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Guido Imaguire & Verena Than

LóGICA

São Luís

2013
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a prévia autorização desta instituição.

Imaguire, Guido.

Lógica / Guido Imaguire, Verena Than. – São Luís: UemaNet,


2013.

123. p.

1. Lógica. I. Than, Verena. II. Título

CDU: 510.6
ÍCONES

Orientação para estudo

Ao longo deste fascículo serão encontrados alguns ícones utilizados


para facilitar a comunicação com você.

Saiba o que cada um significa.

ATIVIDADES SAIBA MAIS GLOSSÁRIO

REFERÊNCIAS ATENÇÃO SUGESTÃO DE LEITURA

DICA DE FILME PENSE


SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO
INTRODUÇÃO

UNIDADE 1
OBJETO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS ............................................. 15
A tarefa da lógica ........................................................................ 15
Preservação ................................................................................ 17
Verdade ....................................................................................... 18
Formal ......................................................................................... 22
Dedução e Indução ..................................................................... 24
Frases, sentenças, juízos e proposições .................................... 26
Definições .................................................................................... 30

UNIDADE 2
SILOGISMO ARISTOTÉLICO ................................................................. 37
Introdução .................................................................................. 37
Conjuntos ................................................................................... 38
O Silogismo ................................................................................ 45
O Quadrado Lógico das Oposições ........................................... 54

UNIDADE 3
LÓGICA PROPOSICIONAL .................................................................... 61
Introdução .................................................................................. 61
Tautologia, contingência e contradição ................................... 73
Derivações ................................................................................. 77
UNIDADE 4
LÓGICA DE PREDICADOS ................................................................... 93
Termos singulares e predicados ................................................ 94
Variáveis e quantificadores ....................................................... 98
Quantificação com Negação e Equivalência ............................. 101
Fórmulas Complexas ................................................................. 103
Ambiguidade ............................................................................. 110
Regras de Inferência ................................................................. 112

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................. 121

Referências .................................................................................... 123


PLANO DE ENSINO

DISCIPLINA: Lógica
Carga horária: 60 horas

EMENTA
Estudo da Lógica Filosófica nos seus traços mais gerais. Alguns
conceitos fundamentais da lógica, em particular, verdade e validade. O
Silogismo de Aristóteles e a teoria de conjuntos. A lógica proposicional,
com tabelas de verdade e regras de inferência. A lógica de predicados
com quantificadores.

OBJETIVOS

Geral
Oferecer uma introdução aos conceitos fundamentais da lógica, e a
alguns sistemas lógicos mais importantes. Treino na habilidade de
raciocínio lógico-formal.
Específicos

¡ Estudar os conceitos fundamentais pressupostos na lógica, como


verdade, validade, definição e as principais formas de inferência.

¡ Estudar a Teoria de Conjuntos e o Silogismo de Aristóteles.

¡ Introduzir o aluno a alguns dos símbolos básicos da lógica


proposicional e treinar a habilidade de extrair conclusões lógicas
de um conjunto de premissas.

¡ Introduzir o aluno a alguns dos símbolos básicos da lógica de


predicados quantificada e treinar a habilidade de extrair conclusões
lógicas de um conjunto de premissas.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

UNIDADE 1
Conceitos Fundamentais

UNIDADE 2
Teoria de Conjuntos e Silogismo de Aristóteles

UNIDADE 3
Lógica Proposicional

UNIDADE 4
Lógica de Predicados
METODOLOGIA
Os objetivos propostos serão alcançados mediante a leitura das
unidades, videoaulas e desenvolvimento das atividades do fascículo.
Estas ações possibilitarão a compreensão das unidades através de
debates, de realização de seminários e de trabalhos coletivos ou
individuais.

AVALIAÇÃO
A avaliação se dará em função dos objetivos propostos, levando
em consideração: a leitura e compreensão dos textos sugeridos, a
realização das atividades de exercícios lógicos, resolução de problemas
propostos.
APRESENTAÇÃO

Caro estudante,

A lógica é uma das disciplinas mais importantes da filosofia. Mas


também uma das mais temidas. Filosofia é fundamentalmente uma
atividade de argumentação e análise de argumentos. A lógica é um
instrumento que auxilia nessa atividade. Por isso, a lógica nasceu
com a filosofia. Já os gregos tinham princípios lógicos para avaliar os
argumentos. Mas é só no final do Século XIX que a lógica atinge a sua
maturidade. Isso aconteceu na medida em que muitos filósofos ligados
à matemática aperfeiçoaram a lógica filosófica. Mas isso trouxe a
necessidade de se utilizar novos recursos simbólicos. Fórmulas quase
matemáticas foram introduzidas – e esse é o motivo do temor. Em
geral, filósofos não gostam de fórmulas. Mostrar que fórmulas não
são sempre assustadores, e que elas podem ser muito importantes, é
uma das tarefas deste fascículo. Aqui apresentamos a lógica para um
estudante que ainda nada sabe sobre ela. Começamos do começo, mas
vamos, passo a passo, caminhando para as profundezas dessa enorme
e profunda disciplina.

Na primeira unidade apresentamos alguns conceitos fundamentais da


lógica. Veremos que a principal tarefa da lógica consiste na derivação de
verdades a partir de outras verdades. Essas derivações serão chamadas
“argumentos”. Assim, explicaremos o que entendemos por verdade
e quais os principais tipos de verdade. Veremos também o que é uma
definição e quais tipos de definição existem. Finalmente, discutiremos
rapidamente as proposições ou juízos, que são os constituintes básicos dos
argumentos, e que são as entidades consideradas verdadeiras ou falsas.
Na segunda unidade apresentaremos o primeiro sistema lógico
formulado na história da filosofia, o Silogismo de Aristóteles. Para
isso, teremos de apresentar antes algumas noções introdutórias da
Teoria de Conjuntos. Essa teoria você já deve conhecer da escola. Mas
você verá que ela ainda pode trazer surpresas. Depois veremos quais
silogismos são considerados válidos e por quê.

Na terceira unidade você conhecerá o sistema mais simples da lógica


contemporânea – a Lógica Proposicional. Nesse momento, teremos de
introduzir alguns símbolos e faremos uso de algumas fórmulas. Você
verá o que são tabelas de verdade, e aprenderá a fazer derivações em
lógica, ou seja, aprenderá a extrair conclusões a partir de premissas.

Na quarta unidade apresentaremos o sistema lógico mais importante


que temos hoje – a Lógica de Predicados Quantificada. Na verdade, ela é
apenas uma expansão da Lógica Proposicional. Mas, contendo apenas
alguns símbolos e regras a mais, ela consegue expandir imensamente o
universo expressivo e dedutivo da lógica proposicional. Teremos ainda
mais fórmulas, mas todas elas farão, certamente, muito sentido. Com
elas você poderá dizer e concluir muitas coisas que não poderia com as
lógicas mais simples.

Guido Imaguire & Verena Than


INTRODUÇÃO

Tente pensar num círculo quadrado. Agora tente pensar em duas


retas perfeitas Euclidianas que se tocam em dois pontos. Se você não
conseguiu, fique tranquilo, você pensa logicamente. Se você acha que
conseguiu, então você precisa urgentemente de um curso de lógica.

De fato, pensar significa sempre pensar logicamente. Isso pode soar


um pouco dogmático, rígido demais. Mas não é se você entender que
a lógica é uma disciplina plural, que existem vários sistemas lógicos
e que podemos pensar de acordo com várias lógicas diferentes.
Alguns sistemas lógicos, aliás, cá entre nós, são até muito esquisitos.
De qualquer forma, quando você aprendeu sua língua materna,
provavelmente o português, você já aprendeu lógica. Não é possível
aprender uma língua sem pensar logicamente, afinal, a sintaxe de
qualquer língua já é, num certo sentido, um sistema lógico. A sintaxe é
um sistema de regras, assim como a lógica.

Bem, então você já sabe lógica, e justamente por isso estranhou as


solicitações no início desta introdução. A pergunta, é, então, por que
estudar algo que você já sabe? Se você já pensa logicamente, você não
precisa de um curso de lógica, não é mesmo? Errado! A gente sempre
pode aprender mais. Você já sabe português, senão não estaria lendo
este fascículo. Mesmo assim, você pode passar o resto da sua vida
pesquisando a língua portuguesa. Na lógica é a mesma coisa. Você já
sabe algumas coisas, mas há muito que você ainda pode aprender. E
assim, como muitas vezes cometemos erros em português, também
cometemos erros de raciocínio lógico. Se todos os flamenguistas
são torcedores fanáticos, e João é um torcedor fanático, João é
flamenguista, certo? Errado. Dizer que todos os flamenguistas são
torcedores fanáticos não implica dizer que todos os torcedores
fanáticos são flamenguistas. Esses raciocínios errados, enganosos, são
como que cascas de banana para o pensamento. A lógica nos treina a
evitar esses escorregões mentais.

Além disso, um curso de lógica nos ensina a raciocinar mais rapidamente.


Veja o exemplo: Todo A é B, e todo B é C. O que se segue disso? Claro,
sem muito esforço você conclui que todo A é C. Mas agora veja esse
caso: Nenhum A é B, algum C é B. E então, o que se segue sobre A e
C? Não é tão fácil assim, não é mesmo? Depois de estudar a segunda
unidade deste fascículo você terá uma resposta rápida para essa
pergunta. É só uma questão de treino.

Aliás, a palavra treino é importante. A lógica não é uma disciplina


com conteúdos que precisam ser “aprendidos”. Ela é uma disciplina
que exige treino, assim como um esporte ou o aprendizado de um
instrumento musical. Você precisa dedicar algum tempo para fazer e
refazer os exercícios de lógica. Se você apenas ler o fascículo, mas não
fizer os exercícios, perderá muito do sentido desse curso. Talvez você
tenha lembranças ruins das aulas de matemática. No curso de lógica,
fórmulas parecidas com aquelas que você estudou em matemática são
inevitáveis. Mas não se preocupe, todas elas serão explicadas de modo
simples, passo a passo. No final, se treinar bastante, quem sabe você
não se torna ainda um grande especialista em lógica?

Verena Than & Guido Imaguire


UNIDADE

1
OBJETIVO DESTA UNIDADE
OBJETO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS Apresentar qual a tarefa
da lógica e os seus
principais conceitos,
a saber: argumento,
validade, verdade,
definição e proposição.

A tarefa da lógica

No português, temos 23 letras: a, b, c, …, z. Com essas 23 letras


formamos mais de 300 mil palavras. Com essas palavras podemos
construir um número potencialmente infinito de frases. Assim, em
apenas dois passos, passamos de 23 para o infinito. Esse é o grande
milagre de multiplicação da linguagem.

Essas infinitas frases são utilizadas, dentre outras coisas, para expressar
e armazenar informações. Em geral, frases não são enunciadas de
modo aleatório, mas em sequências logicamente organizadas:
contamos uma história em sua ordem cronológica, fazemos discursos
com início, meio, fim etc. Um livro, um artigo, um discurso, são
exemplos de sequências de frases organizadas. A lógica se ocupa
Um argumento é um tipo
com um tipo especial de sequências de frases: os argumentos. particular de sequência ordenada
de frases. Num argumento
as frases iniciais (ou: “a” frase
Em geral, usamos argumentos para convencer outras pessoas de inicial, se for apenas uma) são
designadas de “premissas” e a
alguma suposta verdade. Para isso, partimos de premissas que frase final é chamada “conclusão”.
Esta deve ser uma consequência
consideramos verdadeiras e derivamos logicamente a verdade daquelas.
que defendemos: a conclusão. Se formos bem sucedidos, podemos
dizer que “provamos” nossa conclusão. Usamos argumentos na ciência,
na filosofia, na jurisprudência, e até mesmo no cotidiano para discutir
sobre qualquer assunto: política, religião ou futebol.

Exemplificando:

(Ex1) Todos os homens são mortais.

Sócrates é um homem.

Logo, Sócrates é mortal.

(Ex2) Se chove, então há nuvens no céu.

Chove.

Logo, há nuvens no céu.

Os dois exemplos acima são compostos, cada um, por três frases. As
duas primeiras são as premissas, a terceira e última a conclusão. Note
que nos dois exemplos a conclusão inicia com a palavra “logo”. Embora
essa palavra não seja necessária (tire-a e veja que o conteúdo fica o
mesmo), ela expressa uma ideia fundamental da lógica, talvez a mais
fundamental: a ideia de consequência lógica. Ela indica que a conclusão
é derivada ou inferida das premissas: a conclusão é consequência lógica
das premissas. O que está em jogo é o seguinte: se é verdade que todos
os homens são mortais e que Sócrates é um homem, então se segue
que Sócrates é mortal. Muitas vezes os lógicos também dizem: se as
premissas são verdadeiras, a conclusão será necessariamente verdadeira.
Diremos, então, de modo geral, que a conclusão “é consequência lógica”,
“é derivada”, “é inferida” ou “se segue” das premissas.

Também na lógica há heróis e vilões. Há bons e maus argumentos. Uma


maneira de caracterizar a lógica é justamente essa: sua tarefa consiste
em distinguir “bons” de “maus” argumentos. Mas essa tarefa não é nada
fácil: se existem infinitas frases, há também infinitas sequências de frases,
e nem sempre há concordância a respeito do que é um bom argumento.
De qualquer forma, bons argumentos são chamados de argumentos
“válidos”, maus argumentos são chamados de argumentos “inválidos”

16 filosofia
ou “falácias”. Os dois exemplos acima são certamente válidos. Mas veja
o seguinte argumento:

Exemplificando:
Um argumento é chamado
“válido” quando a conclusão é
uma consequência lógica das
(Ex3) Todos os banqueiros são milionários. premissas. Um argumento não
válido é chamado de “falácia”.
João é milionário

Logo, João é um banqueiro.

À primeira vista, esse argumento até pode parecer correto. A conclusão


parece se seguir das premissas. Mas com um pouco de cuidado, você
percebe que as premissas não são suficientes para garantir a verdade da
conclusão. Se todos os milionários fossem banqueiros, então seguiria
que João é um banqueiro. Mas a premissa diz que todos os banqueiros
são milionários, e não vice-versa. Assim, João pode ser milionário sem
ser banqueiro (ele pode, por exemplo, ser jogador de futebol).

Dissemos que a lógica pretende descobrir quando um argumento é bom Lógica é a disciplina que
estuda as leis de preservação
ou ruim. Vimos que o Ex1 e Ex2 são válidos, ao passo que Ex3 é inválido. da verdade.

Um argumento válido é aquele que garante a verdade da conclusão


caso as premissas sejam verdadeiras. Assim, é comum definir a lógica
como a ciência que estuda as leis de preservação da verdade.

Dois conceitos são centrais aqui: preservação e verdade. Estes são


conceitos que você certamente já conhece, mas que precisam de alguns
esclarecimentos.

Preservação

Aqui, tão importante quanto o conceito de verdade, ao qual logo


voltaremos, é o conceito de preservação. Argumentos logicamente
válidos são aqueles nos quais a forma lógica garante a preservação da
verdade: se as premissas forem verdadeiras, a conclusão garantidamente
será verdadeira. A verdade das premissas é preservada na conclusão.
Dito de outro modo: é impossível que, num argumento válido, as
premissas sejam verdadeiras, mas a conclusão seja falsa. Se você tiver

LóGICA | UNIDADE 1 17
um argumento com premissas verdadeiras e conclusão falsa, pode ter
certeza que o argumento não é válido. Se as premissas forem falsas,
porém, a conclusão poderá ser verdadeira ou falsa – nada estará
garantido. Nos exemplos 1 e 2 as premissas garantiram a verdade da
conclusão. No exemplo 3 as premissas não eram suficientes para garantir
a verdade da conclusão.

Verdade

Usamos até aqui a noção de verdade, pressupondo que você sabe o que
é verdade. De fato, se alguém lhe perguntar se é verdade que Berlim é
a capital do Brasil, você certamente dirá que não. Se alguém perguntar
se é verdade que Brasília é a capital do Brasil, você dirá, suponho, que
sim. Isso é assim porque você já sabe o que é “ser verdadeiro” ou “ser
falso”. Claro que se alguém lhe perguntar se é verdade que o Flamengo
ganhou a última partida, e você não estiver informado, poderá não
saber responder. Mas isso não se deve ao fato de você não saber o que
significa ser verdadeiro ou ser falso. Você sabe o que deve ter acontecido
Aristóteles é um filósofo para que isso seja verdade. Você simplesmente não sabe o que, de
grego, nascido em Estagira
em 384 a.C., e que defendeu fato, aconteceu no último jogo. Por isso, tradicionalmente os filósofos
a teoria da verdade como
correspondência. Você definem verdade como correspondência com realidade: uma frase é
aprenderá mais sobre ele no
próximo capítulo, pois ele verdadeira apenas se ela corresponde aos fatos da realidade. Se ela não
também criou o primeiro
sistema lógico. corresponde, ela é falsa. Essa teoria é chamada teoria da verdade como
correspondência, e é até hoje a teoria mais difundida. Mas, como tudo na
filosofia, essa definição é controversa.

Mas, como tudo na filosofia, essa teoria da verdade é controversa.


Muitos não a aceitam e propõem teorias alternativas. Vejamos alguns
exemplos:

Coerência

Segundo a teoria da verdade como coerência, não podemos comparar


entidades tão diferentes como frases e fatos na realidade. Em particular,
não podemos tomar uma frase isolada para investigar sua verdade ou

18 filosofia
falsidade. Comparamos frases com outras frases, sempre no contexto
de um sistema de frases consideradas verdadeiras, ou seja, de teorias
completas. Para esta teoria, uma frase é verdadeira se é coerente com o
resto do corpo teórico aceito pela comunidade.

Consenso

Para outros, que defendem a teoria da verdade como consenso, uma frase
é verdadeira se houver uma concordância a seu respeito em condições
ideais de reflexão e diálogo. Condições ideais são dadas quando todos
os participantes têm voz, não há coerção de poder de um sobre outro
etc. Essa teoria é mais popular no âmbito da filosofia política e ética,
onde se lida com verdades sobre valores e normas.

Pragmática

Para os defensores da teoria pragmática da verdade, por sua vez,


o critério de verdade é o êxito. Se você tem uma teoria, mas ela, por
assim dizer, não funciona na prática, então é porque ela é falsa. Frases
verdadeiras são aquelas que expressam opiniões úteis.

Redundância

A teoria da redundância da verdade é bastante curiosa. Segundo ela,


a noção de verdade é supérflua. De fato, observe as frases “nenhuma
bailarina tem pereba” e “é verdade que nenhuma bailarina tem pereba”.
Parece claro que, embora a segunda frase contenha a palavra “verdade”,
ela não diz nada mais do que a primeira. A palavra “verdade” não
acrescenta nenhum conteúdo.

LÓGICA | unidade 1 19
Metalinguística

Existe ainda a teoria metalinguística da verdade, uma das preferidas


dos lógicos. De fato, para muitos, ela nem é uma alternativa à teoria
tradicional da verdade como correspondência, mas apenas um
aperfeiçoamento. Proposta pelo lógico polonês Tarski, ela diz que
verdade é uma noção da chamada metalinguagem. Metalinguagem é
a linguagem usada não para falar sobre o mundo (essa é a linguagem
objeto), mas sobre a linguagem mesma. Por exemplo, quando linguistas
falam sobre coisas da linguagem como pronomes, conectivos etc., eles
usam a metalinguagem. Dizer “a frase a neve é branca é verdadeira” é
algo similar a dizer “Romeu foi beijado por Julieta é uma frase na voz
passiva”. Na definição Tarskiana:

A frase “a neve é branca” é verdadeira se e somente se a neve for branca.

O polonês Alfred Tarski (1901-1983) foi um dos


maiores lógicos do século XX.

Fonte: http://segr-did2.fmag.unict.it/~polphil/
polphil/Pictures/Tarski.JPG

Definir exatamente verdade, ou defender uma destas teorias, não será


tarefa deste fascículo, até porque não é tarefa da lógica. Para nós aqui
basta reconhecer que algumas frases são verdadeiras e outras são falsas.
(Note: isso não é o mesmo que dizer que todas as frases são verdadeiras
Qual das definições você ou falsas – isso seria a tese da bivalência, à qual voltaremos mais tarde).
considerou a melhor? Por que
razão? E, como já reconhecemos antes, nós temos mesmo antes de estudar
lógica ou filosofia a capacidade de perceber que algumas frases são
verdadeiras e outras falsas.

Existe mais um aspecto quanto à noção de verdade que precisa ser


esclarecido. Observe as seguintes frases:

20 FILOSOFIA
(i) Brasília é a capital do Brasil.

(ii) Se o vestido da princesa é (todo) azul, ele não é vermelho.

(iii) Solteiros não são casados.

(iv) Se chove em Brasília, então chove em Brasília.

A priori x a posteriori

Você deve concordar que todas estas frases são verdadeiras. Mas também
deve ter percebido que elas são verdadeiras de diferentes modos. A
primeira frase (i) é verdadeira de modo contingente, ela poderia ser falsa.
Por puro raciocínio você não descobriria que ela é verdadeira. Você sabe
que (i) é uma verdade porque você é bem informado, graças a livros,
jornais, aulas ou internet. Ou seja, você precisa da experiência empírica
para saber essa verdade. Por isso, ela é dita uma verdade a posteriori.
Já (ii) é uma verdade independente da experiência: você nem precisa
ver o vestido da princesa para saber que é verdade que se ele for azul,
não será vermelho. Se ele, de fato, é azul, ou se é vermelho, isso não
importa. Como você não precisa de experiência (mais exatamente: da
experiência particular de ver o vestido) para reconhecer essa verdade,
(ii) é dita uma verdade a priori (“antes da experiência”).

Analítico x sintético

Para a terceira frase (iii) você também não precisa da experiência.


Mais que isso, você reconhece sua verdade apenas em função do
entendimento das palavras “solteiro” e “casado”. Verdades que exigem
apenas conhecimento do significado das palavras na frase são chamadas
Immanuel Kant (1724 – 1804)
verdades analíticas. Verdades que não são analíticas são chamadas é um filósofo alemão que fez
dessas distinções o ponto de
sintéticas. (Apenas para destacar: note que no caso de (ii) você precisa partida da sua filosofia. Ele
achava, por exemplo, que as
saber não apenas o significado de “vermelho” e “azul”, mas também verdades da matemática são
que objetos não podem ter duas cores ao mesmo tempo em toda sua sintéticas a priori.

superfície – isso não é uma verdade linguística).

LÓGICA | unidade 1 21
Tautologia x Contingência

Finalmente, a frase (iv) é considerada a forma mais forte de verdade:


é uma verdade lógica, para ser mais preciso, uma tautologia. Ela é
necessariamente verdadeira. E você nem precisaria saber o que significa
“chover” ou “Brasília”. Claro, você precisa entender o significado dos
termos “se... então...” – os termos lógicos. Mas uma vez que isso é dado,
é claro que a frase é verdadeira apenas em virtude da sua forma lógica.
Qualquer frase da forma: “se X então X” é verdadeira. Ela é a forma mais
forte porque implica todas as outras: uma verdade lógica é sempre
necessária, analítica e a priori.

Formal

Você certamente já ouviu falar que a lógica é uma disciplina formal. Mas
o que isso quer dizer exatamente? Tome novamente nosso argumento
(Ex1) acima:

Exemplificando

(Ex1) Todos os homens são mortais.

Sócrates é um homem.

Logo, Sócrates é mortal.

Substitua “homens” por “A”, “mortais” por “B” e, finalmente, “Sócrates” por
“x”. Você terá então

(Ex1*) Todos os A’s são B’s.

x é um A.

Logo, x é B.

22 filosofia
Você deve perceber que o argumento continua válido. Fica claro
assim que a validade do argumento nada tinha a ver com os conceitos
materiais (“materiais” porque tem um conteúdo, tem a ver com o mundo)
homem, mortal e Sócrates. Todo argumento da forma (Ex1*) será válido,
independente dos termos que você usar no lugar de A, B e x. Aliás, note
que até mesmo.

(Ex4) Todos os chineses são loiros.

Pelé é chinês.

Logo, Pelé é loiro.

é válido! Claro que todas as frases são falsas, incluindo a conclusão. Mas
como ele tem a forma de (Ex1*), ele é logicamente válido. Como dissemos,
a lógica garante que se as premissas forem verdadeiras, o argumento
válido garante a verdade da conclusão. Como em (Ex3) as premissas não
são válidas, a conclusão pode não ser verdadeira. Às vezes até acontece
de, partindo de premissas falsas, por acaso, chegarmos a uma conclusão
verdadeira.

Exemplificando

(Ex5) Todos os humanos são quadrúpedes.

Todos os quadrúpedes são racionais.

Logo, todos os humanos são racionais.

Esse argumento é formalmente válido, porque a forma

(Ex5*) Todos os A’s são B’s.

Todos os B’s são C’s.

Logo, todos os A’s são C’s.

é logicamente válida. Assim, formal significa que o que importa no Dizemos que a lógica é formal
porque ela não se importa com
argumento é sua forma, a sua estrutura, não seu conteúdo específico. o conteúdo, mas apenas com a
forma dos argumentos.

LóGICA | UNIDADE 1 23
Universalidade

Da formalidade da lógica se segue outra característica importante: sua


universalidade. Nossos exemplos até agora trataram de Sócrates, de
chuva, de milionários, de chineses, de loiros, de quadrúpedes etc. Ou seja,
não existe uma restrição da lógica no sentido de que ela só tenha valor
para discutir tal e tal tema. Qualquer assunto, todo domínio do discurso
humano, pode ser tratado pela lógica. Por isso se diz também que ela é
“neutra em tópico”: ela pode ser usada para discutir qualquer tópico.

Dedução e Indução

Dissemos que na lógica há heróis e vilões, bons e maus argumentos.


Mas, como sempre na vida, também há argumentos medianos, que não
são de todo maus, nem bons. Eles não são argumentos dedutivamente
válidos, como os argumentos ideais da lógica. Mas também não são
falaciosos, ou enganosos, na medida em que não simulam uma falsa
derivação. Esses são os argumentos indutivos.

Todos os exemplos de argumentos apresentados até aqui são exemplos


de argumentos dedutivos. Não existe uma maneira incontestável de
se distinguir argumentos dedutivos de argumentos indutivos. Muitas
vezes se procura distinguir induções de deduções por meio do grau
de generalidade das premissas e conclusões. Sentenças podem ser
gerais (quando tratam de “todos”) ou particulares (quando tratam de
“alguns” ou de um indivíduo específico). Assim, diz-se muitas vezes
que um argumento dedutivo se caracteriza pela passagem do geral
para o particular (como Ex1 e Ex3): partimos de uma premissa sobre
todos e concluímos algo sobre um caso particular (Sócrates e João).
Um argumento indutivo, por sua vez, parte de premissas particulares e
deriva algo geral.

24 filosofia
Exemplificando

(Ex6) Pelé é brasileiro e bom jogador de futebol.

Ronaldo é brasileiro e bom jogador de futebol.

Neymar é brasileiro e bom jogador de futebol.

Logo: todo brasileiro é bom jogador de futebol.

Você certamente logo percebeu que esse não é um bom argumento


(embora ele tenha uma estrutura formal: x é A e B, y é A e B, z é A e B,
logo todo A é B). De fato, as premissas são verdadeiras e a conclusão Você já usou raciocínios
indutivos? Você saberia dar um
falsa. Isso não significa, porém, que toda indução acaba em falsidade. outro exemplo de raciocínio
indutivo?
Substitua nesse exemplo “bom jogador de futebol” por “é mortal” e você
terá uma conclusão verdadeira.

Mas essa não é uma caracterização muito boa da distinção dedução


versus indução. Veja o argumento:

(Ex7) Ou Pedro é o assassino ou João é o assassino.

Pedro não é o assassino.

Logo: João é o assassino.

Esse argumento não passa do geral para o particular, mas mesmo assim,
ele é corretamente classificado como dedutivo. Assim, uma melhor
caracterização da distinção seria: uma dedução, quando parte de
premissas verdadeiras, garante a verdade da conclusão; uma indução,
mesmo quando parte de premissas verdadeiras, não garante a verdade
da conclusão. A indução pode tornar plausível ou provável a conclusão,
mas não é suficiente para garantir a sua verdade.

Abdução: Existe, aliás, uma terceira forma de argumento, chamada de


“abdução”.

Exemplificando

(Ex8) Maria usa bengala, lencinho na cabeça e passa o dia tricotando


na cadeira de balanço.

Logo: Maria é idosa.

LóGICA | UNIDADE 1 25
Todos nós fazemos uso desse tipo de raciocínio diariamente. É claro que
a conclusão, como no caso da indução, não é garantida pelas premissas.
Maria poderia ser uma garota de 15 anos. Mas, convenhamos, é bastante
improvável. A força do argumento abdutivo vem do que se poderia
Raciocínios abdutivos chamar de “efeito de tipicalidade”. Tipicamente, idosas usam bengalas
muitas vezes manifestam
preconceitos. Você e tricotam em cadeiras de balanço. Garotas de 15 anos tipicamente não
consegue dar um exemplo
de um raciocínio abdutivo fazem isso. Note, porém, que esse argumento não é puramente formal,
preconceituoso? Cuidado com
eles!
no sentido que definimos acima. Não há como substituir “bengala”,
“lencinho”, “tricotar” etc., por variáveis A, B, e x mantendo a sua
plausibilidade. Na abdução, os termos materiais ocorrem de maneira
relevante para o raciocínio.

De qualquer forma, como este é um curso de lógica formal, nos


dedicaremos apenas aos argumentos dedutivos. Além do mais, esses
são os melhores argumentos possíveis.

Frases, sentenças, juízos e proposições

Até agora usamos o termo “frase” para nos referir à unidade básica de
comunicação e como constituinte básico também dos argumentos.
Algumas vezes, a filosofia introduz expressões técnicas para fazer
distinções que não são comuns ou não são claras na linguagem
coloquial. Assim, lógicos e filósofos da linguagem têm usado o termo
“sentença” para designar essa entidade da linguagem que corresponde
ao que os gramáticos chamam de “frase”, “oração” ou “período”. Assim,
“a neve é branca”, “Sócrates é mortal” e “todos os homens são mortais”
são exemplos de sentenças. Aliás, elas constituem um tipo particular
de sentenças: as sentenças declarativas ou descritivas. Essas sentenças
se caracterizam por pretender descrever a realidade. Assim, elas
têm caracteristicamente a qualidade de serem verdadeiras ou falsas.
Segundo a teoria correspondencial da verdade, uma sentença é
verdadeira quando corresponde à realidade, e falsa no caso contrário.
Como lógica tem a ver com preservação de verdade, ela só se ocupa
com sentenças declarativas.

26 FILOSOFIA
Note que nem todas as sentenças expressam uma informação ou
descrevem a realidade. Por exemplo, “que horas são?” e “fecha a porta!”
não pretendem descrever a realidade, e não são declarativas. Elas são
respectivamente sentenças interrogativas e imperativas.

Juízo

Existem coisas muito parecidas com as sentenças e que são, muitas vezes,
confundidas com estas: os juízos e as proposições. Um juízo não é algo
linguístico como a sentença, mas algo mental, um pensamento. Imagine
que um amigo me pergunta qual eu considero o melhor time carioca.
Como eu sei que esse amigo é um flamenguista fanático, e eu não quero
magoá-lo, eu posso lhe dizer que o Flamengo é o melhor time, apesar
de eu julgar, no silêncio da minha mente, que o Vasco é melhor. Juízo é
uma entidade mental, algo que ocorre na mente de sujeitos pensantes.
Um juízo pode ser expresso na forma de uma sentença. Mas, no caso da
mentira, por exemplo, posso julgar algo e dizer o contrário do que julgo.

Proposição

Outra entidade que deve ser distinta da sentença é a proposição. Uma


proposição é o sentido da sentença, aquilo que ela expressa, o seu conteúdo. Uma entidade é chamada
abstrata quando não está
A proposição é uma entidade abstrata, diferente da sentença que é escrita no espaço nem no tempo.
Quando uma entidade não é
num papel e do juízo que ocorre no meu cérebro. Veja a sentença “a neve abstrata, dizemos que ela é
concreta
é branca” e a sentença “snow is white”. Essas são duas sentenças diferentes,
com palavras diferentes, de línguas diferentes – a primeira é do português,
a segunda do inglês. Mas elas têm algo em comum: elas expressam a
mesma proposição. Outro exemplo: “Julieta beijou Romeu” e “Romeu foi
beijado por Julieta”. Essas duas sentenças pertencem à mesma língua, ao
português, mas se diferenciam pela posição dos sujeitos e pelo verbo, uma
vez no ativo, outra no passivo. Mas, novamente, elas expressam exatamente
o mesmo conteúdo, portanto, a mesma proposição. Podemos dizer que
sentenças sinônimas expressam a mesma proposição.

LóGICA | UNIDADE 1 27
Sentença, juízo e proposição são similares em alguns sentidos: elas são
unidades mínimas de informação e conteúdo, podendo ser verdadeiras
ou falsas. Lembre os nossos exemplos 1, 2 e 3: todos eles poderiam ser
pensados como contendo sentenças, juízos ou proposições. Do ponto
de vista puramente lógico, nada mudaria. Assim, é natural que os lógicos
fiquem um pouco incertos a respeito da questão sobre qual delas eles
devem tomar como seu material básico. No período moderno era normal
considerar o juízo a categoria mais fundamental. Lógica seria a disciplina
que nos orienta a manipular corretamente nossos pensamentos e
juízos. Immanuel Kant, por exemplo, pensava desta forma. Na filosofia
contemporânea encontramos basicamente defensores da sentença (da
linguagem) e defensores da proposição (conteúdos abstratos) como
material básico da lógica. Mais adiante estudaremos um tipo particular
de lógica, que alguns preferem chamar de “lógica sentencial” enquanto
outros chamam de “lógica proposicional”. No fundo, trata-se exatamente
da mesma lógica, apenas a ideologia filosófica se distingue. Mas isso não
precisa nos preocupar agora.

Palavras e Conceitos

Assim como se distingue sentenças de proposições, deve-se distinguir


também termos (ou palavras) de conceitos. Na verdade, termos estão
para os conceitos como as sentenças estão para as proposições. Termos
são entidades linguísticas como as sentenças. Sentenças são compostas
de termos. Conceitos são entidades abstratas como as proposições.
Proposições são compostas de conceitos. E como “a neve é branca” e
“snow is white” são sentenças que expressam a mesma proposição, assim
“branco” e “white” (bem como “neve” e “snow”) são termos diferentes
que expressam o mesmo conceito (o mesmo conteúdo).

28 filosofia
PROBLEMAS COM SENTENÇAS

Ambiguidade

Existem dois problemas que afetam os termos, que são os constituintes


fundamentais das sentenças e, assim, dos argumentos. O primeiro é
o problema da ambiguidade. Ele consiste no fato de que às vezes o
mesmo termo expressa dois conceitos diferentes: manga (fruta ou parte
da camisa?), banco (instituição financeira ou assento?), surfar (na praia
ou internet?), são apenas alguns exemplos. Se você usar premissas
onde esses termos são usados ambiguamente, seu argumento poderá
parecer válido, embora não seja.

Exemplificando

(Ex9) Havia três bancos naquela praça.

Um banco é uma instituição financeira.

Logo, havia três instituições financeiras naquela praça.

Se “banco” na primeira premissa se refere ao assento, o argumento não


é correto. Em geral, o contexto deixa claro qual conceito subentendido.
Na sentença “pedi um crédito ao meu banco” fica claro que “banco” se
refere à instituição financeira e não ao assento. Mas uma sentença como
Você conhece outros
“passei a tarde surfando” pode deixar ainda em aberto se passei a tarde exemplos de ambiguidade?
na praia ou na internet.

Na filosofia, estar atento para possíveis ambiguidades é importante


porque às vezes os dois conceitos ligados a um termo podem ser muito
próximos, e isso gera controvérsias: “liberdade” por exemplo, pode
significar ausência de coerção externa ou existência de possibilidade
real. Eu sou livre para sair voando pela janela (não há nada que me
proíba), mas eu posso mesmo? Eu sou livre para matar alguém (tenho
essa alternativa real), mas não uma há forte coerção ética e jurídica para
que eu não o faça?

LóGICA | UNIDADE 1 29
Vagueza

Outro problema que afeta nossos termos (e conceitos) é a vagueza.


Observe os termos: alto, gordo e careca. A partir de qual altura alguém
pode ser considerado alto? A partir de qual peso (proporcional) alguém
pode ser considerado gordo? A partir de quantos fios de cabelo alguém
deixa ou passa a ser careca? Vários termos da nossa linguagem são
vagos. Um termo vago pode corromper um argumento.

Exemplificando

Alguém cabeludo não se torna careca perdendo um fio.

Pedro é cabeludo

Pedro perdeu um fio de cabelo

Logo: Pedro continua cabeludo

Esse argumento parece válido. Mas note que, se ele fosse realmente
válido, ele implicaria que depois de 60 anos, quando Pedro só tem 2 fios
de cabelo, ainda é cabeludo, o que é um absurdo.

Para resolver os problemas da ambiguidade e da vagueza existe um


recurso muito importante na lógica: as definições.

Definições

A palavra “definir” significa “delimitar”, ou seja, estabelecer certos critérios


para o uso de um termo ou expressão. Em geral, definimos um termo
identificando-o com outros termos conhecidos. Por isso, uma definição
pode ser entendida em termos de igualdade entre essas expressões.
A expressão que aparece à Observe a definição clássica: o ser humano é o animal racional. Da
esquerda do sinal de igual é
chamada definiendum (do latim: maneira formal, assim escrevemos:
aquilo que se quer definir), a
expressão à direta é chamada
definiens (do latim: aquilo que ser humano =def. animal racional
define).

30 FILOSOFIA
O sinal de igualdade entre as duas expressões com seu índice “def.” indica
que podemos compreendê-las como equivalentes, uma estabelecendo
o significado da outra. Nesta definição, a expressão “ser humano” é
definida utilizando, como recurso, a igualdade à expressão “animal
racional”. Assim, alguém que conhece os significados dos termos “animal”
e “racional” pode aprender o que significa a expressão “ser humano”.

Segundo esta concepção clássica de definição de Aristóteles o definiens


sempre contém um genus, um conceito geral, no caso, “animal”. Neste
genus, está incluído o definiendum (ser humano) e uma differentia
specifica, uma qualidade específica que o delimita em relação aos
outros conceitos. Desta maneira, podemos entender que o homem é
um animal cuja differentia specifica é ser racional, sendo assim distinto
dos outros animais.

Os critérios de uma boa definição. Uma definição explícita bem


sucedida tem de satisfazer a três requisitos:

(1) Permutabilidade ou eliminabilidade: o definiendum e o definiens


podem se substituir em contextos normais, sem que haja mudança no
valor de verdade (princípio de substituição salva veritate).

Exemplificando

Seres humanos têm a habilidade de escrever =def. animais racionais têm a


habilidade de escrever.

(2) Não circularidade: o definiens não deve pressupor o significado do


definiendum. Um exemplo claro de circularidade seria:

Exemplificando

Bombeiro =def. profissional que exerce a função de bombeiro.

Pois para se entender o significado de “bombeiro” é preciso saber o


significado do termo “bombeiro”, causando uma circularidade que nada
explica. Também é possível que duas definições que não são circulares
por si só o sejam numa teoria, por exemplo, nas definições:

LÓGICA | unidade 1 31
reta =def. a curva mais curta entre dois pontos

ponto =def. interseção de duas retas concorrentes

Existe uma mútua dependência, mas neste caso a circularidade é


inevitável e não compromete a eficiência da teoria.

(3) Não redundância: o definiens não deve conter nenhuma informação


supérflua.

Exemplificando (na definição)

ser humano =def. animal racional que pode pintar quadros.


Definir não é nada fácil. Tente
definir, por exemplo, coisas A expressão “pode pintar quadros” não é falsa, mas sim supérflua nesta
simples como: automóvel,
casa, celular. Se não conseguir, definição.
consulte um dicionário – ele vai
ajudar!
Conceitos lógicos também são introduzidos por meio de definições. Por
isso é importante apontar para alguns tipos:

1) Definições explícitas: são as definições que satisfazem esses três


requisitos acima.

2) Definições implícitas: são definições que não podem ser expressas


em uma sentença, e encontram-se subentendidas em um contexto.
Por axioma entendemos as
sentenças tomadas como
Dentro da geometria, por exemplo, somente se aceita alguns conceitos
verdadeiras sem demonstração definidos em axiomas, e que posteriormente serão esclarecidos dentro
em uma teoria. Elas são,
por assim dizer, as verdades do seu contexto de uso no sistema. Veja, por exemplo, as definições de
básicas, das quais derivamos as
outras verdades (“teoremas”). ponto e reta acima.

3) Definições operacionais: são definições que ocorrem geralmente


em contextos empíricos. Elas estipulam regras de procedimento para
se descobrir se uma determinada coisa tem uma propriedade ou não.
Propriedades como, por exemplo, combustível ou solúvel em água são
definidas operacionalmente: “Coloque cloreto de sódio na água, se ele
se dissolver, então cloreto de sódio é solúvel em água”.

4) Definições ostensivas: é apontando que se definem os termos mais


primitivos da linguagem. Quando a mãe ensina a criança a falar, ela
aponta e diz “isto é vermelho” e assim a criança aprende o conceito de

32 FILOSOFIA
“vermelho”. Isso também não deixa de ser uma forma de definir, por
assim dizer, via amostragem.

5) Definições recursivas: este tipo define uma sequência de elementos


gerados pela aplicação reiterada de uma ou mais funções a partir de
um conjunto inicial. Por exemplo: pode-se definir a sequência infinita
dos números naturais usando apenas os três termos 0, 1 e soma. Assim,
0 e 1 são termos primitivos, o 2 é definido como 1+1, o 3 é definido
como 1+1+1, o quatro definido como 1+1+1+1, e assim por diante.
Definições recursivas são muito importantes na lógica. Começamos o
livro mostrando como, a partir de 23 letras, geramos infinitas sentenças
e argumentos. De modo similar, as fórmulas da lógica, que estudaremos
adiante, são geradas recursivamente.

6) Definições extensionais e intensionais: definições extensionais são


definições por meio de listagem completa. Tome por exemplo, o
conjunto B={John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo
Starr}, esta é uma definição extensional de B. Definições intensionais
definem por meio de uma propriedade identificadora, exemplo: “os
integrantes d’ Os Beatles” é uma definição intensional de B.

Além disso, é importante diferenciar definições nominais de definições


reais. Definições nominais são estipulações arbitrárias e, portanto, não
são nem verdadeiras nem falsas. Por exemplo, posso inventar novas
palavras e chamar cavalos andaluzes de “cavaluzes” e cavalos árabes de
“cavárabes”. Porém, definições reais pretendem ser mais do que isso.
A filosofia grega, tentando definir conceitos como “belo” e “bom”, não
pretendia estipular, mas sim descobrir a essência destas coisas. Fazendo
esta distinção vemos que definições são, por um lado, muito simples,
por outro, podem ser grandes descobertas. Quando você descobrir a
definição de “justiça”, me avise! Eu sempre quis saber o que é isso...

LÓGICA | unidade 1 33
Resumo

Nesta unidade você viu que a lógica estuda a validade de argumentos.


Nestes, derivamos conclusões verdadeiras a partir de premissas
verdadeiras. Você aprendeu algumas definições de verdade, e viu que
existem diferentes tipos de verdade. Além disso, você aprendeu um
pouco sobre a importância das definições. Finalmente, aprendeu a
distinguir sentenças, juízos e proposições.

Ao final desta primeira unidade, você pode estar pensando: Bem, eu


entendi. A lógica estuda a validade de argumentos. Um argumento
é logicamente válido quando nele se deriva uma verdade de outras
verdades. Mas, então, será que eu preciso mesmo estudar lógica? Nos
exemplos acima eu já soube reconhecer argumentos como válidos e
inválidos. Logo, eu já sei lógica.

De fato, todos nós já sabemos lógica na medida em que raciocinamos e


argumentamos. Mas o estudo da lógica deve ajudar você a aperfeiçoar
essa sua capacidade. Mais que isso, você vai entender qual estrutura
está por detrás dessa sua capacidade. Você até pode saber chutar uma
bola de futebol no ângulo, mas só o físico pode explicar como isso
ocorre exatamente, avaliando impulso, peso da bola, força do vento etc.
Você pode raciocinar e argumentar corretamente, mas o lógico vai lhe
mostrar o motivo pelo qual o seu argumento é correto.

Dê um exemplo de:

1) argumento válido com premissas e conclusão verdadeiras.

2) argumento válido com premissas e conclusão falsas.

3) argumento válido com premissas falsas e conclusão


verdadeira.

4) argumento inválido com premissas e conclusão


verdadeira.

5) argumento inválido com premissas e conclusão falsas.

34 filosofia
Responda: pode haver um argumento válido com
premissas verdadeiras e conclusão falsa?

Dê um exemplo de um argumento dedutivo e um exemplo


de um argumento indutivo.

Dê um exemplo de duas sentenças diferentes que


expressam a mesma proposição. De um exemplo de uma
sentença que expressa duas proposições diferentes.

HAACK, S. Filosofia das Lógicas. São Paulo: UNESP, 2002. Tradução de:
Cezar Augusto Mortari e Luiz Henrique Dutra.

IMAGUIRE, G. & BARROSO, C.A.C Lógica: Os Jogos da Razão. Fortaleza:


Editora da UFC, 2006.

MORTARI, C. Introdução à Lógica. São Paulo: Editora UNESP, 2001.

TUGENDHAT, E. & WOLF, U. Propedêutica lógico-semântica. Petrópolis:


Vozes, 1997. Tradução de: Fernando Augusto da Rocha Rodrigues.

LóGICA | UNIDADE 1 35
UNIDADE

2
OBJETIVO DESTA UNIDADE
SILOGISMO ARISTOTÉLICO Apresentar algumas
noções essenciais da
teoria de conjuntos bem
como o primeiro sistema
lógico da história, o
Silogismo de Aristóteles.

Introdução

Com certeza, muito antes de Aristóteles já fazíamos lógica, já


pensávamos logicamente. Mas foi Aristóteles, no quarto século
antes de Cristo, quem primeiro descreveu o raciocínio lógico Aristóteles segundo a pintura de
Rafael de 1506 – 1510
com regras claras. Por isso, ele é considerado o “Pai da Lógica”.
“Silogismo”, do grego antigo συλλογισμός, foi o termo usado pelo
próprio Aristóteles para designar esse tipo de argumentação bem
formulada, composta por premissas e conclusão.

Aristóteles é um filósofo grego, nascido em Estagira em 384 a.C.,


e é considerado o “pai da lógica” porque criou o primeiro sistema
lógica da humanidade, conhecido como Silogismo.

Mas antes de falarmos diretamente sobre o silogismo,


vamos relembrar um pouco a Teoria dos Conjuntos que você Fonte: http://botafogo.nova-
acropole.org.br/sites/default/
provavelmente já conhece e nos será muito útil, pois irá nos ajudar files/imagecache/550px_largura/
agenda/botafogo/aristoteles.
jpg.png
a entender melhor como funciona o raciocínio silogístico. Na verdade,
essa teoria é muito posterior ao silogismo – ela foi desenvolvida no
final do século XIX. Mas, como dissemos, ela vai nos ajudar a entender
mais facilmente o Silogismo. Aliás, se Aristóteles conhecesse a teoria
de conjuntos poderia ter formulado seu sistema de modo mais simples.

Conjuntos

Quando falamos em conjunto, a primeira coisa que nos vem à mente


são ideias de coleções ou agrupamentos de coisas, não é? Mas não
só coisas como objetos, também pessoas, animais, sentimentos,
números, enfim, tudo que existe, já existiu ou existirá no universo pode
ser agrupado num conjunto. Aliás, também coisas que não existem:
há um conjunto de sete anões na história da Branca de Neve.Quando
pensamos nesses agrupamentos de coisas, imaginamos que para ser
parte de um conjunto é necessário estar fisicamente próximo ou ter
alguma característica em comum. Isto não é verdade. Você pode criar o
conjunto que quiser, mesmo que seu conjunto tenha como elementos
os dinossauros, o número 17 e Batman.

Para se definir um conjunto formalmente, usamos as chaves “{ }” e


geralmente dedicamos uma letra maiúscula para designá-lo.

Exemplificando

Para o conjunto das primeiras três letras do alfabeto:

B = {a, b, c}

Às vezes, ao invés de listar todos os elementos, enunciamos uma regra


de pertinência ao conjunto:

A = {x | x é uma letra do alfabeto}

ao invés de

38 FILOSOFIA
A = {a, b, c, d, e, f, g, h, i, j, k, l, m, n o, p, q, r, s, t u, v, w, x, y, z}

Isso é especialmente importante no caso dos conjuntos infinitos, por


exemplo:
Quantos conjuntos infinitos
P = {x | x número par}, você conhece?

ou simplesmente:

P = {0, 2, 4, 6, ...}

Pertinência

Quando queremos dizer que algo faz parte de um conjunto, dizemos


que este algo é “elemento” ou “membro” do conjunto, ou ainda,
que ele “pertence” ao conjunto. Assim, se desejarmos dizer que Ana
é um elemento do conjunto das bailarinas brasileiras (conjunto B),
escrevemos:

Ana ∈ B

Isto é, Ana pertence ao conjunto das bailarinas brasileiras. Quando,


por outro lado, queremos dizer que um elemento não pertence a certo
conjunto, escrevemos:

Pelé ∉ B

É importante saber que um conjunto também pode ser elemento de


outro conjunto.

Vejamos:

D = {h, i, j}

E = {Paulo, {h, i, j}, 4}

ou, escrito de outra forma:

{Paulo, D, 4}

Portanto, D ∈ E (isto é, o conjunto D pertence ao conjunto E).

LóGICA | UNIDADE 2 39
Atenção! embora o conjunto D seja elemento do conjunto E, isso não
significa que seus elementos o sejam também. Nem h, nem i, nem j são
elementos do conjunto E. Usando nossos símbolos:

D  E e h  D, mas h ∉E

Continência

Podemos dizer que um conjunto X está contido num conjunto Y ou,


ainda, que X é subconjunto de Y, quando todos os elementos de X
também são elementos de Y. Usamos o símbolo “⊂” para representar
essa relação.

Observe:

A = {a, b, c}

B = {a, b, c, d, e}

Então, A ⊂ B.

Podemos usar um diagrama (os chamados “diagramas de Venn”) para


tornar essa ideia mais evidente:
B

a b c

d e

O conjunto A é subconjunto de B, pois todos os seus elementos também


estão em B.

Quando um conjunto não é subconjunto do outro, pelo menos um de


seus elementos não está contido neste último. Atente:

R = {f, i, l, o}
R o S
S = {s, o, f, i, a} l f a s
i
Logo, R ⊄ S.

40 FILOSOFIA
O elemento “l” do conjunto R não está presente no conjunto S,
portanto, R não está contido em S. Os elementos “a” e “s”, por sua vez,
estão em S, mas não estão em R. Assim, S também não está contido em
R. Mas eles têm uma interseção comum: os elementos “f”, “i” e “o”
constituem essa interseção.

O filme Dangerous Knowledge (2007) do diretor David Malone é


um interessante documentário sobre a vida de quatro gênios,
incluindo George Cantor, o criador da teoria de conjuntos
contemporânea.

Conjuntos Especiais

Conjuntos unitários são os conjuntos que contêm um único elemento apenas.

Exemplificando

{21} é o conjunto que tem como elemento o número 21.

{t} é o conjunto que tem como elemento a letra t.

{Heitor Villa-Lobos} é o conjunto que tem como elemento o maestro


Villa-Lobos.

Não confunda o conjunto unitário com seu próprio elemento: {Heitor


Villa-Lobos} é o conjunto unitário, enquanto Heitor Villa-Lobos foi um
grande músico brasileiro, nascido em 1887 e compositor das Bachianas
brasileiras. O conjunto {Heitor Villa-Lobos} não foi músico, nunca
compôs nada, nem nasceu em nenhum lugar.

O conjunto vazio é um conjunto bem peculiar. É o conjunto que não


contém nenhum elemento e pode ser representado destas formas:

{ } ou 

LóGICA | UNIDADE 2 41
Atenção! não confunda o conjunto vazio com o conjunto {}, este é o
conjunto unitário que tem como único elemento o conjunto vazio.

O conjunto que contém tudo, ou seja, o conjunto do qual todos os


outros conjuntos são subconjuntos, se chama conjunto universo.Nada
existe fora dele. Usamos para simbolizá-lo: U. Na verdade, ninguém
sabe muito bem qual a extensão desse “tudo”. O conjunto universo é,
assim, uma idealização. Em geral, se estabelece um domínio do discurso
e, relativo a esse, entendemos o conjunto universo.

Exemplificado

Dado o domínio dos números naturais, U seria o conjunto ao qual


pertencem todos os números.

Conjuntos infinitos: O infinito sempre fascinou os matemáticos e


filósofos. Repare que existem vários conjuntos infinitos:

N = {0, 1, 2, 3, 4, ...}

P = {0, 2, 4, 6, 8, ...}

I = {1, 3, 5, 7, 9...}

D = {10, 20, 30, 40, 50, ...}

O conjunto dos naturais, o conjunto dos números pares, o conjunto dos


números ímpares e o conjunto dos múltiplos de 10 são apenas alguns
dos infinitos conjuntos infinitos. A ideia que um conjunto infinito é um
conjunto que tudo abrange é, claro, errada: D é infinito, mas existem
(infinitos) números que não são seus membros. Note, aliás, que

D ⊂ P e P⊂N

Isso já deveria bastar para você desconfiar que existem infinitos


“maiores” e infinitos “menores”. Mas faz sentido mesmo o infinito ter
diferentes tamanhos? De fato, George Cantor, um grande matemático
alemão e pai da teoria dos conjuntos moderna, mostrou que embora
um conjunto infinito possa realmente ser subconjunto de outro (como
o dos pares é subconjunto dos naturais), eles podem ter o mesmo

42 FILOSOFIA
“tamanho” – que ele chamou de “cardinalidade”. Cardinalidade é, por
assim dizer, a medida do tamanho de um conjunto. Mas ele foi além
disso: ele descobriu que alguns infinitos são ainda maiores que todos
estes “pequenos” infinitos que mencionamos acima. Esses infinitos
“pequenos” ele chamava de “infinitos enumeráveis”. Mas existem
infinitos ainda maiores, como por exemplo, o conjunto de todos os
conjuntos de números naturais, o chamado “conjunto potência do
conjunto dos naturais”, P(N) (logo abaixo definiremos “conjunto
potência”):

P(N) = {, {1}, {2}, ..., {2, 3, 4}, {2, 3, 5},... {2, 3, 4,...}, P, I, D, N, ...}

Note que esse conjunto tem como elementos o conjunto vazio, vários
conjuntos unitários, vários conjuntos finitos e vários conjuntos infinitos.
Esses conjuntos infinitos “maiores” são chamados “não-enumeráveis”
porque não há maneira de colocar todos seus elementos numa
listagem simples (note que “...” ocorrem várias vezes na tentativa de
representação acima). Bem, não entraremos mais nos detalhes dessa
fascinante teoria, mas há bastante literatura a respeito para quem
quiser se aprofundar.

Existe um pequeno, mas excelente vídeo no Youtube sobre o Hotel


de Hilbert, e que explica muito bem esse estranho, mas fascinante
infinito: http://www.youtube.com/watch?v=pjOVHzy_DVU

Operações com Conjuntos

Representamos a união de dois conjuntos desta forma:

X∪Y=Z

Sendo Z = {z | z ∈ X ou z ∈ Y}, isto é, o conjunto resultante da união dos


conjuntos X e Y é composto pelos elementos de X mais os elementos
de Y.

LóGICA | UNIDADE 2 43
Na linguagem, essa união é representada pelo “ou”: o conjunto de
todos os homens ou mulheres é o conjunto união, o conjunto de todos
os humanos.

Representamos a interseção de dois conjuntos assim:

X ∩ Y= Z

Sendo Z = {z | z ∈ X e z ∈ Y}, ou seja, Z é composto pelos elementos que


estão em X e que também estão em Y.

Geralmente, usamos “e” para representar a interseção na linguagem.


O conjunto de todos que são homens e casados é o conjunto de todos
os maridos.

Para simbolizar o complemento de um conjunto X, usamos:

X’ ou X

Sendo X = {x | x ∈ U e x ∉ X}, ou seja, o complemento de X ( X ) é o


conjunto de todo e qualquer elemento do universo que não pertença a X
(lembre: o universo é determinado pelo domínio). Assim, por exemplo,
tendo como domínio os números naturais, o conjunto complemento
dos pares é o conjunto dos ímpares. No domínio dos humanos, o
complemento do conjunto das mulheres é o conjunto dos homens.

A diferença do conjunto X em relação a um conjunto Y é:

X~Y=Z

Sendo Z = {x | x ∈ X e x ∉ Y}: o conjunto resultante da diferença entre


X e Y é composto pelos elementos do conjunto X salvo aqueles que
são elementos do conjunto Y. Tomando como exemplos os conjuntos
infinitos P (pares) e D (múltiplos de dez) definidos acima:

P ~ D = {0, 2, 4, 6, 8, 12, 14, 16, 18, 22, ...}

O conjunto potência de um conjunto X é representado por:

P (X)

Onde P(X) = {Y | Y ⊂ X}, isto é, o conjunto potência de X é o conjunto de


todos os subconjuntos de X.

44 FILOSOFIA
Por exemplo, um conjunto A = {a, b, c}:

P(A)= {, {a}, {b}, {c}, {a,b}, {a,c}, {b,c}, {a,b,c}}

Na seção sobre infinitos já mencionamos um conjunto potência


importante: o conjunto potência do conjunto dos naturais “P(N)”.
Lembrete: nunca se esqueça de incluir o conjunto vazio (que é
subconjunto de todos os conjuntos) e o próprio conjunto X.

Atividades: para fixar o que foi visto até aqui, tente resolver as
atividades 1 e 2 no final desta unidade. Se tiver dúvidas, melhor não
seguir em frente. Leia mais uma vez, até que tudo tenha ficado claro.

O Silogismo

No capítulo anterior, você já viu que a lógica não se ocupa com a


avaliação da verdade ou falsidade das premissas, mas sim com a validade
dos argumentos, oferecendo regras de derivação ou inferência. Vamos
relembrar alguns princípios lógicos:
Durante cerca de dois mil anos,
todos os lógicos aceitaram o
1) A conclusão de um argumento com pelo menos uma das premissas princípio “do falso se segue
qualquer coisa”. Newton da
falsas pode ser falsa ou verdadeira. Esse princípio era conhecido Costa, um lógico brasileiro,
hoje professor na UFSC, foi o
na escolástica como ex falso sequitur quodlibet – do falso se segue primeiro do mundo a criar uma
lógica onde esse princípio não
qualquer coisa. vale. Essa lógica é chamada de
“Lógica Paraconsistente”.

2) Um argumento com duas premissas verdadeiras e com uma


conclusão falsa não faz uso de uma regra de inferência legítima.

3) Um argumento com todas as premissas verdadeiras e com uma


regra de inferência legítima tem sempre uma conclusão verdadeira.
Por contraposição: um argumento com uma inferência legítima e com
uma conclusão falsa tem sempre uma premissa falsa.

A lógica silogística de Aristóteles foi muito estudada durante a idade


média e acabou por ser reformulada nesse período. Não é por menos
que vemos tanto latim quando a estudamos. A base do silogismo

LÓGICA | unidade 2 45
é a dedução de uma conclusão a partir de duas premissas. Tanto a
conclusão quanto as premissas são juízos ou proposições que você já
aprendeu a distinguir no capítulo anterior. Um exemplo de silogismo é
a dedução:

P1 Todos os homens são mortais.

P2 Todos os filósofos são homens.

C: Todos os filósofos são mortais.

P1 é chamada premissa maior, pois ela é a mais geral e engloba o maior


número de elementos, ela contém o maior conjunto da dedução (no
caso, conjunto dos homens). P2 é chamada premissa menor exatamente
pelo oposto, ela fala de um caso mais particular (conjunto dos filósofos).
A ordem das premissas não importa, a menor pode estar acima da maior.
Para identificarmos cada uma, temos que analisar a abrangência da
premissa. C é a conclusão. Cada uma das proposições tem a forma:

T1 c T2

T1 e T2 são geralmente predicados e “c” indica um dos quatro termos


conectivos possíveis.

Usamos dois critérios para classificar proposições: quantidade e qualidade.


Os conectivos acima são o resultado da aplicação destes dois critérios.
A quantidade diz respeito ao número de sujeitos aos quais atribuímos
predicados (todos ou só alguns). A qualidade se refere a como predicamos:
se afirmamos ou se negamos a posse do predicado pelo sujeito.

Quantidade:

1) Proposições universais: Todos os S são P.

Ex: Todos os homens são mortais.

2) Proposições particulares: Alguns S são P.

Ex: Alguns homens são filósofos.

3) Proposições singulares: Um S é P.

Ex: Sócrates é mortal.

46 FILOSOFIA
Qualidade:

1) Proposições afirmativas ou positivas: S é P

Ex: Todos os homens são mortais.

2) Proposições negativas: S não é P.

Ex: Nenhum homem é quadrúpede.

Se combinarmos os dois critérios, obtemos:

Universal positiva: todos S são P (A)

Particular positiva: alguns S são P (I)

Universal negativa: nenhum S é P (E)

Particular negativa: alguns S não são P (O)

Atenção! Usaremos as vogais A, E, I, O para designar cada tipo de


proposição acima. Assim, ficará mais fácil identificá-las quando
estudarmos as figuras. Para ajudar a lembrar, na idade média, os
estudiosos escolheram estas letras a partir das palavras latinas:

A F I R M O (universal e particular positivos: A, I)

N E G O (universal e particular negativos: E, O)

Agora ficou mais fácil, não é mesmo? É importante observarmos


que além destas partículas lógicas (alguns, todos, não etc.), sempre
aparecem três termos.

Veja novamente no exemplo:

P1 Todos os homens são mortais.

P2 Todos os filósofos são homens.

C Todos os filósofos são mortais.

LÓGICA | unidade 2 47
“homens”, “mortais” e “filósofos”. O termo médio sempre aparece
nas duas premissas, no caso, homens. Sabendo-se a relação entre
homens e mortais e entre homens e filósofos, podemos inferir a relação
entre filósofos e mortais. Observe que o termo médio desaparece na
conclusão, e só restam os termos que apareceram apenas uma vez nas
premissas.

Para ilustrar:

P1 Todos os homens (M) são mortais (P).

P2 Todos os filósofos (S) são homens (M).

C Todos os filósofos (S) são mortais (P).

O termo médio aparece riscado. O termo que aparece na conclusão


como sujeito (no caso, filósofos)é chamado de termo menor e o que
aparece como predicado (mortais) é o termo maior.

A tradição distinguiu quatro figuras com base na posição do termo


sujeito (S), do termo predicado(P) e do termo médio (M). Cada figura é
um modelo da configuração do raciocínio que pertence àquela figura.
Veja a estrutura de cada figura:

1ª FIGURA 2ª FIGURA 3ª FIGURA 4ª FIGURA

M c P P c M M c P P c M

S c M S c M M c S Mc S

S c P S c P S c P S c P

Cada figura tem três proposições que podem ser do tipo A, E, I ou O.


Identificamos o modo (modus) de cada figura com três destas letras,
por exemplo, “EAE” significa que a premissa maior é do tipo E, a menor
é do tipo A e a conclusão é do tipo E. Quando conhecemos o modo da
figura fica fácil inferirmos a conclusão. Aproveitando essas vogais que
ocorrem em cada tipo de silogismo, os medievais, para ajudar a decorar
os argumentos válidos, batizaram os silogismos com nomes femininos.
Você vai estranhar alguns deles, mas eram realmente nomes da época.
Vamos vê-los agora.

48 FILOSOFIA
Primeira Figura

1. Modo Barbara (AAA) 2. Modo Celarent (EAE)

Todo M é P Nenhum M é P

Todo S é M Todo S é M

Todo S é P Nenhum S é P

3. Modo Darii (AII) 4. Modo Ferio (EIO)

Todo M é P Nenhum M é P

Algum S é M Algum S é M

Algum S é P Algum S não é P

Agora você também deve ter entendido porque revisamos a teoria


dos conjuntos no início do capítulo. Os silogismos são raciocínios que
reproduzem nossas intuições lógicas sobre coleções ou conjuntos de
objetos. Assim, eles podem ser representados por meio dos mesmos
diagramas que usamos para representar as relações entre conjuntos.
Veja como representar os quatro modos da primeira figura por meio de
diagramas do tipo de Venn:

Barbara: Celarent

P M P M

S S

Darli: Ferio:

P M P M

S S

LÓGICA | unidade 2 49
A relação “todo X é Y” é representada com o conjunto X dentro do
conjunto Y. A relação “nenhum X é Y” é representada com os conjuntos
separados. A relação “algum X é Y” é representada com um elemento (a
bolinha preta) X dentro do conjunto Y. E, finalmente, a relação “algum
X não é Y” é representada com um elemento X fora do conjunto Y
(ainda não ocorreu nessa figura, mas ocorrerá logo abaixo).

Vitral da universidade de Cambridge feito


em homenagem a John Venn

A representação de conjuntos e suas


relações por meio de diagramas é uma
ideia do matemático e filósofo britânico
do século XIX John Venn. Na foto, você vê
um vitral da Universidade de Cambridge
feita em sua homenagem por esse feito.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Venn-
stainedglass-gonville-caius.jpg

Segunda Figura

Vamos ver agora os modos da segunda figura, aquela onde o termo


médio (M) aparece no final:

P c M

S c M

S c P

Os modos da segunda figura são:

5. Modo Cesare (EAE) 6. Modo Camestres (AEE)

Nenhum P é M Todo P é M

Todo S é M Nenhum S é M

Nenhum S é P Nenhum S é P

50 FILOSOFIA
7. Modo Festino (EIO) 8. Modo Baroco (AOO)

Nenhum P é M Todo P é M

Algum S é M Algum S não é M

Algum S não é P Algum S não é P

Vamos ver os diagramas de Venn para esses modos?

Cesare Camestres

P M
S M P S

Festino Baroco

P M
M P

S
S

Terceira Figura

Vamos ver agora os modos da terceira figura, aquela onde o termo


médio (M) aparece no sempre no início:

M c P

M c S

S c P

Os seus modos são:

9. Modo Darapti (AAI) 10. Modo Disamis (IAI)

Todo M é P Algum M é P

Todo M é S Todo M é S

Algum S é P Algum S é P

LÓGICA | unidade 2 51
11. Modo Datisi (AII) 12. Modo Felapton (EAO)

Todo M é P Nenhum M é P

Algum M é S Todo M é S

Algum S é P Algum S não é P

13. Modo Ferison (EIO) 14. Modo Bocardo (OAO)

Nenhum M é P Algum M não é P

Algum M é S Todo M é S

Algum S não é P Algum S não é P

Quarta Figura

Finalmente, veremos os modos da quarta figura, onde o termo médio


aparece na primeira premissa no final, e na segunda premissa no
começo:

Você está estranhando P c M


os nomes dos silogismos?
Acredite, eram nomes comuns
para as mulheres da época. Se Mc S
quiser, descubra nomes atuais
que sirvam para o mesmo
propósito. Mas cuidado, eles S c P
precisam coincidir com as
vogais certas. Por exemplo: ao
invés de “Celarent” (2 modo da Os principais modos dessa figura são:
primeira figura) ficaria melhor
“Jeane”, você não acha?
15. Modo Bamalip (AAI) 16. Modo Camenes (AEE)

Todo P é M Todo P é M

Todo M é S Nenhum M é S

Algum S é P Nenhum S é P

52 FILOSOFIA
17. Modo Fesapo (EAO) 18. Modo Dimatis (IAI)

Nenhum P é M Algum P é M

Todo M é S Todo M é S

Algum S não é P Algum P é S

Exercitando:

Você conseguiria fazer os diagramas de Venn para esses modos?

Os escolásticos eram os
filósofos dominantes nas
universidades medievais
Os escolásticos inferiram alguns princípios silogísticos que vão nos ser europeias entre os séculos
XII e XVI. Eles se dedicaram
úteis neste estudo. Atente: muito ao estudo das obras
de Aristóteles, diferente dos
filósofos medievais anteriores
que preferiam as obras de
1) De meros particulares nada se segue: em nenhum dos modos acima, Platão.

as duas premissas são proposições particulares. Pelo menos uma das


premissas é universal (positiva ou negativa).

2) De meros negativos nada se segue: em nenhum dos modos, as


duas premissas são negativas (E, O). Pelo menos uma das premissas é
positiva.

3) A conclusão sempre segue a parte mais fraca: este princípio espelha


os dois anteriores, se uma das premissas é particular, então a conclusão
será necessariamente particular. Se uma das premissas é negativa,
então a conclusão será necessariamente negativa.

Podemos adicionar a esses princípios clássicos um quarto princípio:

4) Se as duas premissas forem afirmativas, a conclusão será


necessariamente afirmativa. Porém, não é necessário que a conclusão
seja universal caso não haja premissas particulares.

LÓGICA | unidade 2 53
O Quadrado Lógico das Oposições

Com o silogismo podemos entender melhor como são as relações


lógicas entre as proposições. Esse é o famoso quadrado das oposições:

A - Universal afirmativo E - Universal negativo


contrários
Toda bailarina é graciosa Nenhuma bailarina é graciosa

subalternos contraditórios subalternos

I - Particular afirmativo O - Particular negativo


Algumas bailarinas são graciosas Algumas bailarinas não são graciosas

complementares ou subcontrários

Você pode dizer qual a diferença entre contrário e contraditório? Duas


proposições são contrárias quando ambas não podem ser verdadeiras
ao mesmo tempo (neste sentido elas se contradizem), mas podem ser
falsas ao mesmo tempo.

Vejamos:

Todas as bailarinas são graciosas.

Nenhuma bailarina é graciosa.

Fato é que algumas bailarinas são graciosas, outras não. Logo, as duas
proposições são falsas. Ou imagine um vestido, e as proposições:

O vestido é azul

O vestido é vermelho

As duas se contradizem, mas podem ser ambas falsas: basta que o


vestido seja branco. Por outro lado, duas proposições são contraditórias
quando não podem ser ambas verdadeiras nem falsas ao mesmo
tempo. Assim, a falsidade de uma sempre implica a verdade da outra:

Algumas bailarinas são graciosas.

Nenhuma bailarina é graciosa.

54 FILOSOFIA
Pelo menos uma das duas proposições é verdadeira. Um detalhe
importante: no silogismo, quando se diz “alguns T1 são T2” isso não
implica que “alguns (outros) não são”. A rigor, o que se quer dizer é
que “pelo menos” alguns T1 são T2 (inclusive, talvez, todos). O mesmo
vale agora para o par de proposições:

O vestido é azul.

O vestido não é azul.

Independente da cor do vestido, pelo menos uma delas é verdadeira Você sempre usou “contrário”
e “contraditório” como
(se ele for por exemplo branco, a segunda proposição é verdadeira). sinônimo, não é mesmo?
Agora que você sabe a
diferença, procure sempre
Bem, agora você está em condições de resolver todas as atividades fazer a distinção. Tente
pensar em exemplos de
desta unidade. Se eventualmente, ao tentar responder às questões, frases contraditórias e frases
contrárias.
surgir dificuldades, releia o material.

Dados os conjuntos:

A = {d, e, f, g, h}

B = {a, b}

C = {x | x é uma vogal}

D = {e, i}

E = {m}

F = {v}

G = {x | x é uma consoante}

I = {o}

J = {u, m}

Indique se é verdadeiro ou falso:

01) F ⊂ G

02) A ∩ B = ∅

03) J ⊂ G

LóGICA | UNIDADE 2 55
04) E ∈ G

05) F ∪ E = J

06) (J ~ E) ∪ I ∪ D = C

07) A ⊂ B’

08) I ∈ G’

09) ∅’ ⊂ U

10) o ∈ C

11) ∅ ∉ (C ∪ G)

Obtenha:

01) A ∪ J

02) C ∩ G’

03) A ∩ D

04) D ∪ ∅

05) J ∩ C

06) (I ∪ J ∪ D) ∩ C

Dados quaisquer conjuntos A, B e C, diga se é verdadeiro


(usar diagramas de Venn pode ajudar):

01) A~B = B~A

02) (A~B)~C = A~(B~C)

03) A~ = A

04) A~U = 

05) A~(B  C) = (A~B)  C

06) A~(B  C) = (A~B)  (A~C)

07) (~U)  

08) Se A  B e B  A, então A=B

09) Se A  B = , então A  B’

10) Se A  B = , então B  A’

56 FILOSOFIA
11) Se A  B = A  B, então ou A =  ou B = 

12) Se A  B, então se x  B, pode-se concluir que x  A

13) Se A  B e A  B’, então A = 

14) Se A  C e B  C, então ou A  B ou B  A

Desenhe os diagramas de Venn para os modos da segunda,


terceira e quarta figura. Compare todos os diagramas
entre si. Você percebe que alguns modos correspondem
exatamente às mesmas figuras? Quais?

4 Diga se é um raciocínio válido ou inválido:

a) Toda bailarina é elegante

Ana é bailarina___________

Ana é elegante

b) Alguns gatos são brancos

Alguns gatos são pretos__

Nenhum branco é preto

c) Nenhum pássaro é carnívoro

Alguns bem-te-vis não são carnívoros

Alguns bem-te-vis são pássaros

d) Nenhum ateu é religioso

Alguns filósofos não são ateus

Alguns filósofos são religiosos

e) Algumas bailarinas não são magras

Toda bailarina é russa______________

Algumas russas não são magras

LÓGICA | unidade 2 57
f) Todo músico é cantor

Todo músico toca piano

Todo cantor toca piano

g) Nenhum padre é médico

Algum médico é sortudo___

Algum sortudo não é padre

h) Toda filósofa é bonita

Algumas loiras não são bonitas

Algumas loiras não são filósofas

i) Nenhum cachorro é desleal

Pluto é desleal_____________

Pluto não é um cachorro

j) Sócrates é filósofo

Homens são imortais_

Filósofos são imortais

5 Conclua todas as sentenças possíveis:

a) Algum A é B

Nenhum B é D

Todo B é C__

b) Todo A é B

Todo C é D

Nenhum B é D

58 FILOSOFIA
6 Observe as proposições:

a) Todo ser humano é racional

b) Alguns políticos não são racionais

c) Alguns seres humanos são políticos

d) Nenhum político é racional

e) Alguns seres humanos não são racionais

f) Algum político não é ser humano

g) Nenhum ser humano é racional

h) Todo político é ser humano

i) Alguns políticos são racionais

j) Alguns seres humanos não são políticos

k) Nenhum político é ser humano

l) Alguns seres humanos são racionais

m) Todo político é racional

n) Todos os seres humanos são políticos

o) Nenhum ser humano é político

p) Alguns políticos são seres humanos

Agora, relacione os pares de:

- contrárias:

- contraditórias:

- complementares:

- subalternas:

LÓGICA | unidade 2 59
Resumo

Nesta unidade estudamos o primeiro sistema lógico: o Silogismo de


Aristóteles. Para isso, revimos primeiro a teoria de conjuntos, inclusive
suas principais operações. Depois, estudamos a forma básica de
todos os silogismos, compostos por duas premissas e uma conclusão.
Vimos quais são todos os modos e figuras de silogismo que Aristóteles
BLANCHE, R. História da Lógica.
Lisboa: Edições 70, 1970. reconheceu como válidos. Finalmente, com base no quadrado lógico,
Tradução de: António Pinto
Ribeiro e Pedro Elói Duarte. estudamos as relações lógicas entre as quatro formas categóricas.

IMAGUIRE, G. & BARROSO, C. A. C. Lógica: Os Jogos da Razão. Fortaleza:


Editora da UFC, 2006.

MORTARI, C. Introdução à Lógica. São Paulo: Editora UNESP, 2001.

SILVESTRE, R. Um Curso de Lógica. Petrópolis: Editora Vozes, 2010.

TUGENDHAT, E. & WOLF, U. Propedêutica lógico-semântica. Petrópolis:


Vozes, 1997. Tradução de: Fernando Augusto da Rocha Rodrigues.

60 FILOSOFIA
unidade

3
Objetivo dESTA unidade

Lógica Proposicional
Apresentar a linguagem
da lógica proposicional:
proposições e conectivos.
Verificar o valor de
verdade de proposições
através de tabelas de
verdade. Aprender a
derivar proposições a
partir de premissas.

Gottlob Frege (1848 – 1925)


O filósofo alemão Gottlob Frege (1848
– 1925) é pai da lógica contemporânea.
Ele inventou a lógica para provar
que todas as verdades aritméticas
poderiam ser derivadas logicamente
de alguns poucos axiomas.

Fonte: http://w3.ufsm.br/filosofia/
wp-content/plugins/s3slider-plugin/
files/57_s.jpeg

Introdução

Vamos começar agora a estudar a Lógica Proposicional. Nela,


vamos lidar somente com proposições “fechadas”, ou seja, não
nos importaremos com os termos que constituem as proposições,
nem com o sujeito, nem com o predicado (este é o porquê do nome
desta lógica). O conteúdo da proposição, neste momento, é deixado
de lado para podermos nos focar nas relações que existem entre as
proposições. Estas relações se dão por meio de conectivos que “ligam”
uma proposição a outra e, ao ligá-las, criamos uma proposição maior,
mais complexa, que chamamos de proposição molecular. Portanto,
Lógica Proposicional é uma lógica de conectivos, eles são a sua base
e estrutura e, por isso, precisamos entendê-los muito bem. Preste
bastante atenção nas proposições P e Q a seguir:

P = Maria está em casa.

Q = João está em casa.

Usamos a palavra “e” para dizermos que duas coisas acontecem ao


mesmo tempo. Olhe:

(1) P e Q

Ao escrevermos isto acima, estamos dizendo que Maria está em casa e


João está em casa. De uma forma mais natural: Maria e João estão em
casa. Se por acaso descobríssemos que Maria está em casa e João não
está, diríamos que a proposição (1) é falsa. Da mesma maneira, se João
estivesse em casa, mas Maria tivesse saído, a proposição também seria
falsa. A única maneira da proposição “P e Q” ser verdadeira é se ambos,
Maria e João, estiverem em casa. Talvez vendo um filme e comendo
pipoca ou almoçando, não importa, não é da nossa conta, não é?

Ligamos duas proposições com a expressão “ou” para dizermos que


pelo menos uma das proposições acontece. Observe:

(2) P ou Q

Isto quer dizer que Maria está em casa ou João está em casa. Se alguém lhe
dissesse isso e você fosse à casa de Maria e João e ninguém estivesse lá para
atender a porta, você ficaria muito chateado e chamaria a pessoa que lhe
passou essa informação de mentirosa, aposto. Mas, diferente do caso (1),
você no caso (2) já não espera que os dois estejam em casa – basta um deles.

Veja finalmente a proposição formada por meio do conectivo “se...


então”:

(3) Se P, então Q

62 FILOSOFIA
O que você esperaria agora? Que ambos estejam em casa? Ou que
apenas um deles esteja? Bem, o que essa proposição parece indicar é
uma relação de dependência entre Maria estar em casa e João estar em
casa: sempre que Maria está em casa, então João também está. Podem
estar ambos em casa, pode ninguém estar em casa. O que não pode
acontecer, porém, é que Maria esteja e João não esteja.

Note que nos nossos 3 exemplos o conteúdo das proposições foi o


mesmo: o conteúdo de P e o conteúdo de Q. Mas eles foram combinados
de diferentes formas, isto é, por meio de diferentes conectivos: e, ou,
se então. A Lógica Proposicional é a lógica que nos ensina a usar, de
modo coerente, conectivos desse tipo. Se você quiser, substitua P
Na verdade, muito antes de
e Q por outra proposição qualquer – você vai notar que nada muda. Frege, os lógicos estoicos já
tinham uma forma primitiva de
As funções dos conectivos permanecem as mesmas. Até agora, você lógica proposicional. Também os
filósofos medievais conheciam
conseguiu decidir a verdade e falsidade das proposições complexas, vários dos princípios da lógica
moleculares. Você já está pegando o jeito, mas é preciso estudar mais proposicional. Mas só com Frege
a lógica foi completamente
profundamente cada conectivo e suas peculiaridades. Ao final, estará axiomatizada e integrada na
Lógica de Predicados, que você
craque no assunto. conhecerá na próxima unidade.

Negação

Para representar a negação, usamos o símbolo ¬. Quando agregamos a


negação a uma proposição, o resultado é a contraditória dessa proposição.

Exemplificando:

(1) ¬P

Já sabemos que P, aqui, significa “Maria está em casa”, portanto, ¬P


significa “não é o caso de Maria estar em casa”, de forma mais natural
“Maria não está em casa”. Observe que se a proposição P é verdadeira,
então a proposição ¬P é falsa e vice-versa, certo? Podemos representar
isso por meio de uma tabela de verdade, olhe:

V= verdadeiro P ¬P
V F
F= falso F V

LÓGICA | unidade 3 63
A primeira coluna da tabela simplesmente diz quais as possibilidades
de valor de verdade P tem: pode ser verdadeiro (1ª linha) ou falso
(2ª linha). Lendo a tabela, vemos exatamente que quando P é
verdadeiro, ¬P é falso e quando P é falso, então ¬P é verdadeiro.
Simples, não é? O que podemos dizer ainda sobre a negação? Bem,
ela pode ser aplicada à mesma proposição quantas vezes quisermos, veja:

(2) ¬¬P

(3) ¬¬¬P

(4) ¬¬¬¬P

O exemplo (2) significa, em linguagem natural, “não é o caso que não


é o caso que Maria está em casa”, ou também, “não é verdade que
Maria não está em casa”, isto é, no final das contas “Maria está em
casa”. Logo, a negação da negação (ou “dupla negação”) de P retorna
à afirmação de P:

¬¬P = P ou: ¬¬P é equivalente a P

Então, quando vemos uma dupla negação aplicada a uma proposição,


podemos imediatamente “cortá-la”. Nos exemplos (3) e (4), ao
cortarmos as duplas negações, os resultados são, respectivamente,
¬P e P. Se observarmos atentamente, verificamos que quando temos
um número ímpar de negações, como no exemplo (3), o resultado é
sempre ¬P e quando temos um número par de negações, o resultado é
sempre P, como no exemplo (4).

Uma proposição falsa, com negação se torna verdadeira. Uma


proposição verdadeira, negada se torna falsa. Pense alguns
exemplos para confirmar isso. Mas veja que surpreendente, o que
Russell descobriu: O atual rei da França é careca é uma proposição
falsa, afinal a França nem tem rei. O que acontece com sua
negação? O atual rei da França não é careca. Também é falsa!
Afinal, ele é cabeludo? Como isso acontece? Por quê?

Leia: RUSSELL, Bertrand “Da Denotação”, na tradução da Coleção Os Pensadores.


Abril, São Paulo.

64 FILOSOFIA
Conjunção

Vimos acima que podemos usar um conectivo para dizer que duas
coisas acontecem ao mesmo tempo. Na linguagem natural, usamos
a conjunção “e”, mas na lógica utilizamos o símbolo Ù para exercer
essa função. Veremos daqui a pouco que existe certa diferença entre
a conjunção “e” e o conectivo Ù. O que nos importa agora é entender
o conectivo lógico, então vamos. Observe como traduzimos para a
linguagem formal a proposição “Maria e João estão em casa”, que
vimos anteriormente:

(1) P Ù Q

Se P é “Maria está em casa” e Q é “João está em casa”, então acabamos


de escrever formalmente a conjunção das duas proposições que diz
que nossas duas personagens estão em casa. Para que esta conjunção
seja verdadeira, tanto Maria como João tem que estar em casa. Caso
um dos dois não esteja ou nenhum deles esteja, então será falsa. Olhe
a tabela:

P Q PÙQ
V V V
V F F
F V F
F F F

As duas primeiras colunas representam, novamente, todas as


combinações possíveis dos valores de verdade de P e Q: ambas
verdadeiras (1ª linha), P verdadeira e Q falsa (2ª linha), P falsa e Q
verdadeira (3ª linha) e, finalmente, ambas falsas (4ª linha). As primeiras duas colunas da
tabela de verdade serão sempre
assim: VV, VF, FV, FF. Essas
Veja na primeira linha da tabela que P e Q são verdadeiras e, por isso, a são as quatro combinações
possíveis de verdade e falsidade
conjunção P Ù Q também é. Agora, olhe as outras linhas. Quando pelo de duas proposições e sempre
aparecerão nessa ordem. Se
menos uma das proposições é falsa, a conjunção também é falsa. É isso tivéssemos 3 proposições, a
tabela teria de ter 8 linhas,
que quer dizer a conjunção na lógica. começando com VVV e acabando
com FFF.

Agora sim vamos tratar da diferença do “e” e do Ù. Quando usamos o


“e” na linguagem natural, frequentemente queremos dar uma noção
de temporalidade, de sequência de fatos. Tome como exemplo a frase:

LóGICA | UNIDADE 3 65
(2) Eu acordei e escovei os dentes.

Aqui, temos duas proposições conjugadas: “eu acordei” e “eu escovei


os dentes”. No português, (2) tem o sentido de que fiz algo e depois fiz
outra coisa, no caso, acordei e depois escovei meus dentes, portanto, a
ordem dos fatos tem total relevância para a comunicação. Seria estranho
se eu dissesse que escovei os dentes e acordei, não seria? Porém, na
lógica, o conectivo Ù não tem tal sentido de sequência temporal, isto
é, fatos que acontecem um após o outro. Podemos inverter a ordem
das proposições, que o sentido sempre será o mesmo: duas coisas que
acontecem. Portanto:

(3) P Ù Q = Q Ù P
Como a conjunção não tem
sentido temporal, para expressar Ainda falta esclarecer algumas coisas antes de começarmos a exercitar
relações temporais os lógicos
criaram “lógicas temporais”.
nossos novos conhecimentos. Já aprendemos até aqui a negação
Hoje em dia, tem lógica para e a conjunção, agora vamos misturar tudo e ver no que dá. Veja as
quase tudo!
proposições:

(4) Ø (A Ù B)

(5) (Ø A Ù Ø B)

O que podemos dizer de (4) e (5)? Será que se trata da mesma


proposição escrita de forma diferente? Não. Mas por quê? Vamos
analisar (5): a negação de A conjugada à negação de B. Já a proposição
(4) é a negação da conjunção de A e B. Ou seja, na (5) estou negando
as proposições e depois fazendo a conjunção entre elas. Na (4), estou
propondo a conjunção entre as proposições e depois negando a
conjunção, isto é, “não é o caso que A e B”. Dito de modo natural: (5)
diz que nem Maria nem João estão em casa (nenhum deles está em
casa), enquanto (4) diz que pelo menos um deles não está em casa.

Disjunção

Vimos acima que a palavra “ou” no português também pode ter um


correspondente lógico. De agora em diante usaremos o símbolo Ú
para representar o conectivo que empregamos quando queremos

66 FILOSOFIA
dizer que pelo menos uma das duas proposições acontece. Observe a
formalização de “Maria ou João está em casa”:

(1) P Ú Q

Queremos dizer que ou Maria está em casa ou João está em casa, ou os


dois estão. Preste bastante atenção nisso. O nosso “ou” da linguagem
natural geralmente carrega um sentido de exclusão, ou Maria está ou
João está, a presença de um excluindo a presença do outro. Mas o
conectivo Ú não tem esse sentido, ele diz exatamente que pelo menos
um dos dois acontece. Isto se deve ao fato dos lógicos optarem pelo
“ou não-exclusivo” diante da existência das duas formas de “ou”. Bem,
já vamos aprender como “criar” um “ou exclusivo”, mas primeiro veja
a tabela de verdade da disjunção:

P Q PÚQ
V V V
V F V
F V V
F F F

Veja que a única maneira da disjunção ser falsa é se as duas proposições


P e Q forem falsas. Contanto que pelo menos uma proposição for
verdadeira a disjunção também é verdadeira. Vamos agora entender
como formalizar uma sentença da linguagem que contém o “ou
exclusivo”. Tome a sentença:

(2) Pedro casará com Joana ou Mariana.

Aqui, fica claro que Pedro não poderá casar com as duas, visto que
bigamia é crime na nossa sociedade. Então como fazer? Digamos que:

J = Pedro casará com Joana

M = Pedro casará com Mariana

Fazemos então a parte da disjunção:

(3) J Ú M

E, então, acrescentamos a exclusão:

(4) (J Ú M) Ù Ø (J Ù M)

LÓGICA | unidade 3 67
Ou seja, (3) está incompleta porque o que ela na verdade diz é que Pedro
casará com Joana ou Mariana ou com as duas. Temos que eliminar a
possibilidade de Pedro casar-se com ambas! Então escrevemos (4) que
significa, em linguagem natural, “Pedro casará com Joana ou Mariana
e não com as duas juntas”. Observe que a parte “Ù Ø (J Ù M)” de (4)
significa exatamente “e não com Joana e Mariana ao mesmo tempo”.

Assim como na conjunção, na disjunção não importa a ordem das


proposições:

(5) P Ú Q = Q Ú P

Essa regra de comutatividade fica bem mais evidente aqui, não é


mesmo? Dizer que Maria ou João está em casa é a mesma coisa que
dizer que João ou Maria está em casa.

Agora podemos fazer a mesma análise que fizemos na conjunção:

(6) Ø (A Ú B)

(7) (Ø A Ú Ø B)

Existe uma propriedade distributiva da negação? Não! (6) é diferente


de (7), pois enquanto (6) nega a disjunção entre A e B, (7) é a disjunção
entre as negações de A e B.

Bom, estamos prontos para testar o que acabamos de aprender. Vamos


formalizar sentenças juntos:

P = Maria está em casa

Q = João está em casa

R = Roberto é brasileiro

S = Solange é argentina

(8) Maria não está em casa e João está.

(9) Roberto é brasileiro ou Solange é argentina.

(10) Maria e João estão em casa, ou Roberto é brasileiro e Solange


é argentina.

68 FILOSOFIA
Formalizando:

(8) ØP Ù Q

(9) R Ú S

(10) (P Ù Q) Ú (R Ù S)

Ludwig Wittgenstein (1889 – 1951)

O filósofo austríaco Ludwig


Wittgenstein (1889 – 1951) foi o
responsável por introduzir as Tabelas
de Verdade no ensino da lógica. Elas
aparecem na sua primeira grande
obra, o Tractatus Logico-Philosophicus
(1921).

Fonte: http://rompedas.files.wordpress.
com/2012/03/ludwig-josef-johann-
wittgenstein1.jpg

Implicação

Na introdução deste capítulo, vimos que existe a relação de “se...


então”. Se chove, então a rua está molhada, não é? Sim, temos muitas
relações como esta na linguagem. Na lógica, temos a implicação,
que representa em parte o “se... então”. Usamos o símbolo ® para
representá-la. Veja:

(1) P ® Q

Se P então Q. Se Maria está em casa, então João está em casa. A


implicação representa uma relação de dependência: se Maria está em
casa, necessariamente, João também tem que estar, mas se Maria não
estiver em casa tanto faz João estar ou não.

LÓGICA | unidade 3 69
Entretanto, não é verdade que a implicação sempre representa uma
relação de causalidade. Isto vai depender do caso, por exemplo,
podemos escrever:

P = Maria está em casa

R= Roberto é brasileiro

(2) P ® R

Isto quer dizer que se Maria está em casa, então Roberto é brasileiro.
Não podemos afirmar de maneira alguma que Maria estar em casa é a
causa de Roberto ser brasileiro, concorda?

Existe outra peculiaridade na implicação que causa muita confusão.


Veja a tabela de verdade:

P Q P®Q
V V V
V F F
F V V
F F V

As duas primeiras colunas, você já sabe, são como sempre. O que


varia é a terceira coluna, que define a implicação. Vejamos cada linha.
Observe a terceira linha, quando P é falsa, mas Q é verdadeira, então
a implicação é verdadeira. Vamos colocar assim: se chove, então a rua
está molhada. Pode não ter chovido, mas mesmo assim a rua estar
molhada. Por quê? Ora, os responsáveis pela limpeza urbana podem ter
lavado a rua, concorda? O vizinho pode ter lavado seu carro e molhado
a rua, não é? Isto se deve pelo fato de que não existe comutatividade na
implicação. Aqui, a ordem das proposições é muito importante, logo:

(3) P ® Q Q®P

A implicação também é Concluindo, a única maneira de a implicação ser falsa é se a proposição


chamada, por muitos lógicos,
de condicional material. P ocorrer e a proposição Q não ocorrer. Lembre-se disso.
“Condicional” porque expressa
uma condição “se isso, então
aquilo”. “Material” para
Vamos formalizar uma sentença só pra esquentar:
diferenciar a implicação de uma
equivalência formal (que é uma P = Maria está em casa
relação lógica muito especial).

Q = João está em casa

C = Carol, filha de João e Maria, está em casa

D = Diogo, filho de João e Maria, está em casa

70 FILOSOFIA
Atividades

Formalize:

(4) Se Maria e João estão em casa, então seus filhos também estão.

(5) Se Carol ou Diogo estão em casa, então Maria também está.

(6) Se João está em casa, então Diogo também está, e se Maria


está em casa, Carol também está.

Resposta:

(4) (P Ù Q) ® (C Ù D)

(5) (C Ú D) ® P

(6) (Q ® D) Ù (P ® C)

Dupla Implicação

A dupla implicação representa uma relação de dependência mútua Assim como implicação é
chamada de condicional material,
entre as proposições. Uma só acontece se a outra também acontecer. a dupla implicação também
é chamada por muitos de
Na linguagem usamos a expressão “se e somente se” para tratar de uma bicondicional
relação como essa e, na lógica, usamos o símbolo « para representá-la.
Veja:

(1) P « Q

Isto é, Maria está em casa se e somente se João estiver. De outra forma:


ou os dois estão em casa ou nenhum está. Veja a tabela:

P Q P«Q
V V V
V F F
F V F
F F V

Ao analisarmos (1), também podemos interpretar como uma


equivalência entre as proposições, pois a dupla implicação só é
verdadeira quando os valores de verdade das proposições são iguais.

LóGICA | UNIDADE 3 71
Acrescentando: aqui também existe comutatividade, então a ordem
das proposições não importa:

(2) P « Q = Q « P

Claro: se é verdade que Maria está em casa se e somente se João está


em casa, então é igualmente verdade que João está em casa se e
somente se Maria também está.

Atividades

(1) Formalize:

A = Alice gosta de pizza

B = Bruno gosta de pizza

C = Cris é muçulmana

D= Daniel é luterano

E = Cris gosta de pizza

a) Bruno e Alice gostam de pizza e Cris é muçulmana.

b) Daniel não é luterano, mas Cris é muçulmana.

c) Bruno gosta de pizza, mas Alice não.

d) Cris não é muçulmana ou gosta de pizza.

e) Bruno gosta de pizza ou Alice não gosta.

f) Se Daniel é luterano, então Bruno e Alice gostam de pizza.

g) Se Cris não gosta de pizza, então ela é muçulmana.

h) Alice nem Bruno gostam de pizza se e somente se Cris gosta.

i) Daniel não é luterano se e somente se Alice ou Bruno ou Cris


gostam de pizza

72 FILOSOFIA
Respostas:

a) B Ù A Ù C

b) Ø D Ù C

c) B Ù Ø A

d) Ø C Ú E

e) B Ú ØA

f) D ® (B Ù A)

g) Ø E ® C

h) (ØA Ù ØB) « E

i) ØD « (A Ú B Ú E)

Tautologia, contingência e contradição

Mas de que nos serve isso tudo afinal? Agora que nós aprendemos a
formalizar, o que fazer com isso? Pois é, nesta seção vamos aprender
a observar as proposições formais, com todos os conectivos que têm
direito, e analisar seu valor de verdade em qualquer situação! Não
ficou tão animado quanto eu? Então espere e veja a mágica da lógica
acontecer.

Já dissemos que lógica tem a ver com verdade. Pois bem, imagine que
alguém lhe pergunte se uma proposição qualquer, digamos (ØA Ú ØB)
é verdadeira ou falsa. O que você diria? Bem, a lógica deve poder decidir
isso. Mas como ela resolve? Simples, usando as tabelas de verdade que
você já conhece, só que de modo um pouco mais complicado agora.
A tabela para fórmulas complexas começa, como sempre, atribuindo
às proposições atômicas A e B todas as quatro combinações possíveis
(isso ocorre nas duas primeiras colunas): VV, VF, FV, FF. Depois, para

LÓGICA | unidade 3 73
cada fórmula molecular, teremos uma nova coluna. No nosso caso:
uma para ØA, uma para ØB e uma, finalmente, para a fórmula toda ØA
Ú ØB. Ela fica assim:

A B ØA ØB ØA Ú ØB
V V F F F
V F F V V
F V V F V
F F V V V

Como preenchemos as colunas 3, 4 e 5? Fácil, com base nas colunas 1


e 2. Veja a coluna ØA: se tínhamos V na coluna A, teremos F na coluna
ØA; se tínhamos F na coluna A, teremos V na coluna ØA. Afinal, esse
é o significado da negação. A coluna ØB funciona de modo similar,
mas agora, claro, em relação à coluna B. Finalmente, preenchemos a
última coluna com base nas colunas anteriores, afinal ela nada mais é
que a disjunção das colunas ØA e ØB. Como sempre, a disjunção será
falsa apenas no caso em que ambos os lados forem falsos. Logo, ela
será falsa apenas na primeira linha, e verdadeira em todas as outras. A
resposta está pronta!

Qual resposta? Fácil: a fórmula ØA Ú ØB será falsa somente quando A


e B forem verdadeiros, e será verdadeira em todas as outras situações.
Aliás, aqui você vê claramente o que já era de se esperar: a verdade ou
falsidade da fórmula complexa depende da verdade e da falsidade das
fórmulas atômicas que nela aparecem.

Podemos concluir que as fórmulas serão sempre verdadeiras em alguns


casos e falsas em outras? Até parece, não é mesmo? Mas veremos
agora que isso nem sempre é o caso. Os lógicos distinguem três tipos
de fórmulas: tautologias, contradições e contingências. Vamos ver o
que é isso?

Para começar, vamos fazer uma tabela da verdade, um pouco maior


desta vez. Veja a proposição:

(1) Ø(A Ù B) « (ØA Ú ØB)

74 FILOSOFIA
Você diria que ela é verdadeira ou falsa? Um pouco complicado dizer,
não é? Então vamos pra tabela:

A B ØA ØB AÙB Ø( AÙB) ØAÚØB Ø(AÙB)«(ØAÚØB)


V V F F V F F V
V F F V F V V V
F V V F F V V V
F F V V F V V V
1 2 3 4 5 6 7 8

Nas colunas 1 e 2, colocamos valores de verdade para as proposições


simples, fazendo a combinação de todas as possibilidades: na primeira
linha, sendo as duas verdadeiras; na segunda, sendo A verdadeira e B
falsa; na terceira, sendo A falsa e B verdadeira; por último, A e B falsas.
Depois, fazemos colunas para cada proposição molecular, começando
pelas menores e terminando pela proposição (1) inteira. Estas colunas
são preenchidas pelas regras dos conectivos que nós já aprendemos,
por exemplo, se na primeira linha A é verdadeira, a primeira linha de
ØA será falsa.

Observe que a coluna 8 é preenchida somente com V’s. Em nenhuma


situação, não importa se A é V ou F, ou se B é V ou F, a fórmula
Ø(AÙB)«(ØAÚØB) será sempre verdadeira. Por isso dizemos que
essa proposição é uma tautologia.

Veja outra proposição:

(2) A Ù ØA

A ØA AÙØA
V F F
F V F

Repare que nesta tabela a coluna da proposição (2) está preenchida


apenas com F’s, isto significa que a proposição é uma contradição. Ou O que você acha da proposição
“P®ØP”? Não parece uma
seja, para qualquer caso, “A Ù ØA” é sempre falsa. contradição? Mas faça a tabela de
verdade e confira se ela é mesmo
uma contradição.

LóGICA | UNIDADE 3 75
Vejamos, finalmente, uma terceira proposição:

(3) (A Ù ØA) « ØB

A B ØA ØB AÙØA (AÙØA) «ØB


V V F F F V
V F F V F F
F V V F F V
F F V V F F

Aqui, a coluna da proposição (3) às vezes é verdadeira e às vezes é falsa.


Quando isso acontece, dizemos que a proposição é uma contingência.

Resumindo: na coluna final, existem três possibilidades:

Tautologias: somente V

Contradições: somente F

Contingências: V e F variados (pelo menos um de cada)

Atividades

(1) Faça a tabela de verdade das proposições abaixo e diga se é


tautologia, contingência ou contradição.

a) Ø(A Ù B) ® (ØA Ú ØB)

b) (A Ú B) ® (A Ù B)

c) ((A ® B) ® ØB) ® A

d) Ø(Ø(A Ú B) « (ØA Ù ØB))

Respostas

a) Tautologia

b) Contingência (V, F, F, V)

c) Tautologia

d) Contradição

76 FILOSOFIA
Derivações

Na Lógica Proposicional, como no silogismo, também podemos derivar


conclusões a partir de premissas. Porém, temos regras de inferência
diferentes, afinal, a lógica proposicional usa uma outra linguagem.
Basicamente, temos uma regra de eliminação e uma de introdução para
cada conectivo que conhecemos, ok? Partindo das premissas usamos
essas regras a fim de chegar à consequência desejada.

Gerhard Gentzen (1909 – 1945)

O alemão Gerhard Gentzen (1909


– 1945) é um dos pioneiros da
criação da dedução natural, que
é o sistema de inferência que
você vai aprender nessa unidade.

Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/b/bc/

Gerhard_Gentzen.jpg/220px-Gerhard_Gentzen.jpg

Vamos ver um exemplo de derivação.

(1) A Ù B , B Ù C ├ AÙC

O novo símbolo “├” é usado para indicar essa relação de derivação:


devemos derivar a conclusão (à direita) a partir das premissas (à
esquerda). Ou seja: derive a partir das premissas A Ù B e B Ù C, a
conclusão A Ù C.

1. A Ù B premissa

2. B Ù C premissa

LÓGICA | unidade 3 77
3. A EC 1

4. C EC 2

5. A Ù C IC 3,4 (conclusão)

As linhas 1 e 2 são as nossas premissas, como você pode ver. A linha 3 é


a conclusão da aplicação da regra de eliminação da conjunção em 1. A
linha 4 é a conclusão da aplicação da regra de eliminação da conjunção
em 2. E a linha 5 é a conclusão da aplicação da regra de introdução da
conjunção em 3 e 4. Ainda não ficou claro, né?

Mas agora vamos aprender todas as regras e você vai ver que fica mais
fácil.

Regras da Conjunção

Eliminação da Conjunção (EC) Introdução da Conjunção (IC)

αÙβ e αÙβ α
α β β___
αÙβ

As letras “α” e “β” indicam que a conjunção pode ser ligação de


proposições simples ou complexas (moleculares). Tudo que se
encontra acima do traço representa proposições que, se encontradas
(não necessariamente na ordem que aparece neste esquema) durante
o desenvolvimento do raciocínio permitem derivar a conclusão
representada pela expressão abaixo do traço. Entenda a explicação
das regras:

Eliminação da Conjunção: se dois fatos nos são dados, então


nos é dado cada um deles individualmente.

Introdução da Conjunção: se dois fatos nos são dados em


separado, então podemos ficar com os dois simultaneamente.

78 FILOSOFIA
Agora é sua vez, use as duas regras que você aprendeu.

Atividades

1) Derive a partir das premissas:

a) (A Ù B) Ù (C Ù D) ├ B Ù D

b) A Ù ¬B , C Ù D ├ DÙA

c) (¬A Ù ¬B) Ù (¬A Ù C) ├ (¬B Ù C) Ù ¬A

Respostas:

a) 1. (A Ù B) Ù (C Ù D) premissa A coluna na direita (“premissa,


EC1, EC1, EC2...”), a rigor, não faz
parte das derivações. Ela só serve
2. (A Ù B) EC 1 para explicar como obtemos
cada linha.

3. (C Ù D) EC 1

4. B EC 2

5. D EC 3

6. B Ù D IC 4,5

b) 1. A Ù ¬B premissa

2. C Ù D premissa

3. A EC 1

4. D EC 2

5. D Ù A IC 3,4

c) 1. (¬A Ù ¬B) Ù (¬A Ù C) premissa

2. (¬A Ù ¬B) EC 1

3. (¬A Ù C) EC 1

LóGICA | UNIDADE 3 79
4. ¬A EC 2

5. ¬B EC 2

6. C EC 3

7. ¬B Ù C IC 5,6

8. (¬B Ù C) Ù ¬A IC 4,8

Agora que você já sabe as regras de EC e IC, vamos aprender as regras


da disjunção.

Regras da Disjunção

Novamente, teremos uma regra de introdução e uma regra de


eliminação.

Eliminação da Disjunção (ED) Introdução da Disjunção (ID)

αÚβ αÚβ α___ e β____


Øα__ e Øβ__ αÚβ αÚβ
β α

Eliminação da Disjunção: Se dois fatos são disjuntos, pelo menos


um deles ocorre. Se sabemos que um deles não ocorre, então o
outro tem que ocorrer necessariamente.

Introdução da Disjunção: Se nos é dado um fato α, então


podemos dizer que ele ou qualquer coisa (no caso, β) ocorre,
pois sabemos pelo menos que α ocorre.

Essa última regra pode parecer um pouco estranha. Se eu sei que A,


então eu concluo que A Ú B. Como assim? De onde veio o B? A regra é
mesmo um pouco estranha. Mas não se preocupe, ela nunca vai levar

80 FILOSOFIA
você a um erro. Ela só espelha o significado da disjunção: Se “A” é V,
então “AÚB” também é, não importa o que B seja. Afinal, como você
lembra, basta que uma parte da disjunção seja verdadeira para que
toda a fórmula seja verdadeira.

Se você estranhou a regra de introdução da disjunção, você


não está sozinho. Alguns lógicos, preocupados com suas
consequências, inventaram sistemas lógicos onde ela não vale.
Na lógica paraconsistente de Newton da Costa, por exemplo,
ela não vale.

Veremos as quatro regras em ação:

(1) A Ú B , ¬ B Ù C ├ (A Ù C) Ú D

1. A Ú B premissa

2. ¬ B Ù C premissa

3. ¬B EC 2

4. C EC 2

5. A ED 1,3

6. A Ù C IC 4,5

7. (A Ù C) Ú D ID 6

Agora é a sua vez:

Atividades

Derive a partir das premissas:

a) (A Ú B) , (ØC Ù ØB) ├ A Ù ØC

b) (ØA Ú ØB) , (B Ù C) ├ ØA Ú B

c) (ØA Ù B) , (C Ù ¬D) ├ (ØA Ú C) Ù (B Ú ØD)

LóGICA | UNIDADE 3 81
Respostas:

a) 1. (A Ú B) premissa

2. (ØC Ù ØB) premissa

3. ØC EC 2

4. ØB EC 2

5. A ED 1,4

6. A Ù ØC IC 3,5

b) 1. (ØA Ú ØB) premissa

2. (B Ù C) premissa

3. B EC 2

4. ØA Ú B ID 4

c) 1. (ØA Ù B) premissa

2. (C Ù ØD) premissa

3. ØA EC 1

4. B EC 1

5. (ØA Ú C) ID 3

6. (B Ú ØD) ID 4

7. (ØA Ú C) Ù (B Ú ØD) IC 5,6

82 FILOSOFIA
Regras da Implicação

Essas foram as regras da disjunção. Vamos agora para as regras da


implicação.

Modus Ponens (MP) Condicionalização (Cond.)

α®β β___
α___ α®β

Modus Ponens: se temos que o fato β sempre acontece


quando o fato α acontece, acontecendo o fato α, então o
fato β acontece também.

A regra modus ponens poderia


Condicionalização: também chamada de introdução da ser chamada de “regra de
eliminação da implicação”. Ficaria
implicação expressa que se algo ocorre independentemente mais em conformidade com os
de quaisquer condições, ocorre também sob qualquer outros nomes. Mas essa era uma
das regras mais importantes para
condição, ou seja, se o fato β ocorre, qualquer coisa pode os lógicos medievais, que deram
esse belo nome, preservado
implicar em β (no caso, escolhemos α). até hoje. Pesquise na internet o
sentido desse nome!

Você pode achar um pouco de exagero ter tantas regras. Mas lembre
que elas estão aí para nos ajudar. Cada regra nos ajuda a inferir alguma
coisa nova. Assim, quanto mais regras tivermos, mais fácil fica inferir
coisas. Regras são como que ferramentas: quanto mais ferramentas
nós temos à disposição, mais fácil fica de se construir alguma coisa
bacana, não é mesmo?

Bem, vamos usar todas as regras vistas até aqui:

(3) A ® B , A Ù C ├ C®B

1. A ® B premissa

LÓGICA | unidade 3 83
2. A Ù C premissa

3. A EC 2

4. B MP 1,3

5. C ® B Cond. 4

Atividades

Derive a partir das premissas:

a) (A Ù B) , (B ® ØC) ├ A Ù ØC

b) (A ® B) , (B ® C) , A ├ C

c) (A Ú B) , (A ® ØC) Ù ØB ├ D ® ØC

Respostas:

a) 1. (A Ù B) premissa

2. (B ® ØC) premissa

3. A EC 1

4. B EC 1

5. ØC MP 2,4

6. A Ù ØC IC 3,5

b) 1. (A ® B) premissa

2. (B ® C) premissa

3. A premissa

4. B MP 1,3

5. C MP 2,4

84 FILOSOFIA
c) 1. (A Ú B) premissa

2. (A ® ØC) Ù ØB premissa

3. ØB EC 2

4. A ® ØC EC 2

5. A ED 1,3

6. ØC MP 4,5

7. D ® ØC Cond. 6

Regras da Dupla Implicação

Veja as regras de Introdução (IDI) e de Eliminação da Dupla Implicação


(EDI):
IDI EDI

α®β
β®α α«β e α«β

α«β α®β β®α

Essas regras são bem lógicas, não é mesmo? Elas só expressam a


definição da Dupla Implicação. Vamos fazer uma derivação com elas,
como exemplo:

(4) A«B, C Ù B ├ B « (A Ù C)

1. A«B premissa

2. C Ù B premissa

3. B ® A EDI 1

4. B EC 2

LÓGICA | unidade 3 85
5. C EC 2

6. A MP 3,4

7. A Ù C IC 5,6

8. B ® (A Ù C) Cond. 7

9. (A Ù C) ® B Cond. 4

10. B « (A Ù C) IDI 8,9

Coragem, não é tão difícil quanto parece!

Atividades

Derive a partir das premissas:

a) (A ® B) Ù C , B ® A ├ A « B

b) (A « B) Ú C , D Ù ØC ├ A ® B

c) (A ® C) Ú ØA , (C ® D) Ù (D ® A) , ØØA ├ A « D

Respostas:

a) 1. (A ® B) Ù C premissa

2. B ® A premissa

3. A ® B EC 1

4. A « B IDI 2,3

b) 1. (A « B) Ú C premissa

2. D Ù ØC premissa

3. ØC EC 2

4. A « B ED 1,3

5. A ® B EDI 4

86 FILOSOFIA
c) 1. (A ® C) Ú ØA premissa

2. (C ® D) Ù (D ® A) premissa

3. ØØA premissa

4. A ® C ED 1,3

5. C ® D EC 2

6. D ® A EC 2

7. C MP 3,4

8. D MP 5,7

9. A ® D Cond. 8

10. A « D IDI 6,9

Ok, deixamos o melhor para o final. Você já deve ter ouvido falar em Essa regra também poderia ser
chamada de regra de “introdução
argumento por redução ao absurdo, não é? É um tipo de argumento da negação”. Mas, assim como a
regra modus ponens, ela tem um
muito usado na filosofia, mas também na matemática e até no dia a belo nome medieval, que merece
ser preservado.
dia. Veja uma situação cotidiana: “se você acha que João está agora na
Itália, então ele atravessou o Atlântico em 15 minutos, porque eu acabo
de ver ele na esquina”. Ora, é claro que ninguém pode atravessar o
Atlântico em 15 minutos. Conclusão: João NÃO está agora na Itália.
Vamos ver como isso funciona na Lógica Proposicional:

Redução ao Absurdo (RA)

α®β
α®Øβ
Øα

Redução ao Absurdo: Uma proposição é absurda se ela


implica ao mesmo tempo uma proposição e a negação desta
proposição. Em outras palavras: se uma proposição implica
uma contradição, então essa proposição era falsa.

LÓGICA | unidade 3 87
Veja esse exemplo de derivação usando a regra RA:

(5) A ® B , ØB ├ ØA

1. A ® B premissa

2. ØB premissa

3. A ® ØB Cond. 2

4. ØA RA 1,3

A regra RA é a regra de introdução da negação. Eliminar uma negação você


já sabe: A é a mesma coisa que A. Essa é a regra DN: regra da “dupla
negação”. Você sempre pode substituir A por A e vice-versa.

Treine mais um pouco derivações usando essa nova (e última) regra.

Augustus De Morgan (1806 – 1871)

Lógico britânico Augustus De


Morgan (1806 – 1871). Embora ele
não usasse os nossos símbolos “Ù”
e “Ú”, ele descobriu as seguintes
regras de equivalência, chamadas,
em sua homenagem, de “Leis” ou
“Princípios De Morgan”.

Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/2c/De_
Morgan_Augustus.jpg

Ø(p Ù q) = (Øp Ú Øq)

Ø(p Ú q) = (Øp Ù Øq)

Atividades

Mostre que as Leis De Morgan são verdadeiras. Como fazer? Construa


as tabelas de verdade das fórmulas da esquerda e da direita do sinal de
igualdade. O que você percebe?

88 FILOSOFIA
Derive a partir das premissas:

a) A « B , A « ØB ├ ØA

b) (A ® B), C ®ØB, C ├ ØA Ú D

c) (B ® C) Ù (A Ù ØC) , (B ® ØC) Ú ØA ├ ØC ® ØB

Respostas:

a) 1. A « B premissa

2. A « ØB premissa

3. A ® B EDI 1

4. A ® ØB EDI 2

5. ØA RA 3,4

b) 1. (A ® B) premissa

2. C ®ØB premissa

3. C premissa

4. ØB MP 2,3

5. A ® ØB Cond. 4

6. ØA RA 1,5

c) 1. (B ® C) Ù (A Ù ØC) premissa

2. (B ® ØC) Ú ØA premissa

3. B ® C EC 1

4. A Ù ØC EC 1

5. A (=ØØA) EC 4 e DN

6. B ® ØC EC 2,5

7. ØB RA 3,6

8. ØC ® ØB Cond. 7

LÓGICA | unidade 3 89
Pronto! Agora você já conhece todas as regras da Lógica Proposicional.
Com elas você pode provar logicamente tudo o que quiser em nesse
sistema lógico. Dizemos que esse conjunto de regras é completo por
isso: não existe nenhuma relação de conseqüência lógica que não
possa ser capturado por essas regras. Isso não é fantástico? Como se
provou isso? Bem, para isso usamos algo chamado “meta-lógica”. Mas
isso é tema para um curso de lógica avançado.

Resumo

Nessa unidade, você aprendeu o significado dos símbolos da Lógica


Proposicional. Para isso, aprendeu o que são tabelas de verdade, e como
construí-las. Além disso, você aprendeu várias regras de inferência que
permitem você derivar conclusões a partir de premissas. Assim, você
aprendeu a construir pequenas derivações lógicas.

IMAGUIRE, G, & BARROSO, C. A. C. Lógica: Os Jogos da Razão. Fortaleza:


Editora UFC, 2006.

MORTARI, C. Introdução à Lógica. São Paulo: UNESP, 2001.

SILVESTRE, R. S. Um Curso de Lógica. Petrópolis: Vozes, 2010.

90 FILOSOFIA
DA COSTA, N. Ensaio sobre os Fundamentos da Lógica. São Paulo:
Hucitec, EDUSP, 1980.

IMAGUIRE, G, & BARROSO, C. A. C. Lógica: Os Jogos da Razão. Fortaleza,


Editora UFC, 2006.

MATES, B. Lógica elementar. São Paulo: Companhia Editora Nacional,


1968. Tradução de: L. H. B. Hegenberg e O. S. da Mota,

MORTARI, C. Introdução à Lógica. São Paulo: UNESP, 2001.

SILVESTRE, R. S. Um Curso de Lógica. Petrópolis: Vozes, 2010.

TUGENDHAT, E. & WOLF, U. Propedêutica lógico-semântica. Petrópolis:


Vozes, 1997. Tradução de: Fernando Augusto da Rocha Rodrigues.

LóGICA | UNIDADE 3 91
unidade

4
Lógica de Predicados Objetivo dESTA unidade

Nesta unidade
estudaremos o
sistema lógico mais
importante, a Lógica de
Predicados. Além dos
conectivos da Lógica
Proposicional, nessa
lógica distinguiremos
termos singulares e
termos predicativos,
Na Lógica Proposicional nós abstraímos completamente o
e introduziremos os
conteúdo das proposições. Proposições como “Sócrates é quantificadores. Com isso,
filósofo” ou “Platão foi o principal mestre de Aristóteles” se a lógica se torna muito
transformaram em simples letras como “P” e “Q”. Seu conteúdo, rica, podendo expressar
grande parte dos
sua estrutura interna, foi, por assim dizer, esquecida, perdida. Nós nossos raciocínios mais
focamos apenas nos conectivos – nas palavras que conectavam as fundamentais.
proposições atômicas para formar proposições moleculares. Agora
é hora de “abrirmos” novamente as proposições, analisando sua
estrutura interna. É exatamente isso que acontece na Lógica de
Predicados. E isso tem grandes implicações para a lógica. A Lógica
de Predicados consegue expressar todas as relações lógicas da
Lógica Proposicional (ela inclui a lógica proposicional como parte
própria). Por isso, dizemos que a Lógica de Predicados é uma
expansão da Lógica Proposicional. Mas ela é uma expansão mesmo
– ou seja, ela realmente consegue fazer muito mais. De fato, grande
parte dos argumentos filosóficos ou de qualquer outra área do
conhecimento pode ser formulada na Lógica de Predicados. Por
isso, ela é considerada hoje a lógica mais fundamental. Dizemos
“grande parte” porque nenhuma lógica dá conta de “todos” os
argumentos. Justamente por isso precisamos de diferentes lógicas.
Mas todas essas lógicas têm como referência última a Lógica de
Predicados. Então, vamos estudá-la com todo cuidado, certo?

Bertrand Russell (1872-1970)

Depois de Frege, o filósofo


britânico Bertrand Russell
(1872-1970) é considerado
o segundo maior precursor
da lógica contemporânea.
Ele tinha um projeto
semelhante ao de Frege:
provar logicamente todas
as verdades matemáticas.
Fonte: http://trialsandtribs.com/assets/img/tmp/
bertie.jpg

RUSSELL, B. Os Problemas da
Filosofia. Tradução, introdução Termos singulares e predicados
e notas de Desidério Murcho.
Lisboa e S. Paulo: Edições 70,
2008.
Disponível também no site:
http://www.cfh.ufsc.br/~conte/
russell.html Comecemos pensando sobre a forma das proposições. A forma mais
fundamental de proposição é aquela na qual se tem um sujeito ao qual
se atribui um predicado. Ou seja, algo como “Sócrates é filósofo”,
“Pedro é carioca” ou “Maria é bailarina”. O sujeito da proposição
seleciona a coisa sobre a qual queremos falar, e o predicado expressa a
informação que queremos comunicar. Essa estrutura sujeito-predicado
(“S-P”) está associada à tese metafísica que o mundo é composto de
coisas que tem propriedades. O sujeito da proposição aponta para a
coisa, o predicado para a propriedade das coisas.

A Lógica de Predicados parte dessa estrutura e distingue, inicialmente,


dois tipos de termos: as constantes individuais e os predicados. As
constantes individuais são tipicamente nomes próprios como “Pedro”
ou “Sócrates”. Alguns também consideram descrições definidas
(expressões como “o atual presidente do Brasil”, ou “o atual técnico

94 FILOSOFIA
da seleção brasileira”) constantes individuais – mas isso não precisa
nos preocupar agora. Esses termos são chamados de “constantes”
porque designam sempre o mesmo indivíduo. Constantes individuais
são representadas pelas letras minúsculas do início do alfabeto:

Constantes Individuais: a, b, c, ...

Os predicados, por sua vez, são representados por meio de letras


maiúsculas, em geral a partir de “F”:

Predicados: F, G, H...

Vejamos como isso funciona. Suponha a seguinte atribuição de


significado das letras:

a: Aristóteles

b: Platão

c: Sócrates

F: é filósofo

G: é generoso

H: é humilde

Assim, juntamos termos singulares com predicados formando


proposições completas:

Fa - Aristóteles é filósofo.

Gb - Platão é generoso.

Hc - Sócrates é humilde. Na gramática, o termo singular


ocupa, em geral, a posição de
sujeito da frase, e o predicado,
Repare que na lógica, diferente do português, colocamos primeiro claro, a posição de predicado
gramatical. Mas uma das grandes
o predicado, depois o termo singular. Mas isso é uma mera escolha descobertas da filosofia analítica
é que nem sempre o sujeito
arbitrária sem muita importância. Como isso é o padrão internacional, gramatical é mesmo o sujeito
lógico da proposição.
faremos assim também nesse livro (mas nada impediria que
invertêssemos os símbolos).

Dissemos que a Lógica de Predicados é uma expansão da Lógica


Proposicional. Isso significa que todos aqueles conectivos
proposicionais que estudamos no capítulo anterior continuam sendo

LÓGICA| unidade 4 95
usados nesta lógica. Assim, podemos formar proposições complexas
(verdadeiras e falsas) como:

Fa Ù Fb Aristóteles é filósofo e Platão é filósofo.

(ou simplesmente: Aristóteles e Platão são filósofos).

Ga Ù ØFc Aristóteles é generoso e Sócrates não é filósofo.

Ha Ú Ø Ha Aristóteles é humilde ou Aristóteles não é humilde.

Fa Ù Fb ® Fc Se Aristóteles e Platão são filósofos, então Sócrates


também é filósofo.

Mas as coisas podem complicar ainda um pouco mais. Note que na


linguagem natural, nós temos predicados que não se aplicam a um só
objeto, mas simultaneamente a dois. São as relações. Exemplos são:
amar, ensinar, admirar, ser mais velho que, etc. Veja as proposições:
“Aristóteles admira Platão”, “Platão ensina Aristóteles”, “Platão é
mais velho que Aristóteles” etc. Para representar esses predicados,
usamos letras maiúsculas a partir do R, por exemplo:

R: ensinar

S: admirar

T: é mais velho que

Exemplos de proposições relacionais seriam, então (repare bem que a


ordem dos termos singulares é importante):

bRa Platão ensina Aristóteles

aRb Aristóteles ensina Platão

aSb Aristóteles admira Platão

bTa Platão é mais velho que Aristóteles.

Os predicados que se aplicam a apenas uma coisa são chamados de


“monádicos”, e dizemos que eles têm “aridade 1” (eles precisam
apenas de uma constante individual para completar a proposição). Os
predicados que se aplicam a duas coisas são chamados “diádicos” ou
“relacionais”, e dizemos que eles têm “aridade 2”. A bem da verdade,

96 FILOSOFIA
existem predicados com aridade 3 (por exemplo, “a fica entre b e c”,
“a deu b para c”, “a apresentou b para c” etc.), com aridade 4 (por
exemplo, “a ama b mais do que c ama d” etc.). Mas também não
queremos exagerar num curso básico de lógica, não é mesmo? Por isso,
nos concentraremos nos predicados de aridade 1, e só algumas vezes
mencionaremos os de aridade 2. Os outros podem ser esquecidos.

A habilidade de “formalizar” proposições (re-escrever as proposições


usando fórmulas) é fundamental para o bom lógico. Por isso, vamos
treinar um pouco?

Atividades

Tente fazer a fórmula correspondente para as seguintes proposições,


usando os seguintes símbolos:

a: Ana

b: Beto

c: Clara

d: Diego

M: amar

1. Ana ama Beto e Clara ama Diego.

2. Ana não ama Beto, mas Clara ama Diego.

3. Ana ama Beto, mas Beto não ama Ana.

4. Ana ama Beto, que ama Clara, que ama Diego, que ama Ana.

5. Se Ana ama Beto, então Beto ama Ana também.

6. Ana e Clara amam Beto, mas nem Ana nem Clara amam Diego.

7. Ana ama Beto se e somente se Clara ama Diego.

8. Se Diego não ama Clara, então ele ama Ana.

9. Ou Beto ama Clara, ou Diego ama Clara, mas não os dois.

10. Se Beto e Diego amam Clara, então nem Beto nem Diego amam
Ana.

LÓGICA| unidade 4 97
Soluções

1. aMb Ù cMd.

2. ØaMb Ù cMd

3. aMb Ù ØbMa

4. aMb Ù bMc Ù cMd Ù dMa

5. aMb ® bMa

6. aMb Ù cMb Ù ØaMd Ù ØcMd

7. aMb « cMd

8. ØdMc ® dMa

9. (bMc Ú dMc) Ù Ø(bMc Ù dMc)

10. (bMc Ù dMc) ® (ØbMa Ù ØdMa)

Variáveis e quantificadores

Com os termos singulares e predicados já se pode dizer muito, não é


mesmo? Usando os conectivos conhecidos, então, nossa capacidade
expressiva é ainda muito maior. Mas existe ainda um tipo de proposição
que não conseguimos expressar com tudo o que foi oferecido neste
livro até agora. Precisamos de mais um recurso. Mas calma, não se
assuste. Nós prometemos que essa é a última coisa que precisamos
nesse livro. Veja as proposições:

(1) Todos são filósofos.

(2) Existe alguém generoso.

(3) Todos os filósofos são humildes.

Usando constantes individuais e predicados, não conseguimos


reproduzir o que estas proposições dizem. Tome por exemplo, (2):
não podemos escrever simplesmente “Ga”, “Gb” ou “Gc” porque

98 FILOSOFIA
queremos apenas dizer que alguém é generoso – mas não sabemos
quem (ou não queremos dizer quem). E como expressar (3) apenas
usando nossos recursos? Mesmo que a, b e c fossem os únicos filósofos
do mundo, algo como:

Fa Ù Fb Ù Fc Ù Ha Ù Hb Ù Hc

apenas diria que Aristóteles, Platão e Sócrates são filósofos e humildes,


mas não estaria expresso nessa fórmula que não há mais filósofos. Você
precisaria dizer que ØFd, ØFe, ... Bem, depois de falar de todos os 7
bilhões de indivíduos do mundo, você teria conseguido. Mas você quer
fazer isso mesmo? E se quisesse falar algo como “todos os números
pares são divisíveis por 2”. Você precisaria de uma conjunção infinita
–e isso, por maior que seja sua paciência – definitivamente você não
conseguirá fazer.

Para resolver todos (e muitos outros) problemas, introduzimos na


Lógica de Predicados mais duas coisas: variáveis e quantificadores.
As variáveis são como que “nomes anônimos” ou “nomes para
desconhecidos”. Guardamos as letras minúsculas finais do alfabeto
para essa função:

Variáveis individuais: x, y, z...

Chamamos esses símbolos de “variáveis individuais” porque elas


representam indivíduos desconhecidos. As variáveis individuais e as
constantes individuais são chamados, ambas, de “termos individuais”.
Existem outras lógicas (por exemplo, a lógica de predicados de segunda
ordem) onde se usam variáveis para predicados. As variáveis são usadas
basicamente como as constantes singulares: ocorrem logo depois do
predicado:

Fx

Gx

Essas fórmulas, porém, não são proposições. Quando ocorre um “x”


solto dessa forma, dizemos que a fórmula é uma “proposição aberta”.
Ela só é fechada por meio de um indicador de quantidade, chamado de
“quantificador”. Existem dois quantificadores:

Quantificador existencial: $x (“existe um x”)

LÓGICA| unidade 4 99
Quantificador universal: x (“para todo x”)

Esses quantificadores são colocados na frente daquela proposição


aberta e pronto – ai temos uma proposição.

Exemplificando

$x Fx - “Existe um x, tal que x é filósofo”

x Fx - “Para todo x, x é filósofo”

As leituras lógicas, entre aspas no lado direito, são certamente um


pouco estranhas, artificiais. Mas elas ajudam muito a entender o que
se quer dizer com as fórmulas. Veja a primeira: “existe um x, tal que x
é filósofo” é a leitura direta, certamente esquisita, de uma fórmula que
diz simplesmente “existe um filósofo”. A segunda, “para todo x, x é
filósofo”, expressa o mesmo que, de modo mais natural, dizemos da
forma “todos são filósofos”. Para facilitar a leitura, é comum introduzir
parênteses depois do quantificador. Assim, a forma oficial das duas
fórmulas acima será:

$x (Fx)

x (Fx)

Willard van Orman Quine (1908 - 2000)


O americano Willard van Orman Quine
(1908 – 2000) foi um dos filósofos
Quine, W. V. O. Palavra e
Objeto. Petrópolis: VOZES, 2010. mais importantes da segunda metade
Tradução de: Sofia Stein.
do século XX. Ele defendia que o
quantificador “$” usado nas sentenças
verdadeiras da ciência era o melhor
critério para decidir questões de
existência na metafísica. Ele morou
durante um ano no Brasil, falava
Fonte: http://farm6.staticflickr.co português e deu aulas na USP.
m/5051/5536522038_837bbfa561
_b.jpg

100 FILOSOFIA
Você deve lembrar ainda do Silogismo que estudamos antes. Lembra
que dizíamos lá que a forma categórica “existe um A que é B” não
implicava que “só existe um A que é B”? Dissemos que essa forma
categórica significa apenas que “pelo menos um” A é B – talvez dois,
talvez três e até mesmo talvez todos. Pois bem, o mesmo vale aqui. O
símbolo “$” significa “pelo menos um” – mas isso não significa que não
possa haver dois, três ou mais – inclusive todos!

Mas todos quem? Deus, o número três, o grão de areia que vi ontem
em Ipanema? Até o presente momento, estamos falando de “todos”
imaginando que estamos falando só sobre seres humanos. Na verdade,
como você já sabe, a lógica é universal. Ela pode ser usada para falar
sobre tudo. Mas como muitas vezes não queremos e não precisamos
falar sobre tudo, apenas pressupomos uma coisa chamada “domínio de
quantificação”. Se alguém quer pensar e argumentar sobre números,
ele usará a lógica de predicados, mas quando ele usar o símbolo “”,
ele estará dizendo “todo número”. Se alguém pretende falar sobre
objetos físicos, quando ele usar “$” ele estará expressando “para pelo
menos um objeto físico”, etc. Cada um pode escolher o domínio que
quiser. Neste livro, escolhemos o domínio dos seres humanos – afinal,
existe algo mais interessante? Mas, claro, se preferir falar sobre gatos,
fique à vontade. Use a lógica para o que quiser!

Pronto! Como prometemos, não introduziremos mais nenhum símbolo.


Esses são todos os símbolos que você necessita para praticar a Lógica
de Predicados. Mas o que precisamos urgentemente treinar agora é a
combinação de todos os símbolos que aprendemos nesses dois últimos
capítulos. Vamos ver isso passo a passo.

Quantificação com Negação e Equivalência

Bem, você já sabe que

$x (Fx)

significa (ainda supondo que “F” representa “é filósofo”) “existe


algum filósofo” (ou: “alguém é filósofo”). Combinando essa fórmula

LÓGICA| unidade 4 101


com a negação, podemos dizer novas coisas. A negação pode ocorrer
em duas posições, e em cada posição formará uma proposição com
significado diferente.

Ø$x (Fx) Não é o caso que existe um x, tal que x é filósofo.

(mais natural: não existe nenhum filósofo)

$x Ø(Fx) Existe um x, tal que x não é filósofo.

(mais natural: pelo menos alguém não é filósofo)

No primeiro caso, portanto, estaríamos dizendo que não há filósofos.


No segundo, que existe pelo menos alguém que não é filósofo. São
coisas muito diferentes. Algo similar vale para o quantificador universal:

Øx (Fx) Não é o caso que para todo x, x é um filósofo.

(mais natural: nem todo mundo é filósofo)

x Ø(Fx) Para todo x, não é o caso que x é filósofo.

(mais natural: todos são não filósofos, ou melhor:


ninguém é filósofo)

Veja só como são ditas coisas diferentes! A posição da negação é,


portanto, muito importante. Se você colocar a negação na posição
errada, você vai expressar uma coisa muito diferente do que pretendia.

Mas você percebeu que nessas quatro últimas fórmulas nós dissemos
coisas repetidas? Veja só com cuidado:

x Ø(Fx) Todos são não filósofos.

Ø$x(Fx) Não existe um filósofo.

Dizem a mesma coisa, não é mesmo? De fato, existe uma lei de


equivalência entre os dois quantificadores com auxílio da negação:

x Ø(Fx) « Ø$x(Fx)

O mesmo vale para o par:

Øx (Fx) « $xØ(Fx)

102 FILOSOFIA
Nos dois casos, a fórmula da esquerda diz exatamente o mesmo que a
da direita. Por isso, colocamos o bicondicional no meio. Expressamos
assim a lei de equivalência.

Como cada um dos quantificadores pode ser definido usando o


outro, bastaríamos ter um deles! Ao invés de xFx escreveríamos
Ø$xØ(Fx) – e assim só usaríamos o quantificador particular.
Alternativamente, poderíamos escrever ao invés de $x(Fx)
simplesmente Øx Ø(Fx) – e assim só usaríamos o quantificador
universal.

Fórmulas Complexas

Vamos ver agora como lidar com fórmulas quantificadas em conexão


com os conectivos binários. Na verdade, uma vez que você entende o
funcionamento dos quantificadores, tudo fica simples. Vamos começar
com a conjunção. Você conseguiria perceber a diferença entre ($Ù1) e
($Ù2)?

($Ù1) $x (Fx Ù Gx)

($Ù2) $x(Fx) Ù $x(Gx)

Ambos parecem afirmar algo parecido, a saber, que existe algo que
é filósofo e algo que é generoso. Mas cuidado: a rigor, as fórmulas
dizem coisas diferentes. Para decidir, leia as fórmulas parte a parte
literalmente, e, depois, tente entender o que você disse de modo mais
natural.

($Ù1) $x (Fx Ù Gx)

Literalmente: Existe um x, tal que x é filósofo e x é generoso.

Naturalmente: Existe um filósofo generoso.

($Ù2) $x(Fx) Ù $x(Gx)

LóGICA| UNIDADE 4 103


Literalmente: Existe um x, tal que x é filósofo e existe um x, tal que x é
generoso.

Naturalmente: Existe alguém filósofo e existe alguém generoso (que


podem não ser mesma pessoa!)

Não é tão difícil assim, você não acha? Note que uma proposição implica
a outra, mas não vice-versa. Você conseguiria dizer qual delas implica
a outra?

As duas fórmulas usaram o quantificador existencial. Como ficariam as


fórmulas com o quantificador universal? Fácil, basta proceder de modo
similar:

(Ù1) x (Fx Ù Gx)

Literalmente: Para todo x, x é filósofo e x é generoso.

Naturalmente: Todos são filósofos generosos.

(Ù2) x(Fx) Ù x(Gx)

Literalmente: Para todo x, x é filósofo, e para todo x, x é generoso.

Naturalmente: Todos são filósofos e todos são generosos.

Mas veja que surpreendente: Qual é, afinal, a diferença entre essas duas
fórmulas? Elas são fórmulas diferentes, mas, a rigor, dizem exatamente
a mesma coisa. A primeira diz que todos os humanos são filósofos
generosos. A segunda diz que todos os humanos são filósofos, e que
todos os humanos são generosos. Mas basta pensar um pouco para
perceber que se um for verdadeiro, o outro será verdadeiro também.
Ou seja, podemos afirmar que:

Duas fórmulas são equivalentes x (Fx Ù Gx) « x(Fx) Ù x(Gx)


quando dizem exatamente a
mesma coisa. É o que acontece
com muitas frases da linguagem
as duas fórmulas se implicam mutuamente. Acabamos de descobrir
natural: “Pedro ama Maria” isso por meio de raciocínio natural. Mais adiante teremos recursos para
e “Maria é amada por Pedro”
dizem exatamente o mesmo. provar logicamente que as duas fórmulas são equivalentes.
Se uma é verdadeira, a outra
necessariamente também será.
Passemos agora para a disjunção. O procedimento é exatamente igual.
Vejamos de uma só vez como ficam todas as fórmulas com disjunção:

($Ú1) $x (Fx Ú Gx)

104 FILOSOFIA
Literalmente: Existe um x, tal que x é filósofo ou generoso (ou ambos).

Naturalmente: Existe alguém que é ou filósofo ou generoso (ou ambos).

($Ú2) $x(Fx) Ú $x(Gx)

Literalmente: Existe um x, tal que x é filósofo, ou existe um x, tal que


x é generoso (ou ambos).

Naturalmente: Existe alguém que é filósofo ou existe alguém que é


generoso (ou ambos).

(Ú1) x (Fx Ú Gx)

Literalmente: Para todo x, x é filósofo ou generoso (ou ambos).

Naturalmente: Todo ser humano é filósofo ou generoso (ou ambos).

(Ú2) x(Fx) Ú x(Gx)

Literalmente: Para todo x, x é filósofo ou para todo x, x é generoso (ou


ambos).

Naturalmente: Todos são filósofos ou todos são generosos (ou ambos).

Em todas essas fórmulas usamos os quantificadores e os conectivos da


conjunção e disjunção. É claro que poderíamos introduzir negações em
várias partes diferentes, da forma que você já conhece. Só para dar um
exemplo, tome a última fórmula:

(Ú2) x(Fx) Ú x(Gx)

Atividades

Até agora não usamos a negação. Introduzindo a negação, poderíamos


construir p.ex. as seguintes fórmulas:

1 Ø (x(Fx) Ù x(Gx))

2 Ø x(Fx) Ù Ø x(Gx))

3 x Ø(Fx Ù Gx)

4 xØ(Fx) Ú xØ(Gx)

LÓGICA| unidade 4 105


Você consegue explicar o significado de cada fórmula?

Solução

1 Não é o caso que todos são filósofos e todos são generosos.


(Ou seja, existe pelo menos alguém que não é filósofo ou não é
generoso)

2 Não é o caso que todos são filósofos e não é o caso que todos
são generosos. (Ou seja, existe pelo menos uma pessoa que não é
filósofo, e uma pessoa que não é generosa)

3 Todos são não filósofos e generosos. (Ou seja, não existe ninguém
que seja filósofo e generoso ao mesmo tempo)

4 Todos são não filósofos ou todos são não generosos. (Ou seja,
ou não existe nenhum filósofo no mundo, ou não existe ninguém
generoso no mundo, ou ambos)

Para completar essa parte das fórmulas complexas, falta vermos as


fórmulas com a implicação e com o bicondicional. Como nos casos
acima, temos quatro combinações (sem negações):

($®1) $x (Fx ® Gx)

Literalmente: Existe um x, tal que x se é filósofo, ele também é generoso.

Naturalmente: Existe alguém que, se ele for filósofo será generoso.

($®2) $x(Fx) ® $x(Gx)

Literalmente: Se existe um x, tal que x é filósofo, então existe um x, tal


que x é generoso.

Naturalmente: Se existir algum filósofo, então existirá alguém


generoso.

(®1) x (Fx ® Gx)

Literalmente: Para todo x, se x é filósofo, x é generoso.

Naturalmente: Todo filósofo é generoso.

(®2) x(Fx) ® x(Gx)

106 FILOSOFIA
Literalmente: Para todo x, se x é filósofo, então todo x é generoso.

Naturalmente: Se todos forem filósofos, então todos serão generosos.

Existe uma fórmula acima que merece destaque especial: (®1)

x (Fx ® Gx)

Essa fórmula corresponde exatamente o primeiro tipo de proposição


universal afirmativa do silogismo de Aristóteles. Você lembra? Pois
bem, aqui está nosso velho conhecido “todo A é B” (aqui, no caso,
todo F é G). Logo, o que o primeiro silogismo de Aristóteles dizia, agora
na linguagem da Lógica de Predicados, é dito da seguinte forma:

x (Fx ® Gx),

x (Gx ® Hx)

Logo, x (Fx ® Hx)

Kurt Gödel (1906 – 1978, à direita na foto)


O austríaco Kurt Gödel
(1906 – 1978, à direita
na foto) é considerado
um dos maiores lógicos
do século XX. Ele provou
a incompletude da
aritmética, ou seja, que
Fonte: http://edge.org/conversation/g-oumldel-
nem todas as verdades
and-the-nature-of-mathematical-truth-ii matemáticas podem
ser provadas logicamente. Ou seja, ele provou que o projeto
de Frege e Russell, de provar logicamente todas as verdades
matemáticas, jamais poderia dar certo. Ele era amigo do grande
físico Albert Einstein (à esquerda).

Finalmente, para finalizar todos os conectivos, vejamos as fórmulas


com bicondicionais.

($«1) $x (Fx « Gx)

LóGICA| UNIDADE 4 107


Literalmente: Existe um x, tal que x é filósofo se e somente se x é
generoso.

Naturalmente: Existe alguém que será filósofo se e somente se ele for


generoso.

($«2) $x(Fx) « $x(Gx)

Literalmente: Existe um x, tal que x é filósofo se e somente se existe


um x, tal que x é generoso.

Naturalmente: Existirá algum filósofo se e somente se existir alguém


generoso.

(«1) x (Fx « Gx)

Literalmente: Para todo x, x é filósofo se e somente se x é generoso.

Naturalmente: Todo filósofo é generoso e vice-versa.

(«2) x(Fx) « x(Gx)

Literalmente: Para todo x, se x é filósofo se e somente se para todo x,


x é generoso.

Naturalmente: Todos serão filósofos se e somente se todos forem


generosos.

Atividades

Descubra a fórmula lógica que corresponde às seguintes sentenças,


usando os símbolos:

F: é flamenguista

P: é palmeirense

T: é um torcedor fanático

1. Todo flamenguista é um torcedor fanático.

2. Nenhum flamenguista é um torcedor fanático.

108 FILOSOFIA
3. Todo flamenguista ou palmeirense é um torcedor fanático.

4. Existe pelos menos um flamenguista fanático e um que não é


fanático.

5. Todo torcedor fanático é flamenguista ou palmeirense.

6. Todo torcedor fanático é flamenguista, e nenhum palmeirense é


fanático.

7. Todo flamenguista que não é fanático é também palmeirense.

8. Todo flamenguista é fanático e todo fanático é flamenguista. (Ou


seja: só flamenguistas são fanáticos)

9. Se existe um flamenguista fanático, então também existe um


palmeirense fanático.

10. Se existe um flamenguista que é palmeirense, então existe um


torcedor não fanático.

Soluções

1. x (Fx ® Tx)

2. x (Fx ® ØTx) ou Ø$x (Fx Ù Tx)

3. x (Fx Ú Px ® Tx)

4. $x (Fx Ù Tx) Ù $x (Fx Ù ØTx)

5. x (Tx ® Fx Ú Px)

6. x (Fx ® Tx) Ù x (Px ® ØTx) ou x (Fx ® Tx) Ù Ø$x (Px Ù Tx)

7. x (Fx Ù ØTx ® Px)

8. x (Fx « Tx)

9. $x (Fx Ù Tx) ® $x (Px Ù Tx)

10. $x (Fx Ù Px) ® $x (ØTx)

LÓGICA| unidade 4 109


Ambiguidade

Com isso, esclarecemos o sentido de todas as fórmulas que combinam


quantificadores com um conectivo binário. É claro que fórmulas
cada vez mais complexas podem ser formadas combinando vários
quantificadores e conectivos. Um exemplo seria:

xy$x (Fx Ù ØFy ® Ø(Gx «Hx)) ® Øx (Gx Ú Hx)

Mas não queremos abusar da sua paciência. Isso deve ser o suficiente
para um primeiro contato com a lógica. Você já deve ter percebido,
lendo as fórmulas acima, que muitas delas dizem coisas estranhas,
coisas que não costumamos dizer. Mas também deve ter ficado claro,
e isso é o que importa, que grande parte do que nós dizemos, pode ser
reescrito em forma de fórmulas. Mas qual a vantagem das fórmulas?
Bem, como dizíamos no começo: num primeiro contato, isso parece
complicar, assim como transformar “oitocentos e noventa e cinco” em
“895” parecia complicar no início. Mas depois de acostumados, essas
Uma frase é dita ambígua
quando ela permite diferentes fórmulas são lidas de modo automático e são para um lógico treinado
interpretações. Outra maneira
de expressar isso é: uma frase (acredite) mais fácil de ler do que proposições naturais. E tem mais:
é ambígua quando ela expressa
mais de uma proposição. algumas frases da linguagem natural são ambíguas, e com auxílio das
fórmulas podemos eliminar toda a ambiguidade. Vejamos um exemplo.

Existe um caso muito interessante de ambiguidade que ocorre


quando usamos um predicado relacional. Veja a frase “todos amam
uma pessoa”. A primeira vista, essa frase parece muito clara. Mas
dependendo do contexto, ela pode adquirir diferentes possibilidades
de interpretação. Tome dois contextos diferentes que explicitam as
diferentes interpretações.

Contexto 1

“Na nossa escola existem alunos mais populares e outros


menos populares. Alguns têm muitos amigos, outros têm
poucos amigos. Mas todos amam uma pessoa. É a Maria – ela é
tão simpática, que é impossível não gostar dela.”

110 FILOSOFIA
Contexto 2

“Na vida, conhecemos diferentes pessoas. Algumas são muito


apaixonadas, gostam de muitas pessoas. Outras são mais
seletivas, só gostam de algumas. Até existem pessoas que dizem
não gostar de ninguém, nem delas mesmas. Eu não acredito
nisso. Acho que, mesmo que não admitam, todos amam uma
pessoa.”

Agora você deve ter percebido que a mesma frase “todos amam uma
pessoa” pode ter significados diferentes. Por isso dizemos que ela é
ambígua. No primeiro contexto “todos amam uma pessoa” significa
“existe uma pessoa (talvez tão especial) que todos a amam”. No
segundo contexto, a mesma frase é usada para expressar algo como
“toda pessoa gosta de pelo menos alguma pessoa” (nem que seja só
dela mesma!). Na lógica, não pode haver ambiguidade.

Para mostrar como se resolve essa ambiguidade, usamos o predicado


relacional “amar”. Tomemos a letra “R” para representar essa relação.
Assim, “aRb” significa “a ama b”. Usando os quantificadores, existem
quatro possibilidades de combinação, e cada uma delas dirá uma coisa
diferente:

x$y (xRy)

Literalmente: Para todo x, existe um y, tal que x ama y.

Naturalmente: Todos amam ao menos alguma pessoa (era nosso


contexto 2)

x$y (yRx)

Literalmente: Para todo x, existe um y, tal que y ama x.

Naturalmente: Todo ser humano é amado por alguém.

$xy (xRy)

Literalmente: Existe um x, tal que para todo y, x ama y.

Naturalmente: Existe uma pessoa que ama todos.

$xy (yRx)

LÓGICA| unidade 4 111


Literalmente: Existe um x, tal que para todo y, y ama x.

Naturalmente: Existe alguém que é amado por todos. (Esse era nosso
contexto 1).

Você consegue dar exemplos de


frases ambíguas? Você acha que
pessoas dizem frases ambíguas
somente por descuido, ou Atividades
também intencionalmente? Qual
poderia ser a intenção de se usar
frases ambíguas? Descubra a ambiguidade de “ninguém ama alguém”, mostrando as duas
fórmulas lógicas diferentes que capturam os diferentes significados.

Solução

xØ$y (xRy) Aqui “ninguém ama alguém” significa “para todo


mundo ocorre que não existe alguém que ele ama”, ou seja, “todos
têm o coração vazio”.

$xy (ØyRx) Aqui “ninguém ama alguém” significa “ninguém ama


aquela determinada pessoa x”, ou seja, “tem alguém (o x) que é tão
chato que ninguém ama ele.

Regras de Inferência

Não precisamos dizer a esta altura que a lógica de predicados é


bastante mais complexa que a lógica proposicional. Aumentamos em
muito a expressividade da lógica, mas também a dificuldade. Também
as regras de inferência, claro, ficam mais complicadas nessa lógica.
Como este é apenas um curso introdutório, apresentaremos as regras
de um modo um pouco simplificado. Felizmente não são muitas regras,
apenas 4 novas regras, duas para cada quantificador. As regras para os
conectivos você já conhece da lógica proposicional. Para relembrar um
pouco, veja as seguintes derivações:

Usando a eliminação da conjunção, podemos derivar:

PÙQ

112 FILOSOFIA
A mesma regra pode ser usada na Lógica de Predicados:

x(Fx) Ù x(Gx)

Logo: x(Fx)

Usando o modus ponens derivamos:

P®Q

logo Q

Assim, também podemos derivar agora:

$x(Fx) ® $x(Gx)

$x(Fx)

logo $x(Gx)

E o mesmo vale para todas as outras regras da lógica proposicional.


Vejamos agora as novas regras dos quantificadores:

1) Eliminação do Universal, ou -Eliminação (-E)

x(Fx)

Logo: Fa (ou Fb, ou Fc, ou Fd...)

Essa regra é muito simples. Ela diz simplesmente o seguinte: se é


verdade que todos são F, então a é F. Se todos são filósofos, então é
claro que Aristóteles é filósofo. Na verdade, essa regra diz que podemos
substituir a variável de uma quantificação universal por qualquer uma
das constantes individuais. Se todos são filósofos, então b também é, c
também é etc. Faz sentido, não faz?

2) Introdução do Existencial, ou $-introdução ($-I)

Fa (ou Fb, ou Fc, ou Fd...)

Logo: $x(Fx)

LÓGICA| unidade 4 113


Essa regra também é muito simples. Ela diz simplesmente que, se
a é um F, então existe alguma coisa que é F (claro, o próprio a!). Se
Aristóteles é filósofo, então existe algo que é filósofo. Há algo mais
óbvio que isso? Claro que o mesmo poderia ser inferido se ao invés de
termos Fa, tivéssemos Fb, ou Fc etc.

Começamos com essas duas regras porque elas são as mais fáceis.
Então, antes de passar para as duas últimas regras, vamos treinar um
pouco o uso dessas regras? Veja as seguintes derivações:

Exemplificando

1 Derive $x(Fx) de x(Fx)

A derivação pode ser feita assim:

1. x (Fx) premissa

2. Fa -E

3. $x (Fx) $-I

Pronto, a derivação está pronta. A linha 1 foi nossa premissa. Derivamos


a linha 2 usando a regra de eliminação do universal. A linha 3, por sua
vez, nada mais é que a aplicação da regra de introdução do existencial.
E assim chegamos à conclusão que queríamos.

Agora, tente derivar $x(Fx) Ù $x(Gx) de x(Fx) Ù x(Gx). Aliás, para


expressar essas derivações usamos o símbolo “├” entre as premissas e
a conclusão. Ou seja, tente mostrar:

x(Fx) Ù x(Gx) ├ $x(Fx) Ù $x(Gx)

Como você faria?

A solução mais fácil seria essa:

1. x(Fx) Ù x(Gx) premissa

2. x(Fx) Ù-E 1

3. x(Gx) Ù-E 1

114 FILOSOFIA
4. Fa -E 2

5. Ga -E 3

6. $x(Fx) $-I 4

7. $x(Gx) $-I 5

8. $x(Fx) Ù $x(Gx) Ù-I 6, 7

Como sempre, começamos a derivação com a premissa na primeira


linha. A linha 2 foi gerada a partir da eliminação da conjunção da
linha 1 – uma regra já conhecida da lógica proposicional. Derivamos a
linha 3 exatamente da mesma forma, com a eliminação da conjunção
da linha 1. Para chegar à linha 4, usamos simplesmente a regra de
eliminação do universal aplicada à linha 2 (se x(Fx), então Fa). A linha
5 é completamente análoga: ela foi derivada da linha 3 com a regra de
eliminação do universal (só que agora com G no lugar de F). As linhas 6 e
7 também são fáceis: pela regra de introdução do existencial, sabemos
que se Fa, então $x (Fx). Assim, derivamos a linha 6 da linha 4, e a linha
Uma fórmula como Fa ® $x(Fx)
7 da linha 5. A conclusão, finalmente, se segue por simples aplicação da é chamada verdade lógica. Essa
regra de introdução da conjunção, que você já conhece desde a lógica fórmula expressa uma regra
lógica, e por isso ela precisa ser
proposicional: se $x(Fx) e $x(Gx), então é claro que $x(Fx) Ù $x(Gx). necessariamente verdadeira. Mas
ela não é uma tautologia. Note
Pronto, demonstrado. que na Lógica de Predicados não
temos tabelas de verdade.
Vamos agora ver as duas últimas regras que faltam? Com elas fechamos
o curso básico de lógica. Deixamos elas para o final porque são um
pouco mais complicadas. Em primeiro lugar, imagine a seguinte regra:

Fa

Logo: x (Fx)

Ela diz que, se a é F, então todos são F. É claro que isso está errado. Do
fato de que Aristóteles é filósofo, não podemos concluir que todos os
seres humanos são filósofos. Isso seria uma generalização absurda. Mas
como pode haver então uma regra de introdução do universal? A saída é
introduzir uma restrição: só podemos introduzir uma generalização se
a constante individual usada na fórmula (o “a” de “Fa”) foi introduzido
anteriormente por meio de uma eliminação do universal. Ou seja, se
você tinha x (Fx)

LóGICA| UNIDADE 4 115


e ai, aplicando a regra de eliminação de universal, conclui - Fa

então, claro, você pode voltar a afirmar x (Fx)

Isso não pode estar errado: é claro que se você partiu de x(Fx), então
você pode concluir x(Fx). A regra, então, fica assim:

3) Introdução do Universal (-I)

Fa (desde que o “a” tenha sido introduzido nessa formular por -E)

Logo: x (Fx)

Vamos ver como isso funciona na prática. Veja a seguinte prova:

1. x (Fx) premissa

2. x (Gx) premissa

3. Fa -E, 1

4. Ga -E, 2

5. Fa Ù Ga Ù-I, 3 e 4

6. x (Fx Ù Gx) -I, 5

Você saberia dizer em linguagem natural o que essa prova diz? Claro,
ela simplesmente diz que se todos são filósofos e todos são generosos,
então todos são filósofo generosos. A regra que nos interessa foi
aplicada na passagem da linha 5 para a linha 6, nossa conclusão. Na
linha 5 se dizia algo sobre “a”. Mas repare que esse “a” não ocorre nas
premissas – ele foi introduzido por meio de eliminação do universal na
linha 3 e na linha 4. Note que se tivéssemos como premissa:

Fa Ù Ga

Não poderíamos concluir

x (Fx Ù Gx)

116 FILOSOFIA
por meio da regra -I. Isso seria o mesmo que concluir, a partir de
“Aristóteles é filósofo e generoso” que todos os homens são filósofos
generosos – o que é, claro, absurdo. Você percebe a diferença, não?

A última regra é a eliminação do existencial. Novamente, uma regra


um pouco mais complicada. Imagine que você saiba que $x(Fx) – ou
seja, que existe algo que é F. Você poderia concluir que a é F? Parece
claro que não. Mas pode acontecer isso mesmo? Como eu posso saber
que existe um F sem saber quem é F? Bem, um caso muito fácil de se
imaginar seria o seguinte. Imagine que a polícia encontra a vítima de
um crime, assassinada brutalmente. A polícia sabe que existe alguém
que é o assassino, mas ela não sabe quem é. Essa é exatamente a
situação aqui: existe um F, existe um assassino – mas não sabemos se
a é o F, ou se b é o F, ou se c é o F, etc. Como a lógica faz nesses casos?
Semelhante à polícia: ela inventa um apelido. Ela não pode dizer que
foi Pedro, ou João ou Marcelo, mas ela pode designar esse assassino,
quem quer que ele seja, “o monstro da vila”. A partir daí, pode-se falar
sobre esse indivíduo, mesmo sem saber que ele é: “o monstro da vila
atacou novamente”, “o monstro da vila pegará pelo menos 10 anos de
prisão” etc.

Voltando à lógica, a regra é simples:

$x (Fx)

Logo Fu (desde que “u” seja um nome inédito)

Ou seja, se eu tinha as constantes a, b, c, d, etc. como nomes de


indivíduos, eu não posso usá-los. Claro, isso seria o mesmo que dizer
que o assassino é Aristóteles, ou João, ou Pedro. Então a saída é não
usar nenhum desses nomes e usar simplesmente um apelido “u”.
Depois, o raciocínio pode continuar. Vejamos como isso fica numa
demonstração. Vamos derivar $x (Gx) a partir de $x (Fx) e x (Fx ® Gx)

1. $x (Fx) premissa

2. x (Fx ® Gx) premissa

3. Fu $-E, 1

4. Fu ® Gu E-, 2

LÓGICA| unidade 4 117


5. Gu MP, 3 e 4

6. $x (Gx) $-I, 5

Vamos tentar entender essa prova. A primeira linha me diz que existe
um x que é F. Vamos interpretar agora “F” como “é um assassino” para
facilitar nossa explicação. A segunda linha, também premissa, nos diz
que todo F é G. Suponha que “G” significa “malvado”. Logo, a linha 2
diz que todo assassino é malvado. Isso, de fato, nós sabemos. A linha 3
é derivada de 1: de “existe um assassino” nós derivamos “o assassino
da meia-noite é um assassino” (como o policial no exemplo acima,
nós só inventamos um apelido para esse x desconhecido). A linha 4 é
gerada aplicando a regra de eliminação do universal – lembre-se que
essa regra não tinha nenhuma restrição. Podemos usar a constante
que quisermos, inclusive o apelido que inventamos. A linha 5 nada mais
é que o resultado do modus ponens das linhas 3 e 4. Essa linha diz que
o assassino da meia-noite é malvado. Finalmente, a linha 6 é derivada
da linha 5 por meio da introdução do existencial: se o assassino da
meia-noite é malvado, então existe alguém que é malvado. Como diria
Sherlock Holmes: “Elementar, meu caro Watson!”

Atividades

Faça as seguintes derivações:

1. x(Fx), x(Fx ® Gx) ├ x(Gx)

2. $x(Fx Ù Gx) ├ $x(Fx) Ù $x(Gx)

3. x (Fx Ù Gx) ├ x (Fx) Ù x (Gx)

4. Fa, Ga, ØHa ├ $x (Fx Ù Gx Ù ØHx)

5. x (Fx « Gx), Fa ├ Ga6. x (Fx « Gx), Fa Ù Gb ├ Ga Ù Fb

118 FILOSOFIA
Soluções
1. 2. 3.

1. x(Fx) 1. $x(Fx Ù Gx) 1. x (Fx Ù Gx)

2. x(Fx ® Gx) 2. Fa Ù Ga 2. Fa Ù Ga

3. Fa 3. Fa 3. Fa

4. Fa ® Ga 4. Ga 4. Ga

5. Ga 5. $x(Fx) 5. x (Fx)

6. x (Gx) 6. $x(Gx) 6. x (Gx)

7. $x(Fx) Ù $x(Gx) 7. x (Fx) Ù x (Gx)

4. 5. 6.
1. Fa 1. x (Fx « Gx) 1. x (Fx « Gx)
2. Ga 2. Fa 2. Fa Ù Gb
3. ØHa 3. Fa « Ga 3. Fa « Ga
4. Fa Ù Ga 4. Fa ® Ga 4. Fa ® Ga
5. Fa Ù Ga Ù ØHa 5. Ga 5. Fa
6. $x (Fx Ù Gx Ù ØHx) 6. Ga

7. Fb « Gb

8. Gb ® Fb

9. Gb

10. Fb

11. Ga Ù Fb

Pronto! Você já sabe o que é, em linhas gerais, a Lógica de Predicados.


Você já viu como construir fórmulas, o que elas querem dizer, e como
derivar fórmulas a partir de outras fórmulas. Mas uma coisa é ler e
entender, outra coisa é praticar. Para você se tornar um bom lógico,
deve treinar com muitos exercícios. Apresentamos alguns exercícios
nesse livro. Mas existem muitos exercícios em outros livros. Quanto
mais você ler, e quanto mais você treinar, claro, tanto melhor.

LÓGICA| unidade 4 119


Resumo

Nesta unidade estudamos a Lógica de Predicados. Aprendemos a


distinção entre termos singulares e predicados. Aprendemos a escrever
frases da linguagem natural em forma de fórmulas lógicas. Além disso,
aprendemos a usar os dois quantificadores, o universal e o particular,
com suas respectivas regras de inferência.

IMAGUIRE, G, & BARROSO, C. A. C. Lógica: Os Jogos da Razão. Fortaleza,


Editora UFC, 2006.

MORTARI, C. Introdução à Lógica. São Paulo, UNESP, 2001.

SILVESTRE, R. S. Um Curso de Lógica. Petrópolis, Vozes, 2010.

HAACK, S. Filosofia das Lógicas. São Paulo: UNESP, 2002. Tradução de:
Cezar Augusto Mortari e Luiz Henrique Dutra.

IMAGUIRE, G, & BARROSO, C. A. C. Lógica: Os Jogos da Razão. Fortaleza:


Editora UFC, 2006.

MORTARI, C. Introdução à Lógica. São Paulo: UNESP, 2001.

SILVESTRE, R. S. Um Curso de Lógica. Petrópolis: Vozes, 2010.

TUGENDHAT, E. & WOLF, U. Propedêutica lógico-semântica. Petrópolis:


Vozes, 1997. Tradução de: Fernando Augusto da Rocha Rodrigues.

120 FILOSOFIA
Considerações Finais

A filosofia é, dentre outras coisas, um berço para novas disciplinas.


As ciências naturais, como a física e a biologia, nasceram dentro da
filosofia. Elas se desenvolveram até um dia se tornarem autônomas.
A psicologia também era uma disciplina da filosofia que, no final do
século XIX, se tornou uma disciplina independente. Por isso, hoje você
pode estudar, física, biologia e psicologia como cursos universitários
próprios.

A mesma coisa ocorreu com a lógica. Como vimos neste fascículo, a


lógica evoluiu muito desde os tempos de Aristóteles até os nossos
dias. E hoje, em algumas universidades do mundo, pessoas podem
fazer uma graduação e uma pós-graduação em Lógica, como um curso
universitário independente, de tão grande que é a disciplina. Existem
inúmeros sistemas lógicos. Matemáticos, filósofos, pessoas ligadas
à informática e à inteligência artificial estudam e criam diariamente
novos sistemas lógicos.

Neste fascículo apresentamos apenas os sistemas mais importantes da


filosofia: o Silogismo, a Lógica Proposicional e a Lógica de Predicados.
Mas, mesmo dentro filosofia, novos sistemas lógicos são estudados e
ampliados constantemente. Para os metafísicos, por exemplo, a lógica
modal é a mais importante: ela estuda conceitos como necessário e
possível. Para a teoria do conhecimento, a lógica epistêmica é a mais
fundamental, onde entram conceitos como certeza e saber. Até mesmo
para a ética existe uma lógica, que usa conceitos como obrigatório,
proibido e permitido.

Para a filosofia, o estudo da lógica serve, basicamente, para aguçar o


sentido de argumentação. Na filosofia, argumentamos constantemente
sobre os mais diferentes tópicos. Mas argumentos podem enganar.
O uso da lógica formal ajuda a entender a estrutura dos argumentos,
facilitando a descoberta de suas fragilidades. Como vimos, há
argumentos logicamente válidos, e há falácias, que parecem válidos,
mas não são. Claro que seria ingênuo pensar que a lógica resolve
definitivamente antigos problemas filosóficos. Mas ela contribui, sem
dúvida alguma, para tornar nosso discurso muito mais rigoroso.

LÓGICA| unidade 4 121


Na verdade, muito mais do que ela pode fazer, os lógicos ficam fascinados
com o que ela NÃO pode fazer. Por que a lógica de predicados, por
exemplo, não consegue provar isso ou aquilo? Qual seu limite? Uma vez
descoberto isso, o lógico “se diverte” procurando novos sistemas que
consigam provar algo que não podia ser provado antes. Às vezes eles
provam coisas estranhas, por exemplo, que alguma coisa não pode ser
provada. Estranho, não é mesmo? Mas, de fato, uma das provas mais
interessantes do Século XX é que existem verdades matemáticas que
não podem ser provadas. Foi provado que nem tudo pode ser provado!

Um fascículo de lógica não deve ser apenas lido. Ele precisa ser estudado.
Os exercícios precisam ser feitos e refeitos, até que a habilidade lógica
esteja consolidada. Como dissemos no começo, lógica não é um
conjunto de doutrinas ou verdades. Lógica é raciocínio, e raciocínio é
uma capacidade que devemos treinar dia após dia. Podemos até dizer
que lógica é como uma academia onde “malhamos” nosso cérebro.
Este fascículo pretende ser apenas um convite para você experimentar
essa academia cerebral. Pois bem: seja bem-vindo!

122 FILOSOFIA
REFERÊNCIAS

DA COSTA, N. Ensaio sobre os Fundamentos da Lógica. São Paulo:


Hucitec, EDUSP, 1980.

HAACK, S. Filosofia das Lógicas. São Paulo: UNESP, 2002. Tradução de:
Cezar Augusto Mortari e Luiz Henrique Dutra.

IMAGUIRE, G, & BARROSO, C. A. C. Lógica: Os Jogos da Razão. Fortaleza,


Editora UFC, 2006.

MATES, B. Lógica elementar. São Paulo: Companhia Editora Nacional,


1968. Tradução de: L. H. B. Hegenberg e O. S. da Mota.

MORTARI, C. Introdução à Lógica. São Paulo: Editora UNESP, 2001.

SILVESTRE, R. S. Um Curso de Lógica. Petrópolis: Vozes, 2010.

TUGENDHAT, E. & WOLF, U. Propedêutica lógico-semântica. Petrópolis:


Vozes, 1997. Tradução de: Fernando Augusto da Rocha Rodrigues.

lógica | REFERÊNCIAS 123

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