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Habeas corpus (art. 5.

º, LXVIII)

Regras gerais

Historicamente, o habeas corpus foi a primeira garantia de direitos fundamentais,


concedida por “João Sem Terra”, monarca inglês, na Magna Carta, em 1215, e formalizada,
posteriormente, pelo Habeas Corpus Act, em 1679.

No Brasil, a primeira manifestação do instituto deu-se em 1821, através de um alvará


emitido por Dom Pedro I, pelo qual se assegurava a liberdade de locomoção. A terminologia
“habeas corpus” só apareceria em 1830, no Código Criminal.
O autor da ação constitucional de habeas corpus recebe o nome de impetrante; o indivíduo
em favor do qual se impetra, paciente (podendo ser o próprio impetrante), e a autoridade
que pratica a ilegalidade ou abuso de poder, autoridade coatora ou impetrado.

O impetrante, portanto, poderá ser qualquer pessoa física (nacional ou estrangeira) em


sua própria defesa, em favor de terceiro, podendo ser o Ministério Público ou mesmo
pessoa jurídica (mas, é claro, em favor de pessoa física). Já o magistrado, na qualidade de
Juiz de Direito, no exercício da atividade jurisdicional, a Turma Recursal, o Tribunal poderão
concedê-lo de ofício, em exceção ao princípio da inércia do órgão jurisdicional. Mas
cuidado: o Juiz de Direito, o Desembargador, os Ministros, quando não estiverem
exercendo a atividade jurisdicional, impetrarão, e não concederão de ofício, naturalmente, o
habeas corpus, já que atuando como pessoa comum.

Referida ação pode ser formulada sem advogado, não tendo de obedecer a nenhuma
formalidade processual ou instrumental, sendo, por força do art. 5.º, LXXVII, gratuita.

Pode o HC ser impetrado para trancar ação penal ou inquérito policial, bem como em
face de particular, como no clássico exemplo de hospital psiquiátrico que priva o paciente
de sua liberdade de ir e vir, ilegalmente, atendendo a pedidos desumanos de filhos ingratos
que abandonam seus pais.

Espécies

O habeas corpus será preventivo quando alguém se achar ameaçado de sofrer violência
ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder (a restrição à
locomoção ainda não se consumou). Nessa situação poder-se-á obter um salvo-conduto
para garantir o livre trânsito de ir e vir.

Quando a constrição ao direito de locomoção já se consumou, estaremos diante do


habeas corpus liberatório ou repressivo, para cessar a violência ou coação.

Mandado de segurança (art. 5.º, LXIX)

Introdução
O mandado de segurança, criação brasileira, é uma ação constitucional de natureza civil,
qualquer que seja a do ato impugnado, seja ele administrativo, seja ele jurisdicional,
criminal, eleitoral, trabalhista etc.

Restringido o alcance da “teoria brasileira do habeas corpus” pela reforma constitucional


de 1926, sob forte influência da doutrina e jurisprudência da época, que buscavam nas
ações possessórias instrumentos para suprir a lacuna deixada pela aludida reforma, o
mandado de segurança é constitucionalizado em 1934, sendo introduzido na Carta Maior e
permanecendo nas posteriores, com exceção da de 1937. Suas regras gerais foram
regulamentadas pela Lei n. 1.533, de 31.12.1951 e outros tantos dispositivos, estando,
atualmente, disciplinado na Lei n. 12.016, de 07.08.2009, objeto de vários questionamentos
nas ADIs 4.296 e 4.403 (matéria pendente).

Podemos, pois, identificar como fonte imediata de inspiração do mandado de segurança,


no direito brasileiro, a “teoria brasileira do habeas corpus”, podendo ser destacado, ainda, o
art. 13 da Lei n. 221/1894 (ação anulatória de atos da Administração) e o instituto dos
interditos possessórios.

Abrangência

O constituinte de 1988 assim o definiu: “conceder-se-á mandado de segurança para


proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o
responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa
jurídica no exercício de atribuições do Poder Público” (art. 5.º, LXIX).

Dessa forma, excluindo a proteção de direitos inerentes à liberdade de locomoção e ao


acesso ou retificação de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de
registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público, através
do mandado de segurança busca-se a invalidação de atos de autoridade ou a supressão
dos efeitos da omissão administrativa, geradores de lesão a direito líquido e certo, por
ilegalidade ou abuso de poder.

Direito líquido e certo

O direito líquido e certo é aquele que pode ser demonstrado de plano mediante prova
pré-constituída, sem a necessidade de dilação probatória. Trata-se de direito “manifesto na
sua existência, delimitado na sua extensão e apto a ser exercitado no momento da
impetração”.

Importante lembrar a correção feita pela doutrina em relação à terminologia empregada


pela Constituição, na medida em que todo direito, se existente, já é líquido e certo. Os fatos
é que deverão ser líquidos e certos para o cabimento do writ.140

Ilegalidade ou abuso de poder


O cabimento do mandado de segurança dá-se quando perpetrada ilegalidade ou abuso
de poder por autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do
Poder Público.

Quanto a esses dois requisitos pondera Michel Temer, com precisão: “o mandado de
segurança é conferido aos indivíduos para que eles se defendam de atos ilegais ou
praticados com abuso de poder. Portanto, tanto os atos vinculados quanto os atos
discricionários são atacáveis por mandado de segurança, porque a Constituição Federal e a
lei ordinária, ao aludirem a ilegalidade, estão se referindo ao ato vinculado, e ao se
referirem a abuso de poder estão se reportando ao ato discricionário”.

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