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Mais em latim do que outra língua.

Agora ainda canta em latim, mas não muito,


porque naquela época, o Emiliano pegou uma turma e ele ensinou música pra
essa turma. Todo mundo sabe música (em latim) igual o português. Eu sei mais
música (em latim) do que português1.

“A memória é seletiva. Nem tudo fica gravado. Nem tudo fica registrado”2.

Podemos portando dizer que a memória é um elemento constituinte do


sentimento de identidade, tanto individual como coletiva, na medida em
que ela é também um fator extremamente importante do sentimento de
continuidade e de coerência de uma pessoa ou de um grupo em sua
reconstrução de si3.

“cada vez que uma memória está relativamente constituída, ela efetua um
trabalho de manutenção, de coerência, de unidade, de continuidade, da organização”4.

quando a memória e a identidade estão suficientemente constituídas,


suficientemente instituídas, suficientemente amarradas, os
questionamentos vindos de grupos externos à organização, os
problemas colocados pelos outros, não chegam a provocar a
necessidade de se proceder a rearrumações, nem no nível da identidade
coletiva, nem no nível da identidade individual5.

Concordando com Lowenthal, Jacques Le Goff infere que JACQUES LE GOFF


PÁG. 411. “A memória, onde cresce a história, que por sua vez a alimenta, procura
salvar o passado para servir o presente e o futuro”. Assim sendo, fica nítida a
importância que a memória tem para o presente dos grupos sociais dispostos a encontrar
no passado significado para sua valorização no presente.

1 Depoimento de Angélica, em entrevista concedida ao autor em 09 de agosto de 2019.


2 POLLAK PÁG. 4.
3 POLLAK. PÁG. 5.
4 POLLAK. PÁG. 7.
5 POLAK. PÁG. 7.
LOWENTHAL (B. S. BENJAMIN) PÁG. 16. diz que “Isso porque não há nada
tão unicamente pessoal para um homem quanto suas lembranças (...) e, ao proteger a
lembrança delas, temos quase a impressão de estar protegendo o próprio alicerce de
nossa personalidade”.

JACQUES LE GOFF PÁG. 410.

Mais do que nunca, são verdadeiras as palavras de Leroi-Gourhan: "A partir do


Homo sapiens, a constituição de um aparato da memória social domina todos os
problemas da evolução humana" [1964-65, p. 24]; e ainda: "A tradição é
biologicamente tão indispensável à espécie humana como o condicionamento
genético o é às sociedades de insetos: a sobrevivência étnica funda-se na rotina,
o diálogo que se estabelece suscita o equilíbrio entre rotina e progresso,
simbolizando a rotina o capital necessário à sobrevivência do grupo, o
progresso, a intervenção das inovações individuais para uma sobrevivência
melhorada".

“Devemos trabalhar de forma a que a memória coletiva sirva para a libertação e não
para a servidão dos homens”. JACQUES LE GOFF PÁG. 411.

Não foi sentida essa vontade de “encenar” ou demonstrar o que não se é por
parte dos entrevistados. Muito pelo contrário, pareciam honestos e faziam questão de
mencionar as dificuldades que seus antepassados passaram, além das dificuldades
materiais e pessoais das associações não deixavam de ser lembradas, eram tratadas até
com certo entusiasmo, como um obstáculo a ser vencido pelo grupo.

podemos portanto dizer que a memória é um elemento constituinte do


sentimento de identidade, tanto individual como coletiva, na medida em
que ela é também um fator extremamente importante do sentimento de
continuidade e de coerência de uma pessoa ou de um grupo em sua
reconstrução em si (POLLAK, 1992, p 5).

O guardião, nesta perspectiva, é um profissional da memória. No meio familiar,


é comum que os avós assumam esta função. Em outros grupos sociais, a questão
deve ser examinada em particular e pode ter variações. O que de certa forma é
comum, e interessa em particular a este texto, é que há momentos e motivações
especiais que marcam o início da carreira de um guardião da memória. Eles são
emblemáticos e passam a dominar a trajetória de vida daqueles que se imbuem
de tal tarefa6.

6 GOMES, Angela de Castro. A guardiã da memória. Acervo. – Revista do Arquivo Nacional. Vol. 9, n.
1 /2. Rio de Janeiro, jan./dez, 1996, p. 7-8.

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