôado) , desembainhou este a res para o julgamento dos accusados,
espada e matou o aggressor. Essas commissões fizeram centenas de victimas.
Os officiaes e soldados brasileiros revoltaram-se. entre as quaes Domingos Martins, o Dr. José Luiz
O ajudante de ordens do governador, pretenden- de. Mendonça e o padre Miguelinho (fusilados); Do-
do reunir a tropa, cahiu crivado de balas. mmgos Theotonio, José de Barros Lima e o padre
O marechal portuguez José Roberto e o governa- Tenorio (enforcados).
dor Muntcnegro foram presos e remettidos para o O padre João Ribeiro suicidou-se, sendo o seu
Rio de Janeiro. corpo desenterrado pelos algozes, que o degolla-
Os patriotas cantavam pelas ruas: rarn, e entraram no Recife conduzindo em triumpho
a cabeça do grande patriota.
"No campo da honra
Patricios, formemos,
Que o vil despotismo
Sem sangue vencemos;"
42 A INDEPENDENCIA 43
Foi em 1532, isto é, ainda no inicio da colonisa- _ Auri-verde pendão da minha terra,
ção, que vieram para o Brasil os primeiros escravos Que a brisa do Brasil beija e balança!
Estandarte, que a luz do sol encerra
africanos. Dous annos depois (no tempo das capita- E as promessas divinas da esperança!
nias hereditarias), começou a ser permittida tam- Tu, que da liberdade após a guerra
bem a escravisação dos indios (escravidão verme- Foste hasteada dos heróes na lança,
lha). O Marquez de Pombal extinguiu mais tarde Antes te houvessem rôto na batalha
Que servires a um povo de mortalha!"
a segunda, mas tolerou que continuasse a primei-
ra, como medida necessaria para auxiliar a coloní-
sução e a lavoura. o escandalo do contrabando só terminou em
A escravidão africana desenvolveu-se extraordi- 1850, com a lei que teve o nome do benemerito esta-
"nariamente. Só em 1831 (lei de 7 de novembro) de- dista Euzebio de Queiroz.
cretamos a abolição do trafico africano, em virtude A escravidão era, portanto, depois de 1831, em
de um compromisso que havíamos assumido ante- grande parte illegal, porque provinha, como ficou
riormente com a Inglaterra: A generosa lei foi, no dito, do contrabando. Esse argumento, levantado
entanto, desrespeitada pelos traficantes que conti- pela primeira vez em 1869, pelos dous grandes or~-
nuaram fi introduzir escravos por contrabando, até dores Luiz Gama e Ruy Barbosa, começou a mspi-
1850. Mais de um milhão de infelizes foram assim rar a todos os Brasileiros um grande sentimento de
transportados para a nossa terra e illegalmcnte piedade em favor dos rniseros escravisados. D'ahi
reduzidos á escravidão. Vinham presos com cor- por diante começou o.movimento emancipador e
rentes de ferro a bordo dos navios, e eram muitas
46 NOÇÕBS DE HISTORIA DO BRASIL PROCLAMAÇÃO DA REPUBLlCA 47
depois abolicionista, que foi conseguindo sue as outras nações, sem excepção, o governo e as in-
vamente as seguintes victorias: sti uições democraticas.
a) a lei de 28 de setembro de 1871, também ha- or tudo isso facilmente se conclúe que a mo-
mada lei do ventre livre (por ella nasciam r es hia era apenas tolerada, mas não estimada
dalli por diante todos os filhos de mulher esc va; povo, apezar do respeito que inspirava a todos
b) a de 28 de setembro de 1885, que concedeu a fi- os rasileiros a pessôa do ultimo imperador (D ..
berdade aos escravos de 60 annos para cima; c) a Ped o 11). Este, porém, que havia nascido em 1825
de 13 de maio de 1888 (lei aurea), que aboliu otal- e go ernado durante cerca de meio seculo, estava
mente e para sempre a escravidão no Brasi . já f tigado e enfermo em 1889.
E' essa, talvez, a mais bella data da noss hís- E se facto, alliado ás antipathias de toda a na-
toria. ção elo 3.° reinado, que devia ser exercido pela
prin za D. Isabel, e, ainda mais, os muitos erros
pratí ados por diversos ministerios e autoridades
xv supe 'ores, levaram alguns patriotas a iniciarem
uma ropaganda constante; activa e tenaz em favor
Proclamação da Republica da implantação do regimen republicano.
t- A situação aggravou-senos ultimos annos com
A Republica havia sido, desde longa data, uma certas medidas violentas tomadas pelo governo
aspiração constante do povo brasileiro, posto que contra alguns militares que gosavam de estima e
não estivesseelle ainda preparado para gosar desse de muito prestigio na sua classe. Em 1889 achava-
regimen de liberdade. Republicana havia sido a se no governo o ministerio presidido pelo viscon-
conspiração mineira de 1789; republicanas as re- de de. Ouro Preto (Affonso Celso), que se tornara
voluções de Pernambuco de 1817 e 1824; republi- impopular e era violentemente combatido pela im-
canos outros movimentos occorridos atravez da prensa da opposição,.a cuja frente se achava o Sr.
nossa historia, principalinente nas provincias da Ruy Barbosa, redactor chefe do Diario de Noticias.
Bahia e do Rio Grande do Sul. Os golpes desfechados por este notavel jornalis-
Infelizmente, a independencia só poude ser fei- ta contra a monarchia, uma nova questão militar
ta com a collaboração de alguns elementos portu- e a supposição de que o governo pretendia substi-
guezes e do principe D. Pedro, de modo que foi tuir o exercito pela guarda nacional, para prepa-
preciso acceitar provisoriamente a monarchia, pa- rar o advento ao 3.° reninado, fizeram com que to-
ra que a revolução não fracassasse, como haviam das as forças de terra e mar se sublevassem, sob o
fracassado todas as outras anteriores. Por essa ra- commando em chefe do marechal Deodoro da
zão, vingou por espaço de alguns annos a unica Fonseca, e, inspiradas por Benjamin Constant, Huy
realeza de todo o continente americano, adoptando Barbosa, Quintino Bocayuva, Aristides Lobo e ou-
(8 NOÇÕES DE HISTORlA DO BRASIL HISTORIA DO DISTRICTO FEDERAL 49
todo identüicados com os -do perímetro urbano. A de D. João VI, que nella criou as secretarias de
historia de um é, pois. com ligeiras modificações, Estado, tribunaes civis e militares, archivo,. biblio-
a historia da outra. theca, juntas de commercio, academias, fabrica de
Da cidade propriamente, é sabido que teve as .polvora, jardim botanico, estabelecimentos de cre-
suas origens em 1565, nas proximidades do Pão de dito, imprensa, etc.
Assucan, onde a fundou Estacio de Sá, tendo sido Progredindo sempre durante os dous primeiros
depois transferida em 1567 para ? m?rro d~ D~- reinados, alastrou-se a cidade, que, contando ape-
canso (hoje do Castello), em cujas immediações nas 3.000 habitantes em 1648. 12.000 em 1711,26.000
se desenvolveu em toda a zona comprehendida en- em 1749, 48.000 em 1808, 85.000 em 1821, 137.000
tre a praia de Santa Luzia (ponta do Calabouço) e em 1838, 205.000 em 1849, e 275.000 em 1872, encerra
o morro de S. Bento. Foi seu primeiro governador hoje seguramente mais de um milhão.
o. Duque-Estrada - H. do Brasil
50 NOÇÕES DE mSTORIA DO BRASIL
Programma:
Celb18l
Celtlberoc
Ibero«
CelUberos
l
Pheniclos
Gregos Hespanhóes )
Carthaglnezes e ( cívüísação greco-Iatina.
Romanos Portuguezes )
Wisigodos
. Arabes
DYNASTlA DE BORGONHA
DYNASTIA DB AVIZ
Idéa de um s6 continente.
Descobrimentos de ilhas, cabos e rios na costa
Cyclo Porfuguez da Africa (sec. XV).
ou Bartholomeu Dias descobre o cabo da Bôa Es-
do Sul perança (1486).
Vascc, da Gama aporta a Calicut (1498)
Pedro Alvares Cabral descobre o Brasil (16001_
LIÇAO rn
o descobri mento do Br asil pelos dous cyclos
de navegação
que haviam sido victimas os marinheiros das expe- (ou Gaspar de Lemos) levar a D. Manoel 'a noticia
dições anteriores, foram a causa principa~ de te~em do descobrimento, seguiu Cabral no dia 2 para as
sido os navios de Pedro Alvares Cabral impellidos Indias, deixando na praia dous degredados.
até as plagas do Novo Mundo. Suppondo ter descoberto apenas uma ilha, deu-
Aos 21 de Abril percebeu Cabral seguros si- lhe o nome de Ilha de Vera Cruz, mudado, pouco
gnaes de terra (a côr escura das aguas, alem de depois, para o de Terra de Santa Cruz e, finalmen-
hervas marinhas, madeiras fluctuantes e aves te, para o de Brasil (nome de uma preciosa ma-
aquaticas) e no dia immediato (22) avistou um deira vermelha, conhecida em tupi por ibira-pi-
monte a que deu o nome de Paschoal (porque esta- tinga).
va sendo então celebrada a festa da Paschoa).
A 23 (quinta-feira) chegaram os Portugueses Cyclo Hespanhol ou de Oeste - Está hoje ave-
perto da praia e travaram as primeiras relações com riguado que os navegadores hespanhóes Vicente
os indigenas; a 24 (sexta-feira) fundearam os pri- Pinson e Diogo de Leppe chegaram, em janeiro e
meiros navios ao norte, numa enseada que recebeu março de 1500, até o cabo de Santo Agostinho,
o nome de Porto Seguro; a 25 (sabbado) entrou na precedendo assim a Pedro Alvares Cabral. Pinson,
mesma bahia o resto da esquadra, indo á terra que havia sido companheiro deColombo no des-
dous degredados; a 26 (domingo), num ilhéo, que cobrimento da America, veio, em fins de 1499, em
• se chamou da Corôa Vermelha, foi rezada pelo procura de novas terras, e conseguiu tocar, em 25
guardião frei Henrique de Coimbra a primeira de janeiro de 1500, a costa de Pernambuco, .onde,
missa no Brasil, sendo celebrada a segunda no a sete leguas do Recife, divisou um cabo a que deu
continente, no dia 1.0 de maio e em presença de o nome de Santa Maria de Ia Consolaciôn, mudado
muitos selvagens da tribu dos Tupininquins. (1) depois por Vespucio para o de Santo Agostinho.
Depois de haver tomado posse da terra, no dia Velejando para N 0, costeou Pinson o littoral bra-
1".. de maio, e de ter mandado André Gonçalves sileiro, observou a embocadura do Amazonas (a
que deu o nome de mar dulce) e, passando pelo
cabo Orange, chegou, por fim, -ao rio Oyapoc, que
(l) Está, pois, errado o titulo do famoso quadro de por muito tempo se chamou de Vicente Pinson.
V. Meirelles, que representa a segunda, e não a primeira Em fevereiro ou março do mesmo anno, Diogo
missa no Brasil. de Leppe chegou tambem altura do cabo de San-
á
NOTA _ A descoberta do Brasil foi realisada no dia to Agostinho, velejou d'ahi para o sul e depois pa-
22 de abril, mas ficou sendo commemorada a 3 de ma!o ra o norte, costeou o Maranhão e foi ter egualmen-
(dia da invenção da Santa Cruz), porque houve confusao
por parte dos antigos colonos, e só tres seculos depois te á embocadura do Amazonas.
(1817) foi conhecida a verdadeira data do grande des- Estava, portanto, descoberto o Brasil pelos Hes-
CQbrimento, quando pela primeira vez appareceu uma panhóes, muito antes da viagem de Cabral, e tal
carta que havia sido dirigida a D. Manoel por Pero Vaz descobrimento não foi mais do que uma canse-
de Caminha, chronista da esquadra de Cabral.
70 NOÇÕES DE HISTORIA DO BRASIL
.. I
de Hespanha e Portugal o tratado de Tordezilhas, .. Descobrimento do Brasil
o qual declarava que, a partir de uma linha ima- D. Dzogo Ortiz, bispo de Ceuta...... (22 de abril).
Entrada na Ilahia de Porto
ginaria traça da de pólo a pólo e passando a 370 le- Pedro A. Cabral, almirante portuguez. \ Seguro (25).
guas a oeste das ilhas de Cabo Verde, pertenceriam Primeira missa, na CorOa
á Hespanha as terras do Occidente, e a Portugal Frei Henrique de Coimbra, guardião .. Vermelha (26).
. Segunda missa no contí-
as do Oriente. (1). André Gonçalves.................... nente (1 de maio).
Ora, essa linha imaginaria vinha a passar a . Partida para as Indias (2
de maio).
oeste de Beletn do Pará, e da Laguna, em Santa.
Catharina, devendo, portanto, a faixa do littoral Cyclo Hespanhol :
do Brasil, descoberta em 1500, pertencer fatalmen-
te a Portugal, ainda que Cabral não houvesse exis- Sae de Paios. (na Hespa-
Vicente Pinson, nave.gador........... nha) em fins de 1499 e
tido. descobre o Brasil em ja-
Foi sem duvida, por essa razão, que Vicente neiro de 1500.
Diogo de Leppe • • • . . . .. Sae de PaIos em dezembro
Pinson e Diogo de Leppe só muito mais tarde re- de 1499 e chega ao Bra-
velaram a sua descoberta, pois do contrario teriam sil em fevereiro ou mar-
apenas apressado um facto que só podia satisfazer ço de 1500.
Sae de PaIos em 1500 e
aos interesses de Portugal. Afonso de Ojeâa chega á fóz do Oyapoc,
em junho do mesmo ann.
Tratado de Tordezilhas........................... 1494
(1) O professor indicará
no globo terrestre a direcção
da linha de demarcação e a distancia que a separa das
ilhas de Cabo Verde.
LIÇAO JN
dicou-lhe também as mais suaves melodias da sua 1.a) 9S Iu..Pis possuíam uma lingua geral, que
lyra inspirada: os tapuias nao conheciam.
2.a) Ti~hapl tabas ou aldeias, ranchos e palho-
"Todos cantam sua terra, ças, e cultivavam o milho, o feijão e a mandioca,
Tambem vou cantar a minha; ao passo que os outros viviam errantes, só se ali-
Nas debeis cordas da lyra me.?tavam de caça e de pesca, e não tinham habi-
Heide [azel-a rainha; tações,
H eide dar-lhe a realeza
Nesse throno de belleza ~.a) Os tupis devoravam por odio; os tapuias,
Em que a mão da natureza mais selvagens e ferozes, devoravam também por
gula.
Esmerou-se em quanto tinha."
O apparecimento dos tupis é posterior, e foram
A par dessa natureza prodigiosa e brilhantissi- e~les os vel!cedores~ que expulsaram para o inte-
ma o que havia de mais insignificante e menos di- . nor os antigos hahitatnes do littoral.
gno de admiração eram os povos que a habitavam. Traços communs - tupis e tapuias desfigura-
Esses povos, constitui dos por indivíduos selva- yam-se, furando as orelhas, os Iabios e o nariz, e
gens, eomprehendiam quatro grandes nações: tu- lntro~uzmdo nelles metáras ou baioques.
pi, tapuia, cariba e nu-aruac. Destas, só aS duas
I
. Pintavam o corpo com a t,inta negra do geni-
primeiras viviam no littoral; só dellas, portanto, papo .• 0lf a vermelha do urueu. Andavam nús, ou
nos occuparemos na presente lição. quasi nus, e usavam eocares de pennas vermelhas
ou amarellas iacanquape e kanitar).
Tupis - Foram os que estiveram mais em con- No pescoço os homens traziam collares de os-
tacto eom os primeiros colonisadores e subdivi- sos ou dentes do inimigo; as mulheres usavam
diam-se em tupis propriamente flitos e guaranis. collares e pulseiras de contas. Na cintura, uma fai-
Amavam sobretudo a guerra e a navegação. Na xa de pennas (enduape para os homens e arasoia
historia do Brasil as suas tribus mais importantes para as mulheres).
foram as dos Tamoios, Tupininkins e Tupinambás. Vivi~ em ocas (casas), aggrupadas ~ labas
Tapuias - Constituiam a segunda grande na- ou aldeias, que duravam quatro annos, transfor-
mando-se depois em iapéras,
ção Indígena com que se puzeram em contacto os
primeiros colonisadores: eram caçadores rudes, Os homens occupavam-se da guerra e dos mei-
não tendo habitações por elles construidas, nem os de subsistenci~ (caça, pesca e roça); as mulhe-
lavouras. Suas principaes tribus eram a dos Aymo- res com as colheitas, o preparo das comidas, bebi-
rés e a dos Botocudos. das fermentadas (cauim), venenos, ete.
Os Tupis e os Tapuias distinguiam-se uns dos Assavam os alimentos nas brasas e o peixe no
outros por notaveis differenças, a saber: borralho ..
,
76 NOÇÕES DE HISTORIA DO BRASIL
/
LIÇAO V
Angra dos Reis; a 20 á ilha de S. Sebastião, e a 21 vinte leguas atravez de valles e montanhas, trazen-
a S. Vicente. do apenas noticias acerca do rio Paraguay.
Na 2.a expedição (1503), em que tambem to- Chegando até o rio da Prata, voltou para o nor-
mou parte Vespucio! ~undaram o~ exploradores te e desembarcou em S. Vicente, onde fundou a
as tres primeiras feitorias do Brasil. . _ primeira colonia regular do Brasil (1532).
Entre a 2.a e a 3.a citam-se algumas expedições Subindo a serra, fundou nas planicies de Pirati-
particulares, entre as quaes a de D. Francisco de ninga a povoação de Santo André da Borda do
Almeida, em 1505; a de Tristão da Cunha, e!D Campo (primeiro nucleo da futura cidade de S.
1506; a de Nuno Manoel, em 1513; e as de Joao Paulo), recebendo a coadjuvação de João Rama-
Dias de Solis, em 1508 e 1515. lho, que lhe proporcionou a alliança dos Tamoios,
A 3.a, organisada em 1516. e ~ommand~d: por graças ásua qualidade de marido de Barlyra filha
Christovão Jacques, foi a pruneira expedIçao de do cacique Tabireça. - '
caracter militar e teve por fim guard~ a costa con: Em arnbas as colonias introduziu Marfim gran-
roa os assaltos dos piratas estrangeIros, que aqui de numero de anímaes domesticos, a canna de as-
se entregavam ao contrabando de páo brasi!. sucar e varias fructas da Europa, estabelecendo
A 4.a foi organisada já no tem.P.o de .D. Joao 111 em S. Vicente um engenho para a moagem da can-
e commandada pelo mesmo Christovão J acq;ues, na e o fabrico do assucar e aguardente.
que na Bahia de Todos os ~a.ntos metteu a p~que Martim Affonso de Souza retirou-se para Por-
tres navios francezes e apristonou as respectivas tugal em 1534, sendo, pouco depois, nomeado capi-
guarnições. . tão-mór da India.
A 5.a foi organizada em 1530 e commandada Primeiras Feitorias. - Fundaram-se no tempo
por Martim Affonso de Souza, encarregado de fun- da expedição de Gonçalo Coelho e tiveram por
dar uma zrande colonia, que servisse de ponto de sédes Santa Cruz (na Bahia), Rio de Janeiro e Ca-
apoio ás ~squadras e perrn~ttisse expulsar os es- bo Frio. Christovão J acques fundou as de Iqua-
trangeiros da costa do Brasil. .._ rassú e ltamaracá em Pernambuco; Martim Aff on-
Martim veio acompanhado de seu irmao, Pero. so as de S. Vicente e Piratininga.
Lopes de Souza. Tocou primeiramente em Per- Essas primeiras feitorias, ou primitivos nucleos
nambuco, onde aprisionou tres navios. france~es coloniaes, iniciaram a cultura da canna de assu-
carregados de páo brasil, e mandou DIOg~ Leite car, principalmente em Pernambuco e na Bahia,
para o norte, afim de explorar o Maranha~. Na onde se fundou mais tarde grande numero de en-
Bahia foi recebido por Caramurú (1), e do lho de genhos.
Janeiro mandou para o interior uma expedição (a Junto ás ~eitorias foram crescendo os povoados,
primeira entrada), que viajou cerca de cento e que progrediram e se transformaram depois em
villas, aldeias e cidades.
(1) Recordar a lenda aprendida nas classes anteriores.
O. Duque-Estrada - H. do Brasil ,
\
\
SYNOPSÉ
Armadores particulares.
P" te .
rtmetras co mas ...•.•.•....
S? S. Vicente (1532).
Pira Lininga (idem).
!
Santa Cruz.
. . Rio de Janeiro.
Primeiras [eiiorías ••• o•. o. o... Cabo Frio.
Iguarassú,
ltamaracé.
LIÇAO VI
Capitanias Hereditarias
macará faz parte de Pernambuco, Parahyba, Piau- guas, desde a foz do S. Francisco até o rio Iquaras-
hy, Maranhão e Goyaz. , SÚ, ao norte da actual cidade do Recife. O primeiro
3.a Parahyba do Sul - (Doada a Pero Goes ~a estabelecimento foi fundado em Olinda. Duarte
Silveira). Media cerca de 30 leguas, desde o no Coelho fomentou a producção da canna de assu-
Macahé até o Itapêmirim. Foi abandonada pelo car, do algodão e dos cereaes.
donatario em 1546. Constitue hoje parte dos Esta-
Faz parte de Pernambuco, Alagôas, Sergipe, Ba-
dos do Rio de Janeiro, Minas e S. Paulo. . hia, Piauhy, Maranhão e Goyaz.
4:a Espírito Santo - (Vasco .Fe.TI?-ande~Couti-
nho). Media 50 leguas, do Itap~mlrlm ate_ o Mu- s», 10.a e 11.a Maranhão - (João de Barros,
cury. Seu donatario fundou varras povoaçoes, en- Fernão Alvares de Andrade e Ayres da Cunha).
tre as quaes a da Víctoria . .victi~a .dos selvagens Eram formadas por tres porções díff'erentes, sen-
e dos colonos, acabou na maIOr mlsena. . . do cada uma dellas commum ás tres capitanias.
A capitania constitue hoje o Estado do Espírito A 1." porção (João de Barros e A. da Cunha)
Santo e parte do de Minas. . media 100 leguas, da Bahia da trahição até a barm
s» Porto Seguro - (Pero de Campos Tourí- do Massoró (no limite do Rio Grande do Norte
oom o Ceará). . -
nho). Estendia-se por 50 leguas, desde o Mucury a
até o Iequitinhonha, perto de Porto ~egu~o .. Pros- - A 2. (Alvares de Andrade) tinha 75 léguas e
perou a princípio, mas decahiu depois, victímada ia desde o rio Camocim, no Ceará, até a Ponta dos
por constantes ataques dos Aymorés. Mangues Verdes, no Maranhão, e abrangia o
Piauhy.
Faz hoje parte da Bahia, de Minas e Goyaz.
A 3.- (tambem de João de Barros e A. da
6.a Ilhéos - (Jorge de Figueiredo Corrêa). C~n- Cunha) tinha 50 leguas e ia desde a P. dos Man-
stava tambem de 50 leguas, desde P: Segur~ ~te a gues Verdes até o rio Gurupy ou obra de Diogo
Barra de Todos os Santos, entre os rIOSJequitinho- Leite (limite entre o Maranhão e o Pará).
nha e Jaguaripe. Foi administrada pelo hespanhol As tres capitanias fazem parte dos Estados do
Francisco Roméro. Maranhão, Piauhy, Ceará, Rio Grande do Norte,
Faz hoje parte da Bahia, de Minas e Goyaz. Parahyba e Goyaz. •
7.a Bahia - (Francisco Pereira Coutinho). Ia, a
12. Ceará - (Antonio Cardoso de Barros). En-
por 50 leguas, desde a Bahia de To~os os Santos, cravada entre a 1.a e a 2.- das capitanias preceden-
á f.oz do rio S. Francisco. O donatario luctou com tes, contava 40 leguas e ia desde a barra do Mos-
grandes diff'iculdades e naufrag~u 'perto d~ Ita- soró até o rio Camocim, no Ceará. O donatario dei-
parica, onde foi devorado pelos índios Tupinam- xou de promover a colonização e veio mais tarde
servir de provedor-rnõr no governo de Thomé de
MLA capitania faz-hoje parte dos Estados d e Ser- Souza. .
.gípe, da Bahia e de Goyaz. . A capitania faz hoje parte dos Estados do Ceará
s» Pernambuco - (Duarte Coelho). Trinta le- Piauhy, Maranhão e Pará, •
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CAPITANIAS E DONATARIOS
José de Anchieta.
Pri nci paes J esuitas ..
t Luiz da Gran.
As reptidas aggressões dos selvagens, dirigidos pedição exploradora. Passou pelo Espírito Santo
pelo terrivel cacique Cunham bebe, e o estabeleci- e chegou á Bahia.
mento dos Francezes no Rio de Janeiro vieram De 1560 a 1562 foi grande a prosperidade da
embaraçar ainda mais o governo de D. Duarte da colonia; mas, instigados pelos Francezes, reuni-
Costa. ram-se os indios na celebre Confederação dos Ta-
moios, que pretendia atacar e arrazar a cidade de
Sem meios de defeza e abandonado pelo go- S. Paulo, começando pela devastação de varias fa-
verno de Portugal, que era já então exercido pela zendas.
rainha D. Catharina d'Austria (regente, durante a
minoridade de D. Sebastião), regressou D. Duar- Nobrega e Anchieta evitaram tamanha calami-
te a Lisbôa, em 1558, depois de uma administração dade, procurando os chefes do gentio e celebrando
verdadeiramente infeliz. com elIes a paz de Iperoig.
Haviam, no entants, voltado os Francezes ao
, Rio de Janeiro, onde se instalIaram de novo, com
MEM DE SA' (1558-1572) - Começou por acal- o auxilio dos Tamoios e de muitos oompatriotas
mar os animas e pôr-se de accôrdo com os jesuitas, vindos de Cabo Frio.
mandando aldeiar os indigenas em missões mais Com reforços chegados da Europa em 1565 e
compactas e dando-lhes combates em todos os pon- reunidos aos que recebeu no Espirito Santo e S. Vi-
tos em que tentaram sublevar-se. cente (indios e canôas) partia para o Rio Estacio
Obtida .a tranquillidade, fez prosperar a 0010- de Sá (sobrinho do governador), que sustentou du-
nia, estimulando a agricultura e o trabalho dos en- rante quasi dous annos uma serie de guerrilhas
genhos. inuteis.
O maior, porém, de todos os seus serviços foi a Finalmente, em 1567, chegou ao Rio Mem de
expulsão dos Francezes da bahia do Rio de Ja- Sá, com uma grande expedição e, a 20 de janeiro,
neiro. (dia de S. Sebastião) derrotou os Francezes no
forte de Uruçú-mirim (na actual praia do Flamen-
Recebendo reforços e auxiliado pelo novo bis- go) e, em seguida, na ilha de Villegaignon e na de
po; D. Pero Leitão, e pelos jesuítas de S. Vicente, Maracaiá ou do Gato, que se chamou depois dos
partiu para o Rio, onde começou logo a bombar- Sete Engenhos e, finalmente, do Governador.
dear a ilha de Villegaignon, occupada então por 150 Estacio de Sá recebeu uma flechada no rosto,
Francezes e cerca de 1.000 indios Tamoios. da qual veio a morrer alguns dias depois.
Em 1.° de março de 1560 foi a fortaleza tomada" Mem de Sá retirou-se para a Bahia e de lá con-
e arrazada, cahindo em poder de Mem de Sá cerca tinuou a insistir pela sua demissão, vindo a falle-
de 100 prisioneiros. cer naquella cidade aos 2 de março de 1572.
Em 31 de Março seguiu o governador para S. Para succeder a Mem de Sá foi nomeado D.
Vicente, de onde mandou para o interior uma ex- Luiz de Vasconcellos, que morreu em viagem, com-
102 NOÇÕES DE HISTORIA DO BRASIL
Manoel da Nobrega.
Principaes Jesuitas, ••....... Aspicuelta Navarro.
~ lI1anoel de Puiva.
Santos.
Villas fundadas. . . .. Conceição de Itanhaem.
~ S. André da Borda do Campo.
LIÇAO IX
LIÇAO X
A musica de orgão e o engodo de certas hugía- que surgiu a população, que foi depois a cidade
rias attrahíram muitas crianças, que aprenderam de S. Paulo; installou as casas de residencia de
a ler e a contar. Porto Seguro, Espirito Santo, São Jorge, Ilhéos e
Procurando impedir a anthropophagia entre os
selvagens, e os máos tratos ql!e a estes .da,;,,~ os Oli~a.
m 1560 ajudou Mem de Sá a expulsar os Fran-
colonos, despertaram os Jesuitas a anímosidade ceze . prestou novos e assignalados serviços du-
dos ultimos, iniciando-se logo a grande Incta que rante a guerra movida pela Confederação dos Ta-
tiveram de travar com elles durante cerca de dous maios, e maiores ainda na expulsão definitiva dos
seculos. Fruncezes, em 1567.
Os colonos, constituídos por máos elementos da Continuou ainda a trabalhar e a luctar pela
sociedade portugueza, nutriam a ambição de for- causa do Brasil, estabelecendo-se no Rio como rei-
tuna facil e sem trabalho. Quando emigravam para tor do novo collegio, que começou a construir, mas
o Brasil, traziam comsígo grande numero de ne- que não chegou a vêr concluido, porque f'alleceu
gros, que aprisionavani na Africa, e organisavam
no dia 18 de outubro de 1570, com 53 annos de eda-
aqui expedições ao interior do paiz, para a caça de, victimado pela tuberculose.
dos indios nas suas aldeias. Nasceram assim duas
fontes de escravidão: a negra ou africana, e a ver- Do grande missionario Manoel da Nobrega se
melha ou indígena. póde dizer, com o protestante Southey, que "não
ha-ninquem a cujos talentos deva o Brasil tantos
Da mistura desses tres elementos (portuguez,
e tão assiqnalados serviços".
negro e indigena) formou-se uma grande parte
da população brasileira, tendo sido principalmente José de Anchieta - Foi o grande apostolo do
o negro o verdadeiro fundador da prosperidade Novo Mundo. Nasceu em Teneriffe (Canaria) e ti-
agrícola e eoonomica da nossa terra. nha ainda vinte annos incompletos quando chegou
ao Brasil. Foi o maior auxiliar de Manoel da No-
Manoei da Nobreqà=« Foi o primeiro chefe
(provincial) das missões de jesuitas no Brasil, ao brega.
qual prestou assignalados serviços. Fundou o 001- Tendo ficado como refem dos Tamoios durante
legio de S. Vicente; dividiu o pessoal em dous gru- o armisticio de Iperoig, escreveu na areia e conser-
pos, destinado um ao serviço dos indios e outro á vou na memoria um poema dedicado á Virgem e
regeneração dos colonos, distribuiu os missiona- composto de 4.172 versos.
rios por diversas capitanias, levantando egrejas e E' considerado o fundador da literatura brasi-
fundando escolas; ereou um asylo de orphãos e de leira, tendo escripto, além daquelle poema, grande
mulheres Indígenas em Pernambuco; concorreu numero de poesias e cartas, além de um dicciona-
para a fundação da diocese da Bahia; naufragou rio e uma grammatica da lingua tupi, e autos (pe-
em S: Vicente, creou as reducções dos indios, sepa- ças de theatro) que foram representados pelos In-
radas das aldeias; fundou a egreja e o collegio de digenas.
o. Duque-Estrada - H. do Brasil 8
114 NOÇÕES DE HISTORIA DO BRASIL
Jacob WilJekens.
l
Pieter P. Heyn.
Atacantes. . . .. J ohan van Dorth.
Albert Schouten.
WilJiam Schouten.
Hans E. Kiff.
Defensores. . ..
'I Lourenço Cavalcante.
Antonio Cardoso.
Francisco de Moura.
Francisco Padilha.
O"-Duque·f;str!l<la - H. do Brasil
•
LIÇAO XIV
Felippe Camarão.
Henrique Dias.
Chefes de guerrilha •.... Rebello.
Souto.
~ Vidal de Negreiros.
LIÇAO xv
o dominio hollandez em Pernambuco
(20 PERIODO)
•
144 NOÇÕES DE HISTORIA DO BRASIL o DOMINJO HOLLANDEZ EM PERNAMBUCO 14ij
a situação melhorou sensivelmente no anno se- O inimigo perdeu, além do seu commandante,
guinte, travando-se, no dia 19 de abril a primeira mais de 1.000 homens, entre mortos, feridos e pri-
batalha dos Guararapes (montes situados a duas sioneiros, 10 bandeiras e toda a artilheria e muni-
leguas e meia ao sul do Recife e a egual distancia ções que levava.
a oeste do Arraial Novo do Bom Jesus). O prejuizo dos Insurgentes não foi além de 300
Os Hollandezes eram commandados por Segís- homens, ficando ferido o bravo Henrique Dias.
mundo von Schkoppe e dispunham de 4.500 ho- Essa grande victoria não decidiu, comtudo, dos
mens com seis peças de artilheria. Os Insurgentes destinos da guerra, que se prolongou ainda por
obedeciam ás ordens de Barreto, que dispôz as mais cinco annos, até que, sitiado por terra e por
duas forças na seguinte ordem: na vanguarda, o mar, no Recife, assignou von Schkoppe, diante do
mestre de campo Vidal de Negreiros; nos flancos, forte das Cinco Pontas, assaltado por Vidal de
Henrique Dias e Felippe Camarão; na reserva, Negreiros, a capitulação da Campina do Taborda
João Fernandes Vieira. Apezar da differença nu- (26 de janeiro de 1654).
merica, foram os Hollandezes completamente der- Só em 1661, porém, foi assignado o tratado de
rotados, perdendo cerca de 1.000 mortos, 523 feri- paz de Haya, pelo qual obtinha a HolIanda, além
dos, 17 bandeiras e grande numero de prisioneiros, de outras vantagens, uma índemnísação de cinco
ao passo que os Pernambucanos tiveram apenas milhões de cruzados (dous mil contos).
100 mortos e pouco mais de 400 feridos. Todos os chefes da Inconfidencia foram recom-
pensados pela Corôa de Portugal com commendas,
Para compensar a derrota, apossaram-se os Hol- governos e bons empregos.
landezes de Olinda, mas foram, pouco depois, ex- Entre as vantagens obtidas pelo Brasil, em con-
pulsos, sendo os seus novos ataques repellidos por sequencia da dominação hollandeza, podem ser ci-
Henrique Dias.
tados: o desenvolvimento do conunercio e da in-
Sitiados no Recife, em 1649, viram-se obrigados dustria, que tornou conhecidos na Europa diversos
a uma sortida, e deram o commando das forças productos do paiz; a abertura de novos caminhos
(3.500 homens e 6 canhões) ao coronel Van den e novas estradas; a construcção de casas e palacios
Brinck. de accôrdo com as regras da architectura; o gosto
pelo conforto e as obras de arte; o aperfeiçoamen-
Travou-se então a segunda batalha dos Guara-
to dos machinismos de engenho; a construcção de
rapes (19 de fevereiro de 1649), em que Barreto de fortalezas, ainda hoje existentes; o conhecimento
Menezes, com 2.600 homens apenas, dispoz algu- de muitas riquezas naturaes; a transformação da
mas columnas escondidas nos cannaviaes e apre- ilha de Antonio Vaz em uma bellissima cidade; a
sentou-se no valIe com pequenas forças, afim de
tolerancia politica; a liberdade religiosa, etc., etc,
attrahir os Hollandezes. Estes, cahindo na cilada,
deSceram precipitadamente do monte, que foi logo
occupado pelas columnas occultas.
o. Duque-Estrada - H_ do Brasil
•
SYNOPSE
•
LIÇAO XVII
Revolta de Beckmann
A par de taes factos (1649-1662), deram-se tam- Lazaro de Mello, seu afilhado e protegido, que veio,
bem no Rio de Janeiro, em S. Paulo e no Maranhão, afinal, a perecer num desastre.
graves conflictos entre Jesuítas e colonos, por cau- Affirmam alguns historiadores que os ben~ de
sa dos indios, que cada grupo pretendia escravisar Beckman, confiscados pelo governo e vendidos
em proveito proprio. em hasta publica, foram arrematados pelo gener~-
Estavam de algum modo acalmados os animos, so governador Gomes Freire, que mandou restí-
quando foi (em 1682) criada a Companhia de Com- tuil-os á viuva e aos orphãos.
mercio do Maranhão, com o monopolio da expor- O governo portuguez extinguiu a Companhia de
tação e importação de varios generos, e da impor- Commercio e attendeu ás queixas dos colonos, mas,
tação de escravos africanos. depois de suffocar de todo '3 revolta, restabeleceu
. Essa medida odiosa e imprudente veio atiçar em grande parte a lei anterior, favoravel aos
ainda mais as antigas rivalidades entre Jesuitas e Jesuitas.
colonos, provocando ao mesmo tempo uma nova
revolta contra o monopolio. LIÇAO XVIII
Manoel Backman e Jorge de Sampaio foram os
principaes chefes do movimento, que se propunha Emboabas e Mascates
acabar com os Jesuítas e o monopolio, para que
pudesse o povo dispôr livremente dos indios e do
commercio. Poucos annos depois da revolta de Beckman,
occorreram no Brasil as duas luctas civis a que se
Os amotinados conseguiram depôr e prender tem dado, talvez impropriamente, a denominação
o governador interino, Balthazar Fernandes, e, ob- de guerras de Emboabas e de Mascates. Trata-se,
te~do o apoio da guarnição, aboliram a Compa- em ambos os casos, de movimentos natioistas, em
nhia, expulsaram os Jesuítas e organizaram uma que explodem violenternente antigas rivalidades
Junta Governativa de seis representantes, sendo entre Portuguezes e Brasileiros.
dous de cada classe: clero, nobreza e povo.
A revolta, que estalara em 1684, prolongou-se EMBoABAs- Desde os primeiros descobrimen-
até maio do anno seguinte, chegando por esse tem- tos de minas em Sabará e nos districtos visinhos,
po o novo governador do Maranhão (Gomes Freire haviam partido muitos aventureiros para aquellas
de Andrade), q~e dissolveu a Junta e prometteu terras auriferas, denominadas então Minas Geraes
amnístía aos delínquentes, com excepção dos cabe- dos Gaiaquás, declarando-se logo accentuada riva-
ças. Destes, Manoel Beckman e Jorge Sampaio fo- lidade entre os exploradores paulistas e os seus
ram condemnados á morte por um tribunal extra- concurrentes portuguezes, aos quaes era dada vul-
ordinario. garmente a denominação de Emboabas (pernas
Tendo-se refugiado na fazenda do Mearim, foi calçadas, homens de além. ou laçadores de gente,
Manoel Beckrnan infamemente denunciado por segundo as melhores interpretações).
152 NOÇÕES DE HISTORJA DO BRASIL EMBOABAS E MASCATES 153
Em breve a antiga rivalidade transformou-se soas importantes, entre as quaes o ouvidor,. qu.e
. em odio. Os Paulistas, commandados por Domin- conseguiu fugir; mas o capitão-mór (Pedro Hibei-
gos' Monteiro, .e os Emboabas por Manoel Nunes ro) revoltou-se (novembro de 171{), prendeu o
Vianna, travaram serio combate nas margens de capitão João da Motta, sublevou a tropa e depoz
um rio, que se ficou chamando das Mortes, sendo o governador, que fugiu para a Bahia.
destroçados os Portuguezes. Tomou então conta do governo o bispo (D. Ma-
Em breve, porém, simulou Vianna uma recon- noel da Costa), que concedeu amnistia geral.
ciliação e, apanhando de surpresa os Paulistas, Pouco depois, porém, sublevaram-se os habi-
cahiu traiçoeiramente sobre eIles, exterminando a tantes do Recife, chefiados por João da Molta e
maior parte, de modo que poucos lograram voltar outros, começando então a guerra dos Mascates.
a S. Paulo. I
Do lado dos Brasileiros ficaram a camara de
Organisava-se ahí uma forte expedição para
obter a desforra, quando chegou de Portugal um
.
Olinda , o mestre de campo (Mendonça -Arraes),
ouvidor, o povo e quasi todos os capltaes-~or~s;
,
o
decreto de amnistia para todos os contendores. Es- do lado do Recife ficaram João da Motta, os índios
se mesmo decreto criou a capitania de S. Paulo e de Pinheiro Camarão, o governador da Parahyba e
Minas Geraes independente da do Rio de Janeiro, o terço dos Henriques. .'
nomeando para seu primeiro governador Antonio Luctavam ambos os grupos com vantagens al-
de Albuquerque Coelho de Carvalho (1709). ·ternadas, quando chegou o nov~ gove~nador ge~al
(Felix de Mendonça) com a conflIn~açao da amms-
MASCATES - Nasceu esta lucta da rivalidade tia anteriormente concedida pelo bispo.
existente entre os Brasileiros. de Olinda e os seus Seguiu-se um periodo d~ .tregua; mas rec~d!s-
credores do Recife (denominados Mascates). ceram mais tarde as hostilidades e perseguiçoes
O Recife havia progredido muito durante a oc- por parte do governador e do novo ouvidor (João
cupação hollandeza, mas não tinha sido ainda ele- Marques Bacalháo), partidarios dos Portuguezes.
vado á categoria de villa, e continuava a depender Diante, porém, de energica representação do povo
de Olinda. Em 1708, porém, resolveu a metropole e da camara de Olinda, mandou o governo de Por-
attenderás reclamações dos Portuguezes: foi con- ,tugal acabar com t~das. as devassas e .pôr termo
. cedida a elevação do Recife a viIla, devendo o juiz final a taes luctas e nvalidades (7 de abril de 1714).
de fóra servir em ambas, alternadamente. Os limi-
tes seriam fixados pelo governadot da capitania
(Sebastião de Castro Caldas) e pelo ouvidor (D.
Luiz de Valenzuela Ortiz).
Houve desintelligencias, succedendo-se as hosti-
lidades: o governador foi ferido com um tiro e
usou de represalias, mandando prender varias pes-
164 BANDEIRAS 155
res nasceu a lenda das minas de prata, a que ficou fossem a tenacidade e a bravura dos filhos
ligado o nome de Roberto Dias. de S. Paulo, furando ousadamente a linha de
Do seco XVII é a expedição do celebre Fernão demarcação, não seria o Brasil o colosso que
Dias Paes Leme, que descobriu, afinal, em Serro hoje é, com a cabeça recostada nos Andes e os
Frio, minas de ouro e de esmeraldas. pés voltados para o Atlantico.
Esse e outros bandeirantes chegaram aos ser-
tões do Caeté, estabelecendo, de caminho, os ar-
raiaes de que nasceram as futuras cidades de Ma- LIÇAO XX
rianna, Ouro Preto, Pitanguy, Caeté, etc., em Mi-
nas Geraes. Transmlgração da familia real portugueza;
D. João VI
O seculo XVIII é iniciado com os descobrimen-
tos de Manoel Barba Gato (Sabará), sendo pouco
depois exploradas as minas do Rio das Contas,' Era verdadeiramente miséravel a situação ge-
Malto Grosso e Goyaz. ral do Brasil quando para elle se transferiu a séde
A descoberta da mineração de Goyaz lembra o da monarchia portugueza.
nome de Bartholomeu Bueno da Silva, que 'partiu A população da terra orçava então em 3.600.0~O
de S. Paulo com um filho de 12 annos, chegou ao individuos, dos quaes 1.700.000 eram escravos. Nao
Rio Vermelho, alcançou grande quantidade de ou- havia em toda a colonia uma só universidade, nem
ro e foi denominado Anhanguéra (feiticeiro) pelos typographía, e, para cumulo de irrisão, fôr:a o ~ra-
Indígenas, que o auxiliaram (1). sil privado de toda especie de commumcaçao e
commercio com as nações da Europa, vedando-se
O filho de Anhanguéra proseguiu nas descober- nelle a residencia e admissão de estrangeiros. Só os
tas, fundando as povoações de Ferreiros, Santa navios dos paizes alliados da. D?-etropole copse-
Anna, Barra e Ouro Fino, que deram legar a no- guiam ancorar nos portos brasIlelr:os; ~as, ainda
vas divisões administrativas e ecclesiasticas, crian- assim, ás tripulações e aos pass~ge~ros so er:a .per-
do-se capitanias e governos separados em Goyaz mittido o desembarque sob a mars rigorosa vigilan-
e Matto Grosso.
cia, exercida por escolta~ de sol~ados.. .
. De tudo quanto temos dito resulta que, si não Na provincia do Rio os vice-reis exer~u~m
apenas o poder politico, sendo as outras adminis-
tradas por capitães-generaes, nomeados por um
triennio. .
(1) Bartholomeu Bueno accendeu certa dose de aguar- Das sentenças do poder judiciario havia recur-
dente depositada dentro de um prato, e fez crê r aos sel-
vagens que era capaz de incendiar assim o Ri~ Vermelho. so para o Desembargo do Paço de Lis~ô!, bastan-
Os indios, amedrontados e tendo-o por feiticeiro, presta- do, porém, uma simples ordem do capítão-general
ram-lhe obediencia e auxilio. para suspender ou annullar os processos Iegaes,
158 NOÇÕES DE HISTORIA DO BRASIL
TRANSMIGRAÇAo DA FAMILIA REAL PORTUGUEZA 159
A tropa de primeira linha era recrutada, mas •
a officialidade nomeada pela côrte. dra, indo uma parte della arribar Bahia, onde
á
presos e remettidos para o Rio de Janeiro, depois As cabeças das victimas foram espetadas em al-
de capitularem no forte de Brum. tos postes, as mãos penduradas em outros Jogares,
166 NOÇÕES DE HISTORIA DO BRASIL
A INDEPENDENCIA 167
e os troncos arrastados em caudas de cavallos,
nomia de que já gosava o Brasil. Dentre as princi-
gottejando sangue e salpicando as calçadas até o
paes destacam-se: o decreto que declarou indepen-
cemiterio! O padre João Ribeiro suicidou-se.
dentes do governo central as Juntas Governativas
Embora ephemera, a republica proclamada em
das Provincias, o que supprimiu os tribunaes do
IPernambuco foi um passo decisivo para a indepen-
'dencia, que teria de ser feita cinco annos depois. RIo de Janeiro, e o que ordenava a D. Pedro que
seguisse para a Europa, afim de completar a sua
Honra eterna, por isso, aos gloriosos martyres
da liberdade. educacão.
Foi nessa occasião que se agitaram os patriotas
brasileiros, preparando-se para a proclamação da
independencia e induzindo o Principe a desobe-
LIÇAO XXII.I decer ás Côrtes e a permanecer no Brasil.
José Gonçalves Ledo, Januario da Cunha Bar-
A Independenciaj desde o dia do "Fico" até bosa, José Joaquim da Rocha, frei Francisco de
o grito do Vpiranga Sampaio e outros, resolveram dirigir a D. Pedro,
em nome dos Fluminenses, uma representação, que
colheu dentro em pouco mais de oito mil assigna-
Ob~gado a deixar o Brasil na madrugada d~ 26 turas. Levada ao Senado da Camara, de que era
de ahril de 1821, em consequencia da revolução li- presidente José Clemente Pereira (portuguez, mas
beral, que estalara no Porto, em 1820, D. João VI partidario da causa brasileira), opinou este que se
abraçou o filho no momento da partida e dirigiu- mandassem emissarios a Minas e S. Paulo, para
lhe as seguintes palavras:
obterem o apoio das respectivas Juntas.
- "Pedro, o Brasil brevemente se separará No dia 9 de janeiro foi a representação do Rio,
de Portugal; si assim [ôr, põe a corôa sobre juntamente com a de Minas (a de S. Paulo só
a tua cabeça, antes que algum aventureiro lance chegou mais tarde) lida no paço da cidade por
mão de lia."
José Clemente, que pronunciou eloquente discurso,
Não era preciso ser propheta para fazer tal terminando com estas palavras: - "O navio que
previsão: a marcha accelerada dos acontecimentos reconduzir o Principe Real, apparecerá no Tejo
era bastante para justifical-a, e o proprio monar- com o pavilhão da independencia do Brasil" ..
cha havia inconscientemente concorrido para elles,
fazendo prosperar o Brasil e despertando o ciu- Simulando grande emoção, mas no fundo satis-
me das côrtes portuguesas, que queriam recondu- feito com o resultado obtido, respondeu D. Pedro
zir-nos á antiga situação de colonia escravisada. com a celebre phrase: - "Si é para bem de lodos
Não tardou muito que diversas medidas odiosas e felicidade geral da Nação, diga ao povo que fico".
e imprudentes fossem decretadas nesse sentido, Era o primeiro grito da revolta.
contra a autoridade do Regente e a pequena auto- A' ousadia do tenente-coronel Jorge de Avilez
(commandante da divisão auxiliadora portugue-
168
o PRIMEIRO REINADO 169
NOÇÕES DE HISTORIA DO BRASIL
A lucta terminou no dia 2 de julho de 1823, com substituidos por Carneiro de Camp~s e Nogueira
a vicioria de Pirajá, cantada por Castro Alves: da Gama. Os dois principaes .or~aos da opp~-
sição na imprensa eram os diaríos O Tamoio
"Era no Dous de Julho. A pugna immensa
Travara-se nos cerros da Bahia ... e A Sentinella.
O anjo da morte, pallido, cosia Em vista da agitação dos partidos, não f?i p~s-.
Urna vasta mortalha em Pirajál sivel votar a constituição, cujo projecto ha,:w sido
- Nesse lençol tão largo, tão extenso formulado por Antonio Carlos e era quasi repu-
Corno um pedaço rôto do infinito,
O mundo perguntava, erguendo um grilo: blicano. Seguiu-se uma questão militar, em que a
- Qual dos gigantes morto rolará? tropa representou ao Imperador contra a lingua-
gem da imprensa, exigindo, ao mesmo tempo, a
expulsão dos Andradas.
Mas quando a branca estrella matutina D. Pedro dissolveu' a Constituinte, deportou
Surgiu no espaço, e as brisas forasteiras, para a Europa os irmãos Andradas e varios outros
No verde leque das gentis palmeiras
Foram cantar os hymnos do arrebol, deputados, e nomeou uma commissão .de.1~ mem-
Lá do campo deserto da batalha bros para organisar uma ~ova. conshtu~çao, que
Uma voz se elevou clara e divina: foi, afinal, acclamada e jurada no dia 24 de
Eras tu, liberdade peregrina, março de 1824.
Esposa do porvir, noiva do sol l"
Confederação do Equador - Em Pernamb~co,
Lord Cochrane e seus valentes auxiliares, Tay- onde se reflectira a agitação do Rio de Janeiro,
lor e Greenf'ell, libertaram ainda o Pará c o Mara- resolveu o presidente eleito da provincia (Paes de
não; seguindo-se, pouco depois, na Cisplalina, a Andrade) publicar um violento manifesto contra
rendição de D. Alvaro de Macedo ás tropas do ge- D. Pedro e proclamar, no dia 2 de j~lh? de 1824,
neral Lecór (1811-1823). a Confederação do Equador, co~stitl?da pelas
Os outros principaes acontecimentos do 1.0 rei- provincias de Pernambuco, Ceara, RIO Grande
nado foram: -as luctas da Assembléa Constituinte, do Norte, Alagoas e Parahyba.
a Confederação do Equador e a independencia do
Uruguay. Para bater os rebeldes partiu do Rio uma es-
quadra ás ordens de lord Cochrane, com refo~ços
de tropas sob o commando do. coronel Francisco
Assembléa Constituinte - Convocada por de- de Lima c Silva. A revolta fOI suffocada e Paes
ereto de 3 de junho de 1822, reuniu-se nó dia 3 de de Andrade conseguiu fugir a bordo da fragata
maio de 1823, dividindo-se logo em dous partidos, ingleza Tweed.·
sendo o da opposição chefiado pelos Andradas, em
Nas outras provincias a revolta foi ainda mais
vista da demissão de José Bonifacio e Martim
facilmente reprimida, organisando-se juntas mili-
Francisco, que haviam sahido do ministerio, sendo
tares, que condemnaram morte 17 rebeldes, den-
á
172 NOÇÕES DE HISTORIA DO BRASIL
173
•
o SEGUNDO REINADO - A REGENCIA 175
174 NOÇÕES DE HISTORIA DO BRASIL
Vendo que nada mais poderia fazer e, depois de
Estas scenas se repetiram nas noites de 11 e 12 conferenciar com os ministros da França e da In-
de março de 1831, sem grave alteração da ordem. glaterra acerca dos meios de effectuar a viagem
N a de 13, porém, que se ficou chamando a noite para a Europa, entregou a Miguel de Frias, ás 2
das garrafadas, houve serios e sangrentos conflí- horas da madrugada do dia 7 de abril, um papel
ctos, lançando os Portuguezes contra os Brasi- com os seguintes dizeres:
leiros uma sar~iv~da de pedras, cacos de garrafas " Usando do direito que a constituição me con.-
e outros projectis, de que resultaram muitos cede, declaro que hei tnui voluntariamente abdi-
ferim en tos. ., cado na pessôa do meu muito amado e prezado
A casa do grande jornalista Evaristo da Veiga filho o Sr. D. Pedro de Alcaniara. - Bõa Vista, 7
foi também apredejada, por se haver elIe recusado de abril de 1831." ,
a illuminar as janelIas. Entregando esse documento a Miguel de Frias,
Os patriotas juntaram-se então em volta do re- disse ainda D. Pedro :-"Aqui tem a minha abdica-
dactor. d.a Aurora Fluminense e encarregaram-n'o ção. Estimarei que sejam felizes. Retiro-me para a
de redigir um energíco manifesto, exigindo o des- Europa e deixo um paiz que sempre amei e que
aggravo dos Brasileiros e a nomeacão de um minis- amo ainda".
terio liberal. Evaristo, o senador 'Vergueiro, Odo-· Em seguida nomeou José Bonifacio para tu.t?r
rICOMendes e o padre Diogo Feijó (que se achava de seus filhos, e retirou-se com o resto da familia
em S. Paulo) puzeram-se á frente do movimento para bordo da fragata i~gle~a Wc;rspite. . .
revoluciollnrio. Terminou assim o primerro remado, pela VIctO-
D. Pedro consentiu em mudar o ministerio' ria da liberdade contra o despotismo.
m~s, conti~uando a agitação, formou outro, consti: O grande heróe da jornada de 7 de abril, que
tuido de fidalgos e senadores impopulares. confirmou definitivamente a independencia da
Esta mudança foi recebida com indignação pelo nossa patria, foi o redactor da Aurora ~luminen~e,
povo e pela tropa, que, reunidos no Campo de San- o brilhante jornalista e intemerato patriota Evaris-
t' Anna, enviaram a S. Christovão uma commissão to da Veiga. .
para pedir a demissão dos ministros. O Imperador
não attendeu e declarou imprudentemente que LIÇAO XXVI
"estava prompto a fazer tudo para o povo, mas
nada pelo povo", o segundo reinado. - A regencla
Esta resposta exacerbou a multidão, reunindo-
se a essa a proprra tropa commandada por Fran; Quando D. Pedro I abdicou, tinha seu filho ape-
cisco de Lima e Silva. nas 5 annos e 4 mezes, pois que nascera a 2 de de-
Foi ain~a enviado a S. Christovão o major Mi- zembro de 1825. Resultou d'ahi a necessidade de
guel. de ~rIas, que expoz a D. Pedro a gravidade nomear-se alguem que governasse em seu nome.
da sItuaçao.
176 NOÇÕES DE HISTORIA DO BRASIL SEGUNDO REINADO - A REGENctJ.. 177
Reunidos os senadores e deputados; elegeram uma Tomando posse do cargo, desenvolveu Feijó
regencia provisoria, entrando para ella o brigadei- prodigiosa actividade; mas, ao abrir-se o parla-
ro Francisco de Lima e Silva, o marquez de Cara- mento em 1836, tres grandes assumptos se apre-
uellas (José Joaquim Carneiro de Campos) e o sentaram a debate: uma questão religios~ ~om a
senador Vergueiro. Santa Sé, a continuação de uma lucta CIVIl que
Este governo provisorio limitou-se a publicar desde muito se vinha dando no Pará, e a Guerra
um manifesto em defesa da ordem, a reintegrb.r dos Farrapos, no Rio Grande do Sul.
o ministerio popular demittido por D. Pedro, e a Começou a formar-se contra Feijó violenta op-
suffocar motins na Bahia, em Minas e em Pernam- posição parlamentar do partido saquarema ou con-
buco. Durou apenas 2 mezes e 11 dias, sendo então servador, organisado por Bernardo de Vasconcellos.
eleita regularmente uma regencia permanente. Tendo sido approvada apenas por cinco votos
. REGEN?HPERMA~ENTE TRINA- Constituida por de maioria uma moção de confiança ao Regente,
LIma e SIlva (reeleíto), José da Costa Carvalho e e já não contando este com o apoio de Evaristo
João !3raulio Muniz, tornou-se notavel pela acção da Veiga (fallecido em maio de 1837), renunciou
enérgica do padre Diogo Antonio Feijó, nomeado Feijó em 19 de setembro, passando lealmente o
mmístro da Justiça, que reprimiu diversas revoltas governo ao seu adversario Pedro de Araujo Lima
militares no Rio e em varias provincias, collocan- (depois marquez de Olinda).
do-se ao lado do partido moderado, em lucta com o REGENCIA DEARAUJOLIMA - Divide-se em dous
restaurador ou caramurú, dirigido pelos Andradas, periodos: o da interinidade (19 de setembro de
que foram contra a abdicação e queriam a volta 1837 a 22 de abril de 1838) e o da efteclividade (de
de D. Pedro I. 22 de abril de 1838 a 23 de julho de 1840).
Em 17 de abril de 1832, cnseguiu Feijó esma- Durante a interinidade os acontecimentos prin-
gar ~ma ;'10va ~edi~ão partida da propria Quinta cipaes foram: a criação do Collegio de Pedro II e
da Boa VIsta e inspirada pelo tutor dos principes; do Instituto Historico, por Bernardo de Vasconcel-
mas exigiu a destituição de José Bonifacio daquelle los (ministro do Imperio); uma revolução na Bahia
cargo. A Camara approvou a destituição, mas o (a Sabinada), que proclamou a republica até a
Senado rejeitou-a por maioria de um voto. Em vis- maioridade de D. Pedro II; e o prolongamento da
ta desse resultado, sahiu Feijó do ministerio. lucta do Rio Grande do Sul.
REGENCIA UNADEFEIJO' - Em 12 de agosto de Durante a effectividade deu-se no Maranhão a
1834 havia sido criado o Aclo Addicional (accrescí- revolta de dous partidos politicos (cubanos e
mo feito á constituição) e por elle ficavam redu- bemtevis) pacificada por Caxias; proseguiu a
zidos os tres regentes a um só. Guerra dos Farrapos, e continuaram as luctas
Feita a eleição popular, sahiu victorioso o padre parlamentares.
Feijó, que derrotou Hollanda Cavalcante, candi- As Camaras, resistindo acção de Bernardo,
á
Montevidéo, com o intuito de entregar a sua patria Uruguay), assignado em Buenos '~yres em 1.° de
ao tyranno de Buenos Ayres, maio de 1865.
Alliando-se então com o Uruguay e com o ge- A lucta prolongou-se até 1. de março de .1~70,
0
neral Urquiza, governador da provincia argentina data da morte de Lopes nas margens do Aquzda-
de Entre Rios, entrou o Brasil em guerra contra OOn. d
Rosas, terminando a campanha com a victoria de De 1870 a 1889 viveu o Brasil em paz com to as
Monte Caseros (3 de fevereiro de 1852). as outras nações, realisando sensiveis progre~s~s.
Rosas, completamente derrotado, fugiu para Em 13 de maio de 1888 foi abolida a escravldao
Buenos Ayres, de onde seguiu disfarçado para bor- e em 15 de novembro de 1889 foi proclamada a Re-
do de um navio inglez, que o transportou ~ra a publica.
Europa.
A essas guerras seguiu-se um intervallo de doze
annos (1852-1864) durante o qual o Brasil realisou LIÇAo XXVIII
grandes e rapidos progressos.
Causas identicas ás de 1851, obrigaram o Brasil o elemento indigena, ai catechese e~la situação
actual dos indigenas
a intervir em 1864 no Estado Oriental do Uruguay,
alliando-se com o general revolucíonario Venancio
Flores, que se achava em lucta com o governo des- Dos tres elementos de que resultou em mu~tos
potico do seu paiz, e que nos havia promettido uma pontos o typo genuinam~n~e brasileiro do mestiço,
reparação a todas as affrontas recebidas. foi, sem ' duvida, o indígena o ~ue pre'pondero~
no extremo norte do paiz, onde, ainda hoje, con~h-
Aproveitando-se desse facto, pretendeu Fran-
tue o caboclo o typo caracteristico das populações
cisco Solano Lopes, dictador do Paraguay, intervir
no conflicto, protestando contra a nossa interven- da Parahyha para cima. . .
No centro e no sul, pequeno fOI o contingente
ção. Não sendo attendido, declarou guerra ao Bra-
de selvagens incorporados á, civilisarão pela obra
sil e mandou invadir as provincias de Matto Gros-
so e do Rio Grande do Sul. benemerita da catechese; a sede de nq~ez~dos co,-
lonos levou-os a reduzir os n~isero:s m~:hgenas a
Vencido o governo de Montevidéo e elevado o escravidão e a destruir as aldeias orgamsada~ pe-
general Flores á presidencia do Uruguay, alliou-se los Jesuitas, onde, aliás, já reinava a degradarao do
esta republica ao Brasil na lucta com o Paraguay. indio indolente, em consequencia da embriaguez
Lopes, desesperado porque a Republica Argen- introduzida pelo aleool. Si nas cidades as mulheres
tina se recusou a consentir na passagem das forças indigenas se ligavam aos Portugu_ezes,. os homens
paraguayas que vinham invadir o Rio Grande, de- fugiam e debandavam para o sertao, afim ~e esca-
'clarou tambem guerra áquella nação. Nasceu d'ahi parem aos algozes, que os ferra:,a~ e vendiam co-
o tratado da triplice alliança (Argentina, Brasil e rno escravos; assim, o elemento indígena, que tanto
182 NOÇÕES DE HISTORIA DO BRASIL HISTORICO DAS IDÉAS REPUBLICANAS NO BRASIL 183
concorreu para a defesa do Rio de Janeiro e de S. ços prestados pela missão do coronel Rond(;m. ~
Paulo, dispersou-se quasi todo e só contribuiu para obra da catechese progride incessantem.ente, InSPI-
a formação das primeiras gerações de mamelucos. rada em principios mais logicos e racionaes, que
Onde elle preponderou foi principalmente no consistem em não querer realisar erradamente a
Pará e no Amazonas, pois que ahi as missões jesui- conversão subita do indigena aos nossos costumes
t:;tsrealisaram II?-aislivremente a conquista do te _ e á nossa cívílisação, mas em deixar que a opera-
rI~orlO, conseguindo aldeiar algumas dezenas de ção se realise gradualmente e no decurso de algu-
mIlhares de representantes da primitiva população mas gerações, mantendo-se por emquanto os seus
.do Brasil. costumes, sua família, suas idéas moraes, seus ha-
~om a expulsão dos Jesuitas, porém, ficaram as bitos de vida e de trabalho, etc., tudo de accôrdo
alrleias abandonadas, e os Indígenas fugiram para com as theorias pregadas anteriormente pelo gran-
o alto sertao, cessando quasi por completo a fusão de ethnologo brasileiro Couto de Magalhães.
desse elemento com os das outras raças que con-
correram para a mestiçagem brasileira.
Modernamente tem o assumpto preoccupado de LIÇAO XXIX
novo a attenção dos estadistas, empenhados em re-
solver o complicado problema do povoamento do Hlstorlco das idéas republicanas no Brasil
solo, de abrir as nossas florestas ao contacto do
~und?, ~. de incorporar ácivilisação as popula- A adopção do regimen republicano era já um~
çoes Indígenas, aproveítando-as como elemento velha aspiração nacional, manifestada em quasi
util ao nosso progresso. todas as tentativas de autonomia e de independcn-
, D? serviço da catechisação novamente empre- da. Presentida pelos chefes da Inconfidencia mi-
hendido têm resultado já consideraveis benefícios, neira, em 1789; regada com o sangue de Tiraden-
e,.pouco. a pouco, vão sendo aproveitadas as terras tes, e dos martyres de quatro provincias em 1817 e
ainda virgens do. Brasil, onde o selvagem servia 1824; alimentada ainda nas guerras civ~s da Bahia
de obstaculo, m.mtos destes têm sido empregados e do Rio Grande do Sul, durante o período regeu-
nos diversos misteres das industrias extractivas cial; a Republica, implantada em todo o no,:o con-
(p~incipalmente nas da borracha e das pelles de tinente americano, falhou apenas, como unzca ex-
ammaes) e, emb?ra com grande lentidão, vai-se cepção, no Brasil, porque a Independencia foi rea-
removendo o perrgo de uma lucta armada com os lisada de collaboração por elementos nacionaes e
aborigene~, que dominam ainda quasi todo o cen- estrangeiros, com o principe D. Pedro á fr~nte -
tro do paiz, elevando-sa à sua população a varias movimento hybrido de que resultou a adopção pro-
centenas de milhares de individuos. visoria da monarchia, como fructo de uma transa-
A Republi~a não t~m ~es?uid~do d~ tão grave. cção e de uma alliança conciliadora entre Brasilei-
problema e, aínda hoje, sao ínestímaveís os servi- ros c Portuguezes.
1~4 NOÇOES DE HISl'ORIA DO BRASIL HISTORICO DAS IDÉAS REPUBLICANAS NO BRASIL 185
Essa alliança, imposta pelas circumstancias de tivistas, pregadas por Benjamin Constant no curso
momento, como unico meio de garantir a nossa de mathematicas da antiga Escola Militar da Praia
emancipac;ão politica: tinha, porém,. de ser epheme- Vermelha, onde se formaram os espiritos de Lau-
ra e transitor-ia, e adiava apenas a victoria das ve- ro Sodré, Serzedello Corrê a, Jayme Benevolo, Lau-
lhas aspirações democraticas. ro Muller, Athayde Junior, Euclydes da Cunha e
O primeiro ensejo que para essa victoria se of- varios outros officiaes de talento e preparo, que
fereceu, foi a revolução de 7 de abril de 1831 de vieram formar ao lado dos mais decididos propa-
~ue ~esultou a abd~cação; mas as divergenci~s e gandistas da Abolição e da Republica.
rtvalidades das varias facções politicas (a restau-
A victoria do abolicionismo, em 13 de maio de
radora ou r~tro.grada, representada pelos Andra-
das; a co.nstituclOnal, pelos liberaes moderados; e
1888, veio precipitar ainda mais a marcha dos
acontecimentos. O partido republicano, que se or-
a republicana, pelos Franças da Bahia); a fla-
ganisara desde 1870,' recrudesceu de energia e re-
gran!e ~InorIa em que estava o partido federalista,
tomou o antigo posto de combate.
e a fidelidade monarchica da familia Lima c Silva
cntre~a~a!ll os de!ltinos da revolução aos modera~ O Club Tiratuientes e o Centro Lopes Trovão
do~~,dIrIgIdos entao por Evaristo da Veiga e Diogo proseguiram na propaganda. No jornalismo, no
~eIJo,. assegurando a victoria liberal do constitu- professorado, nos comicios e na tribuna das con-
clOnalIsmo, que consolidou a regencia e preparou ferencias recomeçou a agitação, promovida por
o advento do 2. reinado.
0 Quintino Bocayuva, Silva Jardim, Ubaldino do
. Res!lItou d'ahi l11l! novo adiamento, talvez pro- Amaral, Lopes Trovão, Sampaio Ferraz, Francisco
vIdenc~al, da. adopça? do regnnen republicano, Glycerio, Aristides Lobo. Campos Salles, Pru-
que veio a vingar, afmal, em 15 de novembro de dente de Moraes, Rangel Pestana, Pedro Tavares,
1889, em consequencia de causas multiplas, entre Alberto Torres, Nilo Peçanha, Monteiro Manso, As-
ll:s quaes conco~reram: a desmoralisação dos par- sis Brasil, Annibal Falcão e muitos outros.
!Idos .monarchIco~, o exotisI?o das instituições Cahido o gabinete João Alfredo, e, alarmada
lIDpena~s no continente americano, a acção tenaz com a recepção triumphal que tivera Silva Jardim
e ener~ca dos propagandistas, as antipathias e nasprovincias do Norte, para onde partira, seguin-
prevençoes contra o 3. reinado e, finalmente
0 a do de perto a excursão do conde d'Eu, resolveu a
collaboração das classes armadas. ' monarchia entregar a direcção do governo ao ga-
Na realisação do velho ideal dos patriotas de binete reaccionario do visconde de Ouro Preto (7
89 e de 17, o elemento preponderante foi o Exerci- de junho de 1889).
to. Este, que tivera sempre representantes em to- Trazia o novo ministerio como programma es-
das as conspirações e movimentos revolucionarios magar a hydra republicana, sendo, porém, rece-
da. nossa ~istoria~ achava-se penetrado da cultura bido na Camara, pela eloquencia do padre João
philosophíea e príncípalmente das doutrinas posí- Manoel de Carvalho, que terminou o seu vehe-
186 NOÇÕES DE HISTORIA DO BRASIl HISTORICO DAS IDÉAS REPUBLICANAS NO BRASIL 187
mente discurso de opposição aos gritos de "abaixo Foram estes os seus membros:
a Monarchia e viva a Republical"
Chefe - Marechal Deodoro da Fonseca.
Foi enorme a sensação produzida por esse dis-
Ministro da Fazenda - Ru.y ~arbosab·
curso, e menos de seis mezes depois estava realisa- " do Interior - Aristides Lo o.
da a prophecia daquelle antigo membro do partido " "Exterior - Quintino Bocayuva.
conservador.
" da Guerra - Benjamin Constant.
Com o gabinete 7 de junho renovou-se a ques- " "Justica - Campos Salles.
tão militar, que vinha agitando o paiz desde o mi- ., "Mariri'Iha - Eduardo Wandenkolk.
nisterio Cotegipe. Manifestou-se, então e de ma- " "Agricultura - Demetrio Ribeiro.
neira formidavel, a acção de Ruy Barbosa, que, em
artigos sensacionaes, estampados no Diario de No-
ticias, minava impiedosamente os alicerces do thro-
no, desvendando aos olhos do paiz o Plano contra
a Patria, seguido pelo governo, que pretendia sub-
stituir o Exercito pela Guarda Nacional, para pre-
parar o advento do 3° reinado. As edições do Dia-
rio de Noticias succediam-se vertiginosamente, sen-
do os exemplares arrancados da mão dos vende-
dores e distribui dos pelos quarteis. Finalmente,
no dia 9 de novembro foi Bejamim Constant au-
torisado, em sessão secreta do Club Militar, a deci-
dir, em nome da classe, a solução que deviam ter
os acontecimentos.
No dia 11 houve o primeiro conciliabulo em
casa do marechal Deodoro da Fonseca, achando-se
presentes Benjamin, Ruy Barbosa, Quintino Boca-
yuva, Aristides Lobo, Francisco Glycerio, o general
Cantuaria e o coronel Solon.
Quatro dias depois (15 de Novembro) dava-se
o levante de todas as tropas da guarnição, tendo
como consequencias immediatas a proclamação da ,
Republica e a organisação de um Governo Provi-
sorio Constituido pelo Exercito e a Armada em
nome da Nação.
o Brasil Actual
Amazonas 1.894.000
Pará .. 1.150.000
Maranhão 460.000
Piauhy . 301.000
Ceará .. 104.000
Rio Grande do Norte. 57.000
Parahyba .. 74.000
Pernambuco 128.000
Alagôas . 58.000
Sergipe . 39.000
Bahia . 426.000
E. Santo . ·15.000
Rio de Janeiro 69.000
S. Paulo . 290.000
Paraná . 141.000
S. Catharina. . 154.000
Rio Grande do Sul 236.000
Minas Geraes . . 575.000
Goyaz . 747.000
Matto Grosso 1.378.000
Territorio do Acre 190.000
Districto Federa I 1.117
Total. 8.517.117
40 30
~~~-----+----~~----~10
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~~~~~::=-----~-t~Ar.~~::~·~n~~~
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20
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1-"1
BRAZIL POLITICO
Escala
/; /00200 30IJsoa 500 10000Kil.
40
As Datas Nacionaes. -- Os Symbolos da Patria ; a
Bandeira e o Hymno
PRIM;EIRA PARTE
••
E}~tractodo Catalogo da Livraria Francisco Alves
OLAVO FREmE:
ArithmeticaIntuJtiva, curso elementar ........•• ' 2$500
" "curso medio 2$50"0
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1$000
Leituras Moraes o •• o o ••• o •• o o •••••• o • o o ••• o ••••
2$000
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metica - Desenho e MorphOlog.ia Geometrica
- Sciencias p-hysicas e Na.tur-a er ..••••••• o •
6$00&
OLAVO BILAC:
Poesias Infantis • o •••••••••• o ••• o •• o •• o •••••••••
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Patria B: lsileira (Karrativas sobre a Ristoria do
Brasil) ..
o • , ••••••••••••••••••••• o o o • o •• o o •
3$500
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