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096007650 1007333000 011585810, ORLANDO CARVALHO: Soper Fatanal de Heaton RECURSO ESPECIAL N. 115.458 (96.076507-3) - MINAS GERAIS voto © EXCELENTISSIMO SENHOR MINISTRO ADHEMAR MACIEL (RELATOR): Senhor Presidente, o recurso especial merece prosperar em parte. 0 TJMG proveu a apelagao dos ora recorridos, cassando a sentenga de fis. 110/113, pelos fundamentos constantes do voto-condutor proferido pelo eminente Desembargador ARTUR MAFRA: “PROCEDE O INCONFORMISMO E COM RAZAO O DOUTO PROCURADOR DE JUSTIGA, data venia do ilustrado Juiz sentenciante, eis que, efetivamente, ar. sentenga (fis. 110/113) teve sua parte conclusiva restrita A constitucionalidade da Lei Municipal n° 7.85/90, omitindo-se quanto @ sua correta aplicagao, contestada pelos Autores-Apelantes. Doutro lado, olvidou-se a intimagao do MP. para intervir no feito cautelar, nas imposigbes do art. 82, Ill, do CPC, eis que a lide tem por objeto a discussdo sobre tributos, em que € patente o interesse publico, implicando, a auséncia de intimagao, em nulidade processual, nos termos dos arts. 84 e 246 do CPC, ‘embora o inferesse publico tenha sido resguardado na sentenca, sujeita, porém, a reforma. Assim, DOU PROVIMENTO AO RECURSO, PARA CASSAR A SENTENGA E OUTRA SE PROFERIR, solvendo todos os pedidos formulados e reiterados, apés a regular intimacao do Rep. do MP* (fl. 138), Quando do julgamento dos embargos de deciaragao, a 1° Camara Civel do TJMG foi conduzida pelo seguinte voto proferido pelo eminente Desembargador RESP N.116.488NG (VOTO) Lypesioa Leena se Kahoa “O MUNICIPIO DE JUIZ DE FORA maneja EMBARGOS DE DECLARAGAO ao V. Acérdao de fis. 244/246 que, ‘a unanimidade de votos’, deu provimento ao recurso, ‘para cassar a sentenga e outra se proferir, solvendo todos os pedidos formulados e reiterados, apés a regular intimagao do MP’. ‘Aduz, 0 Embargante, no terem, os Apelantes, aviado os cabiveis embargos declaratérios para verem sanada omissao da sentenga. No entanto, ao prover o recurso, 0 V. Acérdao nao levou em consideragao tal omissao, Doutro lado, sustenta ter 0 resto se omitido sobre a nulidade sem prejuizo, consoante o art. 249, § 1°, do CPC, eis que reconheceu que 0 interesse piblico fora preservado com a deciso. Finalmente, taxa o Aresto de omisso, por nao conter os votos dos juizes Revisor e Vogal Data venia, inconsistentes sao os presentes Embargos, eis que: 1. As falas reconhecidas na sentenca cassada nao seriam sanada pelo recurso dos Embargos Decleratérios, apenas, mas com outras providéncias, v.g., com a participagao do imprescindivel do M. P 2. Nao se trata de tepetir ou nao o ato, na previsao do art. 249, § 1°, do CPC, mas de praticar, pois ndo 0 foi, e sua pratica € imprescindivel, sob pena de nulidade absoluta. Dal a concluséo do V. Acérdao ‘embargado, Anote-se nao estar em jogo to-s6 0 interesse pubblico, mas também o das partes adversas". Como se vé, no tocante & questao da nulidade da sentenga, o acérdao recorrido esta alicergado nos seguintes fundamentos: a) @ sentenga foi proferida aquém do pedido, pelo que é nula, sendo dispensavel a prévia interposi¢ao de embargos de declaracao por parte do apelante; b) a auséncia da manifestagao do Ministério Publico é causa de nulidade. Ja a questao da multa esta fundada no intuito protelaterio dos embargos de declaragao interpostos pelo recorrente. Feita a exposigao do caso sub judice, passo ao julgamento, No tocante a violago ao art. 538, paragrafo Unico, do CPC, assiste razo ao recorrente. Conforme ja esté sumulado nesta Corte, "embargos de declaragao manifestados com notério propésito de pré-questionamento nao tém carater ( cb RESP N.118458NG (VOTO) Sono Kanal obo Eon protelatério” (Verbete n. 98). Além do mais, para impor a multa nao basta o tribunal afirmar que 0s declaratérios sao procrastinatérios. Deve fundamentar a sua deciséo, apresentando os motives pelos quais os embargos foram interpostos para fins de protelagao. Realmente, como toda decisao judicial, a que impée a mutta prevista no pardgrafo nico do art 538 do CPC deve ser fundamentada (CF, art. 93, IX), nao servindo para tanto a simples afitmagéo de que os embargos de declaracdo sao protelatorios. Além disso, tratando-se de embargos declaratérios com not6rio escopa de prequestionamento da questo federal a ser suscitada para os tribunais superiores, @ vedado ao tribunal a quo impor multa a titulo de procrastinagao. A Constituigao Federal, em seu art. 5°, LV, garante a ampla defesa, “com os meios e recursos a ele inerenies’ Por tais raz0es, excluo a multa imposta pelo tribunal estadual No mais, a conclusao do acérdao recorrido merece subsist. © recorrente alega que 0 aresto recorrido violou 0 art. 535, Il, do CPC, a0 fundamento de que nao pode © tribunal estadual cassar sentenca citra petita, se 0 apelante nao interpés previamente embargos de declaracao para sanar a omissao do decisum proferido pelo juiz de primeiro grau. Em que pese @ combatividade do ilustre patrono do recorrente, tenho que a sentenca citra petita esta eivada de nulidade, a qual ndo pode ser convalidada pela nao-interposi¢ao de embargos declaratérios por parte do apelante. Nesse sentido é a doutrina e a jurisprudéncia, conforme passo a demonstrar. sce RESP N. 11548886 (VOTO) pues Teena ob yn Como ensinam os Professores HUMBERTO THEODORO JUNIOR (“Curso de direito processual civil, 19° ed., 1997, pag. 514) e VICENTE GRECO FILHO (‘Direito processual civil brasileiro", vol. Il, pag. 258) € nula a sentenga citra petita. Realmente, como bem firmou 0 entéo Desembargador EDUARDO RIBEIRO, que ora abrithanta esta Corte, “a decisao citra petita importa em existéncia de vicio apto a conduzir & sua anulacdo" (AC n, 10.961, 1? Turma Civel do TJDF, unanime, publicado no DJ 12/04/84). Por oportuno, transerevo a ementa de outro precedente: “JULGAMENTO CITRA PETITA - E NULA A SENTENCA QUE NAO ESGOTA A PRESTACAO JURISDICIONAL, MOSTRANDO-SE IMPOSSIVEL A SUA COMPLEMENTAGAO" (AC n. 6.980, 1* Turma Civel do TJDF, unanime, relator Desembargador LUIZ VICENTE CERNICCHIARO, julgado em 20/10/80). Portanio, se o juiz ue primeiro grau proferiu sentenga aquém do pedido, pode a parte prejudicada apelar para obter a cassagSo do decisum, independentemente de prévia interposigao de embargos de declaragao. Isso porque a sentenga citra petita estd eivada de nulidade, a qual pode ser decretada pelo tribunal de apelago até mesmo de oficio, ainda mais quando expressamente requerida na apelagao. A respeite do tema, merecem ser transeritos os seguintes precedentes do TST edo TIMS: “NULIDADE - NEGATIVA DE PRESTAGAO JURISDICIONAL. Verificada a existéncia de julgamento citra petita, impde-se ao regional a anulacao da sentenga com determinagao de novo julgamento pela junta, com a completa prestacao jurisdicional. a matéria, subsistindo a nulidade da sentenca Revista conhecida e provida para anular as decisées proferidas pelo regional e pela junta’ (RR n. 140.240/SP, 28 Turma do TST, unanime, relator Ministro NEY DOYLE, publicado no DJU de 23/06/95, pagina 19.721) (grifei) RESP N, 11545806 (VOTO) . Shree Tetenal bo Sten “APELAGAO CIVEL. REVISIONAL DE ALIMENTOS. DECISAQ CITRA PETITA, ANULADA. Nao @ absurda a anulagdo de sentenga de primeiro grau quando ela no decidiu a lide em toda extensdo do pedido, mesmo que a parte do tenha embargado, porque reiterando o autor, no apelo, postulacao felta na exordial, a Corte nao tem como atender, sem supressdo da instancia® (AC n. 390, TJMS) (grfei). Em suma, a nulidade da sentenca citra (ou infra) petita pode ser decretada ‘até mesmo de oficio, pelo que ndo ha que se condicionar a apelagao @ prévia interposi¢ao de embargos de dectaracao. Com essas consideragées, conhego do recurso especial, e dou-the parcial provimento tao-somente para excluir a multa imposta a fl. 182. E como voto.

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