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PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2019.0000424051

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1052221-51.2018.8.26.0053 e código C432F48.
ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação Cível nº


1052221-51.2018.8.26.0053, da Comarca de São Paulo, em que é apelante
THAÍS FONSECA BORGES, é apelado AUTORIDADE MUNICIPAL DE LIMPEZA
URBANA - AMLURB.

ACORDAM, em 9ª Câmara de Direito Público do Tribunal de


Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao
recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este
acórdão.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por CARLOS EDUARDO PACHI, liberado nos autos em 30/05/2019 às 14:43 .
O julgamento teve a participação dos Exmos.
Desembargadores MOREIRA DE CARVALHO (Presidente sem voto),
REBOUÇAS DE CARVALHO E DÉCIO NOTARANGELI.

São Paulo, 29 de maio de 2019.

Carlos Eduardo Pachi


RELATOR
Assinatura Eletrônica
fls. 1047

Voto nº 30.471

APELAÇÃO CÍVEL nº 1052221-51.2018.8.26.0053


Comarca: SÃO PAULO
Apelante: THAÍS FONSECA BORGES (JG)
Apelado: AUTORIDADE MUNICIPAL DE LIMPEZA URBANA AMLURB

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(Juiz de Primeiro Grau: Evandro Carlos de Oliveira)

OBRIGAÇÃO DE FAZER CONCURSO PÚBLICO


Candidata aprovada dentro do número de vagas do cargo de
Analista Fiscal de Serviços – Prazo de validade do edital já
expirado, sem que tenha ocorrido a nomeação e posse da autora
Manutenção Em tese, os candidatos aprovados dentro de
número de vagas previsto no edital possuem direito subjetivo à
nomeação Todavia, no caso em exame a AMLURB não
efetivou à nomeação da candidata em virtude de grave situação
financeira Déficit orçamentário apurado na quantia de R$

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140.786.230,00, para o exercício de 2018, que não pode ser
ignorado Situação que se amolda à tese firmada pelo STF, no
RE nº 598.099/MS Precedentes desta Corte de Justiça. R.
sentença de improcedência mantida, com majoração da verba
honorária.

Recurso improvido.

Vistos, etc.

Trata-se de apelação tempestivamente deduzida pela


autora em face da r. sentença a fls. 967/972, cujo relatório é adotado, que
julgou improcedente o pedido formulado na inicial, com fundamento no art.
487, I, do CPC.

Menciona o RE nº 598.099/MS, que fixou o


entendimento de que o candidato aprovado dentro de número de vagas
possui direito subjetivo à nomeação, sendo o mesmo entendimento do STJ.
Considera que a Administração poderá escolher o momento em que será
realizada a nomeação, mas não de dispor sobre a própria nomeação dos
candidatos, em obediência aos princípios da boa-fé, da segurança jurídica e
da proteção à confiança, tendo suscitado o art. 37, III, e art. 5º, II e
XXXVI, da CF/88. Ataca a alegação de que o ente público ultrapassou os
limites de gastos com o pessoal previstos na Lei de Responsabilidade Fiscal,
por ser genérica e porque não pode descumprir direito subjetivo do servidor
aprovado dentro de número de vagas, considerando-se que abertura do

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concurso público deve ser precedida da estimativa do impacto orçamentário-


financeiro decorrente das nomeações e da declaração do ordenador da
despesa sobre a adequação orçamentária e financeira à Lei Orçamentária
Anual LOA, compatibilidade com o Plano Plurianual PPA e com a Lei de

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Diretrizes Orçamentárias LDO. Menciona a dotação orçamentária aprovada
de R$ 9.726,086,00 somente para cobrir as despesas com vencimentos e
vantagens fixas (LOA 2018), que é aproximadamente o dobro do previsto
nas LOAs de 2015, 2016 e 2017, sem ter atingido o limite de gastos com
pessoal imposto pela LRF e pela LDO. Considera fulminada a tese de defesa,
pois mesmo após a expiração do concurso a Prefeitura continua a autorizar
novos concursos e novas nomeações para diversas Secretarias, sendo
evidente a preterição dos aprovados ante a expiração do concurso público

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da AMLURB, sem contar as nomeações para os cargos em comissão e
funções gratificadas na mesma AMLURB. Questiona a licitação visando à
contratação de serviços técnicos especializados de natureza consultiva no
montante de R$ 30.005.158,48, somada a menção de decisões do TCMSP.
Entende que a situação da apelada não se enquadra nos quatro vetores
hermenêuticos fixados pelo Ministro Gilmar Mendes, no RE nº 598.099/MS
(superveniência, imprevisibilidade, gravidade e necessidade). Questiona o
quadro de pessoal da AMLURB, em maior parte ocupado por comissionados,
contrariando o preenchimento de cargos mediante concurso público e
prejudicando a atividade da própria AMLURB. Por fim, faz menção a caso
análogo, também relativo ao concurso público de 2016, e a acórdão
paradigma deste E. Tribunal de Justiça (fls. 985/1.012).

Apresentadas contrarrazões a fls. 1.016/1.036.

Processado o recurso, subiram os autos.

É o relatório.

Cuida-se de ação de obrigação de fazer proposta pela


apelante, pela qual requer a nomeação e posse no cargo em questão, tendo
em vista que foi aprovada dentro do número de vagas previsto no Edital (73
vagas), julgada improcedente em Primeiro Grau.

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Inconteste nos autos que no Edital de Abertura de


Inscrições publicado no Diário Oficial de Cidade de São Paulo de
19.01.2016, consta a previsão de 73 vagas para o cargo de Analista Fiscal
de Serviços (fls. 37/67), sendo que a autora foi classificada em 36º lugar,

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no que toca ao interesse da AMLURB, e publicada a homologação do
resultado final em 25.06.2016.

Contudo, até o dia 24.06.2018 a autarquia municipal


não efetivou qualquer nomeação, como também não prorrogou o prazo de
validade do concurso público, não se tratando, no entender da autora, de
mera expectativa de direito à nomeação, mas sim de direito subjetivo,
tendo em vista que decorrido o prazo de validade do concurso, observando-

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se as imposições do art. 37, III, e art. 5º, XXXVI, da CF, bem como os
princípios da boa-fé e da proteção da confiança.

Em que pesem os argumentos recursais, o caso impõe


a manutenção do decreto de improcedência da demanda.

É certo que o entendimento jurisprudencial é no sentido


de que os candidatos aprovados dentro do número de vagas previsto no
edital de concurso público não têm mera expectativa de direito, mas sim
direito subjetivo à nomeação, porquanto a Administração Pública pratica ato
vinculado quando publica no edital a existência de certo número de vagas.

Nesse sentido, por diversas vezes julguei


favoravelmente ao interesse do candidato que se enquadra na situação
acima comentada: AC nº 1043373-12.2017.8.26.0053 (Voto nº 29.432),
AC nº 1005073-31.2016.8.26.0565 (Voto nº 28.819), AC nº
1003386-41.2017.8.26.0320 (Voto nº 27.778), AC nº
1026601-08.2016.8.26.0053 (Voto nº 25.514), AC nº
0700415-71.2012.8.26.0696 (Voto nº 16.968), dentre outros julgados de
minha Relatoria.

A propósito, confira-se parte da ementa do V. Acórdão


proferido pelo Supremo Tribunal Federal, no RE nº 598.099/MS, Tribunal
Pleno, Relator MINISTRO GILMAR MENDES, Julgamento em 10/08/2011,

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com repercussão geral (Tema nº 161), na mesma linha de entendimento:

“RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL.


CONCURSO PÚBLICO. PREVISÃO DE VAGAS EM
EDITAL. DIREITO À NOMEAÇÃO DOS CANDIDATOS
APROVADOS.

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I. DIREITO À NOMEAÇÃO. CANDIDATO APROVADO
DENTRO DO NÚMERO DE VAGAS PREVISTAS NO
EDITAL. Dentro do prazo de validade do concurso, a
Administração poderá escolher o momento no qual se
realizará a nomeação, mas não poderá dispor sobre a
própria nomeação, a qual, de acordo com o edital,
passa a constituir um direito do concursando aprovado
e, dessa forma, um dever imposto ao poder público.
Uma vez publicado o edital do concurso com número
específico de vagas, o ato da Administração que declara
os candidatos aprovados no certame cria um dever de

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nomeação para a própria Administração e, portanto,
um direito à nomeação titularizado pelo candidato
aprovado dentro desse número de vagas.
II. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. PRINCÍPIO DA
SEGURANÇA JURÍDICA. BOA-FÉ. PROTEÇÃO À
CONFIANÇA. O dever de boa-fé da Administração
Pública exige o respeito incondicional às regras do
edital, inclusive quanto à previsão das vagas do
concurso público. Isso igualmente decorre de um
necessário e incondicional respeito à segurança jurídica
como princípio do Estado de Direito. Tem-se, aqui, o
princípio da segurança jurídica como princípio de
proteção à confiança. Quando a Administração torna
público um edital de concurso, convocando todos os
cidadãos a participarem de seleção para o
preenchimento de determinadas vagas no serviço
público, ela impreterivelmente gera uma expectativa
quanto ao seu comportamento segundo as regras
previstas nesse edital. Aqueles cidadãos que decidem
se inscrever e participar do certame público depositam
sua confiança no Estado administrador, que deve atuar
de forma responsável quanto às normas do edital e
observar o princípio da segurança jurídica como guia de
comportamento. Isso quer dizer, em outros termos,
que o comportamento da Administração Pública no
decorrer do concurso público deve se pautar pela boa-
fé, tanto no sentido objetivo quanto no aspecto
subjetivo de respeito à confiança nela depositada por
todos os cidadãos.
...
IV. FORÇA NORMATIVA DO PRINCÍPIO DO CONCURSO
PÚBLICO. Esse entendimento, na medida em que
atesta a existência de um direito subjetivo à nomeação,
reconhece e preserva da melhor forma a força

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normativa do princípio do concurso público, que vincula


diretamente a Administração. É preciso reconhecer que
a efetividade da exigência constitucional do concurso
público, como uma incomensurável conquista da
cidadania no Brasil, permanece condicionada à
observância, pelo Poder Público, de normas de

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organização e procedimento e, principalmente, de
garantias fundamentais que possibilitem o seu pleno
exercício pelos cidadãos. O reconhecimento de um
direito subjetivo à nomeação deve passar a impor
limites à atuação da Administração Pública e dela exigir
o estrito cumprimento das normas que regem os
certames, com especial observância dos deveres de
boa-fé e incondicional respeito à confiança dos
cidadãos. O princípio constitucional do concurso público
é fortalecido quando o Poder Público assegura e
observa as garantias fundamentais que viabilizam a
efetividade desse princípio. Ao lado das garantias de

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publicidade, isonomia, transparência, impessoalidade,
entre outras, o direito à nomeação representa também
uma garantia fundamental da plena efetividade do
princípio do concurso público.
V. NEGADO PROVIMENTO AO RECURSO
EXTRAORDINÁRIO.”

Todavia, nesse mesmo RE nº 598.099/MS ficou


consignado que situações excepcionalíssimas podem desobrigar a
Administração Pública de nomear novos servidores aprovados dentro do
número de vagas, nos termos do item III da ementa:

“III. SITUAÇÕES EXCEPCIONAIS. NECESSIDADE DE


MOTIVAÇÃO. CONTROLE PELO PODER JUDICIÁRIO.
Quando se afirma que a Administração Pública tem a
obrigação de nomear os aprovados dentro do número
de vagas previsto no edital, deve-se levar em
consideração a possibilidade de situações
excepcionalíssimas que justifiquem soluções
diferenciadas, devidamente motivadas de acordo com o
interesse público. Não se pode ignorar que
determinadas situações excepcionais podem exigir a
recusa da Administração Pública de nomear novos
servidores. Para justificar o excepcionalíssimo não
cumprimento do dever de nomeação por parte da
Administração Pública, é necessário que a situação
justificadora seja dotada das seguintes características:
a) Superveniência: os eventuais fatos ensejadores de
uma situação excepcional devem ser necessariamente
posteriores à publicação do edital do certame público;
b) Imprevisibilidade: a situação deve ser determinada
por circunstâncias extraordinárias, imprevisíveis à

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época da publicação do edital; c) Gravidade: os


acontecimentos extraordinários e imprevisíveis devem
ser extremamente graves, implicando onerosidade
excessiva, dificuldade ou mesmo impossibilidade de
cumprimento efetivo das regras do edital; d)
Necessidade: a solução drástica e excepcional de não

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cumprimento do dever de nomeação deve ser
extremamente necessária, de forma que a
Administração somente pode adotar tal medida quando
absolutamente não existirem outros meios menos
gravosos para lidar com a situação excepcional e
imprevisível. De toda forma, a recusa de nomear
candidato aprovado dentro do número de vagas deve
ser devidamente motivada e, dessa forma, passível de
controle pelo Poder Judiciário.”

De fato, no caso dos autos, a autarquia municipal

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esclareceu que, em virtude de problemas de ordem financeiro-
orçamentária, não tinha viabilidade de nomeação dos candidatos aprovados
no concurso público.

E, os argumentos da ALUMRB são convincentes,


sobretudo em virtude da análise do comparativo de recurso orçamentário
de 2016 a 2018, no qual consta orçamento atualizado de 2018 no valor de
R$ 2.214.690,680, com estimativa de despesas de R$ 2.355.476.910,00,
gerando um déficit orçamentário de R$ 140.786.230,00 (cento e quarenta
milhões, setecentos e oitenta e seis mil e duzentos e trinta reais).

Além disso, a Informação AMLURB/DAF nº 9778675, de


20/07/2018, corrobora a falta de recursos orçamentários necessários para o
custeio total da despesa estimada para o exercício de 2018 (fls. 695), daí
porque irrelevante mencionar eventual dotação orçamentária em maior
monta para cobrir despesas com vencimentos e vantagens para o exercício
de 2018. Ainda que não atingido o limite de gastos com o pessoal, tal
hipótese não afasta a crise financeira, como um todo, já anunciada.

Nesse contexto, indubitável que quando iniciadas as


tratativas para a realização do concurso público, no ano de 2015, ainda que
publicado o edital no ano de 2016, a situação econômica do país era outra,
mas que se deteriorou ao longo do tempo, com impacto direto na
arrecadação tributária dos entes públicos, não se podendo ignorar que no

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ano de 2018, último ano de validade do edital que não teve seu prazo
prorrogado, a AMLURB se viu obrigada a não proceder qualquer nomeação
dos candidatos aprovados.

Atente-se, ainda, quanto às conclusões do

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representante do Ministério Público do Estado de São Paulo, que entendeu
por bem arquivar o inquérito civil instaurado para investigar os motivos da
não nomeação dos candidatos aprovados para os cargos de Analistas Fiscais
de Serviços, nos seguintes termos:

“De mais a mais, os argumentos expendidos pelos


diversos órgãos municipais que prestaram esclarecimentos nestes autos são
convincentes e de notório conhecimento: o Município, assim como os
demais entes federativos, passam por um momento de aguda crise

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financeira, circunstância que impede o incremento dos gastos públicos.
Trata-se, assim, de situação excepcional e que autoriza
o adiamento das investiduras dos candidatos aprovados em seus
respectivos cargos.
...
Significa dizer que, diante da excepcionalidade da crise
financeira, caso ela persista até a expiração do prazo de validade do
concurso, ainda assim será possível sustentar a não obrigatoriedade das
nomeações, posses e dos inícios de exercício.
...
Diante do exposto, esgotadas as diligências e diante da
inexistência de fundamento para a propositura de ação, promovo o
ARQUIVAMENTO do presente inquérito civil, nos termos do artigo 110 da
Lei Complementar Estadual nº 734/93 e do artigo 99, inciso I, do Ato
Normativo nº 484/CPJ/2006.” (Destaquei. Inquérito Civil nº
14.0739.0010729/2016-4 fls. 696/703).

E, conforme precedentes desta 9ª Câmara de Direito


Público:

“CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO MANDADO


DE SEGURANÇA CONCURSO PÚBLICO APROVAÇÃO
CARGO PÚBLICO POSSE OMISSÃO DA
ADMINISTRAÇÃO OFENSA A DIREITO SUBJETIVO
INEXISTÊNCIA.
1. Os candidatos aprovados no concurso público dentro
do número de vagas previstas no edital em regra têm
direito subjetivo à nomeação para a posse que vier a
ser dada no prazo de validade do concurso.
2. Omissão administrativa na nomeação de candidato
motivada pela gravidade da situação econômica. Crise
econômica e política gravíssima. Impossibilidade de
aumento de gastos. Excepcionalidade configurada.

Apelação Cível nº 1052221-51.2018.8.26.0053 - Voto nº 30.471 8


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Segurança denegada. Sentença reformada. Reexame


necessário, considerado interposto, e recurso providos.”
(AC nº 1051036-12.2017.8.26.0053, Relator Décio
Notarangeli, Data do julgamento: 04/04/2019, Data de
publicação: 04/04/2019).

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“APELAÇÃO. Mandado de Segurança. Concurso público
para o cargo de auxiliar técnico em saúde -
enfermagem. Edital nº 04/2013. Candidata que foi
aprovada dentro do número de vagas no edital.
Pretensão à nomeação imediata. Sentença que concede
a segurança. Reforma que se impõe. Situação
excepcionalíssima diante da grave crise econômica
nacional. Precedentes do mesmo concurso julgados
pelo C. Órgão Especial dessa E. Corte no sentido de
acatar o fato de a Administração Pública deixar de
prover tais vagas. Recurso provido para denegar a
segurança.” (AC nº 1023896-37.2016.8.26.0053,

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Relator Oswaldo Luiz Palu, Data do julgamento:
18/06/2018, Data de publicação: 18/06/2018).

E, nesta Corte de Justiça:

“VOTO DO RELATOR EMENTA APELAÇÃO/MANDADO


DE SEGURANÇA Impetração por candidata aprovada
em concurso público dentro do número de vagas para o
cargo de Oficial Administrativo Padrão 1-A da Polícia
Militar - Alegação da impetrante de que, durante a
validade do certame, deixou de ser convocada,
nomeada e empossada para a função pública
(inobstante aprovada e classificada) - Invocação de
direito líquido e certo para ser nomeada ao cargo
público - Situações excepcionalíssimas demonstradas
pelo Chefe do Poder Executivo Estadual, decorrentes da
grave crise econômica e política, com efetiva
diminuição na arrecadação de tributos que amparam a
recusa à nomeação Situação que se amolda,
perfeitamente, àquela mencionada no julgado
paradigmático, do E. STF - Limite prudencial imposto
pela Lei de Responsabilidade Fiscal - Expectativa de
direito, exaurida com o término do prazo de validade do
concurso - Segurança denegada” (AC nº
1002976-45.2017.8.26.0655, Relator Salles Rossi,
Órgão Especial, Data do julgamento: 13/03/2019, Data
de publicação: 20/03/2019).

“Apelação - Ação Ordinária com pedido liminar


Alegação da autora de que fora aprovada dentro do
número de vagas previstas no edital do concurso
público - Direito subjetivo à nomeação Limitação
Orçamentária Situação de alerta diante do risco de

Apelação Cível nº 1052221-51.2018.8.26.0053 - Voto nº 30.471 9


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ultrapassar o chamado limite prudencial


Excepcionalidade e Imprevisibilidade da situação em
virtude da séria crise econômica do país No caso em
tela, forçoso concluir que restou cabalmente esclarecido
que a ausência de convocação dos candidatos
aprovados no certame deu-se por pura necessidade,

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devido à indisponibilidade financeira Ademais, e ao
contrário de outros casos em que ocorre a nomeação
de uma parcela dos aprovados, aqui não houve a
nomeação de nenhum candidato aprovado dentro do
número de vagas oferecido no certame, justamente em
virtude da superveniente restrição orçamentária
Inocorrência de violação ao princípio da isonomia ou da
legalidade Precedentes do E. STJ e do C. STF
Sentença de improcedência mantida Recurso
improvido.” (AC nº 1025342-21.2017.8.26.0577,
Relator Marcelo L Theodósio, 11ª Câmara de Direito
Público, Data do julgamento: 28/02/2019, Data de

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publicação: 28/02/2019).

“Mandado de segurança. Concurso público para o cargo


de Especialista em Saúde - Enfermeiro. Candidata
classificado dentro do limite do número de vagas do
edital. Alegação de direito líquido e certo a imediata
nomeação e posse. Descabimento. Direito subjetivo à
nomeação que não é absoluto, admitindo-se a
possibilidade de que esta não ocorra em situações
excepcionalíssimas e motivadas pelo interesse público.
Validade do concurso expirada em meio a manifesta
crise econômica que atingiu todos os entes federativos.
Situação superveniente à realização do concurso
público, imprevisível e grave, que justifica a não
nomeação da impetrante. Inteligência, ademais, da
tese firmada pelo STF, com repercussão geral, no RE
598.099 (Tema n. 161). Ausência de direito líquido e
certo amparável por mandado de segurança.
Indeferimento da petição inicial e extinção do processo
sem resolução do mérito (CPC, arts. 485, I, e 330, III).
Segurança denegada nos termos do art. 6º, § 5º, da
Lei n. 12.016/2009.” (AC nº
1031672-88.2016.8.26.0053, Relator Antonio Celso
Aguilar Cortez, 10ª Câmara de Direito Público, Data do
julgamento: 11/02/2019, Data de publicação:
20/02/2019).

“Mandado de segurança. Concurso público. Município de


São Paulo. Candidato aprovado dentro do número de
vagas previstas no edital. Direito subjetivo à nomeação.
Situações excepcionais. Drástica queda da arrecadação
dos Municípios, pública e notória, diante da crise
econômica recessiva. Dificuldade orçamentária.
Justificativa admitida. Sentença denegatória da

Apelação Cível nº 1052221-51.2018.8.26.0053 - Voto nº 30.471 10


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segurança. Recurso não provido” (AC nº


1026437-43.2016.8.26.0053, Relator Carlos Violante,
2ª Câmara de Direito Público, Data do julgamento:
30/10/2017, Data de publicação: 30/10/2017).

Portanto, tais apontamentos são mais que

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esclarecedores no sentido de justificar a não nomeação, não só da autora,
mas de todos os aprovados dentro de número de vagas previsto no mesmo
certame, porquanto presentes os quatro vetores mencionados no RE nº
598.099/MS (superveniência, imprevisibilidade, gravidade e necessidade),
sendo assente a situação excepcional decorrente da queda de recursos
públicos.

E, tal constatação se sobrepõe aos demais argumentos

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por CARLOS EDUARDO PACHI, liberado nos autos em 30/05/2019 às 14:43 .
da parte recorrente, inobstante se questione a presença de grande número
de servidores comissionados, não há qualquer prova de que estes exerçam
as mesmas atribuições do cargo de Analista Fiscal de Serviços, até porque,
conforme afirmado pelo recorrido, foi editado o Decreto Municipal nº
57.576/2017 que determinou a exoneração de, no mínimo, 30% dos cargos
de provimento em comissão de cada órgão.

Nem mesmo a contratação de empresa de serviços


técnicos especializados em grande monta favorece a pretensão da autora,
pois envolve questões extrínsecas, fora do exame destes autos, e a
contratação se deu em 2016 (fls. 1.009), e não em 2018, ano este no qual
se contatou o déficit orçamentário já mencionado.

Do mesmo modo não tem relevância nestes autos as


eventuais nomeações de candidatos relacionados a outros órgãos públicos,
que não a AMLURB, porquanto o que vinga no presente caso é o déficit
orçamentário da autarquia municipal requerida, de R$ 140.786.230,00.

Por fim, esta 9ª Câmara de Direito Público não está


vinculada ao posicionamento contrário de outras decisões, já que se deve
respeitar a peculiaridade de cada caso, até porque, a tendência é de
uniformização jurisprudencial desta Corte de Justiça no mesmo sentido
desta decisão colegiada.

Apelação Cível nº 1052221-51.2018.8.26.0053 - Voto nº 30.471 11


fls. 1057

E, mantida a improcedência da demanda, de rigor a


majoração da verba honorária em prol da parte requerida, nos termos do
art. 85, § 11, do CPC, que passa a ser de 15% sobre o valor da causa, em
observância às regras do § 2º, incisos I, II, III e IV, cumulado com o § 3º,

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do mesmo dispositivo legal, com a ressalva de que se trata de beneficiária
da assistência judiciária gratuita.

Por todo o exposto, NEGO PROVIMENTO ao recuso da


Autora, mantendo-se a r. sentença por seus próprios fundamentos, com
observação acerca da majoração da verba honorária.

CARLOS EDUARDO PACHI


Relator

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por CARLOS EDUARDO PACHI, liberado nos autos em 30/05/2019 às 14:43 .

Apelação Cível nº 1052221-51.2018.8.26.0053 - Voto nº 30.471 12

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