OS HOMENS DO REI
Nesse capítulo a autora disserta sobre uma dupla dependência ou dubiedade entre os
homens de cabedal e a Coroa. Inicialmente ela expõe os homens de confiança que,
inicialmente foram nomeados como guardas-mor nos arraiais e que tinham largas
atribuições para organização da terra e da população, com o objetivo de assentar a
fiscalização e o fisco relativos às atividades produtivas, sobretudo a mineração.
Em seguida ela demonstra que, conforme os objetivos foram se transfigurando na efetiva
defesa e povoamento do território, foi necessário a instalação de órgãos administrativos
e o fonecimento de algumas condições para atrair a população. Nesse momento, muitos
homens de cabedal se instalam em suas terras e passam a ganhar seus poderes por meio
de cartas de agradecimento, doação de títulos, honrarias e terras, por prestar serviços à
Coroa, como por exemplo, se empenhar na caça ao indígena. Para a autora há uma relação
mútua de dependencia pois, se por um lado a Coroa não precisa gastar com essas
atividades tendo homens dispostos a por a disposição seu poder economico para efetivar
a polítia de povoamento e defesa da Coroa, por outro a Coroa ficava – em parte -
dependente desses homens e lhes dava reconhecimento.
Outro ponto a ser considerado e que é de forma mais particular trabalhado pela autora é
a questão militar e a sua fidelidade aos mandos da Coroa, mesmo com toda a distância
que os separava. Para ela, do período colonial ao regencial houve importantes melhorias
e organização do exército que, se inicialmente tinha um caráter mais amador sem funções
definidas, passou a ter companhias – diversas linhas ou corpos fixos (companhia de
caçadores, artilharia, cavalaria, artífices – que no século XVIII recebe uma mudança na
organização com regras para recrutamento – que procurava impactar o mínimo possível
as atividades produtivas – além de outras instituições para assegurar a órdem como a
Guarda Nacional, Polícia Militar.
Ressalte-se ainda a importância das instituições religiosas que também contribuiam para
a manutenção da órdem, junto ao aparato administrativo construído desde o século XVII,
mesclando as obrigações e deveres de funcionários da Fazenda, da Justição e dos assuntos
religiosos (...) enredavam-se diante da complexidade do novo, do emergente, do periogo,
das ambições pessoais e imposições do contexto geográfico e social. (p. 45)
Para ela, na medida em que construíam-se os fortes, povoações e estradas, assentava-se
também a sustentação do Estada na região de fronteira e a sua autoridade perante a
população dispersa, cujas órdens eram acatadas de maneira geral por seus funcionários e
pela população que a auxiliava, não como uma obediência ou fidelidade ingênua, mas
movida principalmente por interesses próprios por bens, títulos e poder.
SOB O ESTIGMA DA DEFESA DE FRONTEIRAS
A Guerra do Paraguai, além de cortar o comércio e a comunicação através do Rio
Paraguai, trouxe uma série de problemas relacionados ao abastecimento, uma vez que os
homens foram retirados das atividades econômicas, sobretudo da produção agrícola o
que, junto a chegada de batalhões de outras regiões do país aumentou a demanda,
causando também o aumento dos preços. Soma-se a isso as fortes chuvas que inundaram
Cuiabá e fizeram perder toda a lavoura, além de um surto de cólera que atingiu Corumbá
no período de sua retomada e que foi espalhada para diversas localidades do país.
Províncias como Goiás e Minas Gerais se empenharam em enviar através do comércio
terrestre feito por mulas os alimentos necessários à manutenção dos exércitos e da
população, comércio no qual os riscos eram corridos pelos comerciantes que encareciam
seus produtos.
Vilarejos, arraiais e Villas próximas também se empenharam na produção agrícola,
suscitando uma rede de solidariedade e proximidade entre essas regiões. Algumas
atividades manufatureiras como a produção de tecidos, ferramentas e armas foram
desenvolvidas por braços livres, principalmente de mulheres.
Um fato curioso do final da guerra é narrado pela autora, pois muitos paraguayos
capturados e que não voltaram ao seu país estabeleceram também esse tipo de relação
solidária, pois ajudaavam na produção agrícola e, principalemnte na produção do couro.
Mlitares de outras províncias brasileiras a eles se juntaram, juntos contribuiram para
produzir um pequeno surto comercial e amenizar a carestia de alimentos com base na
carde muar, que tornou em 1870, o acampamento tornou-se o povoamento de Várzea
Grande.
DE VOLTA AO COMEÇO
Os saldos da Guerra do Paraguai segunda a autora foram: a solução da questão fronteiriça
e a emergência de antigos problemas que demandavam soluções adequadas, como o
rompimento do isolamento da região Centro-Oeste e de marchar rumo ao estabelecimento
do capitalismo na província. Para isso, era de suma importancia a adoção de uma política
demográfica, visto que, durante o conflito o contingente que já era pequeno diminuiu;
outra preocupação era a extensão dos mercados nacional e internacional e a superação da
marca da itinerância da população.
A isençao de impostos concedida em 1869 foi impreensindível para minimizar o ônus da
guerra, fornecendo de certa forma um impulso para o desenvolvimento inicial das
atividades produtivas. Houve em Mato Grosso melhoramentos técnicos na produção
açucareira acompanhando outras províncias do país e muitos engenhos se tornaram usinas
e o mercado se estendeu aos países vizinhos.
As atividades extrativistas continuaram e teve vulto a Companhia Erva Mate Laranjeira
que também exportava para a Argentina, onde um produtor monopolizava a venda bruta
e a industrializava. A borracha também foi uma atividade importante, voltada à
exportação, porém, logo entrou em crise devido a concorrência do oriente.
A pecuária ainda se debatia com os problemas e doenças que atingiam o gado, mas o
comércio através dos portos de Cuiabá e principalmente de Corumbá, reduziram os preços
dos produtos, dentre eles o sal, que possibilitou a produção do charque que também foi
exportado para os países vizinhos.
O setor mercantil assumiu uma função vantajosa de distribuição para abastecimento de
outras regiões de Mato Grosso. Nessa atividade teve destaque a atuação de estrangeiros e
a isenção de impostos que incentivou a importação de produtos e contribuiu para a injeção
de capital estrangeiro em atividades como a pecuária.
Demograficamente houve crescimento nas regiões do sul da província e na capital notou-
se certa estagnação e até mesmo decréscimo. O aumento geral da população na província
ocorreu devido a migração de outras províncias e estrangeira, principalmente dos países
vizinhos, porém, houve também ainda que diminuta, uma imigração europeia, que era a
imigração desejada.
Contudo, as bases que assentavam a economia matogrossense ao final do século XIX
relacionavam-se com as oscilações dos mercados que absorviam seus produtos e pela
igual dependencia da importação de gêneros de primeira necessidade. Muitos paraguaios
ficaram no Brasil após a guerra e se estabeleceram na região constituindo família.