LóGICA
São Luís
2013
Governadora do Estado do Maranhão Edição
Roseana Sarney Murad Universidade Estadual do Maranhão - UEMA
Núcleo de Tecnologias para Educação - UemaNet
Reitor da uema
Prof. José Augusto Silva Oliveira Coordenador do UemaNet
Prof. Antonio Roberto Coelho Serra
Vice-reitor da Uema
Coordenadora de Tecnologias Educacionais
Prof. Gustavo Pereira da Costa Profª. Maria de Fátima Serra Rios
Central de Atendimento
0800-280-2731
http://ava.uemanet.uema.br
e-mail: comunicacao@uemanet.uema.br
Imaguire, Guido.
123. p.
CDU: 510.6
ÍCONES
APRESENTAÇÃO
INTRODUÇÃO
UNIDADE 1
OBJETO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS ............................................. 15
A tarefa da lógica ........................................................................ 15
Preservação ................................................................................ 17
Verdade ....................................................................................... 18
Formal ......................................................................................... 22
Dedução e Indução ..................................................................... 24
Frases, sentenças, juízos e proposições .................................... 26
Definições .................................................................................... 30
UNIDADE 2
SILOGISMO ARISTOTÉLICO ................................................................. 37
Introdução .................................................................................. 37
Conjuntos ................................................................................... 38
O Silogismo ................................................................................ 45
O Quadrado Lógico das Oposições ........................................... 54
UNIDADE 3
LÓGICA PROPOSICIONAL .................................................................... 61
Introdução .................................................................................. 61
Tautologia, contingência e contradição ................................... 73
Derivações ................................................................................. 77
UNIDADE 4
LÓGICA DE PREDICADOS ................................................................... 93
Termos singulares e predicados ................................................ 94
Variáveis e quantificadores ....................................................... 98
Quantificação com Negação e Equivalência ............................. 101
Fórmulas Complexas ................................................................. 103
Ambiguidade ............................................................................. 110
Regras de Inferência ................................................................. 112
DISCIPLINA: Lógica
Carga horária: 60 horas
EMENTA
Estudo da Lógica Filosófica nos seus traços mais gerais. Alguns
conceitos fundamentais da lógica, em particular, verdade e validade. O
Silogismo de Aristóteles e a teoria de conjuntos. A lógica proposicional,
com tabelas de verdade e regras de inferência. A lógica de predicados
com quantificadores.
OBJETIVOS
Geral
Oferecer uma introdução aos conceitos fundamentais da lógica, e a
alguns sistemas lógicos mais importantes. Treino na habilidade de
raciocínio lógico-formal.
Específicos
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
UNIDADE 1
Conceitos Fundamentais
UNIDADE 2
Teoria de Conjuntos e Silogismo de Aristóteles
UNIDADE 3
Lógica Proposicional
UNIDADE 4
Lógica de Predicados
METODOLOGIA
Os objetivos propostos serão alcançados mediante a leitura das
unidades, videoaulas e desenvolvimento das atividades do fascículo.
Estas ações possibilitarão a compreensão das unidades através de
debates, de realização de seminários e de trabalhos coletivos ou
individuais.
AVALIAÇÃO
A avaliação se dará em função dos objetivos propostos, levando
em consideração: a leitura e compreensão dos textos sugeridos, a
realização das atividades de exercícios lógicos, resolução de problemas
propostos.
APRESENTAÇÃO
Caro estudante,
1
OBJETIVO DESTA UNIDADE
OBJETO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS Apresentar qual a tarefa
da lógica e os seus
principais conceitos,
a saber: argumento,
validade, verdade,
definição e proposição.
A tarefa da lógica
Essas infinitas frases são utilizadas, dentre outras coisas, para expressar
e armazenar informações. Em geral, frases não são enunciadas de
modo aleatório, mas em sequências logicamente organizadas:
contamos uma história em sua ordem cronológica, fazemos discursos
com início, meio, fim etc. Um livro, um artigo, um discurso, são
exemplos de sequências de frases organizadas. A lógica se ocupa
Um argumento é um tipo
com um tipo especial de sequências de frases: os argumentos. particular de sequência ordenada
de frases. Num argumento
as frases iniciais (ou: “a” frase
Em geral, usamos argumentos para convencer outras pessoas de inicial, se for apenas uma) são
designadas de “premissas” e a
alguma suposta verdade. Para isso, partimos de premissas que frase final é chamada “conclusão”.
Esta deve ser uma consequência
consideramos verdadeiras e derivamos logicamente a verdade daquelas.
que defendemos: a conclusão. Se formos bem sucedidos, podemos
dizer que “provamos” nossa conclusão. Usamos argumentos na ciência,
na filosofia, na jurisprudência, e até mesmo no cotidiano para discutir
sobre qualquer assunto: política, religião ou futebol.
Exemplificando:
Sócrates é um homem.
Chove.
Os dois exemplos acima são compostos, cada um, por três frases. As
duas primeiras são as premissas, a terceira e última a conclusão. Note
que nos dois exemplos a conclusão inicia com a palavra “logo”. Embora
essa palavra não seja necessária (tire-a e veja que o conteúdo fica o
mesmo), ela expressa uma ideia fundamental da lógica, talvez a mais
fundamental: a ideia de consequência lógica. Ela indica que a conclusão
é derivada ou inferida das premissas: a conclusão é consequência lógica
das premissas. O que está em jogo é o seguinte: se é verdade que todos
os homens são mortais e que Sócrates é um homem, então se segue
que Sócrates é mortal. Muitas vezes os lógicos também dizem: se as
premissas são verdadeiras, a conclusão será necessariamente verdadeira.
Diremos, então, de modo geral, que a conclusão “é consequência lógica”,
“é derivada”, “é inferida” ou “se segue” das premissas.
16 filosofia
ou “falácias”. Os dois exemplos acima são certamente válidos. Mas veja
o seguinte argumento:
Exemplificando:
Um argumento é chamado
“válido” quando a conclusão é
uma consequência lógica das
(Ex3) Todos os banqueiros são milionários. premissas. Um argumento não
válido é chamado de “falácia”.
João é milionário
Dissemos que a lógica pretende descobrir quando um argumento é bom Lógica é a disciplina que
estuda as leis de preservação
ou ruim. Vimos que o Ex1 e Ex2 são válidos, ao passo que Ex3 é inválido. da verdade.
Preservação
LóGICA | UNIDADE 1 17
um argumento com premissas verdadeiras e conclusão falsa, pode ter
certeza que o argumento não é válido. Se as premissas forem falsas,
porém, a conclusão poderá ser verdadeira ou falsa – nada estará
garantido. Nos exemplos 1 e 2 as premissas garantiram a verdade da
conclusão. No exemplo 3 as premissas não eram suficientes para garantir
a verdade da conclusão.
Verdade
Usamos até aqui a noção de verdade, pressupondo que você sabe o que
é verdade. De fato, se alguém lhe perguntar se é verdade que Berlim é
a capital do Brasil, você certamente dirá que não. Se alguém perguntar
se é verdade que Brasília é a capital do Brasil, você dirá, suponho, que
sim. Isso é assim porque você já sabe o que é “ser verdadeiro” ou “ser
falso”. Claro que se alguém lhe perguntar se é verdade que o Flamengo
ganhou a última partida, e você não estiver informado, poderá não
saber responder. Mas isso não se deve ao fato de você não saber o que
significa ser verdadeiro ou ser falso. Você sabe o que deve ter acontecido
Aristóteles é um filósofo para que isso seja verdade. Você simplesmente não sabe o que, de
grego, nascido em Estagira
em 384 a.C., e que defendeu fato, aconteceu no último jogo. Por isso, tradicionalmente os filósofos
a teoria da verdade como
correspondência. Você definem verdade como correspondência com realidade: uma frase é
aprenderá mais sobre ele no
próximo capítulo, pois ele verdadeira apenas se ela corresponde aos fatos da realidade. Se ela não
também criou o primeiro
sistema lógico. corresponde, ela é falsa. Essa teoria é chamada teoria da verdade como
correspondência, e é até hoje a teoria mais difundida. Mas, como tudo na
filosofia, essa definição é controversa.
Coerência
18 filosofia
falsidade. Comparamos frases com outras frases, sempre no contexto
de um sistema de frases consideradas verdadeiras, ou seja, de teorias
completas. Para esta teoria, uma frase é verdadeira se é coerente com o
resto do corpo teórico aceito pela comunidade.
Consenso
Para outros, que defendem a teoria da verdade como consenso, uma frase
é verdadeira se houver uma concordância a seu respeito em condições
ideais de reflexão e diálogo. Condições ideais são dadas quando todos
os participantes têm voz, não há coerção de poder de um sobre outro
etc. Essa teoria é mais popular no âmbito da filosofia política e ética,
onde se lida com verdades sobre valores e normas.
Pragmática
Redundância
LÓGICA | unidade 1 19
Metalinguística
Fonte: http://segr-did2.fmag.unict.it/~polphil/
polphil/Pictures/Tarski.JPG
20 FILOSOFIA
(i) Brasília é a capital do Brasil.
A priori x a posteriori
Você deve concordar que todas estas frases são verdadeiras. Mas também
deve ter percebido que elas são verdadeiras de diferentes modos. A
primeira frase (i) é verdadeira de modo contingente, ela poderia ser falsa.
Por puro raciocínio você não descobriria que ela é verdadeira. Você sabe
que (i) é uma verdade porque você é bem informado, graças a livros,
jornais, aulas ou internet. Ou seja, você precisa da experiência empírica
para saber essa verdade. Por isso, ela é dita uma verdade a posteriori.
Já (ii) é uma verdade independente da experiência: você nem precisa
ver o vestido da princesa para saber que é verdade que se ele for azul,
não será vermelho. Se ele, de fato, é azul, ou se é vermelho, isso não
importa. Como você não precisa de experiência (mais exatamente: da
experiência particular de ver o vestido) para reconhecer essa verdade,
(ii) é dita uma verdade a priori (“antes da experiência”).
Analítico x sintético
LÓGICA | unidade 1 21
Tautologia x Contingência
Formal
Você certamente já ouviu falar que a lógica é uma disciplina formal. Mas
o que isso quer dizer exatamente? Tome novamente nosso argumento
(Ex1) acima:
Exemplificando
Sócrates é um homem.
Substitua “homens” por “A”, “mortais” por “B” e, finalmente, “Sócrates” por
“x”. Você terá então
x é um A.
Logo, x é B.
22 filosofia
Você deve perceber que o argumento continua válido. Fica claro
assim que a validade do argumento nada tinha a ver com os conceitos
materiais (“materiais” porque tem um conteúdo, tem a ver com o mundo)
homem, mortal e Sócrates. Todo argumento da forma (Ex1*) será válido,
independente dos termos que você usar no lugar de A, B e x. Aliás, note
que até mesmo.
Pelé é chinês.
é válido! Claro que todas as frases são falsas, incluindo a conclusão. Mas
como ele tem a forma de (Ex1*), ele é logicamente válido. Como dissemos,
a lógica garante que se as premissas forem verdadeiras, o argumento
válido garante a verdade da conclusão. Como em (Ex3) as premissas não
são válidas, a conclusão pode não ser verdadeira. Às vezes até acontece
de, partindo de premissas falsas, por acaso, chegarmos a uma conclusão
verdadeira.
Exemplificando
é logicamente válida. Assim, formal significa que o que importa no Dizemos que a lógica é formal
porque ela não se importa com
argumento é sua forma, a sua estrutura, não seu conteúdo específico. o conteúdo, mas apenas com a
forma dos argumentos.
LóGICA | UNIDADE 1 23
Universalidade
Dedução e Indução
24 filosofia
Exemplificando
Esse argumento não passa do geral para o particular, mas mesmo assim,
ele é corretamente classificado como dedutivo. Assim, uma melhor
caracterização da distinção seria: uma dedução, quando parte de
premissas verdadeiras, garante a verdade da conclusão; uma indução,
mesmo quando parte de premissas verdadeiras, não garante a verdade
da conclusão. A indução pode tornar plausível ou provável a conclusão,
mas não é suficiente para garantir a sua verdade.
Exemplificando
LóGICA | UNIDADE 1 25
Todos nós fazemos uso desse tipo de raciocínio diariamente. É claro que
a conclusão, como no caso da indução, não é garantida pelas premissas.
Maria poderia ser uma garota de 15 anos. Mas, convenhamos, é bastante
improvável. A força do argumento abdutivo vem do que se poderia
Raciocínios abdutivos chamar de “efeito de tipicalidade”. Tipicamente, idosas usam bengalas
muitas vezes manifestam
preconceitos. Você e tricotam em cadeiras de balanço. Garotas de 15 anos tipicamente não
consegue dar um exemplo
de um raciocínio abdutivo fazem isso. Note, porém, que esse argumento não é puramente formal,
preconceituoso? Cuidado com
eles!
no sentido que definimos acima. Não há como substituir “bengala”,
“lencinho”, “tricotar” etc., por variáveis A, B, e x mantendo a sua
plausibilidade. Na abdução, os termos materiais ocorrem de maneira
relevante para o raciocínio.
Até agora usamos o termo “frase” para nos referir à unidade básica de
comunicação e como constituinte básico também dos argumentos.
Algumas vezes, a filosofia introduz expressões técnicas para fazer
distinções que não são comuns ou não são claras na linguagem
coloquial. Assim, lógicos e filósofos da linguagem têm usado o termo
“sentença” para designar essa entidade da linguagem que corresponde
ao que os gramáticos chamam de “frase”, “oração” ou “período”. Assim,
“a neve é branca”, “Sócrates é mortal” e “todos os homens são mortais”
são exemplos de sentenças. Aliás, elas constituem um tipo particular
de sentenças: as sentenças declarativas ou descritivas. Essas sentenças
se caracterizam por pretender descrever a realidade. Assim, elas
têm caracteristicamente a qualidade de serem verdadeiras ou falsas.
Segundo a teoria correspondencial da verdade, uma sentença é
verdadeira quando corresponde à realidade, e falsa no caso contrário.
Como lógica tem a ver com preservação de verdade, ela só se ocupa
com sentenças declarativas.
26 FILOSOFIA
Note que nem todas as sentenças expressam uma informação ou
descrevem a realidade. Por exemplo, “que horas são?” e “fecha a porta!”
não pretendem descrever a realidade, e não são declarativas. Elas são
respectivamente sentenças interrogativas e imperativas.
Juízo
Existem coisas muito parecidas com as sentenças e que são, muitas vezes,
confundidas com estas: os juízos e as proposições. Um juízo não é algo
linguístico como a sentença, mas algo mental, um pensamento. Imagine
que um amigo me pergunta qual eu considero o melhor time carioca.
Como eu sei que esse amigo é um flamenguista fanático, e eu não quero
magoá-lo, eu posso lhe dizer que o Flamengo é o melhor time, apesar
de eu julgar, no silêncio da minha mente, que o Vasco é melhor. Juízo é
uma entidade mental, algo que ocorre na mente de sujeitos pensantes.
Um juízo pode ser expresso na forma de uma sentença. Mas, no caso da
mentira, por exemplo, posso julgar algo e dizer o contrário do que julgo.
Proposição
LóGICA | UNIDADE 1 27
Sentença, juízo e proposição são similares em alguns sentidos: elas são
unidades mínimas de informação e conteúdo, podendo ser verdadeiras
ou falsas. Lembre os nossos exemplos 1, 2 e 3: todos eles poderiam ser
pensados como contendo sentenças, juízos ou proposições. Do ponto
de vista puramente lógico, nada mudaria. Assim, é natural que os lógicos
fiquem um pouco incertos a respeito da questão sobre qual delas eles
devem tomar como seu material básico. No período moderno era normal
considerar o juízo a categoria mais fundamental. Lógica seria a disciplina
que nos orienta a manipular corretamente nossos pensamentos e
juízos. Immanuel Kant, por exemplo, pensava desta forma. Na filosofia
contemporânea encontramos basicamente defensores da sentença (da
linguagem) e defensores da proposição (conteúdos abstratos) como
material básico da lógica. Mais adiante estudaremos um tipo particular
de lógica, que alguns preferem chamar de “lógica sentencial” enquanto
outros chamam de “lógica proposicional”. No fundo, trata-se exatamente
da mesma lógica, apenas a ideologia filosófica se distingue. Mas isso não
precisa nos preocupar agora.
Palavras e Conceitos
28 filosofia
PROBLEMAS COM SENTENÇAS
Ambiguidade
Exemplificando
LóGICA | UNIDADE 1 29
Vagueza
Exemplificando
Pedro é cabeludo
Esse argumento parece válido. Mas note que, se ele fosse realmente
válido, ele implicaria que depois de 60 anos, quando Pedro só tem 2 fios
de cabelo, ainda é cabeludo, o que é um absurdo.
Definições
30 FILOSOFIA
O sinal de igualdade entre as duas expressões com seu índice “def.” indica
que podemos compreendê-las como equivalentes, uma estabelecendo
o significado da outra. Nesta definição, a expressão “ser humano” é
definida utilizando, como recurso, a igualdade à expressão “animal
racional”. Assim, alguém que conhece os significados dos termos “animal”
e “racional” pode aprender o que significa a expressão “ser humano”.
Exemplificando
Exemplificando
LÓGICA | unidade 1 31
reta =def. a curva mais curta entre dois pontos
32 FILOSOFIA
“vermelho”. Isso também não deixa de ser uma forma de definir, por
assim dizer, via amostragem.
LÓGICA | unidade 1 33
Resumo
Dê um exemplo de:
34 filosofia
Responda: pode haver um argumento válido com
premissas verdadeiras e conclusão falsa?
HAACK, S. Filosofia das Lógicas. São Paulo: UNESP, 2002. Tradução de:
Cezar Augusto Mortari e Luiz Henrique Dutra.
LóGICA | UNIDADE 1 35
UNIDADE
2
OBJETIVO DESTA UNIDADE
SILOGISMO ARISTOTÉLICO Apresentar algumas
noções essenciais da
teoria de conjuntos bem
como o primeiro sistema
lógico da história, o
Silogismo de Aristóteles.
Introdução
Conjuntos
Exemplificando
B = {a, b, c}
ao invés de
38 FILOSOFIA
A = {a, b, c, d, e, f, g, h, i, j, k, l, m, n o, p, q, r, s, t u, v, w, x, y, z}
ou simplesmente:
P = {0, 2, 4, 6, ...}
Pertinência
Ana ∈ B
Pelé ∉ B
Vejamos:
D = {h, i, j}
{Paulo, D, 4}
LóGICA | UNIDADE 2 39
Atenção! embora o conjunto D seja elemento do conjunto E, isso não
significa que seus elementos o sejam também. Nem h, nem i, nem j são
elementos do conjunto E. Usando nossos símbolos:
D E e h D, mas h ∉E
Continência
Observe:
A = {a, b, c}
B = {a, b, c, d, e}
Então, A ⊂ B.
a b c
d e
R = {f, i, l, o}
R o S
S = {s, o, f, i, a} l f a s
i
Logo, R ⊄ S.
40 FILOSOFIA
O elemento “l” do conjunto R não está presente no conjunto S,
portanto, R não está contido em S. Os elementos “a” e “s”, por sua vez,
estão em S, mas não estão em R. Assim, S também não está contido em
R. Mas eles têm uma interseção comum: os elementos “f”, “i” e “o”
constituem essa interseção.
Conjuntos Especiais
Exemplificando
{ } ou
LóGICA | UNIDADE 2 41
Atenção! não confunda o conjunto vazio com o conjunto {}, este é o
conjunto unitário que tem como único elemento o conjunto vazio.
Exemplificado
N = {0, 1, 2, 3, 4, ...}
P = {0, 2, 4, 6, 8, ...}
I = {1, 3, 5, 7, 9...}
D ⊂ P e P⊂N
42 FILOSOFIA
“tamanho” – que ele chamou de “cardinalidade”. Cardinalidade é, por
assim dizer, a medida do tamanho de um conjunto. Mas ele foi além
disso: ele descobriu que alguns infinitos são ainda maiores que todos
estes “pequenos” infinitos que mencionamos acima. Esses infinitos
“pequenos” ele chamava de “infinitos enumeráveis”. Mas existem
infinitos ainda maiores, como por exemplo, o conjunto de todos os
conjuntos de números naturais, o chamado “conjunto potência do
conjunto dos naturais”, P(N) (logo abaixo definiremos “conjunto
potência”):
P(N) = {, {1}, {2}, ..., {2, 3, 4}, {2, 3, 5},... {2, 3, 4,...}, P, I, D, N, ...}
Note que esse conjunto tem como elementos o conjunto vazio, vários
conjuntos unitários, vários conjuntos finitos e vários conjuntos infinitos.
Esses conjuntos infinitos “maiores” são chamados “não-enumeráveis”
porque não há maneira de colocar todos seus elementos numa
listagem simples (note que “...” ocorrem várias vezes na tentativa de
representação acima). Bem, não entraremos mais nos detalhes dessa
fascinante teoria, mas há bastante literatura a respeito para quem
quiser se aprofundar.
X∪Y=Z
LóGICA | UNIDADE 2 43
Na linguagem, essa união é representada pelo “ou”: o conjunto de
todos os homens ou mulheres é o conjunto união, o conjunto de todos
os humanos.
X ∩ Y= Z
X’ ou X
X~Y=Z
P (X)
44 FILOSOFIA
Por exemplo, um conjunto A = {a, b, c}:
Atividades: para fixar o que foi visto até aqui, tente resolver as
atividades 1 e 2 no final desta unidade. Se tiver dúvidas, melhor não
seguir em frente. Leia mais uma vez, até que tudo tenha ficado claro.
O Silogismo
LÓGICA | unidade 2 45
é a dedução de uma conclusão a partir de duas premissas. Tanto a
conclusão quanto as premissas são juízos ou proposições que você já
aprendeu a distinguir no capítulo anterior. Um exemplo de silogismo é
a dedução:
T1 c T2
Quantidade:
3) Proposições singulares: Um S é P.
46 FILOSOFIA
Qualidade:
LÓGICA | unidade 2 47
“homens”, “mortais” e “filósofos”. O termo médio sempre aparece
nas duas premissas, no caso, homens. Sabendo-se a relação entre
homens e mortais e entre homens e filósofos, podemos inferir a relação
entre filósofos e mortais. Observe que o termo médio desaparece na
conclusão, e só restam os termos que apareceram apenas uma vez nas
premissas.
Para ilustrar:
M c P P c M M c P P c M
S c M S c M M c S Mc S
S c P S c P S c P S c P
48 FILOSOFIA
Primeira Figura
Todo M é P Nenhum M é P
Todo S é M Todo S é M
Todo S é P Nenhum S é P
Todo M é P Nenhum M é P
Algum S é M Algum S é M
Barbara: Celarent
P M P M
S S
Darli: Ferio:
P M P M
S S
LÓGICA | unidade 2 49
A relação “todo X é Y” é representada com o conjunto X dentro do
conjunto Y. A relação “nenhum X é Y” é representada com os conjuntos
separados. A relação “algum X é Y” é representada com um elemento (a
bolinha preta) X dentro do conjunto Y. E, finalmente, a relação “algum
X não é Y” é representada com um elemento X fora do conjunto Y
(ainda não ocorreu nessa figura, mas ocorrerá logo abaixo).
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Venn-
stainedglass-gonville-caius.jpg
Segunda Figura
P c M
S c M
S c P
Nenhum P é M Todo P é M
Todo S é M Nenhum S é M
Nenhum S é P Nenhum S é P
50 FILOSOFIA
7. Modo Festino (EIO) 8. Modo Baroco (AOO)
Nenhum P é M Todo P é M
Cesare Camestres
P M
S M P S
Festino Baroco
P M
M P
S
S
Terceira Figura
M c P
M c S
S c P
Todo M é P Algum M é P
Todo M é S Todo M é S
Algum S é P Algum S é P
LÓGICA | unidade 2 51
11. Modo Datisi (AII) 12. Modo Felapton (EAO)
Todo M é P Nenhum M é P
Algum M é S Todo M é S
Algum M é S Todo M é S
Quarta Figura
Todo P é M Todo P é M
Todo M é S Nenhum M é S
Algum S é P Nenhum S é P
52 FILOSOFIA
17. Modo Fesapo (EAO) 18. Modo Dimatis (IAI)
Nenhum P é M Algum P é M
Todo M é S Todo M é S
Exercitando:
Os escolásticos eram os
filósofos dominantes nas
universidades medievais
Os escolásticos inferiram alguns princípios silogísticos que vão nos ser europeias entre os séculos
XII e XVI. Eles se dedicaram
úteis neste estudo. Atente: muito ao estudo das obras
de Aristóteles, diferente dos
filósofos medievais anteriores
que preferiam as obras de
1) De meros particulares nada se segue: em nenhum dos modos acima, Platão.
LÓGICA | unidade 2 53
O Quadrado Lógico das Oposições
complementares ou subcontrários
Vejamos:
Fato é que algumas bailarinas são graciosas, outras não. Logo, as duas
proposições são falsas. Ou imagine um vestido, e as proposições:
O vestido é azul
O vestido é vermelho
54 FILOSOFIA
Pelo menos uma das duas proposições é verdadeira. Um detalhe
importante: no silogismo, quando se diz “alguns T1 são T2” isso não
implica que “alguns (outros) não são”. A rigor, o que se quer dizer é
que “pelo menos” alguns T1 são T2 (inclusive, talvez, todos). O mesmo
vale agora para o par de proposições:
O vestido é azul.
Independente da cor do vestido, pelo menos uma delas é verdadeira Você sempre usou “contrário”
e “contraditório” como
(se ele for por exemplo branco, a segunda proposição é verdadeira). sinônimo, não é mesmo?
Agora que você sabe a
diferença, procure sempre
Bem, agora você está em condições de resolver todas as atividades fazer a distinção. Tente
pensar em exemplos de
desta unidade. Se eventualmente, ao tentar responder às questões, frases contraditórias e frases
contrárias.
surgir dificuldades, releia o material.
Dados os conjuntos:
A = {d, e, f, g, h}
B = {a, b}
C = {x | x é uma vogal}
D = {e, i}
E = {m}
F = {v}
G = {x | x é uma consoante}
I = {o}
J = {u, m}
01) F ⊂ G
02) A ∩ B = ∅
03) J ⊂ G
LóGICA | UNIDADE 2 55
04) E ∈ G
05) F ∪ E = J
06) (J ~ E) ∪ I ∪ D = C
07) A ⊂ B’
08) I ∈ G’
09) ∅’ ⊂ U
10) o ∈ C
11) ∅ ∉ (C ∪ G)
Obtenha:
01) A ∪ J
02) C ∩ G’
03) A ∩ D
04) D ∪ ∅
05) J ∩ C
06) (I ∪ J ∪ D) ∩ C
03) A~ = A
04) A~U =
07) (~U)
09) Se A B = , então A B’
10) Se A B = , então B A’
56 FILOSOFIA
11) Se A B = A B, então ou A = ou B =
14) Se A C e B C, então ou A B ou B A
Ana é bailarina___________
Ana é elegante
LÓGICA | unidade 2 57
f) Todo músico é cantor
Pluto é desleal_____________
j) Sócrates é filósofo
a) Algum A é B
Nenhum B é D
Todo B é C__
b) Todo A é B
Todo C é D
Nenhum B é D
58 FILOSOFIA
6 Observe as proposições:
- contrárias:
- contraditórias:
- complementares:
- subalternas:
LÓGICA | unidade 2 59
Resumo
60 FILOSOFIA
unidade
3
Objetivo dESTA unidade
Lógica Proposicional
Apresentar a linguagem
da lógica proposicional:
proposições e conectivos.
Verificar o valor de
verdade de proposições
através de tabelas de
verdade. Aprender a
derivar proposições a
partir de premissas.
Fonte: http://w3.ufsm.br/filosofia/
wp-content/plugins/s3slider-plugin/
files/57_s.jpeg
Introdução
(1) P e Q
(2) P ou Q
Isto quer dizer que Maria está em casa ou João está em casa. Se alguém lhe
dissesse isso e você fosse à casa de Maria e João e ninguém estivesse lá para
atender a porta, você ficaria muito chateado e chamaria a pessoa que lhe
passou essa informação de mentirosa, aposto. Mas, diferente do caso (1),
você no caso (2) já não espera que os dois estejam em casa – basta um deles.
(3) Se P, então Q
62 FILOSOFIA
O que você esperaria agora? Que ambos estejam em casa? Ou que
apenas um deles esteja? Bem, o que essa proposição parece indicar é
uma relação de dependência entre Maria estar em casa e João estar em
casa: sempre que Maria está em casa, então João também está. Podem
estar ambos em casa, pode ninguém estar em casa. O que não pode
acontecer, porém, é que Maria esteja e João não esteja.
Negação
Exemplificando:
(1) ¬P
V= verdadeiro P ¬P
V F
F= falso F V
LÓGICA | unidade 3 63
A primeira coluna da tabela simplesmente diz quais as possibilidades
de valor de verdade P tem: pode ser verdadeiro (1ª linha) ou falso
(2ª linha). Lendo a tabela, vemos exatamente que quando P é
verdadeiro, ¬P é falso e quando P é falso, então ¬P é verdadeiro.
Simples, não é? O que podemos dizer ainda sobre a negação? Bem,
ela pode ser aplicada à mesma proposição quantas vezes quisermos, veja:
(2) ¬¬P
(3) ¬¬¬P
(4) ¬¬¬¬P
64 FILOSOFIA
Conjunção
Vimos acima que podemos usar um conectivo para dizer que duas
coisas acontecem ao mesmo tempo. Na linguagem natural, usamos
a conjunção “e”, mas na lógica utilizamos o símbolo Ù para exercer
essa função. Veremos daqui a pouco que existe certa diferença entre
a conjunção “e” e o conectivo Ù. O que nos importa agora é entender
o conectivo lógico, então vamos. Observe como traduzimos para a
linguagem formal a proposição “Maria e João estão em casa”, que
vimos anteriormente:
(1) P Ù Q
P Q PÙQ
V V V
V F F
F V F
F F F
LóGICA | UNIDADE 3 65
(2) Eu acordei e escovei os dentes.
(3) P Ù Q = Q Ù P
Como a conjunção não tem
sentido temporal, para expressar Ainda falta esclarecer algumas coisas antes de começarmos a exercitar
relações temporais os lógicos
criaram “lógicas temporais”.
nossos novos conhecimentos. Já aprendemos até aqui a negação
Hoje em dia, tem lógica para e a conjunção, agora vamos misturar tudo e ver no que dá. Veja as
quase tudo!
proposições:
(4) Ø (A Ù B)
(5) (Ø A Ù Ø B)
Disjunção
66 FILOSOFIA
dizer que pelo menos uma das duas proposições acontece. Observe a
formalização de “Maria ou João está em casa”:
(1) P Ú Q
P Q PÚQ
V V V
V F V
F V V
F F F
Aqui, fica claro que Pedro não poderá casar com as duas, visto que
bigamia é crime na nossa sociedade. Então como fazer? Digamos que:
(3) J Ú M
(4) (J Ú M) Ù Ø (J Ù M)
LÓGICA | unidade 3 67
Ou seja, (3) está incompleta porque o que ela na verdade diz é que Pedro
casará com Joana ou Mariana ou com as duas. Temos que eliminar a
possibilidade de Pedro casar-se com ambas! Então escrevemos (4) que
significa, em linguagem natural, “Pedro casará com Joana ou Mariana
e não com as duas juntas”. Observe que a parte “Ù Ø (J Ù M)” de (4)
significa exatamente “e não com Joana e Mariana ao mesmo tempo”.
(5) P Ú Q = Q Ú P
(6) Ø (A Ú B)
(7) (Ø A Ú Ø B)
R = Roberto é brasileiro
S = Solange é argentina
68 FILOSOFIA
Formalizando:
(8) ØP Ù Q
(9) R Ú S
(10) (P Ù Q) Ú (R Ù S)
Fonte: http://rompedas.files.wordpress.
com/2012/03/ludwig-josef-johann-
wittgenstein1.jpg
Implicação
(1) P ® Q
LÓGICA | unidade 3 69
Entretanto, não é verdade que a implicação sempre representa uma
relação de causalidade. Isto vai depender do caso, por exemplo,
podemos escrever:
R= Roberto é brasileiro
(2) P ® R
Isto quer dizer que se Maria está em casa, então Roberto é brasileiro.
Não podemos afirmar de maneira alguma que Maria estar em casa é a
causa de Roberto ser brasileiro, concorda?
P Q P®Q
V V V
V F F
F V V
F F V
(3) P ® Q Q®P
70 FILOSOFIA
Atividades
Formalize:
(4) Se Maria e João estão em casa, então seus filhos também estão.
Resposta:
(4) (P Ù Q) ® (C Ù D)
(5) (C Ú D) ® P
(6) (Q ® D) Ù (P ® C)
Dupla Implicação
A dupla implicação representa uma relação de dependência mútua Assim como implicação é
chamada de condicional material,
entre as proposições. Uma só acontece se a outra também acontecer. a dupla implicação também
é chamada por muitos de
Na linguagem usamos a expressão “se e somente se” para tratar de uma bicondicional
relação como essa e, na lógica, usamos o símbolo « para representá-la.
Veja:
(1) P « Q
P Q P«Q
V V V
V F F
F V F
F F V
LóGICA | UNIDADE 3 71
Acrescentando: aqui também existe comutatividade, então a ordem
das proposições não importa:
(2) P « Q = Q « P
Atividades
(1) Formalize:
C = Cris é muçulmana
D= Daniel é luterano
72 FILOSOFIA
Respostas:
a) B Ù A Ù C
b) Ø D Ù C
c) B Ù Ø A
d) Ø C Ú E
e) B Ú ØA
f) D ® (B Ù A)
g) Ø E ® C
h) (ØA Ù ØB) « E
i) ØD « (A Ú B Ú E)
Mas de que nos serve isso tudo afinal? Agora que nós aprendemos a
formalizar, o que fazer com isso? Pois é, nesta seção vamos aprender
a observar as proposições formais, com todos os conectivos que têm
direito, e analisar seu valor de verdade em qualquer situação! Não
ficou tão animado quanto eu? Então espere e veja a mágica da lógica
acontecer.
Já dissemos que lógica tem a ver com verdade. Pois bem, imagine que
alguém lhe pergunte se uma proposição qualquer, digamos (ØA Ú ØB)
é verdadeira ou falsa. O que você diria? Bem, a lógica deve poder decidir
isso. Mas como ela resolve? Simples, usando as tabelas de verdade que
você já conhece, só que de modo um pouco mais complicado agora.
A tabela para fórmulas complexas começa, como sempre, atribuindo
às proposições atômicas A e B todas as quatro combinações possíveis
(isso ocorre nas duas primeiras colunas): VV, VF, FV, FF. Depois, para
LÓGICA | unidade 3 73
cada fórmula molecular, teremos uma nova coluna. No nosso caso:
uma para ØA, uma para ØB e uma, finalmente, para a fórmula toda ØA
Ú ØB. Ela fica assim:
A B ØA ØB ØA Ú ØB
V V F F F
V F F V V
F V V F V
F F V V V
74 FILOSOFIA
Você diria que ela é verdadeira ou falsa? Um pouco complicado dizer,
não é? Então vamos pra tabela:
(2) A Ù ØA
A ØA AÙØA
V F F
F V F
LóGICA | UNIDADE 3 75
Vejamos, finalmente, uma terceira proposição:
(3) (A Ù ØA) « ØB
Tautologias: somente V
Contradições: somente F
Atividades
b) (A Ú B) ® (A Ù B)
c) ((A ® B) ® ØB) ® A
Respostas
a) Tautologia
b) Contingência (V, F, F, V)
c) Tautologia
d) Contradição
76 FILOSOFIA
Derivações
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/b/bc/
Gerhard_Gentzen.jpg/220px-Gerhard_Gentzen.jpg
(1) A Ù B , B Ù C ├ AÙC
1. A Ù B premissa
2. B Ù C premissa
LÓGICA | unidade 3 77
3. A EC 1
4. C EC 2
5. A Ù C IC 3,4 (conclusão)
Mas agora vamos aprender todas as regras e você vai ver que fica mais
fácil.
Regras da Conjunção
αÙβ e αÙβ α
α β β___
αÙβ
78 FILOSOFIA
Agora é sua vez, use as duas regras que você aprendeu.
Atividades
a) (A Ù B) Ù (C Ù D) ├ B Ù D
b) A Ù ¬B , C Ù D ├ DÙA
Respostas:
3. (C Ù D) EC 1
4. B EC 2
5. D EC 3
6. B Ù D IC 4,5
b) 1. A Ù ¬B premissa
2. C Ù D premissa
3. A EC 1
4. D EC 2
5. D Ù A IC 3,4
2. (¬A Ù ¬B) EC 1
3. (¬A Ù C) EC 1
LóGICA | UNIDADE 3 79
4. ¬A EC 2
5. ¬B EC 2
6. C EC 3
7. ¬B Ù C IC 5,6
8. (¬B Ù C) Ù ¬A IC 4,8
Regras da Disjunção
80 FILOSOFIA
você a um erro. Ela só espelha o significado da disjunção: Se “A” é V,
então “AÚB” também é, não importa o que B seja. Afinal, como você
lembra, basta que uma parte da disjunção seja verdadeira para que
toda a fórmula seja verdadeira.
(1) A Ú B , ¬ B Ù C ├ (A Ù C) Ú D
1. A Ú B premissa
2. ¬ B Ù C premissa
3. ¬B EC 2
4. C EC 2
5. A ED 1,3
6. A Ù C IC 4,5
7. (A Ù C) Ú D ID 6
Atividades
a) (A Ú B) , (ØC Ù ØB) ├ A Ù ØC
b) (ØA Ú ØB) , (B Ù C) ├ ØA Ú B
LóGICA | UNIDADE 3 81
Respostas:
a) 1. (A Ú B) premissa
3. ØC EC 2
4. ØB EC 2
5. A ED 1,4
6. A Ù ØC IC 3,5
2. (B Ù C) premissa
3. B EC 2
4. ØA Ú B ID 4
c) 1. (ØA Ù B) premissa
2. (C Ù ØD) premissa
3. ØA EC 1
4. B EC 1
5. (ØA Ú C) ID 3
6. (B Ú ØD) ID 4
82 FILOSOFIA
Regras da Implicação
α®β β___
α___ α®β
Você pode achar um pouco de exagero ter tantas regras. Mas lembre
que elas estão aí para nos ajudar. Cada regra nos ajuda a inferir alguma
coisa nova. Assim, quanto mais regras tivermos, mais fácil fica inferir
coisas. Regras são como que ferramentas: quanto mais ferramentas
nós temos à disposição, mais fácil fica de se construir alguma coisa
bacana, não é mesmo?
(3) A ® B , A Ù C ├ C®B
1. A ® B premissa
LÓGICA | unidade 3 83
2. A Ù C premissa
3. A EC 2
4. B MP 1,3
5. C ® B Cond. 4
Atividades
a) (A Ù B) , (B ® ØC) ├ A Ù ØC
b) (A ® B) , (B ® C) , A ├ C
c) (A Ú B) , (A ® ØC) Ù ØB ├ D ® ØC
Respostas:
a) 1. (A Ù B) premissa
2. (B ® ØC) premissa
3. A EC 1
4. B EC 1
5. ØC MP 2,4
6. A Ù ØC IC 3,5
b) 1. (A ® B) premissa
2. (B ® C) premissa
3. A premissa
4. B MP 1,3
5. C MP 2,4
84 FILOSOFIA
c) 1. (A Ú B) premissa
2. (A ® ØC) Ù ØB premissa
3. ØB EC 2
4. A ® ØC EC 2
5. A ED 1,3
6. ØC MP 4,5
7. D ® ØC Cond. 6
α®β
β®α α«β e α«β
(4) A«B, C Ù B ├ B « (A Ù C)
1. A«B premissa
2. C Ù B premissa
3. B ® A EDI 1
4. B EC 2
LÓGICA | unidade 3 85
5. C EC 2
6. A MP 3,4
7. A Ù C IC 5,6
8. B ® (A Ù C) Cond. 7
9. (A Ù C) ® B Cond. 4
Atividades
a) (A ® B) Ù C , B ® A ├ A « B
b) (A « B) Ú C , D Ù ØC ├ A ® B
c) (A ® C) Ú ØA , (C ® D) Ù (D ® A) , ØØA ├ A « D
Respostas:
a) 1. (A ® B) Ù C premissa
2. B ® A premissa
3. A ® B EC 1
4. A « B IDI 2,3
b) 1. (A « B) Ú C premissa
2. D Ù ØC premissa
3. ØC EC 2
4. A « B ED 1,3
5. A ® B EDI 4
86 FILOSOFIA
c) 1. (A ® C) Ú ØA premissa
2. (C ® D) Ù (D ® A) premissa
3. ØØA premissa
4. A ® C ED 1,3
5. C ® D EC 2
6. D ® A EC 2
7. C MP 3,4
8. D MP 5,7
9. A ® D Cond. 8
Ok, deixamos o melhor para o final. Você já deve ter ouvido falar em Essa regra também poderia ser
chamada de regra de “introdução
argumento por redução ao absurdo, não é? É um tipo de argumento da negação”. Mas, assim como a
regra modus ponens, ela tem um
muito usado na filosofia, mas também na matemática e até no dia a belo nome medieval, que merece
ser preservado.
dia. Veja uma situação cotidiana: “se você acha que João está agora na
Itália, então ele atravessou o Atlântico em 15 minutos, porque eu acabo
de ver ele na esquina”. Ora, é claro que ninguém pode atravessar o
Atlântico em 15 minutos. Conclusão: João NÃO está agora na Itália.
Vamos ver como isso funciona na Lógica Proposicional:
α®β
α®Øβ
Øα
LÓGICA | unidade 3 87
Veja esse exemplo de derivação usando a regra RA:
(5) A ® B , ØB ├ ØA
1. A ® B premissa
2. ØB premissa
3. A ® ØB Cond. 2
4. ØA RA 1,3
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/2c/De_
Morgan_Augustus.jpg
Atividades
88 FILOSOFIA
Derive a partir das premissas:
a) A « B , A « ØB ├ ØA
b) (A ® B), C ®ØB, C ├ ØA Ú D
c) (B ® C) Ù (A Ù ØC) , (B ® ØC) Ú ØA ├ ØC ® ØB
Respostas:
a) 1. A « B premissa
2. A « ØB premissa
3. A ® B EDI 1
4. A ® ØB EDI 2
5. ØA RA 3,4
b) 1. (A ® B) premissa
2. C ®ØB premissa
3. C premissa
4. ØB MP 2,3
5. A ® ØB Cond. 4
6. ØA RA 1,5
c) 1. (B ® C) Ù (A Ù ØC) premissa
2. (B ® ØC) Ú ØA premissa
3. B ® C EC 1
4. A Ù ØC EC 1
5. A (=ØØA) EC 4 e DN
6. B ® ØC EC 2,5
7. ØB RA 3,6
8. ØC ® ØB Cond. 7
LÓGICA | unidade 3 89
Pronto! Agora você já conhece todas as regras da Lógica Proposicional.
Com elas você pode provar logicamente tudo o que quiser em nesse
sistema lógico. Dizemos que esse conjunto de regras é completo por
isso: não existe nenhuma relação de conseqüência lógica que não
possa ser capturado por essas regras. Isso não é fantástico? Como se
provou isso? Bem, para isso usamos algo chamado “meta-lógica”. Mas
isso é tema para um curso de lógica avançado.
Resumo
90 FILOSOFIA
DA COSTA, N. Ensaio sobre os Fundamentos da Lógica. São Paulo:
Hucitec, EDUSP, 1980.
LóGICA | UNIDADE 3 91
unidade
4
Lógica de Predicados Objetivo dESTA unidade
Nesta unidade
estudaremos o
sistema lógico mais
importante, a Lógica de
Predicados. Além dos
conectivos da Lógica
Proposicional, nessa
lógica distinguiremos
termos singulares e
termos predicativos,
Na Lógica Proposicional nós abstraímos completamente o
e introduziremos os
conteúdo das proposições. Proposições como “Sócrates é quantificadores. Com isso,
filósofo” ou “Platão foi o principal mestre de Aristóteles” se a lógica se torna muito
transformaram em simples letras como “P” e “Q”. Seu conteúdo, rica, podendo expressar
grande parte dos
sua estrutura interna, foi, por assim dizer, esquecida, perdida. Nós nossos raciocínios mais
focamos apenas nos conectivos – nas palavras que conectavam as fundamentais.
proposições atômicas para formar proposições moleculares. Agora
é hora de “abrirmos” novamente as proposições, analisando sua
estrutura interna. É exatamente isso que acontece na Lógica de
Predicados. E isso tem grandes implicações para a lógica. A Lógica
de Predicados consegue expressar todas as relações lógicas da
Lógica Proposicional (ela inclui a lógica proposicional como parte
própria). Por isso, dizemos que a Lógica de Predicados é uma
expansão da Lógica Proposicional. Mas ela é uma expansão mesmo
– ou seja, ela realmente consegue fazer muito mais. De fato, grande
parte dos argumentos filosóficos ou de qualquer outra área do
conhecimento pode ser formulada na Lógica de Predicados. Por
isso, ela é considerada hoje a lógica mais fundamental. Dizemos
“grande parte” porque nenhuma lógica dá conta de “todos” os
argumentos. Justamente por isso precisamos de diferentes lógicas.
Mas todas essas lógicas têm como referência última a Lógica de
Predicados. Então, vamos estudá-la com todo cuidado, certo?
RUSSELL, B. Os Problemas da
Filosofia. Tradução, introdução Termos singulares e predicados
e notas de Desidério Murcho.
Lisboa e S. Paulo: Edições 70,
2008.
Disponível também no site:
http://www.cfh.ufsc.br/~conte/
russell.html Comecemos pensando sobre a forma das proposições. A forma mais
fundamental de proposição é aquela na qual se tem um sujeito ao qual
se atribui um predicado. Ou seja, algo como “Sócrates é filósofo”,
“Pedro é carioca” ou “Maria é bailarina”. O sujeito da proposição
seleciona a coisa sobre a qual queremos falar, e o predicado expressa a
informação que queremos comunicar. Essa estrutura sujeito-predicado
(“S-P”) está associada à tese metafísica que o mundo é composto de
coisas que tem propriedades. O sujeito da proposição aponta para a
coisa, o predicado para a propriedade das coisas.
94 FILOSOFIA
da seleção brasileira”) constantes individuais – mas isso não precisa
nos preocupar agora. Esses termos são chamados de “constantes”
porque designam sempre o mesmo indivíduo. Constantes individuais
são representadas pelas letras minúsculas do início do alfabeto:
Predicados: F, G, H...
a: Aristóteles
b: Platão
c: Sócrates
F: é filósofo
G: é generoso
H: é humilde
Fa - Aristóteles é filósofo.
Gb - Platão é generoso.
LÓGICA| unidade 4 95
usados nesta lógica. Assim, podemos formar proposições complexas
(verdadeiras e falsas) como:
R: ensinar
S: admirar
96 FILOSOFIA
existem predicados com aridade 3 (por exemplo, “a fica entre b e c”,
“a deu b para c”, “a apresentou b para c” etc.), com aridade 4 (por
exemplo, “a ama b mais do que c ama d” etc.). Mas também não
queremos exagerar num curso básico de lógica, não é mesmo? Por isso,
nos concentraremos nos predicados de aridade 1, e só algumas vezes
mencionaremos os de aridade 2. Os outros podem ser esquecidos.
Atividades
a: Ana
b: Beto
c: Clara
d: Diego
M: amar
4. Ana ama Beto, que ama Clara, que ama Diego, que ama Ana.
6. Ana e Clara amam Beto, mas nem Ana nem Clara amam Diego.
10. Se Beto e Diego amam Clara, então nem Beto nem Diego amam
Ana.
LÓGICA| unidade 4 97
Soluções
1. aMb Ù cMd.
2. ØaMb Ù cMd
3. aMb Ù ØbMa
5. aMb ® bMa
7. aMb « cMd
8. ØdMc ® dMa
Variáveis e quantificadores
98 FILOSOFIA
queremos apenas dizer que alguém é generoso – mas não sabemos
quem (ou não queremos dizer quem). E como expressar (3) apenas
usando nossos recursos? Mesmo que a, b e c fossem os únicos filósofos
do mundo, algo como:
Fa Ù Fb Ù Fc Ù Ha Ù Hb Ù Hc
Fx
Gx
LÓGICA| unidade 4 99
Quantificador universal: x (“para todo x”)
Exemplificando
$x (Fx)
x (Fx)
100 FILOSOFIA
Você deve lembrar ainda do Silogismo que estudamos antes. Lembra
que dizíamos lá que a forma categórica “existe um A que é B” não
implicava que “só existe um A que é B”? Dissemos que essa forma
categórica significa apenas que “pelo menos um” A é B – talvez dois,
talvez três e até mesmo talvez todos. Pois bem, o mesmo vale aqui. O
símbolo “$” significa “pelo menos um” – mas isso não significa que não
possa haver dois, três ou mais – inclusive todos!
Mas todos quem? Deus, o número três, o grão de areia que vi ontem
em Ipanema? Até o presente momento, estamos falando de “todos”
imaginando que estamos falando só sobre seres humanos. Na verdade,
como você já sabe, a lógica é universal. Ela pode ser usada para falar
sobre tudo. Mas como muitas vezes não queremos e não precisamos
falar sobre tudo, apenas pressupomos uma coisa chamada “domínio de
quantificação”. Se alguém quer pensar e argumentar sobre números,
ele usará a lógica de predicados, mas quando ele usar o símbolo “”,
ele estará dizendo “todo número”. Se alguém pretende falar sobre
objetos físicos, quando ele usar “$” ele estará expressando “para pelo
menos um objeto físico”, etc. Cada um pode escolher o domínio que
quiser. Neste livro, escolhemos o domínio dos seres humanos – afinal,
existe algo mais interessante? Mas, claro, se preferir falar sobre gatos,
fique à vontade. Use a lógica para o que quiser!
$x (Fx)
Mas você percebeu que nessas quatro últimas fórmulas nós dissemos
coisas repetidas? Veja só com cuidado:
x Ø(Fx) « Ø$x(Fx)
102 FILOSOFIA
Nos dois casos, a fórmula da esquerda diz exatamente o mesmo que a
da direita. Por isso, colocamos o bicondicional no meio. Expressamos
assim a lei de equivalência.
Fórmulas Complexas
Ambos parecem afirmar algo parecido, a saber, que existe algo que
é filósofo e algo que é generoso. Mas cuidado: a rigor, as fórmulas
dizem coisas diferentes. Para decidir, leia as fórmulas parte a parte
literalmente, e, depois, tente entender o que você disse de modo mais
natural.
Não é tão difícil assim, você não acha? Note que uma proposição implica
a outra, mas não vice-versa. Você conseguiria dizer qual delas implica
a outra?
Mas veja que surpreendente: Qual é, afinal, a diferença entre essas duas
fórmulas? Elas são fórmulas diferentes, mas, a rigor, dizem exatamente
a mesma coisa. A primeira diz que todos os humanos são filósofos
generosos. A segunda diz que todos os humanos são filósofos, e que
todos os humanos são generosos. Mas basta pensar um pouco para
perceber que se um for verdadeiro, o outro será verdadeiro também.
Ou seja, podemos afirmar que:
104 FILOSOFIA
Literalmente: Existe um x, tal que x é filósofo ou generoso (ou ambos).
Atividades
1 Ø (x(Fx) Ù x(Gx))
2 Ø x(Fx) Ù Ø x(Gx))
3 x Ø(Fx Ù Gx)
4 xØ(Fx) Ú xØ(Gx)
Solução
2 Não é o caso que todos são filósofos e não é o caso que todos
são generosos. (Ou seja, existe pelo menos uma pessoa que não é
filósofo, e uma pessoa que não é generosa)
3 Todos são não filósofos e generosos. (Ou seja, não existe ninguém
que seja filósofo e generoso ao mesmo tempo)
4 Todos são não filósofos ou todos são não generosos. (Ou seja,
ou não existe nenhum filósofo no mundo, ou não existe ninguém
generoso no mundo, ou ambos)
106 FILOSOFIA
Literalmente: Para todo x, se x é filósofo, então todo x é generoso.
x (Fx ® Gx)
x (Fx ® Gx),
x (Gx ® Hx)
Atividades
F: é flamenguista
P: é palmeirense
T: é um torcedor fanático
108 FILOSOFIA
3. Todo flamenguista ou palmeirense é um torcedor fanático.
Soluções
1. x (Fx ® Tx)
3. x (Fx Ú Px ® Tx)
5. x (Tx ® Fx Ú Px)
8. x (Fx « Tx)
Mas não queremos abusar da sua paciência. Isso deve ser o suficiente
para um primeiro contato com a lógica. Você já deve ter percebido,
lendo as fórmulas acima, que muitas delas dizem coisas estranhas,
coisas que não costumamos dizer. Mas também deve ter ficado claro,
e isso é o que importa, que grande parte do que nós dizemos, pode ser
reescrito em forma de fórmulas. Mas qual a vantagem das fórmulas?
Bem, como dizíamos no começo: num primeiro contato, isso parece
complicar, assim como transformar “oitocentos e noventa e cinco” em
“895” parecia complicar no início. Mas depois de acostumados, essas
Uma frase é dita ambígua
quando ela permite diferentes fórmulas são lidas de modo automático e são para um lógico treinado
interpretações. Outra maneira
de expressar isso é: uma frase (acredite) mais fácil de ler do que proposições naturais. E tem mais:
é ambígua quando ela expressa
mais de uma proposição. algumas frases da linguagem natural são ambíguas, e com auxílio das
fórmulas podemos eliminar toda a ambiguidade. Vejamos um exemplo.
Contexto 1
110 FILOSOFIA
Contexto 2
Agora você deve ter percebido que a mesma frase “todos amam uma
pessoa” pode ter significados diferentes. Por isso dizemos que ela é
ambígua. No primeiro contexto “todos amam uma pessoa” significa
“existe uma pessoa (talvez tão especial) que todos a amam”. No
segundo contexto, a mesma frase é usada para expressar algo como
“toda pessoa gosta de pelo menos alguma pessoa” (nem que seja só
dela mesma!). Na lógica, não pode haver ambiguidade.
x$y (xRy)
x$y (yRx)
$xy (xRy)
$xy (yRx)
Naturalmente: Existe alguém que é amado por todos. (Esse era nosso
contexto 1).
Solução
Regras de Inferência
PÙQ
112 FILOSOFIA
A mesma regra pode ser usada na Lógica de Predicados:
x(Fx) Ù x(Gx)
Logo: x(Fx)
P®Q
logo Q
$x(Fx) ® $x(Gx)
$x(Fx)
logo $x(Gx)
x(Fx)
Logo: $x(Fx)
Começamos com essas duas regras porque elas são as mais fáceis.
Então, antes de passar para as duas últimas regras, vamos treinar um
pouco o uso dessas regras? Veja as seguintes derivações:
Exemplificando
1. x (Fx) premissa
2. Fa -E
3. $x (Fx) $-I
2. x(Fx) Ù-E 1
3. x(Gx) Ù-E 1
114 FILOSOFIA
4. Fa -E 2
5. Ga -E 3
6. $x(Fx) $-I 4
7. $x(Gx) $-I 5
Fa
Logo: x (Fx)
Ela diz que, se a é F, então todos são F. É claro que isso está errado. Do
fato de que Aristóteles é filósofo, não podemos concluir que todos os
seres humanos são filósofos. Isso seria uma generalização absurda. Mas
como pode haver então uma regra de introdução do universal? A saída é
introduzir uma restrição: só podemos introduzir uma generalização se
a constante individual usada na fórmula (o “a” de “Fa”) foi introduzido
anteriormente por meio de uma eliminação do universal. Ou seja, se
você tinha x (Fx)
Isso não pode estar errado: é claro que se você partiu de x(Fx), então
você pode concluir x(Fx). A regra, então, fica assim:
Fa (desde que o “a” tenha sido introduzido nessa formular por -E)
Logo: x (Fx)
1. x (Fx) premissa
2. x (Gx) premissa
3. Fa -E, 1
4. Ga -E, 2
5. Fa Ù Ga Ù-I, 3 e 4
Você saberia dizer em linguagem natural o que essa prova diz? Claro,
ela simplesmente diz que se todos são filósofos e todos são generosos,
então todos são filósofo generosos. A regra que nos interessa foi
aplicada na passagem da linha 5 para a linha 6, nossa conclusão. Na
linha 5 se dizia algo sobre “a”. Mas repare que esse “a” não ocorre nas
premissas – ele foi introduzido por meio de eliminação do universal na
linha 3 e na linha 4. Note que se tivéssemos como premissa:
Fa Ù Ga
x (Fx Ù Gx)
116 FILOSOFIA
por meio da regra -I. Isso seria o mesmo que concluir, a partir de
“Aristóteles é filósofo e generoso” que todos os homens são filósofos
generosos – o que é, claro, absurdo. Você percebe a diferença, não?
$x (Fx)
1. $x (Fx) premissa
3. Fu $-E, 1
4. Fu ® Gu E-, 2
6. $x (Gx) $-I, 5
Vamos tentar entender essa prova. A primeira linha me diz que existe
um x que é F. Vamos interpretar agora “F” como “é um assassino” para
facilitar nossa explicação. A segunda linha, também premissa, nos diz
que todo F é G. Suponha que “G” significa “malvado”. Logo, a linha 2
diz que todo assassino é malvado. Isso, de fato, nós sabemos. A linha 3
é derivada de 1: de “existe um assassino” nós derivamos “o assassino
da meia-noite é um assassino” (como o policial no exemplo acima,
nós só inventamos um apelido para esse x desconhecido). A linha 4 é
gerada aplicando a regra de eliminação do universal – lembre-se que
essa regra não tinha nenhuma restrição. Podemos usar a constante
que quisermos, inclusive o apelido que inventamos. A linha 5 nada mais
é que o resultado do modus ponens das linhas 3 e 4. Essa linha diz que
o assassino da meia-noite é malvado. Finalmente, a linha 6 é derivada
da linha 5 por meio da introdução do existencial: se o assassino da
meia-noite é malvado, então existe alguém que é malvado. Como diria
Sherlock Holmes: “Elementar, meu caro Watson!”
Atividades
118 FILOSOFIA
Soluções
1. 2. 3.
2. x(Fx ® Gx) 2. Fa Ù Ga 2. Fa Ù Ga
3. Fa 3. Fa 3. Fa
4. Fa ® Ga 4. Ga 4. Ga
5. Ga 5. $x(Fx) 5. x (Fx)
4. 5. 6.
1. Fa 1. x (Fx « Gx) 1. x (Fx « Gx)
2. Ga 2. Fa 2. Fa Ù Gb
3. ØHa 3. Fa « Ga 3. Fa « Ga
4. Fa Ù Ga 4. Fa ® Ga 4. Fa ® Ga
5. Fa Ù Ga Ù ØHa 5. Ga 5. Fa
6. $x (Fx Ù Gx Ù ØHx) 6. Ga
7. Fb « Gb
8. Gb ® Fb
9. Gb
10. Fb
11. Ga Ù Fb
HAACK, S. Filosofia das Lógicas. São Paulo: UNESP, 2002. Tradução de:
Cezar Augusto Mortari e Luiz Henrique Dutra.
120 FILOSOFIA
Considerações Finais
Um fascículo de lógica não deve ser apenas lido. Ele precisa ser estudado.
Os exercícios precisam ser feitos e refeitos, até que a habilidade lógica
esteja consolidada. Como dissemos no começo, lógica não é um
conjunto de doutrinas ou verdades. Lógica é raciocínio, e raciocínio é
uma capacidade que devemos treinar dia após dia. Podemos até dizer
que lógica é como uma academia onde “malhamos” nosso cérebro.
Este fascículo pretende ser apenas um convite para você experimentar
essa academia cerebral. Pois bem: seja bem-vindo!
122 FILOSOFIA
REFERÊNCIAS
HAACK, S. Filosofia das Lógicas. São Paulo: UNESP, 2002. Tradução de:
Cezar Augusto Mortari e Luiz Henrique Dutra.