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Agência Nacional de Águas – ANA

Superintendência de Regulação – SRE


Gerência de Regulação – GEREG

ASPECTOS LEGAIS E AMBIENTAIS A


SEREM CONSIDERADOS NA
CONSTRUÇÃO DE PEQUENAS
BARRAGENS
Rubens Maciel Wanderley
Especialista em Recursos Hídricos da ANA
rubensw@ana.gov.br

IV Simpósio Nacional Sobre o Uso da Água na Agricultura


I Simpósio Estadual Sobre os Usos Múltiplos da Água

Passo Fundo, 14 de abril de 2011


PEQUENAS BARRAGENS
Barragens e reservatórios – definições
Barragem
• Resolução CNRH nº 37/04 – outorgas para barragens
Estrutura construída transversalmente em um corpo de água, dotada de
mecanismos de controle com a finalidade de obter a elevação do seu
nível de água ou de criar um reservatório de acumulação de água ou de
regularização de vazões
• Lei 12.334/10 – Lei da Segurança de Barragens
Qualquer estrutura em um curso permanente ou temporário de água
para fins de contenção ou acumulação de substâncias líquidas ou de
misturas de líquidos e sólidos, compreendendo o barramento e as
estruturas associadas

Reservatório
• Resolução CNRH nº 37/04 – outorgas para barragens
Acumulação não natural de água destinada a quaisquer de seus usos
múltiplos
PEQUENAS BARRAGENS
Barragens e reservatórios – Usos múltiplos
As barragens podem ser construídas para diversas finalidades
• Fornecimento de água para
→ Abastecimento humano
→ Dessedentação animal
→ Irrigação
→ Indústria
• Proteção contra eventos críticos
→ Secas
→ Enchentes
• Geração de energia elétrica (hidrelétricas)
• Manutenção de níveis para a navegação
• Turismo e lazer
• Paisagismo
• Outras
PEQUENAS BARRAGENS
Pequenas barragens
Mas o que é uma pequena barragem?
• É aquela que possui uma estrutura pequena?
• É aquela que possui um pequeno reservatório?
• É aquela que abastece pequenos usos?

Não há uma definição formal do que são pequenas barragens


A Lei nº 9.433/97 dispensa de outorga as acumulações consideradas
insignificantes, sem determinar o que é insignificante
• Pequena barragem pode ser considerada acumulação insignificante?

A Lei nº 12.334/10, que trata de segurança de barragens, também


não qualifica o que são pequenas barragens
• A lei aplica-se a barragens com mais de 15 metros de altura ou
capacidade de acumulação maior que 3 milhões de metros cúbicos
• Mas uma barragem com 15 metros de altura ou 3 milhões de metros
cúbicos armazenados pode ser considerada pequena barragem?
PEQUENAS BARRAGENS
Pequenas barragens
Podemos considerar pequenas barragens aquelas de estruturas
relativamente simples, que não envolvem grandes movimentações
de terra e são facilmente construídas
Em geral, são construídas com a finalidade de irrigação, atendendo a
um ou a poucos usuários
• Podem ser essenciais ao desenvolvimento econômico de pequenas
comunidades rurais que praticam a agricultura irrigada

Por serem de fácil construção, muitas vezes os aspetos técnicos,


legais e ambientais são negligenciados
Tecnicamente, pequenas barragens mal dimensionadas podem ter
vários tipos de problemas
• Infiltração ou evaporação excessiva, reduzindo a disponibilidade hídrica
no próprio reservatório e também na bacia
• Capacidade de extravasão subdimensionada, provocando galgamento
• Os rompimentos de pequenas barragens são frequentes
PEQUENAS BARRAGENS
Pequenas barragens – aspectos legais e ambientais
Nos aspectos legais e ambientais, as barragens necessitam, além
de outros documentos, do Licenciamento Ambiental e da
Outorga de Direito de Uso de Recursos Hídricos
Existe um conjunto de normas que disciplinam a construção e a
operação de barragens, sem distinção de tamanho
• Relacionadas ao meio ambiente
→ Lei nº 4.771/65
→ Lei nº 9.985/00
→ Resolução COMANA nº 001/86
→ Resolução CONAMA nº 237/97
• Relacionadas aos recursos hídricos
→ Lei nº 9.433/97
→ Resolução CNRH nº 16/01
→ Resolução CNRH nº 37/04
• Relacionadas à segurança da barragem
→ Lei nº 12.334/10
PEQUENAS BARRAGENS
Pequenas barragens – aspectos legais e ambientais
A Resolução CONAMA nº 237/97 determina que, a princípio, todas as
barragens, inclusive as pequenas, necessitam de Licenciamento
Ambiental
Art 2º – A localização, construção, instalação, ampliação, modificação e
operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos
ambientais consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras, bem como os
empreendimentos capazes, sob qualquer forma, de causar degradação
ambiental, dependerão de prévio licenciamento do órgão ambiental
competente, sem prejuízo de outras licenças legalmente exigíveis
§ 1º – Estão sujeitos ao licenciamento ambiental os empreendimentos e
as atividades relacionadas no Anexo 1, parte integrante desta Resolução

Porém, o órgão ambiental responsável pode, a seu critério, dispensar


a pequena barragem dessa necessidade
§ 2º – Caberá ao órgão ambiental competente definir os critérios de
exigibilidade, o detalhamento e a complementação do Anexo 1, levando
em consideração as especificidades, os riscos ambientais, o porte e
outras características do empreendimento ou atividade.
PEQUENAS BARRAGENS
Pequenas barragens – aspectos legais e ambientais
Para a obtenção da Licença Ambiental, a Resolução CONAMA nº
001/86 determina que toda obra modificadora do meio ambiente
necessita de estudos ambientais
Art. 2º – Dependerá de elaboração de estudo de impacto ambiental e
respectivo relatório de impacto ambiental - RIMA, a serem
submetidos à aprovação do órgão estadual competente, e do IBAMA em
caráter supletivo, o licenciamento de atividades modificadoras do meio
ambiente, tais como:
VII - Obras hidráulicas para exploração de recursos hídricos, tais como:
barragem para fins hidrelétricos, acima de 10MW, de saneamento ou de
irrigação, abertura de canais para navegação, drenagem e irrigação,
retificação de cursos d'água, abertura de barras e embocaduras,
transposição de bacias, diques

Estes estudos ambientais devem conter um conteúdo mínimo


especificado pelo órgão ambiental
PEQUENAS BARRAGENS
Pequenas barragens – aspectos legais e ambientais
O Licenciamento ocorre em três fases (Resolução CONAMA nº
237/97, Art. 8º)
I - Licença Prévia (LP) - concedida na fase preliminar do planejamento
do empreendimento ou atividade aprovando sua localização e
concepção, atestando a viabilidade ambiental e estabelecendo os
requisitos básicos e condicionantes a serem atendidos nas próximas fases de
sua implementação;
II - Licença de Instalação (LI) - autoriza a instalação do
empreendimento ou atividade de acordo com as especificações
constantes dos planos, programas e projetos aprovados, incluindo as
medidas de controle ambiental e demais condicionantes, da qual constituem
motivo determinante;
III - Licença de Operação (LO) - autoriza a operação da atividade ou
empreendimento, após a verificação do efetivo cumprimento do que
consta das licenças anteriores, com as medidas de controle ambiental e
condicionantes determinados para a operação.
PEQUENAS BARRAGENS
Pequenas barragens – aspectos legais e ambientais
Um dos pontos mais importantes a serem observados é a
interferência da barragem em áreas de interesse ambiental
• APPs e Unidades de Conservação

Conforme a Lei nº 4.771/65, as APPs são áreas cobertas ou não por


vegetação nativa de grande importância ecológica que têm como
função ambiental preservar os recursos hídricos, a paisagem, a
estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e
flora, proteger o solo e assegurar o bem estar das populações
humanas
A Lei nº 9.985/00 define as Unidades de Conservação como o espaço
territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas
jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente
instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites
definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam
garantias adequadas de proteção
PEQUENAS BARRAGENS
Pequenas barragens – aspectos legais e ambientais
A Lei nº 4.771/65, modificada pela Lei nº 7.803/89, define quais são
as áreas de proteção permanente – APPs
Art. 2° – Consideram-se de preservação permanente, pelo só efeito desta
Lei, as florestas e demais formas de vegetação natural situadas:
a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d'água desde o seu nível mais
alto em faixa marginal cuja largura mínima será:
1 - de 30 (trinta) metros para os cursos d'água de menos de 10 (dez) metros
de largura;
2 - de 50 (cinquenta) metros para os cursos d'água que tenham de 10 (dez) a
50 (cinquenta) metros de largura;
3 - de 100 (cem) metros para os cursos d'água que tenham de 50 (cinquenta)
a 200 (duzentos) metros de largura; (...)
b) ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d'água naturais ou
artificiais;
c) nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados "olhos d'água",
qualquer que seja a sua situação topográfica, num raio mínimo de 50
(cinquenta) metros de largura;
PEQUENAS BARRAGENS
Pequenas barragens – aspectos legais e ambientais
Antes de se implantar uma barragem, deve-se observar a sua
interferência em APPs e em Unidades de Conservação
• A implantação de barragens nestas áreas deve ser justificada nos
Estudos Ambientais

Após implantado, deve ser observado que as áreas em torno do


reservatório passam a ser consideradas novas APPs
• Recomposição com vegetação nativa

Simultaneamente ao Licenciamento Ambiental, o proprietário da


barragem deve solicitar a Outorga de Direito de Uso de
Recursos Hídricos

Mas por que é necessária a Outorga?


PORQUE NÃO EXISTE DOMÍNIO PRIVADO DA ÁGUA!!!!
PEQUENAS BARRAGENS
Pequenas barragens – situação de conflito ⇒ GESTÃO

Usuário
a jusante

Proprietário
do açude
PEQUENAS BARRAGENS
Pequenas barragens – aspectos legais e ambientais
A Lei nº 9.433/97 estabeleceu que a água é um bem público
Art. 1º – A Política Nacional de Recursos Hídricos baseia-se nos seguintes
fundamentos:
I – a água é um bem de domínio público

A Constituição Federal/88 já havia estabelecido que as águas eram


bens da União ou dos Estados
Art. 20 – São bens da União:
III – os lagos, rios ou quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio
ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou
se estendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem como os
terrenos marginais e as praias fluviais
Art. 26 – Incluem-se entre os bens dos Estados:
I – as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito,
ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da União
Isso criou a noção da DOMINIALIDADE
PEQUENAS BARRAGENS
Pequenas barragens – aspectos legais e ambientais
DOMINIALIDADE

O órgão responsável
pela gestão depende
da dominialidade
dos corpos d’água
• ANA
• Órgãos estaduais

Federal
Estadual
PEQUENAS BARRAGENS
Pequenas barragens – aspectos legais e ambientais
No Rio Grande do Sul, a ANA tem atuação restrita
• Basicamente, rios que fazem fronteira
Na bacia do Alto Jacuí atua a SEMA/RS
PEQUENAS BARRAGENS
Pequenas barragens – aspectos legais e ambientais
Lei nº 9.433/97 – na gestão dos recursos hídricos, dois instrumentos
são importantes no que diz respeito à regulação
Art. 5º – São instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos:
III – a outorga dos direitos de uso de recursos hídricos
IV – a cobrança pelo uso de recursos hídricos

A Resolução CNRH nº 16/01 conceitua a outorga


Art. 1º – A outorga de direito de uso de recursos hídricos é o ato administrativo
mediante o qual a autoridade outorgante faculta ao outorgado
previamente ou mediante o direito de uso de recurso hídrico, por prazo
determinado, nos termos e nas condições expressas no respectivo ato,
consideradas as legislações específicas vigentes
§ 1º – A outorga não implica alienação total ou parcial das águas, que
são inalienáveis, mas o simples direito de uso
Ou seja, a outorga confere o direito ao uso da água, mas não a sua
propriedade, já que a água é um bem de domínio público
PEQUENAS BARRAGENS
Pequenas barragens – aspectos legais e ambientais
Todas as barragens, a princípio, estão sujeitas a outorga, pois
alteram o regime e a quantidade de água e, em alguns casos, até a
sua qualidade, por meio da acumulação
Art. 12 – Estão sujeitos a outorga pelo Poder Público os direitos dos seguintes
usos de recursos hídricos:
V – outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade da água
existente em um corpo de água

No entanto, o mesmo artigo sugere que as pequenas barragens não


necessitam de outorga
§ 1º – Independem de outorga pelo Poder Público, conforme definido em
regulamento:
III – as acumulações de volumes de água consideradas insignificantes
• Mas o que pode ser considerada acumulação insignificante?
PEQUENAS BARRAGENS
Pequenas barragens – aspectos legais e ambientais
A Resolução CNRH nº 16/01, no seu art. 5º, determina que os
Comitês de Bacia ou, na sua falta, a ANA e os órgãos gestores
podem definir o que é acumulação insignificante
Parágrafo único. Os critérios específicos de vazões ou acumulações de volumes
de água consideradas insignificantes serão estabelecidos nos planos de
recursos hídricos, devidamente aprovados pelos correspondentes comitês de
bacia hidrográfica ou, na inexistência destes, pela autoridade outorgante

A Lei Estadual nº 10.350/94, do Rio Grande do Sul, no seu Art. 31,


dispensa de outorga os usos de caráter individual para satisfação das
necessidades básicas da vida
PEQUENAS BARRAGENS
Pequenas barragens – aspectos legais e ambientais
Nas análises técnicas dos pedidos de outorga, os órgãos gestores
avaliam a disponibilidade hídrica do corpo d’água, considerando um
determinado “nível de garantia” para atendimento à demanda
Nos casos de barragens, a análise é feita avaliando a capacidade de
regularização da barragem e o atendimento às demandas associadas

A outorga “reserva” um volume de água para o atendimento ao uso


outorgado e “garante” que este volume não será alocado para outros
usos (Resolução CNRH nº 16/01, Art. 12)
§ 1º – As vazões e os volumes outorgados poderão ficar indisponíveis,
total ou parcialmente, para outros usos no corpo de água,
considerando o balanço hídrico e a capacidade de autodepuração para o
caso de diluição de efluentes

E os outros usos?
PEQUENAS BARRAGENS
Pequenas barragens – aspectos legais e ambientais
Para preservar os usos múltiplos dos recursos hídricos, a Lei nº
9.433/97 garante o direito de acesso à água por meio da outorga
Art. 11 – O regime de outorga de direitos de uso de recursos hídricos
tem como objetivos assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos usos
da água e o efetivo exercício dos direitos de acesso à água

Para garantir os usos múltiplos a jusante da barragem, a ANA exige,


nos atos de outorga, a manutenção de uma vazão mínima
remanescente
• Essa vazão depende de cada caso e deve ser suficiente para o
atendimento das demandas outorgadas a jusante
• Nas barragens deve ser instalada alguma estrutura para a passagem
dessa vazão remanescente
PEQUENAS BARRAGENS
Pequenas barragens – aspectos legais e ambientais
Quanto à cobrança, a princípio, todas as barragens estão sujeitas
Art. 20 – Serão cobrados os usos de recursos hídricos sujeitos a outorga, nos
termos do art. 12 desta Lei

O Art. 21 trata de critérios para a cobrança de captação e


lançamento de efluentes, mas nada especifica sobre barragens ou
acumulações
Art. 21 – Na fixação dos valores a serem cobrados pelo uso dos recursos
hídricos devem ser observados, dentre outros:
I – nas derivações, captações e extrações de água, o volume retirado e seu
regime de variação
II – nos lançamentos de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos, o
volume lançado e seu regime de variação e as características físico-químicas,
biológicas e de toxidade do afluente
No entanto, o termo “dentre outros” sugere que a cobrança pode
ser aplicada às barragens
PEQUENAS BARRAGENS
Pequenas barragens – aspectos legais e ambientais
A Lei nº 12.334/10, que estabelece a Política Nacional de Segurança
de Barragens, limita a aplicação da norma a
• Barragens com altura superior a 15 metros
• Capacidade do reservatório superior a 3 milhões de metros cúbicos
Não se aplica a pequenas barragens?

No entanto, a Resolução CNRH nº 37/04 atribui ao proprietário da


barragem a responsabilidade pela segurança da obra
Art. 8º – O outorgado é responsável pelos aspectos relacionados à segurança
da barragem, devendo assegurar que seu projeto, construção, operação e
manutenção sejam executados por profissionais legalmente habilitados
PEQUENAS BARRAGENS
Pequenas barragens – aspectos legais e ambientais
Independente do porte, todas as barragens necessitam ser
cadastradas no Cadastro Nacional de Usuários de Recursos
Hídricos – CNARH
• Na Internet: http://cnarh.ana.gov.br/
PEQUENAS BARRAGENS
Pequenas barragens – aspectos legais e ambientais
Agência Nacional de Águas – ANA
Superintendência de Regulação – SRE
Gerência de Regulação – GEREG

MUITO OBRIGADO!

Rubens Maciel Wanderley


Especialista em Recursos Hídricos da ANA
rubensw@ana.gov.br

IV Simpósio Nacional Sobre o Uso da Água na Agricultura


I Simpósio Estadual Sobre os Usos Múltiplos da Água

Passo Fundo, 14 de abril de 2011

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